REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202507112214
Natália Cristina dos Santos Vaz
Tássia Ellen Santos Rodrigues
RESUMO
Ao longo dos anos a atenção à saúde das mulheres evoluiu bastante. Juntamente a isso, também ocorreu o avanço do conhecimento das mulheres sobre as patologias do sistema reprodutor feminino. Apesar do maior acesso a informações sobre saúde feminina, o conhecimento, no que se refere a alguns temas, ainda é bem diminuto e um exemplo notável é o mioma uterino. Diante deste cenário, buscando compreender a temática em questão, este trabalho teve como objetivo analisar o nível de conhecimento de alunas de uma faculdade privada, em Abaetetuba, Pará, sobre mioma uterino. Para isso, foi aplicado um questionário elaborado pelas autoras, contendo questões objetivas e subjetivas, o que caracteriza este estudo como pesquisa do tipo qualitativa e quantitativa. Esta pesquisa, cujo número amostral foi de 60 participantes é o primeiro registro sobre o conhecimento dessas mulheres sobre mioma uterino no município de Abaetetuba e os resultados mostram que os dados qualitativos quando confrontados com os quantitativos apresentam inconsistências, pois, apesar dos dados quantitativos mostrarem que as participantes têm uma percepção primária sobre mioma, os dados qualitativos mostram que parte das mulheres tem conhecimento insuficiente sobre a temática. Muitas mulheres parecem confusas em relação a muitos tópicos, mostrando que, embora, de forma geral, possam saber uma coisa ou outra sobre mioma, seu entendimento sobre mioma está comprometido em aspectos específicos, demonstrando lacunas no esclarecimento do assunto. Este estudo não só contribuiu para o conhecimento científico sobre a percepção das mulheres em relação aos miomas uterinos, mas também fornece uma base para futuras pesquisas e intervenções educativas.
Palavras-chave: Mioma uterino. Educação em saúde. Saúde da mulher.
ABSTRACT
Over the years, women’s health care has evolved significantly. Along with this, there was also an increase in women’s knowledge about pathologies of the female reproductive system. Despite greater access to information about women’s health, knowledge regarding some topics is still very limited and a notable example is uterine myoma. Given this scenario, seeking to understand the topic in question, this work aimed to analyze the level of knowledge of students at a private college, in Abaetetuba, Pará, about uterine myoma. For this, a questionnaire prepared by the authors was applied, containing objective and subjective questions, which characterizes this study as qualitative and quantitative research. This research, whose sample number was 60 participants, is the first record on the knowledge of these women about uterine myoma in the municipality of Abaetetuba and the results show that the qualitative data when compared with the quantitative data present inconsistencies, because, despite the quantitative data showing that the participants have a primary perception about myoma, the qualitative data show that women have insufficient knowledge about the topic. Many women seem confused about lots of topics, showing that, although, in general, they may know one thing or another about myoma, their understanding of myoma is compromised in specific aspects, demonstrating gaps in the clarification of the subject. This study not only contributed to scientific knowledge about women’s perception of uterine myoma, but also provides a basis for future research and educational interventions.
Keywords: Uterine myoma. Health education. Women’s health.
1. INTRODUÇÃO
A saúde da mulher tem sido objeto de intensa pesquisa e análise, o que reflete a crescente da atenção à saúde feminina na sociedade e, por se tratar de uma área que desempenha um papel crucial para o bem-estar geral da sociedade, ao longo dos séculos, as perspectivas sobre a saúde da mulher passaram por uma evolução notável (SEN e RAJAMANICKAM, 2019).
No Brasil, a compreensão desse processo de desenvolvimento é fundamental para a formulação de políticas públicas eficazes e a melhoria contínua dos serviços de saúde voltados para as mulheres, sempre levando em consideração que a saúde da mulher no Brasil está intrinsecamente ligada a fatores sociais, culturais e econômicos, portanto, seu estudo requer uma abordagem multidisciplinar e uma análise crítica das políticas implementadas (BONFIM et al., 2018).
Além da evolução na atenção à saúde das mulheres, também ocorreu o avanço do conhecimento das mulheres sobre as patologias do sistema reprodutor feminino, o qual, nas últimas décadas, tem-se observado um crescente interesse e participação das mulheres no entendimento de sua própria saúde reprodutiva. Tal empoderamento se torna uma ferramenta fundamental na promoção de uma melhor qualidade de vida (RODRÍGUEZ-GÁZQUEZ e HERNÁNDEZ-PRADOS, 2019).
Esse empoderamento tem sido impulsionado pela busca por informações e pelo compartilhamento de experiências entre mulheres e as redes sociais e os grupos de apoio têm desempenhado um papel significativo na disseminação do conhecimento sobre patologias do sistema reprodutor feminino, permitindo que as mulheres obtenham informações mais acessíveis e compreensíveis sobre questões como endometriose, síndrome dos ovários policísticos, miomas uterinos e outros problemas ginecológicos (ADAMS et al., 2020).
Entretanto, apesar do maior acesso a informações sobre saúde feminina, o conhecimento no que se refere a alguns temas ainda é bem diminuto e um exemplo notável é o mioma uterino, uma patologia que permanece relativamente pouco conhecida e subdiagnosticada. Diante deste cenário, buscando compreender a temática em questão, surgiu o seguinte questionamento: “Qual é o nível de conhecimento de mulheres sobre o mioma uterino em uma instituição de ensino superior privada do interior do Pará?” Essa investigação é fundamental para se entender a eficácia da educação e identificar lacunas que precisam ser preenchidas para garantir uma melhor saúde das mulheres no futuro.
A motivação para realizar pesquisa com essa temática se deu por meio de vivências sociais das autoras acerca do desconhecimento sobre o mioma, o qual foi percebido durante abordagens a colegas de graduação. Ademais, o estudo do conhecimento do mioma por parte das mulheres é relevante por se tratar de uma patologia que possui sinais e sintomas similares a outros acometimentos do sistema reprodutor feminino.
Uma pesquisa relacionada ao conhecimento das mulheres quanto a esta afecção é ratificada pela grande prevalência de mioma em nível mundial, atingindo etnias diversas e sendo uma causa comum de morbidade em mulheres em idade reprodutiva, constituindo um problema relevante de saúde, cuja prevalência e gradientes sociodemográficos são similares aos observados em populações de outros países (BOCLIN e FAERSTEIN, 2013).
Além disso, faz-se relevante essa abordagem, pois o mioma uterino é pouco conhecido pelas mulheres. Segundo Francisco e Andrade (2024), há um conhecimento insatisfatório entre mulheres. Muitas, entre elas, nunca ouviram falar sobre o tema, o que é preocupante, visto que 70% das mulheres são acometidas com mioma uterino e muitas vezes nem sabem do que se trata. Entretanto, o levantamento do problema como questionamento leva a curiosidade, o que à longo prazo pode ser um método de conscientizar as mulheres sobre a importância do conhecimento e cuidado à saúde feminina.
Perante o exposto, o presente trabalho almejou identificar e avaliar o nível de conhecimento de alunas, da Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia (FAM) – Abaetetuba, sobre mioma uterino, bem como elencar as fragilidades sobre o conhecimento a respeito do mioma uterino, obter dados locais no que se refere ao conhecimento das mulheres sobre mioma e contribuir com a melhoria da saúde feminina no município, pois, a partir desta pesquisa, será possível avaliar quais medidas mitigadoras são necessárias.
1.1. Considerações sobre mioma uterino
Miomas são tumores benignos, dependentes de estrogênio, cuja origem são células de musculatura lisa do miométrio uterino e são conhecidos como leiomiomas.
Do ponto de vista histológico, esses tumores decorrem de processos fibróticos com matriz extracelular anormal, são constituídos por fibras musculares lisas maduras, distribuídas de forma desorganizada e apresentam tamanho celular maior do que o tecido que lhe deu origem (FREITAS et al., 2023).
O desenvolvimento dos leiomiomas estão relacionados a, principalmente, transformação dos miócitos uterinos em células anormais e seu crescimento exagerado (UPTODATE, 2023). Apesar de sua causa ainda não ser bem estabelecida, é sabido que o surgimento de fibromas provém de mutações somáticas que ocasionam reprogramação de células tronco acarretando a sua transformação em células tumorais (YANG et al., 2022). Além disso, aspectos genéticos e hormonais podem levar a inibição da apoptose e, consequentemente, a proliferação de células anormais (PARKER et al., 2007).
Os miomas podem ser classificados como intracavitários – se projetam para dentro da cavidade do útero; subserosos – situados logo abaixo do revestimento externo do útero; submucosos – estão localizados imediatamente abaixo do endométrio e tendem a crescer para o lúmen uterino; intramurais – estão na espessura do miométrio, e podem distorcer a cavidade uterina; e parasitários – que perdeu o contato com o útero e se aderiu em outro órgão do qual recebe nutrientes (FARIA et al., 2008).
De acordo com Ulin et al. (2020, p. 238):
“Estima-se que 70% das mulheres desenvolverão mioma uterinos em algum momento da vida, sendo que, aproximadamente, metade das pacientes serão assintomáticas e irão cursar com a regressão dos tumores sem sintomas após a menopausa.”
No que se refere aos sintomas do mioma, pode-se mencionar sangramento uterino excessivo ou período menstrual prolongado; aumento do volume abdominal; dor durante relação sexual e incontinência urinária, tendo um impacto significativo na qualidade de vida de mulheres em idade reprodutiva. Já em relação às suas consequências, o mioma pode trazer condições desfavoráveis na função reprodutiva abortos espontâneos, anormalidades fetais; partos prematuros e aumento na indicação de cesarianas (BOCLIN e FAERSTEIN, 2013).
Quando assintomático, só é possível identificar o mioma por meio de um exame preventivo como a colposcopia e ultrassonografia vaginal. Quando a paciente é sintomática, elas apresentam hemorragias uterinas, aumento da frequência urinária, sensação de peso, desconforto, pressão pélvica, dismenorreia, dor, além de infertilidade, abortamento e anemia. Nesse caso, o diagnóstico deve ser baseado no toque vaginal bimanual, ultrassonografia pélvica, suprapúbica e endovaginal (FREITAS, 2011).
Para tratar o mioma, uma das opções é o uso de medicamentos contraceptivos hormonais e agentes antifibróticos, que podem ser prescritos para aliviar sintomas (FRIEDMAN et al., 2018). Além disso, há opções cirúrgicas, como a miomectomia, que consiste na remoção dos miomas sem retirar o útero. Essa abordagem pode ser realizada por via laparoscópica, minimizando o impacto cirúrgico e permitindo a conservação do útero (DONNEZ et al., 2020). Em casos mais graves ou quando outras terapias não são eficazes, a histerectomia, que envolve a remoção do útero, pode ser necessária. Essa opção é irreversível e resulta na perda da capacidade de engravidar. A decisão de realizar uma histerectomia deve ser cuidadosamente ponderada em consulta com a paciente, considerando sua saúde geral e seus objetivos reprodutivos (STEWART et al., 2017).
1.2. Política de atenção integral à saúde da mulher
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) no Brasil é um marco significativo no campo da saúde pública, direcionado para a promoção da saúde e bem-estar das mulheres. A PNAISM é fundamentada na compreensão da saúde da mulher como um conceito amplo, que abrange aspectos físicos, emocionais, sociais e culturais, reconhecendo a necessidade de uma abordagem integral em todos os ciclos da vida das mulheres. Essa política busca garantir o acesso equitativo a serviços de saúde de qualidade, promovendo a prevenção, diagnóstico e tratamento de condições específicas, bem como a promoção da autonomia e direitos das mulheres (SOUTO e MOREIRA, 2021).
A PNAISM abrange uma série de ações e estratégias para atingir seus objetivos. Dentre elas, destaca-se a oferta de serviços de saúde sexual e reprodutiva, tais como assistência ao parto humanizado e atenção à saúde da mulher durante a menopausa e pós-menopausa. Essa política também enfatiza a importância do enfrentamento da violência de gênero e da promoção da educação em saúde (SOUTO E MOREIRA, 2021).
2. METODOLOGIA
A metodologia desta pesquisa se caracterizou como pesquisa do tipo transversal de caráter quantitativo e qualitativo.
Pesquisa transversal é o estudo epidemiológico no qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico. Estudos transversais com delineamento amostral complexo têm sido amplamente utilizados nas diferentes áreas do conhecimento. Particularmente na área da saúde pública, são crescentes os levantamentos que têm empregado essa técnica para coleta de dados (CORDEIRO, 2001; SOUSA e SILVA, 2003).
No que abrange a pesquisa quantitativa e qualitativa, afirma-se que a primeira se preocupa com a medição objetiva e quantificada dos resultados. Em contrapartida, a pesquisa qualitativa não busca enumerar ou mensurar os eventos estudados, tampouco emprega instrumental estatístico na análise dos dados, em vez disso, busca respostas que possibilitam entender, descrever e interpretar fatos (GODOY, 1995).
2.1. Local da pesquisa
O local de pesquisa foi a Faculdade de Educação e Tecnologia da Amazônia, localizada no Município de Abaetetuba, na Rodovia Dr. João Miranda, número 3072, bairro Bosque, no Estado do Pará. Atualmente, a Instituição de Ensino Superior FAM conta com cursos de nível superior de Administração, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Civil, Farmácia, Fisioterapia, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social. Em relação a espaço físico, a FAM possui grande infraestrutura com salas de aulas, setor administrativo, quadra de esportes e laboratórios, utilizados em aulas práticas e projetos de extensão: laboratório de informática, semiologia, anatomia, microscopia, bioquímica e odontologia. Todos os laboratórios são equipados com instrumentos necessários para a realização de atividades práticas, fornecendo um processo de ensino e aprendizagem de qualidade aos alunos. Este local de realização da pesquisa foi escolhido devido à acessibilidade e ao interesse das participantes para garantir um ambiente confortável e adequado.
2.2. Participantes
As participantes foram denominadas como alunas da FAM, que contribuíram no conhecimento com proposta de universo e o objeto de estudo pesquisados.
A seleção das participantes ocorreu pelo método snow ball sampling (amostragem bola de neve), que, segundo Baldin e Munhoz (2011), se procede da seguinte maneira: indica-se um número inicial de participantes e, subsequentemente, solicita-se a esses indicados, informações acerca de outros membros da população de interesse para a pesquisa, para, só então sair a campo para também recrutá-los. Dessa forma, 10 mulheres foram selecionadas em um primeiro momento, depois essas mulheres indicaram outras 10 e assim sucessivamente, até completar o número de participantes almejado (60).
2.3. Critérios de inclusão e exclusão
Foram utilizados critérios de inclusão e exclusão, sendo os critérios de inclusão: mulheres que menstruam e tem idade igual ou superior a 18 anos e residem no município de Abaetetuba e que estavam dispostas a participar voluntariamente. O critério de exclusão foi qualquer pessoa que não atendesse aos critérios de inclusão ou que não quisessem participar.
2.4. Coleta de dados e instrumentos para coleta de dados
Para obter respostas sobre o nível de conhecimento das alunas sobre mioma uterino, foi necessário fazer uma coleta de dados utilizando uma abordagem tanto qualitativa quanto quantitativa. Isso permitiu uma compreensão abrangente do conhecimento das mulheres sobre mioma uterino.
Foi aplicado um formulário, com cinco perguntas de múltipla escolha e duas subjetivas sobre mioma uterino (figura 1), com a finalidade de avaliar o conhecimento das participantes relacionado ao tema. Os formulários impressos em folhas de papel A4 foram entregues às participantes juntamente com uma caneta esferográfica.
Figura 1 – Formulário sobre mioma uterino aplicado às participantes

Fonte: Autoras, 2024
2.5. Análise de dados
Os dados foram analisados com base no método de análise de conteúdo que, de acordo com Bardin (2011), prevê três fases fundamentais: pré análise, exploração do material e tratamento dos resultados: inferência e a interpretação. A pré análise é uma fase de organização, em que se estabelece um esquema de trabalho, com procedimentos bem definidos, mas flexíveis. Na exploração do material permite-se reunir maior número de informações a partir de uma esquematização e correlação de classes de acontecimentos. O tratamento dos resultados: inferência e interpretação é a transformação dos resultados brutos em resultados significativos e válidos, que deve ir além do conteúdo manifesto nos documentos.
2.6. Confidencialidade
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta pesquisa, cujo número amostral foi de 60, participantes é o primeiro registro sobre o conhecimento das mulheres sobre mioma uterino no município de Abaetetuba, Pará.
3.1. Perfil das participantes
A faixa etária da maioria das participantes é entre 20 e 30 anos (50%), seguida por mulheres na faixa dos 18 aos 20 anos (30%) e 30 a 40 anos (20%) (gráfico 1).
Gráfico 1 – Idade das participantes

Fonte: Elaborado pelas autoras
A maioria das participantes (77%) se enquadra na classe média e 23% na classe baixa. Não houve participantes da classe alta (gráfico 2). A ausência de participantes da classe alta pode sugerir uma limitação na representatividade socioeconômica da amostra, impactando a percepção sobre o acesso à informação e aos cuidados de saúde relacionados aos miomas uterinos.
Gráfico 2 – Classe social das participantes

A maioria das participantes (68,30%) se identifica como pardas, 16,66% se consideram brancas e 15% negras (gráfico 3).
Gráfico 3 – porcentagem da identificação étnica das participantes

Fonte: Elaborado pelas autoras
3.2. Conhecimento das mulheres sobre mioma uterino
Na primeira pergunta, sobre conceito de mioma uterino, a maioria das participantes (83,33%) identificou corretamente que mioma é um tumor benigno da musculatura do útero. No entanto, 11,66% ainda associam erroneamente o mioma uterino a um tipo de câncer, 3,33% a uma infecção no útero e 1,66% a uma condição hormonal que afeta as adolescentes (gráfico 4).
Gráfico 4 – Respostas das participantes referentes a pergunta 1 do formulário

Fonte: Elaborado pelas autoras
Na segunda pergunta, sobre a faixa etária média em que o mioma uterino acomete as mulheres, 48,33% das participantes acreditam que a idade mais comum para desenvolver miomas é entre 20 e 30 anos, 31,67% entre 30 e 40 anos, 15% mais de 40 anos e 5% menos de 20 anos (gráfico 5). Na realidade, a incidência de miomas aumenta com a idade, especialmente entre 30 e 40 anos (ALMEIDA et al., 2015). Também, epidemiologicamente, sabe-se que o miom possui maior incidência em mulheres negras e com idade a partir dos 30–40 anos (GIULIANI, 2020).
Gráfico 5 – Respostas das participantes referentes a pergunta 2 do formulário

Fonte: Elaborado pelas autoras
Sobre sintomas, dentre seis alternativas, as opções mais escolhidas pelas participantes foram sintomas verdadeiramente associados ao mioma uterino (sangramento menstrual anormal e dor pélvica). No entanto, muitas mulheres também marcaram opções erradas (dor nas articulações, dificuldade para respirar, infertilidade e febre intensa) (gráfico 6).
Gráfico 6 – Respostas das participantes referentes a pergunta 3 do formulário

Fonte: Elaborado pelas autoras
Na pergunta 4, a grande maioria das participantes (70%) relatou ser ou conhecer alguém diagnosticada com mioma uterino (gráfico 7). Isso condiz com os dados estatísticos que dizem que há uma prevalência de mioma em 70% das mulheres no mundo todo (YANG et al., 2022).
Gráfico 7 – Respostas das participantes referentes a pergunta 4 do formulário

Fonte: Elaborado pelas autoras
No que diz respeito ao tratamento para mioma uterino, 81,66% escolheram a alternativa que dizia que o tratamento cirúrgico é o tratamento mais comum para miomas uterinos (gráfico 8). Isso está alinhado com as práticas de tratamento mais recorrentes, no Brasil são realizadas em média 107.000 histerectomias/anuais e os miomas são a principal indicação para a realização da cirurgia, sendo a histerectomia a cirurgia mais realizada, ficando apenas atrás dos partos cesarianos (SÓRIA et al., 2007).
Gráfico 8 – Respostas das participantes referentes a pergunta 5 do formulário

Fonte: Elaborado pelas autoras
As duas últimas perguntas do formulário (6 e 7) foram subjetivas, as quais 10 das 60 participantes não responderam.
Abaixo, algumas transcrições do que as participantes relataram na pergunta 6 – “Como você descreveria o impacto do mioma uterino na qualidade de vida das mulheres?”:
“As mulheres sofrem bastante incomodo, falta de apetite, baixa autoestima.” “Vida normal até o momento que seja preciso fazer cirurgia.”
“Dores e desconfortos pélvicos.” “Forte dor, autoestima.”
“Impacto psicológico, como as mulheres começam a se ver a partir disso.”
“Os miomas uterinos são tumores benignos que se desenvolvem no útero. Embora muitas mulheres não apresentem sintomas, aqueles que se manifestam podem afetar profundamente a qualidade de vida da mulher devido a alguns sintomas.”
“Como um grande problema, pois no período menstrual ela sente muita dor e não pode desenvolver todas as suas funções ou atividades.”
“Pode trazer várias complicações de saúde, como anemia, hemorragia, dificuldade pra engravidar, entre outros.”
“Um dos maiores impactos seria na saúde mental, onde o mesmo acarretaria no impacto físico.”
“Causa muitos transtornos, pois traz desconforto, dores, sangramentos intensos e prejudica no dia a dia.”
“O estilo de vida às vezes influencia” “Não sei.”
“Mulheres com miomas uterinos sofrem com cólicas fortes, sangramento anormal, o que leva a qualidade de vida baixa.”
“Dificulta a gravidez, o aumento na região abdominal, sangramento intenso por dias prolongados.”
“Os miomas uterinos podem afetar a saúde mental das mulheres devido aos enfrentamentos que eles ocasionam, podendo contribuir para uma possível psicopatologia.”
“Dores, desconforto.”
“Primeiramente seria a autoestima baixa, indisposição e diversos outros impactos.”
“Os miomas mexem nos hormônios e quando a mulher descobre fica muito triste, porém, como em muitos casos, as mulheres, por efeito do mioma não podem engravidar.”
No que se refere a pergunta 6, a maioria das mulheres parece ter relatado mais os sintomas do que os impactos na qualidade de vida de uma mulher acometida por mioma. Na verdade, de acordo com Zelaquett (2024), alguns dos sintomas físicos (cólicas, sangramentos, aumento do volume abdominal, dor durante relações sexuais) e consequências (dificuldade para engravidar ou manter a gestação) do mioma trazem às mulheres impactos emocionais e tais impactos culminam na perda da qualidade de vida.
Por fim, as respostas da pergunta 7 – “Você tem alguma preocupação específica ou dúvida sobre miomas uterinos que gostaria de compartilhar?”:
“O que causa o mioma. Informações sobre prevenção.” “Se pode conviver com o mioma ou não.”
“A forma de tratamento, pois muitas mulheres acabam deixando de se preocupar com a saúde e só depois do caso agravado que vão procurar ajuda médica.”
“Poder engravidar.”
“Se poderá ter filhos, acredito que seja um pensamento.” “Quais são os sintomas?”
“Se ele pode desenvolver em um câncer e outros problemas por conta do desequilíbrio hormonal.”
“Dúvidas como: como adquirir o problema, como tratar, gravidade, diagnóstico e infertilidade.”
“Acredito que a maior preocupação seria se o mioma é maligno ou benigno.” “Acredito que a possibilidade de morte.”
“Maioria são de eles se tornarem um câncer maligno.” “Não sei.”
“Normalmente, se causa infertilidade e se o mioma uterino pode sumir apenas com tratamento medicamentoso.”
“Muitas mulheres têm dúvida sobre o que é mioma, como tratar, se tem cura, se tem tratamento com medicamentos, se essa condição pode causar infertilidade etc.”
“As principais preocupações são atreladas aos tratamentos, em decorrência da falta de informações para a população.”
“Se o estilo de vida influencia.”
“A preocupação é quando é retirado o útero, pois com a retirada os hormônios irão ficar descontrolados.”
“A principal dúvida e preocupação seria em relação a infertilidade.”
“Se é cancerígeno ou pode levar a morte sem tratamento ou qual tratamento.”
“A retirada do útero.”
Aqui viu-se que grande parte das mulheres se preocupa e tem dúvidas em relação a fertilidade, mas também demonstra uma falta de esclarecimento, demonstrando desconhecer que, de fato, os riscos de infertilidade são reais tanto quando uma mulher é acometida pelo mioma, quanto após um eventual procedimento cirúrgico, caso seja uma miomectomia secundária, que apresenta menor taxa de fertilidade em relação ao procedimento primário (FREDERICK et al., 2002). Além disso, as participantes relataram preocupações fazendo associações errôneas do mioma ao câncer. De acordo com Oliveira (2024), muitas pessoas questionam se o mioma é um câncer ou pode se transformar em um, mas a realidade é que miomas são tumores benignos nas células musculares do útero que nunca se transformam em células cancerosas.
Ao pesquisar literatura sobre o tema, pode-se constar que faltam dados do conhecimento de mulheres sobre mioma uterino Brasil afora. O único achado foi um estudo realizado por Francisco e Andrade (2024) com um grupo amostral de 20 mulheres na cidade de São Pedro do Turvo, São Paulo. Essa escassez de literatura impediu a realização análises comparativas mais profundas de dados, mas também reforçou a necessidade da investigação sobre o tema.
Como visto nos gráficos 4, 6, e 8, a maior parte do grupo amostral deste trabalho demonstrou ter algum tipo de familiaridade com o assunto, isto é, quantitativamente, pode-se observar um conhecimento básico das participantes sobre mioma. Em contrapartida, os dados qualitativos evidenciam um conhecimento insatisfatório.
Dessa forma, os resultados qualitativos quando confrontados com os quantitativos apresentam inconsistências. Apesar dos dados quantitativos mostrarem que as participantes têm um conhecimento básico sobre mioma, os dados qualitativos mostram que parte das mulheres tem uma percepção primária sobre a temática. Como observado nas respostas das questões 6 e 7, muitas mulheres parecem confusas em relação a muitos tópicos, mostrando que, embora, de forma geral, possam saber uma coisa ou outra sobre mioma, seu entendimento sobre a temática está comprometido em aspectos específicos, demonstrando lacunas no esclarecimento do assunto.
Isto é, embora o percentual de mulheres que responderam às perguntas objetivas corretamente seja maior do que o número de mulheres que responderam erroneamente às questões objetivas, somado aos dados do gráfico 5, em que uma grande maioria errou a resposta correta, pode-se considerar que seu entendimento acerca de alguns aspectos da doença ainda é diminuto, corroborando Francisco e Andrade (2024), que, em sua pesquisa, constataram conhecimento insatisfatório das mulheres a respeito do tema mioma uterino. Eles relatam que muitas mulheres nunca ouviram falar, o que é preocupante, já que 70% das mulheres são acometidas com mioma.
4. CONCLUSÕES
A presente pesquisa analisou o nível de conhecimento de alunas de uma faculdade em Abaetetuba, Pará sobre o mioma uterino. Utilizando uma abordagem metodológica mista, que abrangeu tanto aspectos qualitativos quanto quantitativos foi possível identificar diversas lacunas de conhecimento.
A análise dos dados revelou que a maioria das participantes possui uma compreensão limitada sobre os sinais, sintomas e opções de tratamento para miomas uterinos. Isso reforça a necessidade de estratégias educacionais mais eficazes e direcionadas para aumentar a conscientização sobre essa condição. Além disso, se destaca a importância do papel dos profissionais de saúde em fornecer informações precisas e acessíveis às mulheres, auxiliando na prevenção, diagnóstico e tratamento eficaz dessa patologia.
Ademais, os resultados sugerem a implementação de programas educativos nas instituições de ensino superior, que abordem não apenas os aspectos biológicos do mioma uterino, mas também suas implicações sociais e psicológicas. Desse modo, campanhas de conscientização e ações de saúde pública são essenciais para disseminar informações precisas e acessíveis, contribuindo para a prevenção e manejo adequado dos miomas uterinos.
Em termos de política pública, a incorporação de mais informações sobre miomas uterinos nos currículos das instituições de saúde, bem como a implementação de programas de saúde pública focados em condições ginecológicas, são passos essenciais para melhorar o nível de conhecimento e, consequentemente, a qualidade de vida das mulheres afetadas por essa condição.
Portanto, este estudo não só contribui para o conhecimento científico sobre a percepção das mulheres em relação aos miomas uterinos, mas também fornece uma base para futuras pesquisas e intervenções educativas. Somente com uma abordagem integrada e multidisciplinar será possível reduzir a prevalência de casos não diagnosticados, aprimorar a saúde reprodutiva feminina e promover um maior empoderamento das mulheres sobre suas condições de saúde.
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