DISFUNÇÕES ORTOPÉDICAS EM PACIENTES PÓS AVC

\"\"

Dr. Thiago Paz

Doutor e Mestre EEFD/UFRJ
Pós graduado em Fisioterapia Neurofuncional – INTERFISIO
Pesquisador GEDOPA/UFRJ
Coordenador Adjunto da Câmara Técnica de Fisioterapia Traumato-ortopédica CREFITO 2
Membro Diretoria nacional ABRAFIN
Membro Diretoria regional RJ ABRAFITO

Contextualização: O acidente vascular cerebral (AVC) consiste em uma das condições neurológicas mais comuns na população adulta/idosa, cursando classicamente com comprometimento motor e declínio funcional em diferentes graus, a depender da severidade do evento. Condições secundárias ao AVC, como diminuição de dorsiflexão de tornozelo, ombro doloroso com ou sem quadro de subluxação glenoumeral, podem estar presentes. Muito se correlaciona tais agravos à fraqueza muscular inerente à condição, mas será que é apenas por isso?

Desenvolvimento: A Fisioterapia Neurofuncional é de extrema importância na reabilitação de pacientes pós AVC. Com objetivos claros de fortalecimento muscular, melhora do equilíbrio estático e dinâmico, melhora da marcha e melhora da funcionalidade global. Diante de um bom prognóstico, considerando a extensão da lesão cerebral, idade do paciente dentre outros fatores, a melhora funcional é significativa. Muitos pacientes obtém a recuperação total de suas capacidades, porém não são todos. Quando o quadro é crônico (mais do que 2 anos de AVC), e parece que a evolução motora estagnou, questiona-se até que ponto o indivíduo ainda continuará melhorando. Surge então a indagação: o que eu posso fazer de diferente?

Exemplificando casos reais e bastante comuns no dia-a-dia. Paciente 1: AVC isquêmico de pequena monta em artéria cerebral média, há 1,5 ano, evolui com melhora funcional importante me dimídio esquerdo, acometido. Nenhuma dificuldade para atividades de vida diárias (AVD´s), mas queixa-se de dor em tornozelo quando caminha por longas distâncias, como ao passear no shopping e dor anterior no joelho quando desce escadas. Desconfia-se de limitação de mobilidade tibiotalar para dorsiflexão e talvez as técnicas e recursos da Fisioterapia Neurofuncional não sejam suficientes para recuperar tal mobilidade. Existe a necessidade de um bom raciocínio dentro de Traumato-ortopedia, e ao identificar essa restrição de mobilidade, abordar com técnicas que visem o aumento da dorsiflexão. Existe literatura que baseia tal conduta, demonstrando melhora da marcha no grupo que foi abordado com um conceito voltado para Ortopedia, pós AVC (Chang-Man; Shin-Ok, 2016; Park et al., 2018). Paciente 2: Mulher, de 66 anos, quadro de disestesia em hemicorpo esquerdo, após acidente vascular com comprometimento talâmico, submetido a tratamento convencional porém sem melhora do quadro, com limitação de mobilidade em ombro esquerdo além de limitação funcional importante, sem relato de dor. Passou então por intervenção pautada em terapia manual com mobilização articular acessória glenoumeral e torácica que revelava hipomobilidade e desencadeava a disestesia. A intervenção incluiu mobilização oscilatória da articulação glenoumeral, coluna torácica. Após seis atendimentos, a função de ombro, mobilidade ativa, e a força muscular melhoraram, além da resposta na diminuição da disestesia (Griffin et al., 2018).

Considerações finais: Pacientes que sofrem AVC podem cursar com disfunções ortopédicas, como hipomobilidade articular e essas chamadas disfunções mecânicas influenciarem em atividades de vida diária. O fisioterapeuta que atende pessoas com doenças neurológicas, deve considerar ampliar o seu olhar fisioterapêutico para a área Traumato-ortopédica e se valer de conceitos e técnicas que venham a agregar no tratamento global do paciente.

Referências para leitura complementar:
Chang-Man, An; Shin-Ok, Jo. Effects of Talocrural Mobilization with Movement on Ankle Strength, Mobility, and Weight-Bearing Ability in Hemiplegic Patients with Chronic Stroke: A Randomized Controlled Trial. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, 2016.
Donghwan Park, Ji-Hyun Lee, Tae-Woo Kang, Heon-seock Cynn. Effects of a 4-Week Self-Ankle Mobilization with Movement Intervention on Ankle Passive Range of Motion, Balance, Gait, and Activities of Daily Living in Patients with Chronic Stroke: A Randomized Controlled Study. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, 2018.
Kristina Griffin, Michael O’Hearn, Carla C. Franck & Carol A. Courtney. Passive accessory joint mobilization in the multimodal management of chronic dysesthesia following thalamic stroke. DISABILITY AND REHABILITATION, 2018.
.