ESTUDO DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS PNEUMONIAS EM PETROLINA-PE E JUAZEIRO-BA E ANÁLISE BACTERIOLÓGICA NA UTI DO HU-UNIVASF

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202506242237


Anna Victória Cardeal Simão Ribeiro, Lilian Filadelfa Lima dos Santos Leal, Jorge Messias Leal do Nascimento, Maria Clara Silva Nascimento, Maria Conceição Aquino de Sá, Vitória de Almeida Ribeiro Alves, Williana Ferreira dos Santos


RESUMO

Infecções Relacionadas a Assistência à Saúde (IRAS), é como se classifica as infecções adquiridas em ambiente hospitalar, correlacionando-se ao cuidado prestado ao paciente e se desenvolvendo durante internação ou após alta hospitalar, somente no Brasil, cerca de 25 a 35% dos pacientes de UTI adquirem IRAS. Dentre as IRAS, as infecções de trato respiratório têm ganhado bastante relevância, dentre elas as que mais se destacam são as Pneumonias, se tornando uma causa importante de complicação em pacientes internados e UTI. Associado a isso, outro desafio tem sido a resistência bacteriana aos antibióticos disponíveis para controle dessas infecções. Assim, entende-se que a resistência bacteriana representa um desafio significativo no tratamento das infecções respiratórias, tornando-se essencial a investigação detalhada dos patógenos envolvidos e suas características de sensibilidade e resistência. Objetivo: determinar o perfil epidemiológico das pneumonias nos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE e o perfil bacteriano, levando em consideração a incidência, prevalência e resistência desses microrganismos nos pacientes internados no Hospital Universitário do Vale do São Francisco. Metodologia: Trata-se de um estudo longitudinal retrospectivo documental com abordagem quantitativa em duas etapas, utilizando dados secundários para identificar o perfil epidemiológico e os dados dos prontuários eletrônicos do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário da UNIVASF para análise da incidência, prevalência, sensibilidade e resistência do perfil bacteriano. Conclusão: Neste estudo, analisou-se o perfil epidemiológico das pneumonias nos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, levando em consideração sexo, cor/raça e faixa etária. Constatou-se que o sexo masculino foi o mais acometido, a cor/raça parda a mais prevalente e as crianças menores de 1 ano até 4 anos, seguidas por idosos com 80 anos ou mais, as faixas etárias mais afetadas. As bactérias Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa foram as mais frequentemente isoladas, ressaltando a importância do conhecimento sobre os padrões de suscetibilidade e resistência desses agentes para orientar a terapêutica inicial e estabelecer protocolos eficazes para as equipes de saúde.

Palavras-chaves: Perfil epidemiológico. Pneumonia. Infecção Respiratória. Bactérias

1. INTRODUÇÃO

As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), conhecidas como infecções hospitalares, são infecções adquiridas diretamente nas unidades prestadoras de atendimento à saúde, sendo relacionadas ao cuidado prestado no local, podendo se manifestar durante internação ou alta hospitalar (Brasil, 2017). No Brasil, estima-se que de 5 a 15% dos pacientes hospitalizados e 25 a 35% dos admitidos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) adquirem IRAS, representando a quarta causa de mortalidade no país ou no mundo (Oliveira et al., 2012).

Com o avanço das tecnologias foram surgindo novas técnicas e formas de procedimentos mais aprimorados, a execução desses procedimentos associados a crescente patogenicidade bacteriana e o uso indiscriminado de antibióticos resultou no surgimento de cepas bacterianas multirresistentes, sendo essas as principais responsáveis pelo crescente número de IRAS em unidades de saúde (Cavalcante et al., 2020).

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as IRAS dividem-se em infecção de sítio cirúrgico (ISC), infecção primária da corrente sanguínea (IPCS), infecção do trato respiratório (ITR), infecção do trato urinário (ITU) e outras infecções que acometem órgãos e tecidos diversos (Brasil, 2013).

Dentre as infecções de trato respiratório (ITR), a pneumonia associada a ventilação mecânica (PAV) é uma causa importante de complicações em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), gerando resultados negativos tanto para os pacientes quanto para as instituições de saúde, pois aumenta a morbimortalidade e eleva os custos hospitalares (Cavalcante et al., 2020).

As infecções respiratórias são caracterizadas por causar obstrução da passagem do ar, tanto a nível nasal quanto a nível bronquiolar e pulmonar (OMS, 2015). As PAVs afetam até 90% dos pacientes que necessitam do suporte respiratório mecânico, aumentando em 2 a 10 vezes a taxa de mortalidade dentre esses indivíduos (Brabo e Zeitoun, 2017).

A introdução de antibióticos para tratamento de infecções contribuiu para o aumento da longevidade da população, entretanto, nos últimos dez anos ocorreu um aumento indiscriminado de prescrições desses fármacos que foram inadequadamente prescritos para tratar infecções respiratórias simples causadas por vírus. Logo, as prescrições inadequadas associadas ao uso indiscriminado feito pela população geral tem levado ao surgimento de cepas resistentes a ação dos antibacterianos (Chang et al., 2022; Brito et al., 2021).

Somente em 2019 ocorreu 4,95 milhões de mortes em decorrência da resistência bacteriana, e caso esse cenário não mude até 2050, estudos mostram que esse número pode alcançar 10 milhões de pessoas no mundo, superando o câncer como a principal causa de mortalidade mundial (Chang et al., 2022).

Assim, entende-se que a resistência bacteriana representa um desafio significativo no tratamento das infecções respiratórias, tornando-se essencial a investigação detalhada dos patógenos envolvidos e suas características de sensibilidade e resistência. Além disso, a análise da epidemiologia das infecções respiratórias é fundamental para identificar fatores de risco, como faixa etária, gênero e comorbidades, que podem influenciar a incidência e a gravidade dessas infecções (Lemos et al., 2021).

Dessa forma, o perfil epidemiológico e bacteriano varia conforme a instituição hospitalar e pode mudar entre diferentes regiões demográficas, tornando essencial a obtenção de dados regionais. Portanto, este estudo teve como objetivo determinar o perfil epidemiológico das pneumonias nos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE e o perfil bacteriano, levando em consideração a incidência, prevalência e resistência desses microrganismos nos pacientes internados no Hospital Universitário do Vale do São Francisco.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo longitudinal retrospectivo documental com abordagem quantitativa. No qual foi elaborado em duas etapas: na primeira etapa foi realizado um estudo do perfil epidemiológico através de dados secundários obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e no site TABNET/DATASUS (https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/) do Ministério da Saúde, de pacientes, com pneumonia,  internados nos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, que fazem parte da Rede Interestadual de Atenção à Saúde do Vale do São Francisco (Rede PEBA), considerando dados de 2018 (período antes da pandemia) e 2021 (período pandêmico). Os fatores analisados incluíram faixa etária, sexo e cor/raça e foram organizados em tabelas no Excel. Além disso, foi feito um comparativo entre os dados secundários, em relação ao sexo, obtidos pelo SINAN, e dos dados retirados de 60 prontuários de pacientes internados na UTI COVID do HU UNIVASF no período de 2021.

Na segunda etapa foi feita uma análise da incidência, prevalência, sensibilidade e resistência do perfil bacteriano tendo como fonte de informações os dados dos prontuários eletrônicos do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário da UNIVASF. 

Dos prontuários eletrônicos da UTI do Hospital Universitário, coletou-se os relatórios microbiológicos, contendo as espécies de bactérias com maior incidência nos setores de secreção traqueal e seu respectivo perfil de sensibilidade e resistência a antimicrobianos. Organizou-se os dados obtidos em planilhas no Excel e posteriomente, elaborou-se tabelas no Word contendo o número de pacientes analisados, bactérias prevalentes em amostra biológica, antibióticos testados. A apresentação das informações está descrita em tabelas contendo percentual de resistência bacteriana aos antibióticos testados.

3. RESULTADOS

             Tabela 01. Perfil epidemiológico das pneumonias no município de Petrolina-PE

Tabela 02. Perfil epidemiológico das pneumonias no município de Juazeiro-BA

Tabela 03. Pacientes internados na UTI COVID do HU UNIVASF

As tabelas 01 e 02 destacam as características sociodemográficas de pacientes diagnosticados com pneumonia nos municípios de Petrolina-PE e Juazeiro-BA, nos anos de 2018 e 2021. Observa-se que, em ambos os anos, houve uma predominância de casos do sexo masculino, com 295 casos (49,22%) em 2018 e 109 (56,47%) em 2021 em Petrolina, e 372 casos (52,69%) em 2018 e 80 casos (57,97) em 2021 em Juazeiro. . Essa tendência assemelha-se à observada nos pacientes admitidos na UTI COVID do Hospital Universitário da UNIVASF, onde o sexo masculino registrou 40 casos (66,67%) , em comparação com os 19 (31,67%) casos do sexo feminino (tabela 03).

No que diz respeito à raça, observa-se um predomínio de casos na cor parda em Petrolina-PE, com 478 pacientes (82,27%) em 2018 e 164 (84,97%) em 2021, e em Juazeiro-BA, com 301 (42,63%) em 2018 e 125 (90,58) em 2021.  A raça amarela foi a menos notificada, com 1 caso no período pé-pandêmico e 2 casos no período pandêmico em Petrolina-PE, e nenhum caso em Juazeiro-BA.

Quanto à variável faixa etária, o grupo de crianças com menos de 1 ano até 4 anos foi o mais afetado, representando 81,62% (478 casos) em 2018 e 62,69% (121 casos) em 2021 em Petrolina-PE. Em Juazeiro-BA, destacam-se os menores de 1 ano até 4 anos, com 34,7% (245 casos) em 2018, enquanto em 2021, a faixa etária mais impactada foi a de pacientes com 80 anos ou mais, representando 24,64% (34 casos).

No que tange ao prontuário de urocultura no período do estudo, houve um total de 13 amostras positivas. As principais espécies identificadas foram Candida glabrata (31%), Candida tropicalis (23%), Candida albicans (31%) e Klebsiella pneumoniae (15%) (Figura 1).

Figura 1: Incidência de bactérias isoladas de urocultura coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Em relação ao prontuário de coleção no período do estudo, houve um total de 2 amostras positivas, sendo as espécies bacterianas identificadas Staphylococcus haemolyticus (50%) e Acinetobacter baumanii (50%) (Figura 2).

Figura 2: Incidência de bactérias isoladas de coleção coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

No que concerne ao prontuário de feridas analisadas no período do estudo, houve um total de 3 amostras positivas. As principais bactérias identificadas foram Proteus mirabilis (33%), Staphylococcus haemolyticus (33%) e Acinetobacter baumanii (33%) (Figura 3).

Figura 3: Incidência de bactérias isoladas de feridas coletadas em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

No tocante ao prontuário de incidência lavado broncoalveolar, no período do estudo, houve um total de 2 amostras positivas. As principais bactérias identificadas foram Pseudomonas aeruginosa (50%) e Staphylococcus aureus (50%) (Figura 4).

Figura 4: Incidência de bactérias isoladas do lavado broncoalveolar coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Já na incidência de lavado brônquico, houve um total de 3 amostras de bactérias encontradas, sendo elas Stenotrophomonas maltophilia (33%), Klebsiela pneumoniae (33%) e Staphylococcus aureus (33%) (Figura 5).

Figura 5: Incidência de bactérias isoladas dos lavados brônquicos coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Na incidência de amostras isoladas em hemocultura, chegamos ao total de 26 amostras encontradas e aos seguintes dados: Serratia marcescens (4%), Staphylococcus haemolyticus (12%), Staphylococcus epidermidis (19%), Staphylococcus hominis (15%), Pseudomonas aeruginosa (4%), Klebsiella aerogenes (4%), Corynebacterium bovis (4%), Klebsiella pneumoniae (19%), Enterococcus faecalis (8%), Candida albicans (4%) e Candida tropicalis (8%) (Figura 6).

Figura 6: Incidência de bactérias isoladas de hemocultura coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Por fim, na análise do aspirado traqueal dos pacientes, foram obtidos um total de 83 amostras de bactérias e fungos, que são: Klebsiella pneumoniae (23%), Serratia marcescens (4%), Stenotrophomonas maltophilia (10%), Pseudomonas aeruginosa (14%), Staphylococcus aureus (11%), Acinetobacter baumannii (18%), Citrobacter freundii (1%), Staphylococcus haemolyticus (1%), Corynebacterium striatum (5%), Escherichia coli (1%), Klebsiella aerogenes (1%), Burkholderia cepacia complexo (1%), Morganella morgani (1%), Staphylococcus lentus (1%), Staphylococcus saprophyticus (1%), Staphylococcus simulans (1%), Candida tropicalis (1%), Corynebacterium amycolatum (2%)e Proteus mirabilis (1%)(Figura 7).

Figura 7: Incidência de bactérias isoladas em aspirados traqueais coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Desse modo, chega-se à conclusão de que as 3 bactérias mais prevalentes nesse total de amostras foram Klebsiella Pneumoniae (20%), Acinetobacter baumanii (13%) e Pseudomonas aeruginosa (11%).

Figura 8: Prevalência de bactérias isoladas coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período de 2018 a 2021.

Tabela 3: Perfil de resistência das bactérias com maior incidência em isoladas de secreção traqueal coletados em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário no período da pandemia por COVID19.

N: número de isolados bacterianos; NT: não testado; RAM: Resistência a antimicrobianos; %: percentual de resistência.

Observa-se, na Tabela 3, o perfil de resistência das bactérias com maior incidência nos isoladas de secreção traqueal de pacientes internados na UTI do Hospital Universitário. Nos isolados de secreção traqueal no período da pandemia por COVID19, as espécies bacterianas de maior incidência na UTI do Hospital Universitário foram as seguintes:

Acinetobacter baumannii, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia

Os isolados de Acinetobacter baumannii apresentaram os percentuais de resistência de 33% para trimetopim-sulfametoxazol, 80% para ampicilina-subactam, 87% para amicacina, cefepima, ceftazidima, ciprofloxacina, imipinem, levofloxacino, meropenem, piperacilina-tazobactam, 100% gentamicina. 

Os isolados de Klebsiella pneumoniae apresentaram os percentuais de resistência de 13% para amicacina, 39% para gentamicina, 63% para tigecilina, 79% para cefoxitina, imipenem, meropenem, e trimetoprim-sulfametoxazol, 83% para piperacilina-tazobactam, 84% para ertapenem, 89% para ampicilina-subactam, cefepima, ceftriaxona, criprofloxacino, 94% para levofloxacino e 100% para ampicilina e cafazolina.

Os isolados de Staphylococcus aureus apresentaram os percentuais de resistência de 11% para trimetroprim-sulfametoxazol, 13% para ceftarolina, 44% para oxacilina, 56% para clindamicina, 67% para eritromicina e 100% para ampicilina e penicilina G.

Os isolados de Pseudomonas aeruginosa apresentaram os percentuais de resistência de 22% para ceftazidima e piperacilina-tazobactam, 33% para amicacina, ciprofloxacina, gentamicina e levofloxacina, 45% para meropenem e 50% para cefepima e imipinem.

Os isolados de Stenotrophomonas maltophilia apresentaram os percentuais de resistência de 13% para trimetroprim-sulfametoxazol, 17% para levofloxacina, 88% para ceftazidima e 100% para gentamicina.

4. DISCUSSÃO

Ao examinar os dados relativos à faixa etária, observa-se claramente que os casos de pneumonia são mais prevalentes em crianças com menos de 1 ano e entre 1 e 4 anos, seguidos por idosos com 80 anos ou mais. Esta tendência pode ser explicada pela imaturidade ou desgaste do sistema imunológico, atrasos no calendário vacinal (Rossetto et al., 2019), frequência a creches, exposição passiva ao fumo, número elevado de pessoas morando na mesma residência e episódios prévios de infecções das vias aéreas superiores (Bueno et al., 2020). Além disso, estudos de Costa et al. (2022) e Nascimento et al. (2020) destacam que os idosos também podem estar entre as faixas etárias mais acometidas devido ao aumento de comorbidades associadas, que atuam como fatores adicionais e sinérgicos, contribuindo para um prognóstico desfavorável.

No que diz respeito à raça/cor, a maior incidência da patologia em estudo pode ser atribuída às disparidades sociais.  Isso se deve ao fato de que esse grupo representa pessoas com condições socioeconômicas menos privilegiadas, resultando em menor acesso a serviços de saúde de qualidade (Costa et al., 2022). Além disso, segundo dados estatísticos do censo de 2022 do IBGE a população de pessoas pardas nos municípios de Juazeiro e Petrolina são mais predominantes do que as outras cores/raças, com 61,29% (145.772) e 59,98% (232.013), respectivamente (IBGE, 2022). Com isso, este fato também justifica o maior acometimento desses indivíduos pela pneumonia.

Em relação ao gênero mais afetado, destaca-se o sexo masculino. Esse padrão pode ser explicado por comportamentos típicos dos homens, como a menor preocupação com a saúde, o que os torna mais expostos e vulneráveis. Além disso, muitos homens procuram assistência médica tardiamente, resultando em diagnósticos em estágios avançados da enfermidade, o que exige exames mais específicos e tratamentos mais dispendiosos (Silveira et al., 2013). É importante ressaltar que, em crianças do sexo masculino, há uma possível vulnerabilidade biológica, como o menor diâmetro e maior tônus das vias aéreas, resultando em fluxos pulmonares menores durante o primeiro ano de vida (Bueno et al., 2020).

No que tange a distribuição por espécime clínico, foram encontrados microrganismos do grupo ESKAPE em 66% em amostras de aspirado traqueal, 50% em coleção, 33% em análise de feridas, 15% em urocultura, 100% em lavado broncoalveolar, 66% em lavado brônquico e 23% em hemocultura. Esses números divergem dos isolados analisados em um hospital público primário no Distrito Federal, onde foram encontradas bactérias ESKAPE principalmente na urina (46%), no esfregaço retal (19%), no esfregaço nasal (11%) e sangue (8%) (SILVA et al., 2017).

A Klebsiella pneumoniae foi a espécie mais frequente, 20%, principalmente, nas infecções do trato respiratório, infecção do trato urinário e na corrente sanguínea. Prova disso são estudos que confirmam a prevalência e a rápida disseminação desse microrganismo no ambiente hospitalar, principalmente nas UTIs, o que destaca a importância deste agente etiológico para o contexto epidemiológico atual (GARCIA et al., 2018). Um estudo de revisão sistemática demonstrou que o pulmão foi o sítio mais comum de infecções relacionadas à Klebsiella pneumoniae (TISCHENDORF; AVILA; SAFDAR, 2016), o que ratifica, ainda mais, os nossos resultados.

Ademais, vale salientar que a alta taxa de resistência aos antimicrobianos encontrada no estudo ressalta a urgente necessidade de estratégia de prevenção e controle de IRAS de etiologia de microorganismos multirresistentes (LLACA-DIAZ et al., 2018). O presente estudo verificou os isolados de secreção traqueal no período da pandemia por COVID-19. Foi possível observar que as espécies bacterianas de maior incidência na UTI do Hospital Universitário foram Acinetobacter baumannii, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa.

A Acinetobacter baumannii, umbacilo gram-negativo não fermentador, é descrita como microorganismo de grande relevância clínica por sobreviver a longos períodos em escassas condições nutricionais e possuir alta virulência (Gomes et al., 2014). Ribeiro et al. (2019) realizou um estudo do perfil de resistência a antibióticos na unidade de terapia intensiva de um hospital terciário e encontrou percentuais de 66% para Sulfametoxazol+ trimetoprima, 48%   para   ampicilina/sulbactam, 71,4% para amicacina, 82% para cefepima, 77% para Ceftazidime e imipinem, 83% para ciprofloxacina, 81% para levofloxacino, 79% para meropenem, 80% para piperacilina-tazobactam e 51%   para   gentamicina. Em comparação a este estudo, a resistência reduziu em relação ao antibiótico trimetopim-sulfametoxazol (33%), os demais aumentaram percentualmente, ampicilinasubactam (80%), amicacina, cefepima, ceftazidima, imipinem, ciprofloxacina, levofloxacino, meropenem, piperacilina-tazobactam (87%), gentamicina (100%).

A Klebsiella pneumoniae, um bacilo gram-negativo, apresentou resistência maior que 50% a 14 antibióticos dos 17 testados. Em um estudo realizado no Hospital  Universitário  da  Fundação  da  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  (FURG) este microorganismo destacou-se como uma das bactérias com maior perfil de resistência a antibióticos (Oliveira  et  al, 2014). Estudos evidenciaram que a Klebisiela pneumoniae possui mecanismos de resistência à antibióticos de amplo espectro por codificar enzimas beta-lactamases, carbapenemases e alterar porinas para dificultar a penetração de grandes moléculas (French, 1994; Oliveira, 2010; Leite, 2021). 

Ao relacionar os achados deste estudo com os dados encontrados por Bastos et al. (2020) encontramos concordância na resistência de 100% a ampicilina. Entretanto, há divergência na resistência da amicacina e tigecilina, os quais, no estudo supracitado está em 0% e 9% e no estudo atual encontrou-se 13% e 63% respectivamente. Além disso, os percetuais de resistência a cefoxitina, imipenem, meropenem, e trimetoprim-sulfametoxazol (79%), a piperacilina-tazobactam (83%), a ertapenem (84%), a ampicilina-subactam, cefepima, ceftriaxona, criprofloxacino (89%) e a levofloxacino (94%) são bem superiores  aos encontrados no trabalho referenciado.

O Staphylococcus aureus, um coco gram-positivo, apresentou resistência menor que 50% a 7 antibióticos de 11 testados. No estudo de Bastos et al. (2020) os percentuais    de    resistência    foram    100%    para penicilina, 67% para ampicilina, clindamicina e eritromicina, 25% para ceftarolina, 17% para sulfametoxazol + trimetoprima. Todos isolados    foram    100% sensíveis linezolide,  minociclina, rifampicina, vancomicina. O presente estudo convergiu com estudo referido nos achados da resistência a penicilina G (100%) e na sensibilidade linezolide,  minociclina, rifampicina, vancomicina (100%). Os percentuais dos demais antibióticos foram variados ampicilina (100%), clindamicina (56%), eritromicina (67%), ceftarolina (13%), trimetroprim-sulfametoxazol (11%).

O Pseudomonas aeruginosa, um bacilo gram-negativo aeróbio, é caracterizado por infectar pacientes imunosuprimidos. Por se tratar um patógeno oportunista com alto potencial de colonização de equipamentos e materiais hospitalares existe a necessidade de criar protocolos para controle da disseminação (Arcanjo et al. 2017). Em um estudo realizado por Basso et al. (2016), os percentuais    de    sensibilidade    foram   100% para amicacina, cefepima, ceftazidima, ciprofloxacina, gentamicina, imipenem, levofloxacina, meropenem e piperacilina-tazobactam. Diferentemente dos achados do presente estudo, em que foram encontradas sensibilidade de 100% para colistina, tendo os demais antibióticos percentuais menores que 50%: ceftazidime (22%) e piperacilina-tazobactam (22%), amicacina, ciprofloxacina, gentamicina e levofloxacina (33%), meropenem (45%) e cefepima e imipenem (50%).

5. CONCLUSÃO

Portanto, neste estudo, observou-se o perfil epidemiológico das pneumonias nos municípios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, levando em consideração sexo, cor/raça e faixa etária. Constatou-se que, em relação ao sexo, o masculino foi o mais acometido; quanto à cor/raça, a parda foi a mais prevalente; e, no que diz respeito à faixa etária, a de crianças menores de 1 ano até 4 anos foi a mais afetada, seguida por idosos com 80 anos ou mais. 

As bactérias mais frequentemente isoladas foram Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa, conhecidas pela capacidade de desenvolver resistência a múltiplas classes de antibióticos. Portanto, conhecer os agentes bacterianos e seus padrões de suscetibilidade e resistência é essencial para orientar a terapia inicial e estabelecer protocolos eficazes para as equipes de saúde.

Dessa Forma, esses dados enfatizam a importância da análise contínua e detalhada dos prontuários de pacientes como ferramenta fundamental para monitorar e combater a resistência antimicrobiana, contribuindo para a melhoria da qualidade do cuidado de saúde e a segurança dos indivíduos.

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