A INCONTINÊNCIA URINÁRIA E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

THE URINE INCONTINENCE AND THE EFFECT OF AGING
Emanuelle Chaves Mendonça*
Fabíola Mariana Rolim de Lima**
Lusicleide Galindo da Silva***
Sérgio José Barbalho Rodrigues Filho****
* Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ-PB.
Trabalho: Fisioterapeuta na Clínica de Reumatologia, Medicina Física e Reabilitação da Paraíba, João Pessoa-PB.
** Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ-PB; Pós-graduanda Lato Sensu em Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva pela Faculdade Redentor – RJ.
Trabalhos: Fisioterapeuta intensivista no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena (HETSHL), João Pessoa-PB; Fisioterapeuta na Clínica de Reumatologia, Medicina Física e Reabilitação da Paraíba, João Pessoa-PB.
*** Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ-PB; Pós-graduanda Lato Sensu em Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva pela Universidade Castelo Branco – RJ.
Trabalhos: Fisioterapeuta do Hospital Geral de Ortopedia e Traumatologia, Feira de Santana – BA; Fisioterapeuta da Unidade Mista do Município de Amélia Rodrigues – BA.
**** Fisioterapeuta graduado pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ-PB.
Trabalho: Fisioterapeuta da Policlínica Benjamim Maranhão, Bayeux – PB.
Endereço para correspondência:
Emanuelle Chaves Mendonça
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Resumo
O envelhecimento é um processo dinâmico, natural e irreversível que produz alterações prejudiciais em diversos sistemas do organismo inclusive no urinário. Dentre as alterações deste sistema destaca-se a incontinência urinária no idoso que consiste na perda involuntária de urina de forma aguda ou persistente. Esta forma divide-se em: incontinência de urgência, por transbordamento, funcional, mista e de esforço. O objetivo da pesquisa é trazer mais informações sobre a incontinência urinária nas suas implicações anatômicas, fisiológicas, sociais, psicológicas e emocionais, relacionando-a com o processo de envelhecimento. A metodologia utilizada nesse estudo bibliográfico é descritiva e exploratória, tem como método de abordagem o dedutivo e como técnica de pesquisa a documentação indireta. Pode-se perceber que a incontinência urinária é uma disfunção muito comum na população idosa, porém representa uma temática pouco explorada quando se trata de uma produção científica.
Palavras-chaves: Processo de Envelhecimento. Idoso. Sistema Urinário. Incontinência Urinária.
Abstract
The effect of aging is dynamical, natural and irreversible process that causes damageable change in several systems of the organic structure including the urine one. Among the change of this system are detached the urine incontinence in old people that consists in involuntary loss of urine in a persistent or intense way. This intense way is divided into: urgency incontinence by overflowing, functional, exertion and mixed. The research goal is to bring more information about the urine incontinence in its anatomic, physiological, social, psychological and emotional implication, relating it with the process of the effect of aging. The methodology used in this bibliographical study is descriptive and exploratory and the approach method that is being used is the deductive and as a research technique, the indirect documentation. It can be noticed that the urine incontinence is a very common problem that happens with old people, however, it represents a topic that is little explored when you are talking about scientific production.
Key-works: Effect of aging. Old people. Urine System. Urine incontinence
Introdução
O envelhecimento é um processo natural que não depende da vontade do indivíduo; é irreversível, apesar do crescente avanço da medicina na descoberta de tratamento estéticos, farmacológicos etc, nada o faz revertê-lo; e é heterogêneo e individual, para cada espécie há uma velocidade própria para envelhecer e o declínio funcional produz efeitos diferentes de pessoa para pessoa e numa mesma pessoa 1.
Um outro conceito dado para o processo do envelhecimento refere-se a:
processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte 2.
À medida que o sistema urinário envelhece, os rins reduzem seu peso, tamanho, perdem néfrons e diminuem a filtração glomerular. O ureter aumenta sua contratilidade que está associado a uma expansão de sua camada muscular em comparação com as outras camadas desse órgão. A bexiga, órgão responsável pelo armazenamento e pela expulsão da urina, sofre com o envelhecimento, alterações próprias do órgão e extravesicais, podendo exteriorizar-se clinicamente promovendo na pessoa idosa, em sua esfera biológica, repercussões que a limita no campo social, psíquico e profissional. Haverá um desequilíbrio no arranjo entre os músculos estriados (voluntários) e liso (autonômico), controlado pela ação simpática e parassimpática responsável respectivamente pelo armazenamento vesical e a expulsão da urina. Outra alteração decorrente do envelhecimento desse órgão é a deposição de colágeno repercutindo na musculatura detrusora e a progressiva esclerose dos vasos cuja conseqüência é a desnervação da bexiga. O processo de atrofia cerebral pode ser considerado um fator extravesical também responsável por alterações funcionais da bexiga de forma temporária ou definitiva. A uretra é um órgão pouco comprometido pelo envelhecimento; nas mulheres haverá diminuição da pressão uretral máxima e do comprimento funcional; nos homens o comprometimento é extrínseco devido a hipertrofia prostática 3.
O envelhecimento por si só não causa a incontinência urinária, porém induz algumas mudanças funcionais e estruturais no sistema urinário que podem predispor à incontinência 4.
Trato Urinário Inferior
O trato urinário inferior está dividido anatômica e funcionalmente em partes principais: a bexiga e a via de saída da urina.
A bexiga é um órgão pélvico em forma de bolsa, capaz de grande distensão, que realiza a função de reservatório passivo, ao acumular urina, e órgão ativo ao expelir o conteúdo líquido através da uretra 5. Este órgão é basicamente de armazenamento que, sob controles superiores, descarrega seu conteúdo a intervalos convenientes 6.
Funcionalmente a bexiga divide-se em corpo e base. A região do corpo está localizada acima dos orifícios ureterais e a base, logo abaixo. O músculo detrusor, ou músculo liso da bexiga possui uma distribuição diferente das fibras o que permite funções variadas a esses segmentos, portanto o corpo se distende tridimensionalmente durante o enchimento vesical, enquanto a base permanece fixa, achatada, contribuindo para a manutenção da continência. O outro músculo que compõe a bexiga é o trígono, pequeno e de forma triangular, localiza-se imediatamente acima do colo vesical, entre os orifícios ureterais 4.
A via de saída da bexiga é composta pela base vesical, dito anteriormente, pela uretra e pelo esfíncter externo.
A uretra inicia-se no meato interno da bexiga e se estende até o meato uretral externo. Constituí-se por duas camadas musculares lisas provenientes do detrusor e do trígono. O arranjo desses contribui para a manutenção da pressão uretral e para a continência. O esfíncter externo é composto de musculatura estriada independente e separada da musculatura estriada do assoalho pélvico, sendo de controle voluntário no papel da micção 4. O esfíncter interno é composto de musculatura lisa, partindo da base da bexiga, portanto sem controle voluntário 6.
O principal suprimento nervoso da bexiga é feito através dos nervos pélvicos, que se conectam com a medula espinhal através dos plexos sacros, sobretudo com os segmentos S-2 e S-3 da medula 7.
O esfíncter externo é inervado pelos ramos esplâncnicos do nervo pudendo. O esfíncter interno tem inervação autonômica através das fibras parassimpáticas dos ramos laterais S-2 e S-4 6.
Assoalho Pélvico
O assoalho pélvico, também denominado, períneo, diafragma pélvico e área perineal, compreende um grupo de músculos com a função primordial de sustentar os órgãos pélvicos e abdominais 8. O assoalho pélvico é formado por tecidos que atravessam a abertura da pelve óssea e proporcionando sustentação às vísceras pélvicas e abdominais 9.
É composto por três camadas principais de apoio: a primeira camada, a fáscia endopélvica; a segunda camada composta pelo músculo elevador do ânus, músculo coccígeo e sua cobertura de fáscia; a terceira camada, diafragma urogenital 9.
A fáscia endopélvica é um tecido conectivo fibromuscular que consiste de colágeno, elastina, músculos liso e ligamentos e fáscias viscerais. O músculo elevador do ânus, segunda camada, compreende ainda os músculos: pubococcígeo, puboretal, iléococcígeo e coccígeo; responsáveis pela sustentação das vísceras pélvicas 9. O diafragma urogenital dividi-se em: diafragma urogenital profundo que consiste numa camada da aponeurose que separa o músculo perineal transverso profundo do elevador do ânus subjacente, e diafragma urogenital superficial composto pelos músculos perineal transverso superficial, bulboacavernoso e isquicavernoso. Estes músculos são inervados pelo nervo pudendo e irrigados pela artéria e veia perineal 10.
Fisiologia da Micção
O ato de eliminar a urina, micção é um processo no qual a bexiga torna-se repleta havendo a necessidade de se esvaziar. A micção normal envolve a interação de estruturas como o Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Parassimpático, cerebelo, núcleos da base 4.
Este ato compreende um ciclo com duas fases: armazenamento ou enchimento e esvaziamento. Durante a primeira fase, a bexiga enche-se lentamente com líquido proveniente dos rins através dos ureteres. Nessa fase há participação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático atuando na musculatura detrusora permitindo seu relaxamento, ou seja, o enchimento da bexiga, e nos músculos pélvicos e esfíncter uretral possibilitando a contração ou fechamento desses, mantendo a continência até que a bexiga esteja cheia. Na fase de esvaziamento há participação do Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático onde o músculo detrusor se contrai, empurrando a urina para fora, enquanto o esfíncter uretral e os músculos do assoalho pélvico relaxam para permitir a passagem 11.
A ativação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático através dos receptores beta-adrenérgicos localizados dentro da parede vesical, causando relaxamento do detrusor e ao mesmo tempo, dos receptores alfa-adrenérgicos presentes no colo vesical e esfíncter uretral, causando sua constricção, completa a caracterização da fase de armazenamento. Já a ativação do Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático através dos receptores colinérgicos situados no detrusor estimula a sua contração e a micção começa 12.
Estruturas localizadas nos segmentos superiores do sistema nervoso, especificamente regiões medial, dorsolateral e ventral da ponte, onde situam-se o centro pontino da micção, ou centro do detrusor, e o centro pontino esfincteriano, ou centro da continência coordenam o ato da micção. O cerebelo coordena a atividade motora da musculatura do esfíncter externo e assoalho pélvico, mantém a força e o tônus dessa musculatura interagindo com os núcleos da base e cérebro. Os núcleos da base exercem ação moduladora sobre o detrusor e o esfíncter externo. O início do ato de urinar está relacionado com o hipotálamo 4.
Incontinência Urinária
A Incontinência Urinária é definida como a perda involuntária de urina em locais indesejáveis, constituindo um problema social ou de higiene demonstrado de forma objetiva 13.
A incontinência urinária é a condição em que o idoso apresenta perda involuntária da urina; muitas vezes constituindo, desta forma um problema social ou higiênico 14.
Nas pessoas idosas que vivem na comunidade, a incidência da incontinência urinária é de 5 a 15%, enquanto nas que vivem em casas de repouso, este número eleva-se para 50% 15. O percentual de incontinência urinária varia de 15 e 35% nas pessoas internadas com 60 anos ou mais de idade, com mulheres apresentando o dobro da incidência nos homens. Até 53% dos idosos acamados apresentam incontinência 16.
Cerca de cinco por cento da população brasileira sofre de perda de urina, de acordo com dados atuais. Porém, acredita-se que o total de pessoas afetadas seja ainda maior do que o apresentado pelas pesquisas, pois muitos portadores deste problema acabam não informando os profissionais de saúde que o atendem. São milhões de pessoas, no Brasil e no mundo, atingidas por um problema que interfere significativamente na qualidade de vida 17.
Aspectos Psicossociais
A primeira barreira que cerca os indivíduos com Incontinência Urinária é a inibição de falar sobre o problema. Muitos escondem o sintoma ou diminuem sua importância. Têm receio de ser ridicularizados ou considerados velhos, inúteis e passam a se tornar solitários e a mudar sua rotina. Adotam atos preventivos a fim de esconder o problema e evitar constrangimentos. Evitam medicamentos que aumentem a diurese, diminuem a quantidade de líquido ingerido, evitam o transporte coletivo e viagens mais longas, não freqüentam cinemas, festas, bailes, tendem a localizar um banheiro quando chegam a um local público, temem que as pessoas percebam o odor de urina que exala de suas roupas, portanto o convívio social traz implicações associadas ao desconforto e a ansiedade, resultando em depressão e isolamento 15.
A sensação de rejeição, infelizmente, corresponde a realidade dos idosos, devido ao inconveniente social acarretado pela impossibilidade do paciente manter-se limpo. Esta rejeição pode ser manifestada pelos familiares e por parentes próximos. Um dos motivos mais freqüentes que levam os familiares a internar os idosos em casas de longa permanência é o fato de existirem limitações físicas, como dificuldade de deambular ou demência sendo associadas à incontinência urinária 6,15.
A auto estima pode ser a saída para o combate a depressão, por que os indivíduos que possuem maior senso de controle sobre de situações de sua vida e boa auto estima são melhores preparados para lidar com a incontinência urinária, não se tornando deprimidos. Cabe aos profissionais (médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e psicológos) ajudar a orientar a família no sentido de minimizar estas implicações psicossociais 18.
Fatores de Risco
São vários os fatores de riscos que fazem com que a Incontinência Urinária seja mais freqüente entre os idosos, dentre os principais fatores de risco destacam-se os que relacionam ao sexo, idade, partos, menopausa, tabagismo e obesidade 13. Além destes fatores, podemos encontrar a imobilidade e as alterações cognitivas 6.
Patologias neurológicas como Acidente Vascular Encefálico, demências ou tumores cerebrais; o uso de drogas como diuréticos e sedativos; infecções urinárias como cistite; repentinas mudanças de ambiente podendo levar o idoso a um estado de desorientação são outros fatores que predispõe ao surgimento da incontinência urinária no idoso 19.
A lesão medular secundária a trauma é também uma das patologias neurológicas capazes de originar uma disfunção vesical levando ao surgimento da bexiga neurogênica reflexa. Haverá neste caso, uma interrupção completa das vias motoras e sensitivas entre a medula sacral e o centro pontino da micção (CPM) ocorrendo perda da sensibilidade vesical, abolição do reflexo da micção espontânea e incontinência 20,21.
Tipos de Incontinência Urinária
Há dois tipos de Incontinência Urinária: a aguda ou transitória e a persistente ou estabelecida. A Incontinência Urinária aguda associa-se a uma situação clínica ou cirúrgica do idoso que freqüentemente é resolvida quando essa situação desaparece 14.
A Incontinência Urinária persistente pode ser dividida de acordo com a alteração fisiopatológica básica 6. A incontinência urinária estabelecida pode ser causada por hiperatividade ou hipoatividade do detrusor, por flacidez da musculatura pélvica, por alteração da pressão uretral, por obstrução da via de saída ou por distúrbios funcionais.Classifica-se em: Incontinência de Urgência, Transbordamento, Funcional, Mista e de Esforço4.
Incontinência de Urgência
A Incontinência de Urgência é descrita pelos pacientes como a percepção da necessidade de esvaziar a bexiga, mas sem tempo suficiente para fazê-lo de forma socialmente aceitável 16. Este tipo de incontinência está freqüentemente associada com a condição da pessoa, como acidente vascular cerebral, demência senil, doença de Parkinson, escleroses múltiplas, mas pode ocorrer também em pessoas idosas normais 14. É o tipo mais comum em pacientes idosos de ambos os sexos. A lesão quando se localiza no trato urinário inferior está associada a hiperatividade do músculo detrusor, denominada de instabilidade, e lesão no sistema nervoso associa-se a hiper-reflexia 4.
A Urgência Miccional, como também é chamada, é provocada pela hiperatividade do músculo detrusor que se contrai espontaneamente e desinibido durante a fase de enchimento ou pela pressão abdominal aumentada. Pode ser de origem motora e de origem sensitiva. Sendo a primeira, relacionada a instabilidade da musculatura de esvaziamento; sua etiologia é desconhecida, mas pode ser desencadeada pela inflamação da pelve ou da bexiga, neoplasia ou hipertrofia da próstata ou infecção. A segunda acompanha-se de hipersensibilidade da bexiga, ou seja, a qualquer volume anormalmente baixo desencadeará o desejo de urinar; é desencadeada por atos como o de lavar as mãos, por exemplo, resultando na diminuição da capacidade funcional da bexiga 13.
Incontinência por Transbordamento
A Incontinência por Transbordamento é a perda involuntária da urina quando a pressão da bexiga é maior do que a uretra, associada a distensão da bexiga, quando não há atividade do músculo 14. A incontinência por fluxo excessivo ocorre quando a bexiga está excessivamente distendida (seja por obstrução da saída ou por atonia vesical), fazendo com que a pressão da bexiga exceda a pressão da uretra, independentemente das tentativas do paciente 16.
É provocada por uma hipotonia e arreflexia do detrusor ou obstrução da via de saída. No primeiro caso, a hipotonia e arreflexia do detrusor levam a retenção de urina crônica devido a falta de contração voluntária mantida pelo detrusor para esvaziar a bexiga e é esta retenção que provoca uma pressão intravesical (da bexiga) igual ou maior que a pressão intra-uretral. A arreflexia é de origem neurogênica como nos casos de lesão da medula espinhal ou lesões nos segmentos sacrais dois a quatro ou abaixo. A hipotonia é resultante de uma distensão prolongada e hiperestiramento do detrusor e do tecido elástico da parede vesical levando a perda da contratilidade; pode acontecer nos casos de retenção neurogênica ou não neurogênica, como em pessoas que apresentam retenção urinária prolongada recorrente ou que urinam com pouca freqüência. No segundo caso, a obstrução da via de saída pode levar a retenção de urina provocando a incontinência de hiperfluxo por um mecanismo semelhante ao que foi citado primeiramente 22.
Ocorre em menos de 20% dos idosos e clinicamente é caracterizada pela perda freqüente de pequenas quantidades de urina, associada a jato fraco, intermitência, hesitação, freqüência e noctúria 4.
Incontinência Funcional
A Incontinência Funcional é uma conseqüência de comprometimentos crônicos relacionados com a função física ou cognitiva 11. A mesma pode ser observada em pacientes com a bexiga e função uretral normais devido à incapacidade de compreender a necessidade de urinar ou de comunicar a sensação de urgência ou iminência da micção 22.
As causas para o surgimento deste tipo de incontinência são limitações físicas, transtornos psíquicos, déficit cognitivo, regressão, hostilidade, ou limitações ambientais como: iluminação inadequada, banheiros e urinóis de difícil acesso 4.
Entende-se, portanto que a Incontinência Funcional é a perda involuntária de urina, secundária a fatores externos ao trato urinário, tendo causas comuns como a demência severa, problemas músculo-esqueléticos severos, fatores ambientais que dificultam o acesso ao banheiro e fatores psicológicos 23.
Incontinência Mista
A Incontinência Mista é definida como uma combinação de mais de um tipo de sinais e sintomas presentes na incontinência de urgência e de estresse, e é comum em mulheres idosas. Sua fisiopatologia é semelhante a junção dos tipos de incontinência citados 11. Todavia é importante saber qual o componente mais determinante para as perdas e qual a forma primária de incontinência; freqüentemente a incontinência de urgência surge como mecanismo de adaptação, compensação ou simplesmente de reação à incontinência de esforço não sabendo contudo os mecanismos envolvidos, embora haja relato da existência de contrações do detrusor durante a fase de enchimento, em conseqüência de hipertrofia desse detrusor, com alteração dos arcos reflexos periféricos 24.
A incontinência complexa, como também é chamada, é a incontinência secundária a incontinência de estresse e urgência miccional combinadas, geralmente estes pacientes apresentam uma incontinência de estresse leve ou moderada de longa duração, com a urgência miccional de instalação mais recente 22.
Esta forma de Incontinência, onde a sintomatologia muitas vezes é mal definida, a clínica, o conhecimento dos antecedentes patológicos, o exame objetivo e os exames auxiliares serão determinantes para compreender a fisiopatologia de cada caso e tratar corretamente o doente 24.
Incontinência de Esforço
A Incontinência de Esforço é a eliminação involuntária de urina que ocorre em resposta ao aumento súbito da pressão intra-abdominal 13. Isto ocorre é após um esforço, sem que haja contração do músculo detrusor da bexiga 10. Acomete comumente as mulheres jovens e também é o segundo tipo de incontinência que mais afeta as mulheres idosas 4.
Dois mecanismos fisiopatológicos distintos podem levar a incontinência de esforço na mulher entre eles, a hipermotilidade uretral e a deficiência esfincteriana. No primeiro caso, a fraqueza do assoalho pélvico decorrente do envelhecimento, multiparidade ou trauma cirúrgico é um fator importante levando a alteração do colo vesical e da uretra proximal que se deslocam para baixo durante os aumentos da pressão abdominal. O volume residual neste caso é pequeno. No segundo caso, a deficiência esfincteriana decorre de uma doença neurológica envolvendo o segmento toracolombar da medula espinhal ou de um trauma cirúrgico caracterizando a abertura do colo vesical mesmo com o paciente em repouso. A perda de urina pode ser contínua 4.
Na prostatectomia há a eliminação do esfíncter interno e a continência é mantida pelo esfíncter externo que possui um componente voluntário, a contração ativa e um componente involuntário, o tônus esfincteriano. O paciente não é capaz de interromper o jato urinário quando a lesão esfincteriana ocorre no componente voluntário. A lesão na musculatura lisa e tecido elástico é mais freqüente e, apesar do paciente ser capaz de interromper o jato urinário, a incontinência ocorre em variados graus. Já quando a lesão ocorre nos dois componentes, há incontinência severa e o paciente não é capaz de interromper o jato de urina 25.
Metodologia
Esta pesquisa trata-se de um estudo realizado a partir da análise de textos impressos, procurados em livros e documentos escritos com o objetivo de obter as informações necessárias para desenvolver a investigação de um tema de real interesse do pesquisador 26.
O método de abordagem utilizado foi o dedutivo que partindo de teorias e leis prediz a ocorrência de fenômenos particulares, sendo a técnica de pesquisa foi a documentação indireta 27. Esta pesquisa bibliográfica é descritiva e foi realizada com o objetivo de afirmar e descrever características atribuídas à temática em questão 28.
Discussão
Os autores 1,2 concordam ao descrever que o processo de envelhecimento é um processo natural, individual e progressivo onde ocorrem mudanças fisiológicas, funcionais e sociais que acabam levando o indivíduo à morte.
Com relação as características anátomo-funcioanis do trato urinário, há um consenso entre os autores 5,6, quando relatam que a bexiga é um órgão capaz de armazenar urina, sendo esta, eliminada através da participação de centros superiores.
A respeito das características anátomo-funcionais do assoalho pélvico, o autor 9 afirma que este compreende um conjunto de tecidos que sustentam as vísceras pélvicas e abdominais. Complementando que é composto por três camadas principais: a fáscia endopélvica; músculo elevador do ânus, músculo coccígeo e sua cobertura de fáscia; e o diafragma urogenital.
Quanto à fisiologia da micção, os autores 11,4 concordam ao descrever que o ato de eliminar a urina, ou seja, a micção envolve um ciclo com duas fases: a fase de armazenamento e a fase de expulsão. Complementa o autor 12 que há a participação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Parassimpático neste ciclo, sendo o primeiro participante da fase de armazenamento e o segundo, da fase de expulsão.
No tocante ao conceito, os autores 13,14 entram em consenso quando relatam que a Incontinência Urinária é a perda involuntária de urina que atinge o idoso constituindo um problema social ou de higiene.
Com relação à incidência,o autor 15, relata que nas pessoas idosas que vivem na comunidade o número de incontinentes é de 5 % a 15 %, enquanto que aqueles que vivem em casas de repouso o número aumenta para 50 %. Complementa o autor 17 que 5% da população brasileira é incontinente e que este total ainda seja maior, pois muitos portadores não informam o problema a quem o atende.
Com relação aos aspectos psicossociais, os autores 6,15 afirmam que a sensação de rejeição a qual o idoso sofre pode ser manifestada pelos familiares e parentes próximos e que estes internam seus idosos em casas de longa permanência pelo fato de existirem limitações físicas ou demência associadas a Incontinência Urinária.
Os principais fatores de riscos descritos pelo autor 13 estão relacionados ao sexo, idade, partos, menopausa, tabagismo e obesidade. Acrescenta o autor 6, a imobilidade e alterações cognitivas.
Há dois tipos de Incontinência Urinária: a aguda ou transitória e a persistente ou estabelecida. O autor 14 enfoca que a Incontinência Urinária aguda está associada a uma situação clínica ou cirúrgica do idoso, sendo resolvida quando a mesma desaparece.
A Incontinência persistente, afirma o autor 6, é dividida de acordo com a alteração fisiopatológica básica; podendo ocorrer alterações na musculatura detrusora como, hiperatividade ou hipoatividade, flacidez da musculatura pélvica, alteração na pressão uretral, obstrução da via de saída e distúrbios funcionais como acrescenta o autor 4. Dentre os subtipos de Incontinência persistente podemos considerar a seguir.
Na Incontinência de Urgência há necessidade de eliminar a urina, mas sem tempo suficiente para tal, afirma o autor 16. Complementa o autor 14 que esta associa-se a patologias, como demências, escleroses múltiplas, acidente vascular encefálico ou ocorrendo também em pessoas idosas normais.
Os autores 14,16 concordam quando afirmam que a Incontinência por Transbordamento ocorre quando a pressão da bexiga é maior que a pressão da uretra não tendo o paciente controle da situação.
Enfoca o autor 23 que na Incontinência Funcional há perda involuntária de urina, fatores externos secundários ao trato urinário, tendo causas comuns como a demência severa, problemas músculo-esqueléticos severos, fatores ambientais que dificultam o acesso ao banheiro e fatores psicológicos. Acrescenta o autor 22 que este tipo é também observado em pacientes com a bexiga e função uretral normais.
Os autores 11,24,22 têm a mesma opinião quando ressaltam que a Incontinência Mista é uma junção da sintomatologia da Incontinência de Urgência com a de Esforço apresentando uma única fisiopatologia semelhante a cada tipo.
Há um consenso entre os autores 13,4,10 quando afirmam que a Incontinência de Esforço ocorre quando a pressão abdominal é mais elevada que a pressão uretral, havendo perda de urina involuntária após um esforço não havendo contração do músculo detrusor.
Conclusão
A incontinência urinária é uma disfunção bastante incidente na população idosa que repercute nos aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais, emocionais e no âmbito familiar, comprometendo assim, a qualidade de vida do paciente. Sendo assim, o importante para os idosos é promover a continência urinária, a reintegração familiar e social desses contribuindo, então para a aquisição de uma vida digna.
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