FATORES QUE ALTERAM A AQUISIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR EM CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN

FACTORS THAT AFFECT MOTOR DEVELOPMENT ACQUISITION IN CHILDREN WITH DOWN SYNDROME

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510071457


Adrielle L. F. da S. de Almeida
Anielle F. F. da S. de Almeida
Orientadora: Jociely P. Furlan


RESUMO

O objetivo dessa pesquisa é identificar e analisar os fatores que alteram a aquisição motora, considerando os marcos normais do desenvolvimento motor. Conforme as buscas realizadas, alguns dos principais fatores identificados incluem a cardiopatia congênita, responsável por 40% das alterações, a hipotonia, que se apresenta como a condição mais prevalente, caracterizada por fraqueza muscular, diminuição do tônus, e a frouxidão ligamentar (hiperextensibilidade), associada a 100% das alterações. Outros fatores relevantes são os problemas auditivos, que afetam entre 50% e 70% dos casos, problemas de visão de 15% a 50%, alterações da coluna cervical, que envolve de 1% a 10%, distúrbio de tireoide, representando 15%, e obesidade, que também está associada a alterações motoras. Além disso, a pesquisa destaca a importância do tratamento fisioterapêutico para promover o desenvolvimento motor em casos de aquisição tardia, visando alcançar o pico normal do desenvolvimento motor e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos portadores dessa síndrome. 

Palavras-chave: Desenvolvimento motor. Síndrome de Down. Intervenção motora.

ABSTRACT

The objective of this research is to identify and analyze the factors that alter motor acquisition, considering the normal milestones of motor development.  According to the conducted searches, some of the main identified factors include congenital heart disease, responsible for 40% of the alterations, hypotonia, which presents as the most prevalent condition characterized by muscular weakness and decreased tone, and ligamentous laxity (hyperextensibility), associated with 100% of the alterations. Other relevant factors are hearing problems, affecting between 50% and 70% of cases, vision problems from 15% to 50%, cervical spine abnormalities, involving 1% to 10%, thyroid disorders, representing 15%, and obesity, which is also associated with motor alterations. Furthermore, the research highlights the importance of physiotherapeutic treatment to promote motor development in cases of late acquisition, aiming to reach the normal peak of motor development and improve the quality of life of individuals with this syndrome.

Keywords: Motor development. Down syndrome. Motor intervention.

INTRODUÇÃO

A pesquisa abordou: Fatores que alteram a aquisição do desenvolvimento motor em crianças portadoras de Síndrome de Down. O desenvolvimento é contínuo e demorado, porém, em crianças portadoras de Síndrome de Down, é mais lento. Crianças com essa síndrome conseguem executar movimentos mais tardiamente, podendo alcançar estágios avançados de desenvolvimento, necessitando de estímulos coerentes com a sua condição. Portanto, faz-se necessário a intervenção de uma equipe fisioterapêutica, onde estabeleceram orientações aos pais para um melhor desenvolvimento. Segundo Pietricoski e Della (2020), a Síndrome de Down foi vista pela primeira vez pelo médico John Langdon Haydon Down em 1862. É uma das alterações genéticas cromossômicas mais conhecidas, trata-se de uma desordem genética, em que há a presença de três cromossomos 21 em uma grande parte das células. Essa modificação genética influencia o desenvolvimento de forma singular, determinando características físicas e cognitivas. 

Na síndrome de Down existe algumas características físicas, como alterações físicas temos a baixa estatura, perfil e crânio achatado, nariz pequeno, orelhas pequenas e de baixa implantação, pescoço curto e largo, fendas palpebrais, estrabismo, catarata congênitas, macroglossia, língua sulcada, mãos-largas e curtas, prega simiesca e aumento da distância entre o primeiro e segundo artelho.

Como classificação genética temos a trissomia 21 simples ou livre, a translocação e o mosaicismo, a trissomia 21 simples ou livre é classificada como uma mutação cromossômica numérica do tipo aneuploidia, onde pode ser observada a presença de um cromossomo 21 extra, aproximadamente 95% dos indivíduos com síndrome de Down apresentam essa alteração, nesse caso o cariótipo é representado por 47, XX, +21 (para mulheres) ou 47, XY, +21 (para homens). Pode se manifestar por mutação cromossômica estrutural, como a translocação entre cromossomos não homólogos, onde ocorre uma quebra no cromossomo 21, que se funde a outro cromossomo, esse tipo de alteração genética acontece em 5% dos casos, a translocação mais comum é a robertsoniana, envolvendo o cromossomo 14 e 21. A alteração caracterizada como mosaicismo acontece em uma pequena parte dos casos, na qual células trissômicas coexistem com células normais, a causa mais frequente é a não-disjunção pós-zigóticas inicial, em que o zigoto possui uma cópia extra do cromossomo 21, durante o processo de divisões mitóticas, esse cromossomo extra pode se perder em algumas células, resultando em diferentes números de cromossomos. Além disso, o mosaicismo pode se manifestar como linha germinativa (podendo afetar apenas os óvulos e espermatozoides), somáticos (afetando células além das germinativas) ou uma combinação de ambos. (Nussbaum et al., 2016)

Holle (1979) relata que crianças com essa síndrome costumam ser de uma estatura menor e ter um desenvolvimento físico, mental e motor mais lento que as não portadoras da síndrome. Crianças sem síndrome começam a caminhar com 12 a 14 meses, enquanto as crianças afetadas pela síndrome começam geralmente com 15 a 36 meses. Segundo a autora citada, a criança com síndrome de Down deve ser estimulada precocemente o seu desenvolvimento motor, iniciando-se com 15 dias após o nascimento. Quando iniciada desde cedo a estimulação, a criança desenvolverá um trabalho de maneira espontânea, criativa e afetiva. 

Entre o período de 0 a 18 meses encontra-se o maior marco do desenvolvimento motor da criança. Cada criança apresenta o seu tempo e se desenvolve conforme a maturação do seu Sistema Nervoso Central (SNC), juntamente com a ação do meio em que vivem. Acredita-se que para o melhor desenvolvimento motor das crianças com síndrome de Down, necessitam de um excelente ambiente familiar, apoio da família, estímulos sensoriais e um acompanhamento multidisciplinar, incluindo o fisioterapeuta, onde as aquisições motoras são mais possíveis de acontecer. A intervenção precoce é uma série de exercícios que ajuda no desenvolvimento de uma criança com atraso motor segundo a fase em que se encontra. Trata-se de uma série de ações que toda pessoa faz com os bebês. 

O presente estudo visa analisar os fatores que influenciam a aquisição do desenvolvimento motor em crianças com síndrome de Down, considerando tanto aspectos intrínsecos, como hipotonia muscular, frouxidão ligamentar e alterações cognitivas, quanto fatores extrínsecos, como ambiente familiar, estimulação precoce e acompanhamento fisioterapêutico. A compreensão desses elementos é fundamental para identificar quais variáveis podem potencializar ou dificultar o progresso motor, possibilitando a elaboração de estratégias de intervenção mais eficazes e individualizadas, que favoreçam a autonomia e a qualidade de vida dessas crianças.  

METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida a partir da investigação de quais os fatores intrínsecos à Síndrome de Down que contribuem para o atraso no desenvolvimento motor das crianças. As buscas foram realizadas nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), Revista FT e PubMed, com o uso dos descritores relacionados ao desenvolvimento motor (motor development), síndrome de Down (Down syndrome) e Intervenção motora (motor intervention). 

Os critérios de inclusão foram: artigos que abordassem o desenvolvimento motor no contexto da fisioterapia, disponíveis na íntegra, publicados em inglês, português e que apresentassem resultados claros e metodologias adequadas. Foram excluídas revisões da literatura, teses e dissertações, além de publicações que não estivessem diretamente relacionadas ao tema ou que apresentassem dados inconclusos. 

As buscas foram realizadas nos meses de abril a agosto de 2025, e após a triagem, os estudos selecionados foram lidos, e suas informações principais foram extraídas e sintetizadas para análise crítica. 

RESULTADOS

Inicialmente, foram selecionados 13 artigos sobre o tema desse estudo. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, identificou-se que alguns artigos apresentavam duplicidades, não abordavam diretamente o foco do estudo e não contemplavam o público-alvo definido, portanto, restaram 7 artigos para a análise final do presente trabalho. 

Tabela 1 – Estudos sobre desenvolvimento motor em crianças com Síndrome de Down.

Fonte: Elaborado pela autora (2025).

DISCUSSÃO

Os estudos selecionados, em conjunto tratam dos fatores que influenciam na aquisição das habilidades motoras e no desenvolvimento motor, sendo apresentados por autores em artigos que nos comprovam sobre como são encontradas essas alterações, a avaliação realizada por meio do que é demonstrado como marcos normais, o atraso e estratégias a serem aplicadas, baseadas em artigos que nos mostram quais seriam os melhores pontos, como identificar o momento de atraso em que se apresentam, desde o apoio das famílias e o ambiente em que as crianças se encontram. Os autores Herren e Herren (1986) ressaltam a importância da estimulação precoce para qualquer criança, com ou sem atraso no desenvolvimento. Essa estimulação precoce irá contribuir para que a criança venha a atingir novas fases em seu desenvolvimento. A estimulação precoce é uma série de exercícios para desenvolver as capacidades da criança, conforme a fase do desenvolvimento em que ela se encontra. É importante não fixar idades para a aquisição de habilidades, pois há grande variação no desenvolvimento das crianças com Síndrome de Down. Eles afirmam que o desenvolvimento global da criança depende muito do ambiente em que ela vive. Ele deve ser tranquilo, mas deve fornecer-lhe estímulos variados. Dados nos mostram que a parte sensorial está interligada à parte de desenvolvimento motor.

A estimulação precoce é mais indicada para bebês de 0 a 3 anos com risco ou atraso no desenvolvimento global. A intervenção precoce é de suma importância para essa criança, pois fornece todo o suporte para a fase inicial de desenvolvimento e contato com o ambiente. 

Os estudos analisados apontam um consenso quanto à influência de fatores biológicos, especialmente a hipotonia muscular e a frouxidão ligamentar, como principais causas do atraso motor em crianças com Síndrome de Down (Xaier, 2025). Além disso, há concordância de que a estimulação precoce e contínua desempenha papel essencial para a aquisição de habilidades motoras, sendo a fisioterapia, a equoterapia e programas de intervenção motora considerados eficazes para favorecer esse processo (Torquato et al., 2013).

Por outro lado, verificam-se divergências quanto ao peso atribuído a fatores ambientais, cognitivos e genéticos. Enquanto Henn, Piccinini e Garcias (2008) destacam a relevância do suporte familiar e do ambiente de estímulo, Silva e Kleinhans (2006) enfatizam a plasticidade cerebral e os processos cognitivos como determinantes no desenvolvimento. Já Moreira, El-Hani e Gusmão (2000) ressaltam os condicionantes genéticos da síndrome como elementos centrais para a variabilidade do desempenho motor.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento motor em crianças com Síndrome de Down é influenciado por diversos fatores, incluindo aspectos genéticos e fisiológicos, como hipotonia, frouxidão ligamentar e atrasos neurológicos, além de fatores ambientais, como estimulação adequada desde cedo, suporte familiar e acesso a terapias específicas. O estudo mostrou que essas crianças adquirem habilidades motoras gradualmente, porém, em comparação com crianças típicas, apresentam atrasos, principalmente em equilíbrio, coordenação e motricidade fina e grossa. Observou-se que intervenções precoces, planejadas e individualizadas são essenciais para reduzir essas diferenças, promovendo maior autonomia, participação social e qualidade de vida. Dessa forma, fica evidente que o acompanhamento multidisciplinar, envolvendo fisioterapia, atividades motoras e estímulo familiar, é crucial para apoiar o desenvolvimento motor e permitir que essas crianças alcancem seu potencial funcional máximo.

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