A EFICÁCIA DA EQUOTERAPIA NA FUNÇÃO MOTORA DE PACIENTES COM ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA DA INFÂNCIA

THE EFFECTIVENESS OF EQUOTHERAPY ON THE MOTOR FUNCTION OF PATIENTS WITH CHRONIC NON-PROGRESSIVE CHILDHOOD ENCEPHALOPATHY

Ana Cláudia Alves Marinho1; Patrícia Paula Ayres Vieira da Silva1
Ejandre Garcia Negreiros da Silva2
Klenda Pereira de Oliveira3

Resumo

A Encefalopatia Crônica Não Progressiva (ECNP), mais comumente chamada de paralisia cerebral, é consequência de uma lesão cerebral estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal, que afeta o sistema nervoso central (SNC) em fase de maturação estrutural e funcional. Ela caracteriza-se primordialmente por um grupo de distúrbios persistentes, mas não invariáveis, do tônus muscular, da postura e da movimentação voluntária Este trabalho objetiva mostrar a utilização da Equoterapia em pacientes com Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância, dando ênfase a reabilitação da função motora grossa. Trata-se de uma revisão de literatura de artigos científicos indexados nas bases de dados MEDLINE (literatura internacional em ciências da saúde), LILACS (literatura latino-americana e do Caribe em ciências da saúde), PUBMED (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura ) e PEDro (base de dados em evidências em fisioterapia) publicados entre os anos de 2001 a 2018. Considera-se que a equoterapia promove uma série de mecanismos neurais no organismo destes indivíduos, possibilitando a partir disso a aquisição e o aprimoramento das habilidades funcionais primordiais para execução de tarefas motoras como deitar, rolar e sentar. Demonstrou que a maioria dos pacientes responde satisfatoriamente, e níveis de resistência podem ser notados em poucos casos.

Palavras-chave: Encefalopatia Não Progressiva da Infância, Equoterapia, Função Motora Grossa

Abstract

Chronic Non-Progressive Encephalopathy (PNEC), more commonly called cerebral palsy, is a consequence of a static brain injury, occurring in the pre, peri or postnatal period, which affects the central nervous system (CNS) in the phase of structural maturation and functional. It is characterized primarily by a group of persistent, but not invariable, disorders of muscle tone, posture and voluntary movement. This work aims to show the use of hippotherapy in patients with chronic non-progressive childhood encephalopathy, emphasizing rehabilitation of gross motor function. This is a literature review of scientific articles indexed in the databases MEDLINE (international literature on health sciences), LILACS (Latin American and Caribbean literature on health sciences), PUBMED (Online System for Search and Analysis of Literature) and PEDro (evidence base in physiotherapy) published between 2001 and 2018. It is considered that hippotherapy promotes a series of neural mechanisms in the body of these individuals, making it possible to acquire and improve skills essential functional tasks for performing motor tasks such as lying, rolling and sitting. It demonstrated that most patients respond satisfactorily, and resistance levels can be noticed in a few cases.

Keyword: Childhood Non-Progressive Encephalopathy. Hippotherapy. Gross Motor Function.

1‌‌ ‌Discentes‌ ‌do‌ ‌Curso‌ ‌de‌ ‌Fisioterapia‌ ‌do‌ ‌Centro‌ ‌Universitário‌ ‌do‌ ‌Norte‌ ‌–‌ ‌UNINORTE.‌ ‌
2‌‌ ‌Pós-graduando,‌ ‌Instituto‌ ‌Israelita‌ ‌de‌ ‌Ensino‌ ‌e‌ ‌Pesquisa‌ ‌Albert‌ ‌Einstein‌ ‌-‌ ‌IIEPAE‌ ‌
3‌ ‌‌Especialista,‌ ‌Docente‌ ‌do‌ ‌Curso‌ ‌Superior‌ ‌de‌ ‌Fisioterapia‌ ‌–‌ ‌UNINORTE.‌ 

INTRODUÇÃO
A Paralisia Cerebral (PC) é uma desordem permanente do desenvolvimento do movimento e da postura que causa limitações nas atividades de vida diária (GIANNI1, 2010). A nova terminologia para PC como Encefalopatia Crônica não Progressiva da Infância (ECNP) que, na maioria das vezes, é acompanhada por distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, comunicativos, comportamentais, epilepsias e déficits musculoesqueléticos (OLIVEIRA, 2012).

A criança com ECNP comumente evolui com alterações musculoesqueléticas secundárias à alteração do tônus muscular e conseqüentemente dificuldade para o movimento voluntário. O tratamento fisioterapêutico é bastante abrangente, devendo sempre considerar as alterações funcionais secundárias ao comprometimento neurológico e as biomecânicas.

Estudos têm mostrado que essa terapia pode ser capaz de aprimorar o controle postural e o equilíbrio baseado no movimento do passo do cavalo, que ao se movimentar desloca o seu centro de gravidade do praticante em três planos: transverso, sagital e frontal, similares ao movimento pélvico do ser humano durante a marcha (ARAÚJO et al, 2010). 

Na marcha humana ocorre dissociação entre as cinturas escapular e pélvica, sendo pelo giro de tronco em torno do eixo vertical, contraposição de cintura escapular e da pelve. O praticante de equoterapia, pelos movimentos desempenhados, é levado a acompanhar os movimentos do cavalo, sustentando o equilíbrio e a coordenação de movimentação de tronco, braço, cabeça e todo o corpo, respeitando suas limitações, tendo em vista que esses movimentos respectivamente estimulam o sistema vestibular, somatossensorial e visual, provocando ajustes posturais, orientação e aquisição de equilíbrio (MARCONSONI et al., 2012).

A Equoterapia não busca somente ganhos motores para seus praticantes, mas também o desenvolvimento biopsicossocial, permitindo que o paciente experimente uma evolução das capacidades relacionais junto com uma comunicação afetiva e maior interação dos praticantes com a sociedade em que vivem (SOUZA et al, 2016).

Este artigo de revisão de literatura, justifica-se pela importância da Equoterapia e visando que os dados levantados poderão beneficiar os fisioterapeutas com a utilização de mais uma técnica, contribuindo para seus atendimentos, e tem como objetivos: identificar os benefícios da Equoterapia, descrever a utilização de Equoterapia no tratamento de pacientes diagnosticados com Encefalopatia Crônica Não Progressiva (ECNP) e analisar Equoterapia no ganho de função motora grossa.

REFERENCIAL TEÓRICO
Função motora
A função motora na criança com ECNP é fundamental para sua independência, capacidade laboral e qualidade de vida, sendo essencial para a realização de diversas tarefas do cotidiano. Vários déficits sensoriais associados, incluindo problemas com a visão, propriocepção e percepção cutânea, podem contribuir para uma função motora aquém do esperado (ARAÚJO et al, 2010).

A avaliação das funções motora grossa que as crianças com ECNP realizam podem ser estimadas pelo sistema de Mensuração da Função Motora Grossa (GMFM), este sistema avalia quantitativamente e retrata o nível de função motora que a criança executa, não estimando a qualidade do desempenho dessas funções. A primeira versão do GMFM é formada por 88 itens que se dividem em cinco dimensões: Dimensão A – deitado e rolar (17 itens); Dimensão B – sentado (20 itens); Dimensão C – rastejar e ajoelhar (14 itens); Dimensão D – em pé (13 itens); Dimensão E – andando, correndo e saltando (24 itens) (ALMEIDA et al, 2016).

Para Almeida et al (2016), o GMFM-66 é uma versão reduzida do GMFM-88, possui 66 itens e é a versão recomendada para pesquisas, com um tempo de aplicação em torno de 45 minutos. Essa versão deve ser usada em crianças com níveis I a IV (sendo o nível I anda sem limitações, nível II anda com limitações, nível III anda com auxílio, nível IV anda em cadeira de rodas, e nível V necessita de adaptações para sentar-se em cadeira de rodas) do sistema de classificação da função motora grossa (GMFCS).

Encefalopatia crônica não progressiva
A Encefalopatia Crônica Não Progressiva (ECNP), mais comumente chamada de paralisia cerebral, é consequência de uma lesão cerebral estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal, que afeta o sistema nervoso central (SNC) em fase de maturação estrutural e funcional. Ela caracteriza-se primordialmente por um grupo de distúrbios persistentes, mas não invariáveis, do tônus muscular, da postura e da movimentação voluntária (OLIVEIRA et al, 2013). 

De acordo com Nitrini e Bacheschi (2003), a Encefalopatia Não Progressiva Crônica (ENPC) se caracteriza por alteração persistente do tônus muscular ou da postura, causada por má formação ou lesão cerebral de caráter não evolutivo que se manifesta nos primeiros anos de vida. Pode ser decorrente de fatores prejudicados ao cérebro podendo atuar durante a gestação, no período perinatal ou na fase pós-natal.

Podem existir diversas condições secundárias como alterações sensitivas, perceptuais e cognitivas, além de transtornos musculoesqueléticos os quais podem influenciar nas habilidades motoras (ESPÍNDULA et al, 2012).

Os fatores de riscos da ECNP estão ligados a causas de etiologia multifatorial. Os fatores determinantes podem ser pré-natais: má formações genéticas, infecções maternas (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus), hemorragias e desprendimento precoce da placenta. Perinatais: anóxia perinatal, hiperbilirrubinemia, prematuridade e baixo peso ao nascer. Dentre as pós-natais estão: meningites, encefalites, traumas e alterações vasculares. Sendo que 75% das crianças com ECNP nascidas a termo apresentaram intercorrências no período pré-natal (ROTHSTEIN, 2013).

Para Hebert (2003), a causa mais comum em nosso meio e a anoxia perinatal por trabalho de parto anormal ou prolongado. A prematuridade entra como a segunda maior causa, e com menor frequência, estão as infecções pré-natais (Rubéola, Toxoplasmose e Citomegalovírus) e as infecções pós-natais (Meningites). 

Nos Estados Unidos, a incidência da ECNP tem variedade 1,5 a 5,9/1.000 nascidos vivos. No Brasil, estima-se que a cada 1.000 crianças que nascem, sete são portadoras de ECNP. Nos países em desenvolvimento como o Brasil, essa condição pode estar relacionada a problemas gestacionais, más condições de nutrição materna e infantil e atendimento médico e hospitalar muitas vezes inadequado, dada a demanda das condições clínicas apresentadas principalmente por crianças nascidas antes da correta maturação neurológica (CARNEIRO e ESPÍNDOLA, 2013).

A ECNP pode ser classificada a partir dos seguintes critérios: anatômico, baseado na localização das regiões do SNC que foram acometidas (piramidal, extrapiramidal, cerebelar ou mista); topográfico, evidenciando a região do corpo afetada (hemiplegia/paresia, diplegia/ paresia e quadriplegia/paresia); de acordo com o tipo de distúrbio motor, sendo classificado como espástico ou rígido, atetóide, atáxico e as formas mistas; e, por último, observa-se a gravidade da deficiência, sob ponto de vista funcional, que pode ser classificada em leve, moderada ou grave. A forma mais comumente encontrada é a do tipo quadriparesia espástica (FERREIRA e FERNANDES, 2012). 

Hebert (2003), afirma que a classificação por tipo clinico especifica o déficit de movimento que a criança pode apresentar. Dentre os diferentes tipos de ENPC, o estático e o mais frequente, com incidência em torno de 75% dos casos. Essas crianças apresentam uma hipertonia espástica (Sinal do Canivete), no qual, irá predominar em alguns grupos musculares, ocasionando uma diminuição da destreza e padrões anormais de postura.

Alterações dos mecanismos antecipatórios (feedforward), de retroalimentação (feedback) e, algumas disfunções musculoesqueléticas levam a adoção de posturas e padrões que afetam o controle motor e as reações de equilíbrio (ALLEGRETTI et al, 2007). 

Assim, ressalta-se a importância de um tratamento precoce, na qual dentre estas modalidades terapêuticas está a Equoterapia,  com a finalidade de contar com as vantagens da plasticidade e adaptações neuronais, possibilitando aos pacientes a experimentação de movimentos e posturas aos quais ele não teria acesso devido ao seu quadro neurológico (LEITE et al, 2011). 

Galvão et al (2012) afirmam que, dentre os tratamentos existentes, a Equoterapia e um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar e global, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de necessidades especiais. Essa atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo assim, para o desenvolvimento do tônus e forca muscular, relaxamento, conscientização corporal, equilíbrio, aperfeiçoamento da coordenação motora, autoconfiança e autoestima.

Equoterapia
A Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) define esta prática como um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de necessidades especiais. O cavalo é utilizado como um instrumento cinesioterapêutico para a melhora do alinhamento corporal, controle das sinergias globais e aumento do equilíbrio estático e dinâmico (GALVÃO et al, 2012). 

Os movimentos realizados durante a Equoterapia estimulam o sistema vestibular, proprioceptivo, tátil e motor, uma vez que o movimento tridimensional produzido pelo passo do cavalo solicita constantes ajustes posturais; combinados à dissociação das cinturas pélvica e escapular, provocam reações de retificação do tronco e ajustes tônicos que atuam dinamicamente na busca pela estabilidade e controle postural, proporcionando, dessa forma, inúmeros inputs sensório-motores que, após mecanismos neurofisiológicos, promovem reações de equilíbrio, alongamento de músculos e tendões, melhora da coordenação motora, aumento da força muscular e aquisição de habilidades motoras, interferindo positivamente na qualidade de vida desses indivíduos (MENEZES et al, 2013).

Conforme Sterba (2002), a Equoterapia influencia as habilidades motoras da criança com ENPC, sendo uma possibilidade terapêutica com benefícios em curto prazo. Ela promove a melhora no equilíbrio, mobilidade pélvica, “adequação de tônus” e controle postural aprimorando, assim, as atividades funcionais do paciente e minimizando a sua dependência.

Ao se movimentar, o cavalo desloca o seu centro de gravidade em três dimensões similares ao movimento pélvico do ser humano, e através desses deslocamentos no lombo do cavalo, o praticante com dificuldades motoras, pode vivenciar a mesma sequência de movimentos, que ocorrem quando uma pessoa anda normalmente, oferecendo a possibilidade de experimentar modelos normais de deambulação (ROTHSTEIN et al, 2013)

Quando se locomove a passo, deslocando o centro de massa do praticante, o cavalo realiza movimentos que favorecem a cinética, propriocepção, estimulação sensorial e vestibular facilitando, dessa forma, o equilíbrio e a coordenação, promovendo resultados logo nas primeiras sessões de terapia (NASCIMENTO et al, 2010)

O praticante a cavalo, em um movimento ondulatório e rítmico (cerca de 90 a 120 ciclos/minuto), promove diminuição do tônus muscular através da inibição não reciproca. As reações de equilíbrio são estimuladas pelos inputs vestibulares e proprioceptivos, através das variações de velocidades, do comprimento e cadencia do passo, como também das trocas de direções durante a sessão. Com os estímulos repetidos ocorre o efeito da habituação, onde o praticante ganha conhecimento do movimento do animal e das reações que o seu próprio corpo impõe, mantendo o controle postural adequado (ROTHSTEIN et al, 2013). 

Uma das propostas terapêuticas de atendimento à ECNP é a terapia assistida com cavalo, que no Brasil recebe o nome de Equoterapia. A Equoterapia se utiliza do movimento tridimensional do cavalo (similar ao da marcha humana) e oferece ao cavaleiro múltiplas oportunidades de ajustes posturais a fim de reduzir o deslocamento do seu centro de gravidade. Neste sentido, a Equoterapia é indicada para reabilitação da função motora pois pode contribuir na melhoria da postura e do equilíbrio, promovendo a funcionalidade em atividades de vida diária e favorecendo a qualidade de vida de crianças com paralisia cerebral (GIANNI, 2010).

Sendo assim, em média, uma sessão de 30 minutos de montaria, com o animal a passo interfere de forma positiva na performance funcional da criança (GALVÃO et al, 2012).

Os ganhos obtidos na função motora grossa se devem ao aprendizado motor facilitado pela Equoterapia que promove a estimulação dos três sistemas sensoriais: sistema vestibular, sistema visual e proprioceptivo, levando a mudanças na organização e na plasticidade neuronal, possibilitando a formação de novas redes de trabalho, traduzindo-as em modulação das sinapses corticais para o sistema nervoso central. O movimento tridimensional da andadura do cavalo gera ajuste constante de equilíbrio, reações de endireitamento e retificação do tronco e ajustes tônicos devido à constante aceleração e desaceleração (SANCHES e VASCONCELOS, 2010).

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura de artigos científicos indexados nas bases de dados online MEDLINE, LILACS, PUBMED e PEDro. Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: Encefalopatia Não Progressiva da Infância, Equoterapia, Função Motora Grossa e seus correspondentes em inglês. Estes descritores poderiam estar no título ou no resumo.

Os títulos e resumos dos artigos foram avaliados seguindo os critérios de inclusão: estudos que abordassem sobre a utilização da Equoterapia em pacientes com Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância, dando ênfase a reabilitação da função motora grossa, publicados entre os anos de 2001 a 2018, e exclusão artigos indisponíveis na íntegra e publicados antes de 2001, de acordo com a figura 1.

A busca foi conduzida entre os meses de novembro de 2019 a abril de 2020 por duas (02) pesquisadoras de forma independente, seguindo os critérios de inclusão e exclusão da pesquisa. Dos 22 artigos selecionados, 16 não seguiam os critérios de inclusão.

Figura 1. Fluxograma do esquema de busca.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram inclusos nesta revisão de literatura 6 dos 16 estudos selecionados para avaliação de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Na qual, foram detalhados de acordo com a tabela 1, o autor, ano de publicação, duração do tratamento e sessões e a conclusão que cada um dos estudos selecionados teve a respeito da Equoterapia como forma de tratamento.

Tabela 1. Detalhamento dos estudos incluídos para avaliação.

Autor/AnoTratamento/SessõesConclusão
Frank (2011)08 semanasMelhora Funcional
Nascimento et al. (2010)30 sessõesMelhora na posição sentada
Gregório e Krueger (2013)14 sessõesMelhora no deitar, rolar e sentar
Borges et al. (2011)12 sessõesMelhora no controle postural e no controle de tronco
Herrero et al, 201210 semanasMelhora função motora grossa
Zadnikar e kastrin (2011)10 semanasMudanças positivas e significativas após a intervenção
Fonte: MARINHO et al, 2020.

De acordo com Medeiros e Dias (2002), o aumento na função motora pode ser atribuído aos estímulos propiciados pelo cavalo que contribuem para o ajuste postural adequado, estabilizando os membros superiores e cintura escapular, e, assim, promovendo alinhamento, estabilidade e movimentos harmônicos, facilitando a execução da função.

Embora a ECNP tenha caráter não progressivo, os sinais clínicos se modificam à medida que o sistema nervoso central amadurece e a criança cresce. O repertório motor sofre alterações devido ao processo de maturação em relação ao aprendizado e à influência do meio. Assim, reafirma-se a importância da plasticidade cerebral, que pode ser definida como uma mudança adaptativa na estrutura e função do sistema nervoso, que ocorre em qualquer fase da ontogenia, como função de interações com o meio ambiente interno e externo, ou ainda como resultante de lesões que afetam o ambiente neural (MASCARENHAS, 2011).

Os resultados estão de acordo com aqueles encontrados por Frank (2011), no qual seu estudo mostrou que, após a realização de Equoterapia durante oito semanas, houve uma melhora significativa no desempenho funcional de uma criança com ECNP.

Nascimento (2010) enfatiza que os estímulos empíricos provocados pela Equoterapia que são captados pelos órgãos sensoriais das crianças de maneira gradativa, após um tempo, são decodificados pelo cérebro como se fosse um sinal rítmico, promovendo a partir da neuroplasticidade cerebral, uma associação e dissociação das áreas cerebrais responsáveis pelas vias neurogênicas do controle motor, o que leva a um aumento das capacidades motoras das crianças.

A revisão de literatura de Pina (2017), observou o aumento da pontuação dessa dimensão obteve maior significância entre as outras e permaneceu elevado nas seis semanas seguintes.

Os ganhos obtidos na função motora grossa se devem ao aprendizado motor facilitado pela Equoterapia que promove a estimulação dos três sistemas sensoriais: sistema vestibular, sistema visual e proprioceptivo, levando a mudanças na organização e na plasticidade neuro-nal, possibilitando a formação de novas redes de trabalho, traduzindo-as em modulação das sinapses corticais para o sistema nervoso central.

Uma pesquisa realizada na Eslovênia – a primeira metanálise descrita em Equoterapia – utilizou 8 artigos e também incluiu estudos pré-experimentais sem grupo controle. Os autores, que finalizaram a pesquisa em 2011, observaram mudanças positivas e significativas após a intervenção com Equoterapia, relatando que 76 de 84 crianças foram beneficiadas com a prática. Nesse estudo 54 também foram selecionados artigos que utilizaram o simulador do movimento do cavalo, ou cavalo mecânico durante 10 semanas (ZADNIKAR e KASTRIN, 2011).

Nascimento et al. (2010) desenvolveram uma pesquisa composta por 12 crianças entre 3 e 5 anos diagnosticadas com paralisia cerebral. Foram realizadas 30 sessões de Equoterapia por meia hora, inicialmente com montaria dupla, e assim que a criança adquirisse o mínimo de controle de cabeça, a montaria passaria a ser individual. Houve melhora após o programa de intervenção na posição sentada.

Gregório e Krueger (2013) realizaram um estudo, utilizando a escala GMFM, com uma criança do sexo feminino, com idade de 2 anos e 5 meses, com tetraparesia espástica. Foram realizadas duas avaliações, sendo uma inicial e outra ao final do tratamento, em que se observaram ganhos de controle cervical e tronco após as sessões, com aumento da motricidade dos MMII e MMSS, notando-se uma melhora significativa para o controle de deitar e rolar, com um aumento de 19,5% e de 7,7% de ganho para sentar. Sendo significativos os ganhos para a criança em relação ao desenvolvimento global, o estudo mostra que, independentemente do meio de avaliação, a Equoterapia traz notável benefício motor.

Borges et al. (2011) desenvolveram um estudo a partir de um ensaio clínico randomizado, de fevereiro a dezembro de 2008, com 40 crianças com PC do tipo diplégico espástico com idade entre 3 e 12 anos, divididas em dois grupos: o primeiro grupo, composto por 20 crianças, fez uso de simulador de equitação; o segundo, com o mesmo número de crianças, foi submetido à fisioterapia convencional. Totalizando 12 sessões, duas vezes na semana, por 40 minutos, nos dois grupos os resultados obtidos confirmaram a melhora no controle postural e no controle de tronco em ambas as técnicas utilizadas.

Um ensaio clínico controlado randomizado simples-cego com trinta e oito crianças com ECNP, evidenciou que as crianças que realizavam Equoterapia (grupo experimental) e que apresentavam maiores níveis de deficiência (grau V na classificação GMFCS) evoluíam na dimensão B da escala de classificação da função motora grossa (GMFM), em comparação ao grupo controle (placebo) (HERRERO et al, 2012).

Assim acredita-se que ao estar sobre o cavalo ao longo de um tempo é promovido um crescimento na capacidade dos neurônios motores em se proliferar, e também da proliferação dos axônios e dendritos e da sedimentação de mielina ao longo das fibras nervosas, o que permite que as áreas corticais 4 e 6 que são responsáveis pelo controle motor voluntário, comecem a adentrar a um processo de maturação de forma sólida. Com isso as crianças apresentam ao nível da coluna vertebral, fibras da região aferente da medula num avançado estado de mielinização (FRANK, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática da técnica apresentada no estudo mostra atuação relevante no estado de equilíbrio, relaxamento, desenvolvimento e na manutenção do tônus muscular, promovendo melhora da conscientização corporal, da coordenação motora, do auxílio na melhora da atenção, da autoconfiança e da autoestima.

Considera-se que a Equoterapia promove uma série de mecanismos neurais no organismo destes indivíduos, possibilitando a partir disso a aquisição e o aprimoramento das habilidades funcionais primordiais para execução de tarefas motoras como deitar, rolar e sentar. 

Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas, com amostras maiores e incluindo um grupo controle, para melhor verificação do impacto da Equoterapia na função motora grossa de pacientes com ECNP.

REFERÊNCIAS 

  1. ALMEIDA, KM; ALBUQUERQUE, KA; FERREIRA, ML; AGUIAR, SKB; MANCINI, MC. Reliability of the Brazilian Portuguese version of the Gross Motor Function Measure in children with cerebral palsy. Braz J Phys Ther. 2016;20(1):73- 80.
  2. ALLEGRETTI, KMG; KANASHIRO, MS; MONTEIRO, VC; BORGES, HC; FONTES SV. Os efeitos do treino de equilíbrio em crianças com paralisia cerebral diparética espástica. Revista Neurociência 2007. 
  3. ARAUJO A.E, RIBEIRO V.S, SILVA B.T. A Equoterapia no Tratamento de Crianças com Paralisia Cerebral no Nordeste do Brasil. Fisioterapia Brasil, 2010;11:4-8.
  4. BORGES, M. B. S. et al. Therapeutic effects of a horse riding simulator in children with cerebral palsy. Arq. Neuro-psiquiatr., São Paulo, v. 69, n. 5, p. 799-804, Oct. 2011.
  5. CARNEIRO, ADM; ESPÍNDOLA, CB. Abordagem neuropsicológica na paralisia cerebral- aspectos da avaliação e reabilitação. Revista Científica CENSUPEG 2013. 
  6. ESPINDULA AP, SIMÕES M, ASSIS ISA, FERNANDES M, FERREIRA AA, FERRAZ PF, ET AL. Análise eletromiográfica durante sessões de equoterapia em praticantes com paralisia cerebral. ConScientiae Saúde 2012. 
  7. FERREIRA, AS; FERNANDES, DSSL. Influência da Crioterapia e do Calor Ultras-sônico na Paralisia Cerebral- Relato de Caso. Revista Neurociência 2012.
  8. FRANK A; MCCLOSKEY S, DOLE R. Effect of Hippotherapy on Perceived Self-competence and Participation in a Child With Cerebral Palsy. Pediatric Physical Therapy 2011;23:301-8.
  9. GALVÃO, A; SUTANI, J; PIRES, MA; PRADA, SHF; CORDEIRO, TL. Estudo de Caso A Equoterapia no Tratamento de um Paciente Adulto Portador de Ataxia Cerebelar. Revista Neurociência 2012.
  10. GIANNI, M. Â. C. Paralisia Cerebral e Fisioterapia: Aspectos Clínicos e Práticos da Reabilitação. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2010.
  11. GREGÓRIO, A.; KRUEGER. E. Influência da equoterapia no controle cervical e de tronco em uma criança com paralisia cerebral. Revista Uniandrade, v. 14, n. 1, p. 65-75, 2013.
  12. HEBERT S, XAVIER R. Ortopedia e traumatologia princípios e pratica. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.
  13. HERRERO P, TRULLÉN EMG, ASENSIO A, GARCÍA E, CASAS R, MONSERRAT E, et al. Study of the therapeutic effects of a hippotherapy simulator in children with cerebral palsy: a stratified single-blind randomized controlled Trial. Clin Rehabil 2012; 26:1105-13. http://dx.doi.org/10.1177/0269215512444633.
  14. LEITE, DF; LEMOS, MTM; GERMANO, CFM; CARVALHO, SMCR. A função motora grosseira de crianças e adolescentes com paralisia cerebral e a qualidade de vida de seus cuidadores. Revista Brasileira Ciência e Saúde 2011. 
  15. MARCONSONI, E. et al. Equoterapia: seus benefícios terapêuticos motores na paralisia cerebral. Ries, Caçador, v. 1, n. 2, p. 78-90, 2012.
  16. MASCARENHAS, T. Análise das escalas desenvolvidas para avaliar a função motora de pacientes com paralisia cerebral (Tese). São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, 2011, 65p.
  17. MEDEIROS M; DIAS E. Equoterapia: bases e fundamentos. Rio de Janeiro: Revinter; 2002.
  18. MENEZES, KM; COPETTI, F; WIEST, MJ; TREVISAN, CM; SILVEIRA, AF. Efeito da equoterapia na estabilidade postural de portadores de esclerose múltipla estudo preliminar. 2013.
  19. MORAES, A. G. et al. The effects of hippotherapy on postural balance and functional ability in children with cerebral palsy. J. Phys. Ther. Sci., v. 28, n. 8, p. 2220-2226, Aug. 2016.
  20. NASCIMENTO MVM, CARVALHO IS, ARAUJO RCS, SILVA IL, CARDOSO F, BERESFORD H. O valor da equoterapia voltada para o tratamento de crianças com paralisia Cerebral quadriplégica. Braz J Biomotricity 2010.
  21. NITRINI R, BACHESCHI LA. A neurologia que todo medico deve saber. 2a ed. Sao Paulo: Atheneu; 2003.
  22. OLIVEIRA LB, DANTAS ACLM, PAIVA JC, LEITE LP, FERREIRA PHL, ABREU TMA. Recursos fisioterapêuticos na paralisia cerebral pediátrica. Rev Cient Esc Saúde 2013.
  23. OLIVEIRA, L. T. B. Paralisia Cerebral. Manuais de especialização: Fisioterapia em Neurologia. São Paulo: Manole, 2012.
  24. PAVEI, AZ. A equoterapia como recurso fisioterapêutico na doença de Parkinson (Dissertação). Criciúma: Universidade Do Extremo Sul Catarinense – UNESC, 2011, 82p.
  25. PINA, L. V.; LOUREIRO, A P C. O GMFM e sua aplicação na avaliação motora de crianças com paralisia cerebral. Fisioterapia em Movimento, [S.l.], v. 19, n. 2, ago. 2017.
  26. PRADA S.H.F. Estudo da Eficácia da Equoterapia em Crianças Portadoras de Paralisia Cerebral [Monografia]. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos; 2003.
  27. ROTHSTEIN, JR; BELTRAME TS. Características motoras e biopsicossociais de crianças com paralisia cerebral. Revista Brasileira Ciência e Movimento 2013. 
  28. SANCHES, SMN; VASCONCELOS LAP. Equoterapia na reabilitação da meningoencefalocele: estudo de caso. Fisioter Pesq 2010;17:358-61. http://dx.doi. org/10.1590/S1809-29502010000400014.
  29. SHEPERD, RB. Fisioterapia em pediatria. 3a ed. São Paulo: Santos; 1995
  30. STERBA, JA. Horseback riding in children with cerebral palsy: eff ect on gross motor function. Developmental Medicine & Children Neurology 2002.
  31. ZADNIKAR, M; KASTRIN, A. Effects of hippotherapy and therapeutic horseback riding on postural control or balance in children with cerebral palsy: A metaanalysis. Dev Med Child Neurol. 2011;53:684–691.