TOOTH GERM TRANSPLANT AS AN ALTERNATIVE FOR EARLY LOSS OF THE FIRST MOLARS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202511181154
Max Ithalo Silva Muniz1
Marcelo Bressan Correa2
RESUMO
A perda precoce dos primeiros molares permanentes pode causar diversos problemas, como o comprometimento da oclusão, mastigação, locução e até assimetria facial. No Brasil, cerca de 20% da população infanto-juvenil apresenta perda do primeiro molar inferior permanente, por motivos de pouco conhecimento dos pais sobre a cronologia da erupção dental, dieta rica em açúcar e falta de higiene bucal. Isso, somado com pouco acesso a tratamento odontológico de qualidade, leva a extrações. Próteses e implantes não são recomendados para pacientes jovens, pois não acompanham o movimento e crescimento ósseo, então o transplante do germe dental pode ser uma alternativa para restabelecer as funções do dente perdido, tendo uma alta taxa de sucesso quando realizada a técnica do transplante do germe com dois terços de desenvolvimento radicular. Pode ser feito o uso de tecnologia digital, como tomografia computadorizada, escaneamento e impressão do germe, ou de modelos de proporções semelhantes, para que sirvam de guia durante o procedimento. Quando seguidas as recomendações pós-operatórias corretamente, o transplante autógeno chega a apresentar um sucesso em 90% dos casos, restabelecendo as funções do elemento perdido.
Palavras-Chave: Autotransplante. Cirurgia. Endodontia. Modelo 3D. Odontopediatria.
ABSTRACT
The early loss of permanent first molars can cause several problems such as impaired occlusion, chewing, speech and even facial asymmetry. In Brazil, around 20% of the child and adolescent population experience loss of the permanent lower first molar, due to parents’ little knowledge about the chronology of tooth eruption, a sugar-rich diet and lack of oral hygiene. This, combined with little access to quality dental treatment, leads to extractions. Prostheses and implants are not recommended for young patients as those do not follow bone movement and growth, so tooth germ transplantation can be an alternative to reestablish the functions of the lost tooth with a high success rate when using the germ transplant technique with two-thirds of root development. Digital technology such as computed tomography, scanning and printing of the germ or models of similar proportions can be used to serve as a guide during the procedure. When postoperative recommendations are followed correctly, autogenous transplantation is successful in 90% of cases, reestablishing the functions of the lost element.
Keywords: 3D modeling. Autotransplant. Endodonty. Odontopediatry, Surgery.
1. INTRODUÇÃO
O primeiro molar permanente tem muita importância na harmonia oclusal. Segundo Angle, ele representa a chave de oclusão, pois direciona e orienta o desenvolvimento do arco dentário permanente.[1]
A perda desse dente durante a fase de desenvolvimento pode comprometer a mastigação e a estética do sorriso, além de causar problemas na articulação da mandíbula, dificuldade de fala, diastema, assimetria facial e até interferir no aparelho auditivo.[2]
No Brasil, estudos conduzidos no índice CPOD (Cáries, Perdas e Obturações em Dentes Permanentes) em crianças e adolescentes demonstraram que o primeiro molar permanente é o dente mais propenso a cárie, com 21,57% de perda de pelo menos um desses dentes.[3]
Em muitos desses casos, o dente poderia ter sido tratado, mas muitos pais acham que a dentição permanente só se inicia entre 10 a 12 anos de idade escolhem a extração de dentes cariados pensando que são descíduos.[4]
A conduta comum para perda dental é a recomendação do uso de implantes ou próteses, mas ambos são de custo acessível que pode conservar o periodonto de sustentação e se adaptar com a erupção de dentes adjacentes e com o desenvolvimento facial. [8] [9]
Este é considerado uma alternativa contraindicados em pacientes em desenvolvimento, pois estes não acompanham o crescimento ósseo e movimento dental.[5]
O Transplante Autógeno de Dente Permanente é um procedimento cirúrgico onde um dente ou germe dentário é extraído do seu local de origem e posicionado em outro local na boca, substituindo um dente perdido para que recupere sua função e estética. [6, 7]
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os primeiros molares permanentes iniciam sua erupção por volta dos 6 anos de idade, estes não substituem nenhum outro dente, sendo considerado uma erupção calma, que muitas vezes não é percebida pelos pais.[3] [4]
Figura 1. Gráfico de cronologia do desenvolvimento dental. Dentes decíduos em cinza, Dentes Permanentes em branco.

Fonte: GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. Odontopediatria. 7. ed. ,2003, p.88
Os primeiros molares erupcionam aos 6 anos sem que tenha nenhuma troca dentária, a primeira troca só ocorrendo apartir dos 7 anos com os incisivos, sem a queda dos decíduos, muitos pais não notam que a criança tem dentes novos nessa idade. [4]
Fatores que contribuem para a cárie e possível perda dental incluem o alto consumo de açúcar, a baixa higiene bucal e o pouco acesso a tratamentos odontológicos.[3]
O transplante dental tem alta taxa de sucesso (78 a 96%)[13], principalmente em dentes com o ápice aberto, idealmente com ⅔ da raiz formada.[12] Esses procedimentos tiveram um diagnóstico correto, bom planejamento cirúrgico e as recomendações pós-operatórias foram respeitadas.[5]
O paciente precisa estar com o periodonto saudável, ausência de inflamação ou lesão no dente a ser transplantado, além de um osso alveolar que possibilite o suporte do mesmo na área que receberá o germe dental.[14] [12]
O procedimento é contraindicado se o germe dental não puder ser estabilizado no leito, se não tiver espaço no arco[⁸] ou se houver infecção no dente a ser transplantado ou na área receptiva – devendo, neste caso , ser tratada completamente a infecção antes do transplante.[13]
Após o transplante, é possível que sejam necessários procedimentos estéticos, ortodônticos ou endodônticos. Complicações no procedimento podem resultar em anquilose, reabsorção radicular, necrose e a perda do dente transplantado.[6]
3. METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão integrativa de trabalhos na área de odontologia.
A metodologia de pesquisa do artigo focou em estudos estatísticos de perda do primeiro molar em crianças e adolescentes, trabalhos de revisão de casos reais de transplante dental, especialmente de germe, alternativas econômicas para pacientes jovens e preparar o alvéolo antes de remover o técnicas modernas.
A exclusão não foi tão ampla pois a quantidade de pesquisa nesse tipo de procedimento não é grande, precisando utilizar informações de muitos artigos variados para fazer o trabalho.
O levantamento bibliográfico utilizou de plataformas como Pubmed, Revodonto, Scielo, Jendodon, entre outros, utilizando os descritores “autotransplante” e “terceiro molar”.
Os artigos foram publicados entre os anos de 1989 e 2023.
4. CONDUTA CLÍNICA
4.1 Pré-operatório
O Transplante Autógeno de Dente Permanente não depende só da técnica, mas também da avaliação, do planejamento pré-operatório e dos devidos cuidados pós-operatórios de responsabilidade do paciente.[12]
Solicita-se um exame radiográfico do alvéolo do elemento perdido e do germe dental a ser transplantado para saber o estágio de desenvolvimento radicular, a localização e o tamanho do dente para elaborar um planejamento cirúrgico adequado. [5] [8]
Pode-se também solicitar uma tomografia computadorizada do germe a ser transplantado ou um escaneamento e impressão 3D do mesmo, para ser usado durante a adequação do alvéolo como guia de orientação quanto a seu tamanho e profundidade antes de extrair o germe. [15]
Um estudo indica que dentes que passaram 60 minutos ou mais fora de um alvéolo demonstraram anquilose no acompanhamento pós-operatório, então germe ajuda a manter a vitalidade da raiz. [16]
Outra opção para o preparo é o uso de modelos metálicos pré-fabricados, baseados nos tamanhos médios de germe dental, que deverão ser comparados com as dimensões nas radiografias e usados no preparo do alvéolo durante a operação.[17]
Também receita-se pré-operatoriamente 1 comprimido de 4mg de dexametasona 1 hora antes do procedimento e profilaxia antibiótica, que diminui a incidência de processos infecciosos.[12]
4.2 Trans-Operatório
O procedimento inclui as seguintes etapas: Anestesia infiltrativa local na região doadora e receptora.[13] [7]
Incisão intrasulcular com lâmina de bisturi n°15 nas áreas envolvidas com descolamento do retalho com descolador de molt para amplo acesso aos campos cirúrgicos.[18]
O preparo do alvéolo é feito usando broca cirúrgica com irrigação de soro fisiológico estéril, preservando ao máximo as paredes do alvéolo para que se adapte corretamente ao germe.[6]
O modelo 3D do germe, ou o modelo metálico pré-fabricado, é usado como guia para testar a adaptação das paredes do alvéolo com o germe sem precisar extraí-lo antes, pois a ação de encaixe e desencaixe pode causar dano ao ligamento periodontal do dente a ser transplantado.[15] [17]
A osteotomia é realizada com muito cuidado e bastante irrigação, adaptando o fórceps quando necessário apenas na porção coronária para preservar a membrana do saco dental, já que se ela for lesionada pode levar a reabsorção ou anquilose [5] [8]
O germe é imediatamente colocado no novo alvéolo cuidadosamente em infra-oclusão, respeitando as orientações de sua face.[7]
Caso seja necessário preparar o alvéolo após a extração do germe, ele deve ser armazenado em recipiente com soro fisiológico 0,9% ou solução salina balanceada de Hank, pois possui pH e osmolaridade compatível com o periodonto. [19]
É favorável que o dente transplantado tenha contato direto com o seu alvéolo pois aumenta a irrigação e o sucesso do procedimento.[15] O dente deve ser estabilizado por uma sutura compressiva sobre a oclusal[14] – contenção auxiliar com fio ortodôntico (0,7 mm) em resina composta. [19] visa estabilizar o dente em seu leito receptor, permanecendo por 7 dias.[8]
Uma splintagem semi-rígida permite pequenos movimentos fisiológicos do dente no alvéolo receptor, o que promove uma união fibrosa ao invés de união óssea, permanece até o dente apresentar um grau de mobilidade pequeno. [¹²]
4.3 Pós-operatório
Uma radiografia é feita logo após a cirurgia, para avaliar a adaptação do germe e comparar com o desenvolvimento futuro.[7]
A medicação pós-operatória inclui antibiótico – Amoxicilina 500mg de 8/8 horas por 7 dias -, Antiinflamatório – Nimesulida 100mg de 12/12 horas por 3 dias -, analgésico – Dipirona sódica 500mg de 6/6 horas por 3 dias – e solução de enxágue para banhar a região – Digluconato de clorexidina 0,12% de 12/12 horas por 7 dias, iniciando 24 horas após o procedimento.[5] [6] [13]
O paciente não deve mastigar na região receptora por 90 dias, respeitando o tempo para formação do ligamento periodontal e a remodelação do alvéolo receptor[14] além de aderir a uma dieta de alimentos macios e pastosos por 2 semanas.[9]
5. RESULTADOS
Os principais critérios radiográficos que devem ser observados no germe transplantado são: ⅔ do desenvolvimento radicular, tamanho da câmara pulpar, alterações da membrana periodontal e alterações pulpares e periapicais.[14]
O paciente deve realizar avaliações clínicas e radiográficas com frequência após o procedimento: primeiramente depois de 48 horas; então visitas semanais pelo primeiro mês com testes pulpares para acompanhar a revascularização; e então visitas semestrais e anuais até completar a rizogênese. [5] [8]
O sucesso clínico do transplante é evidenciado pela presença de vitalidade pulpar e pela ausência de inflamação, mobilidade, doença periodontal, reabsorção radicular progressiva ou anquilose.[7]
6. CONCLUSÃO
Após o levantamento bibliográfico, conclui-se que o transplante do germe dental para alvéolo dos primeiros molares perdidos precocemente é uma alternativa viável de baixo custo com alto índice de sucesso desde que respeitado os critérios pré-estabelecidos como: A raiz em ⅔ de desenvolvimento, o paciente com saúde bucal estável, planejamento cirúrgico apropriado, e as recomendações pós-operatórias respeitadas pelo paciente.
7. REFERÊNCIAS
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[2] FEITOSA, L. C.; GONÇALVES, C. R.; YAMASHITA, R. K. Impactos da perda do primeiro molar permanente: Análise das causas, consequências e abordagens terapêuticas. Revistaft Ciências da Saúde, Volume 28, Edição 134/MAI 2024
[3] SILVA, A. J. et al. Perda de primeiros molares permanentes em crianças e adolescentes atendidos na Clínica-Escola de Odontologia – UFPE. Revista eletrônica Acervo Saúde. Out/2019
[4] JETPURWALA, M. et al. Parental Perception of the Importance of the Permanent First Molar in Their Children. J Dent Child (Chic). JAN/2020
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[11] MIKAMI, J. R. et al. Transplante Dental Autógeno – Relato de caso. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.4, p. 51-58, out/dez. 2014.
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[15] LEE, S. et al. Clinical application of computer-aided rapid prototyping for tooth transplantation. Dental Traumatology. vol. 17, p.114-119, 2001. ______________________________
[16] HAMMARSTRÖM, L.; BLOMLÖF, L.; LINDSKOG, S. Dynamics of dentoalveolar ankylosis and associated root resorption. Dental Traumatology, Vol 5., n. 4, pag. 163-175 Ago 1989.
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[19] DIOGUARDI, M. et al. Autotransplantation of the Third Molar: A Therapeutic Alternative to the Rehabilitation of a Missing Tooth: A Scoping Review. Bioengineering (Basel) vol. 8, p. 120, Set 2021
¹Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil. E-mail: maxithalo@gmail.com; mbcodo@gmail.com
