A ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN: REVISÃO SISTEMÁTICA

THE ROLE OF THE PHYSICAL THERAPY IN CHILDREN WITH DOWN SYNDROME.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506261926


Verônica Martins Fim
Natália Ferreira do Nascimento1
Pablo Costa Cortez
Marcos Fernando de Andrade
Rafaella de Souza Pereira Rodrigues2


RESUMO 

A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética resultante da trissomia do  cromossomo 21, caracterizada por alterações no desenvolvimento motor, hipotonia  muscular, instabilidade ligamentar e dificuldades no equilíbrio postural. Essas  características impactam diretamente a aquisição de habilidades motoras e a funcionalidade da criança. Nesse contexto, a fisioterapia exerce um papel fundamental na promoção da  independência e qualidade de vida (Silva & Souza, 2018). 

A atuação fisioterapêutica visa não apenas o desenvolvimento motor, mas também o  estímulo global da criança, considerando suas necessidades individuais e o contexto  familiar e social em que está inserida. Técnicas como integração sensorial, exercícios  psicomotores, hidroterapia e equoterapia são amplamente utilizadas para promover  equilíbrio, força muscular, coordenação motora e autonomia (Pereira & Lima, 2019). 

Dessa forma, é essencial compreender as abordagens fisioterapêuticas mais eficazes para  esse público, assim como a importância da atuação interdisciplinar no processo  terapêutico. Assim, este estudo tem como objetivo analisar a atuação do fisioterapeuta no  desenvolvimento motor e funcional de crianças com SD, destacando as estratégias mais utilizadas e seus impactos no desempenho funcional (Oliveira & Fernandes, 2020). 

Palavras-chave: Síndrome de Down. Fisioterapia Pediátrica. Desenvolvimento Motor. Reabilitação Infantil. Equilíbrio Postural.

ABSTRACT 

Down Syndrome (DS) is a genetic condition caused by trisomy of chromosome 21,  characterized by motor development delays, muscle hypotonia, ligamentous laxity, and  postural balance impairments. These characteristics directly impact the acquisition of  motor skills and the functional abilities of the child. In this context, physical therapy plays a fundamental role in promoting independence and quality of life (Silva & Souza, 2018). 

Physical therapy interventions aim not only at motor development but also at global  stimulation of the child, taking into account individual needs and the family and social  environment. Techniques such as sensory integration, psychomotor exercises,  hydrotherapy, and hippotherapy are widely used to promote balance, muscle strength,  motor coordination, and autonomy (Pereira & Lima, 2019). 

Therefore, it is essential to understand the most effective physiotherapeutic approaches for this population, as well as the importance of interdisciplinary work in the therapeutic  process. This study aims to analyze the role of the physical therapist in the motor and  functional development of children with DS, highlighting the most commonly used  strategies and their impact on functional performance (Oliveira & Fernandes, 2020). 

Keywords: Down Syndrome. Pediatric Physical Therapy. Motor Development. Pediatric Rehabilitation. Postural Balance.

1. INTRODUÇÃO 

A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética caracterizada pela trissomia do  cromossomo 21, resultando em diversas alterações no desenvolvimento motor, cognitivo e social. Estima-se que a SD afete aproximadamente 1 a cada 700  nascimentos, sendo a anomalia cromossômica mais comum na população humana  (Domingos et al., 2021).  

Crianças com SD frequentemente apresentam hipotonia muscular, frouxidão  ligamentar e déficits no controle postural, o que impacta diretamente sua funcionalidade  e independência (Freitas, Sofiatti & Vieira, 2021). A fisioterapia tem um papel essencial  na estimulação motora dessas crianças, auxiliando na aquisição de marcos motores, no  fortalecimento muscular e na melhora do equilíbrio postural. Diferentes abordagens  fisioterapêuticas vêm sendo estudadas para determinar quais são mais eficazes na  promoção do desenvolvimento motor e da qualidade de vida dessas crianças (Souza et  al., 2022). 

O desenvolvimento motor das crianças com Síndrome de Down (SD) ocorre de forma  mais lenta devido a fatores como tônus muscular reduzido e instabilidade articular. Essas características dificultam a aquisição de habilidades como sentar, engatinhar,  andar e correr. O controle postural é uma das áreas mais afetadas, prejudicando a  locomoção e a realização de atividades diárias. Estudos indicam que crianças com SD  apresentam dificuldades significativas no equilíbrio estático e dinâmico, evidenciando a  necessidade de intervenções precoces para minimizar esses impactos (Carvalho &  Almeida, 2008).  

Intervenções fisioterapêuticas específicas, como programas de exercícios físicos em  cama elástica, têm demonstrado eficácia na melhoria do equilíbrio e da coordenação  motora, promovendo maior independência funcional (Apoloni et al., 2013).

2. METODOLOGIA 

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica que busca analisar a atuação do  fisioterapeuta no desenvolvimento motor de crianças com Síndrome de Down (SD), com ênfase no controle motor. Para a seleção dos artigos, foi realizada uma busca em  bases de dados reconhecidas, como Google Acadêmico, Biblioteca Virtual em Saúde  (BVS) e SciELO, utilizando descritores relevantes e combinações de palavras-chave que abrangem a temática do estudo. 

Os termos empregados foram “SÍNDROME DE DOWN” AND “CRIANÇAS” AND  “FISIOTERAPIA” AND “CONTROLE MOTOR”, além de variações como “ação  fisioterapêutica”, “intervenção fisioterapêutica” e “controle motor”. A seleção dos  estudos seguiu critérios previamente estabelecidos para garantir a qualidade e relevância  da revisão. Foram incluídos artigos publicados nos últimos 10 anos, disponíveis em  português, inglês ou espanhol, que abordassem diretamente a fisioterapia e suas  implicações no controle motor de crianças com SD. 

Foram excluídos estudos que não tratavam diretamente da atuação fisioterapêutica,  artigos fora do período estabelecido, publicações em idiomas distintos dos selecionados  e revisões sem fundamentação metodológica clara. A pesquisa inicial resultou em 112  artigos, sendo que, após a aplicação dos filtros de idioma e período de publicação,  restaram 69 estudos. 

A partir da análise criteriosa dos títulos e resumos, foram selecionados 5 artigos que  atendiam a todos os critérios de inclusão. Os dados foram organizados e analisados de  forma crítica, permitindo uma compreensão aprofundada das principais abordagens  fisioterapêuticas voltadas para a melhora do controle motor em crianças com SD,  destacando os efeitos e benefícios da intervenção profissional na promoção da  independência funcional e na qualidade de vida dessa população.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A fisioterapia pediátrica utiliza diversas abordagens para promover o  desenvolvimento motor e postural de crianças com SD. Entre as principais intervenções,  destacam-se: 

  • Exercícios psicomotores: Trabalham a coordenação motora global e fina,  auxiliando na consciência corporal e no desenvolvimento das habilidades  motoras fundamentais (Neurosaber, 2022). 
  • Hidroterapia: O ambiente aquático reduz a ação da gravidade, permitindo  maior liberdade de movimento e facilitando o fortalecimento muscular e a  melhora do equilíbrio (Fiocruz, 2021). 
  • Equoterapia: Utiliza o movimento do cavalo para estimular ajustes posturais e  promover benefícios motores e sensoriais, sendo especialmente útil para crianças  com SD (Silva & Moraes, 2007). 
  • Treinamento de equilíbrio: Métodos que incluem atividades em superfícies  instáveis e exercícios de propriocepção são eficazes para melhorar a estabilidade  postural (InterFISIO, 2023). 
  • Atividades lúdicas: Estratégias recreativas e jogos podem ser mais eficazes do  que métodos tradicionais na reabilitação motora, promovendo maior  engajamento da criança no processo terapêutico (FaçaFisioterapia, 2024). 

A tabela abaixo apresenta um comparativo entre os estudos analisados, destacando as abordagens utilizadas e os resultados observados:

Os estudos revisados apontam que diferentes abordagens fisioterapêuticas  oferecem benefícios significativos para crianças com Síndrome de Down (SD). A  fisioterapia convencional apresentou melhores resultados no aprimoramento do  equilíbrio postural, enquanto a equoterapia demonstrou vantagens no estímulo à  socialização. Intervenções aquáticas favoreceram o controle postural e a força muscular,  devido à redução do impacto e ao suporte da água, enquanto atividades lúdicas  contribuíram para um desenvolvimento motor mais eficaz em comparação com métodos  tradicionais.  

No entanto, observou-se que crianças com SD enfrentam dificuldades em tarefas  que exigem controle motor refinado, o que reforça a importância da intervenção  precoce. Além disso, crianças mais velhas apresentaram melhor desempenho em  equilíbrio, possivelmente refletindo a evolução natural do controle postural com o tempo. De modo geral, os achados destacam que a fisioterapia, especialmente quando  iniciada precocemente, é essencial para maximizar o potencial motor, prevenir  compensações inadequadas e promover maior independência funcional. 

As principais vantagens das abordagens analisadas incluem: 

  • Equoterapia: Favorece o controle postural e melhora a interação social, mas  pode ser de difícil acesso devido à necessidade de locais especializados.
  • Hidroterapia: Proporciona um ambiente seguro para treino motor, mas depende  da disponibilidade de infraestrutura adequada. 
  • Treinamento de equilíbrio e atividades lúdicas: Apresentam eficácia  significativa no desenvolvimento motor, sendo acessíveis e adaptáveis a  diferentes contextos. 

Entretanto, algumas limitações ainda devem ser consideradas, como a necessidade  de personalização dos tratamentos, a variação na resposta individual das crianças e os  desafios no acesso a terapias especializadas. 

A fisioterapia é uma ferramenta essencial para melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida das crianças com SD. Para otimizar os resultados, é necessário que os  tratamentos sejam adaptados às necessidades individuais de cada criança, utilizando  abordagens baseadas em evidências científicas. 

Futuras pesquisas devem explorar o impacto de novas tecnologias, como  dispositivos de biofeedback e realidade virtual, na reabilitação motora de crianças com  SD. Além disso, a implementação de programas de fisioterapia acessíveis e a  capacitação de profissionais são medidas essenciais para ampliar o alcance dos benefícios terapêuticos. 

A revisão da literatura reforça a importância de uma abordagem interdisciplinar,  integrando a fisioterapia a outras áreas da saúde para garantir um desenvolvimento  global e funcional dessas crianças. Os resultados obtidos até o momento reforçam a  importância da atuação do fisioterapeuta no desenvolvimento motor e funcional de  crianças com Síndrome de Down. A literatura analisada destaca que a intervenção  precoce é fundamental para minimizar os impactos da hipotonia muscular e do atraso  neuromotor, favorecendo a aquisição de habilidades motoras e a independência  funcional. Abordagens como o treino de marcha, fortalecimento muscular, fisioterapia  aquática e o uso de estratégias lúdicas demonstraram eficácia na melhora da postura,  equilíbrio e coordenação. Além disso, a participação ativa da família e a integração  com outras áreas da saúde são fatores essenciais para potencializar os benefícios  terapêuticos.

4. CONCLUSÃO 

Diante dessas evidências, a fisioterapia desempenha um papel essencial na  promoção da qualidade de vida dessas crianças, sendo necessário um acompanhamento  contínuo e baseado em protocolos individualizados para garantir melhores resultados. 

A análise realizada neste estudo reafirma a relevância da atuação fisioterapêutica  no desenvolvimento motor e funcional de crianças com síndrome de Down. Evidenciou-se que a fisioterapia, especialmente quando iniciada precocemente, contribui  significativamente para a aquisição de habilidades motoras, melhora do equilíbrio  postural, coordenação motora e fortalecimento muscular. Técnicas como equoterapia,  hidroterapia, exercícios psicomotores e atividades lúdicas se mostraram eficazes na  promoção da autonomia e qualidade de vida dessas crianças. 

Além dos benefícios físicos, a intervenção fisioterapêutica também influencia  positivamente aspectos psicossociais, como a socialização e o engajamento no processo  terapêutico, principalmente quando integrada a uma abordagem interdisciplinar. O  estudo ainda ressalta a importância da personalização dos tratamentos, considerando as  particularidades de cada criança e o contexto em que está inserida. 

Portanto, conclui-se que a fisioterapia pediátrica desempenha um papel indispensável na promoção do desenvolvimento global de crianças com síndrome de  Down, devendo ser valorizada como estratégia central nos planos de reabilitação  infantil. O investimento em recursos, capacitação profissional e políticas públicas que  favoreçam o acesso a essas terapias são essenciais para garantir melhores desfechos  clínicos e sociais.

REFERÊNCIAS 

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1Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Nilton Lins
2Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Nilton Lins