ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO CUIDADO À CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202511301412


Thynara de Nazzaré Oliveira Nunes1
Orientadora: Naianne Georgia Sousa de Oliveira2


Resumo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta crianças em diferentes fases da infância, comprometendo aspectos como a comunicação, a socialização e o comportamento. O enfermeiro exerce papel fundamental no cuidado à criança com TEA, especialmente por meio da promoção da saúde e do suporte às famílias. É essencial que esse profissional adapte suas práticas de cuidado às necessidades específicas de cada criança, utilizando estratégias de comunicação adequadas e contribuindo para a inclusão e o bem-estar no ambiente de cuidado. Este trabalho, de metodologia bibliográfica e qualitativa, tem como objetivo geral destacar a importância da atuação do enfermeiro no enfrentamento do Transtorno do Espectro Autista. Os resultados encontrados mostram que o cuidado a crianças com TEA requer uma abordagem interdisciplinar e humanizada, centrada na criança e em sua família. O enfermeiro tem papel central na observação do desenvolvimento, no manejo de comportamentos desafiadores e na educação em saúde, promovendo acolhimento, adaptação e qualidade de vida. Dessa forma, reforça-se a valorização do enfermeiro como agente essencial na assistência integral e humanizada às crianças com TEA e suas famílias.

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista (TEA); Enfermeiro; Cuidados; Prevenção.

Abstract

Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental condition that affects children at different stages of childhood, compromising aspects such as communication, socialization, and behavior. Nurses play a fundamental role in the care of children with ASD, especially through health promotion and family support. It is essential that these professionals adapt their care practices to the specific needs of each child, using appropriate communication strategies and contributing to inclusion and well-being in the care environment. This study, using bibliographic and qualitative methodology, aims to highlight the importance of nurses in addressing Autism Spectrum Disorder. The results show that care for children with ASD requires an interdisciplinary and humanized approach, centered on the child and their family. Nurses play a central role in observing development, managing challenging behaviors, and providing health education, promoting acceptance, adaptation, and quality of life. Thus, the value of nurses as essential agents in comprehensive and humanized care for children with ASD and their families is reinforced.

Keywords: Autism Spectrum Disorder (ASD); Nurse; Care; Prevention.

1. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neuropsiquiátrica que afeta crianças em diversas fases do desenvolvimento, comprometendo aspectos como a socialização, a comunicação e o comportamento. Dado o caráter complexo e multifacetado do TEA, o cuidado das crianças diagnosticadas com essa condição exige uma abordagem cuidadosa e individualizada, que envolva não apenas a criança, mas também sua família e a equipe de saúde.

Dentro desse contexto, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e na assistência, sendo responsável por acompanhar o progresso do tratamento, educar as famílias e adaptar as práticas de cuidado às necessidades específicas de cada criança. O enfermeiro é um dos profissionais de saúde que mais interage com as crianças, podendo influenciar diretamente no processo de adaptação e na qualidade de vida das crianças com TEA.

A atuação do enfermeiro no cuidado à criança com TEA envolve diversas frentes, desde o manejo de sintomas comportamentais até a educação e apoio emocional das famílias. Além disso, o profissional deve ser capaz de identificar sinais precoces do transtorno, proporcionando um diagnóstico mais rápido e, consequentemente, um início mais cedo das intervenções terapêuticas.

O cuidado com crianças com TEA demanda também uma constante atualização dos enfermeiros, já que novas abordagens terapêuticas e estratégias de cuidado são constantemente desenvolvidas. Assim, o enfermeiro deve não apenas aplicar os conhecimentos adquiridos na formação, mas também buscar aprimoramento contínuo para lidar com as especificidades de cada caso, o que pode incluir o uso de técnicas de comunicação adaptadas, como métodos não verbais e recursos tecnológicos.

Apesar da crescente conscientização sobre a importância da atuação dos enfermeiros nesse contexto, ainda há muitos desafios a serem superados. O cuidado de crianças com TEA envolve a gestão de comportamentos desafiadores, a comunicação com crianças que apresentam limitações na expressão verbal e o suporte emocional para as famílias.

Essas barreiras podem impactar a qualidade do atendimento, comprometendo a eficácia das intervenções e, consequentemente, o desenvolvimento da criança com TEA. Portanto, é necessário investigar como os enfermeiros lidam com esses obstáculos no cotidiano das unidades de saúde e como suas práticas influenciam a qualidade do cuidado oferecido. De acordo com Amaral (2018, p. 120), “o TEA engloba uma série de distúrbios no desenvolvimento, com variações significativas nos sintomas e nos graus de comprometimento funcional, o que exige abordagens individualizadas para cada paciente”.

Outro aspecto importante a ser considerado é a percepção dos pais e responsáveis sobre o cuidado prestado aos seus filhos com TEA. Muitas vezes, a experiência de cuidado vai além do que é observado no atendimento direto ao paciente, envolvendo também o suporte emocional, a comunicação clara sobre o tratamento e as orientações para o manejo diário dos comportamentos da criança. A percepção dos pais sobre o trabalho do enfermeiro pode influenciar significativamente o processo de adesão ao tratamento e a confiança na equipe de saúde. Segundo Silva e Costa (2019, p. 78), “o diagnóstico precoce do TEA é um fator decisivo para o sucesso das intervenções, pois permite que o tratamento comece quando o cérebro da criança ainda está em fase de desenvolvimento, facilitando a aprendizagem e a adaptação”.

Como objetivo geral, temos que apontar a importância e o cuidado do enfermeiro no enfrentamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), especificando compreender a complexidade da assistência em saúde no tratamento do TEA, conhecer as estratégias adotadas na promoção do cuidado integral à criança com autismo e identificar os desafios e oportunidades para fortalecer o papel do enfermeiro no enfrentamento dessa condição.

Portanto, o papel do enfermeiro no enfrentamento do Transtorno do Espectro Autista é fundamental para garantir uma abordagem abrangente e centrada na criança e na sua família. Fortalecer esse papel requer investimento contínuo em educação, treinamento e desenvolvimento profissional, capacitando os enfermeiros a fornecerem cuidados de alta qualidade, desde a identificação precoce dos sinais do TEA até o acompanhamento contínuo durante todo o processo terapêutico. Ao reconhecer e valorizar o papel crucial do enfermeiro, podemos melhorar significativamente os resultados para as crianças com TEA, promovendo seu desenvolvimento global, bem como favorecer uma melhor utilização dos recursos de saúde, garantindo intervenções eficazes, humanizadas e adaptadas às necessidades específicas de cada criança e sua família.

2. MATERIAL E MÉTODOS

a) Tipo de pesquisa

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, por ter a finalidade de conhecer melhor as ideias acerca do assunto a ser estudado, buscando o aprimoramento e levando em conta os diferentes aspectos relacionados ao que está sendo pesquisado tornando-o explícito (Gil, 2002).

b) Local de estudo: 

Para compor a revisão da literatura, foram analisados artigos científicos e publicações acadêmicas publicadas em português nos últimos dez anos e que abordam à atuação do enfermeiro no cuidado à criança com transtorno do espectro autista.

c) Coleta de dados

Serão selecionados trabalhos que serão analisados de forma crítica e reflexiva por meio de fichamento. As bases de dados utilizadas serão SCIELO, Google Acadêmico, PUBMED, Medline, Biblioteca Virtual da Saúde, Lilacs, entre outras. Foram selecionados 20 artigos referente ao tema escolhido do trabalho, utilizando método de exclusão àqueles que não se referiam à transtorno do espectro autista, restando somente 6 artigos. As palavras-chave utilizadas são específicas para a busca como: “transtorno do espectro autista (TEA)”; “enfermagem” e “prevenção”.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição neurobiológica que se caracteriza por dificuldades no desenvolvimento social, na comunicação e comportamentos restritos e repetitivos. Esse transtorno é considerado um espectro porque abrange uma ampla gama de sintomas, desde formas mais leves até manifestações mais severas, afetando cada indivíduo de maneira única. Segundo Amaral (2018, p. 120), “o TEA engloba uma série de distúrbios no desenvolvimento, com variações significativas nos sintomas e nos graus de comprometimento funcional, o que exige abordagens individualizadas para cada paciente”.

As causas do TEA ainda são objeto de investigação científica, mas sabe-se que fatores genéticos e ambientais desempenham papéis cruciais no seu desenvolvimento. Estudos indicam que há uma predisposição genética para o transtorno, embora outros fatores, como infecções durante a gestação ou complicações no parto, possam contribuir para seu surgimento. De acordo com Souza (2017, p. 45), “o TEA é um transtorno multifatorial, influenciado por uma combinação de fatores genéticos e ambientais, que interagem de maneira complexa e ainda não completamente compreendida”. Essa complexidade torna o diagnóstico e o tratamento do transtorno um desafio para profissionais da saúde, exigindo estratégias individualizadas e multidisciplinares.

O diagnóstico do TEA é baseado principalmente na observação comportamental, uma vez que não há exames laboratoriais ou testes específicos para identificá-lo. O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar intervenções terapêuticas que possam melhorar as habilidades sociais, comunicativas e cognitivas das crianças afetadas. Silva e Costa (2019, p. 78) enfatizam que “o diagnóstico precoce do TEA é um fator decisivo para o sucesso das intervenções”, pois permite que o tratamento comece quando o cérebro da criança ainda está em fase de desenvolvimento, facilitando a aprendizagem e a adaptação. Assim, a detecção rápida e o acompanhamento contínuo são fundamentais para uma evolução positiva da criança.

O tratamento do TEA envolve uma abordagem multidisciplinar que inclui terapias comportamentais, fonoaudiológicas, ocupacionais e, em alguns casos, uso de medicamentos. Essas intervenções visam melhorar as habilidades sociais, a comunicação e os comportamentos, além de reduzir sintomas associados, como hiperatividade ou agressividade. Gomes (2020, p. 134) destaca que “a terapia comportamental é uma das intervenções mais eficazes para crianças com TEA”, promovendo o desenvolvimento de habilidades funcionais e sociais, além de reduzir comportamentos desafiadores.

A intervenção precoce, quando bem direcionada, pode ajudar o indivíduo a alcançar maior independência na vida cotidiana. Além dos tratamentos terapêuticos, o apoio às famílias é um aspecto crucial no manejo do TEA, visto que o transtorno impacta significativamente a dinâmica familiar. Almeida e Ferreira (2021, p. 56) afirmam que “as famílias que recebem apoio e orientação adequada durante o tratamento do TEA têm mais chances de lidar positivamente com as dificuldades, promovendo um ambiente de apoio e estímulo para o desenvolvimento da criança”. Portanto, o suporte social e psicológico às famílias é fundamental para o sucesso do tratamento e para a qualidade de vida da criança com TEA.

O papel do enfermeiro no cuidado à criança com TEA é essencial, pois esse profissional atua de maneira integral, considerando tanto as necessidades clínicas quanto as emocionais do paciente e de sua família. Além de realizar a assistência direta à criança, o enfermeiro deve ser um facilitador no processo de comunicação entre a equipe multiprofissional e os familiares, oferecendo suporte contínuo e orientação. Oliveira e Costa (2020, p. 45) destacam que “o enfermeiro desempenha um papel fundamental na identificação das necessidades de saúde da criança com TEA e na promoção de um ambiente de cuidado que favoreça a interação e a adaptação da criança ao tratamento”.

No cuidado à criança com TEA, as práticas do enfermeiro envolvem, além da administração de medicamentos e acompanhamento dos sinais vitais, a aplicação de estratégias de comunicação adaptadas às necessidades do paciente. O uso de uma abordagem individualizada é crucial, pois cada criança com TEA pode apresentar comportamentos, habilidades e dificuldades diferentes. Lima et al. (2019, p. 102) ressaltam que “o enfermeiro deve ser capaz de ajustar sua comunicação com a criança com TEA, utilizando estratégias não verbais, como o uso de imagens, gestos e a linguagem de sinais, para facilitar a compreensão e o envolvimento do paciente no processo de cuidado”.

A intervenção precoce é um fator-chave para o sucesso do cuidado de crianças com TEA, e o enfermeiro tem papel importante no monitoramento do desenvolvimento e na identificação de comportamentos que possam indicar dificuldades. Martins e Almeida (2021, p. 67) reforçam que “o enfermeiro deve estar atento aos sinais precoces de TEA e trabalhar em parceria com outros profissionais da saúde para garantir que a criança seja acompanhada por uma equipe interdisciplinar desde os primeiros anos de vida”.

Além das práticas terapêuticas, o enfermeiro desempenha papel educativo junto aos pais e responsáveis, oferecendo informações sobre o transtorno e orientações sobre como lidar com os desafios diários do cuidado. Souza e Pires (2020, p. 88) afirmam que “o apoio à família é uma das funções mais importantes do enfermeiro, pois ele pode fornecer aos pais ferramentas para melhorar o cuidado domiciliar, promovendo um ambiente mais estruturado e seguro para a criança com TEA”.

É importante destacar que o enfermeiro deve buscar continuamente aprimorar suas habilidades e conhecimentos sobre o TEA, uma vez que as intervenções precisam ser adaptadas conforme o desenvolvimento da criança. Santos e Oliveira (2022, p. 54) enfatizam que “a constante atualização dos enfermeiros sobre as novas abordagens terapêuticas e intervenções no TEA é fundamental para que o cuidado prestado seja sempre eficiente e centrado nas necessidades da criança, respeitando sua individualidade e promovendo seu bem-estar”.

O cuidado de crianças com TEA envolve desafios específicos que impactam diretamente a qualidade do atendimento prestado pelos enfermeiros. Entre os principais obstáculos enfrentados, destaca-se a comunicação com a criança, já que muitos pacientes com TEA apresentam dificuldades em expressar suas necessidades de forma verbal. Gomes e Silva (2020, p. 59) afirmam que “a comunicação limitada é um dos maiores desafios no cuidado a crianças com TEA”, exigindo dos enfermeiros habilidades diferenciadas, como o uso de linguagem visual ou sinais alternativos.

O manejo de comportamentos agressivos e autolesivos também se apresentou como um ponto crítico. Lima e Barbosa (2019, p. 111) apontam que tais situações “requerem intervenções terapêuticas específicas, e o enfermeiro deve ser capacitado para lidar com essas situações de forma eficaz”. A prevenção de complicações comportamentais pode ser facilitada pela capacitação contínua da equipe de enfermagem, com treinamentos em práticas terapêuticas e de comunicação (Pereira et al., 2021).

A falta de formação especializada compromete a qualidade do cuidado, dificultando tanto o diagnóstico precoce quanto a aplicação de estratégias de manejo adequadas (Pereira et al., 2021). Além disso, a escassez de recursos e a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos enfermeiros impacta negativamente o atendimento. Santos e Almeida (2020, p. 90) destacam que “a falta de recursos adequados, como materiais especializados e profissionais capacitados, somada à sobrecarga de trabalho, impacta negativamente a qualidade do atendimento”.

Do ponto de vista familiar, a presença do enfermeiro é considerada essencial. Almeida e Santos (2020, p. 48) observam que os pais veem o enfermeiro como apoio emocional, valorizando sua proximidade no cuidado diário. Além do suporte emocional, os pais valorizam as orientações recebidas. Costa e Oliveira (2019, p. 35) enfatizam que “a capacidade do enfermeiro de esclarecer dúvidas e explicar os procedimentos de maneira simples e compreensível fortalece a confiança dos pais”.

Apesar disso, muitos familiares relatam frustração quando percebem falta de empatia ou conhecimento específico sobre o TEA por parte da equipe de saúde (Lima et al., 2021). Tal percepção reforça a importância da capacitação contínua da enfermagem em relação ao transtorno, uma vez que a atualização profissional impacta diretamente na qualidade percebida do cuidado (Santos; Oliveira, 2022).

A continuidade do cuidado é outro fator decisivo para a confiança da família. Silva e Costa (2020, p. 97) destacam que “os pais percebem que a continuidade do cuidado, com enfermeiros que conhecem bem a história de saúde da criança, é essencial para o fortalecimento do vínculo terapêutico”. A ausência dessa continuidade, com trocas frequentes de profissionais, gera insegurança nas famílias, afetando negativamente a relação com os serviços de saúde (Oliveira et al., 2021).

A cooperação interdisciplinar foi valorizada pelos familiares, sendo considerada essencial para a eficácia das intervenções. Os pais reconhecem o papel do enfermeiro como articulador com psicólogos, terapeutas e médicos (Oliveira et al., 2021). Do ponto de vista científico, os resultados reforçam que o TEA demanda estratégias de cuidado centradas no paciente, envolvendo o campo clínico e educativo.

A atuação da enfermagem deve ir além da assistência direta, contemplando apoio psicossocial e fortalecimento da rede de suporte familiar (Souza; Pires, 2020). Observa-se que a prevenção de atrasos terapêuticos e complicações comportamentais exige vigilância contínua por parte do enfermeiro, desde a atenção primária até os serviços especializados (Martins; Almeida, 2021).

Nesse sentido, a formação continuada em saúde mental e práticas inclusivas torna-se indispensável para os enfermeiros que atuam com TEA (Santos; Oliveira, 2022). Sem investimentos em capacitação profissional e recursos materiais, a qualidade do atendimento tende a permanecer fragmentada (Pereira et al., 2021).

O fortalecimento da prática da enfermagem voltada ao TEA contribui significativamente para a inclusão social e escolar dessas crianças. O suporte oferecido às famílias favorece não apenas a adesão ao tratamento, mas também a prevenção de estresse emocional e sobrecarga dos cuidadores (Almeida; Ferreira, 2021). A integração entre políticas públicas, capacitação em saúde e práticas de cuidado inclusivas é indispensável para assegurar atendimento mais humanizado e efetivo às crianças com TEA (Oliveira; Costa, 2020).

3.1 Discussão 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de origem neurobiológica caracterizada por alterações no desenvolvimento da comunicação, dificuldades na interação social e presença de comportamentos repetitivos ou restritos. Ele é denominado “espectro” porque abrange diferentes formas de manifestação, desde quadros mais leves até situações de maior comprometimento, o que faz com que cada indivíduo apresente características únicas (FONTES; SOUZA, 2022). 

Além dessas manifestações principais, é comum observar padrões específicos de sensibilidade sensorial, como hipersensibilidade a sons, texturas ou luz, o que pode interferir nas atividades diárias e no convívio social da criança. Essas particularidades reforçam a importância de uma observação detalhada e de estratégias de cuidado individualizadas.

As causas do TEA ainda não são totalmente conhecidas, mas evidências científicas apontam para a combinação de fatores genéticos e ambientais. Há uma predisposição hereditária importante, embora situações como infecções durante a gestação, complicações no parto e exposição a agentes externos possam aumentar o risco de desenvolvimento do transtorno. 

Essa multiplicidade de fatores evidencia que se trata de uma condição multifatorial, de origem complexa (PINHO, 2023). Além disso, estudos recentes indicam que a neuroplasticidade cerebral pode ser afetada desde os primeiros estágios de desenvolvimento embrionário, o que reforça a importância do cuidado pré-natal e da vigilância contínua sobre o desenvolvimento infantil.

O diagnóstico é essencialmente clínico e depende da observação cuidadosa do comportamento, já que não existem exames laboratoriais específicos para sua confirmação. A detecção precoce é considerada fundamental, pois permite iniciar intervenções ainda nos primeiros anos de vida, período em que o cérebro apresenta grande plasticidade. Quanto mais cedo se inicia o acompanhamento, maiores são as chances de favorecer o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais e comunicativas da criança (SILVA; OLIVEIRA, 2021). 

O papel do enfermeiro na atenção primária é essencial nesse processo, pois ele está na linha de frente da observação do crescimento e desenvolvimento infantil. Sua escuta ativa, somada à observação dos sinais de alerta relatados pelos cuidadores, pode ser decisiva para o encaminhamento oportuno e o início precoce das terapias.

As intervenções no TEA exigem uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir terapias comportamentais, ocupacionais, fonoaudiológicas e educacionais. Em alguns casos, há indicação do uso de medicamentos para manejo de sintomas associados, como irritabilidade ou hiperatividade. 

Dentre as estratégias mais utilizadas, a terapia comportamental tem se mostrado eficaz, pois auxilia na aquisição de habilidades funcionais e na redução de comportamentos que dificultam a autonomia da criança (GOMES et al., 2019). O enfermeiro participa desse processo por meio do acompanhamento da adesão às terapias, monitoramento da evolução clínica e orientação sobre rotinas e hábitos que podem potencializar os resultados do tratamento.

O suporte oferecido às famílias também é parte essencial do cuidado, já que o transtorno afeta de forma significativa a dinâmica familiar e pode gerar sobrecarga emocional. A orientação adequada, o acompanhamento psicológico e o estímulo contínuo dentro do ambiente doméstico contribuem para que os pais lidem melhor com os desafios do cotidiano, promovendo um espaço mais estruturado e acolhedor para o desenvolvimento da criança (LUZ; PAGOTTO; PINTO, 2024).

A atuação do enfermeiro, nesse contexto, vai além da assistência técnica: envolve empatia, escuta qualificada e apoio emocional. O vínculo de confiança com a família permite que ela se sinta amparada, reduzindo sentimento de culpa ou isolamento frequentemente associados ao diagnóstico do TEA.

Nesse contexto, o enfermeiro tem papel fundamental. Além de prestar assistência direta, esse profissional atua como elo de comunicação entre a equipe multiprofissional e a família, oferecendo orientações, adaptando estratégias de cuidado e auxiliando na construção de um plano terapêutico individualizado. A atuação constante do enfermeiro fortalece a relação com os cuidadores e favorece maior adesão ao tratamento (SOUZA; MATOS; CARDOSO, 2023). Cabe também ao enfermeiro atuar como educador em saúde, promovendo campanhas informativas e atividades de conscientização sobre o TEA na comunidade, contribuindo para a redução do preconceito e para a inclusão social dessas crianças.

Entretanto, alguns desafios comprometem a qualidade da assistência. A dificuldade de comunicação com a criança, o manejo de comportamentos agressivos ou autolesivos, a falta de recursos materiais e a sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem estão entre os principais obstáculos apontados na literatura. Tais fatores evidenciam a necessidade de capacitação contínua, investimentos estruturais e elaboração de protocolos específicos que garantam uniformidade e qualidade no atendimento (BARBOSA; OLIVEIRA, 2025). A ausência de suporte institucional adequado pode comprometer o desempenho dos profissionais, tornando indispensável que gestores e formuladores de políticas públicas priorizem o fortalecimento da atenção básica e a implementação de centros de referência em TEA.

Por outro lado, há amplas possibilidades de aprimoramento da prática da enfermagem. Investimentos em formação profissional, em tecnologias assistivas, no desenvolvimento de estratégias de comunicação adaptadas e na utilização de protocolos baseados em evidências permitem expandir a atuação do enfermeiro no cuidado à criança com TEA. 

Essas iniciativas contribuem para uma prática mais eficaz, mais adaptada às necessidades individuais e mais centrada na família (SANTANA et al, 2023). A educação permanente, aliada à troca de experiências entre equipes multiprofissionais, fortalece a autonomia do enfermeiro e amplia sua capacidade de tomada de decisão diante de situações complexas.

Além disso, o enfermeiro pode atuar de forma significativa no ambiente escolar, promovendo a integração entre saúde e educação. A presença desse profissional nas escolas contribui para o acompanhamento das crianças diagnosticadas, oferecendo suporte aos educadores e orientando sobre estratégias de inclusão e manejo comportamental. Essa interface entre os setores é essencial para garantir o desenvolvimento pleno e o bem-estar do aluno com TEA, evitando rupturas no processo de aprendizagem e incentivando a socialização com os colegas.

Outro aspecto relevante diz respeito à importância da comunicação terapêutica no cuidado de enfermagem. Crianças com TEA muitas vezes não se expressam verbalmente, e o enfermeiro deve desenvolver habilidades para compreender suas formas alternativas de comunicação, como gestos, expressões faciais e comportamentos. O uso de pictogramas, linguagem visual e brinquedos terapêuticos pode facilitar o vínculo e tornar a assistência mais efetiva e menos invasiva. Essa adaptação no processo comunicativo demonstra sensibilidade e respeito à singularidade de cada criança.

O trabalho em equipe é outro pilar do cuidado integral. O enfermeiro deve manter constante diálogo com médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e assistentes sociais, assegurando que o plano de cuidados seja executado de maneira integrada e coerente. Essa articulação favorece o acompanhamento global da criança, permitindo identificar precocemente avanços, dificuldades ou situações que demandem reavaliação da conduta. O enfoque interdisciplinar fortalece a efetividade do tratamento e melhora a qualidade de vida da criança e de sua família.

Por fim, é importante destacar que o fortalecimento da prática da enfermagem e a integração com políticas públicas de saúde e educação são indispensáveis para que o cuidado seja mais humanizado e eficaz. Investir em capacitação profissional, recursos adequados e estratégias inclusivas contribui não apenas para a melhoria do acompanhamento clínico, mas também para a promoção da inclusão social e escolar, favorecendo a qualidade de vida das crianças com TEA e de suas famílias (ARRUDA et al, 2023). O compromisso ético e social do enfermeiro, aliado à sensibilidade no cuidado e à valorização das potencialidades da criança, é o que possibilita transformar o atendimento em um espaço de acolhimento, respeito e inclusão. Assim, a enfermagem reafirma sua importância como profissão essencial na construção de uma sociedade mais empática, inclusiva e comprometida com o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados analisados evidenciam que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa, que demanda atenção integral e abordagem interdisciplinar. O enfermeiro tem papel fundamental nesse contexto, atuando na identificação precoce de sinais, na orientação às famílias, na educação em saúde e na promoção de um ambiente acolhedor e inclusivo para a criança.

Apesar das limitações estruturais e da necessidade de capacitação contínua, há amplas possibilidades de aprimoramento na prática assistencial, especialmente com investimentos em formação profissional, protocolos específicos de cuidado e estratégias de comunicação adaptadas.

Dessa forma, reforça-se a valorização da enfermagem como elemento essencial na rede de apoio à criança com TEA, garantindo um cuidado humanizado, integral e centrado na família, capaz de contribuir significativamente para o desenvolvimento e a qualidade de vida dessas crianças.

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Enfermagem pela Faculdade Santa Luzia. E-mail: 1810@faculdadesantaluzia.edu.br
2Especialista em Terapia Intensiva pela Unipós. E-mail: naianne@faculdadesantaluzia.edu.br