A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506260716


Autor: Werlly Douglas dos Santos Rodrigues1
Orientador: Joserlan Nonato Moreira2


RESUMO

Nas últimas décadas, o setor agroindustrial tem sido desafiado a rever seus processos produtivos diante das exigências ambientais, sociais e de governança. A crescente cobrança por transparência, eficiência e responsabilidade tem exposto os limites do modelo tradicional de produção, baseado em extração intensiva e descarte acelerado de recursos. Nesse contexto, a educação ambiental surge como elemento estratégico, capaz de alinhar condutas individuais e coletivas à lógica da sustentabilidade e de favorecer a adoção concreta das diretrizes ASG no ciclo de vida dos produtos agroindustriais. Com base nessa premissa, o presente estudo teve por objetivo analisar a importância da educação ambiental e da sustentabilidade no contexto dos sistemas agroindustriais. O estudo foi conduzido por meio de uma Revisão Integrativa da Literatura, a partir da coleta de estudos publicados entre 2015 e 2025, extraídas das bases SciELO, Periódicos CAPES e Google Acadêmico. Os achados apontaram que a educação ambiental, quando compreendida em sua dimensão crítica e formativa, possui potencial para reestruturar a lógica produtiva agroindustrial, articulando práticas agroecológicas, estratégias cooperativas e ações pedagógicas comprometidas com o território. Por outro lado, experiências com base na agricultura familiar e na agroindústria de pequeno porte demonstraram avanços significativos, ao integrar a educação ambiental a processos de gestão participativa, revalorização dos saberes locais e adesão gradual aos critérios ASG. Conclui-se que a incorporação da educação ambiental nas práticas agroindustriais, quando alicerçada em metodologias dialógicas e orientada para a transformação das relações entre produção e meio ambiente, contribui para o redesenho sustentável do ciclo de vida dos produtos. Esse processo exige, no entanto, o abandono de perspectivas normativas e superficiais, demandando o fortalecimento de políticas públicas, a valorização dos agentes locais e o reconhecimento da sustentabilidade como eixo estruturante, e não periférico, do modelo agroindustrial.

Palavras-chave: Educação ambiental. Agroindústria. Sustentabilidade. ASG.

ABSTRACT

In recent decades, the agroindustrial sector has been challenged to review its production processes in light of environmental, social and governance demands. The growing demand for transparency, efficiency and accountability has exposed the limits of the traditional production model, based on intensive extraction and accelerated disposal of resources. In this context, environmental education emerges as a strategic element, capable of aligning individual and collective behaviors with the logic of sustainability and favoring the concrete adoption of ESG guidelines in the life cycle of agroindustrial products. Based on this premise, this study aimed to analyze the importance of environmental education and sustainability in the context of agroindustrial systems. The study was conducted through an Integrative Literature Review, based on the collection of studies published between 2015 and 2025, extracted from the SciELO, CAPES Periodicals and Google Scholar databases. The findings indicated that environmental education, when understood in its critical and formative dimension, has the potential to restructure the agroindustrial production logic, articulating agroecological practices, cooperative strategies and pedagogical actions committed to the territory. On the other hand, experiences based on family farming and small-scale agroindustry demonstrated significant advances by integrating environmental education into participatory management processes, revaluing local knowledge and gradually adopting ESG criteria. It is concluded that the incorporation of environmental education into agroindustrial practices, when based on dialogical methodologies and oriented towards transforming the relations between production and the environment, contributes to the sustainable redesign of the life cycle of products. This process requires, however, abandoning normative and superficial perspectives, demanding the strengthening of public policies, the valorization of local agents and the recognition of sustainability as a structuring axis, and not a peripheral one, of the agroindustrial model. 

Keywords: Environmental education. Agroindustry. Sustainability. ESG.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o setor agroindustrial tem enfrentando pressões para reformular seus processos produtivos diante das novas exigências ambientais, sociais e de governança. De acordo com Braga e Braga (2021), o modelo de produção baseado em extração e descarte rápido revela sinais de esgotamento, tanto no âmbito ecológico, quanto no operacional. Tal constatação não decorre de pressões externas isoladas, mas da própria dinâmica interna do setor, que enfrenta dificuldades de adaptação diante da exigência por rastreabilidade, eficiência energética e redução do passivo ambiental.

Nesse cenário, conforme apontado por Santos e Pierre (2018), a educação ambiental se destaca operando como um instrumento de transformação organizacional, capaz de alinhar o comportamento dos agentes envolvidos a princípios orientados para a preservação dos recursos e para a longevidade das operações agroindustriais. 

Com isso, pode-se afirmar que as diretrizes ASG (Environmental, Social and Governance – Ambientais, Sociais e de Governança) aparecem como parâmetros organizacionais. Para Glavina et al. (2018), no âmbito das agroindústrias, a adoção da ASG exige a reestruturação de práticas, desde o uso de recursos naturais até os modelos de gestão e relações laborais. Assim, a dimensão ambiental impõe o uso criterioso da matéria-prima e a mitigação dos impactos ao ecossistema; a dimensão social exige condições de trabalho equânimes e relações transparentes com as comunidades envolvidas; a governança, por sua vez, demanda estruturas decisórias claras, estáveis e auditáveis. 

No entanto, permanece a indagação sobre como tais princípios podem, de fato, ser incorporados de maneira sistemática e mensurável dentro de cadeias produtivas historicamente voltadas à produtividade a qualquer custo. Pergunta-se, pois: de que modo a educação ambiental pode contribuir, de forma concreta, para o redesenho sustentável do ciclo de vida dos produtos nos sistemas agroindustriais sob as diretrizes ASG?

Diante dessa questão, o presente estudo tem por objetivo analisar a importância da educação ambiental e da sustentabilidade no contexto dos sistemas agroindustriais. De forma específica, busca-se: investigar como a educação ambiental pode contribuir para práticas sustentáveis nos sistemas agroindustriais; avaliar a aplicação dos padrões ASG no ciclo de vida de produtos agroindustriais visando maior eficiência e rentabilidade sustentável; e identificar estratégias que promovam a redução do impacto ambiental ao longo do processo produtivo agroindustrial.

Convém salientar que este estudo é relevante diante da necessidade de reorganização estrutural das agroindústrias para responder às exigências de conformidade ambiental e reorientar suas práticas produtivas em direção a um modelo de desenvolvimento que una responsabilidade, lucratividade e longevidade. Abordar a educação ambiental como vetor de mudança e integrar os princípios ASG como norteadores estratégicos, pode contribuir para o delineamento de novos caminhos operacionais dentro de um setor fundamental à economia e à segurança alimentar.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Desenvolvimento sustentável e educação ambiental

Reconhecendo a importância de se construir um modelo educacional alinhado aos desafios do século XXI, foi estabelecida a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, que abrangeu o período de 2005 a 2014. Esse projeto, segundo Loureiro (2016), priorizou as áreas de sociedade, meio ambiente e economia, considerando as particularidades culturais de cada país para promover uma educação voltada para a sustentabilidade global.

Segundo Barreto e Vilaça (2018), a educação para o desenvolvimento sustentável se baseia na preocupação com a degradação dos recursos naturais e na ameaça de sua escassez, que afeta tanto as gerações atuais quanto as futuras, criando a urgência de uma mudança na postura da sociedade diante do modelo econômico vigente, que tem gerado exclusão social e poluição ambiental.

É importante salientar, conforme apontado por Teixeira (2016), que o crescimento econômico beneficia principalmente os ricos, ampliando as desigualdades para os mais pobres. Entre 1950 e 1997, o uso de madeira na construção e o consumo de grãos triplicaram, o uso de combustíveis fósseis quase quadruplicou, e os poluentes do ar e da água aumentaram drasticamente. Enquanto os mais abastados desfrutam de uma vida com mais conforto e qualidade, os pobres enfrentam a falta de moradia digna, sofrem com fome e desnutrição e vivem em condições desumanas, ficando à margem do desenvolvimento econômico.

Se o modelo econômico atual não consegue assegurar nem o básico para a sobrevivência de todos, é urgente refletirmos sobre nosso padrão de consumo e sobre o rumo que esse sistema está tomando, especialmente considerando os recursos naturais limitados que temos à disposição. Dessa forma, segundo Assis (2014), a educação se torna uma ferramenta essencial para refletirmos sobre as melhores formas de alcançar o desenvolvimento sustentável, promovendo melhorias na qualidade ambiental e buscando mais justiça social.

A educação ambiental, conforme esclarece Marques; Rios e Alves (2022), foca nas relações entre o ser humano e o meio ambiente, buscando formas de preservá-lo e conservá-lo. Por sua vez, a educação para o desenvolvimento sustentável amplia essa abordagem, conectando a educação ambiental com o contexto socioeconômico e cultural. Seu ensino precisa ser interdisciplinar, sem se limitar a uma única disciplina. A metodologia deve incentivar a análise crítica do modelo econômico atual e do modelo de desenvolvimento sustentável desejado, promovendo soluções para os problemas gerados pelo sistema econômico vigente.

Barbieri (2020) aponta que a ideia de desenvolvimento sustentável sempre foi um tema de destaque em encontros e conferências, tanto locais quanto internacionais, sobre questões ambientais. Desde os anos 1960, com o crescimento acelerado das economias e a forma como as produções aconteciam, a preocupação com o meio ambiente passou a ser algo constante. Esse alerta ficou ainda mais claro com a publicação do famoso “Limites do Crescimento”, também conhecido como o Relatório Meadows, que se tornou o livro sobre meio ambiente mais vendido de todos os tempos.

A publicação foi impulsionada, segundo Barros (2017), por Aurelio Peccei, empresário italiano e fundador da FIAT, onde presidiu por 20 anos. Junto com o cientista escocês Alexander King, Peccei criou, em abril de 1968, o Clube de Roma, um grupo de empresários que se preocupavam com a escassez de recursos naturais, algo que poderia mexer com toda a estrutura de produção da época. O livro tratava de questões essenciais para o futuro da humanidade, como energia, poluição, saneamento, saúde, meio ambiente, tecnologia e o aumento da população.

Barros (2017) salienta ainda que a partir desse momento, várias conferências globais e internacionais abordaram o meio ambiente sob diferentes perspectivas, com a primeira acontecendo em 1972, em Estocolmo, na Suécia. Organizada pela ONU, a Primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano trouxe à tona a importância da educação, defendendo a ideia de que é essencial formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios ambientais. Pode-se dizer que foi nesse evento que surgiu o conceito que hoje chamamos de “educação ambiental”.

Em 1975, segundo Cassiano e Echeverría (2014), foi realizado o Seminário Internacional de Educação Ambiental em Belgrado, na Iugoslávia, um evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Durante o encontro, foram estabelecidos os princípios e diretrizes para o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA). Esse programa definiu que a Educação Ambiental deveria ser contínua, multidisciplinar, adaptada às particularidades regionais e focada nas necessidades dos países. Algumas dessas diretrizes ficaram registradas na Carta de Belgrado, que passou a servir como referência para as ações de educação ambiental.

Cassiano e Echeverría (2014) destaca também que em 1977, o Primeiro Congresso Internacional de Educação Ambiental da UNESCO, em Tbilisi, estabeleceu princípios fundamentais para a Educação Ambiental mundial, inspirados na Carta de Belgrado. Em 1987, a UNESCO e o PNUMA continuaram essas discussões em Moscou. Nesse período, o relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido como Relatório Brundtland, destacou a importância do desenvolvimento sustentável, alertando sobre o uso excessivo dos recursos naturais. Em 1992, a Conferência Rio 92, no Brasil, reforçou a sustentabilidade como prioridade política global e resultou na criação de documentos como a Agenda XXI, que incentivou práticas sustentáveis e programas de inclusão social, adaptados para educação básica em várias línguas.

Destarte, em 1997, aconteceu a Conferência Internacional da UNESCO sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, em Thessaloniki, na Grécia. A Declaração resultante, publicada em 1998, reafirmou vários pontos discutidos em conferências anteriores, como a ideia de que a educação é essencial para capacitar todas as pessoas ao redor do mundo a conduzir suas próprias vidas. Destacou-se ainda a importância de permitir que todos exerçam suas escolhas e responsabilidades pessoais, e que possam aprender livremente, sem limitações impostas por barreiras geográficas, políticas, culturais, religiosas, linguísticas ou de gênero, conforme apontado por Matos et al. (2016). 

Para Cavalcante (2020), esse contexto possibilita a referência à educação para o meio ambiente e a sustentabilidade. Em 2002, durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável – Rio+10, realizada em Joanesburgo, África do Sul, a questão da Educação Ambiental foi praticamente ignorada. No entanto, o evento retomou a discussão sobre a necessidade urgente de um desenvolvimento sustentável. A Rio+10 teve como objetivo avaliar as condições atuais e estabelecer prioridades para ações futuras no âmbito ambiental, reforçando o compromisso de alcançar os objetivos estabelecidos na Agenda 21.

Cavalcante (2020) evidencia ainda que em 2012, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, no Rio de Janeiro, Brasil. A conferência gerou uma série de publicações importantes, incluindo o “Relatório Rio+20: o Modelo Brasileiro” e os “Cadernos de Sustentabilidade da Rio+2”. Embora tenha sido considerada decepcionante por alguns e um avanço nos acordos políticos por outros, a Rio+20 foi fundamental para reavivar o debate sobre Educação Ambiental em diferentes esferas sociais e níveis educacionais, conectando também o conceito de Cultura da Paz a essa temática.

2.2 Sistemas agroindustriais

De acordo com Kalaki e Neves (2017), os sistemas agroindustriais são uma das estruturas essenciais para a articulação entre o setor primário da economia, voltado à produção agropecuária, e os setores secundário e terciário, que lidam com o processamento, distribuição e comercialização dos produtos agroalimentares. Essa rede de relações produtivas tem origem na necessidade de integrar diferentes elos da cadeia produtiva a fim de garantir a fluidez, a qualidade e o valor agregado dos produtos do campo até o consumidor final. 

Historicamente, conforme aponta Vieira e Athayde (2022), os sistemas agroindustriais começaram a se consolidar no século XX, a partir do processo de industrialização da agricultura, especialmente nos países desenvolvidos. No Brasil, esse modelo ganhou força a partir da década de 1970, com o avanço da modernização agrícola promovida pela chamada “Revolução Verde”. O uso intensivo de tecnologia, insumos industriais e a mecanização alteraram a estrutura produtiva rural, exigindo novos arranjos institucionais e empresariais para garantir o escoamento e a transformação dos produtos agropecuários.

Do ponto de vista conceitual, Vieira e Athayde (2022) salientam que um sistema agroindustrial pode ser entendido como um conjunto de atividades econômicas interligadas, que vai desde a produção agrícola até o consumo final dos bens, passando pelas etapas de beneficiamento, armazenamento, transporte, comercialização e consumo. Assim, esse sistema compreende uma cadeia de valor composta por diversos agentes: agricultores, indústrias, cooperativas, transportadoras, redes varejistas e consumidores, cujos atividades em conjunto determinam a eficiência e a sustentabilidade do sistema como um todo.

Convém salientar, de acordo com Barbosa e Caleman (2016), que os sistemas agroindustriais modernos são marcados pela crescente sofisticação tecnológica e pela exigência de padrões rigorosos de qualidade e rastreabilidade. A aplicação de biotecnologia, automação e sistemas de gestão integrada têm permitido uma maior previsibilidade da produção, redução de perdas e otimização do uso de recursos naturais. Isso, contudo, também impõe desafios relacionados à concentração econômica, à exclusão de pequenos produtores e à intensificação dos impactos ambientais.

Ademais, um aspecto importante a ser considerado nos sistemas agroindustriais é a governança das cadeias produtivas que envolve o conjunto de regras formais e informais, contratos, padrões e instituições que coordenam as interações entre os atores da cadeia. Essa governança pode ser verticalizada, quando um mesmo agente controla várias etapas do processo produtivo, ou descentralizada, com múltiplos agentes autônomos negociando entre si. A forma como essa governança é organizada tem implicações diretas sobre a distribuição de valor, a inserção de pequenos produtores e a resiliência do sistema frente a choques externos (Barbosa; Caleman, 2016).

Destarte, Kalaki e Neves (201&) esclarecem que a eficiência de uma agroindústria depende da qualidade e da regularidade do suprimento agrícola, assim como os produtores rurais dependem da existência de canais de processamento e escoamento, interdependência essa que exige, consequentemente, planejamento coordenado, infraestrutura logística adequada e políticas públicas que favoreçam a integração produtiva e regional.

3 METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como uma Revisão Integrativa da Literatura, abordagem metodológica que permite reunir, analisar e sintetizar os conhecimentos produzidos sobre determinado tema, independentemente das metodologias empregadas nos estudos incluídos (Carvalho, 2021). A primeira etapa do processo consistiu na delimitação do tema e na formulação da questão norteadora, a saber: de que modo a educação ambiental pode contribuir, de forma concreta, para o redesenho sustentável do ciclo de vida dos produtos nos sistemas agroindustriais sob as diretrizes ASG?

Na segunda etapa, foi realizada a busca de estudos nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódicos Capes e Google Acadêmico. Os critérios de inclusão adotados foram: publicações entre os anos de 2015 e 2025, artigos disponíveis na íntegra, de acesso livre, publicados nos idiomas português, inglês ou espanhol, e que abordassem, de forma direta, ao menos um dos seguintes eixos temáticos: práticas sustentáveis na agroindústria, educação ambiental no setor agroindustrial ou aplicação de critérios ASG na cadeia produtiva agroalimentar. Foram priorizados estudos empíricos, como pesquisas de campo, estudos de caso e análises de implementação de políticas públicas, sem, contudo, desconsiderar abordagens teóricas com fundamentação consistente e aderência ao objeto de estudo.

Na terceira etapa, elaborou-se um instrumento específico de coleta de dados, a fim de sistematizar as informações extraídas das publicações selecionadas. Este instrumento incluiu campos para identificação da autoria, ano e local da publicação, tipo de estudo, objetivo principal, abordagem metodológica, principais resultados e contribuição do estudo para a compreensão dos sistemas agroindustriais sob a ótica da sustentabilidade e da educação ambiental.

A quarta etapa compreendeu a leitura analítica e interpretativa dos textos completos, buscando identificar como os autores abordaram a integração entre práticas sustentáveis e processos agroindustriais, bem como o papel da educação ambiental na formação de agentes comprometidos com a responsabilidade socioambiental. 

A quinta etapa correspondeu à análise comparativa dos dados sistematizados. Nessa fase, foram identificadas regularidades e lacunas na literatura, com ênfase na aplicação dos padrões ASG ao ciclo de vida de produtos agroindustriais, nas estratégias educacionais voltadas à sustentabilidade e nas práticas de mitigação de impactos ambientais. Por fim, a sexta etapa contemplou a síntese e apresentação dos resultados, destacando as principais conclusões da literatura examinada. 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 12 (doze) estudos publicados entre 2015 a 2024, os quais foram sintetizados no quadro abaixo (Quadro 1). 

Quadro 1 – Síntese dos estudos selecionados. 

AutoresAnoTítuloLocal de Publicação
ANDRADE, Thiago Borges; SIQUEIRA, Mariana Nascimento2023Agronegócio: educação ambiental do pequeno produtor rural e prevenção de delitos ambientaisRevista Acadêmica Online
BALBI, Tássia Gabriele2024“Passando a boiada” na Educação Ambiental: os programas educacionais do agronegócioRevista Mutirõ
BORSATTO, Ana Luísa et al.2023Manejos conscientes em busca de menor desmatamento: as sementes ESG sendo plantadasRevista de Administração IMED
GAZOLLA, Marcio et al.2022Agroindústrias rurais, políticas públicas e desenvolvimento regional: um perfil da agroindustrialização brasileira com base nos dados do Censo Agropecuário 2017Redes. Revista do Desenvolvimento Regional
LAMARCA, Daniel Sá Freire; VIEIRA, Silvia Cristina; MORALES, Angélica Gois2015Educação Ambiental na Agricultura Familiar: uma análise no município de Tupã– SPXI Fórum Ambiental da Alta Paulista (ANAP)
LEAL, Vívia Motta et al.2024A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão no desenvolvimento sustentável da agricultura familiar: estudo de caso da agroindústria Rancho SossegoCadernos de Agroecologia
LIMA, Charles Carminati; PARTELI, Laís de Fátima; LOOSE, Cleberson Eller2015O empreendedorismo rural e a agroindústria familiar na gestão da atividade agropecuária em RondôniaRAC-Revista de Administração e Contabilidade– CNECEdigraf
SANTOS, Bruna Eduarda Faria Silva; LISBOA, Fernando Caixeta; ROSSI, Rodrigo Otávio Decaria2024Análise comparativa das práticas ASG em empresas que atuam no setor pecuário leiteiroBrazilian Journal of Development
SANTOS, Crisliane Aparecida Pereira2016Educação ambiental: uma ferramenta na mitigação de conflitos na bacia do rio Grande, oeste da BahiaHOLOS
SANTOS, Joelma et al.2022Práticas de Educação Ambiental na agricultura familiar: estudo de caso em cooperativa de agricultores no bairro Mucunã, Maracanaú (CE)Revista Brasileira de Educação Ambiental
SANTOS, Veronica Ariana Leite; PIERRE, Fernanda Cristina2018Fatores chaves para implantar um sistema de gestão ambiental em uma agroindústriaTekhne e Logos
VELHO, João Paulo Laranjo2020A Educação Ambiental como ferramenta do agronegócio para divulgarem suas atividades no ConesulEducação Sem Distância – Revista Eletrônica da Faculdade Unyleya
Fonte: Elaborado pelo autor (2025). 

Os estudos, de forma geral, apresentam contribuições relevantes no que tange à educação ambiental, agroindústria familiar e práticas sustentáveis. No entanto, observa-se uma lacuna quanto à articulação direta entre educação ambiental crítica e a aplicação concreta dos padrões ASG no redesenho do ciclo de vida dos produtos agroindustriais. A maioria dos trabalhos se concentra ora em abordagens pedagógicas voltadas ao campo da agricultura familiar, ora em análises descritivas de práticas empresariais, sem, contudo, estabelecer conexões robustas entre os processos educativos, os indicadores de sustentabilidade e as práticas de gestão produtiva. Essa carência reforça a necessidade de aprofundar investigações que integrem dimensões formativas, socioambientais e de governança no interior das cadeias agroindustriais.

Nesse sentido, conforme apontado por Gazolla et al. (2022), as agroindústrias tendem a se concentrar nos espaços vinculados à agricultura familiar, embora sejam os empreendimentos de caráter não familiar os que respondem pelos maiores volumes em produção e comercialização. O Nordeste abriga a maior quantidade de agroindústrias, ao passo que a região Sudeste se sobressai nos indicadores de valor agregado e vendas. Já o Sul destaca-se por um padrão distinto, com índices mais elevados de autoconsumo. Em termos estruturais, prevalecem agroindústrias situadas em propriedades com área inferior a 50 hectares, sendo que a imensa maioria delas opera sem qualquer suporte técnico especializado, fato que compromete o aprimoramento dos processos e a inserção mais qualificada no mercado.

Nesse sentido, ao reconhecer a agricultura familiar como agente expressivo tanto na produção de alimentos in natura quanto no fornecimento de matérias-primas para o setor agroindustrial, evidencia-se o papel estratégico da educação ambiental nos territórios rurais. Lamarca; Vieira e Morales (2025), ao investigarem saberes e práticas relacionadas à temática na região de Tupã-SP, constataram que grande parte das ações ambientais adotadas pelos agricultores decorre do cumprimento de exigências legais, e não de iniciativas autônomas ou educativas. 

Quanto às percepções, Lamarca; Vieira e Morales (2025) observaram um entendimento recorrente de que a preservação do meio ambiente está diretamente associada à melhoria das condições de vida no campo. No entanto, apesar desse reconhecimento, permanece latente a necessidade de políticas mais efetivas e de um processo formativo contínuo que integre a educação ambiental ao cotidiano produtivo, de modo a fomentar transformações duradouras e alinhadas a princípios de sustentabilidade.

Santos et al. (2022) ressaltam que, no contexto da agricultura familiar, a adoção de práticas cooperativas associadas a métodos agroecológicos exerce papel determinante no fortalecimento econômico e político das comunidades rurais. As ações educativas voltadas ao meio ambiente favorecem o avanço de iniciativas sustentáveis, e a articulação entre o cooperativismo e a educação ambiental mostrase capaz de promover melhorias concretas na qualidade de vida dos agricultores. 

De modo complementar, Lima; Parteli e Loose (2015) analisaram o impacto das estratégias empreendedoras adotadas por produtores no desenvolvimento das agroindústrias familiares. O estudo identificou que tais estratégias contribuem de maneira significativa para a comercialização, o fortalecimento da cooperação, a incorporação de inovações tecnológicas e o aprimoramento do controle das atividades produtivas. Ainda que enfrentem limitações ligadas à produção e à inserção no mercado, o empreendedorismo tem se revelado elemento fundamental na geração de novas alternativas de trabalho e renda no meio rural.

Santos e Pierre (2018) apontam que a gestão ambiental assume papel fundamental no contexto das agroindústrias, sobretudo diante do aumento das exigências legais e da intensificação das fiscalizações voltadas à proteção do meio ambiente. Nesse cenário, a capacitação por meio da educação ambiental e o treinamento contínuo dos trabalhadores tornam-se indispensáveis para o desenvolvimento das competências requeridas na adoção de práticas sustentáveis.

Complementarmente, Santos; Lisboa e Rossi (2024) assinalam que a adoção de estratégias voltadas à sustentabilidade ambiental, como a contenção das emissões de metano (CH₄), integra uma agenda internacional que mobiliza mais de uma centena de países com a meta de reduzir em até 30% os gases de efeito estufa até o ano de 2030.

No levantamento conduzido por Borsatto et al. (2023), observou-se que grande parte das empresas listadas no índice Iagro B3 apresenta desempenho classificado entre bom e excelente na adoção de práticas relacionadas aos critérios ESG, o que se reflete em pontuações gerais mais elevadas. Dentre essas empresas, 68,42% demonstram níveis satisfatórios tanto na execução de práticas sustentáveis quanto na transparência do reporte de dados ambientais, sociais e de governança. Os resultados confirmam a existência de correlação positiva entre os três pilares que compõem a sigla ESG e o desempenho geral mensurado por tais indicadores.

Na mesma direção, Leal et al. (2024) destacam que a sustentabilidade no meio rural está alicerçada em um conjunto de fatores que incluem a transferência de tecnologia, a formação agroecológica dos trabalhadores, a gestão voltada à agregação de valor, a adesão a políticas públicas estruturantes e a geração de renda. Sobretudo, a promoção da qualidade de vida é apontada como fator-chave para garantir a permanência das novas gerações no campo. 

O estudo de Leal et al. (2024) evidencia que, ao fortalecer o eixo social por meio da integração entre pesquisa, extensão e ações coletivas, os impactos extrapolam o âmbito da agroindústria em si, alcançando benefícios concretos para a comunidade local, como o aumento da segurança alimentar, a efetivação de políticas públicas (caso do PNAE), o avanço da educação ambiental e o fortalecimento da responsabilidade social. A educação agroecológica e o estímulo à consciência ambiental são elementos essenciais para uma transformação duradoura da lógica produtiva, permitindo o equilíbrio entre as dimensões ambiental, social e econômica que sustentam a atividade agroindustrial.

Santos (2016) analisa o papel da Educação Ambiental como instrumento de mediação em contextos marcados por tensões entre diferentes formas de uso e ocupação do solo, especialmente em áreas de expressiva atividade agroindustrial, como é o caso da bacia do rio Grande. A expansão acelerada de sistemas agroindustriais na região tem provocado impactos relevantes sobre os recursos naturais, em especial sobre a qualidade e a quantidade das águas disponíveis, dando origem a disputas de natureza socioambiental. 

Santos (2016) aponta que, de um lado, movimentos ambientalistas e comunidades rurais denunciam a degradação provocada pelo modelo de produção intensivo; de outro, os defensores da expansão do agronegócio, entre eles produtores e representantes do Estado, sustentam que sua consolidação é indispensável para o abastecimento alimentar, o fortalecimento das cadeias produtivas integradas e o crescimento da economia nacional. Nesse cenário, a Educação Ambiental surge como possibilidade concreta de qualificar o debate e contribuir para a construção de soluções mais equilibradas entre produção, preservação e justiça social.

Santos (2016) argumenta que o processo de conscientização, no campo da Educação Ambiental, ultrapassa a mera transmissão de informações, exigindo o engajamento ativo dos sujeitos e a mobilização de saberes voltados à emancipação. Tal perspectiva se ancora na concepção freireana de uma metodologia dialógica e problematizadora, por meio da qual o indivíduo se apropria criticamente do conhecimento técnico-científico, tanto no plano pessoal quanto coletivo. Esse duplo empoderamento, individual e social, fortalece a capacidade de intervenção dos usuários na gestão dos recursos naturais, contribuindo para a construção de uma cultura participativa no âmbito da bacia hidrográfica.

A emancipação a que se refere o autor se estende à capacidade concreta de influenciar decisões e transformar realidades, a partir do conhecimento adquirido. Dessa forma, espera-se a constituição de uma sociedade mais equitativa do ponto de vista ambiental e mais democrática em termos de participação, sobretudo no que tange ao uso e à gestão dos recursos hídricos (Santos, 2016). 

Andrade e Siqueira (2023) assinalam que a construção de alternativas voltadas ao aprimoramento das práticas agrícolas, articuladas no vínculo entre escola e comunidade, repercute positivamente sobre os métodos de cultivo e sobre os laços sociais, a dinâmica econômica e a valorização do território rural. Essa integração fomenta o reconhecimento da agricultura como espaço de saber, cultura e permanência, ao atrair jovens descendentes de agricultores para o conhecimento de técnicas sustentáveis e inovações aplicadas ao manejo do solo, contribuindo, por consequência, para a contenção do êxodo rural e para a valorização do trabalho no campo.

De modo convergente, Santos et al. (2022) sustentam que a educação ambiental é uma ferramenta estratégica na reorganização da agricultura familiar, sobretudo ao promover uma transição do modelo convencional para práticas fundamentadas no cooperativismo e na corresponsabilidade. A articulação entre os princípios da agroecologia e a dimensão formativa da educação ambiental exige, segundo os autores, o reconhecimento de trajetórias históricas que entrelaçam ambos os campos. Tal entendimento aponta para a urgência de políticas públicas que incentivem e, sobretudo, protejam e fortaleçam essas experiências, considerando seus potenciais transformadores no plano social, produtivo e ambiental.

Sob a ótica do cooperativismo, Santos et al. (2022) defendem que tanto a Educação Ambiental quanto a Agroecologia constituem fundamentos essenciais para a reconfiguração das práticas agrícolas em bases coletivas. Ao propor uma ruptura com a lógica dominante da agricultura convencional, Santos et al. (2022) posiciona tais campos como pilares para uma nova organização produtiva, orientada não apenas pela eficiência técnica, mas por princípios éticos que envolvem honestidade, solidariedade e compromisso com a sustentabilidade. O cooperativismo, nesse sentido, é concebido como caminho para reestruturar a relação entre trabalho, território e meio ambiente, fundando novas possibilidades de pertencimento e produção no espaço rural.

Velho (2020) propõe uma leitura crítica da Educação Ambiental promovida por empresas e entidades ligadas aos sistemas agroindustriais, alertando para o risco de sua instrumentalização como estratégia de construção de imagem institucional. Segundo o autor, é preciso considerar que tais ações, em muitos casos, estão subordinadas a interesses voltados à legitimação pública, à valorização mercadológica e à consolidação de discursos que associam o setor à geração de emprego, renda e responsabilidade social. Entretanto, tais iniciativas, ao se distanciarem de uma perspectiva emancipadora, tendem a reproduzir um modelo de educação voltado à acomodação, o que remete à concepção de ensino como depósito de informações, conforme criticado por Paulo Freire.

A partir dessa crítica, o autor sustenta que apenas uma Educação Ambiental de caráter crítico e transformador poderá gerar reflexões autênticas nos sujeitos envolvidos, capazes de desnudar os problemas socioambientais ocultados por discursos hegemônicos e permitir a construção coletiva de respostas. Na ausência desse viés reflexivo, as práticas educativas incorporadas pelas corporações tendem a perpetuar desigualdades históricas, ao passo que ocultam os impactos negativos de seus próprios modelos de produção (Velho, 2020).

Velho (2020) ainda observa que o agronegócio, ao recorrer a campanhas e materiais de natureza educativa, pretende, na verdade, orientar os valores e o comportamento da sociedade segundo a sua lógica particular de sustentabilidade, apropriando-se do discurso ambiental como ferramenta de legitimação. Trata-se, portanto, de um uso estratégico da Educação Ambiental que, ao invés de questionar as estruturas de poder, reforça-as.

Contudo, Velho (2020) chama atenção para o predomínio de uma educação de cunho tradicional e conservador nos espaços em que o agronegócio atua como formulador ou financiador de práticas educativas. Segundo o autor, esse modelo pedagógico se revela insuficiente para promover reflexões críticas, uma vez que sustenta e reproduz o discurso hegemônico das empresas, amplamente aceito por grande parte da sociedade. Tal reprodução acrítica favorece a persistência da Injustiça Ambiental, pois silencia as desigualdades estruturais presentes nas relações de uso da terra, nos impactos da modernização rural e nas formas de produção, circulação e consumo. Mediante a não problematização dos efeitos socioambientais do modelo produtivo dominante, a educação mantida nesses moldes reforça uma lógica excludente, que deslegitima modos de vida alternativos e invisibiliza os conflitos territoriais e ecológicos.

Nesse mesmo sentido, Balbi (2024) observa que o engajamento do setor do agronegócio com a Educação Ambiental tende a adotar uma abordagem pragmática, fundada em valores conservadores, cujo objetivo central é preservar o status quo. As ações promovidas a partir desse alinhamento discursivo apresentam traços de uma pedagogia comportamental, baseada na disciplina e na conformidade, que se distancia de qualquer perspectiva formadora voltada à crítica social ou à transformação das estruturas agrárias. 

Com isso, segundo Balbi (2024), oculta-se os conflitos fundiários, as assimetrias de acesso aos recursos naturais e as consequências ambientais da lógica expansiva do agronegócio, de modo que esse tipo de discurso mascara questões agrárias centrais e neutraliza potenciais de resistência. Trata-se, assim, de uma apropriação estratégica da Educação Ambiental, operada de forma a torná-la funcional à narrativa dominante, esvaziando seu potencial de denúncia, mobilização e reconfiguração do espaço rural.

Nessa perspectiva, de acordo com Andrade e Siqueira (2023), a proposta de uma educação voltada à preservação ambiental pressupõe o reconhecimento de que os recursos naturais não devem ser tratados como bens isolados ou passíveis de apropriação privada, mas sim como parte de um patrimônio comum, indivisível da própria condição humana. A Educação Ambiental, nesse sentido, atua sobre a ideia de pertencimento coletivo, ao reafirmar que o meio ambiente e seus recursos constituem uma totalidade integrada com a vida em sociedade. 

Os autores destacam ainda que a reconstrução da relação entre ser humano e natureza exige uma vivência que ultrapasse o discurso, demandando experiências concretas de integração. Nesse processo, o ambiente torna-se um campo de experimentação pedagógica em que se busca metodologias capazes de provocar a reeducação dos sentidos e do olhar sobre os ciclos naturais. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das reflexões teóricas mobilizadas, torna-se possível afirmar que a educação ambiental, quando compreendida em sua dimensão crítica e transformadora, se torna uma ferramenta de sensibilização e um instrumento estratégico de reorganização do modelo produtivo e de fortalecimento da sustentabilidade no setor agroindustrial.

Os achados apontam que a agricultura familiar, apesar das limitações estruturais e da ausência de assistência técnica em muitos casos, tem se destacado como importante fornecedora de alimentos e insumos para agroindústrias, sendo também espaço fértil para a introdução de práticas educativas voltadas à conservação ambiental. Foi evidenciando uma percepção positiva entre os agricultores sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, mas que essa consciência ainda não se traduz, em grande parte dos casos, em ações formativas permanentes ou integradas ao processo produtivo.

Verificou-se também que a Educação Ambiental, quando articulada com princípios agroecológicos e com práticas cooperativas, contribui para a geração de renda, o fortalecimento da cultura local e o estímulo à permanência dos jovens no campo. Nesse sentido, a educação agroecológica opera como um processo de empoderamento, individual e coletivo, capaz de ampliar a capacidade de intervenção dos sujeitos sobre os territórios que habitam e os modos de produção que adotam.

Por outro lado, foram identificadas limitações importantes quanto à apropriação da Educação Ambiental por setores empresariais do agronegócio, que, em muitos casos, instrumentalizam essa prática como estratégia de marketing institucional, esvaziando seu caráter crítico e silenciando os impactos socioambientais de seus modelos de expansão. Tal uso, ancorado em uma lógica tradicional e conservadora de ensino, contribui para a perpetuação da injustiça ambiental e para a marginalização de formas alternativas de produção e organização social.

No que tange à incorporação dos critérios ASG (ambiental, social e de governança), destacou-se a correlação positiva entre o desempenho das empresas nesse campo e o fortalecimento das práticas sustentáveis, especialmente quando há transparência no reporte das ações e coerência entre discurso e prática. No entanto, os avanços mais significativos ocorrem quando há articulação entre iniciativas institucionais e saberes territoriais, mediados por ações educativas que reconhecem os sujeitos como agentes centrais da transformação.

Conclui-se, portanto, que a educação ambiental, quando comprometida com a emancipação e a construção de novas formas de pensar e agir no espaço agroindustrial, possui potencial para reestruturar o ciclo de vida dos produtos, reduzir impactos ambientais e ampliar a integração dos padrões ASG nas práticas cotidianas das agroindústrias. Para tanto, é necessário que essa educação seja inserida de forma transversal, intersetorial e comprometida com os princípios da justiça ambiental, do conhecimento compartilhado e da gestão democrática dos bens comuns.

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1Mestrando – Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
werllyrodrigues@gmail.com

2PhD – Instituto Federal da Paraíba – IFPB
joserlan.moreira@ifpb.edu.br