PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS ATENDIDOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA BAHIA E O PANORAMA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ATUANTES: UM ESTUDO DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS (2020–2025)

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF CHILDREN AND ADOLESCENTS WITH MENTAL DISORDERS SERVED BY THE PUBLIC HEALTH SYSTEM IN BAHIA AND THE LANDSCAPE OF CURRENT HEALTH PROFESSIONALS: A STUDY OF THE LAST FIVE YEARS (2020–2025)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202511271940


Daniela Castro Silva1; Gustavo Henrique Castro de Andrade1; Geovana dos Reis Silva2; Ketlen Mayara Araújo Melo3; Maria Isabel Castro Silva Costa3; Álvaro José Correia Pacheco4; Joseph Wallace de Castro Silva5; Jorge Messias Leal do Nascimento6


Resumo

O adoecimento psíquico entre crianças e adolescentes representa um desafio crescente para a saúde pública, refletindo a interação entre fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Metade dos transtornos mentais tem início ainda na adolescência, e muitos permanecem sem diagnóstico ou tratamento adequado, comprometendo o desenvolvimento e a qualidade de vida, visualizar a ocorrência desses se fazem cada vez mais necessários para promover soluções adequadas. Assim esse estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico das internações hospitalares por transtornos mentais em crianças e adolescentes, bem como descrever o panorama dos profissionais e equipes de saúde atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia, entre 2020 e 2025. Trata-se de um estudo transversal, quantitativo e descritivo, baseado em dados secundários provenientes das bases SIH/SUS e CNES, acessadas por meio do DATASUS/TabNet. As informações foram tabuladas no Microsoft Excel® e analisadas por estatística descritiva. Os resultados apontaram 1.662 internações no período, com predomínio de casos de esquizofrenia e transtornos afetivos, sobretudo entre adolescentes de 15 a 19 anos e no sexo feminino. Observou-se aumento progressivo das internações até 2024 e maior concentração nas macrorregiões Leste e Sudoeste, refletindo desigualdades na distribuição dos serviços especializados. Paralelamente, houve expansão do número de profissionais e equipes multiprofissionais vinculados ao SUS, indicando fortalecimento gradual da rede assistencial. Conclui-se que a hospitalização por transtornos mentais infantojuvenis na Bahia reflete tanto o aumento das demandas psicossociais quanto a necessidade de ampliar e integrar os serviços territoriais de atenção psicossocial.

Palavras-chave: Transtornos mentais. Epidemiologia descritiva. Rede de Atenção Psicossocial. Profissionais de saúde. Bahia.

1 INTRODUÇÃO

O adoecimento psíquico entre crianças e adolescentes é uma realidade complexa e presente em diversos contextos. A literatura aponta desde transtornos mentais comuns, como depressão e ansiedade, até quadros mais graves que exigem atenção especializada. Reconhecer precocemente adolescentes em vulnerabilidade psíquica é fundamental para possibilitar intervenções mais eficazes, reduzindo riscos e impactos futuros sobre a saúde mental infantojuvenil (Monteiro et al., 2020).

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS, 2025), as condições de saúde mental representam aproximadamente 16% da carga global de doenças e lesões entre indivíduos de 10 a 19 anos. Estima-se que metade desses transtornos tenha início por volta dos 14 anos, embora a maioria permaneça sem diagnóstico e tratamento adequados.

As consequências da não intervenção, entretanto, estendem-se à vida adulta, comprometendo tanto o bem-estar físico quanto o emocional, e restringindo oportunidades futuras. Nessa perspectiva, a promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos despontam como estratégias fundamentais para que adolescentes possam prosperar e desenvolver-se de maneira integral (OPAS/OMS, 2025).

Entre os transtornos mais frequentemente identificados na infância e adolescência, os de ansiedade ocupam lugar de destaque, seguidos pelos transtornos de comportamento, de humor e aqueles relacionados ao uso de substâncias. Apesar da gravidade dos impactos, menos da metade dos jovens acometidos tem acesso a tratamento especializado, sendo que a atenção tende a se concentrar nos casos mais severos (Merikangas, Nakamura e Kessler, 2009). 

De modo geral, a literatura distingue esses transtornos em duas categorias centrais, sendo elas os transtornos do desenvolvimento psicológico, que emergem precocemente (início na primeira ou na segunda infância) e estão associados a disfunções do sistema nervoso central, e os transtornos de comportamento e emocionais, nos quais se incluem os quadros hipercinéticos, distúrbios de atenção e de conduta (Thiengo, Cavalcante e Lovisi, 2014).

O surgimento dos transtornos mentais na infância e adolescência está fortemente associado à interação entre diferentes fatores de risco, entendidos como características, experiências ou eventos que aumentam a probabilidade de ocorrência de determinado desfecho quando comparados a uma população não afetada (Cubas, Scatolin e Carvalho, 2016; Sá et al., 2010). Esses fatores costumam ser agrupados em quatro grandes dimensões interdependentes: biológica, genética, psicossocial e ambiental, no qual a combinação tende a moldar o curso do desenvolvimento emocional e comportamental do indivíduo (Thiengo, Cavalcante e Lovisi, 2014).

Os fatores biológicos incluem anormalidades do sistema nervoso central provocadas por lesões, infecções, desnutrição ou exposição a toxinas, os fatores genéticos se relacionam à presença de história familiar de transtornos mentais, como depressão e esquizofrenia. E os fatores psicossociais envolvem disfunções na dinâmica familiar como discórdias conjugais, ausência de vínculos afetivos, psicopatologia materna ou criminalidade paterna, além dos fatores ambientais que abrangem contextos de violência urbana, negligência e diferentes formas de abuso físico, psicológico ou sexual (Bordin e Paula, 2007; Ramires et al., 2009; Thiengo, Cavalcante e Lovisi, 2014).

Nesse conjunto, outro ponto que merece destaque são condições socioeconômicas desfavoráveis, como baixa renda familiar e reduzida escolaridade parental, que têm sido reconhecidas como agravantes que ampliam a vulnerabilidade ao sofrimento psíquico (Cubas, Scatolin e Carvalho, 2016; Ramires et al., 2009).

Em meio a essas múltiplas dimensões, emergem também novos determinantes atuais, associados às transformações tecnológicas e aos recentes eventos globais. Durante o período de isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, o uso prolongado e excessivo de telas intensificou quadros de ansiedade e estresse entre adolescentes, revelando uma faceta moderna do impacto ambiental e comportamental sobre a saúde mental (Andrade et al., 2022). 

Reforçando que os transtornos mentais infantojuvenis resultam de um conjunto complexo entre fatores biológicos e sociais, exigindo políticas de promoção e prevenção que considerem simultaneamente o sujeito e o contexto em que ele se desenvolve (Andrade et al., 2022; Merikangas, Nakamura e Kessler, 2009; Thiengo, Cavalcante e Lovisi, 2014).

A atenção à saúde mental infantil, no contexto brasileiro, se coloca como demanda crescente e de caráter emergencial (Feitosa et al., 2011). O fortalecimento do sistema de cuidados requer a ampliação e a integração da rede de serviços especializados, articulando ações entre os setores de saúde, educação e assistência social (Couto, Duarte e Delgado, 2008).

Entretanto, a identificação de transtornos mentais em crianças e adolescentes apresenta desafios particulares. Em fase de desenvolvimento, esses indivíduos nem sempre possuem repertório cognitivo para associar o desconforto a causas internas, manifestando seu sofrimento por meio de comportamentos desadaptados e, por vezes, confundidos com indisciplina ou imaturidade. Tornando necessária a utilização de múltiplas fontes de informação, sejam professores, pais, profissionais da saúde e registros, escolares em processos diagnósticos amplos e sensíveis (Bird e Duarte, 2002).

O aumento das internações e notificações de transtornos mentais na população infantojuvenil evidencia um cenário de preocupação para a saúde pública e aponta para lacunas na produção de dados sistematizados. A escassez de estudos epidemiológicos em contextos locais específicos voltados a esse grupo etário limita a compreensão sobre a dinâmica dessas condições e compromete o planejamento de ações preventivas e interventivas adequadas.

Assim, compreender a distribuição, a frequência e a gravidade das internações, bem como a disponibilidade de profissionais e serviços destinados a esse público, torna-se essencial para delinear o panorama da saúde mental infantojuvenil em contextos regionais.

Parte-se da hipótese de que o comportamento das internações hospitalares por transtornos mentais em crianças e adolescentes na Bahia entre 2020 e 2025 seja resultado de uma combinação de fatores epidemiológicos, sociais e institucionais, incluindo o aumento da detecção dos casos, a ampliação do registro de informações em saúde e as mudanças nas condições de vida e vulnerabilidade da população infantojuvenil ao longo do período.

Assim o estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico de crianças e adolescentes com transtornos mentais atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado da Bahia, no período de 2020 a 2025, bem como descrever o panorama dos profissionais de saúde atuante, com base nos dados disponíveis na plataforma do DATASUS.

2 METODOLOGIA

O presente estudo possui delineamento transversal, quantitativo e descritivo, desenvolvido a partir de dados secundários provenientes de sistemas oficiais de informação em saúde do Ministério da Saúde. A pesquisa teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico das internações hospitalares por transtornos mentais em crianças e adolescentes, bem como o panorama dos profissionais e equipes especializadas atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS) do estado da Bahia, entre janeiro de 2020 e agosto de 2025.

Esse delineamento foi escolhido por permitir analisar tendências e distribuições de variáveis populacionais e institucionais, sem a necessidade de acompanhamento individual, sendo adequado para estudos baseados em registros oficiais de abrangência estadual.

O estudo utilizou três bases internas do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), acessadas por meio da plataforma TabNet. A primeira base, o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), forneceu os registros de internações, extraídos do módulo Morbidade Hospitalar por local de internação, referentes à Bahia.

Foram selecionados os registros do Capítulo V da CID-10 (Transtornos mentais e comportamentais), contemplando as seguintes categorias:

  • esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes;
  • transtornos de humor (afetivos);
  • transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes;
  • retardo mental;
  • e outros transtornos mentais e comportamentais.

As variáveis incluíram ano de atendimento, faixa etária, sexo, caráter do atendimento (eletivo ou urgência) e macrorregião de saúde.

A segunda base foi o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) no módulo Recursos Humanos. As informações sobre a força de trabalho em saúde foram coletadas no submódulo Profissionais (Indivíduos), conforme a CBO/2002. Consideraram-se profissionais de nível superior com vínculo ativo no SUS, abrangendo enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e psiquiatras. Para descrever a evolução do contingente profissional e estimar a capacidade assistencial do estado.

A terceira base, também do CNES, correspondeu ao módulo Equipes de Saúde, com foco nas Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada em Saúde Mental. As informações foram obtidas no submódulo Quantidade por tipo de equipe e ano de competência, permitindo examinar a evolução das equipes especializadas e o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial na Bahia.

A coleta de dados foi realizada em outubro de 2025, pela plataforma DATASUS/TabNet (https://datasus.saude.gov.br), utilizando os filtros correspondentes a cada variável de interesse. Os arquivos foram exportados nos formatos .CSV e organizados no software Microsoft Excel®, onde foram tabulados e sistematizados em planilhas específicas para cada conjunto de variáveis como internações, profissionais e equipes.

Os dados foram submetidos à análise descritiva, com frequências absolutas e relativas. Tabelas e gráficos foram elaborados para representar as informações e correlacionar a evolução das internações com a estrutura assistencial do SUS no estado.

Por se tratar de uma pesquisa baseada em dados públicos e agregados, sem identificação individual, não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os procedimentos observaram os princípios de integridade, transparência e rigor científico, assegurando o uso responsável das informações públicas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

É a principal parte do artigo que contém a exposição ordenada do assunto tratado. Pode se dividir em seções e subseções, que variam em função da abordagem do tema e do método.

Durante o período de 2020 a 2025, foram registradas 1.662 internações de crianças e adolescentes por transtornos mentais e comportamentais no estado da Bahia. Dentre essas, destacaram-se os casos de esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes (n=659; 39,6%), seguidos pelos transtornos de humor (n=416; 25,03%) e pelos outros transtornos mentais e comportamentais (n=445; 26,8%). As categorias de retardo mental (n=55; 3,31%) e transtornos neuróticos e relacionados ao estresse (n=87; 5,23%) representaram proporções menores, sugerindo que o principal motivo de internação esteve associado a quadros psicóticos e afetivos (Figura 1).

Figura 1 – Distribuição das internações por tipo de transtorno mental em crianças e adolescentes, Bahia, 2020–2025.

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Esse padrão aqui obtido é consistente com achados de Souza e Lima (2020), que, ao analisarem hospitalizações psiquiátricas infantojuvenis no sistema público brasileiro, observaram que os transtornos psicóticos e afetivos configuram as principais causas de internação entre menores de 18 anos.

De modo semelhante, Zheng et al.(2023), em estudo longitudinal de 20 anos conduzido na China, relataram a predominância de desenvolvimento, como transtornos psicóticos e de humor entre as hospitalizações pediátricas, reforçando a ideia de que, independentemente do contexto geográfico abordado, os transtornos mais severos são os que mais frequentemente justificam internação em unidades de saúde mental.

Observou-se marcado predomínio de internações na faixa etária de 15 a 19 anos (n=1297; 78,04%), indicando que os transtornos mentais graves tendem a se manifestar de forma mais evidente na adolescência. As faixas de 10 a 14 anos e 5 a 9 anos representaram 15,04% (n=250) e 4,75% (n=79) dos casos, respectivamente, enquanto os grupos de menores de 5 anos tiveram ocorrência muito baixa (Figura 2).

Isso é compatível com o início tardio de quadros psicóticos e afetivos, reforçando a necessidade de estratégias específicas para adolescentes na rede de atenção psicossocial.

Figura 2 – Internações por transtornos mentais de crianças e adolescentes segundo faixa etária, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Essa análise de faixa etária se torna coerente com achados internacionais e nacionais. Em uma metanálise global, Solmi et al. (2022) identificaram que a maioria dos transtornos mentais tem início entre os 14 e 18 anos, faixa que coincide com o intervalo etário notado por este estudo.

Da mesma forma, Souza e Lima (2020), ao analisarem hospitalizações psiquiátricas infantojuvenis no sistema público brasileiro, observaram baixa ocorrência de internações em crianças menores de 10 anos e concentração crescente a partir da adolescência. O que parece refletir tanto a maturação neurológica e psicossocial característica desse período, quanto o atraso na identificação precoce dos sintomas o que leva à hospitalização apenas quando o quadro se torna clinicamente grave (Souza e Lima, 2020).

Além dos fatores clínicos, as condições sociais e estruturais do sistema de saúde também podem influenciar essa distribuição etária. Toledo et al. (2024) destacam que jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica apresentam maior risco de hospitalização psiquiátrica, devido à exposição a ambientes adversos, estresse crônico e menor acesso a cuidados preventivos.

É importante ressaltar que, o Ministério da Saúde segue a convenção elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no qual define que a adolescência vai dos 10 aos 19 anos, 11 meses e 29 dias, enquanto a juventude acontece entre 15 e 24 anos. Significando que os últimos anos da adolescência se misturam com os primeiros anos da juventude (Brasil. Ministério da Saúde, 2025). Assim se justifica a faixa etária considerada para a análise.

A distribuição por sexo revelou maior prevalência no sexo feminino (n= 930; 55,96%), em comparação ao masculino (n= 732; 44,04%). Embora a esquizofrenia (n=382) e o retardo mental (n=36) tenham sido mais frequentes entre meninos, os transtornos de humor afetivos (n=322) e neuróticos (n=54) apresentaram predominância feminina, o que reforça diferenças de vulnerabilidade psicossocial e hormonal já descritas na literatura sobre saúde mental infanto-juvenil (Figura 3).

Figura 3 – Internações por transtornos mentais conforme o sexo, Bahia, 2020–2025.

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Os dados obtidos no DATASUS estão em consonância com um perfil já descrito, onde meninas apresentam taxas maiores de transtornos de humor e ansiedade, e meninos apresentam taxas maiores de transtornos de comportamento, enquanto há uma proporção igual entre os sexos para transtornos por uso de substâncias (Merikangas, Nakamura e Kessler, 2009).

Essas diferenças de gênero também são corroboradas por outros estudos que, ao analisarem hospitalizações psiquiátricas em adolescentes suecos, verificaram que o gênero feminino em caso de jovens apresenta risco significativamente maior de diagnósticos e internações psiquiátricas, sobretudo relacionados à depressão, ansiedade e distúrbios do sono, quando comparadas aos homens (Martini et al., 2022).

Resultados semelhantes foram relatados por Dil et al. (2024), ao descrever trajetórias distintas de crise mental entre adolescentes, com predomínio feminino nos transtornos afetivos e ideação suicida, e maior frequência masculina em problemas de comportamento e uso de substâncias.

Esse fato de meninas serem mais impactadas está relacionado a estas serem mais expostas a pressões sociais e culturais relacionadas à aparência, desempenho escolar, relações interpessoais e papéis de gênero. Além disso, tendem a internalizar o sofrimento manifestando tristeza, culpa e ansiedade, além de fatores hormonais que podem contribuir na vulnerabilidade emocional (Angold e Costello, 2006; Kuehner, 2017; Vaughan e Halpern, 2010).

Entre 2020 e 2025, observou-se tendência crescente no número de internações por transtornos mentais na Bahia. O total anual passou de 192 (11,55%) internações em 2020 para 385 (23,16%) em 2024, representando um aumento superior a 100% no período. O ano de 2025, que inclui dados até agosto, contabilizava 226 (13,60%) internações, indicando manutenção do padrão elevado observado nos últimos anos (Figura 4).

A elevação gradual das internações a partir de 2021 coincide com o período pós-pandemia de COVID-19, marcado pelo aumento das demandas psicossociais e transtornos comportamentais em crianças e adolescentes.

Figura 4 – Evolução anual das internações por transtornos mentais, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

O ano de 2020 marcou o início da série com número reduzido de internações, possivelmente relacionado às restrições pela pandemia de COVID-19, que limitaram o acesso aos serviços de saúde e geraram subnotificação, o que já foi reportado em outros estudos (Dharma et al., 2024; Roumeliotis et al., 2024). Em 2021, o retorno gradual das atividades escolares e assistenciais contribuiu para maior detecção e encaminhamento de casos, refletindo o acúmulo de demandas reprimidas (Felix e Green, 2025).

Nos anos de 2022 e 2023, o crescimento manteve-se constante, acompanhando o agravamento dos quadros de ansiedade, depressão e transtornos de comportamento já mencionados em estudos pós-pandêmicos (Khan et al., 2023; Liu et al., 2025; Marin et al., 2023). O pico em 2024, com mais que o dobro das internações de 2020, sugere a persistência de sofrimento psíquico juvenil. O ano de 2025, mesmo com dados apenas até agosto, manteve padrão elevado, indicando estabilização em patamar superior ao pré-pandêmico.

Perfis semelhantes foram descritos por Silva et al. (2021) e Bertelli et al. (2019) que observaram aumento nacional e regional das hospitalizações psiquiátricas no período recente, enquanto Souza e Lima (2020) destacam que a fragilidade dos serviços substitutivos e da atenção psicossocial favorece a hospitalização como principal forma de cuidado.

Quanto à composição diagnóstica, destacaram-se esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes e os transtornos de humor (afetivos) como principais motivos de internação ao longo de todo o período. Em 2024, ambos alcançaram seus picos anuais (150 e 109 internações, respectivamente), contribuindo para o maior total anual observado.

As categorias transtornos neuróticos/relacionados ao estresse e somatoformes e retardo mental apresentaram volumes menores e relativamente estáveis, enquanto o grupo “outros transtornos mentais e comportamentais” manteve participação relevante e atingiu pico em 2024 (100 internações) (Tabela 1).

Tabela 1 – Internações por transtornos mentais anual segundo categoria diagnóstica, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Essa concentração de diagnósticos mais graves ao longo do período estudado evidencia um perfil de hospitalização voltado para casos de alta complexidade clínica e risco psicossocial, em consonância com o observado em outros contextos nacionais. No estudo no Estado da Bahia conduzido por Lima et al. (2025) que analisou 1.739 internações de crianças e adolescentes baianos entre 2020 e 2024, também se identificou a predominância de transtornos mentais graves, confirmando a tendência de maior demanda hospitalar para quadros psicóticos e afetivos no estado.

O contraste com o perfil ambulatorial observado por Ceballos, Santos e Mota, (2016) no CAPS de Salvador (2010–2012), transtornos do comportamento (F90–F98), retardo mental (F70–F79) e transtornos do desenvolvimento (F80–F89) predominaram, enquanto adolescentes atendidos em CAPS de adultos apresentaram maior frequência de esquizofrenias, reforçando que a hospitalização tende a selecionar quadros graves e persistentes (psicóticos/afetivos), ao passo que condições neuróticas/relacionadas ao estresse e retardo mental permanecem, em grande medida, no manejo extra-hospitalar.

Essas evidências sustentam a interpretação de que o pico de 2024 reflete não apenas pressão assistencial e visibilidade diagnóstica pós-pandemia, mas também a dependência da rede hospitalar para resolver casos de maior gravidade, diante de capacidade ambulatorial limitada para absorver a demanda complexa no território.

A análise espacial revelou forte concentração de internações nas macrorregiões Leste (n=613; 36,9%) e Sudoeste (n=313; 18,8%), que englobam os polos urbanos de Salvador e Vitória da Conquista. Essas regiões concentram a maior oferta de leitos psiquiátricos e serviços de saúde mental especializados. As menores proporções foram registradas nas macrorregiões Nordeste e Extremo Sul, com menos de 2% do total, evidenciando desigualdades na distribuição da rede de atenção psicossocial no estado (Figura 5).

Figura 5 – Distribuição das internações por transtornos mentais segundo macrorregião de saúde, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Essa centralização também foi identificada por (Lima et al., 2025) que apontou a concentração da demanda hospitalar infantojuvenil nas áreas com maior densidade assistencial, evidenciando que a cobertura da Rede de Atenção Psicossocial é mais consolidada nos grandes centros e insuficiente em municípios periféricos e rurais. Corroborando essa tendência ao analisar os CAPS de Salvador, demonstraram que mesmo no âmbito ambulatorial há desequilíbrio entre necessidade e oferta, com apenas dois CAPSi disponíveis para toda a capital e registro de atendimentos infantojuvenis (Ceballos, Santos e Mota, 2016).

Em uma análise aprofundada por município no período analisado (jan/2020–ago/2025), observou-se marcada concentração das internações de crianças e adolescentes por transtornos mentais em Salvador (n = 495), seguido de Vitória da Conquista (n = 137), Poções (n = 124) e Feira de Santana (n = 110), compondo o primeiro estrato de municípios com maiores volumes. Em um segundo ponto, destacaram-se Ilhéus (n = 81), Jequié (n = 84), Ruy Barbosa (n = 76), Barreiras (n = 74) e Nazaré (n = 61).

Municípios de porte intermediário, como Paulo Afonso (n = 48) e Porto Seguro (n = 11), também contribuíram para o total de internações, enquanto diversos municípios apresentaram volumes discretos (≤ 10 casos), a exemplo de Amargosa (10), Lauro de Freitas (10) e Juazeiro (37) (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição espacial das internações por transtornos mentais em crianças e adolescentes, Bahia, 2020–2025 (todos os municípios).

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Esses dados sugerem centralização assistencial em polos regionais (Salvador, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Ilhéus e Jequié), possivelmente relacionada à maior oferta de leitos e serviços em saúde mental infanto-juvenil. Por outro lado, o baixo número em cidades menores pode refletir tanto menor demanda registrada quanto suboferta local de serviços, com potenciais deslocamentos para centros de referência.

Macedo, Fontenele e Dimenstein, (2018) demonstram que os serviços de saúde mental infantojuvenil no Brasil estão majoritariamente instalados em municípios-centro, enquanto muitos municípios-menores carecem de cobertura ou encaminham para centros maiores. Em Salvador, foi apontado que havia apenas dois CAPSi para atendimento infantil-juvenil (Ceballos, Santos e Mota, 2016), o que reforça a hipótese de deslocamento de demanda de municípios menores para polos de referência.

Estudos nacionais indicam que áreas urbanas de maior porte concentram maior carga de transtornos mentais entre crianças e adolescentes, tanto pela maior densidade populacional e exposição a estressores sociais quanto pela melhor estrutura diagnóstica e disponibilidade de serviços especializados (Paula et al., 2014; Pimentel et al., 2023). Assim, o contexto observado na Bahia parece resultar da combinação entre maior visibilidade dos casos e desigualdades territoriais no acesso à atenção psicossocial.

O caráter das internações foi predominantemente de urgência (90,9%), enquanto apenas 9,1% ocorreram de forma eletiva (Figura 6). Destaca-se que maioria das hospitalizações decorreu de quadros agudos, surtos psicóticos ou crises comportamentais, o que reforça a importância de serviços ambulatoriais capazes de oferecer acompanhamento contínuo e prevenir reinternações.

Figura 6 – Internações por transtornos mentais segundo caráter do atendimento, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Embora não tenha sido identificado no Brasil estudo que apresente exatamente a proporção de internações urgentes e eletivas para crianças e adolescentes, o presente resultado, com 90,9% das internações de urgência, se alinha com a literatura que aponta hospitalização psiquiátrica como resposta a crises agudas, emergências comportamentais ou psicóticas.

Estudos mostram que as hospitalizações infanto-juvenis ocorrem predominantemente em contextos de risco elevado (Souza e Lima, 2020; Toledo et al., 2024) e que as emergências em saúde mental pediátrica vêm se intensificando (Oliveira et al., 2024). Assim, o alto percentual de urgência observado destaca a necessidade de atenção ambulatorial contínua, assim como estratégias para detecção e manejo precoce.

Nos Procedimentos Hospitalares do SUS (Morbidade Hospitalar – SIH/SUS, por local de internação, Bahia), não foram encontrados registros relacionados a ações específicas de saúde mental voltadas ao acompanhamento ou tratamento continuado de pacientes. Ao realizar a consulta na plataforma, o sistema retornou a mensagem “sem registros” para todos os procedimentos pesquisados.

Entre os procedimentos analisados, constavam códigos da Tabela SIGTAP voltados à atenção psicossocial e hospitalar em saúde mental, como:

  • 0301080046 – Acompanhamento de paciente em saúde mental (residência terapêutica);
  • 0301080062 – Acompanhamento intensivo de paciente em saúde mental;
  • 0301080100 – Acompanhamento não intensivo de paciente em saúde mental;
  • 0301080127 – Acompanhamento semi-intensivo de paciente em saúde mental;
  • 0301080143 – Atendimento em oficina terapêutica I – saúde mental;
  • 0301080151 – Atendimento em oficina terapêutica II – saúde mental;
  • 0301080445 – Avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas para pessoas com problemas de saúde mental;
  • 0303170131 – Tratamento clínico em saúde mental em situação de risco elevado de suicídio;
  • 0802010261 – Diária de saúde mental com permanência entre 8 e 15 dias;
  • 0802010270 – Diária de saúde mental com permanência superior a 15 dias.

A ausência de registros desses procedimentos na série histórica de 2020–2025 sugere limitações na alimentação da base de dados do SIH/SUS ou a não execução/codificação dessas ações em ambiente hospitalar no estado da Bahia.

Reforçando a hipótese de que as práticas de atenção em saúde mental infantojuvenil, como acompanhamentos terapêuticos e oficinas psicossociais, são predominantemente realizadas em nível ambulatorial e territorial, por serviços substitutivos como os CAPS e as equipes multiprofissionais, não sendo registradas no módulo de morbidade hospitalar do DATASUS.

O relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) intitulado Uma análise da base de dados do Sistema de Informação Hospitalar (SIH/SUS) destaca que há problemas recorrentes de consistência e subregistro em diversos agravos e procedimentos do sistema, em áreas onde a codificação envolve práticas multiprofissionais e não biomédicas (Cerqueira et al., 2019).

De modo complementar, o estudo de Noronha, Araújo e Bastos (2015), publicado na Revista Baiana de Saúde Pública, aponta que o cuidado em saúde mental infantil e juvenil na Bahia é predominantemente desenvolvido em espaços territoriais e ambulatoriais, com forte participação da atenção básica e dos Centros de Atenção Psicossocial, o que explica a baixa representação dessas práticas nos registros hospitalares.

Assim, a ausência de dados no SIH/SUS observada neste estudo reflete tanto fragilidades estruturais de registro quanto a própria lógica descentralizada da Rede de Atenção Psicossocial, na qual o acompanhamento terapêutico e as oficinas psicossociais ocorrem fora do ambiente hospitalar e, portanto, permanecem sub-representadas nas bases de morbidade.

A partir do levantamento realizado na base CNES/Recursos Humanos: Profissionais – Indivíduos, segundo CBO 2002 (Bahia), para saber a relação profissional observou-se que a plataforma do DATASUS não permite estabelecer relação direta entre os profissionais de saúde e o tipo de atendimento prestado.

Os dados disponíveis correspondem apenas ao número absoluto de profissionais cadastrados por ocupação, ano de competência e vínculo com o SUS, impossibilitando a identificação de sua atuação específica em programas ou serviços de saúde mental infantojuvenil. Ainda assim, a análise descritiva dos dados do CNES revela informações importantes na distribuição e evolução dos profissionais de saúde atuantes no estado da Bahia entre 2020 e 2025.

Entre 2020 e 2024, observou-se aumento contínuo do número de profissionais de nível superior vinculados ao SUS na Bahia, entre enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos. Esse crescimento aponta a expansão da cobertura de serviços de saúde e possivelmente o fortalecimento das equipes multiprofissionais em diferentes níveis de atenção, incluindo a saúde mental.

Os profissionais médicos psiquiatras, embora apresentem menor contingente, mantiveram evolução positiva até 2024 (de 3.837 para 4.998). Em 2025, verificou-se uma redução geral nos quantitativos de todas as categorias, fato que pode estar relacionado à atualização cadastral da base CNES ou à subnotificação temporária de vínculos ainda em processamento, e não necessariamente à diminuição real de profissionais atuantes (Tabela 3).

No conjunto, o CNES contabilizou em 2024 cerca de 391 mil vínculos ativos entre as principais ocupações de saúde analisadas, demonstrando um crescimento na força de trabalho do SUS baiano ao longo dos anos.

Tabela 3 – Evolução do número de profissionais de saúde atuantes no SUS, Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

 O número de equipes multiprofissionais de atenção especializada em saúde mental apresentou crescimento entre 2020 e 2023, passando de 135 para 970 equipes no estado da Bahia, um aumento de mais de 600% em quatro anos. Indicando um maior desenvolvimento dos serviços de saúde mental e possível reorganização da Rede de Atenção Psicossocial, ampliando a oferta de cuidados no território.

Nos anos subsequentes (2024–2025), observa-se uma redução nos registros (843 e 498 equipes, respectivamente), possivelmente associada a processos de recadastramento e consolidação de equipes no sistema CNES, sem evidências concretas de descontinuidade das ações (Figura 7).

Figura 7 – Evolução das equipes multiprofissionais de atenção especializada em saúde mental (EMAESM), Bahia, 2020–2025

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

A expressiva expansão das Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada em Saúde Mental (EMAESM) na Bahia, indo de 135 em 2020 para 970 em 2023, está em consonância com o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e os processos de habilitação de novos serviços, conforme regulamentado pelas portarias do Ministério da Saúde (GM/MS nº 1.365/2022) (Brasil. Ministério da Saúde, 2022).

A retração observada nos registros em 2024–2025 (843 e 498 equipes, respectivamente) pode refletir não uma descontinuidade da oferta, mas sim ajustes no cadastro no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e processos de recadastramento obrigatórios (GM/MS nº 5.738/2024) (Brasil. Ministério da Saúde, 2024), o que implica que o número real de equipes aptas a atuar possivelmente permaneceu estável ou em evolução, apesar da menor visibilidade administrativa.

Durante o período de 2020 a 2025, o número de profissionais atendendo pelo SUS na Bahia apresentou crescimento progressivo até 2024, seguido de leve redução em 2025. O total de vínculos passou de 329.684 em 2020 para 450.840 em 2024, correspondendo a um aumento de aproximadamente 36,8% no número de profissionais efetivamente vinculados à rede pública de saúde.

Em termos proporcionais, verificou-se estabilidade da cobertura SUS, com cerca de 84% a 86% dos profissionais cadastrados declarando atuação direta no sistema público ao longo da série histórica. A ligeira queda percentual observada em 2025 (83,4%) provavelmente se deve a atualizações cadastrais pendentes no CNES, uma vez que a competência mais recente (setembro/2025) ainda não representa o fechamento anual (Tabela 4).

Tabela 4 –Profissionais cadastrados e atendentes no SUS – Bahia (2020–2025)

Fonte: DATASUS (2025) elaborado pelos autores.

Esses resultados reforçam a relevância do SUS como principal empregador e campo de prática profissional no estado da Bahia, sustentando a rede de atenção básica, hospitalar e especializada, incluindo as áreas de saúde mental e atenção psicossocial.

O Plano Estadual de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – SUS Bahia (2024–2027) destaca o fortalecimento das políticas de valorização e ampliação da força de trabalho em saúde no estado, evidenciando o compromisso da gestão pública com a consolidação e qualificação dos vínculos profissionais. Esse documento reforça a tendência observada neste estudo de expansão gradual do número de profissionais atuantes no SUS baiano, refletindo esforços institucionais voltados à sustentação da rede assistencial e à integração entre atenção básica, especializada e saúde mental (Bahia. Secretaria da Saúde, 2024).

A análise conjunta das bases CNES e SIH/SUS evidencia que, embora não haja vínculo direto entre profissionais e tipo de atendimento registrado, o aumento de vínculos no SUS e de equipes multiprofissionais coincide com o crescimento das internações e atendimentos relacionados à saúde mental em crianças e adolescentes na Bahia.

Esse cenário sugere maior capacidade operacional do sistema público, com ampliação da rede de profissionais aptos a atuar na Rede de Atenção Psicossocial, fortalecendo o cuidado interprofissional e a descentralização das ações em saúde mental.

A análise integrada dos dados provenientes do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) evidencia uma série de relações indiretas e complementares entre a evolução das internações por transtornos mentais e o panorama dos profissionais e equipes atuantes no estado da Bahia no período de 2020 a 2025.

Embora as bases do DATASUS não permitam vincular diretamente o tipo de atendimento aos profissionais responsáveis, a comparação das tendências temporais e territoriais aponta associações consistentes entre a expansão da rede de recursos humanos e o aumento da capacidade assistencial da saúde mental no SUS baiano.

4 CONCLUSÃO

É notório um panorama complexo da saúde mental infantojuvenil na Bahia entre 2020 e 2025. Observou-se que as internações hospitalares se concentraram majoritariamente em transtornos mentais graves, como esquizofrenia e transtornos afetivos, com maior ocorrência entre adolescentes de 15 a 19 anos e predominância do sexo feminino.

O aumento progressivo das internações ao longo do período, após a pandemia de COVID-19, sugere tanto o agravamento das demandas psicossociais quanto a insuficiência dos serviços ambulatoriais para lidar com quadros de maior complexidade. Além disso, a concentração de casos em polos regionais como Salvador e Vitória da Conquista evidencia desigualdades na distribuição da Rede de Atenção Psicossocial, com sobrecarga dos centros urbanos e vazios assistenciais em municípios menores.

De forma complementar, o crescimento do número de profissionais e equipes multiprofissionais vinculados ao SUS até 2024 indica avanços na capacidade instalada do sistema público de saúde, embora persistam lacunas nos registros e na integração das informações entre os níveis de atenção. A ausência de dados sobre procedimentos terapêuticos no SIH/SUS reforça a necessidade de aprimorar a qualidade das bases de informação e fortalecer a vigilância em saúde mental.

Assim, este estudo contribui para compreender os desafios estruturais e organizacionais da assistência psiquiátrica infantojuvenil na Bahia, destacando a importância de políticas públicas que promovam o cuidado contínuo, territorial e equitativo.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, B. M.; BARRETO, A. S. M.; CAMPOS, A. M.; CARRANZA, B. L. P.; SANTANA, L. M. C. B. S.; ALMEIDA, L. M. G. F. DE; RIBEIRO, M. C.; MENDONÇA, N. P. V.; MENDONÇA, V. P. V.; SOARES, A. C. G. M. Os fatores associados à relação entre tempo de tela e aumento de ansiedade em crianças e adolescentes durante a pandemia de COVID-19: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 11, n. 8, p. e8511830515–e8511830515, 11 jun. 2022. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v11i8.30515.

ANGOLD, A.; COSTELLO, E. J. Puberty and depression. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, v. 15, n. 4, p. 919–937,  ix, out. 2006. DOI: https://doi.org/10.1016/j.chc.2006.05.013.

BAHIA. SECRETARIA DA SAÚDE. Plano estadual de gestão do trabalho e da educação na saúde – SUS Bahia. Salvador: SESAB/SUPERH, 2024. v. Superintendência de Recursos Humanos da Saúde. Disponível em: <https://www.conass.org.br/biblioteca/plano-estadual-de-gestao-do-trabalho-e-da-educacao-na-saude-sus-bahia-2024>.

BERTELLI, E. V. M.; OLIVEIRA, R. R. DE; SANTOS, M. L. A. DOS; SOUZA, E. M.; FERNANDES, C. A. M.; HIGARASHI, I. H. Time series of hospitalizations of adolescents due to mental and behavioral disorders. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, p. 1662–1670, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0800.

BIRD, H. R.; DUARTE, C. S. Dados epidemiológicos em psiquiatria infantil: orientando políticas de saúde mental. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 24, p. 162–163, 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-44462002000400002.

BORDIN, I. A. S.; PAULA, C. DE. Estudos populacionais sobre saúde mental de crianças e adolescentes brasileiros. Epidemiologia da saúde mental no Brasil, v. 101, p. 117, 2007. Disponível em:  <https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/3619/1/24.pdf>.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria GM/MS n.o 1.365, de 6 de junho de 2022: Habilita Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada em Saúde Mental e estabelece recurso do Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde – Grupo de Atenção Especializada, a ser incorporado ao limite financeiro de Média e Alta Complexidade – MAC de Estados e Municípios, 2022. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-1.365-de-6-de-junho-de-2022-409421798>.

___. Portaria GM/MS n.o 5.738, de 14 de novembro de 2024: Altera as Portarias de Consolidação MS n.os 3 e 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre o Centro de Convivência – CECO da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, 2024. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-5.738-de-14-de-novembro-de-2024-554879841>.

___. Saúde do Adolescente e Jovens. Governo Federal. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-do-adolescente/saude-do-adolescente-e-jovens>. Acesso em: 26 out. 2025.

CEBALLOS, G. Y.; SANTOS, D. N.; MOTA, E. L. A. Atendimento infantojuvenil em Centros de Atenção Psicossocial de Salvador, Bahia, Brasil. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 40, n. 3, 2016. Disponível em: <https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/1885>. Acesso em: 8 nov. 2025.

CERQUEIRA, D. R. C.; ALVES, P. P.; COELHO, D. S. C.; REIS, M. V. M.; LIMA, A. S. Uma análise da base de dados do Sistema de Informação Hospitalar entre 2001 e 2018: dicionário dinâmico, disponibilidade dos dados e aspectos metodológicos para a produção de indicadores sobre violência. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 2019. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/9058-sistemahospitalar.pdf>.

COUTO, M. C. V.; DUARTE, C. S.; DELGADO, P. G. G. A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 30, p. 390–398, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-44462008000400015.

CUBAS, J. M.; SCATOLIN, S. W.; CARVALHO, D. R. Fatores associados a indicadores de transtornos mentais em crianças e adolescentes: uma revisão integrativa. Publicatio UEPG: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 22, n. 1, p. 73–85, 2016. DOI: https://doi.org/10.5212/publicatio.

DHARMA, C.; AL-JAISHI, A. A.; COLLINS, E.; ORCHARD, C.; AMANKWAH, N.; LANG, J. J.; COLMAN, I.; WEEKS, M.; EDJOC, R. Assessing the impact of the COVID-19 pandemic on the mental health–related hospitalization rate of youth in Canada: an interrupted time series analysis. Health Promotion and Chronic Disease Prevention in Canada: Research, Policy and Practice, v. 44, n. 10, p. 417, 2024. DOI: https://doi.org/10.24095/hpcdp.44.9.02.

DIL, L.; MÉRELLE, S.; LOMMERSE, N.; PEEN, J.; SO, P.; VAN, R.; ZOETEMAN, J.; DEKKER, J. Gender-specific pathways in mental health crisis in adolescents, from consultation to (in)voluntary admission: a retrospective study. BMC Psychiatry, v. 24, n. 1, p. 235, 28 mar. 2024. DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-024-05680-9.

FEITOSA, H. N.; RICOU, M.; REGO, S.; NUNES, R. A saúde mental das crianças e dos adolescentes: considerações epidemiológicas, assistenciais e bioéticas. Revista bioética, v. 19, n. 1, p. 259–276, 2011. DOI: https://www.redalyc.org/pdf/3615/361533255017.pdf.

FELIX, E.; GREEN, J. G. Changes in Child and Youth Mental Health Following the Return To In-Person Learning Post-COVID-19 Pandemic. Current Psychiatry Reports, v. 27, n. 12, p. 704–710, 1 dez. 2025. DOI: https://doi.org/10.1007/s11920-025-01642-4.

KHAN, J. R.; HU, N.; LIN, P.-I.; EAPEN, V.; NASSAR, N.; JOHN, J.; CURTIS, J.; RIMMER, M.; O’LEARY, F.; VERNON, B. COVID-19 and pediatric mental health hospitalizations. Pediatrics, v. 151, n. 5, 2023. Disponível em: <https://publications.aap.org/pediatrics/article/151/5/e2022058948/191053?autologincheck=redirected&utm_source=TrendMD&utm_medium=TrendMD&utm_campaign=Pediatrics_TrendMD_0>. Acesso em: 9 nov. 2025.

KUEHNER, C. Why is depression more common among women than among men? The Lancet. Psychiatry, v. 4, n. 2, p. 146–158, fev. 2017. DOI: https://doi.org/10.1016/S2215-0366(16)30263-2.

LIMA, R. F. et al. Cenário Epidemiológico Dos Transtornos Mentais Notificados Em Crianças E Adolescentes No Estado Da Bahia Entre Os Anos De 2020 a 2024. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 7, n. 9, p. 372–391, 8 set. 2025. DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2025v7n9p372-391.

LIU, Y.; REN, Y.; LIU, C.; CHEN, X.; LI, D.; PENG, J.; TAN, L.; MA, Q. Global burden of mental disorders in children and adolescents before and during the COVID-19 pandemic: evidence from the Global Burden of Disease Study 2021. Psychological Medicine, v. 55, p. e90, jan. 2025. DOI: https://doi.org/10.1017/S0033291725000649.

MACEDO, J. P.; FONTENELE, M. G.; DIMENSTEIN, M. Saúde Mental Infantojuvenil: Desafios da Regionalização da Assistência no Brasil. Revista Polis e Psique, v. 8, n. 1, p. 121–131, abr. 2018. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152X.80421.

MARIN, D.; DI GENNARO, G.; BARACETTI, M.; ZANETTI, R.; BALESTRIERI, M.; COGO, P.; COLIZZI, M. Confirmation of increased and more severe adolescent mental health-related in-patient admissions in the COVID-19 pandemic aftermath: A 2-year follow-up study. Psychiatry Research Communications, v. 3, n. 2, p. 100119, 1 jun. 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.psycom.2023.100119.

MARTINI, M. I. et al. Sex Differences in Mental Health Problems and Psychiatric Hospitalization in Autistic Young Adults. JAMA Psychiatry, v. 79, n. 12, p. 1188–1198, 1 dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2022.3475.

MERIKANGAS, K. R.; NAKAMURA, E. F.; KESSLER, R. C. Epidemiology of mental disorders in children and adolescents. Dialogues in Clinical Neuroscience, v. 11, n. 1, p. 7–20, mar. 2009. DOI: https://doi.org/10.31887/DCNS.2009.11.1/krmerikangas.

MONTEIRO, D. DA S.; MARTINS, R. D.; GOMES, N. P.; MOTA, R. S.; CONCEIÇÃO, M. M. DA; GOMES, N. R.; NERY, C. L. P. D. Fatores associados ao transtorno mental comum em adolescentes escolares. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, p. e20190847, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0847.

NORONHA, F.; ARAÚJO, M. A. N.; BASTOS, M. M. Estratégias de cuidado à saúde mental na atenção básica: caminhos para ampliação da assistência. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 39, n. 3, p. 497–497, 2015. DOI: https://doi.org/10.5327/Z0100-0233-2015390300003.

OLIVEIRA, L. P. DE; ASTORI, V.; SOUZA, L. F. DE; CUZZUOL, R. D.; PESENTE, F.; OLIVEIRA, J. V. L. Challenges and approaches in the management of pediatric psychiatric emergencies: an integrative review. Brazilian Journal of Health Review, v. 7, n. 5, p. e74106–e74106, 30 out. 2024. DOI: https://doi.org/10.34119/bjhrv7n5-574.

OPAS/OMS. Saúde mental dos adolescentes – OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes>. Acesso em: 6 nov. 2025.

PAULA, C. S.; BORDIN, I. A. S.; MARI, J. J.; VELASQUE, L.; ROHDE, L. A.; COUTINHO, E. S. F. The Mental Health Care Gap among Children and Adolescents: Data from an Epidemiological Survey from Four Brazilian Regions. PLOS ONE, v. 9, n. 2, p. e88241, 18 fev. 2014. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0088241.

PIMENTEL, F. G.; BUCHWEITZ, C.; ONOCKO CAMPOS, R. T.; HALLAL, P. C.; MASSUDA, A.; KIELING, C. Realising the future: Health challenges and achievements in Brazil. SSM – Mental Health, v. 4, p. 100250, 15 dez. 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ssmmh.2023.100250.

RAMIRES, V. R. R.; PASSARINI, D. S.; FLORES, G. G.; SANTOS, L. G. DOS. Fatores de risco e problemas de saúde mental de crianças. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 61, n. 2, p. 1–14, ago. 2009. DOI: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1809-52672009000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.

ROUMELIOTIS, N. et al. Mental Health Hospitalizations in Canadian Children, Adolescents, and Young Adults Over the COVID-19 Pandemic. JAMA Network Open, v. 7, n. 7, p. e2422833, 8 jul. 2024. DOI: https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.22833.

SÁ, D. G. F. DE; BORDIN, I. A. S.; MARTIN, D.; PAULA, C. S. DE. Fatores de risco para problemas de saúde mental na infância/adolescência. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, p. 643–652, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000400008.

SILVA, M. G. DA; DAROS, G. C.; BITENCOURT, R. M. DE; ISER, B. P. M. Psychiatric hospitalizations in Brazil: exploratory and trend analysis from 2009 to 2019. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 70, p. 39–44, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000303.

SOLMI, M. et al. Age at onset of mental disorders worldwide: large-scale meta-analysis of 192 epidemiological studies. Molecular Psychiatry, v. 27, n. 1, p. 281–295, jan. 2022. DOI: https://doi.org/10.1038/s41380-021-01161-7.

SOUZA, M. L. P.; LIMA, R. C. Child psychiatric hospitalizations in the Brazilian public health system: an exploratory study. Trends in Psychiatry and Psychotherapy, v. 42, n. 3, p. 272–275, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/2237-6089-2019-0064.

THIENGO, D. L.; CAVALCANTE, M. T.; LOVISI, G. M. Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 63, p. 360–372, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000046.

TOLEDO, L.; RODRIGUES, R.; ALVES, F.; GUEDES, F.; ARAÚJO, J. DE; NASLUND, J.; BARRETO, M.; PATEL, V.; MACHADO, D. Risk of psychiatric hospitalization in low-income youth: longitudinal findings from the 100 Million Brazilian Cohort. International journal of epidemiology, v. 53, n. 6, 13 out. 2024. DOI: https://doi.org/10.1093/ije/dyae153.

VAUGHAN, C. A.; HALPERN, C. T. Gender Differences in Depressive Symptoms During Adolescence: The Contributions of Weight-Related Concerns and Behaviors. Journal of research on adolescence : the official journal of the Society for Research on Adolescence, v. 20, n. 2, p. 389–419, jun. 2010. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1532-7795.2010.00646.x.

ZHENG, H.; JIANG, X.; YANG, R.; WANG, S.; ZHONG, H. Changes in major psychiatric disorders in children and adolescents from 2001 to 2020: A retrospective single-center study. Frontiers in Psychiatry, v. 13, 9 jan. 2023. DOI: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.1079456.


1Discente do Curso Superior de Nutrição da Faculdade UNIFTC Juazeiro-BA e-mail: ketlenmayaraaraujo@gmail.com

2Discente do Curso Superior de Nutrição da Faculdade UNIFTC Juazeiro-BA

3Discente do Curso Superior de Nutrição da Faculdade UNIFTC Juazeiro-BA

4Docente do Curso Superior de medicina da Faculdade Estácio IDOMED Juazeiro-BA. e-mail: negoalvo@gmail.com

5Docente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade UNIFTC Juazeiro-BA. e-mail: castrosjoseph@gmail.com

6Docente dos Cursos Superior da Faculdade UNIFTC Juazeiro-BA. e-mail: jorge.nascimento@ftc.edu.br