REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510071112
Carla da Silva Magro
Richarlison Toledo Máximo
Dr. Mário Euclides Pechara da Costa Jaeggi
RESUMO: A bienalidade é um fenômeno fisiológico característico do café arábica (Coffea arabica), marcado pela alternância entre safras altas e baixas. Este estudo avaliou a produção de uma lavoura de café arábica no período de 2020 a 2025, analisando a variabilidade anual e aplicando ferramentas estatísticas para estimar a intensidade da alternância. Os resultados mostraram produções de 222, 112, 300, 178, 237 e 200 sacas nos respectivos anos, com média de 208 sacas e coeficiente de variação de aproximadamente 30%. O índice de alternância de Pearce calculado indicou bienalidade moderada, enquanto a regressão linear apresentou baixo coeficiente de determinação (R²≈0,18), evidenciando que a oscilação não segue tendência linear. Conclui-se que a bienalidade é marcante no período analisado e estratégias de manejo são necessárias para suavizar esse comportamento.
Palavras-chave: cafeicultura; alternância de produção; índice de Pearce; Coffea arábica; produtividade.
ABSTRACT: Bienniality is a physiological phenomenon characteristic of Arabica coffee (Coffea arabica), characterized by alternating high and low yields. This study evaluated the production of an Arabica coffee plantation from 2020 to 2025, analyzing annual variability and applying statistical tools to estimate the intensity of alternation. The results showed yields of 222, 112, 300, 178, 237, and 200 bags in the respective years, with an average of 208 bags and a coefficient of variation of approximately 30%. The calculated Pearce alternation index indicated moderate bienniality, while linear regression showed a low coefficient of determination (R²≈0.18), demonstrating that the oscillation does not follow a linear trend. It is concluded that bienniality is significant during the analyzed period, and management strategies are needed to mitigate this behavior.
Keywords: coffee farming; production alternation; Pearce index; Coffea arabica; productivity.
INTRODUÇÃO
No ano de 2025, a produção nacional do café arábica (Coffea arábica) está estimada em 36,97 milhões de sacas, cultivadas em 1,48 milhão de hectares, assim a média da produtividade de 24,9 sacas por hectare. Esse volume representa aproximadamente 66,4% da safra total brasileira prevista para o ano. (FERREIRA; CAVATON, 2025).
A cultura do café arábica (Coffea arabica) é marcada por uma variabilidade produtiva ao longo dos anos, em que ciclos de altos e baixos rendimentos se alternam. Esse fenômeno, conhecido como bienalidade produtiva, representa um dos principais desafios para a estabilidade econômica e técnica da cafeicultura (Mendonça et al., 2011)
No ano de elevada produção, em muitos casos a planta precisa restaurar suas reservas fisiológicas, como resultado a queda no rendimento no ano seguinte comportamento característico da bienalidade negativa (DaMatta et al., 2007 apud Pereira et al., 2011).
No entanto, em condições de manejo adequado envolvendo práticas de poda, nutrição, irrigação e controle fitossanitário, evidencia-se possível atenuar essas variações e buscar uma bienalidade positiva, uma alternância menos brusca entre anos ou mesmo dois anos produtivos consecutivos com rendimentos satisfatórios (Broto, 2025)
Estudos em cafeeiros conduzidos sob diferentes espaçamentos, manejo e regimes de adubação têm demonstrado que esses fatores influenciam intensamente a intensidade da bienalidade (Pereira et al., 2011).
Nesse contexto, avaliar a bienalidade produtiva do café arábica no período de 2020 a 2025 torna-se relevante para compreender o comportamento da lavoura sob as mudanças climáticas, bem como as respostas ao manejo adotado pelo produtor.
O estudo pode otimizar as recomendações mais precisas de manejo, com a função de reduzir a variação entre safras e favorecer a produtividade sustentável. Mensurar os índices de bienalidade produtiva do café arábica entre os anos de 2020 e 2025.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados de produção foram obtidos na lavoura de café arábica (Coffea arábica) em relação a variedade catuai vermelho durante os anos de 2020 a 2025, foram obtidas as seguintes produções 222 sacas, 112 sacas, 300 sacas, 178 sacas, 237 sacas e 200 sacas de café beneficiadas no Sítio do Bom Fim, localizado no Município de Espera Feliz no Estado de Minas Gerais, Brasil (20º39´18´´S 41º51´39´´W, 882 metros de altitude).
O clima é Cwa (tropical de altitude), com verão ameno e inverno frio, variando entre as médias de máxima 25,3º e média das mínimas 12, 8º. A precipitação pluviométrica anual é em médias de 1.595 mm.
O estudo foi conduzido com base nos dados de produção de café arábica (Coffea arábica) no período de 2020 a 2025, os valores anuais foram expressos em sacas de 60 kg beneficiadas.
Para interpretar e compreender a dinâmica da produção do cafeeiro ao longo dos cinco anos avaliados, foram empregadas análises estatísticas que permitem descrever a variação, medir a intensidade da bienalidade e identificar possíveis tendências na série temporal. Inicialmente, aplicaram-se medidas de estatística descritiva (média, desvio-padrão e coeficiente de variação), que possibilitam resumir o comportamento geral da produção e sua variabilidade.
Depois, utilizou-se o índice de Pearce, que quantifica a alternância entre safras consecutivas e é amplamente adotado em estudos de bienalidade de culturas perenes. No último método, foi ajustado um modelo de regressão linear simples para verificar a existência de tendência temporal na produção e calcular o coeficiente de determinação (R²), indicador da qualidade do ajuste.
a) Realizou os cálculos de média aritmética:

b) Desvio-padrão (DP):

c) Coeficiente de variação (CV),

Onde:

d) Índice de Pearce:
O índice de alternância de Pearce–Doberšek-Urbanc (1957) foi aplicado para mensurar a intensidade da bienalidade produtiva, por meio da fórmula:

Onde:
- I = índice de alternância (0 = estabilidade; 1 = alternância máxima);
- Yi= produção observada na safra i.
e) Regressão linear: Foi ajustado um modelo de regressão linear simples para verificar a tendência da produção ao longo do tempo:

Onde:
- Y= produção (sacas);
- X = ano (transformado em variável numérica sequencial);
- a = intercepto;
- b = coeficiente angular (tendência anual).
RESULTADOS E DISCUSSÃO.
Com os resultados, as estatísticas descritivas da série de produção foram calculadas com o objetivo de caracterizar o comportamento médio e a variabilidade da produtividade no período avaliado. Os resultados estão apresentados na (Tabela 1).
Tabela 1 — Estatísticas descritivas da produção de café arábica no período de 2020 a 2025.
Medidas | Descrição | Resultado | Interpretação |
---|---|---|---|
Média (Me). | Produção média anual | 208 sacas | Representa o nível médio de produção |
Desvio-padrão (DP) | Dispersão em torno da média | 65 sacas | Indica alta variação entre as safras |
Coeficiente de variação (CV) | Relação percentual entre DP e média | 30 % | Variação moderada a alta |
Fonte: Dados da pesquisa (2020–2025).
Tabela 2 — Índice de alternância (Pearce) e regressão linear da produção de café arábica (2020–2025).
Medida | Descrição do indicador | Valor obtido | Resultado |
---|---|---|---|
Índice de Pearce (I) | Mede a alternância produtiva entre anos consecutivos | 0,23 | Bienalidade moderada. |
Equação de regressão (Ŷ) | Relação linear entre ano e produção | Ŷ = 209,67 − 2,9X | Tendência levemente decrescente no período analisado |
Coeficiente de determinação (R²) | Proporção da variação explicada pela regressão linear | 0,18 | O modelo linear explica apenas 18% da variação — oscilações não seguem tendência linear |
Fonte: Dados da pesquisa (2020–2025).
O índice de Pearce apresentou valor de 0,23, indicando alternância moderada típica do cafeeiro arábica, o índice de Pearce demonstra a alternância de produção, onde valores próximos de :0, pouca alternância e valores próximo de 1: indica uma alternância de produção muito acentuada.
A regressão linear demonstrou tendência levemente negativa e baixo coeficiente de determinação (R² = 0,18), reforçando que as variações produtivas são decorrentes da bienalidade fisiológica e não de um comportamento linear ao longo do tempo.
GRÁFICO 01: Produção de sacas de 60 kg de café arábica (Coffea arabica L), avaliadas no período de cinco anos.
Durante o período avaliado, as produções de café arábica em sacas de 60 kg beneficiadas, registraram-se uma alternância elevada de produção, como podemos verificar os resultados no (gráfico 01).

Quadro 02: Produção anual e variação percentual da produtividade do café arábica (2020–2025).
Ano | Produção (sacas) | Variação (%) em relação ao ano anterior | Situação |
---|---|---|---|
2020 | 222 | – | — |
2021 | 122 | −45,05 % | Queda (bienalidade negativa) |
2022 | 300 | +145,90 % | Aumento (bienalidade positiva) |
2023 | 178 | −40,67 % | Queda |
2024 | 234 | +31,46 % | Recuperação |
2025 | 200 | −14,53 % | Leve redução |
Dados experimentais do produtor (2025).
O cafeeiro apresenta o comportamento característico da bienalidade produtiva, com variações significativas entre anos de alta e baixa produção. Analisando os anos 2021, 2023 e 2025, período de bienalidade negativa, ou seja, baixa carga produtiva do cafeeiro, mesmo com essa adversidade, houve um aumento na produção do café.
Esse elevado aumento na produção indica adequada recuperação fisiológica das plantas após o ciclo da bienalidade, refletindo o efeito do manejo nutricional, pode haver esqueletamento para recuperação das plantas e controle fitossanitário adotado na lavoura.
Nos anos de 2020, 2022 e 2024 com bienalidade positiva, demonstrou uma variação na produção de sacas de 60 kg beneficiadas. Os resultados dos anos de 2020, 2022 e 2024 demonstram que, embora a bienalidade produtiva seja um fenômeno natural do cafeeiro, é possível reduzir suas oscilações por meio de um manejo eficiente, garantindo maior estabilidade e sustentabilidade na produção.
De modo geral, a análise demonstra que, embora a bienalidade seja um fenômeno próprio do cafeeiro, é possível diminuir suas variações por meio de práticas de manejo adequadas incluindo adubações equilibradas, podas programadas e controle de estresses bióticos e abióticos promovendo maior estabilidade e sustentabilidade da produção ao longo dos ciclos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MENDONÇA, R. F. et al. Abordagem sobre a bienalidade de produção em plantas de café. Enciclopédia Biosfera, v. 7, n. 13, p. 1-9, 2011.
FREITAS, S. de J. et al. Estimativa da bienalidade do cafeeiro Arábica manejado com a poda programada de ciclo e diferentes números de ramos ortotrópicos. 2019.
O que é bienalidade do café e como ela afeta a produção – Broto Notícias
PEREIRA, Sérgio Parreiras et al. Crescimento, produtividade e bienalidade do cafeeiro em função do espaçamento de cultivo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 46, p. 152-160, 2011.