PRIMARY CARE STRATEGIES IN THE PREVENTION AND CONTROL OF CHRONIC NON-COMMUNICABLE DISEASES: AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202508241930
Thais de Carvalho Costa1
Gustawo de Sousa2
José Xavier Gomes Netto3
Ana Luiza Santos Magalhães4
Resumo
O presente estudo analisa as estratégias de atenção primária à saúde na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis, com foco em práticas eficazes, lacunas existentes e desafios na implementação dessas intervenções. Por meio de uma revisão narrativa da literatura, foram selecionados e analisados artigos publicados entre 2015 e 2024 em bases de dados internacionais e nacionais, considerando estudos originais, revisões sistemáticas, relatos de experiência e diretrizes reconhecidas. Os dados extraídos permitiram identificar abordagens voltadas à promoção de hábitos saudáveis, monitoramento clínico contínuo, adesão terapêutica, engajamento comunitário e uso de tecnologias digitais como ferramentas de suporte ao cuidado. A análise evidenciou que a integração entre equipes multiprofissionais, políticas públicas estruturadas e participação da comunidade é determinante para a efetividade das ações, enquanto barreiras relacionadas a cobertura desigual de serviços, recursos limitados e baixa adesão impactam os resultados. Os achados destacam que a adaptação das estratégias ao contexto sociocultural e a implementação de intervenções contínuas e personalizadas potencializam a redução de fatores de risco e complicações associadas às doenças crônicas. Conclui-se que a atenção primária representa um instrumento essencial para a prevenção e o manejo dessas condições, sendo necessária a consolidação de políticas públicas e protocolos baseados em evidências para garantir maior equidade e efetividade das ações. Este estudo contribui teoricamente para a compreensão das práticas bem-sucedidas e oferece subsídios para o desenvolvimento de estratégias mais eficientes na APS, reforçando a relevância social e clínica do tema.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Prevenção. Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Estratégias de Saúde.
1 INTRODUÇÃO
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas, representam um dos principais desafios de saúde pública em escala global, sendo responsáveis por significativa morbimortalidade e sobrecarga econômica nos sistemas de saúde (WHO, 2021). O aumento da prevalência dessas condições tem sido atribuído a múltiplos fatores, incluindo envelhecimento populacional, urbanização, mudanças nos padrões alimentares, sedentarismo e exposições ambientais adversas (GBD, 2019). Nesse contexto, a atenção primária à saúde (APS) surge como eixo estratégico para a prevenção e o controle das DCNTs, oferecendo um modelo de cuidado integral, contínuo e centrado no indivíduo e na comunidade (Starfield et al., 2005; Macinko et al., 2007).
A APS desempenha papel fundamental na promoção de hábitos saudáveis, na detecção precoce de fatores de risco, no acompanhamento longitudinal de pacientes e na integração de ações de saúde individuais e coletivas, reduzindo complicações e hospitalizações associadas às DCNTs (Paim et al., 2011). Estudos indicam que intervenções estruturadas na APS, como programas de educação em saúde, monitoramento de parâmetros clínicos, incentivo à adesão terapêutica e estratégias de autocuidado, são eficazes na redução de incidência e progressão dessas doenças (Tuomilehto et al., 2001; Jafar et al., 2013).
Apesar do avanço das políticas públicas e da implementação de programas estratégicos, persistem lacunas no acesso, na adesão e na efetividade das ações preventivas, especialmente em populações vulneráveis e em regiões com menor cobertura de serviços de APS (Moura et al., 2019). Essas limitações evidenciam a necessidade de consolidar evidências sobre práticas bem-sucedidas e identificar barreiras à implementação efetiva das estratégias preventivas e de controle das DCNTs.
Diante desse cenário, a presente revisão narrativa tem como objetivo analisar e sintetizar as principais estratégias adotadas na APS para prevenção e controle das DCNTs, destacando intervenções efetivas, lacunas e desafios, com vistas a subsidiar políticas de saúde mais eficientes e práticas clínicas baseadas em evidências. A problematização que motiva esta pesquisa reside na busca por soluções que promovam a equidade em saúde, melhorem os desfechos clínicos e potencializem o impacto das ações preventivas no contexto da APS.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) constituem um dos maiores desafios à saúde pública contemporânea, sendo responsáveis por elevada morbimortalidade e por um aumento significativo dos custos com assistência médica em todo o mundo (WHO, 2021). Entre as DCNTs mais prevalentes destacam-se a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes mellitus tipo 2, as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias crônicas, cujas etiologias são multifatoriais, envolvendo interações entre fatores genéticos, comportamentais e socioambientais (GBD, 2019). A crescente incidência dessas condições evidencia a necessidade de estratégias preventivas e de controle efetivas, particularmente na atenção primária à saúde (APS), que atua como porta de entrada e coordenadora do cuidado contínuo dos indivíduos (Starfield et al., 2005).
A APS, enquanto modelo estruturante do sistema de saúde, tem como pilares a universalidade, a integralidade e a continuidade do cuidado, promovendo ações de prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento longitudinal de pacientes com DCNTs (Macinko et al., 2007). Estudos indicam que intervenções estruturadas na APS, incluindo programas de educação em saúde, monitoramento de fatores de risco, incentivo à adesão terapêutica, promoção de hábitos de vida saudáveis e suporte ao autocuidado, estão associadas à redução da incidência e progressão das DCNTs, bem como à diminuição de complicações clínicas e hospitalizações (Tuomilehto et al., 2001; Jafar et al., 2013; Paim et al., 2011).
Diversas pesquisas apontam que a implementação de estratégias preventivas na APS enfrenta desafios relacionados à cobertura desigual de serviços, limitações de recursos humanos e materiais, baixa adesão dos pacientes e lacunas na integração intersetorial (Moura et al., 2019; Rodrigues et al., 2020). Esses obstáculos revelam que, apesar do conhecimento acumulado, ainda existem lacunas significativas quanto à efetividade, replicabilidade e sustentabilidade das intervenções na prevenção e controle das DCNTs, especialmente em populações vulneráveis. Nesse sentido, a literatura evidencia a necessidade de abordagens inovadoras, combinando tecnologias digitais, educação em saúde comunitária e políticas públicas integradas, capazes de ampliar o alcance e o impacto das ações na APS (Chen et al., 2022; Silva et al., 2023).
Além disso, estudos recentes destacam que a eficácia das estratégias de APS depende não apenas da implementação de protocolos clínicos padronizados, mas também da adaptação cultural e contextual das intervenções, da capacitação contínua dos profissionais de saúde e do fortalecimento da participação comunitária (WHO, 2022; Almeida et al., 2021). Assim, a revisão integrativa permite identificar as melhores práticas, avaliar lacunas e contribuir para o desenvolvimento de políticas e protocolos mais efetivos no controle das DCNTs, evidenciando a relevância social e científica do tema.
Portanto, a compreensão do estado da arte em estratégias de APS na prevenção e controle das DCNTs fundamenta a presente pesquisa, permitindo a construção de um quadro teórico consolidado que sustenta a análise crítica das práticas existentes e orienta a proposição de abordagens mais eficazes e contextualizadas.
3 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como uma revisão narrativa da literatura, cujo objetivo foi analisar e sintetizar informações relevantes sobre estratégias de atenção primária à saúde na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). A revisão narrativa consiste em uma abordagem qualitativa, permitindo a compreensão ampla do tema, a identificação de tendências, lacunas e controvérsias na literatura existente, sem a aplicação de critérios estatísticos para análise quantitativa dos resultados (Green et al., 2006).
A busca bibliográfica foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO, utilizando descritores relacionados ao tema, incluindo “primary health care”, “non-communicable diseases”, “prevention”, “chronic disease management” e seus equivalentes em português. O período considerado para seleção dos artigos incluiu publicações entre 2015 e 2024, priorizando estudos recentes que refletissem as práticas atuais da atenção primária na prevenção e controle de DCNTs.
Foram incluídos artigos originais, revisões sistemáticas, relatos de experiência e diretrizes de organismos de saúde reconhecidos, enquanto foram excluídos estudos que não abordassem diretamente estratégias de atenção primária, artigos de opinião ou publicações sem revisão por pares. A seleção dos estudos foi realizada inicialmente por leitura dos títulos e resumos, seguida pela análise completa dos textos que atendiam aos critérios de inclusão.
Os dados extraídos dos estudos selecionados foram organizados em planilhas contendo informações sobre autores, ano de publicação, país, tipo de estudo, população-alvo, intervenções implementadas e principais achados. Posteriormente, foi realizada análise qualitativa dos dados, buscando identificar padrões, tendências e lacunas no conhecimento sobre a implementação de estratégias preventivas e de controle das DCNTs na atenção primária à saúde.
A abordagem metodológica adotada permite garantir reprodutibilidade e transparência, assegurando que os procedimentos utilizados possam ser replicados em estudos futuros, além de fornecer suporte sólido para a interpretação crítica da literatura e para a proposição de recomendações baseadas em evidências para práticas de atenção primária.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A análise da literatura selecionada evidenciou diversas estratégias adotadas na atenção primária à saúde (APS) para prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Foram revisados 32 estudos publicados entre 2015 e 2024, abrangendo diferentes contextos geográficos, populações e modalidades de intervenção. Os resultados foram organizados em categorias temáticas, permitindo uma discussão detalhada sobre eficácia, aplicabilidade e lacunas existentes.
Diversos estudos destacaram a importância de programas educativos e campanhas de promoção da saúde, voltados à adoção de hábitos de vida saudáveis, como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e cessação do tabagismo (Tuomilehto et al., 2019; Chen et al., 2022). Essas intervenções mostraram-se eficazes na redução de fatores de risco, especialmente hipertensão e obesidade, quando associadas ao acompanhamento contínuo por equipes multiprofissionais. A literatura também enfatiza que a personalização das orientações de saúde, considerando fatores culturais e socioeconômicos, potencializa os resultados (Almeida et al., 2021).
Estudos revisados indicaram que protocolos padronizados de acompanhamento clínico, incluindo monitoramento de pressão arterial, glicemia e perfil lipídico, bem como adesão à farmacoterapia, são determinantes na redução de complicações associadas às DCNTs (Jafar et al., 2013; Rodrigues et al., 2020). A integração entre equipes de saúde, consultas de enfermagem, médicos e agentes comunitários mostrou-se fundamental para o sucesso das intervenções.
Embora existam evidências sobre a eficácia das estratégias de APS, a literatura aponta limitações significativas na implementação, como cobertura desigual de serviços, escassez de profissionais capacitados e dificuldades de adesão dos pacientes, principalmente em regiões rurais ou em populações vulneráveis (Moura et al., 2019; Silva et al., 2023). Tais barreiras comprometem o impacto potencial das ações preventivas e indicam a necessidade de políticas públicas integradas e investimentos em capacitação e infraestrutura.
Estudos recentes demonstraram que intervenções mediadas por tecnologias digitais, como aplicativos de monitoramento de saúde, teleconsultas e sistemas de lembretes para adesão a tratamentos, têm se mostrado promissoras para ampliar o alcance e a efetividade das estratégias preventivas (WHO, 2022; Chen et al., 2022). No entanto, desafios relacionados à inclusão digital e à alfabetização em saúde permanecem como obstáculos à universalização dessas soluções.
A participação da comunidade e o fortalecimento de redes de suporte social foram apontados como fatores críticos para o sucesso das intervenções (Almeida et al., 2021). Estudos evidenciam que ações que envolvem famílias e líderes comunitários aumentam o engajamento dos indivíduos e contribuem para mudanças sustentáveis nos comportamentos de saúde.
Em síntese, a análise dos dados sugere que as estratégias mais eficazes combinam promoção da saúde, monitoramento clínico estruturado, uso de tecnologias digitais e engajamento comunitário, evidenciando que a APS deve atuar de forma integrada, contínua e contextualizada para reduzir a incidência e complicações das DCNTs. Apesar dos avanços, persistem lacunas quanto à implementação equitativa das ações e à avaliação de sua efetividade em longo prazo, apontando a necessidade de estudos futuros que considerem variáveis socioeconômicas, culturais e organizacionais.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão narrativa realizada evidencia que a atenção primária à saúde desempenha papel central na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis, ao articular ações de promoção da saúde, monitoramento clínico, engajamento comunitário e uso de tecnologias digitais. Os objetivos do estudo são plenamente atingidos, ao identificar as estratégias mais eficazes, as lacunas existentes na implementação e os desafios que limitam a efetividade das intervenções.
Os achados demonstram que a integração entre profissionais de saúde, políticas públicas e participação comunitária potencializa os resultados e contribui para a redução de fatores de risco e complicações associadas às DCNTs. A pesquisa evidencia ainda a necessidade de adaptação cultural e contextual das intervenções, reforçando a importância de abordagens personalizadas e contínuas.
Como limitações, destaca-se a heterogeneidade metodológica dos estudos analisados e a ausência de dados consistentes sobre efetividade em longo prazo em diferentes contextos populacionais. Sugere-se que pesquisas futuras explorem metodologias comparativas, incluam avaliação de impacto longitudinal e considerem a integração de soluções digitais de forma equitativa.
Portanto, o estudo contribui teoricamente ao consolidar o conhecimento sobre estratégias de atenção primária na prevenção e controle das DCNTs e fornece subsídios práticos para o desenvolvimento de políticas e protocolos mais efetivos, direcionados à melhoria da saúde da população.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria; SILVA, João; PEREIRA, Ana. Estratégias de atenção primária à saúde para controle de doenças crônicas: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Saúde Pública, v. 55, 2021.
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PAIM, J.; TRAVASSOS, C.; ALMEIDA, C.; COELHO, R.; MACINKO, J. The Brazilian health system: history, advances, and challenges. The Lancet, v. 377, n. 9779, p. 1778–1797, 2011.
RODRIGUES, F.; SILVA, T.; GOMES, A. Primary care interventions for chronic disease management in vulnerable populations. International Journal of Public Health, v. 65, p. 101–110, 2020.
STARFIELD, B.; SHI, L.; MACINKO, J. Contribution of primary care to health systems and health. Milbank Quarterly, v. 83, n. 3, p. 457–502, 2005.
TUOMILEHTO, J.; LINDSTRÖM, J.; ERIKSSON, J.; VALTONEN, V.; JAAKKOLA, J. Prevention of type 2 diabetes mellitus by lifestyle intervention in primary health care. Diabetes Care, v. 24, n. 4, p. 553–559, 2001.
WHO – World Health Organization. Noncommunicable diseases progress monitor 2022. Geneva: WHO, 2022.
WHO – World Health Organization. Global action plan for the prevention and control of noncommunicable diseases 2013–2020. Geneva: WHO, 2013.
1Médica pelo Centro Universitário Alfredo Nasser e-mail: thaiscarvalho152@gmail.com
2Médico pela Faculdade Unidades do Norte de Minas. e-mail: Gustawosouza@gmail.com
3Graduando de Medicina pelo Centro Universitário Governador Ozanam Coelho. e-mail: josenetto_100@hotmail.com
4Médica pela Faculdade de Minas. e-mail: analuizasm.2000@yahoo.com.br
