COVID-19 E A REALIZAÇÃO DA RESSUCITAÇÃO CARDIOPULMONAR: UMA ABORDAGEM INTEGRATIVA DA LITERATURA

COVID-19 AND THE PERFORMANCE OF CARDIOPULMONARY RESUSCITATION: AN INTEGRATIVE APPROACH TO THE LITERATURE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202507301449


Felipe Mourato Inácio da Silva; Monique Moura Feitosa; Maria Roberta Bezerra da Silva; Maria Fernanda Bezerra da Silva; Hudson Fábbio Ferraz Feitoza; Juliane Soledade de Oliveira Lima; João Paulo da Silva Teixeira; Micherllaynne Alves Ferreira Lins


RESUMO

A Parada Cardiorrespiratória (PCR) tornou-se ainda mais comum no cenário de pandemia que o mundo está vivendo, além de tratar-se das emergências mais agravante por seu grau de letalidade, nesse contexto está associada a arritmias ventriculares, aumento do intervalo QT, insuficiência respiratória hipoxêmica secundária à síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e outras. Nesse sentido, os profissionais de enfermagem devem conduzir um atendimento de qualidade e eficácia para o paciente em PCR, e seguir protocolos e diretrizes atualizadas para manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP). O estudo tem como objetivo descrever a atuação da equipe de enfermagem frente a PCR intra-hospitalar ressaltando as particularidades e recomendações da RCP a pacientes portadores ou suspeitos de COVID-19. Trata-se de uma revisão bibliográfica, realizada através de artigos extraídos das plataformas de pesquisa: Scielo, BDENF, Medline, no período de 2016 a 2021 após a aplicação dos critérios resultaram em 10 artigos que contribuíram para a elaboração do estudo. O reconhecimento da PCR, preparação do ambiente, vigilância e conhecimento teórico científico da equipe de enfermagem sobre RCP é essencial para um atendimento de eficácia, uma vez que a enfermagem é quase sempre o primeiro profissional a identificar uma PCR, nesse sentido não pode haver fragilidade na conduta inicial pois isso pode levar o paciente a óbito. Porém a grande maioria dos profissionais não sabem identificar uma PCR ou tem dificuldade em seguir mediante protocolo e diretrizes seja por falta de conhecimento, principalmente em pacientes diagnosticados com COVID-19 ou suspeitos, os quais requer um atendimento com particularidades.

Palavras-passe: Biossegurança. Enfermagem. Reanimação Cardiopulmonar. COVID-19.

ABSTRACT

Cardiorespiratory arrest (CPR) becomes even more common in the Pandemic scenario that the world is experiencing, in addition to being the most aggravating emergencies due to its degree of lethality, in this context it is associated with ventricular arrhythmias, increased QT interval, respiratory failure hypoxemia secondary to acute respiratory distress syndrome (ARDS) and others. In this sense, nursing professionals should conduct quality and effective care for patients in CPA, and follow updated protocols and guidelines for CPR maneuvers. The study aims to describe the performance of the nursing team in the face of in-hospital cardiorespiratory arrest, highlighting the particularities and recommendations of cardiopulmonary resuscitation to patients with or suspected covid-19. This is a narrative review of the literature. 32 articles from some research platforms were explored: Scielo, Bireme, Medline, Pubmed, from the period 2015 to 2020 and 13 were selected to prepare the study. The recognition of PCR, preparation of the environment, surveillance and theoretical scientific knowledge of the nursing team about CPR is essential for effective care, since nursing is always the first professional to identify a PCR, in this sense there can be no weakness in initial conduct as this may lead the patient to death. Studies reveal that the vast majority of professionals do not know how to identify a CRP or have difficulty following the AHA protocol and guidelines due to a lack of knowledge, especially in patients diagnosed with suspected or suspected COVID-19, which requires special care.

Keywords: Biosafety. Nursing. Cardiopulmonary resuscitation. COVID-19.

INTRODUÇÃO

A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é considerada uma das mais urgentes de todas as emergências. Frente o cenário que se encontra o País, relacionado a COVID-19, os cuidados para reanimar o paciente e a agilidade da equipe é fundamental para uma melhor qualidade da assistência, visto que existem precauções específicas no atendimento, é evidente a importância do enfermeiro no conhecimento e gerenciamento da RCP de qualidade, gerando uma melhor qualidade na sobrevida da vítima e a diminuição da contaminação pelo vírus entre os profissionais envolvidos no atendimento1

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a principal causa de morte é a Cardiopatia Isquêmica, seguida de Acidente Vascular Encefálico (AVE). A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou que em 2018, 44% dos óbitos ocorreram de doenças cardiovasculares e a complicação de maior peso e consequência é a PCR, nesse cenário cada minuto é crucial para sobrevivência do paciente envolvido, a resposta rápida da equipe de enfermagem, a eficácia das compressões torácicas aliada a uma desfibrilação precoce pode trazer um bom prognóstico a esse paciente, levando em consideração que 40% das PCR´s ocorrem em ambientes intra-hospitalar2.  

Em outubro de 2020 a American Heart Associetion-AHA3 apresentou um novo guideline com destaques das atualizações sobre diretrizes de RCP e AVE, o documento conta com novos recursos visuais e algoritmos para abordagem de ressuscitação cardiopulmonar, enfatizando a importância das compressões de eficácia, administração precoce da epinefrina se caso ritmo não for chocável, a desfibrilação precoce também é uma ressalva de grande prioridade e via aérea avançada, lembrando que diante de um paciente confirmado com COVID-19 a sequência muda e será priorizada a via aérea avançada, para diminuir a aerolização. Um dado relevante acrescido, sendo a cadeia de sobrevivência onde agora está presente um sexto elo (recuperação), que ressalta a importância do acompanhamento multimodal, os quais compõem desde a avaliação e suporte formal para suas necessidades físicas, cognitivas e psicossociais.

Insuficiência respiratória, isquemia miocárdica, arritmias ventriculares, choque e síndrome do desconforto respiratório são umas das principais causas da PCR em pacientes diagnosticados com COVID-19. Além de consequências tromboembólicas. É necessário atentar para as arritmias ventriculares, pois, nem sempre são causadas por lesão cardíaca, mas devido o alargamento do intervalo QT relacionado ao uso de Azitromicina e Hidroxicloriquina, tornando-se evidente o uso de protocolos pré-definidos para a conduta correta, entre elas, o conhecimento do enfermeiro na detecção precoce frente a PCR5

O conhecimento do enfermeiro na atuação de uma PCR não trata apenas a sobrevida da vítima, mas também sobre o risco que está exposto diante da COVID19. Por estar presente muitos riscos adicionais como a dispersão de aerossóis que estão sendo formados por Ventilação por Pressão Positiva (VPP), intubação para via área avançada e principalmente pelas compressões torácicas. As partículas geradoras de aerossol possuem uma meia-vida com duração de 1 hora tornando o profissional exposto e levando o risco da doença ocupacional. A principal maneira de evitar a contaminação está no uso correto dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI´s) e da sua fácil disponibilidade, assim, como o carro de PCR checado5

 O reconhecimento precoce de uma parada cardiorrespiratória é fundamental para a reversão do quadro. Para eficácia da RCP e segurança do profissional algumas observações são de extrema relevância pacientes que Diante da pandemia, lidar com mudanças requer uma atenção muito grande dos profissionais, pois, além de trabalharem em prol da vida do paciente, é necessário buscar a diminuição da propagação do vírus. Para isso, é necessária uma estrutura hospitalar de qualidade, equipamentos seguros e disponíveis para equipe, o que na maioria das vezes não é cenário da saúde pública do País6.  

Por meio disso, o presente estudo tem como objetivo descrever a atuação da equipe de enfermagem frente a parada cardiorrespiratória intra-hospitalar ressaltando as particularidades e recomendações da reanimação cardiopulmonar a pacientes diagnosticados ou suspeitos de COVID-19. Parte da hipótese de que não há agilidade e conhecimento teórico científico para intervenções de eficácia no atendimento da PCR, do qual exige do profissional de enfermagem tal habilidade, sendo esse o primeiro a identificar o paciente inconsciente, tendo em vista que diante da falta de conhecimento do mesmo, a implementação de um Procedimento Operacional Padrão (POP) poderá tornar esse atendimento de qualidade e assegurar o enfermeiro das condutas a serem tomadas. 

MÉTODO

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura de publicações em periódicos. No qual foi realizada uma busca bibliográfica por meio das fontes de busca constituídas pelos recursos eletrônicos nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Health Information from the National Library of Medicine, Web of Science, Scopus e na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library On-line, publicados no período de 2016 a 2021.

 Para a busca dos estudos nas respectivas bases de dados, foi utilizado as palavras-chave: Biossegurança; Enfermagem; Reanimação Cardiopulmonar e COVID-19, foi usado um limite temporal de 05 anos. Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos publicados em português ou inglês, artigos na íntegra que retratassem a temática e artigos publicados e indexados nos referidos bancos de dados no período escolhido, foram exclusos todos que não obedecessem a temática. Foram excluídos os artigos que não estiveram no período proposto, aqueles que não trataram da temática específica quando o pesquisador o julgou a partir dos descritores estabelecidos, como também os que estiveram em outra língua que não seja português ou inglês.

Após a seleção dos artigos os mesmos foram dispostos através de um fluxograma (fluxograma 1) descrevendo como ocorreu a busca dos artigos. Os artigos seguiram a amostra aleatória, dependendo da quantidade de artigos encontrados foi realizado uma análise dos mais relevantes, sendo tratados com maiores detalhes através de quadro descritivo. 

Primeiro, os artigos foram escolhidos pelos títulos, depois seguindo a leitura e extração dos princípios e objetivos estabelecidos da presente pesquisa. A análise do conteúdo seguiu os passos da análise temática, ordenação do material, classificação e análise, sendo seus resultados tabulados em quadro. A análise final dos dados enfatizou principalmente o encontro da especificidade do objeto com a diversidade de pensamentos dos autores, que estavam representadas nas minúcias dos fragmentos dos textos bibliográficos pesquisados, revelando a totalidade parcial e de suas descobertas particulares por meio da análise do objeto de estudo.

RESULTADOS

O fluxograma 1 descreve os resultados (em números) das buscas nas bases de dados e subsequente seleção dos artigos nas bases de dados online (MEDLINE, LILACS e BDENF). Houve uma exaustiva busca pelos artigos até a repetição de artigos indexados nas bases de dados, onde optou-se pela seleção através do critério da ordem de busca. 

Fluxograma 1 – Quantidade de artigos encontrados na literatura através do banco de dados

Sobre os artigos encontrados nas plataformas online e as palavras-chaves previamente definidas, foi identificado os seguintes resultados estando “reanimação cardiopulmonar e enfermagem” obtendo-se um quantitativo de 906 artigos, sendo escolhidos 25 artigos pertinentes à temática COVID-19. Quando remetido “Biossegurança e enfermagem”, obteve-se um quantitativo de 230 artigos, aplicando os termos de inclusão para o COVID-19 se obteve-se um quantitativo de 5 artigos. De todos os artigos aqui identificados, foram utilizados de fato para essa pesquisa uma extração de 10 artigos na qual todas as associações tivessem o COVID-19 em seus termos, assim descreve-se a partir da leitura estruturada.

Quadro 2 – Distribuição das publicações segundo autor/ano; tipo de estudo.

Estudo AutoriaTítuloObjetivoResultados/ Conclusão
1FEITOSAFILHO et al.,(2020)Ressuscitação Cardiopulmonar em Pacientes com COVID-19Identificar as  etapas,  equipes  e  protocolos devem ser seguidos à risca na salvaguarda do paciente e da equipe médica.As manobras de RCP devem ser administradas de  forma  inteligente,  de  modo  a  salvar  mais vidas, sem colocar a equipe em risco.
2BERNOCHE et al., (2020)Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia-2019Apresentar a atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de CardiologiaA padronização de condutas e a educação em RCP são fundamentais para a otimização dos resultados, em termos de mortalidade e qualidade de vida. Evidências apontam que medidas de RCP implantadas efetivamente e precocemente podem aumentar a chance de sucesso em 50%. Para isso, é preciso o interesse das instituições de saúde e de gestão pública na implementação de políticas nesse âmbito.
3SANTIAGO et al., (2020)Parada cardiorrespiratória: intervenções dos profissionais de enfermagemAvaliar se os conhecimentos dos profissionais de enfermagem frente a parada cardiorrespiratória (PCR)estão de acordo com o protocolo da American Heart Association – AHA.Os resultados mostram que os profissionais que atuam na emergência ainda não estão devidamente qualificados para atender as vítima sem PCR, fazendo-se necessário o aprimoramento das condutas e a qualificação destes profissionais, visando o aumento da taxa de sobrevida dos pacientes acometidos com tal situação clínica.
4Souza (2020)Conhecimento Dos Profissionais De Enfermagem Acerca Da Parada Cardiorrespiratória E Ressuscitação Cardiopulmonar.Verificar o conhecimento dos profissionais de enfermagem acerca da parada cardiorrespiratória e reanimação cardiopulmonar.Verificou-se que a educação continuada foi a principal estratégia defendida pelos autores para minimizar o déficit dos profissionais.
5Nascimento et al. (2020)Manejo de pacientes diagnosticados ou com suspeita de covid-19 em parada cardiorrespiratória: scoping reviewmapear a produção de conhecimento sobre as recomendações que podem ser aplicadas no manejo de paciente diagnosticado ou com suspeita de COVID-19 em Parada Cardiorrespiratória.O manejo do paciente em parada cardiorrespiratória com suspeita ou diagnóstico de COVID-19 que necessita de reanimação cardiopulmonar deve ser realizado em áreas de isolamento e com a utilização de equipamentos de proteção adequados. Foi visto que existem lacunas nas produções científicas, para que abordem de maneira mais clara e instrutiva sobre o manejo ao realizar ressuscitação cardiopulmonar em pacientes com suspeita ou diagnóstico de COVID19.
6Machado et al., 2020Parada cardiorrespiratória na pandemia por coronavírus: revisão compreensiva da literaturaApresentar atualizações para a ressuscitação cardiopulmonar em pacientes suspeitos e confirmados com COVID-19.Profissionais de saúde envolvidos no atendimento à parada cardiorrespiratória de pacientes suspeitos e/ou confirmados com COVID-19 podem encontrar inúmeros desafios, portanto devem seguir com rigor o protocolo estabelecido para maximizar a efetividade das manobras de ressuscitação e minimizar o risco de contágio pelo vírus e sua disseminação.
7YAGO et al., 2020Recomendaciones sobre reanimación cardiopulmonar en pacientes consospecha oinfección confirmada por SARS-CoV-2 (COVID-19).Redigir essas recomendações, que estão divididas em 5 partes que abordam os principais aspectos para cada ambiente de saúde.Recomendamos comunicar claramente o estado de infecção do paciente em PCR no momento da ativação das equipes de reanimação, sempre que novos membros da equipe de reanimação for em incorporados e no momento da transferência do paciente para a unidade de referência.
8Guimarães et al., (2020)aPosicionamento para Ressuscitação Cardiopulmonar de Pacientes com Diagnóstico ou Suspeita de COVID-19 – 2020Orientar as diversas equipes assistentes, em uma situação de poucas evidências sólidas, maximizando a proteção das equipes e dos pacientes.É fundamental a paramentação completa com Equipamentos de Proteção Individual para aerossóis durante o atendimento de parada cardiorrespiratória. Também se faz imperativo que se considerem e tratem as potenciais causas nesses pacientes, principalmente hipóxia e arritmias decorrentes de QT longo ou miocardite. A instalação de via aérea invasiva avançada deve ser obtida precocemente, e o uso de filtros HEPA na interface com a bolsa-válvula é obrigatório. Situações de ocorrência de parada cardiorrespiratória durante a ventilação mecânica e em posição pronada demandam peculiaridades de ajustes do ventilador e posicionamento de compressões torácicas distintas do padrão de ressuscitação cardiopulmonar.
9PIACEZZI, L.H. V. et al.,(2021)Pandemia da COVID-19: mudanças na ressuscitação cardiopulmonarApresentar as principais mudanças no atendimento de pacientes, com suspeita ou diagnóstico confirmado de COVID-19, e que estejam em parada cardiorrespiratória, para atualizar  os profissionais  em  relação  ao  procedimento, aumentando a chance de sobrevida dos pacientes e diminuindo o risco de contaminação. Evidenciou-se que as principais adequações foram em relação ao uso de equipamentos de proteção  individual,  a restrição  do  número  de  pessoas  durante  o atendimento  e  a realização   de  ventilação   segura,   com   dispositivos que  minimizem   a   formação   e disseminação de aerossóis.
10LOPES et al., (2021)Desafios no manejo da parada cardiorrespiratória durante a pandemia da COVID-19: um estudo de reflexãoApresentar uma reflexão e demonstrar as novas recomendações acerca dos cuidados necessários a serem adotados pela equipe multiprofissional.Diante das discussões apresentadas, é evidente a necessidade de atualização por parte das instituições de saúde em suas rotinas e dos profissionais que se encontram neste estudo como mecanismo de proteção e manutenção da qualidade do cuidado prestado.

DISCUSSÃO

Diante de todas as emergências a RCP é consideravelmente a mais urgente, o estudo de Feitosa e colaboradores.1, mostra que isso é ainda mais agravante no cenário pandêmico de uma doença altamente contagiosa como a COVID-19, pois uma RCP realizada em pacientes confirmados com COVID-19 traz grande risco de contaminação devido a geração de aerossóis, são acometimentos comuns nesses pacientes devido quadro crítico associado a insuficiência respiratória secundária a síndrome do desconforto respiratório aguda, choque, arritmias além de fenômenos tromboembólicos, geralmente hipóxia é mais comum e tem desfecho favorável se tratada precocemente. 

Bernoche e colaboradores7, reforça que o reconhecimento precoce das causas, a intervenção correta e cuidados após retorno da circulação espontânea, contribui para melhor prognóstico dos pacientes vítimas de emergências cardiovasculares, ressalta que os dados literários quanto a incidência de PCR são escassos, ainda assim, sabe-se que em ambiente intra-hospitalar, o ritmo de PCR mais frequente é Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP) ou assistolia, com pior prognóstico e baixas taxas de sobrevida, inferiores a 17%. Esse estudo traz diretrizes para o êxito da RCP, que são descritas pelo novo guideline, últimas atualizações da AHA em outubro de 2020.

 A AMERICAN HEART ASSOCIATION-(AHA)3 nos apresenta novas diretrizes, recomendações e reforça alguns pontos já destacados nas últimas publicações, novidades em suporte básico e avançado de vida para adulto, suporte básico e avançado pediátrico, suporte de vida neonatal, ciência da educação em ressuscitação e sistemas de tratamento, conta também com algoritmos e recursos visuais, além das particularidades, a figura 1 mostra a cadeia de sobrevivência da AHA. Salientando que não houve grandes mudanças e no que se refere a temática do estudo sobre RCP em pacientes com COVID-19, nada foi publicado pela recentemente.

Figura 1: As cadeias de sobrevivência da AHA para PCRIH e PCREH para adultos. Fonte: 2020ECCGuidelines da AHA.

Nota-se a inclusão de um sexto elo, “recuperação” com foco em: Reabilitação pós PCR continua muito tempo depois da hospitalização inicial, os pacientes devem ter avaliação e suporte formais para suas necessidades físicas, cognitivas e psicossociais e após uma ressuscitação o debriefing para socorristas leigos e profissionais pode ser benéfico para saúde mental e bem-estar dos mesmos.

Pesquisa realizada em um hospital no interior da Bahia, entrevistou 12 profissionais de enfermagem com a finalidade de avaliar seu conhecimento acerca do protocolo de RCP da AHA. O estudo revelou que grande parte desses profissionais não estão qualificados para realizar um atendimento de qualidade a uma paciente em PCR, dos quais 75% não conhecem o protocolo inicial da AHA, o autor ressalta que a intervenção de enfermagem é o ponto fraco, ou seja, sabem identificar, porém não iniciam a conduta. Corroborando com este estudo, outra pesquisa realizada em uma Unidade Terapia Intensiva (UTI) evidenciou que 40% dos profissionais não sabem identificar a PCR, entretanto 93% consideravam-se aptos para realizar o atendimento, porém, apenas 38,4 % responderam de forma correta e 61,6 % de forma parcialmente correta, isso inferir que ainda há um número considerável de profissionais sem qualificação para dá suporte de qualidade a pacientes em PCR8.

Nascimento et al.,9 referiram que das 547 publicações encontradas, 14 atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. A maior parte dos estudos foi publicada no ano de 2020 (35,7%), e a maioria dos estudos foi realizada no Canadá (21,4%). Observa-se o uso de um cuidado sistematizado para identificação das possíveis vias de assistência que deverão ser prestadas a pacientes que sofrem uma parada cardiorrespiratória no ambiente hospitalar, como o monitoramento de casos suspeitos da doença através da avaliação da respiração e pulso da vítima e identificação das arritmias e de ritmos chocáveis de forma rápida. Vale salientar o uso de equipamentos de proteção individual para proteção contra gotículas e aerossóis e condutas respiratórias específicas para estes casos.

O estudo realizado por Souza10, uma revisão de 7 artigos, mostra a fragilidade na qualificação teórico e prático dos profissionais de enfermagem, dos 7 artigos quatro apresentam resultado insatisfatório de conhecimento. O estudo realizado por Silva et al.,11 80% dos profissionais de enfermagem não possuíam conhecimento adequado sobre PCR, semelhante ao estudo de Dias et al., (2017) que apenas 26,4% dos profissionais detinham conhecimentos acerca da PCR, já o estudo de Machado et al.,12 refere que profissionais de saúde envolvidos no atendimento à parada cardiorrespiratória de pacientes suspeitos e/ou confirmados com COVID-19 podem encontrar inúmeros desafios, portanto devem seguir com rigor o protocolo estabelecido para maximizar a efetividade das manobras de ressuscitação e minimizar o risco de contágio pelo vírus e sua disseminação.

Em tempos de pandemia, onde desde 30 de janeiro de 2020 vem ocorrendo disseminação do Coronavírus (Sars-cov-2), constituindo uma emergência de saúde pública, estima-se que de 12% a 19% dos infectados necessitam de internação hospitalar e 15% com risco de insuficiência respiratória de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva UTI. Nesse contexto, estabelecer vigilância e prevenção para monitoramento dos sinais de agravo para uma PCR, torna-se essencial principalmente para equipe de enfermagem por estar mais próximo no cuidado do paciente. A PCR torna-se frequente devido: insuficiência respiratória hipoxêmica secundária à síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), lesão miocárdica, arritmias ventriculares, choque, assim como o alargamento do intervalo QT, que é um dos possíveis eventos causados pelo tratamento experimental proposto com as drogas hidroxicloroquina e a azitromicina. Desse modo, a elaboração de protocolos com atualizações torna-se fundamental para esse enfrentamento12.

Além do local seguro para o profissional, mesmo que seja uma emergência máxima, o ideal seria transferir o paciente para uma sala com pressão negativa e filtro HEPA, por ser um procedimento de grande potencial de geração de aerossóis, na falta, indica-se pelo menos um quarto privativo e porta fechada sendo indispensável o uso correto dos EPI´s (máscara n95, óculos, face shield, luvas, touca capote impermeável e descartável). No momento que a equipe identificar o paciente inconsciente é necessário checar o pulso entre 5 a 10 segundos. O número de profissionais é reduzido no ambiente normalmente 4, cada um com uma função pré-designada, entre eles, os mais aptos, seguros e preparados para o atendimento. Inclusive indica-se o uso do dispositivo mecânico de compressões para evitar o processo manual12,8

Se durante a ausência de pulso e respiração o monitor identificar uma Fibrilação ventricular (FV) ou Taquicardia Ventricular (TV) a indicação do choque deve ser imediata, ressaltando que nas paradas em pacientes com COVID-19, 80% apresentam atividade elétrica sem pulso ou assistolia, caso o enfermeiro já esteja paramentado, iniciar as compressões torácicas, sem ventilação enquanto o desfibrilador é preparado. Uma RCP de qualidade deve ser baseado em uma velocidade de compressões de 100 a 120 por minuto, as compressões são continuadamente por 2 minutos e em seguida checagem do pulso, profundidade do tórax para adultos entre 5 e 6 centímetros, compressão e descompressão síncronas. Uma toalha ou lençol deve ser colocado sobre as vias aéreas do paciente, evitando a suspensão exagerada de aerossóis e consequentemente a contaminação da equipe13

O estudo de Guimarães et al.9, também traz destaques sobre a importância do uso correto de EPIs devido grande risco de contaminação durante a RCP, e mesmo diante de poucas evidências sólidas científicas documentadas a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE), Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) recomendam as seguintes práticas: As diretivas para ressuscitação ou não devem estar bem estabelecidas, documentadas e comunicada a equipe, pacientes com sinais óbvios de morte não devem receber tentativas de RCP, as medidas de proteção individuais devem ser provisionados antes que a PCR ocorra, mesmo que isso cause atraso no procedimento, a segurança da equipe e prioritária e em concordância com os demais autores seguir sequência lógica de atendimento a PCR, identificação, compressão, monitorização do ritmo para saber se é chocável o não chocável, com atenção para ventilação do paciente, o uso de BVM deve ser evitado, porém pode ser ofertada utilizando a técnica selamento (descrita no  POP), não esquecendo a instalação do filtro HEPA entre a máscara e a válvula, até que seja oferecido uma via aérea avançada para o paciente. Salientando que a prioridade nesse contexto de pandemia é a de via aérea avançada para diminuir a aerolização, consequentemente contaminação da equipe, outro detalhe importante é a pausa das compressões no ato da tentativa da intubação.

Em outro estudo Guimarães et al.,9 ratifica que o uso de dispositivo BVM deve ser utilizado em último caso, com o cuidado de usar uma toalha o pano cobrindo o rosto do paciente para diminuir a aerolização e se o mesmo estiver em uso de máscara facial, manter entre 6 e 10 l/min no máximo. Ressaltando, realize as compressões torácicas de alta qualidade de 100 a 120 por minuto numa profundidade de até 6 cm em adultos e no mínimo 5 cm, atentar para retorno total do tórax, pausa de 10 segundos para 2 ventilações após 30 compressões, se o paciente estiver com via aérea avançada, serão compressões contínuas e uma ventilação a cada 6 segundos (esse ajuste pode ser feito no próprio respirador mecânico, FR= 10-12 ipm, Fio2= 100%, relação I:E= ½, tempo inspiratório= 1 seg, PEEP= 0 cmH2O o no máximo 5 cmH2O, sensibilidade inspiratória=off, alarme de pressão máxima de vias aéreas/ pressão de pico ajustado em torno de 60 cmH2O e vc= 4 a 6 ml/), revezar com outro profissional para manter a qualidade das compressões. Se o paciente estiver em decúbito dorsal horizontal, realizar as compressões no centro do tórax, na metade inferior do osso esterno. 

Se o paciente estiver em prona sem via aérea avançada, colocá-lo em posição dorsal/supina e efetuar as compressões, se tiver com via aérea avançada inicie as manobras tendo como ponto de referência para posicionamento das mãos a região interescapular (T7-T10), não esquecendo de utilizar a bandeja ou prancha rígida para efetivar a profundidade do tórax.

É importante ressaltar que, caso o paciente não se torne responsivo a intubação que deve ser feita pelo profissional médico mais experiente, levando agilidade e rapidez no procedimento. Se uma segunda tentativa for necessária, será preciso considerar o uso de dispositivo extraglótico, este podendo ser realizado pelo enfermeiro. É necessária agilidade no reconhecimento da PCR pelo enfermeiro para que ocorram intervenções de qualidade e com alta eficácia. O uso do dispositivo BVM deve ser evitado pelo elevado risco de aerolização e consequentemente contaminação da equipe, porém em extrema necessidade, a técnica para vedação da máscara deverá envolver dois profissionais, com a utilização de uma cânula orofaríngea. As tomadas de decisões devem ser antecipadas e pré-estabelecidas garantindo desse modo uma boa manutenção das condições vitais cardíacas, consequentemente a diminuição na incidência das mortes. A administração de amiodarona e adrenalina seguem os padrões convencionais já estabelecidos14,15.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Em tempos de pandemia uma doença altamente contagiosa onde existe uma discrepância entre informações, tratamento e cura, situações como a parada cardiorrespiratória torna-se um grande desafio para toda equipe de profissionais da linha de frente.

É possível observar que a literatura atual acerca do tema abordado disponível é baseada em estudo caso, experiências, consensos de especialistas, ou seja, sem grandes níveis de evidência científica. Toda via, compreendendo o cenário epidemiológico atual da COVID-19, é sabido que equipe participante de uma RCP que esteja bem preparada e paramentada estarão mais protegidos a contaminação por aerossóis.

 Infelizmente, foi visto que há uma grande fragilidade de conhecimento da maioria dos profissionais de enfermagem, tanto na parte de identificação da PCR, quando na iniciativa precoce da RCP. Uma vez que esse é na maioria das vezes o primeiro a se deparar com o paciente inconsciente.

 Sugere-se que haja fortalecimento desse conhecimento por meio de educação continuada, implementação de POP, protocolos, debriefing e com isso aumente o controle de infecções, adesão restrita do uso e retirada correta dos EPI´s, afim de otimizar o atendimento aos pacientes confirmados ou suspeitos de COVID-19 em ambiente intra-hospitalar.

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14. COFEN- RESOLUÇÃO COFEN Nº 641/2020: Utilização de Dispositivos Extraglóticos (DEG) e outros procedimentos para acesso à via aérea, por Enfermeiros, nas situações de urgência e emergência, nos ambientes intra e pré-hospitalares. Pulicado dia 04/06/2020 no site oficial do Cofen. Disponível em: cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-641-2020_80392 [Link]. Acesso: 06 de outubro de 2020.

15. De Sá Diaz, Flávia Batista Barbosa et al. Conhecimento dos enfermeiros sobre o novo protocolo de ressuscitação cardiopulmonar. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, v. 7, 2017.

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17. Machado, Debora Mazioli et al. Parada cardiorrespiratória na pandemia por coronavírus: revisão compreensiva da literatura [Cardiorespiratory arrest in a coronavírus pandemic: comprehensive literature review][Paro cardiorrespiratorio en una pandemia de coronavirus: revisión exhaustiva de la literatura]. Revista Enfermagem UERJ, v. 28, p. 50721, 2020.

18. Lopes, Francine Jomara et al. Desafios no manejo da parada cardiorrespiratória durante a pandemia da COVID-19: um estudo de reflexão. Escola Anna Nery, v. 24, 2021.