ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR DA ANQUILOGLOSSIA: PRÁTICAS CIRÚRGICAS E ACOMPANHAMENTO PÓS-OPERATÓRIO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506260616


Eric Osti Spinelli
Orientador Temático: Prof. Me. Douglas Baruchi
Orientador Metodológico: Prof. Me. Marcelo Vilhena


RESUMO

A língua apresenta um papel importante em diversas funções, sendo elas, comer, falar e até deglutir. Mas algumas pessoas podem sofrer dificuldades devido a anquiloglossia, ou “língua presa” essa condição é uma anomalia, que pode ser identificada por um freio lingual mais curto do que o normal podendo dificultar o movimento da língua durante a amamentação, impactando o crescimento do bebê quanto o bem-estar emocional da mãe. Estudos indicam que a anquiloglossia afeta entre 0,02% e 10,7% dos recém-nascidos, acometendo pacientes do sexo masculino. O diagnóstico geralmente é feito por meio de observação e aplicação de protocolos de avaliação. Quando o tratamento é necessário, a intervenção cirúrgica de frenotomia e/ou frenectomia são utilizadas com técnicas convencionais, a laser ou com eletrocauterização. Além das intervenções cirúrgicas, é importante uma equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogos, pediatras, fisioterapeutas e cirurgiões dentistas no diagnóstico, planejamento e tratamento das anquiloglossias. Esse trabalho tem como objetivo explorar a importância dessa abordagem multidisciplinar nas práticas cirúrgicas relacionadas à anquiloglossia, visando um tratamento mais eficaz na abordagem multidisciplinar.

Palavras-Chave: Anquiloglossia, abordagem multidisciplinar, odontologia, fonoaudiologia, abordagem menos invasivas, práticas cirúrgicas, frenectomia e frenotomia. 

ABSTRACT

The tongue plays an important role in various functions, such as eating, speaking, and even swallowing. However, some people may experience difficulties due to ankyloglossia, or “tongue-tie.” This condition is an anomaly that can be identified by a shorter-than-normal lingual frenulum, which can make tongue movement difficult during breastfeeding, impacting the baby’s growth and the mother’s emotional wellbeing. Studies indicate that ankyloglossia affects between 0.02% and 10.7% of newborns, with a higher prevalence in male patients. Diagnosis is generally made through observation and the application of assessment protocols. When treatment is necessary, surgical intervention, such as frenotomy and/or frenectomy, is used, employing conventional techniques, laser, or electrocauterization. In addition to surgical interventions, it is important to have a multidisciplinary team, including speech therapists, pediatricians, physiotherapists, and dental surgeons, involved in the diagnosis, planning, and treatment of ankyloglossia. This paper aims to explore the importance of this multidisciplinary approach in surgical practices related to ankyloglossia, aiming for a more effective treatment through collaborative care. 

Key words: Ankyloglossia, multidisciplinary approach, dentistry, speech therapy, less invasive approaches, surgical practices, frenectomy, frenotomy.

1. INTRODUÇÃO

A língua pode ser definida como um órgão de revestimento mucoso, localizado na cavidade oral, e constituído pelos músculos extrínsecos genioglosso, estiloglosso e hioglosso e os músculos intrínsecos longitudinal superior, longitudinal inferior transverso/vertical. Proporcionam além da mobilidade, diversas funções orofaciais incluindo a deglutição, sucção, mastigação e fala (REZENDE et al., 2016). 

O frênulo e/ou freio lingual é composto por uma prega de tecido conjuntivo formada por fibras musculares, a sua inserção compreende do ventre lingual e o assoalho da cavidade bucal. As variações anatômicas podem restringir a mobilidade da língua, dependendo da elasticidade, comprimento e área de inserção, comprometendo-a em suas funções do sistema estomatognático (MARCHESAN et al., 2012; SILVA et al., 2016; ALMEIDA et al., 2018; POMPÉIA et al., 2017).

 A anquiloglossia é uma anomalia congênita conhecida popularmente como “língua presa” (HAN et al., 2012). Essa condição é caracterizada por um freio lingual curto e espesso, que pode prejudicar os movimentos da língua e afetar a amamentação, interferindo no ganho de peso do bebê. Sua prevalência varia entre 0,02% e 10,7%, sendo mais comum em meninos (Belmehdi, Harti & Wady, 2018). Embora sua etiologia não seja completamente esclarecida, pode ocorrer isoladamente ou associada a síndromes e alterações craniofaciais (Han et al., 2012). 

Os diagnósticos mais utilizados para frênulo lingual são realizados a partir da observação visual, verificando a mobilidade da língua através de exame físico, sendo considerado como uma característica normal ou alterada. 

No início dos anos 90, foram propostos os protocolos diagnósticos através do Assessment Tool for Lingual Frenulum (traduzido para português como “avaliação do frênulo lingual”), conhecido como protocolo de Kotlow, que se tornou o reconhecido “Teste da Linguinha” no Brasil, que diz respeito à inspeção visual. Não há um padrão para diagnóstico da anquiloglossia. 

A identificação das manifestações precoces de anquiloglossia em bebês é importante para definir o tratamento adequado, garantindo melhor qualidade de vida emocional e funcional para a mãe e a criança (MARCHESAN et al., 2010; QUEIROZ et al., 2019; OLIVEIRA et al., 2019). 

A compreensão do impacto clínico da anquiloglossia no desenvolvimento infantil não se limita apenas à fala e à alimentação. Estudos adicionais destacam a importância de considerar também os aspectos psicossociais e emocionais associados à condição. O estresse e a frustração decorrentes das dificuldades na alimentação e comunicação podem afetar significativamente o bem-estar emocional tanto da criança quanto da família (Souza et al., 2020).

O tratamento da anquiloglossia envolve frenotomia ou frenectomia, sendo a frenectomia a laser destacada por sua precisão e menor tempo de recuperação. Azevedo, Marinho e Barreto (2020) discutem a importância de considerar a eficácia clínica e as considerações técnicas de cada procedimento. 

A frenectomia a laser, conforme explorado por Da Costa et al. (2021), oferece benefícios significativos em termos de redução do desconforto pós-operatório e melhor cicatrização, tornando-se uma opção para o tratamento da anquiloglossia em pacientes pediátricos. 

O laser de alta potência e o bisturi elétrico também são apresentados para realização da frenectomia lingual, a fim de simplificar a técnica cirúrgica e melhorar a dor e o edema pós-operatório (PIÉ-SÁNCHEZ et al., 2011). 

Estes instrumentos cortam, cauterizam e coagulam o tecido de forma concomitante, sem necessidade de sutura, implicando em um menor tempo cirúrgico e uma cicatrização mais rápida (GOURSAND et al., 2022; NUNES et al., 2021). 

A gestão da anquiloglossia exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogos, pediatras, cirurgiões-dentistas e psicólogos, conforme destacado por Martins et al. (2020). 

Com isso, o objetivo desse trabalho é discutir por meio de revisão bibliográfica a importância da abordagem multidisciplinar da anquiloglossia nas práticas cirúrgicas e nos cuidados pós-operatórios.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Diagnóstico da Anquiloglossia – “Teste da Linguinha”

O diagnóstico da anquiloglossia é realizado desde o nascimento, através da aplicação do protocolo de Bristol, o qual foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro por meio da edição da Lei nº 13.002/14, passando a ser conhecido como “teste da linguinha”.

Além da regulamentação legislativa, o diagnóstico e a avaliação do frênulo lingual também é normatizado pelo Ministério da Saúde, órgão que editou documento específico para tratar do procedimento de diagnóstico da anquiloglossia, a norma atualmente vigente é a Nota Técnica nº 52/2023.

Este documento é fundamental e traz diversas informações úteis não só para os profissionais da área da saúde responsáveis pelo diagnóstico da anquiloglossia, mas também à toda sociedade, uma vez que se trata de documento público.

Outro ponto da nota técnica em análise deve ser ressaltado, ela demonstra a inequívoca necessidade de avaliação multiprofissional que atenda ao binômio mãe e recém-nascido (BRASIL, 2023).

Embora haja uma gama de profissionais capazes de diagnosticar a anquiloglossia, o diagnóstico é realizado principalmente por fonoaudiólogos e/ou cirurgiões-dentistas, mas também pode ser realizada por profissionais da saúde devidamente capacitados para aplicação do protocolo de Bristol, como pediatras e otorrinolaringologistas (ABREU, 2021).

No Brasil, conforme a Nota Técnica nº 52/2023, estes profissionais capacitados devem aplicar o aludido protocolo avaliando 4 elementos: aparência da ponta da língua; fixação da extremidade inferior do frênulo; elevação da língua; protrusão da língua.

Dessa forma, é necessário para a realização do diagnóstico que o profissional tenha profundos conhecimentos acerca da anatomia da língua e do frênulo lingual, permitindo, com isso, um correta diagnóstico. Neste processo é importante a avaliação por fonoaudiólogo com o intuito de analisar as funcionalidades dos grupos musculares orofaciais (CREFONO; CROSP, 2025).

O profissional, ao aplicar o protocolo de Bristol, também conhecido como teste BTAT, deverá atentar-se à avaliação dos 4 elementos supracitados, atribuindo valores às informações obtidas na avaliação. Da somatória dos valores será possível determinar o grau de comprometimento do frênulo, classificando como um caso grave, moderado ou leve de anquiloglossia.

O escore do teste variará de 0 a 8 pontos, quanto mais próximo do zero maior será o grau de comprometimento do frênulo lingual e de sua função como um todo, portanto, maior será a gravidade da doença congênita em questão.

De acordo com o protocolo aplicado em território nacional, a anquiloglossia será grave quando atingir pontuação de 0 a 3 pontos, indicando um grande comprometimento de sua funcionalidade; de 4 a 5 pontos será considerado moderado, com parcial comprometimento da função lingual; de 6 a 7 pontos serão considerados casos limítrofes, sendo indicado o acompanhamento clínico para avaliação da evolução do quadro; e quando atingir 8 pontos será considerado dentro das características de normalidade (BRASIL, 2023).

O correto diagnóstico é necessário para que haja aplicação do tratamento mais indicado ao paciente, visando obter o melhor resultado com o procedimento menos invasivo possível, haja vista à multiplicidade de tratamentos existentes, como será abordado abaixo.

A fim de ilustrar e melhor compreender os cenários envolvendo o diagnóstico da anquiloglossia, abaixo será disponibilizada imagem complementar fornecida pela nota técnica nº 52/2023, do Ministério da Saúde:

No mesmo documento também disponibilizaram tabela contendo descrição das imagens acima, com o seguinte conteúdo:

A partir de um exame clínico visual da língua e do frênulo lingual, o profissional capacitado, levando em conta os critérios acima demonstrados, observará a mobilidade da língua e demais funcionalidades orofaciais, permitindo realizar um diagnóstico com maior precisão.

Ainda no tópico de diagnóstico, importante mencionar a figura do CID-11 (Classificação Internacional de Doenças – 11ª edição), no qual a anquiloglossia é classificada com o código “LA31.2”, sendo descrita como (OMS, 2025):

“Condição da língua, causada por freio lingual curto e tenso ou fusão da língua com o assoalho da boca. Essa condição é caracterizada por dificuldade na articulação da fala devida a limitação ou restrição do movimento da língua.”

Observa-se que na CID-11 não há distinção entre casos graves, moderados e limítrofes, fazendo com que a classificação internacional careça de complementação por parte do profissional capacitado, no momento da finalização do diagnóstico.

Por fim, ainda tratando do diagnóstico, é importante salientar a necessidade da análise inicial por um fonoaudiólogo antes do encaminhamento a um cirurgiãodentista, haja vista à possibilidade de utilização de métodos menos invasivos para correção do frênulo lingual (ABREU, 2021).

2.2 Formas de tratamento

Conforme brevemente apontado nos capítulos anteriores, a anquiloglossia poderá ser classificada em grave, moderada, limítrofe ou normal. De acordo com essa classificação realizada no momento do diagnóstico será possível vislumbrar o melhor tratamento para o paciente.

Casos limítrofes ou moderados poderão ser tratados com técnicas menos invasivas (MORAES, 2023), muitas vezes sem necessidade de intervenção cirúrgica, enquanto casos moderados, a depender do comprometimento da língua, e graves, precisarão de procedimentos cirúrgicos.

Em estudo de caso realizado por Pegoraro (2015), fora demonstrada a importância da prévia avaliação por fonoaudiólogo, como sendo um passo necessário ao encaminhamento cirúrgico, pois avaliará a necessidade do aludido tratamento invasivo.

Sendo assim, iniciaremos a análise dos tratamentos a partir dos métodos menos invasivos, ou não cirúrgicos, os quais serão ministrados pelo fonoaudiólogo após exame clínico e diagnóstico prévio (ARAÚJO, 2020).

2.2.1 Tratamento não cirúrgico – Fonoterapia e terapia miofascial

Quando o profissional capacitado para avaliação dos quadros de anquiloglossia se depara com um caso moderado ou limítrofe, poderá optar por uma abordagem não cirúrgica, portanto menos invasiva (FUJINAGA, 2017).

Para tanto, utilizará métodos de fonoterapia os quais deverão ser aplicados por fonoaudiólogo, sendo recomendado por Xavier apud Abreu, uma aplicação durante um prazo máximo de dois a três meses, visando estimular o músculo masseter e a área perioral (ABREU, 2021).

Na mesma obra acima comentada foi descrito o tratamento não cirúrgico, ou seja, a fonoterapia, que consiste em uma série de manobras e estímulos musculares, extraoral, através da pressão com os dedos polegares e indicadores na região do masseter, utilizando movimentos circulares.

Já as técnicas de fonoterapia intraoral, visam aprimorar o reflexo de sucção do acometido pela anquiloglossia, através de movimentos rotativos na língua, bochecha e palato, utilizando, para tanto, o dedo indicador enquanto o recém-nascido suga o dedo indicador (ABREU, 2021). 

Por meio dessas práticas o que se busca é o alongamento do frênulo lingual, o que faria com que a intervenção cirúrgica deixasse de ser necessária, ou modificaria a técnica cirúrgica a ser aplicada.

Se mesmo após o período supracitado não houver melhora no quadro clínico do paciente, este deverá ser encaminhado ao cirurgião-dentista para avaliação de outras possibilidades de tratamento.

2.2.2 Tratamentos cirúrgicos – Frenectomia e Frenotomia

Não havendo sucesso nas práticas não invasivas, isto é, não se obtendo resultado satisfatório através da fonoterapia, o paciente precisará de intervenção cirúrgica para correção do frênulo lingual.

As técnicas cirúrgicas que podem ser utilizadas em casos moderados, não solucionados através de fonoterapia, e graves são: frenotomia e frenectomia, sendo uma técnica cirúrgica mais invasiva do que a outra.

Sendo assim, será dada abordagem inicial ao método cirúrgico menos invasivo conhecido como frenotomia.

2.2.2.1 Frenotomia

A frenotomia é uma técnica cirúrgica conhecida como “pique na língua”, sendo uma das abordagens cirúrgicas menos invasivas em casos de anquiloglossia (FUJINAGA, 2017). Possui a alcunha acima demonstrada em virtude de ser uma cirurgia rápida e relativamente simples.

Esta prática cirúrgica é indicada, geralmente, para casos moderados e limítrofes de anquiloglossia, ou quando for neonato, podendo ser realizado o procedimento até que o paciente atinja um ano de idade.

Em se tratando de pacientes neonatos, a frenotomia, dado ao fato de ser pouco invasiva, é o método mais indicado, pois o frênulo lingual ainda é pouco vascularizado, resultando em pouco sangramento após o ato cirúrgico, permitindo a continuidade da amamentação, não prejudicando o desenvolvimento do bebê (ABREU, 2021).

A técnica cirúrgica aqui abordada, em caso de neonatos, inicia-se pelo manejo do paciente em posição supina, realizando contenção física utilizando lençol imobilizando os cotovelos junto ao tronco, passando-se à aplicação da anestesia tópica na região mucosa do frênulo lingual. Após anestesiar topicamente a região, o operador poderá, caso necessário, aplicar anestesia infiltrativa do nervo lingual, de ambos os lados (MARTINELLI apud ABREU, 2021).

Os anestésicos a serem utilizados no procedimento são a benzocaína, como anestésico tópico, e lidocaína 2% com vasoconstritor, sendo utilizada como anestésico infiltrativo (MARTINELLI apud ABREU, 2021).

Já em relação aos materiais necessários para aplicação da técnica em apreço, serão necessários equipamentos como bisturi nº 15, para realizar a incisão; tentacânula, para individualização do frênulo; pinça Halsterd reta ou pinça “mosquito” (ABREU, 2021).

Anestesiada a região, utilizando um bisturi nº 15, o operador fará uma incisão linear anteroposterior de 3 a 4 milímetros de profundidade até a região menos espessa do freio lingual (PROCÓPIO; COSTA; LIA; apud, ABREU, 2021).

Neste procedimento não há remoção de tecido, sendo, por tal motivo, considerado um procedimento simples e com poucas chances de apresentar complicações pós-operatórias, de modo que na fase de hemostasia é necessário apenas utilização de gaze, sem necessidade de suturar (MARTINELLI apud ABREU).

No pós-cirúrgico é recomendado acompanhamento por fonoaudiólogo, para que este profissional possa aplicar técnicas de terapia miofascial e fonoterapia (PEGORARO, 2015), visando recondicionar a musculatura orofacial e lingual.

2.2.2.2 Frenectomia e frenectomia a laser

Diferentemente dos procedimentos já elencados, esta técnica cirúrgica é a mais invasiva em se tratando de tratamentos para anquiloglossia. Por meio dessa técnica o operador irá retirar, por completo, o frênulo lingual (ARAÚJO; PINCHEMEL, 2020), diferentemente do que ocorre na frenotomia, onde o cirurgião remove parcialmente o frênulo.

Por remoção completa entende-se retirada do freio labial, lingual e bridas (SILVA; SILVA e ALMEIDA; apud ABREU, 2021), o que não ocorre na frenotomia.

Esta técnica é mais utilizada para crianças mais velhas, isto é, com mais de um ano de idade, preferencialmente (ARAÚJO e PINCHEMEL, 2021), sendo necessária a utilização de anestésico para realização da intervenção cirúrgica.

No entanto, a depender do caso, em se tratando de crianças com mais de 1 ano, até os 7 anos de idade, poderá ser necessária a utilização de anestesia geral (ISAC apud ARAÚJO e PINCHEMEL, 2020).

A frenectomia, apesar de ser o método terapêutico mais invasivo para o tratamento da anquiloglossia, apresenta um baixo custo e é de fácil execução (ARAÚJO e PINCHEMEL, 2020). Para realização dessa intervenção cirúrgica será necessária anestesia semelhante à aplicada na frenotomia, isto é, utilizando anestésico tópico e técnica infiltrativa utilizando lidocaína 2% com vasoconstritor (ABREU, 2021). 

Segundo Oliveira, apud Abreu (2021), a técnica em análise necessita da utilização de materiais cirúrgicos específicos como: pinças hemostáticas, para tracionamento e imobilização do freio, ou uso de tentacânula para o mesmo fim; lâmina bisturi nº 15 ou tesoura íris reta; tesoura Metzenbaum, para divulsão dos tecidos e fio de sutura de seda 4.0.

Na prática cirúrgica, após aplicação dos anestésicos, deverá ocorrer, inicialmente, o tracionamento e imobilização do frênulo, utilizando a pinça hemostática ou a tentacânula; devendo, na sequência, ser realizada incisão paralela à superfície do órgão, utilizando a tesoura íris reta ou lâmina bisturi nº 15, com a função de seccionar a porção inferior do freio para removê-lo, configurando um formato triangular no tecido removido.

Após remoção do tecido será realizada divulsão do mesmo, utilizando a tesoura metzenbaum de forma delicada para tanto, facilitando a aproximação dos bordos da ferida, permitindo uma melhor hemostasia e sutura através da utilização do fio de seda 4.0 (ABREU, 2021).

Esta prática cirúrgica apresenta possibilidade de ocorrência de complicações, tais como: obstrução do ducto de Wharton, o que pode ocasionar cisto de retenção; e lesão do nervo lingual, ocasionando parestesia na zona apical da língua (VISHNOI et al, apud ABREU, 2021).

Outra abordagem cirúrgica possível em se tratando de frenectomia, é a técnica a laser, a qual guarda grande semelhança com a frenectomia padrão, mas há modificação na aparelhagem do processo, sendo cada vez mais utilizada em razão de ser um procedimento mais simplificado por não precisar de sutura, já que o laser gera hemostasia instantânea, sendo, portanto, menos invasivo (ABREU, 2021).

Outra diferença entre o procedimento a laser e o procedimento padrão de frenectomia, reside na cicatrização. No procedimento padrão ocorre em primeira intenção, isto é, com aproximação das bordas, já no procedimento a laser ocorre por segunda intenção, isto é, a cicatrização ocorre do interior para o exterior (ARAÚJO; PINCHEMEL, 2020).

Segundo Araújo e Pinchemel (2020), outra questão importante no tocante à frenectomia a laser, está em seu elevado custo, o que acaba por reduzir sua aplicabilidade ampla, em virtude do alto custo para aquisição do laser, o qual substituirá a utilização dos materiais cortantes, bisturi nº 15 e tesoura íris reta, por um bisturi eletrônico a laser.

2.3 TERAPIA PÓS-CIRÚRGICA

Após realização da cirurgia, seja ela a frenotomia ou a frenectomia, recomendase que o paciente seja encaminhado ao fonoaudiólogo, de acordo com Pegoraro (2015), para aplicação de técnicas de fonoterapia e terapia miofascial (COSTA et al, 2019).

A aplicação dessas técnicas visa adequar a função motora da língua e demais músculos orofaciais impactados pela anquiloglossia e pela intervenção cirúrgica, sendo aplicados exercícios específicos por profissional fonoaudiólogo.

De acordo com Costa et al (2019), o fonoaudiólogo irá aplicar uma série de 9 exercícios bucais realizando movimentos da língua, como elevação da ponta língua até as bochechas; pronunciamento de palavras e sons, como imitação do barulho de um telefone; além de exercícios focados no controle da mandíbula, sendo eles abrir e fechar lentamente a boca.

Recomenda-se que sejam realizados os exercícios na sequência de três séries com quinze repetições, por três vezes ao dia, o que resulta em melhora já na primeira semana pós-cirurgia (COSTA et al, 2019).

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

O presente estudo é uma revisão bibliográfica, na qual utilizamos os bancos de dados Google acadêmico, Scielo, Lilacs e Pubmed para buscar artigos. A busca pelos artigos científicos foi feita no período entre agosto e dezembro de 2024, com foco em publicações que abordassem uma abordagem multidisciplinar da anquiloglossia publicada nos últimos 15 anos. 

Neste capítulo a pesquisadora desenvolve seu argumento central sobre a necessidade da erudição, isto é, necessidade de uma formação ampliada como complemento indispensável ao conhecimento técnico na formação e atuação dos psicólogos.

3.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Os critérios para selecionar os artigos foram estudos que avaliaram a abordagem multidisciplinar no diagnóstico, considerando planejamento e tratamento da anquiloglossia. 

Foram selecionados artigos publicados em língua portuguesa ou língua inglesa, desde que publicados nos últimos quinze anos, visando deixar o estudo mais adequado à atual realidade do tratamento.

3.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Não foram incluídos neste estudo artigos que não atendem aos critérios de inclusão acima delimitados, bem como aqueles que não tratavam da abordagem multiprofissional.

3.2 MÉTODO DE ANÁLISE

Foram selecionados para este trabalho um total de 18 artigos científicos, duas notas técnicas, sendo uma do Ministério da Saúde e outra do Conselho Regional de Fonoaudiologia de São Paulo, elaborado em conjunto com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL

A partir desse estudo focado no procedimento pré e pós-cirúrgico para tratamento da anquiloglossia, ficou evidenciada a importância de uma abordagem multidisciplinar desde o nascimento do paciente, momento em que, por força legal, deverá ser realizado o teste BTAT, ou seja, deverá ser aplicado o protocolo de Bristol, também conhecido como “teste da linguinha”.

Tal teste deverá ser aplicado, preferencialmente, por fonoaudiólogo, sendo possível ser realizado por outros profissionais da área da saúde devidamente capacitados para tanto, como cirurgiões-dentistas, otorrinolaringologistas, odontopediatras, bucomaxilo e pediatras. A abordagem cirúrgica será obrigatoriamente realizada por profissional habilitado, sendo eles: pediatra cirurgião, cirurgião-geral, otorrinolaringologista cirurgião, cirurgião-dentista, bucomaxilo e odontopediatras.

Já os tratamentos conservadores serão aplicados por fonoaudiólogo, pois este é o profissional capacitado para aplicação das técnicas de fonoterapia e terapia miofascial, que, por vezes, acabam por resolver a anquiloglossia sem necessidade de intervenção cirúrgica, através do alongamento do frênulo lingual.

Com isso, o que também é reforçado pela nota técnica nº 52/2023 do Ministério da Saúde, é evidente que o diagnóstico e tratamento da anquiloglossia deve ser realizado, obrigatoriamente, por equipe multidisciplinar a fim de que seja realizado o procedimento mais humanizado possível, isto é, o procedimento menos invasivo e com melhor recuperação possível.

Tanto o cirurgião-dentista quanto o fonoaudiólogo, ante a todo explicado, são importantíssimos no tratamento da anquiloglossia, devendo ambos os profissionais trabalharem em conjunto para atingir o objetivo maior do procedimento, curar o paciente.

REFERÊNCIAS

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