INCIDÊNCIA DE LESÃO POR PRESSÃO EM UTI ADULTO E MEDIDAS PARA PREVENÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

INCIDENCE OF PRESSURE INJURY IN ADULT INTENSIVE CARE UNITS AND MEASURES FOR PREVENTION: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202508101448


Isabel Cristina Cunha Guedes1
Maria de Fátima Oliveira Vidal2
Ana Claúdia Rodrigues da Silva3


Resumo

A lesão por pressão (LP) se define como uma lesão localizada na pele ou tecidos moles subjacentes acarretada pela pressão ou uma combinação entre esta e forças de fricção. Diante disso, observou-se a relevância de compreender a multicausalidade da incidência de LP na UTI adulto, servindo como parâmetro de indicador de qualidade da assistência de enfermagem. Objetivo geral: Analisar a incidência de LP em UTI adulto e as principais intervenções de enfermagem para prevenção desse tipo de lesão. Objetivos específicos: Identificar a incidência de LP na UTI adulto, realizar um levantamento dos fatores de riscos envolvidos na ocorrência da LP em UTI para compreensão do direcionamento das intervenções preventivas e identificar as principais intervenções preventivas de enfermagem. Método: Revisão sistemática da literatura com metassíntese, cuja questão norteadora foi: quais os fatores que aumentam a incidência de LP na UTI e quais as medidas aplicadas para prevenção e controle da LP relacionada à assistência de enfermagem no ambiente de terapia intensiva? A busca dos estudos foi realizada na SCIELO, LILACS, BVS e PubMed/MedLine, os resultados foram analisados pelo método PRISMA. Resultados: Esta revisão de 24 artigos, com predominância brasileira, indica que a incidência de LP em UTI de Adulto varia amplamente (6,14% a 20%), influenciada por fatores como tempo de internação, hipertermia e ventilação mecânica. Logo, algumas das principais medidas preventivas de enfermagem incluem mudanças de decúbito, cuidados com a pele, barreiras protetoras e aplicação de escalas de avaliação de risco. Conclusão: A incidência é multifatorial e variável, sendo agravada pela COVID-19. Sendo fatores de risco, o tempo de internação, idade avançada e uso de dispositivos. A prevenção eficaz exige capacitação da enfermagem e protocolos padronizados, porém a inconsistência na aplicação dessas medidas reforça a necessidade de mais educação e melhores registros.

Palavras-chave: Lesão por pressão. Unidade de Terapia Intensiva de Adulto. Incidência. Prevenção; Enfermagem.

1   INTRODUÇÃO

A lesão por pressão (LP) se define como uma lesão localizada na pele ou tecidos moles subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea, acarretada pela pressão ou uma combinação entre esta e forças de fricção (Pott et al., 2023). Desse modo, é considerada como um evento adverso, pois pode ser evitada e corresponde a uma complicação que muitos pacientes estão suscetíveis ao seu desenvolvimento, também constituindo-se como um indicador de qualidade da assistência de enfermagem.

Nesse sentido, a lesão por pressão possui causa multifatorial, em que os fatores de riscos pertinentes estão em alguns grupos: condições mecânicas, a magnitude e o tempo de duração das forças mecânicas aplicadas e modo de ação; suscetibilidade ou tolerância da pessoa, englobando a anatomia interna do indivíduo (Pott et al., 2023) . A LP integra uma problemática de saúde pública frequente no mundo, com índices de prevalência em nível mundial, nas Unidades de Cuidado Intensivo (UCI), que variam de 1,54% a 32,7%, e a incidência, de 5,2% a 53,4% (Picoito et al., 2023).

Dentro dessa dimensão, o National Pressure Injury Advisory Panel (NPIAP) pode apresentar classificações, que podem ser divididas em: estágios 1, 2 , 3 e 4, sendo lesão por pressão não classificável, lesão por pressão tissular profunda, lesão por pressão relacionada a dispositivo médico e lesão por pressão em membranas mucosas (Nóbrega et al., 2023). Esta condição é associada como um indicador negativo da qualidade da assistência em saúde e de enfermagem, sendo a sua prevenção considerada atualmente o sexto alvo entre as Metas Internacionais para Segurança do Paciente (Nóbrega et al., 2023).

Estudos evidenciam que os pacientes críticos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) como os que apresentam riscos mais elevados para o desenvolvimento dessas lesões em consequência da imobilidade no leito, instabilidade clínica e intervenções invasivas (Ali et al., 2020). Dessa maneira, observa-se que a incidência de LP afeta a qualidade da assistência em saúde prestada, e assim pode ser utilizada como parâmetro para elaboração de protocolos e avaliação das diversas estratégias para a prevenção.

Desse modo, este estudo tem como intuito compreender a multicausalidade da incidência de lesão por pressão na UTI adulto e a perspectiva das estratégias de prevenção mais eficazes para manutenção da integridade da pele, servindo como parâmetro de indicador de qualidade em serviço e da assistência de enfermagem.

Assim, tem como objetivo analisar a incidência de lesão por pressão em Unidade de Terapia Intensiva adulto e as principais intervenções para prevenção. A partir do exposto, a pergunta norteadora deste estudo foi: Quais os fatores que aumentam a incidência de Lesão por pressão na UTI e quais as medidas aplicadas para prevenção da LP relacionada à assistência de enfermagem no ambiente de terapia intensiva?

2   REVISÃO DA LITERATURA

Na revisão de literatura serão discutidos aspectos relevantes ao estudo, nos quais estão incluídos: Lesão por pressão em UTI, fatores de risco para incidência de LP e as medidas de prevenção de LP em pacientes de UTI.

2.1  Lesão por pressão em UTI

Segundo o National Pressure Injury Advisory Panel (NPIAP) (2020), as lesões por pressão (LP) são definidas como lesões que acometem a pele e/ou os tecidos subjacentes que se localizam geralmente sobre uma proeminência óssea, sendo causadas por pressão intensa ou ainda pela combinação de pressão e cisalhamento, que podem estar relacionadas ao uso de dispositivos médicos e outros artefatos.

Dessa forma, o NPIAP classifica as lesões por pressão em quatro estágios (de 1 a 4); LP não classificável; LP tissular profunda; há ainda as LPs relacionadas a dispositivo médico, que são classificadas da mesma forma que as demais LPs; e as LPs em membranas mucosas que não são classificadas devido à anatomia do tecido (Ali et al., 2020).

As lesões por pressão constituem um problema de saúde pública frequente no mundo, com índices de prevalência que variam até 72,5% em diferentes contextos clínicos e geográficos (Pott et al., 2023). As LPs são um dos eventos adversos mais prevalentes e incidentes na UTI, com taxas de incidência variando entre 8,8 a 25,1% no mundo todo. Estudos nacionais revelam taxas de incidências entre 13,6 e 59,5% (Ali et al., 2020). Tais índices refletem uma relação de forma indireta a qualidade da assistência prestada, dessa maneira, utiliza-se como parâmetro na avaliação de estratégias e elaboração de protocolos para prevenção.

Sendo assim, as escalas para avaliação de risco para lesão por pressão mais conhecidas e aplicadas são: Norton, Gosnell, Wartelow e Braden, sendo a última mais utilizada em adultos e estudada no Brasil. A utilização de uma escala de avaliação de risco em uma unidade de terapia  intensiva  é  de fundamental relevância uma vez que  através  da  mesma  são identificados os fatores de risco, bem como as medidas de prevenção (Galleto et al., 2019).

Por conseguinte, o Ministério da Saúde do Brasil lançou em 2013 o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e no qual integra a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, proposta pela Organização Mundial de Saúde, cujo objetivo é instituir medidas que aumentem a segurança e a qualidade dos serviços de saúde. Assim, a prevenção de lesões por pressão constitui a sexta meta entre as Metas Internacionais para Segurança do Paciente (Furtado et al., 2022).

2.2  Fatores de risco para incidência de LP

A ocorrência de LP apresenta uma prevalência ainda grande nos vários setores da assistência à saúde, com destaque em unidades de internação de pacientes críticos. O desenvolvimento da LP é, muitas vezes, decorrente da ausência de execução de normas básicas de segurança do paciente, sendo considerado multifatorial, pois inclui fatores internos do indivíduo (idade, morbidades, estado nutricional, hidratação, condições de mobilidade e nível de consciência) e externos (pressão, cisalhamento, fricção e umidade) (Ferro et al., 2020).

A UTI costuma ser apontada como o lugar em que o paciente está mais suscetível a desenvolver LP, devido a ser uma área que admite pacientes que normalmente apresentam mobilidade ausente ou prejudicada, que é um fator determinante para o surgimento de LP, já que, a dificuldade de mobilização obriga automaticamente o paciente a manter-se em restritivos tipos de posições, o que corrobora como sendo um dos principais fatores de risco por causar a destruição tecidual (Ferro et al., 2020).

O surgimento de LP está diretamente correlacionado com um aglomerado de fatores, sendo estes subdivididos em intrínsecos e extrínsecos. Dentre os fatores intrínsecos estão aqueles referentes a questões singulares do paciente: idade, tabagismo, estado nutricional alterado, hipertermia, incontinência fecal e/ou urinária, diminuição da perfusão tecidual, o uso de alguns medicamentos e as doenças crônicas (como Diabetes Mellitus, doenças cardiovasculares entre outras). No que concerne aos fatores extrínsecos, tratam-se daqueles referentes ao ambiente externo ao paciente, como, colchão inapropriado, ausência de mudança de decúbito, a pressão, o cisalhamento, umidade, higiene corporal inadequada com presença de sangue ou suor, dentre outros (Otto et al., 2019).

Alguns estudos conforme Ferro et al. (2020) referem-se a umidade decorrente da exposição da pele pela incontinência urinária e anal como um exemplo de fator de risco na gênese da LP. Visto que o excesso de umidade macera e enfraquece as camadas superficiais da pele, tornando-a mais suscetível ao surgimento de possíveis lesões, principalmente quando associada à fricção e ao cisalhamento constante.

A Escala de Braden, um dos instrumentos utilizados para auxiliar os enfermeiros em ações preventivas no controle do surgimento de lesões por pressão de acordo com uma pesquisa realizada por Santos et al. (2018) apresentou como os itens mais pontuados em grupos de riscos leve e elevado para o desenvolvimento de LP, citando: atividade (acamado), percepção sensorial (completamente limitada), mobilidade (completamente imóvel), fricção e cisalhamento (problema).

Destarte, os fatores de risco são diversos o que gera uma multicausalidade da problemática, consequentemente provoca outros eventos adversos, como o prolongamento do tempo de internação, aumento do risco para o desenvolvimento de infecções e dos custos do tratamento, assim retardando a recuperação.

2.3  Medidas de prevenção de LP em pacientes de UTI

As LP são consideradas como eventos adversos ocorridos no processo de hospitalização, que refletem de forma indireta a qualidade do cuidado prestado. Assim, torna-se necessário a instrumentalização do profissional no qual está diretamente ligado ao processo de cuidados, instrumento esse que o capacitará a colocar em prática procedimentos que irão minimizar os fatores de risco que levam ao surgimento das úlceras bem como seus agravos quando a instalação for inevitável. O conhecimento das medidas de prevenção e características da úlcera por pressão deve fazer parte do rol de conhecimento dos profissionais da área de enfermagem (Vargas et al., 2019).

Posto isto, a prevenção das LP pode ser alcançada através de diferentes estratégias adotadas pelos enfermeiros, tais como: aporte nutricional, tratamento tópico, controle da umidade da pele e a mudança de decúbito ou decúbito de execução relativamente simples e que não implica gastos hospitalares, tornando conveniente a sua adoção como parte de rotina de cuidados ao longo do período de internação do paciente (Oliveira et al., 2021).

Os profissionais que cuidam diretamente de pacientes em estado crítico e que se preocupam com a prevenção de LP podem encontrar na literatura ferramentas ou escalas que auxiliam na identificação de fatores de risco presentes no paciente. A Escala de Braden é a mais empregada mundialmente, na qual utiliza escores que podem variar de 6 a 23 pontos. Assim, quanto mais baixa a pontuação maior o risco do paciente desenvolver LP. Foi estabelecido por Braden que na UTI, essa avaliação deve ser feita na admissão, novamente em 48 horas, e após a cada dia (Vargas et al., 2019).

Um estudo revelou que as principais intervenções de enfermagem identificadas foram a realização da Escala de Coma de Glasgow, Escala de Agitação e Sedação Richmond, avaliação das pupilas, cabeceira elevada a 30°, monitorização dos sinais vitais e avaliação da Escala de Braden (Oliveira et al., 2021).

Também se concluiu que cabe ao enfermeiro analisar e desenvolver ações preventivas frente ao surgimento de lesões por pressão em pacientes na Unidade de Terapia Intensiva pois, sendo responsabilidade deste profissional realizar as avaliações referentes aos possíveis riscos levando-se em conta o perfil do paciente no momento da admissão, e consequentemente aplicar as medidas preventivas adequadas às necessidades do mesmo, destacando-se como uma ação preventiva primordial a mudança de decúbito, aplicação da Escala de Braden e Glasgow, assim como Aferição dos Sinais Vitais (Oliveira et al., 2021).

Em síntese, a literatura revela que medidas preventivas, tais como ações de avaliação de risco e Escala de Braden auxiliam os profissionais para prevenção de LP. Outrossim, os cuidados com a integridade da pele, como a prevenção de lesões, também constitui-se um importante elemento da prática do enfermeiro, o que auxilia na identificação de possíveis fatores de risco que podem levar ao desenvolvimento de LP em pacientes da UTI. Não só os cuidados diretos, como também a educação continuada foi apontada como um forte aliado na prevenção de LP. Assim, aperfeiçoar-se, torna-se passo fundamental para que os cuidados prestados pela enfermagem no âmbito da Unidade de Terapia Intensiva, seja pautado na assistência de qualidade ao paciente hospitalizado (Vargas et al., 2019).

Logo, a importância do enfermeiro na prevenção de Lesões por Pressão na UTI é fundamental, considerando o ambiente crítico e a vulnerabilidade dos pacientes. A atuação proativa dos enfermeiros não apenas diminui a incidência de LP, mas também melhora os resultados gerais da saúde dos pacientes na UTI, promovendo uma recuperação mais rápida e reduzindo o tempo de internação.

3   METODOLOGIA

Essa pesquisa trata-se de uma revisão sistemática que é um método cujo objetivo visa sintetizar as evidências, avaliando-as criticamente e interpretando-as em todas as pesquisas relevantes disponíveis para uma questão em particular, com a finalidade de obter uma visão geral e confiável. É notória a importância desse tipo de estudo para a comunidade acadêmica, pois permite generalizar os dados, aumentando a validade externa dos estudos; identifica a necessidade de planejamento de estudos maiores e definitivos; fornece informações para estimar o tamanho da amostra para futuras pesquisas, e responde perguntas não abordadas pelos estudos individualmente (Brasil, 2012).

Essa revisão sistemática será realizada a partir das seguintes etapas:

  1. elaboração da pergunta de pesquisa (através do acrônimo PICO);
  2. busca na literatura;
  3. seleção dos artigos;
  4. extração dos dados;
  5. avaliação da qualidade metodológica;
  6. síntese dos dados;
  7. avaliação da qualidade das evidências;
  8. redação e publicação dos resultados.

Para elaborar a pergunta da pesquisa foi utilizado o acrônimo PICO, conforme Brasil (2021) , que é composto pelos seguintes significados: P – população; I – intervenção; C – comparação e O – outcomes (desfecho). Dessa forma, para essa pesquisa:

  • P: Estudos com pacientes adultos suscetíveis a desenvolver lesão por pressão (LP) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI);
  • I: Medidas preventivas para redução do desenvolvimento LP.
  • C: Não se aplica nessa pesquisa.
  • O: Prevenção de LP em adultos na UTI.

    A estratégia PICO a ser utilizada resultou na seguinte questão: quais os fatores que aumentam a incidência de Lesão por pressão na UTI e quais as medidas aplicadas para prevenção da LP relacionada à assistência de enfermagem no ambiente de terapia intensiva?

    A hipótese é que alguns fatores acarretam o aumento da incidência de Lesão por pressão na Unidade de Terapia Intensiva. E dentre os principais fatores encontrados na pesquisa estão: os déficits nutricionais, uso de suporte ventilatório, fricção, cisalhamento, umidade, alteração circulatória, aumento da pressão, idade, período prolongado de internação, presença de doenças crônicas, lesões medulares, incontinência urinária e/ou fecal, inconsciência e, principalmente, a restrição de movimentos por tempo prolongado.

    Outra hipótese é que medidas preventivas, tais como ações de avaliação de risco com o uso de escalas e o cuidado com a integridade da pele auxiliam os profissionais na prevenção de lesões por pressão. E demais ações como a mudança de decúbito, a realização das Escalas de Braden e de Glasgow e a aferição dos sinais vitais se configuram como as principais intervenções de enfermagem identificadas no estudo, as quais corroboram que a proatividade dos enfermeiros não apenas diminui a incidência de LP, mas também melhora os resultados gerais da saúde dos pacientes na UTI.

    Será realizada uma revisão sistemática da literatura por metassíntese, através das bases de dados Brazil Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed/MedLine (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através dos seguintes descritores: Lesão por pressão; Unidade de Terapia Intensiva de Adulto; Incidência; Prevenção, Enfermagem, utilizando-se a terminologia nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs). O período de realização da busca nas bases de dados será entre os meses de novembro de 2024.

    Serão utilizados os operadores booleanos AND e OR. As estratégias empregadas serão (Lesão por pressão AND Unidade de Terapia Intensiva de Adulto AND Incidência) OR (Lesão por pressão AND Unidade de Terapia Intensiva de Adulto AND Prevenção).

    Os critérios de inclusão serão: pesquisas contendo os descritores Lesão por Pressão; Unidade de Terapia Intensiva de Adulto; Incidência; Prevenção, em adultos maiores de 18 anos, com data de publicação dos últimos 5 anos, disponíveis na íntegra em língua portuguesa, inglesa ou espanhola encontrados em uma das quatro quatro bases de dados: Brazil Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed/MedLine (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

    Os critérios de exclusão são: artigos que abordam a população pediátrica e neonatal devido às especificidades diferentes da população adulta, artigos não provenientes de pesquisas, artigos que não tratem de lesão por pressão, que não abordam a incidência e as medidas de prevenção de lesão por pressão, além da exclusão de monografias, artigos de doutorado e de trabalhos não publicados, artigos que não abordem de pacientes na UTI.

    A busca será por estudos que respondam à pergunta de pesquisa e que tenham como tema a incidência de lesão por pressão em pacientes adultos em unidades de terapia intensiva, abordando as principais intervenções para prevenir e controlar esse tipo de ferida.

    Após a seleção dos artigos, será utilizado o instrumento para a extração de dados, de acordo com o modelo abaixo (TABELA 1).

    Tabela 1. Modelo de instrumento para extração dos dados.

    Fonte: Autoria própria, 2024.

    Na análise de dados será utilizado o nível de evidência, segundo Stillwell (2010). De acordo com essa metodologia a qualidade das evidências é categorizada em sete níveis, sendo o nível 1 os estudos de maior nível e gradativamente ao 7, que é o de menor nível de evidência científica, como descrito no quadro abaixo:

    Tabela 2. Classificação dos níveis de evidência.

    Fonte: Araújo et al., 2019 .

    Na apresentação dos resultados, será utilizado o fluxograma de acordo com a diretriz metodológica Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses PRISMA®, para tornar o estudo o mais transparente possível. Nesse fluxograma são identificados o número de estudos encontrados em cada fase de seleção, a elegibilidade dos artigos, bem como a exclusão deles e a conclusão no número de artigos.

    A síntese de dados que tem como objetivo responder à pergunta da pesquisa será realizada de modo qualitativo, comparando os resultados encontrados em cada estudo de acordo com cada desfecho, elucidando ainda, os pontos em comum entre eles.

    Após a síntese dos dados, serão realizadas a análise das informações através da utilização do programa Microsoft Excel, sendo realizada estatística descritiva simples com números absolutos e porcentagens; e por fim, a discussão dos resultados obtidos.

    Este projeto de pesquisa recorrerá exclusivamente às fontes bibliográficas, de cunho acadêmico-científico, sendo dispensado de análise ética, conforme prevê artigo 1º da Resolução CNS n.º 510, de 2016.

    Essa revisão será realizada com integridade e transparência. Serão utilizados protocolos pré-definidos, sendo evitado viés na seleção e análise dos estudos e o relato de qualquer desvio do protocolo de forma honesta. A confidencialidade e a privacidade das informações dos participantes dos estudos primários serão garantidas, e seus dados serão tratados com sensibilidade e anonimato.

    Esta revisão foi registrada na PROSPERO com o código CRD42024607367, um banco de dados internacional que registra protocolos de revisões sistemáticas em saúde e ciências sociais. Desse modo, o registro nessa plataforma garante a transparência e o rigor do processo desta pesquisa, proporcionando maior confiabilidade aos resultados obtidos.

    A divulgação dos resultados será realizada de forma ética e responsável, sendo garantidas a precisão e a clareza na apresentação dos resultados, evitando interpretações sensacionalistas ou exageradas que possam distorcer a compreensão dos leitores.

    Serão respeitados os direitos autorais e fornecidas citações apropriadas que garantem o reconhecimento adequado do trabalho dos pesquisadores envolvidos, evitando-se o plágio.

    EVIDÊNCIAS

    A busca resultou em 645 registros recuperados nas bases de dados, com a leitura de todos os títulos e resumos, ao final 24 estudos foram incluídos neste sumário (Figura 1). Os estudos excluídos e os motivos de exclusão são apresentados no Apêndice 2.

    Fonte: Autoria própria, 2025; adaptada da recomendação PRISMA 2020.

    4   RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Tabela 3. Artigos incluídos na revisão.

    Fonte: Autoria própria, 2025.

    Nessa revisão foram encontrados 24 artigos relevantes. O mapa a seguir (figura 2) mostra que o Brasil foi o país com o maior número de publicações relevantes para este estudo, totalizando 10 artigos (41.67%). A Turquia contribuiu com 4 artigos (16.67%), enquanto a China apresentou 3 artigos (12.5%). Austrália e EUA tiveram cada um 2 artigos (8.33%). Irã, Espanha e Noruega contribuíram com 1 artigo cada, representando cerca de 4.17% do total de artigos encontrados.

    Figura 2. Mapa dos países dos artigos encontrados.

    Fonte: Autoria própria (2025), Google Planilhas.

    Com base na análise dos 24 estudos apresentados na tabela, observou-se o predomínio de estudos com nível de evidência IV, representando 66,7% do total. Os estudos com nível de evidência I correspondem a apenas 16,7%, enquanto 8,3% apresentam nível V, 4,2% são de nível II, e outros 4,2% estão classificados como nível VI. Portanto, há uma preponderância de pesquisas observacionais e descritivas e uma escassez de revisões sistemáticas e metanálises, comprometendo a solidez das recomendações.

    Ao observar a análise dos objetivos desta pesquisa é possível observar que a taxa de incidência de LP na UTI Adulto teve uma grande variação nos estudos incluídos. Através de uma análise comparativa teve estudo que indicou uma incidência consideravelmente menor (6, 14 %), enquanto outro apresenta uma taxa de 20 % (Rodrigues et al., 2021). Observa-se que tais resultados tiveram algumas variáveis que podem refletir ou não nesta taxa, são elas o tempo de internação, hipertermia, ventilação mecânica, sedação e uso de drogas vasoativas.

    Dentre estas variáveis, o tempo de internação como variável de diferença estatística significativa, visto que a literatura aponta como uma relação direta em um tempo maior que 30 dias para o surgimento de LP (Rodrigues et al., 2021). A hipertermia também apresentou uma significância em relação ao aumento de lesões, pois a temperatura corporal elevada acelera o metabolismo e com isso leva à desvitalização tecidual e um consequente maior risco de tecido necrótico na lesão (Jiang et al., 2020).

    Quanto à ventilação mecânica demonstrou-se uma associação direta, uma vez que estava presente em mais da metade dos pacientes que desencadearam lesões e quanto à sedação também houve resultados que corroboram para uma relação significativa entre a variável e o aparecimento de LP’s, pois o déficit sensorial ocasionado pelo seu uso acarreta em imobilidade no leito, fraqueza muscular e, consequentemente, a LP (Buffon et al., 2024). Por fim, não houve impacto significativo no desenvolvimento de tais lesões no grupo de pacientes que realizam uso de drogas vasoativas.

    Desta forma, existem fatores que estão associados à ocorrência ou não de LP, sendo eles favoráveis ou de proteção. Entre eles temos os dados demográficos, em que a idade se revela como um fator diretamente proporcional, quanto mais avançada maior o risco de desenvolver uma lesão, visto que a integridade da pele e capacidade de cicatrização torna-se enfraquecida ; dados clínicos, como diabetes e edema, que deixa os pacientes mais propensos e vulneráveis, os níveis elevados de glicose diminuem a atividade dos neutrófilos e a capacidade de resistir à corpos estranhos (Gou et al., 2023).

    Tabela 4. Fatores de risco para LP.

    Fonte: Autoria própria, 2025.

    Em contrapartida, níveis altos de hemoglobina e de albumina sérica funcionam como um “escudo”, sendo uma relação inversamente proporcional, hipohemoglobinemia leva a aumento da sensibilidade tecidual devido à baixa oxigenação e hipoalbuminemia afeta o sistema imunológico, provocando a formação de edema. Assim como pontuações baixas na escala de Braden significam maior suscetibilidade, levando em conta a umidade, mobilidade, fricção e cisalhamento (Gou et al., 2023).

    O tempo de uso de dispositivo médico também contribui como um fator, caso seja prolongado, resulta na deformação das células do tecido, inflamação e hipóxia, além de que conforme mais dispositivos o paciente possui, maior a probabilidade de pressão local do corpo, uma estimativa de 2,4 vezes para aumento de dispositivo utilizado (Gou et al., 2023). Logo, posições de pronação e ausência de mudança de decúbito favorece a fragilidade.

    A avaliação do risco utilizando a escala de Braden funciona como preditor importante de risco, em que sua pontuação repercute em um impacto para o desenvolvimento de LP. Conforme apresentado na figura abaixo, a respectiva pontuação possui efeito inversamente proporcional, pois quanto menor a pontuação total da escala de Braden maior o risco de LP ( Risco baixo – acima de 19 pontos, Risco moderado – entre 13 e 18 pontos, Risco alto- abaixo de 12 pontos ) (Gou et al., 2023).

    Figura 3. Escala de Braden, distribuição da pontuação conforme o risco.

    Fonte: Resultados conforme Rodrigues et al., 2021.

    Ademais, tem-se as Lesões provocadas por dispositivos (LRPDM) se divergem das lesões clássicas, pois são ocasionadas pelo prolongamento de uso dos equipamentos terapêuticos necessários à assistência de pacientes adultos que estão internados em UTI, por conseguinte estes pacientes se encontram mais vulneráveis ao desenvolvimento desse tipo de lesões por se encontrarem em instabilidade hemodinâmica e necessitar de diversas intervenções (Assis et al., 2021).

    Desta maneira, alguns dispositivos são as causas como tubo endotraqueal, máscara de ventilação não invasiva, cânula nasal (11,9%), cateteres (4,0%), tubo de traqueostomia, sondas, máscara de pressão positiva contínua nas vias aéreas (15,9%) são utilizados com frequência em pacientes críticos e tendem a uma prevalência de LPRDM equivalente a 62,4%, de acordo com um estudo realizado em UTI no Brasil (Dirgar et al., 2024).

    Na distribuição por região corporal, tendo em conta a maior frequência das LPRDM, temos cabeça e pescoço com 62,3 %, com destaques para a área do nariz (26,8%) e boca (15,9%); e outras regiões como pernas com 14, 1 %, braços (8,8%), mãos com a inclusão dos dedos( 8,4 %), calcanhares (5,3 %), nádegas (2,6 %) e costas (1,3 %) (Reisdorfer et al., 2023).

    Assim, observa-se que em relação aos dispositivos médicos (MRDPI) como fonte causadora de dano, há uma incidência de 47 % em região sacral, com classificação Grau 1; sendo que essa incidência de MRDPI totaliza em torno de 22 % de predomínio (Reisdorfer et al., 2023).  A partir disso, ficou evidente que os dispositivos médicos em sua maioria ocasionam uma vulnerabilidade às lesões por serem posicionados incorretamente, tempo prolongado de uso, monitoração ineficaz, o que afeta a formação e gravidade das feridas.

    Em virtude da pandemia de COVID-19 é passível a observação de um impacto significativo no aumento da incidência de LP, como consequência do rápido aumento do número de internações de pacientes em UTI com sérias complicações e que necessitavam de um suporte de tratamento considerado complexo. Em um estudo de coorte realizado por Buffon et al. (2024), encontrou-se uma diferença significativa na incidência, sendo que em pacientes com COVID-19 foi encontrado um total de 60,3% e os sem COVID-19 35,8%.

    Esta mudança de incidência pode ser evidenciada por mudanças nas características do local, lesões e nível de gravidade das lesões. Sendo resultantes na maioria das vezes pelas diversas variáveis de risco às quais o paciente foi exposto, como terapias de suporte em posição prona, nutrição prejudicada, ventilação invasiva. No que se refere a posição prona, cerca de 44,7 % dos internados com COVID-19 foi realizada esta manobra como terapia de suporte e mais de 50 % dos que foram submetidos a esta manobra permaneceram por mais de 16 horas nesta posição. Dessa forma, 73,5 % dos casos que estavam nesta posição desenvolveram dano cutâneo relacionado à pressão (Buffon et al., 2024).

    Além disso, com a pandemia houve a necessidade do aumento da utilização de dispositivos respiratórios e como consequência a ventilação invasiva ganhou destaque, com uso de diversos dispositivos, como cânulas nasais e máscaras de pressão positiva contínua nas vias aéreas. Estes dispositivos foram ventilados invasivamente em cerca de 50 % dos casos, causando lesão tecidual e ocasionando em um número que pode chegar a até 60 % do total de MDRPIs (Sato et al., 2023).

    Outro fator que interferiu nessa maior incidência durante a pandemia de COVID-19 foi que houve uma criação de leitos de UTI em um espaço curto de tempo e com isso houve uma demanda para contratação de mais profissionais de saúde, em que dispuseram de tempo para treinamento e adaptação. Desta maneira, há uma sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem que alcançou um valor de NAS ≥ 100% (carga de trabalho muito elevada) (Buffon et al., 2024) . Assim, salienta-se que pelo fator humano ser a principal barreira de proteção e prevenção do desenvolvimento de LP e consequentemente com o cuidado de enfermagem sendo realizado por profissionais com um nível elevado de sobrecarga ocasiona em um risco elevado de incidência e prevalência das lesões.

    A capacitação contínua da enfermagem é crucial para reduzir Lesões por Pressão (LP), conforme evidenciado por um estudo em um CTI de hospital universitário no RS (Buffon et al., 2024), que destaca o fator humano no cuidado de enfermagem como primordial. Mesmo com divergências na literatura sobre a associação entre alta carga de trabalho e LP, é claro que profissionais sobrecarregados podem ter sua capacidade de fornecer cuidados preventivos comprometida, resultando em atendimento menos apropriado. A pandemia de COVID-19 intensificou esses desafios, pois a rápida expansão de UTIs e a contratação de novos enfermeiros sem tempo para treinamento e adaptação podem ter diminuído os cuidados preventivos de LP, além da natural priorização de pacientes graves (Buffon et al., 2024).

    A prevenção de Lesões por Pressão (LP), incluindo as Lesões por Pressão Associadas a Dispositivos Médicos (LPRDM) e Lesões por Pressão Adquiridas no Hospital (HAPI), é um pilar da segurança do paciente e da qualidade assistencial, exigindo uma abordagem multifacetada que envolve desde protocolos padronizados e recursos adequados até a capacitação contínua da equipe multiprofissional e o aprimoramento dos registros.

    O desenvolvimento de LP é um indicador de qualidade assistencial e está intrinsecamente ligado à avaliação adequada, planos de cuidados bem elaborados, protocolos assistenciais e organizacionais, além de recursos humanos, materiais e estruturais da instituição (Reisdorfer et al., 2023). Desse modo, a identificação de fatores de risco e a localização das LP são essenciais para o desenvolvimento de protocolos preventivos direcionados, especialmente em populações vulneráveis como pacientes pronos com COVID-19, onde a alta incidência de HAPI (62%) exige protocolos específicos para decúbito ventral e dorsal (Sato et al., 2023).

    Além disso, a tecnologia desempenha um papel crescente nessa prevenção. A utilização de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) e cenários de simulação clínica para ensino e educação continuada dos profissionais são propostas futuras visando a melhoria contínua da qualidade do cuidado, sendo a incidência de LP um indicador chave para avaliar a eficácia das medidas preventivas (Rodrigues et al., 2021).

    Contudo, desafios como a sobrecarga da equipe e a qualidade dos registros podem comprometer esses esforços. Registros imprecisos ou incompletos de informações dos pacientes, caligrafia ilegível e a falta de menções aos cuidados de enfermagem nos relatórios são problemas significativos (Noie et al., 2024). Superar essas barreiras envolve a revisão de protocolos, reestruturação de sistemas eletrônicos, construção de materiais visuais, capacitação da equipe e o apoio da liderança (Sichieri et al., 2024).

    A prevenção de Lesões por Pressão (LP) é uma responsabilidade multiprofissional, com a enfermagem desempenhando um papel central na prevenção, avaliação e tratamento, embora as medidas atuais possam ser insuficientes (Vocci et al., 2022). A atuação do enfermeiro é crucial na definição de condutas preventivas, instituição de protocolos, reposicionamento, uso de dispositivos e avaliação precoce da pele. Contudo, a contribuição de nutricionistas, fisioterapeutas e médicos é igualmente indispensável para otimizar a redução de LP (Reis et al., 2023). A capacitação contínua dos enfermeiros de terapia intensiva, por sua vez, demonstra um impacto positivo nas atitudes preventivas, ressaltando a importância de treinamentos regulares (Topan et al., 2024).

    A efetividade das intervenções preventivas para LP é inquestionável na prática clínica e demanda uma atenção multifacetada a diversos fatores e intervenções, conforme evidenciado pela literatura. Fatores como o ângulo da cama, o tipo de colchão, a frequência de mudança de posição, a mobilidade do paciente e a contenção física influenciam diretamente o desenvolvimento dessas lesões (Noie et al., 2024).

    Especificamente, a elevação do ângulo da cama para 45° pode reduzir a chance de ocorrência de LP em um fator de 0,91, o que siginifica que essa simples mudança de posição pode reduzir a probabilidade de ocorrência de LPs em 9%. Por outro lado, a ausência de um colchão ondulado, a falta de mudança de posição a cada duas horas, o deslocamento com uma cama de RCP, a imobilidade e a contenção física aumentam a probabilidade de LP, com coeficientes de 1,34, 1,78, 1,30, 1/60 e 1/38, respectivamente, o que indica que aumentam as chances de LP em 34%, 78%, 30%, 60% e 38%, respectivamente (Noie et al., 2024). Para Lesões por Pressão Relacionadas a Dispositivos Médicos (LPRDM), as recomendações incluem vigilância contínua, reposicionamento dos dispositivos sempre que possível e manutenção da pele seca e limpa (Assis et al., 2021).

    Além das intervenções diretas, a avaliação de parâmetros fisiológicos e a mobilização precoce emergem como estratégias complementares. Em um estudo conduzido na China, demonstrou-se que a medição da temperatura da pele e a análise de atributos vasculares podem não apenas prever a LP, mas também identificar com maior precisão pacientes com alto risco (Jiang et al., 2020). Adicionalmente, a exposição à fisioterapia tem se mostrado um fator protetor significativo contra a ocorrência de LP, conforme observado em estudo que aponta a capacidade de mobilização e as mudanças de decúbito como fatores protetores. A movimentação dos membros, mesmo que passiva, promove a melhora da circulação sanguínea, aumentando a oferta de oxigênio aos tecidos e prevenindo o surgimento de lesões e contraturas (Lopes et al., 2021).

    Tabela 5. Medidas de Prevenção de Lesões por Pressão (LP) na Enfermagem

    Fonte: Autoria própria, 2025.

    Ademais, a padronização de protocolos assistenciais baseados em evidências é crucial para garantir a qualidade e consistência das intervenções preventivas de lesões por pressão (LP), otimizando resultados e a segurança do paciente. É essencial identificar os fatores de risco e os locais de ocorrência de HAPI, especialmente em pacientes em decúbito ventral (62%) como os com COVID-19 na UTI, para desenvolver protocolos que abranjam posições dorsal e ventral (Sato et al., 2023). A implementação dessas práticas baseadas em evidências demonstrou melhorias significativas na prática clínica, conforme um estudo em hospital universitário certificado pelo JBI. Esse avanço foi alcançado através do envolvimento da equipe multiprofissional, liderança clínica e apoio institucional, com a intervenção educativa como pilar para aprimorar as práticas e superar barreiras (Sichieri et al., 2024).

    A incidência de lesão por pressão (LP) em um estudo realizado na Espanha (23,5%) superou a de um estudo chinês (21,4%), uma diferença que pode ser explicada pelas distintas características demográficas e clínicas basais dos participantes (Jiang et al., 2020). Essa variação corrobora a ampla variabilidade na aplicação das medidas preventivas para LP em pacientes críticos, conforme apontado por Cobos-Vargas (2022). As causas dessa heterogeneidade são multifacetadas e refletem diretamente as diferenças regionais e institucionais na adoção de protocolos, que incluem o uso de protocolos próprios de cada instituição, a falha em incorporar medidas com evidências comprovadas, e a necessidade de ajuste das intervenções ao perfil de risco individual do paciente. Essa situação leva a uma disparidade entre as medidas indicadas por escalas de risco e aquelas realmente aplicadas, evidenciando lacunas na padronização e na efetividade das práticas preventivas.

    5   CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Este estudo confirma a multicausalidade da incidência de lesão por pressão (LP) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em adultos. Identificou-se que a taxa de incidência varia significativamente, com estudos que mostram desde 6,14% até 20%. Essa variação pode ser influenciada por fatores como tempo de internação, hipertermia, ventilação mecânica, sedação e uso de drogas vasoativas. Além disso, a pesquisa demonstra que a pandemia de COVID-19 elevou a incidência de LP devido à complexidade dos casos e à sobrecarga da equipe, e evidencia que a capacitação contínua da enfermagem reduz a ocorrência dessas lesões.

    Os resultados apontaram que fatores como idade avançada, tempo de internação prolongado, ventilação mecânica, sedação, diabetes, edema, hipohemoglobinemia, hipoalbuminemia e uso prolongado de dispositivos médicos aumentam significativamente o risco de LP e Lesões por Pressão Relacionadas a Dispositivos Médicos (LPRDM). Dessa maneira, identificou-se que as principais intervenções preventivas de enfermagem incluem mudanças de decúbito, uso de colchões terapêuticos, cuidados com a pele, hidratação, barreiras protetoras e a aplicação de escalas de avaliação de risco, como a Braden.

    Por fim, o estudo ressalta que a padronização de protocolos baseados em evidências e a atuação multiprofissional melhoram a qualidade da assistência e a segurança do paciente. Contudo, reconhece que a variabilidade na aplicação das medidas preventivas persiste, o que reforça a necessidade de intervenções educacionais e o aprimoramento dos registros para garantir a efetividade das ações.

    Apesar da relevância dos achados desta revisão sistemática, é importante reconhecer limitações metodológicas que impactam a profundidade da análise estatística. Primeiramente, o estudo baseia-se em uma metassíntese de dados secundários provenientes de diferentes artigos científicos, sem acesso aos dados brutos individuais de cada amostra analisada. A ausência de informações detalhadas como tamanho da amostra (n), média, desvio padrão e intervalos de confiança impede a aplicação de testes estatísticos inferenciais, como o teste t de Student, testes de hipóteses ou análise de variância (ANOVA), os quais seriam úteis para comparar grupos (ex.: pacientes com e sem Covid-19, ou com diferentes tempos de internação).

    Além disso, embora alguns estudos incluídos mencionam valores de p e relações estatisticamente significativas, esses resultados são oriundos das análises dos próprios autores e não podem ser validados ou replicados sem os dados originais. Portanto, qualquer tentativa de cálculo estatístico adicional poderia levar a interpretações imprecisas ou enviesadas.

    Esta revisão foi limitada pela baixa qualidade metodológica de vários estudos primários incluídos, particularmente em relação ao risco de viés de seleção e de performance, o que prejudicou a força das evidências encontradas. Além da restrição da busca a artigos publicados em plataformas não gratuitas que podem ter excluído estudos relevantes.

    Sugere-se considerar a aplicação do sistema GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation) para avaliar a certeza da evidência para cada desfecho para que seja fornecida uma avaliação estruturada da qualidade geral da evidência e da força das recomendações. E considerar a inclusão de outras bases de dados relevantes para o tema específico com o intuito de aumentar a probabilidade de identificação de todos os estudos pertinentes.

    Em síntese, reconhece-se que a ausência de dados primários e a heterogeneidade dos estudos limitam a realização de análises estatísticas aprofundadas, sendo recomendada, para futuras pesquisas, a obtenção ou solicitação dos dados originais com vistas à elaboração de uma meta-análise com maior rigor estatístico.

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    1 Discente do Curso de Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem da Escola Superior de Ciências da Saúde ( ESCS ) do DF, e-mail: isabel-guedes@escs.edu.br
    2 Discente do Curso de Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem da Escola Superior de Ciências da Saúde ( ESCS ) do DF, e-mail: maria-vidal@escs.edu.br
    3 Docente do Curso Superior de Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem da Escola Superior de Ciências da Saúde ( ESCS ) do DF. Enfermeira. Mestre em Saúde Pública. e-mail: ana.rodrigues@escs.edu.br