PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS QUE SE ENCONTRAM EM ATIVIDADE LABORAL – UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PRACTICE OF EXERCISE AND QUALITY OF LIFE IN ELDERLY PEOPLE WHO ARE IN LABORAL ACTIVITY – AN INTEGRATIVE REVIEW.

Autores:
Andressa Scaravelli,
co-autores:
Lilian Marin Lunelli,
Márcia Regina da Silva,
Paula Zeni.



Resumo

Objetivo: efetuar uma revisão integrativa sobre os efeitos da prática de exercícios físicos em idosos que permanecem em atividades laborais e qualidade de vida. Método: Foram selecionados 757 artigos das bases de dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e Scielo (Scientific Electronic Library Online), e após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão restaram oito artigos inclusão para revisão integrativa. Resultados e discussões: houve concordância em quatro estudos sistematizados demonstram que a QV está diretamente associada à prática de exercícios físicos, alta escolaridade, e melhores condições socioeconômicas. As análises das pesquisas incluídas neste estudo sobre a permanência do idoso no mercado de trabalho – dois estudos (25%) – enfatizaram melhora nas relações sociais, autonomia e complemento a previdência privada. Também relacionaram à maior independência funcional, prevalência do sexo masculino, de alta escolaridade e melhores condições socioeconômicas. Quanto à prática de exercícios físicos apenas um estudo avaliou de forma quantitativa a aptidão cardiorrespiratória e os declínios nas funções fisiológicas no idoso onde a ineficiência ventilatória obteve diminuição nas variáveis de ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) e variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES) relacionando-a baixa aptidão cardiorrespiratória, contudo o mesmo não fez relação com idosos em atividade laboral. Conclusão: Quanto à prática de exercícios físicos e qualidade de vida, quatro estudos (50%), corroboram ao associar QV a independência funcional e melhor condicionamento físico.

Palavras-Chaves: Envelhecimento; Condicionamento; Satisfação; Trabalho.

Abstract 

Objective: to carry out an integrative review on the effects of physical exercise practice in elderly people who remain in work activities and quality of life. Method: 757 articles were selected from the BVS (Virtual Health Library) and Scielo (Scientific Electronic Library Online) databases, and after applying the inclusion and exclusion criteria, eight articles remained included for integrative review. Results and reduction: there was agreement in four systematic studies showing that a QoL is directly associated with the practice of physical exercise, high education, and better socioeconomic conditions. The analyzes of the surveys included in this study on the permanence of the elderly in the labor market – two studies (25%) – emphasized improvement in social relationships, autonomy and a complement to private pension. They also related to greater functional independence, prevalence of males, high education and better socioeconomic conditions. As for the practice of physical exercise, only one study quantitatively evaluated cardiorespiratory fitness and declines in physiological functions in the elderly, where ventilatory inefficiency was reduced in the variables of optimal cardiorespiratory point (POC) and variation in the efficiency of oxygen consumption ( OUES) relating it to low cardiorespiratory fitness, however it was not related to elderly people in work activity. Conclusion: As for the practice of physical exercise and quality of life, four studies (50%) corroborate by associating QOL with functional independence and better physical conditioning.

Keywords: Aging; Conditioning; Satisfaction; Job.

INTRODUÇÃO

O processo de envelhecer decorre de forma variada de indivíduo para indivíduo, dependendo de fatores como estilo de vida, condições socioeconômicas e o acometimento de doenças crônicas. No contexto biológico está relacionado a fatores no plano molecular, celular, tecidual e orgânico, já no contexto psíquico tem relação com dimensões psicoafetivas, de personalidade e afeto (FECHINE; TROMPIERI, 2015).

O envelhecimento biológico é implacável, ativo e irreversível, causando maior vulnerabilidade do organismo às agressões externas e internas. Existem evidências de que o processo de envelhecimento é de natureza multifatorial e dependente da programação genética e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular (DE MORAES, 2010).

Segundo Esquenazi et al. (2014) a partir da meia idade as alterações fisiológicas surgem acompanhadas do declínio das funções biológicas da maioria dos órgãos e, com o passar dos anos, aumentam os níveis crescentes de limitações ao desempenho de atividades básicas da vida diária. Bianchi (2015, p. 34) ressalta em relação as alterações cardiovasculares que:

[…] ocorre redução de fluxo renal, do débito cardíaco, tolerância à glicose, da capacidade vital dos pulmões, da massa corpórea e da imunidade celular, modificações bioquímicas e mudanças externas como flacidez muscular, enrugamento da pele, branqueamento dos cabelos e pelos entre outras.

O desempenho cardiovascular sofre alterações devido a modificações estruturais, como a substituição de colágeno por tecido fibroso, diminuição da resposta de elevação da frequência cardíaca, aumento do tamanho do coração, as paredes do ventrículo esquerdo se tornam mais espessas prejudicando a ejeção ventricular, enrijecimento das artérias, depósito de gordura na parede dos vasos, agravando o risco de acometimentos como a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e acidentes cardiovasculares (CARDOSO, 2009).

As doenças crônicas degenerativas podem limitar o desempenho de atividades básicas da vida diária, bem como atividades laborais e interferir na qualidade de vida da população idosa. Nesse sentido, é importante ressaltar que o aumento no número de idosos ativos no mercado de trabalho está relacionado as melhores condições de saúde, consequentemente aumento na longevidade e melhor qualidade de vida, que permitem ao idoso trabalhar até idades mais avançadas, aposentando-se mais tarde (KHOURY, 2010 apud DE ARRUDA SILVA; ROSA, 2016).

A permanência do idoso no mercado de trabalho tem crescido progressivamente no Brasil, destaca-se a renda do trabalho como fator importante para o complemento da aposentadoria. Outro ponto relevante é a necessidade que o indivíduo tem de ser útil, produtivo, de interagir com o meio, tal perspectiva sobrepõe ao dinheiro, transformando uma fase que seria considerada de inutilidade em uma fase de utilidade (QUEIROZ; RAMALHO, 2009).

Destaca-se que a renda do trabalho tem se constituído, também, como um importante complemento de sua aposentadoria. Outro ponto relevante, sobre a permanência do idoso no ambiente de trabalho, é a necessidade que o indivíduo tem de ser útil, produtivo, de interagir com o meio, tal perspectiva sobrepõe ao dinheiro, transformando uma fase que seria considerada de inutilidade em uma fase de utilidade (KHOURY, 2010 apud DE ARRUDA SILVA; ROSA, 2016).

Quanto à qualidade de vida, trata-se de uma noção eminentemente humana, que se aproxima ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. (MINAYO, et al., 2000).

Com o passar dos anos o termo qualidade de vida tem ganhado vários significados, com enfoque em três princípios fundamentais, capacidade funcional, nível socioeconômico e satisfação. Isso porque qualidade de vida é um compromisso pessoal, entendida como um bem estar insubstituível (VAZ, 2014).

Qualidade de vida no âmbito profissional está relacionada com a mobilização, comprometimento e bem-estar na realização da tarefa, inclui critérios de satisfação individual e de bem-estar coletivo diante da função laboral exercida, com colegas de trabalho e empresa. Disponibilizar ao trabalhador/empregado todas as condições para seu desenvolvimento profissional, um ambiente organizado, onde há uma gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, sociológicos, psicológicos e tecnológicos da organização do próprio trabalho, tornando-o saudável e mais propício para aumento de produção. Esses fatores refletem no comportamento do funcionário, no atendimento aos clientes e contato com os fornecedores da empresa (FREITAS; DE SOUZA, 2009).

Diante do exposto, percebe-se que o processo de envelhecimento acarreta declínios fisiológicos em diversos sistemas, interferindo na saúde cardiovascular, assim como na qualidade de vida, desta forma o objetivo deste estudo foi buscou-se analisar a produção referente à prática de exercícios físicos e qualidade de vida de idosos que se encontram em atividade laboral.

METODOLOGIA

Este estudo tratou-se de uma revisão integrativa da literatura, sobreprática de exercícios físicos e a qualidade de vida de idosos que permanecem em atividades laborais.

Depois de estabelecida a questão norteadora, duas bases de dados foram utilizadas como fonte de levantamento dos estudos: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), e Scielo (Scientific Electronic Library Online). As estratégias de buscas foram realizadas com base nos descritores do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) utilizando os termos: “aptidão cardiorrespiratória” and “envelhecimento” and “idosos” and “qualidade de vida” and “atividade laboral”, e restringiu-se a língua portuguesa. Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos foram: estudos publicados no formato de artigo científicos completos (artigos originais, relatos de experiências, ensaios teóricos, reflexões), entre os anos 2016 e 2020, que abordassem no seu conteúdo os descritores aptidão cardiorrespiratória, idosos, envelhecimento, qualidade de vida e atividade laboral.

Os critérios de exclusão foram estudos duplicados, artigos que, mesmo contendo no título o descritor e os termos selecionados para este estudo, não respondessem à questão da pesquisa, artigos em forma de revisões bibliográficas não sistematizadas, cartas, resenhas, editoriais, publicações do tipo livros, capítulos de livros, publicações governamentais, boletins informativos, teses, dissertações, monografias e trabalhos de conclusão de curso, estudos em outros idiomas que não fossem o português.

Os artigos selecionados passaram por análise individual criteriosa, verificando quais atendiam aos critérios de seleção. Após essa filtragem, os estudos restantes passaram por leitura em sua íntegra.

Os resultados advindos desta revisão da literatura estão dispostos em uma matriz (Figura 01).

Figura 01. Procedimentos para construção da revisão integrativa.

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Fonte: Dados elaboradores pelos autores.

O levantamento dos estudos foi realizado no período de setembro de 2020 a novembro de 2020, concomitantemente nas duas bases de dados.

Após a leitura destes artigos, cinco foram exclusos por não atenderem aos objetivos propostos verificados na leitura integral, totalizando apenas oito estudos que compuseram a amostra desta revisão integrativa. A análise dos artigos ocorreu de forma descritiva, de acordo com o instrumento de coleta de dados, permitindo avaliar as seguintes características de cada artigo: identificação da publicação, critérios de avaliação e metodologia dos estudos.

RESULTADOS

Dentre os periódicos não houve destaque quanto ao maior número de publicações sobre o tema, foram encontrados um artigo em cada revista, sendo eles (Quadro 01): Revista Brasileira de Epidemiologia, Ciência & Saúde Coletiva, Revista Acta Fisiátrica, Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Avances em enfermagem, Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Revista online de pesquisa.

Dos estudos incluídos, quatro avaliaram a prática de exercícios físicos através da aptidão cardiorrespiratória em idosos, com grupo amostra e grupo de controle, para avaliação foram utilizados os testes: Teste Cardiopulmonar de Exercício, a variação da ventilação pela variação da produção de gás carbônico (VE/VCO2 slope), Oxygen Uptake Efficiency Slope (OUES) e o Ponto ÓtimoCardiorrespiratório (POC).

Dos estudos que avaliaram QV foram utilizados como variáveis os instrumentos Whoqol-OLD, Whoqol-BREF, Mini Exame do Estado Mental – MEEM, Escala de Depressão Geriátrica (GDS), Inventário de Ansiedade Beck ou Beck Anxiety Inven-tory (BAI), Physical Component Score (PCS), Mental Component Score (MCS).

Quanto aos idosos em atividade laboral a avaliação deu-se através de instrumentos para avaliação da QV (Whoqol-OLD, Whoqol-BREF) e questionários sócio demográficos.

Os artigos apresentaram consenso de desfecho em três aspectos principais (Quadro 02): A – melhor qualidade de vida da pessoa idosa quando associada à atividade física, alta escolaridade e condições socioeconômicas favoráveis; B – atividade laboral influencia positivamente na qualidade de vida do idoso; C – idosos que praticam atividade perceberam benefícios na aptidão cardiorrespiratória, independência funcional e no processo de socialização.

Quadro 01. Sumarização dos artigos que constituem a amostra da revisão integrativa

Nº do estudoAno de publicaçãoAutoresPeriódico

E 01
2016CAMELO; GIATTI; BARRETORevista Brasileira de Epidemiologia
E 022016RIBEIRO, et al.Ciência & Saúde Coletiva
E 032017OLIVEIRA, et al.Revista Acta Fisiátrica
E 042018COSTA, et al.Revista Gaúcha de Enfermagem
E 052018FILHO, et al.Revista Brasileira de Ciências do Esporte
E 062018GATO, et al.Avances em enfermagem
E 072019FRAZÃO, et al.Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia
E 082020ALMEIDA, et al.Revista online de pesquisa

Quadro 02. Sumarização dos artigos da revisão integrativa por desfecho

DesfechoAmostra (N)/Idade média (anos)VariáveisObjetivosResultados
E 01Desfecho AN= 366 / 60-94 anosPontuação do componente Social (PCS); Pontuação do componente mental (MCS).Investigar se as relações sociais juntamente com características sociodemográficas, hábitos de vida e condições de saúde estão associados à QVRS em idosos.QV relacionada à saúde em idosos apresentou déficit nos aspectos funcionais, relações sociais, características socioeconômicas, hábitos de vida e de condições de saúde quando associado a baixa escolaridade, cor da pele preta, ausência de atividade laboral, não praticar atividade física, não consumir bebidas alcoólicas, possuir diagnóstico de 2 ou mais doenças crônicas, histórico de internação nos últimos 12 meses e de ter estado acamado nos últimos 15 dias.
E 02Desfecho BN= 626 / igual ou > 65 anosUtilizou-se a base de dados do Estudo FIBRA-RJ e questionário para avaliar a intensidade de satisfação com a vida.Investigar a asso­ciação da permanência de idosos no mercado de trabalho com fatores socioeconômicos e clínicos e de satisfação com a vida na velhice.As chances de permanecer trabalhan­do foram maiores para homens; para aqueles com nove anos ou mais de estudos; com alta renda; sem con­dições clínicas crônicas incapacitantes e com maior satisfação com a vida.
E 03Desfecho A e Desfecho CN= 115 / igual ou > 60 anosAplicação de questionário sócio demográfico, elaborado pelos próprios autores.Analisar os fatores sociodemográficos e condições de saúde associados ao nível de atividade física de idosos usuários das ATIs.Associação significativa com o sexo e nível de escolaridade indicando uma diferença nas proporções de indivíduos sedentários/ irregularmente ativo e ativos/muito ativos em relação ao sexo e nível de escolaridade.
E 04Desfecho BN= 113 / igual ou > 60 anosInstrumentos Whoqol-OLD, Whoqol-BREF, Mini Exame do Estado Mental – MEEM.Avaliar a qualidade de vida entre idosos que trabalham e não trabalham.O domínio “físico” apresentou maiores médias para idosos que trabalham. Idosos que não trabalham, apresentaram menores médias no domínio “Ambiental” e na faceta “Autonomia”. Associou-se a prejuízos na QV causados por elementos do cotidiano como a segurança física, ambiente, recursos financeiros, oportunidades de adquirir informações, atividades de recreação e lazer.
E 05Desfecho CN= 119 / igual ou > 60 anosMedidas sociodemográficas avaliadas através de questionário sociodemográfico; Inventário de Ansiedade Beck ou Beck Anxiety Inven-tory (BAI).

Avaliar como a prática da atividade física proporciona alterações nos estados de humor, na socialização e na qualidade de vida de idosos a partir dos 60 anos.Idosos que praticam atividade física perceberam benefícios no processo de socialização, menor nível de ansiedade em comparação com idosos não praticantes.
E 06Desfecho AN= 122 / 60-99 anosInstrumentos Whoqol-OLD, Whoqol-BREF, Escala de Depressão Geriátrica (GDS) e questionário sociodemográfi­co e clínico.Avaliar o estado de saúde e qualidade de vida de idosos.Satis­fação moderada de idosos com QV, maior pontuação no domínio ‘relações sociais’ e menor no ‘físico’. Aspectos dor, desconforto, fadiga, falta de sono e repouso prejudicam a mobilidade e desempenho em atividades cotidia­nas. Percepção de melhor QV associou-se aos fatores idade, estado civil, auto percepção de ‘estar saudável’ e ausência de depressão.
E 07Desfecho CN= 61 / igual ou > 60 anosTeste Cardiopulmonar de Exercício (TCPE), Variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES) e o Ponto Ótimo Cardiorrespiratório (POC)Verificar se a ineficiência ventilatória está relacionada à baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos. Identificar qual(ais) a(s) melhor(es) variável(eis) do teste Cardiopulmonar de Exercício (TCPE) para determinar essa relação.A ineficiência ventilatória está relacionada à baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos, apenas quando medida pelas variáveis ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) e variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES).
E 08Desfecho A e desfecho CN= 37/ igual ou > 55 anosMini Exame do Estado mental (MEEM),qualidade de vida (WHOQOL-Bref).Avaliar a qualidade de vida dos idosos que praticam atividade física.A prática da atividade física com idosos melhorou a qualidade de vida, preferencialmente no sexo feminino.
Legenda: Desfecho A – melhor qualidade de vida da pessoa idosa quando associada a atividade física, alta escolaridade e condições socioeconômicas favoráveis; Desfecho B – atividade laboral influencia na qualidade de vida do idoso; Desfecho C – idosos que praticam atividade física perceberam benefícios na aptidão cardiorrespiratória, independência funcional e no processo de socialização.

DISCUSSÃO

A qualidade de vida em idosos foi avaliada em cinco estudos (E1, E2, E4, E6, E8) os instrumentos de avaliação utilizados foram Whoqol-BREF, Whoqol-OLD e Mini Exame do Estado Mental – MEEM, Escala de Depressão Geriátrica (GDS), Mental Component Score (MCS) e questionário sociodemográfi­co e clínico. O questionário Whoqol-BREF foi o instrumento mais utilizado para avaliação da qualidade de vida em idosos, presente na metodologia de três estudos.

A atividade laboral em idosos foi avaliada em dois estudos (E2, E4), o autor Ribeiro et al. (2016) comparou a atividade laboral com a satisfação em idosos e fatores sócio demográficos, verificado através de um questionário para avaliar a intensidade de satisfação com a vida referencia­da em nove domínios. Quanto ao estudo de Costa, et al. (2018) avaliou-se a QV em relação ao trabalho em idosos, nesse estudo os instrumentos de avaliação foram Whoqol-BREF, Whoqol-OLD e Mini Exame do Estado Mental – MEEM.

A prática de exercícios físicos foi avaliada em quatro estudos (E3,E5, E7, E8), no estudo (E7) avaliou-se a aptidão cardiorrespiratória através da ineficiência respiratória com a baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos através do Teste Cardiopulmonar de Exercício (TCE), Variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES), variação da ventilação pela variação da produção de gás carbônico (VE/VCO2 slope) e o Ponto Ótimo Cardiorrespiratório (POC). Nos estudos (E3, E5, E8) comparou-se a aptidão cardiorrespiratória com a QV em idosos, os instrumentos utilizados foram Mini Exame do Estado mental (MEEM), WHOQOL-Bref, medidas sociodemográficas avaliadas através de questionário sociodemográfico, Inventário de Ansiedade Beck ou Beck Anxiety Inven-tory (BAI), e aplicação de questionário sócio demográfico, elaborado pelos próprios autores.

Quanto à pratica de exercícios físicos apenas um estudo avaliou de forma quantitativa os declínios nas funções fisiológicas no idoso onde a ineficiência ventilatória obteve diminuição nas variáveis de ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) e variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES) relacionando-a baixa aptidão cardiorrespiratória, contudo o mesmo não fez relação com idosos em atividade laboral.

Dentre os artigos não verificou-se estudos que abordassem os quatro temas da pesquisa: idosos, aptidão cardiorrespiratória, qualidade de vida e atividade laboral. Observou-se a qualidade de vida como fator comum em cinco estudos (E1, E2, E4, E6, E8), nos estudos (E3, E5, E7), abordou-se o condicionamento cardiorrespiratório em idosos. O descritor atividade laboral correlacionou-se com idosos, QV mas não apresentou relação com aptidão cardiorrespiratória. Já a aptidão cardiorrespiratória foi avaliada em idosos e comparou-se com o nível de qualidade de vida, mas não encontrou-se estudos associando a atividade laboral.

Purba (2018) avaliou a confiabilidade teste-reteste e normas populacionais do EQ-5D-5L e WHOQOL-BREF apresentou como resultados indivíduos do sexo masculino, mais jovem, entrevistados com educação superior e alta renda tiveram pontuações mais altas na maioria dos domínios, qualidade de vida geral e satisfação com a saúde, relacionado a maior compreensão e auto relato quando as condições de saúde

Segundo Linhares et al. (2019) em seu estudo que avaliou o envelhecimento ativo através do Índice de Capacidade de Trabalho e dados sociodemográficos, concluiu que os fatores da vida social do indivíduo podem influenciar em sua vida laboral. Desta maneira, a investigação de hábitos sociais contribui para avaliar se a capacidade para o trabalho é influenciada ou não por estes hábitos, e, por via de consequência, a existência de um envelhecimento funcional precoce.

Concerne aos estudos com idosos, Zanesco et al. (2020), destaca que as demandas em saúde oriundas da população idosa percorrem um caminho inconstante composto por inúmeras barreiras e dificuldades. No campo da saúde, a carência de acesso e apreensão de informações, a falta de estrutura física, de investimento e de capacitação profissional, entre outros, caracterizam-se como responsáveis pela impossibilidade de planejamento e desenvolvimento de estratégias contínuas e efetivas e, consequentemente, pela ampliação das marcas físicas e psicológicas geradas pelo tempo.

MELHOR QUALIDADE DE VIDA DA PESSOA IDOSA QUANDO ASSOCIADA ATIVIDADE FÍSICA, ALTA ESCOLARIDADE E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS FAVORÁVEIS.

Foram encontrados dois estudos que associaram melhor QV do idoso quando comparado à alta escolaridade e melhores condições socioeconômicas. Segundo Camelo, Giatti e Barreto, (2016, p.286) a qualidade de vida relacionada à saúde avaliada no domínio físico, indivíduos declarados de cor da pele preta, ausência de atividade de trabalho na semana que antecedeu a pes­quisa, não praticar atividade física no lazer, não consumir bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias, diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas, histórico de internação nos últimos 12 meses e de ter estado acamado nos últimos 15 dias apresentaram os piores escores em qualidade vida.

No estudo de Gato, et al., (2018), observou-se através do instrumento de avaliação whoqol-old e whoqol-Bref, que idosos com rendimento de três ou mais salários mínimos apresentaram melhor percepção para QV, ou seja, escores maiores. Quanto ao domínio “físico”, idosos com menos patologias e doenças crônicas associadas apresentaram melhores resultados, demostrando a prática de atividade física relevan­te para a QV.

A QV também foi comparada com a prática de atividade física. Oliveira (2017, p.20) destaca que “[…] indivíduos do sexo feminino, a alta escolaridade, a percepção de boa saúde e o conhecimento da importância do exercício para a saúde estiveram associados ao nível ativo/muito ativo de atividades física”.

Estudos demonstram existir uma associação positiva entre a prática de atividade física e a percepção de saúde somado ao fato de que os idosos que possuem percepção de saúde boa/muito boa e que consideram o exercício como importante para a saúde apresentaram um fator de proteção e possuem 72,4% e 90,3% de chance a mais de serem ativos/muito ativos em comparação aos idosos que possuem percepção regular de saúde e que não consideram o exercício como importante, respectivamente (OLIVEIRA, 2017).

Estudos que utilizaram do questionário Whoqol-bref revelaram satis­fação moderada dos idosos com sua QV, com maior pontuação no domínio ‘relações sociais’ e menor no ‘físico’, onde dor, desconforto, falta de ener­gia e fadiga, falta de sono e repouso prejudicam a mobilidade e o desempenho em atividades cotidia­nas. No Whoqol-old houve escores médios mais elevados nos domínios ‘intimidade’ e ‘participação social’ e menor escore no domínio ‘morte e morrer’(GATO; et al., 2018).

A atividade física está associada à diminuição do risco de acometimentos em saúde, decorrência de doenças crônicas, atraso no aparecimento de comprometimento funcional e à recuperação da funcionalidade em adultos mais velhos. Também está associada com o desempenho em medidas-chave de desempenho físico. Até mesmo em casos de idosos com demência, a atividade física é recomendada. O exercício físico é um tratamento não farmacológico para a demência (FILHO; et al., 2018).

Segundo Almeida et al. (2020) a qualidade de vida dos idosos abrange principalmente a sustentação da capacidade funcional, autonomia e independência. Dentre outros componentes, estão envolvidos também a flexibilidade, força, o equilíbrio no desempenho das atividades cotidianas com segurança.

O mesmo autor destaca ainda que o nível de escolaridade tem relação direta com o nível de atividade física praticado. Idosos com menor escolaridade não conseguem compreender os riscos do sedentarismo, dificultando a motivação para mudanças nos hábitos de vida (ALMEIDA; et al. 2020).

ATIVIDADE LABORAL INFLUÊNCIA POSITIVAMENTE NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

Entre os estudos avaliados, dois deles associaram a atividade laboral com melhor QV. Costa et al. (2018) avaliou a QV em idosos que exercem atividade laboral através do questionário Whoqol-bref apresentando maiores médias para os idosos que trabalham, podendo-se inferir que a atividade laboral influencia positivamente na saúde física do idoso. Demonstrou-se que a permanência dos idosos no trabalho possibilita conservação da saúde física, mental, autonomia, habilidades cognitivas e sensoriais e melhoria da QV, evidenciados, respectivamente, pelos maiores escores nos domínios “Físico” e “Psicológico” e faceta “Habilidades Sensoriais”.

Ribeiro et al. (2016) destaca em seu estudo que a permanência no mercado de trabalho é maior no sexo masculino, para aqueles com 9 anos ou mais de estudos, com alta renda, sem con­dições clínicas crônicas incapacitantes e aqueles com maior satisfação com a vida. Afirma também a associação das atividades de trabalho na velhice com melhores condições sociais e de saúde física. Além disso, observou-se que a manutenção das atividades de trabalho estava associada com a maior satisfação com a vida independente das ca­racterísticas socioeconômicas e clínicas na velhice.

ATIVIDADE FÍSICA EM IDOSOS ASSOCIADO A MELHOR APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA, INDEPÊNDENCIA FUNCIONAL E SOCIALIZAÇÃO.

A avaliação da prática de exercício físico, independência funcional e relações sociais em idosos esteve presente em quatro estudos (50%) da revisão integrativa, autores como Almeida et al. (2020) e Filho et al. (2018) corroboram em seus estudos trazendo a prática da atividade física como fator importante na melhora a vida do idoso, devido ao maior vínculo familiar tanto na amizade, no lazer no social, trazendo mudança no dia a dia, além das condições físicas motoras e saúde geral. A atividade física praticada regularmente aumenta a energia, desejo e disposição em realizar atividades de vida diária e de lazer.

Segundo Oliveira et al. (2016) a prática de atividade física regular favorece a interação social, melhora a auto eficácia, proporciona uma maior sensação de controle sobre os eventos e demandas do meio, tanto pelo engajamento social, quanto pelo estímulo positivo nos aspectos físicos da prática da atividade física, resulta na manutenção da capacidade funcional e melhor qualidade vida dos idosos.

Quanto a aptidão cardiorrespiratória, Frazão et al. (2019) ressaltou que a ineficiência ventilatória está relacionada à baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos, apenas quando medida pelas variáveis ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) e variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES). Essas variáveis mostraram-se mais acuradas para predizer essa baixa aptidão cardiorrespiratória. Por serem medidas submáximas, são excelentes marcadores de aptidão cardiorrespiratória para idosos, um público que, muitas vezes, apresenta limitações para a realização do teste de esforço máximo.

CONCLUSÃO

Nos resultados encontrados houve concordância em quatro estudos sistematizados os quais demonstram que a QV do idoso está diretamente associada à prática de exercícios físicos, alta escolaridade, e melhores condições socioeconômicas.

As análises das pesquisas incluídas neste estudo sobre a permanência do idoso no mercado de trabalho – dois estudos (25%) – enfatizaram melhora nas relações sociais, autonomia e complemento a previdência privada. Também relacionaram à maior independência funcional, prevalência do sexo masculino, de alta escolaridade e melhores condições socioeconômicas.

Quanto à prática de exercícios físicos e qualidade de vida, quatro estudos (50%), corroboram ao associar QV a independência funcional e melhor condicionamento físico. Verificou-se também que durante a prática de atividade física variáveis como socialização, lazer, disposição para realizar as AVD’s, melhora na função motora e melhora na saúde no geral interferem de maneira positiva na QV.

Sugere-se mais pesquisas destacando-se estudo controlado randomizado sobre aptidão cardiorrespiratória em idosos ativos profissionalmente, para ter mais subsídios científicos, bem como dar continuidade a esta revisão abordando também em língua inglesa.

REFERÊNCIAS

1FECHINE, B. R. A.; TROMPIERI, N. O processo de envelhecimento: as principais alterações que acontecem com o idoso com o passar dos anos. Inter Science Place, v. 1, N. 7, p. 107, 2015.

2DE MORAES, E. N.; DE MORAES, F. L.; LIMA, S. D. P. P. Características biológicas e psicológicas do envelhecimento. Revista Medicina Minas Gerais, Minas Gerais, v. 20, n. 1, p. 68, 2010.

3ESQUENAZI, D.; DA SILVA, S. B.; GUIMARÃES, M. A. Aspectos fisiopatológicos do envelhecimento humano e quedas em idosos. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 12, 2014.

4BIANCHI, L. Envelhecimento morfofuncional: diferença entre os gêneros. Arquivos do Museu Dinâmico Interdisciplinar, Maringá, v. 18, n. 2, p. 34, 2015.

5CARDOSO, A. F. Particularidades dos Idosos: uma Revisão sobre fisiologia do envelhecimento. Revista digital, Buenos Aires, Buenos Aires, n. 130, p. 01, 2009.

6 8 DE ARRUDA SILVA, A. L.; ROSA, F. H. M. Os fatores relacionados à permanência do idoso no mercado de trabalho e sua qualidade de vida. Revista Farol, Rondônia, v. 1, n. 1, p. 120, 2016.

7QUEIROZ, V. S.; RAMALHO, H. M. B. A escolha ocupacional dos idosos no mercado de trabalho: evidências para o Brasil. Revista Economia Selecta, Brasília, v. 10, n. 4, p. 818, 2009.

9MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M. A.; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, p. 8, 2000.

10VAZ, R. C. R. Envelhecimento e atividade física: influências na qualidade de vida. 2014. 60 f. Monografia (Bacharel em Educação Física) – Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2014.

11FREITAS, A. L. P.; DE SOUZA, R. G. B. Um modelo para avaliação da qualidade de vida no trabalho em universidades públicas. Sistemas e Gestão, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 136-154, 2009.

12 25RIBEIRO, P. C. C. et al. Permanência no mercado de trabalho e satisfação com a vida na velhice. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, p. 2683-2692, 2016.

13PURBA, F. D.; et al. Qualidade de vida da população geral da Indonésia: Confiabilidade teste-reteste e normas populacionais do EQ-5D-5L e WHOQOL-BREF. PLoS One, Singapura, v. 13, n. 5, p. e0197098, 2018.

14LINHARES, J. E. et al. Capacidade para o trabalho e envelhecimento funcional: análise Sistêmica da Literatura utilizando o PROKNOW-C (Knowledge Development Process-Constructivist). Ciência & Saúde Coletiva, Pato Branco/PR, v. 24, p. 53-66, 2019.

15ZANESCO, C. et al. Dificuldade funcional em idosos brasileiros: um estudo com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-2013). Ciência & Saúde Coletiva, Ponte Grossa/PR, v. 25, p. 1103-1118, 2020.

16CAMELO, L. V.; GIATTI, L.; BARRETO, S. M. Qualidade de vida relacionada à saúde em idosos residentes em região de alta vulnerabilidade para saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais. Revista Brasileira de Epidemiologia, Belo Horizonte (MG), v. 19, p. 280-293, 2016.

17 20GATO, J. M. et al. Saúde mental e qualidade de vida de pessoas idosas. Avances en Enfermería, Chapecó/SC, v. 36, n. 3, p. 302-310, 2018.

18 19 28OLIVEIRA, D. V. et al. Fatores associados ao nível de atividade física de idosos usuários das academias da terceira idade.  Revista Acta Fisiátrica, Campinas, v. 24, n. 1, p. 17-21, 2017.

21 27FILHO, D. A. E. R. et al. Percepção dos idosos quanto aos benefícios da prática da atividade física: um estudo nos Pontos de Encontro Comunitário do Distrito Federal. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Distrito Federal, v. 41, n. 2, p. 142-149, 2019.

22 23 26ALMEIDA, L. B. et al. Qualidade de vida de idosos que praticam atividade física. Revista online de Pesquisa. Rio de Janeiro, p. 432-436, 2020.

24COSTA, I. P. et al. Qualidade de vida de idosos e sua relação com o trabalho. Revista Gaúcha de Enfermagem, Paraíba, v. 39, 2018.

29FRAZÃO, M. et al. Relação da ineficiência ventilatória e a baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos: estudo observacional retrospectivo. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Paraíba, v. 22, n. 4, 2019.