ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR NA DOR LOMBAR CRÔNICA: REVISÃO SISTEMÁTICA

SEGMENTAL STABILIZATION IN CHRONIC LOW BACK PAIN: SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10849565


Autores:
Sammy Zacarias Barros¹
Kelly Klicia Brito de Lima Barros²
Vicente Lucas Adam Queiroz Gomes³


RESUMO

A dor lombar atinge pelo menos cerca de 80% da população de todo mundo, podendo o indivíduo manifestá-la em qualquer momento da sua vida, assim, na maioria das vezes estes apresentam alto índice de dor e incapacidade funcional. O objetivo deste estudo foi revisar de forma sistemática o impacto da estabilização segmentar na dor lombar crônica. A pesquisa realizada foi de natureza básica, com abordagem quantitativa, apresentando fins de pesquisa exploratória e característica sistemática. Para compor este estudo vinte artigos foram selecionados nas seguintes bases de dados: LILACS, SciELO, PEDro e PubMed. Os resultados obtidos na revisão foram de que a estabilização segmentar reduziu a dor, aumentou as capacidades funcionais, a força muscular, a flexibilidade e o equilíbrio da região, melhorou também a função respiratória e a qualidade de vida dos acometidos. Conclui-se que a estabilização segmentar lombar mostrou ser uma abordagem efetiva para os pacientes com lombalgia crônica, assim, faz-se necessário que sejam realizadas mais pesquisas com boa qualidade metodológica para melhor compreensão dos seus efeitos como terapia combinada e isolada.

Palavras-chave: Dor nas costas, Reabilitação, Exercícios.

ABSTRACT

The low back pain affects at least about 80% of the population worldwide, and the individual may manifest it at any time in their life, thus, in most cases, they present a high rate of pain and functional incapacity. The aim of this study was to systematically review the impact of segmental stabilization on chronic low back pain. The research carried out was of a basic nature, with a quantitative approach, presenting exploratory research purposes and a systematic characteristic. To compose this study, twenty articles were selected from the following databases: LILACS, SciELO, PEDro and PubMed. The results obtained in the review were that segmental stabilization reduced pain, increased functional capacity, muscle strength, flexibility and balance in the region, and also improved respiratory function and the quality of life of those affected. It is concluded that lumbar segmental stabilization proved to be an effective approach for patients with chronic low back pain, thus, it is necessary to carry out more research with good methodological quality to better understand its effects as a combined and isolated therapy.

Keywords: Backache, Rehabilitation, Exercises.


INTRODUÇÃO

Segundo Ronai; Sorace (2013), a dor lombar é a segunda principal causa de visita aos profissionais de saúde, devido sua influência na limitação durante as atividades físicas e incapacidade funcional, tendo assim, prevalência nos indivíduos com menos de 45 anos. Nascimento; Costa, (2015) afirmam que no Brasil, a lombalgia crônica demonstrou ser mais prevalente na população de Salvador.

De acordo com Dreisinger (2014), a lombalgia crônica ainda é muito pouco compreendida pelos especialistas, mas, afirma-se que este fato é dado devido à falta de provas quanto a sua etiologia e as dificuldades encontradas durante o seu manuseio.

Ronai; Sorace, (2013) ressaltam que geralmente indivíduos que apresentam dor lombar crônica se tornam menos adeptos a atividade física, assim, acabam gerando descondicionamento físico, que com passar do tempo levariam estas pessoas a terem o estilo de vida bastante sedentário. Deste modo, Geneen et al., (2017) alegam que durante muitos anos pacientes com dor lombar recebiam como orientação o descanso e inatividade, contudo, Leirós-Rodríguezet al., (2018) ressalvam que fora constatado com o passar dos anos que estas guias só levam a elevação do nível de incapacidade, porém, a prática de exercícios apresentam benefícios nos aspectos tanto físicos quanto também os psicossociais.

Silva; Martins, (2014) destacam que pacientes nestas condições estão sendo cada vez mais encaminhados para o setor cirúrgico, mediante a redução de sua qualidade de vida devido à dor, assim, pode-se apontar o medo ao movimento, a incapacidade funcional e a dor, como os pontos principais a serem avaliados nos pacientes com dor lombar crônica, contudo, Sardá et al. (2012), Moraes; Pimenta (2014), Feitosa et al. (2016), também apontam que os pensamentos catastróficos são um dos fatores que apresentam grande influência na ampliação do mal prognóstico destes indivíduos. Todavia, Ferreira et al. (2013); Oliveira et al., (2014); Leite et al., (2015)afirmam que os exercícios provocam benefícios bastante relevantes nas capacidades funcionais e no controle de dor dos indivíduos acometidos com dor crônica.

Atualmente, os exercícios de estabilização segmentar (ES) na dor lombar crônica têm sido usados como objeto de várias pesquisas, logo, elementos relacionados aos exercícios de estabilização segmentar na dor lombar crônica mostram-se pertinentes no sentido de divulgar seus efeitos e sua relevância, para melhor direcionar na escolha da intervenção e estimular para que outros estudos sejam realizados outros ensaios clínicos. O objetivo deste estudo foi revisar de forma sistemática o impacto da estabilização segmentar na dor lombar crônica.

MÉTODO

A pesquisa realizada foi de natureza básica, com abordagem quantitativa, apresentando fins de pesquisa exploratória e característica sistemática, assim como fora descrito por Haladay et al. (2014), para análise da dor lombar crônica.

Os dados para desenvolvimento deste estudo foram coletados entre os meses de julho a novembro do ano de 2021. Para obtenção destes elementos foram utilizadas as bases de dados: LILACS, SciELO, PEDro e PubMed, tendo como descritores: estabilização segmentar; dor lombar ou lombalgia e crônica.

Os critérios de inclusão nesta revisão foram: ensaios randomizados controlados, artigos publicados a partir de 2009 e os critérios de exclusão foram: artigos que tinham sido publicados anteriormente a 2009 e artigos duplicados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio dos descritores utilizados foi obtido um total de 99 artigos, dos quais 76 artigos foram excluídos por não serem ensaios clínicos randomizados controlados. Após a aplicação do critério de exclusão dois artigos tiveram que ser eliminados, então 21 artigos foram selecionados para a triagem por meio da leitura dos títulos, resumos e do texto completo, quando necessário, dos quais nove foram excluídos, assim, restaram 12 estudos para serem revisados. A Figura 1 mostra o processo de inclusão para esta revisão.

De acordo com os estudos realizados por Pereira et al. (2010); França et al. (2010);Arins et al. (2016), os exercícios de estabilização segmentar resultaram em uma melhora bastante significativa nos valores médios do índice de dor dos pacientes com dor lombar crônica, inclusive houve redução no nível de incapacidade funcional, até mesmo na amostra de Melo et al. (2014), com 21 indivíduos, a estabilização segmentar aumentou a flexibilidade dos acometidos.

Na pesquisa feita por Jeong et al. (2015), onde separou os pacientes em dois grupos, deste modo um deles recebeu como intervenção o fortalecimento dos músculos do quadril junto a estabilização segmentar e o outro somente a estabilização segmentar, pôde-se constatar que a junção de ambas foi superior ao grupo que recebeu só a estabilização segmentar, apesar de que ambos apresentaram aumento da força muscular e equilíbrio da região lombar.

Segundo Santos et al. (2011), a utilização dos protocolos com treinamento idealizados de maneira específica para indivíduos que apresentam a dor lombar crônica, têm sido considerado cada vez mais consistentes, de modo que os pacientes nesta condição após receber a intervenção relatam redução na frequência dos episódios de dores.

Em um estudo realizado por Javadian et al. (2012), com 30 pacientes tendo idade entre 18 e 45 anos, dividindo eles em dois grupos, realizando estes os exercícios gerais combinados com a estabilização segmentar e o outro grupo somente com a estabilização, assim, pôde-se constatar que a terapia combinada foi significativamente mais rápida em diminuir a intensidade da dor e incapacidade funcional, além de aumentar o tempo de resistência muscular. Porém, na pesquisa feita por Ewert et al. (2009), os exercícios gerais foram superiores a um programa multimodal que incluía a estabilização segmentar.

A prática de terapias combinadas têm se mostrado cada vez mais relevantes, assim, Jeong et al., (2016) afirmam que o exercício de estabilização segmentar lombar associado com técnicas de mobilização neural melhorou as funções e a saúde dos sujeitos com dor lombar crônica de maneira substancialmente superior ao grupo que só recebeu ES. Apesar de que Bottamedi et al., (2016) afirmam que o programa de tratamento com ES combinado a Escola de postura não trouxe benefícios superiores quando comparados ao grupo que recebeu somente ES, mostrando assim, que não é o conjunto de ES com qualquer técnica que será superior aos grupos controle.

Segundo França et al. (2012), oalongamento dos eretores da espinha, isquiotibiais e tríceps sural melhoraram na dor e reduziram a incapacidade funcional tanto quanto os pacientes que realizaram a estabilização segmentar lombar, porém, pôde-se constatar que a ativação do músculo transverso abdominal (TrA) foi superior no grupo que recebeu ES.

Tabela 1 – Características dos estudos incluídos na revisão sistemática

AUTOR/ANOINTERVENÇÃORESULTADOS
Pereira et al. (2010); Arins et al. (2016); França et al. (2010);-Estabilização segmentar (ES)-Reduziu dor e a incapacidade funcional
Melo et al. (2014);-Estabilização segmentar-Aumentou a flexibilidade
Jeong et al. (2015);-Fortalecimento do quadril e ES ou somente Estabilização Segmentar-Fortalecimento do quadril e ES foram significativamente superiores
Jeong et al. (2016);-Mobilização neural e ES ou somente ES-Mobilização neural e ES foram significativamente superiores
Javadian et al. (2012);




Ewert et al. (2009);
-Exercícios gerais e ES ou somente ES




-Exercícios gerais e Estabilização segmentar ou somente ES
-Exercícios gerais e ES foi superior na diminuição da dor e a incapacidade funcional e aumentou o tempo de resistência muscular
-Ambos os grupos apresentaram melhora em todas as variáveis
Bottamedi et al. (2016);-Escola de postura e ES ou somente ES-Ambos os grupos apresentaram melhora em todas as variáveis
França et al. (2012);-Alongamento dos eretores da coluna, isquiotibiais e tríceps sural ou somente ES-ES apresentou mais ativação do músculo transverso abdominal
Park et al. (2020);-Estabilização segmentar-Melhorou a função respiratória
Magalhães et al. (2019).-Estabilização segmentar-Melhorou a qualidade de vida

Na pesquisa realizada por Park et al., (2020) observou-se que o exercício de estabilização segmentar lombar ativa a musculatura profunda e melhora a função respiratória e a pressão respiratória, quando utilizado em pacientes com dor lombar crônica. Todavia, Para Magalhães et al. (2019), a aplicação da ES apresentou melhoras inclusive na qualidade de vida dos pacientes com dor lombar crônica, mostrando ser um eficiente recurso para o tratamento.

CONCLUSÃO

Os exercícios de estabilização segmentar diminuíram a dor lombar crônica e influenciaram no aumento das capacidades funcionais, da força muscular, flexibilidade e equilíbrio da região, melhora na função respiratória e qualidade de vida, porém, o treinamento combinado com outras técnicas demonstrou ser superior ao isolado.

Conclui-se que a estabilização segmentar lombar mostrou ser uma abordagem efetiva para os pacientes com lombalgia crônica, assim, faz-se necessário que sejam realizadas mais pesquisas com boa qualidade metodológica para melhor compreensão dos seus efeitos como terapia combinada e isolada.

REFERÊNCIAS

ARINS, MR; MURARA, N; BOTTAMEDI, X; RAMOS, JS; WOELLNER, SS; SOARES, AV. Physiotherapeutic treatment Schedule for chronic low back pain: influence on pain, quality of life and functional capacity. Rev Dor. 2016.

BOTTAMEDI, X; RAMOS, JS; ARINS, MA; MURARA, N; WOELLNER, SS; SOARES, AV. Treatment program for chronic low back pain based on the principles of Segmental Stabilization and Back School. Rev Bras Med Trab. 2016.

DREISINGER, TE. Exercise in the management of chronic back pain. Ochsner J. 2014.

EWERT, T; LIMM, H; WESSELS, T; RACKWITZ, B; GARNIER, KV; FREUMUTH, R; STUCKI, G. The comparative effectiveness of a multimodal program versus exercise alone for the secondary prevention of chronic low back pain and disability. PM&R. 2009.

FEITOSA, ASA; LOPES, JB; BONFA, E; HALPERN, ASR. Estudo prospectivo de fatores prognósticos em lombalgia crônica tratados com fisioterapia: papel do medo-evitação e dor extraespinal. Revista Brasileira de Reumatologia. 2016.

FERREIRA, LL; COSTALONGA, RR; VALENTI, VE. Therapy with physical exercises for low back pain. Rev Dor. 2013.

FRANÇA FR; BURKE, TN; CAFFARO, RR; RAMOS, LA; MARQUES, AP. Effects of muscular stretching and segmental stabilization on functional disability and pain in patients with chronic low back pain: a randomized , controlled trial. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics. 2012.

FRANÇA, FR; BURKE, TN; HANADA, ES; MARQUES, AP. Segmental stabilization and muscular strengthening in chronic low back pain – a comparative study. Clinics. 2010.

GENEEN, LJ; MOORE, RA; CLARKE, C; MARTIN, D; COLVIN, LA; SMITH, BH. Physical activity and exercise for chronic pain in adults: an overview of Cochrane Reviews. Cochrane Database Syst Rev. 2017.

HALADAY, DE; MILLER, SJ; CHALLIS, J; DENEGAR, CR. Quality of systematic reviews on specific spinal stabilization exercise for chronic low back pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy. 2014.

JAVADIAN, Y; BEHTASH, H; AKBARI, M; TAGHIPOUR-DARZI, M; ZEKAVAT, H. The effects of stabilizing exercises on pain and disability of patients with lumbar segmental instability. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation. 2012.

JEONG, UC; KIM, CY; PARK, YOUNG-HAN; HWANG-BO, G; NAM, CW. The effects of self-mobilization techniques for the sciatic nerves on physical functions and health of low back pain patients with lower limb radiating pain. J Phys Ther Sci. 2016.

LEIRÓS-RODRÍGUEZ, R; SOTO-RODRÍGUEZ, A; PÉREZ-RIBAO, I; GARCÍA-SOIDÁN, JL. Comparisons of the Health Benefits of Strength Training, Aqua-Fitness, and Aerobic Exercise for the Elderly. Rehabilitation Research and Practice. 2018.

LEITE, AAAS; SANTOS, LS; ARAÚJO, MO; CAVALCANTE, JLN. Dor lombar e exercício físico: revisão sistemática. Revista Baiana de Saúde Pública. 2015.

MAGALHÃES, AO; HUBNER, TA; JORDÃO, GS; COSTA, MP; FRANÇA, FJR. Effect of segmental stabilization and manual therapy versus isolated segmental stabilization in patients with non-specific chronic low back pain: a randomized controlled trial. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba. 2019.

MELO, JF; EDUARDO, FMC; MOSER, ADL. Isokinetic performance, functionality, and pain level before and after lumbar and pelvic estabilization exercise in individuals with chronic low back pain. Fisioter Mov. 2014.

MORAES, EB; PIMENTA, CAM.Chronic pain, fear of pain and movement avoidance belief. Rev Dor. 2014.

NASCIMENTO, PRC; COSTA, LOP. Prevalência da dor lombar no Brasil: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública. 2015.

OLIVEIRA, MAS; FERNANDES, RSC; DAHER, SS. Impacto do exercício na dor crônica. Rev Bras Med Esporte. 2014.

PARK, SJ; KIM, YM; YANG, SR. Effects of lumbar segmental stabilization exercise and respiratory exercise on the vital capacity in patients with chronic back pain. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation. 2020.

PEREIRA, NT; FERREIRA, LAB; PEREIRA, WM. Effectiveness of segmental stabilization exercises on mechanical-postural chronic low back pain. Fisioter Mov. 2010.

RONAI, P; SORACE, P. Chronic nonspecific low back pain and exercise. Strength and Conditioning Journal. 2013.

RONAI, P; SORACE, P. Exercise program guidelines for persons with chronic nonspecific low back pain. Strength and Conditioning Journal. 2013.

SANTOS, RM; FREITAS, D; PINHEIRO, ÍCO; VANTIN, K; GUALBERTO, HD; CARVALHO, NAA. Lumbar segmental stability. Med Reabil. 2011.

SARDÁ, JJJ; NICHOLAS, MK; PIMENTA, CAM; ASGHARI, A. Psychosocial predictors of pain, incapacity and depression in Brazilian chronic pain patients. Rev Dor. 2012.

SILVA, AN; MARTINS, MRI. Dor, cinesiofobia e qualidade de vida de pacientes com dor lombar. Rev Dor. São Paulo, 2014 abr-jun; 15(2): 117-20.


1Fisioterapeuta, Pós-graduado em Fisioterapia Traumato-ortopédica (BIOCURSOS)
2Fisioterapeuta; Pós-graduada em Fisioterapia Neurofuncional (BIOCURSOS)
³Fisioterapeuta, Pós-graduado em Fisioterapia Traumato-ortopédica em Desportiva (IAPES).