DRONES NA GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES: ANÁLISE DO APOIO DO CBMMG ÀS COORDENADORIAS MUNICIPAIS DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO NORTE DE MINAS GERAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506221608


Eduardo Ramos Souza
Pedro Henrique Martins Mendes


RESUMO

Esta pesquisa investigou o emprego de drones pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) em ações de gestão de risco de desastres nos municípios do norte do estado de Minas Gerais, com foco no apoio às Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC). O estudo analisou relatórios operacionais, registros de ocorrências envolvendo uso de drones e documentos técnicos do período de 2020-2025. Examinou-se 359 operações distribuídas em quatro municípios: Montes Claros (277), Januária (52), Janaúba (25) e Salinas (5). Ademais, a análise contemplou os padrões de distribuição temporal, sazonalidade e natureza das ocorrências registradas. Os resultados demonstraram que o uso de drones apresentou crescimento exponencial em 2023 (68,2% das ocorrências), com predominância de atividades de levantamento e monitoramento de focos (40,4%), concentradas no período de estiagem regional (julho a novembro). A distribuição geográfica e a tipologia das operações refletem as características específicas de cada município, evidenciando a adaptação eficaz da tecnologia às demandas locais de gestão de risco. A análise confirma que o emprego de drones tem proporcionado avanços significativos na coleta de dados mais precisos, atualizados e abrangentes, permitindo às COMPDEC superar as limitações das abordagens tradicionais de mapeamento e monitoramento em áreas de difícil acesso.

Palavras-chave: Drones; Gestão de Risco de Desastres; Corpo de Bombeiros Militar; Proteção e Defesa Civil. 

ABSTRACT

This research investigated the use of drones by the Military Fire Department of Minas Gerais (CBMMG) in disaster risk management actions in municipalities in the northern region of Minas Gerais state, focusing on support to Municipal Civil Protection and Defense Coordination Units (COMPDEC). The study analyzed operational reports, incident records involving drone use, and technical documents from the 2020-2025 period. A total of 359 operations distributed across four municipalities were examined: Montes Claros (277), Januária (52), Janaúba (25), and Salinas (5). Furthermore, the analysis encompassed temporal distribution patterns, seasonality, and the nature of recorded incidents. Results demonstrated that drone use showed exponential growth in 2023 (68.2% of incidents), with a predominance of survey and hotspot monitoring activities (40.4%), concentrated during the regional dry season (July to November). The geographical distribution and typology of operations reflect the specific characteristics of each municipality, evidencing the effective adaptation of technology to local risk management demands. The analysis confirms that drone deployment has provided significant advances in collecting more accurate, updated, and comprehensive data, enabling COMPDEC units to overcome limitations of traditional mapping and monitoring approaches in hard-to-access areas.

Keywords: Drones; Disaster Risk Management; Military Fire Department; Civil Protection and Defense.

1 INTRODUÇÃO

As ações de proteção e defesa civil desempenham um papel fundamental na prevenção, preparação e mitigação de desastres, sendo uma atividade essencial para a segurança e bem-estar da população. Gerir o risco de desastre é trabalhar sobre interações que afetam ecossistemas e populações vulneráveis, especialmente sob ameaça de eventos adversos, como os de origem natural ou provocados pela ação humana. Esses eventos podem resultar em danos significativos nas esferas ambiental, material, econômica e social, com uma alta probabilidade de ocorrência (Brasil, 2012).

A gestão de risco de desastres envolve a aplicação sistemática de políticas e estratégias direcionadas à prevenção de novos riscos, redução dos riscos existentes e gerenciamento dos riscos residuais, fortalecendo a resiliência e reduzindo as perdas. Para a United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNDRR) a gestão comunitária envolve a participação das comunidades na avaliação, planejamento e execução das ações de redução de risco. Nessa abordagem o conhecimento tradicional das comunidades complementa o conhecimento científico empregado nas avaliações de risco e no planejamento de ações preventivas. (UNDRR, 2024).

A Comissão Europeia estabelece que a avaliação e mapeamento de riscos constituem os componentes centrais de um processo mais amplo de gestão. Esse processo identifica as capacidades e recursos disponíveis para reduzir os níveis de risco identificados ou os possíveis efeitos de um desastre (análise de capacidade). Inclusive, contempla ainda o planejamento de medidas apropriadas de mitigação de riscos (planejamento de capacidades), o monitoramento e a revisão de perigos, riscos e vulnerabilidades, bem como a consulta e comunicação dos achados e resultados (European Commission, 2010).

A região Norte de Minas Gerais constitui uma área de transição entre o Sudeste e o Nordeste brasileiro, ocupa aproximadamente 128 mil km² (21,85% do território mineiro) e abriga 89 municípios com uma população estimada em 1,6 milhão de habitantes (IBGE, 2020). Caracteriza-se como uma zona de confluência entre os biomas Cerrado, Caatinga e porções de Mata Atlântica, apresentando condições climáticas predominantemente semiáridas, com períodos de estiagem prolongada intercalados por chuvas concentradas e, por vezes, torrenciais.

Do ponto de vista socioeconômico, a região apresenta indicadores de desenvolvimento abaixo da média estadual, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) médio de 0,654, conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2020). Historicamente caracterizada pela pecuária extensiva, agricultura familiar e extrativismo, a região tem diversificado sua economia nas últimas décadas com a expansão da fruticultura irrigada, produção florestal e intensificação da mineração em determinadas áreas.

A hidrografia regional é dominada pela bacia do Rio São Francisco e seus afluentes, que desempenham papel crucial tanto para o abastecimento humano quanto para atividades econômicas, incluindo agricultura irrigada, pesca artesanal e turismo. A infraestrutura urbana e as características geomorfológicas heterogêneas, que incluem desde áreas planas e chapadas até relevos acidentados com formações cársticas, configuram um mosaico de cenários com diferentes potenciais de risco para desastres.

A região Norte de Minas Gerais apresenta uma tipologia específica de desastres, fortemente influenciada por suas características climáticas, geomorfológicas e padrões de ocupação territorial. Com base no histórico de ocorrências registradas pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (CEDEC-MG), no período compreendido entre 2010 e 2022, permite destacar cinco categorias principais de desastres recorrentes na região.

Os incêndios florestais representam o fenômeno adverso de maior incidência, concentrando-se no período de estiagem (maio a outubro), com maior severidade em áreas de vegetação nativa do Cerrado e em zonas de transição para a Caatinga. Dados da plataforma BDQueimadas do INPE indicam uma média anual de 4.800 focos de calor na região entre 2018 e 2023, com tendência crescente nos últimos anos (INPE, 2023). Esses eventos afetam tanto áreas de conservação ambiental quanto áreas produtivas, gerando impactos na biodiversidade, qualidade do ar e atividades econômicas.

As estiagens e secas prolongadas constituem desastres de evolução gradual, porém com impactos severos, especialmente para populações rurais e pequenos municípios com infraestrutura hídrica deficitária. Entre 2017 e 2022, 64 municípios da região decretaram situação de emergência em decorrência de escassez hídrica pelo menos uma vez, sendo que 23 deles registraram recorrência anual deste tipo de evento (CEDEC-MG, 2022).

As inundações e alagamentos, embora menos frequentes que outros fenômenos regionais, apresentam alta intensidade quando ocorrem, afetando principalmente áreas urbanas e comunidades ribeirinhas situadas às margens dos principais rios da região, com destaque para o Rio São Francisco e o Rio Verde Grande. Durante o período chuvoso, que se estende de novembro a março, municípios como Januária, Pirapora e Montes Claros registram ocorrências recorrentes, totalizando 37 eventos significativos documentados ao longo dos últimos dez anos (CEDEC-MG, 2022). Os movimentos de massa, incluindo deslizamentos e quedas de blocos, afetam áreas específicas da região com topografia mais acidentada, particularmente em municípios como Grão Mogol, Rio Pardo de Minas e Salinas. Embora, sejam menos frequentes que os outros tipos de desastres, eles apresentam alto potencial destrutivo, sendo registrados 18 eventos significativos entre o ano de 2015 e de 2022 (CEDEC-MG, 2022).

Por fim, destacam-se os desastres tecnológicos, relacionados principalmente a acidentes com produtos perigosos nas rodovias que atravessam a região – especialmente a BR-251, BR-135 e BR-365 – bem como incidentes em instalações industriais e de mineração. No período compreendido entre 2018 e 2022, foram registradas 143 ocorrências envolvendo transporte de produtos perigosos, apresentando potencial de contaminação ambiental e riscos à saúde pública (CBMMG, 2023).

O cenário diversificado de ameaças, combinado com as vulnerabilidades socioeconômicas e a extensão territorial da região, impõe desafios significativos para a gestão de risco de desastres. Tal contexto, demanda o desenvolvimento de estratégias inovadoras e o emprego de recursos tecnológicos que possam aprimorar as capacidades locais de prevenção, monitoramento e resposta a emergências.

Esta investigação concentra-se na seguinte questão: De que maneira o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) tem integrado o uso de tecnologias aéreas não tripuladas (drones) às atividades de suporte às Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC) para otimizar a gestão de riscos de desastres na região norte de Minas Gerais? Tal questionamento surge diante da crescente necessidade de superar as limitações dos métodos convencionais de mapeamento e monitoramento, os quais frequentemente carecem de dados precisos, atualizados e em escala adequada para a tomada de decisões eficazes em cenários de prevenção e resposta a desastres. 

A hipótese sustentada é de que o emprego de drones pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais tem proporcionado um significativo avanço nas ações de gestão de risco de desastres nos municípios norte mineiros, por meio da coleta de dados mais precisos, atualizados e abrangentes, permitindo às COMPDEC superar as limitações das abordagens tradicionais de mapeamento e monitoramento, especialmente em áreas de difícil acesso e durante eventos sazonais críticos como incêndios florestais e inundações.

O objetivo geral deste estudo é investigar o uso de drones pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais em ações de gestão de risco de desastres desenvolvidas pelas Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC) nos municípios de Montes Claros, Janaúba, Januária e Salinas. 

Para alcançar este propósito, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: (a) caracterizar a frota de drones do CBMMG disponível para atendimento à região Norte de Minas Gerais, identificando suas especificações técnicas e capacidades operacionais; (b) descrever os processos de formação, qualificação, bem como  os requisitos operacionais exigidos para os operadores de drones do CBMMG nas ações de gestão de risco de desastres na região; (c) analisar casos práticos de emprego dos drones do CBMMG em ações conjuntas com as COMPDEC da região, evidenciando os procedimentos de mapeamento, monitoramento e avaliação de áreas de risco.

A presente pesquisa reveste-se de particular relevância ao analisar a integração de tecnologias de remotely piloted aircrafts – RPA (aeronaves remotamente pilotadas, em tradução livre) nas operações do CBMMG em apoio às COMPDEC. Esta relevância se manifesta em diferentes dimensões. Do ponto de vista técnico-operacional, o estudo se justifica pela necessidade de documentar e avaliar sistematicamente como o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais tem incorporado os drones em suas operações de gestão de risco de desastres. 

A análise das capacidades técnicas da frota, dos protocolos operacionais e da formação dos operadores contribui para o aperfeiçoamento contínuo desses processos, permitindo identificar boas práticas e oportunidades de melhoria.

2 REVISÃO DE LITERATURA 

2.1 Gestão de Risco de Desastres

A gestão de risco de desastres constitui um processo sistemático e contínuo que visa reduzir vulnerabilidades e aumentar a resiliência das comunidades frente a eventos adversos (Narváez et al., 2009). Este campo de atuação tem evoluído significativamente nas últimas décadas, passando de uma abordagem tradicionalmente reativa, focada principalmente na resposta a desastres, para uma perspectiva mais abrangente que enfatiza a prevenção e a preparação. 

No Brasil, este processo é regulamentado pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), estabelecida pela Lei Federal 12.608/2012, que define diretrizes, atribuições e mecanismos de coordenação entre os diferentes níveis de governo. Neste contexto, compreender os conceitos fundamentais, o marco legal e institucional, bem como o papel específico das Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil torna-se essencial para analisar como as novas tecnologias, especialmente os drones, podem ser integradas de maneira efetiva nas ações de proteção e defesa civil.

A compreensão da Gestão de Risco de Desastres (GRD) requer inicialmente o entendimento de seus conceitos básicos. De acordo com Narváez et al. (2009), a GRD constitui um processo sistemático que visa reduzir vulnerabilidades e aumentar a resiliência das comunidades frente a eventos adversos. Para uma adequada contextualização, é necessário compreender seus elementos constituintes fundamentais.

O risco, elemento central deste processo, pode ser entendido como a relação entre a possibilidade de ocorrência de um determinado processo ou fenômeno e a magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo ou comunidade (Tominaga et al., 2015). Conceitualmente o risco pode ser expresso pela equação: R = P x C, onde o, “R” representa o risco, “P” a probabilidade ou frequência de ocorrência de um evento, e “C” as consequências potenciais, sejam elas sociais ou econômicas (Augusto Filho et al., 1990).

O desastre, por sua vez, é definido pela Lei Federal 12.608/2012 como o resultado de evento adverso, de origem natural ou induzido pela ação humana, sobre ecossistemas e populações vulneráveis, que causa significativos danos humanos, materiais ou ambientais e prejuízos econômicos e sociais (Brasil, 2012). Importante ressaltar que os desastres não são meramente produtos da natureza, mas construídos socialmente, resultando da interação entre fenômenos físicos e vulnerabilidades socialmente construídas (Lavell, 2000).

A vulnerabilidade, outro conceito fundamental, refere-se às características e circunstâncias de uma comunidade ou sistema que os tornam suscetíveis aos efeitos danosos de um perigo. Esta pode ser influenciada por fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais (UNDRR, 2024).

A resiliência, por fim, representa a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade exposta a riscos de resistir, absorver, adaptar-se e recuperar-se dos efeitos de um perigo de maneira oportuna e eficiente (CEPED UFSC, 2012). Este conceito tem ganhado crescente importância na GRD, pois enfatiza a necessidade de fortalecer as capacidades locais de enfrentamento a desastres.

2.2 Desastres 

A Lei Federal 12.608 de 10 de abril de 2012, em seu artigo primeiro, define desastre como resultado de evento adverso, de origem natural ou induzido pela ação humana, sobre ecossistemas e populações vulneráveis que causam significativos danos humanos, materiais ou ambientais e prejuízos econômicos e sociais. Ainda na referida lei o risco de desastre é definido como a probabilidade de ocorrência de significativos danos sociais, econômicos, materiais ou ambientais, decorrentes de evento adverso de origem natural ou induzido pela ação humana, incidindo sobre ecossistemas e populações vulneráveis.

A ocorrência de eventos naturais extremos como terremotos, inundações, furacões e grandes incêndios florestais geram impactos significativos em uma comunidade vulnerável, resultando em perdas humanas, danos materiais, ambientais e econômicos, o que pode ser caracterizado como desastre.

Um exemplo que corrobora tal conceito podemos encontrar no livro “El Caso del Huracán Mitch en Centroamérica” (O caso do furacão Mitch na América Central – tradução livre), no qual Allan Lavell (2000) explora a construção social de desastres utilizando o furacão Mitch na América Central como estudo de caso. O autor demonstra que os desastres não são meramente produtos da natureza, mas são construídos socialmente. Inclusive, ressalta que os desastres não são eventos puramente naturais, mas sim o resultado da interação entre fenômenos físicos e a construção social de vulnerabilidades, exigindo uma abordagem integrada entre gestão de riscos e desenvolvimento.

Por outro lado, os desastres provocados pela ação do homem, também conhecidos como desastres antrópicos, são aqueles resultantes de ações ou omissões humanas e estão relacionados às atividades do homem, como agente ou autor, como por exemplo: acidentes de trânsito, incêndios urbanos, contaminação de vazamento químico, acidente biológico, rompimento de barragens (Dutra, 2011).

O desastre de Brumadinho é um exemplo icônico de um desastre provocado pela ação humana. Ocorrido em 25 de janeiro de 2019, na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, Brasil, o rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, pertencente à Vale S.A., resultou em uma enorme tragédia.

Figura 1: Rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

Fonte: CNN Brasil, 2021.

A gestão de risco de desastres no Brasil é norteada por um robusto arcabouço jurídico e institucional que evoluiu significativamente nas últimas décadas, especialmente após a ocorrência de grandes desastres, que evidenciaram a necessidade de políticas públicas mais efetivas nessa área.

2.2.1 Evolução do Marco Legal

O principal pilar jurídico na gestão de risco de desastres no Brasil é a Lei Federal nº 12.608, de 10 de abril de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC). Esta lei representa um marco na mudança de paradigma na gestão de desastres no país, estabelecendo uma abordagem sistêmica voltada não apenas para ações de resposta, mas principalmente para a prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação (Brasil, 2012).

Antes da PNPDEC, a gestão de desastres no Brasil era regida pelo Decreto nº 7.257/2010, que estabelecia o Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC). Com a nova legislação, este sistema foi reformulado e passou a denominar-se Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), ampliando seu escopo e enfatizando a prevenção.

A Lei 12.608/2012 também promoveu alterações importantes em outros dispositivos legais, como o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), tornando obrigatório o mapeamento de áreas de risco para municípios incluídos no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis a desastres. Além disso, modificou a Lei nº 12.340/2010, que dispõe sobre o Fundo Especial para Calamidades Públicas (FUNCAP), estabelecendo novos parâmetros para transferências de recursos.

O SINPDEC é constituído por órgãos e entidades da administração pública federal, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, além de entidades públicas e privadas de atuação significativa na área de proteção e defesa civil. Essa estrutura é organizada de forma hierárquica, mas com atuação integrada e descentralizada.

No âmbito federal, o órgão central do SINPDEC é a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), vinculada ao Ministério da Integração Nacional, sendo responsável por coordenar as ações de proteção e defesa civil em todo o território nacional, bem como articular as três esferas de governo.

Nos estados, a gestão de risco de desastres é conduzida pelas Coordenadorias Estaduais de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC), geralmente vinculadas às Secretarias de Segurança Pública ou diretamente aos Gabinetes dos Governadores. Em muitos estados, como Minas Gerais, os Corpos de Bombeiros Militares desempenham papel central nestas coordenadorias, uma vez que possuem capacitação técnica e operacional para atuação em emergências.

Nos municípios, a responsabilidade pela gestão de risco recai sobre as COMPDEC, que devem atuar em todas as fases do ciclo de gestão de desastres, com ênfase na prevenção. Segundo Valencio et al. (2009), a efetividade do SINPDEC depende fundamentalmente da capacidade de atuação das coordenadorias municipais, por serem estas as estruturas mais próximas das comunidades vulneráveis.

2.2.2 Marcos Internacionais

A legislação brasileira está alinhada a importantes marcos internacionais, como o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, adotado na Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres. Este documento estabelece quatro prioridades de ação: (1) compreender o risco de desastres; (2) fortalecer a governança do risco de desastres; (3) investir na redução do risco de desastres para a resiliência; e (4) melhorar a preparação para desastres a fim de proporcionar uma resposta eficaz (UNDRR, 2015).

O Acordo de Paris, outro marco importante, firmado na COP21 em 2015, reconhece a relação entre as mudanças climáticas e o aumento da frequência e intensidade de desastres naturais. Este acordo estabelece compromissos para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Apesar dos avanços no marco legal e institucional, ainda persistem desafios significativos na implementação efetiva da gestão de risco de desastres no Brasil. De acordo com Carvalho e Damacena (2013), há um descompasso entre o avanço legislativo e a real capacidade de execução das políticas públicas, especialmente nos municípios menores, que frequentemente carecem de recursos humanos, financeiros e técnicos.

Nogueira et al. (2014) destacam que a efetividade do SINPDEC também é comprometida pela fragmentação institucional e pela dificuldade de coordenação entre os diferentes órgãos e níveis de governo. Esta fragmentação, muitas vezes, resulta em sobreposição de competências e lacunas na execução de ações fundamentais para a redução de riscos.

A integração dos instrumentos de planejamento territorial com a gestão de risco de desastres representa outro desafio institucional relevante. Embora a Lei 12.608/2012 estabeleça a necessidade desta integração, na prática, muitos municípios ainda tratam o planejamento urbano e a gestão de risco como questões distintas e não relacionadas (Sulaiman, 2014).

2.3 O Papel das Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil

As Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil representam a estrutura fundamental na implementação das políticas de gestão de risco de desastres no âmbito local, constituindo a “ponta da lança” do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC). Conforme estabelece a Lei Federal 12.608/2012, os municípios têm responsabilidades específicas e intransferíveis na gestão de riscos, sendo as COMPDEC os órgãos executores destas atribuições (BRASIL, 2012).

A importância das coordenadorias municipais deriva do princípio da descentralização que norteia o SINPDEC, reconhecendo que os desastres ocorrem localmente e que as primeiras ações de resposta são necessariamente locais. Como destacam Valencio et al. (2009), a eficácia do sistema como um todo depende fundamentalmente da capacidade das estruturas municipais em identificar riscos, planejar ações preventivas e coordenar respostas imediatas a eventos adversos.

Entre as atribuições legais das COMPDEC destacam-se: (1) identificar e mapear áreas de risco; (2) promover a fiscalização das áreas de risco e vedar novas ocupações; (3) declarar situação de emergência e estado de calamidade pública; (4) vistoriar edificações em áreas de risco; (5) promover a intervenção preventiva e a evacuação da população em áreas de alto risco; e (6) manter a população informada sobre áreas de risco e ocorrência de eventos extremos (Brasil, 2012).

Para além das atribuições legais, Oliveira (2017) ressalta que as coordenadorias municipais desempenham papel crucial na articulação entre diferentes setores da administração municipal – tais como obras, assistência social, saúde, meio ambiente – bem como na integração destes com os demais níveis governamentais. Esta articulação é essencial para a efetividade das ações de proteção e defesa civil, especialmente na implementação de medidas não estruturais de redução de riscos, a exemplo   do planejamento territorial e da educação ambiental.

No contexto do Norte de Minas Gerais, região caracterizada por diversidade de riscos, tais como estiagens prolongadas, queimadas florestais, inundações sazonais e, em alguns municípios, deslizamentos de encostas, as coordenadorias enfrentam desafios particulares. Conforme aponta Santos (2018) em estudo realizado na região, a maior parte destas instituições opera com estrutura organizacional reduzida, frequentemente composta por apenas um coordenador, o qual muitas vezes é designado para acumular funções em diferentes secretarias municipais.

A elaboração e implementação dos Planos de Contingência Municipal constitui uma das atribuições mais relevantes das COMPDEC. Conforme preconiza a Instrução Normativa nº 02 do Ministério da Integração Nacional (Brasil, 2016), estes planos devem conter a identificação de cenários de risco, vulnerabilidades locais, recursos disponíveis, definição de responsabilidades e procedimentos operacionais para as diferentes fases da gestão de risco de desastres.

A promoção de uma “cultura de prevenção” junto às comunidades, especialmente aquelas localizadas em áreas de risco, é outra dimensão fundamental da atuação das coordenadorias municipais. Como ressalta Soriano (2012), a redução efetiva de riscos requer não apenas intervenções técnicas, mas também a construção de comportamentos preventivos e o desenvolvimento de percepções adequadas do risco por parte das populações potencialmente afetadas.

As COMPDEC também desempenham um papel central na implementação do Sistema de Comando de Incidentes (SCI) no âmbito municipal, metodologia padronizada para gestão de emergências que permite a articulação eficiente entre diferentes órgãos durante a resposta a desastres. De acordo com Souza (2020), a adoção do SCI tem se mostrado particularmente relevante em municípios de pequeno e médio porte, contextos nos quais os recursos operacionais são limitados e a coordenação eficiente torna-se ainda mais crucial para o sucesso das operações

Apesar de seu papel estratégico, estudos como o de Nogueira (2016) identificam que muitas COMPDEC no Brasil ainda enfrentam desafios significativos para sua plena operacionalização, incluindo: (1) insuficiência de recursos humanos e materiais; (2) alta rotatividade de pessoal; (3) baixa priorização política; (4) dificuldades na integração de dados e sistemas; e (5) limitada capacidade técnica para realização de mapeamentos e análises de risco.

Neste contexto, a integração de novas tecnologias, como os drones, representa uma oportunidade para fortalecer a capacidade operacional das coordenadorias municipais, especialmente nas atividades de mapeamento, monitoramento e avaliação de áreas de risco. Como destaca Furtado (2018), esta integração tecnológica pode significar um salto qualitativo na atuação das coordenadorias, permitindo análises mais precisas, monitoramento em tempo real e melhor comunicação de riscos às comunidades.

Por fim, é importante ressaltar que, conforme estabelece o Decreto Federal nº 10.593/2020, as COMPDEC devem ser formalmente instituídas pelos municípios como condição para o recebimento de recursos federais destinados a ações de proteção e defesa civil, reforçando a importância institucional desses órgãos no contexto do SINPDEC.

3 METODOLOGIA 

     Para atingir os objetivos do estudo, adotou-se uma metodologia mista (quanti-qualitativa) de caráter exploratório-descritivo, com abordagem de estudo de casos múltiplos. Este desenho metodológico integra análises numéricas e interpretativas, combinando o rigor estatístico com a profundidade contextual necessária para compreender o fenômeno estudado. De acordo com Flick (2004) a convergência dos métodos quantitativos e qualitativos proporcionam mais credibilidade e legitimidade aos resultados encontrados, evitando o reducionismo à apenas uma opção. 

A dimensão quantitativa permitiu a análise estatística das 359 operações registradas, identificando padrões de distribuição geográfica, evolução temporal, sazonalidade e tipologia das ocorrências. Já a dimensão qualitativa possibilitou a interpretação contextualizada desses dados, examinando as particularidades dos casos selecionados e as percepções dos profissionais envolvidos. 

A seleção dos municípios de Montes Claros, Janaúba, Januária e Salinas seguiu critérios específicos de representatividade regional e diversidade de características. Montes Claros foi escolhida por ser o principal polo urbano do Norte de Minas, com aproximadamente 400 mil habitantes, apresentando desafios típicos de centros urbanos de médio porte, como ocupações irregulares em encostas e áreas de inundação. Janaúba, com cerca de 70 mil habitantes, representa municípios de porte intermediário com predominância de áreas agrícolas e histórico de ocorrências relacionadas a queimadas e estiagens. Por sua vez Salinas, com aproximadamente 40 mil habitantes, foi selecionada por suas características geográficas particulares, incluindo áreas montanhosas e susceptibilidade a deslizamentos. 

Por fim, a seleção de Januária como um dos municípios para este estudo justifica-se por suas características geográficas, hidrológicas e socioeconômicas específicas. Localizada às margens do Rio São Francisco, Januária representa um importante pólo regional com aproximadamente 65 mil habitantes, apresentando uma confluência singular de fatores de risco que a tornam estratégica para a análise do emprego de drones em ações de proteção e defesa civil.

A coleta de dados foi estruturada em três etapas complementares. Na primeira etapa, realizou-se pesquisa documental em fontes primárias, incluindo: (a) relatórios operacionais do CBMMG, no período de 2020 a 2023, nos quais foram vislumbrados históricos dos REDs; (b) planos de contingência municipais das três cidades estudadas; (c) registros de ocorrências envolvendo o uso de drones; (d) manuais técnicos e protocolos operacionais do CBMMG; e (e) legislação pertinente em nível federal, estadual e municipal.

A segunda etapa consistiu no estudo de casos práticos selecionados por amostragem intencional, contemplando dez operações de mapeamento e monitoramento realizadas entre 2021 e 2024 nas três cidades mencionadas. A seleção dos casos buscou diversidade quanto ao tipo de evento, preparação, mitigação, características geográficas e resultados obtidos. Para cada caso, foram analisados documentos operacionais, imagens e dados coletados pelos drones, além de entrevistas complementares com os profissionais diretamente envolvidos.

Por fim, os dados coletados foram tratados para assegurar maior validade e confiabilidade dos resultados, permitindo uma compreensão mais ampla e aprofundada do fenômeno estudado. A análise foi realizada utilizando software de análise qualitativa para a categorização e identificação de padrões recorrentes, relacionando-os aos objetivos específicos da pesquisa.

Estruturalmente, este trabalho está organizado em cinco seções principais. Após esta introdução, apresenta-se a fundamentação teórica, abordando os conceitos fundamentais relacionados à gestão de risco de desastres e ao uso de drones. Em seguida, detalha-se a metodologia empregada na pesquisa. A quarta seção apresenta os resultados e discussões, incluindo a caracterização da frota, os processos de formação e os casos práticos analisados. Por fim, são apresentadas as conclusões e recomendações para estudos futuros.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

4.1 Distribuição Geográfica das Ocorrências

A análise dos dados coletados sobre o emprego de drones pelo CBMMG em ações de gestão de risco de desastres no Norte de Minas Gerais revela padrões significativos quanto à distribuição geográfica, evolução temporal, sazonalidade e natureza das ocorrências. Os registros de 359 operações realizadas entre 2020 e 2025 nos municípios de Montes Claros, Januária, Janaúba e Salinas foram sistematicamente categorizados e analisados, permitindo a identificação de tendências relevantes para a compreensão do papel desta tecnologia no apoio às Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil. 

A seguir, apresenta-se uma análise detalhada desses dados, organizada em dimensões complementares que, em conjunto, oferecem um panorama abrangente sobre como os drones têm sido empregados na região, suas principais aplicações, limitações e potencialidades. Este mapeamento analítico constitui base fundamental para a avaliação da efetividade do programa e para o estabelecimento de diretrizes voltadas ao seu aprimoramento futuro.

Gráfico 1: Distribuição geográfica das ocorrências com uso de drones


Fonte: Sinds (2025)

A análise do gráfico de distribuição geográfica revela uma significativa concentração das ocorrências no município de Montes Claros (77,2%), seguido por Januária (14,5%), Janaúba (7,0%) e Salinas (1,4%). Esta distribuição pode ser explicada pelas características demográficas e estratégicas de Montes Claros como principal pólo urbano da região norte de Minas Gerais.

Tabela 1: Distribuição total das ocorrências por município

Fonte: Sinds (2025)

Conforme apontado no estudo: “Montes Claros foi escolhida por ser o principal polo urbano do Norte de Minas, com aproximadamente 400 mil habitantes, apresentando desafios típicos de centros urbanos de médio porte, como ocupações irregulares em encostas e áreas de inundação” (Souza; Mendes, 2025). Esta característica justifica a maior concentração de operações com drones neste município, uma vez que apresenta maior complexidade urbana e, consequentemente, maior diversidade de riscos a serem monitorados. Em contraste, municípios menores como Salinas apresentam menor frequência de operações, o que pode indicar tanto menor demanda quanto possível limitação na disponibilidade de recursos tecnológicos e humanos para operação dos equipamentos nas cidades de menor porte.                                                                        

O gráfico de evolução anual das ocorrências demonstra um crescimento exponencial no uso de drones em 2023, ano que concentrou 68,2% do total de operações registradas (245 ocorrências). Este aumento significativo representa uma mudança paradigmática na adoção dessa tecnologia pelo CBMMG. A visualização da tendência neste gráfico permite identificar claramente o momento de inflexão na implementação do programa, revelando quando a tecnologia deixou de ser experimental para se tornar amplamente adotada nas operações institucionais.

Gráfico 2:  Evolução Anual das Ocorrências.1

Fonte: Sinds (2025)

De acordo com o estudo analisado, “os desenvolvimentos de tecnologias disruptivas — como inteligência artificial (AI), Internet das Coisas (IoT) e Big Data — e inovações em áreas como robótica e drones estão transformando muitos campos, incluindo redução e gerenciamento de riscos e desastres” (Corsi, 2012). O salto observado em 2023 parece refletir esse movimento de transformação tecnológica nas atividades de gestão de risco. 

O expressivo crescimento das operações em 2023 (68,2% do total) é acompanhado por uma diversificação das aplicações dos drones, que passam a ser utilizados não apenas para monitoramento de focos, mas também para coordenação, treinamentos e monitoramento de eventos hidrológicos.

Esta evolução reflete o amadurecimento do programa e está alinhada à visão da OECD (2019), que destaca “o desenvolvimento de sensores do tipo LiDAR e câmeras digitais de alta resolução que aliadas aos softwares de tratamento de dados permitem rapidez na aquisição de dados para a utilização na gestão de riscos em todas as suas etapas.”

O período 2020-2022 apresenta registros quantitativos de 5, 42 e 16 ocorrências, respectivamente2. A análise do gráfico de distribuição mensal revela um padrão sazonal claro, com concentração de operações com drones no período de julho a novembro, que juntos representam mais de 60% das ocorrências. 

Os meses com maior registro nos anos pesquisados são novembro (17,8%), julho (15,6%), setembro (14,2%) e outubro (13,6%). A representação visual em formato de barras permite identificar facilmente os períodos de pico e de baixa demanda, facilitando o planejamento operacional e alocação de recursos ao longo do ano.

Gráfico 3:  Distribuição Mensal das Ocorrências 2022-2025

Fonte: Sinds (2025)

Este padrão coincide com o período de estiagem na região norte de Minas Gerais, caracterizado por baixa umidade relativa do ar e maior risco de incêndios florestais. Conforme apontado no estudo, o período de julho a novembro corresponde ao momento de maior ocorrência dos incêndios florestais e de intensificação da necessidade de monitoramento ambiental (Souza; Mendes, 2025).

A coincidência entre o pico de operações nos meses de estiagem (julho a novembro) e a predominância de ações de monitoramento de focos (40,4%) evidencia a aplicação prioritária dos drones na prevenção e combate a incêndios. Segundo Lopes et al. (2010), cada vez mais informações e inteligência são fundamentais nas ações de resposta em um desastre, pois diminuem a entropia (falta de ordem, ausência de previsibilidade) do sistema e possibilitam ações rápidas no enfrentamento aos sinistros. 

Os desastres são associados ao uso de expressões como situação de emergência e estado de calamidade pública. Cada um desses termos possui significado próprio que traduz a gravidade de um desastre e acarreta consequências para a vida do município atingido, necessitando de ação rápida por parte do poder público.

Gráfico 4:  Principais Tipos de Ocorrências por natureza com utilização dos Drones

Fonte: Sinds (2025)

O gráfico de tipos de ocorrências evidencia a predominância de “Levantamento/monitoramento de focos” (40,4%), seguido por “Ações de coordenação” (14,5%), “Treinamento de piloto” (8,6%), “Outros atendimentos” (8,1%) e “Coordenação de atividades” (4,7%). 

Esta distribuição confirma o papel estratégico dos drones no monitoramento ambiental, especialmente relacionado a incêndios florestais. Como destacado pela Ortopixel (2020), “as aeronaves não tripuladas são alternativas mais baratas e eficientes para monitorar as áreas onde ocorreram um desastre natural ou que apresentam algum tipo de risco. Isso porque eles conseguem voar em trechos não acessíveis a helicópteros e custam menos do que uma operação desse tipo feita com um veículo tripulado.”

O percentual significativo destinado a treinamentos (8,6%) indica o investimento em capacitação de pessoal para operação dos equipamentos, aspecto fundamental para a efetividade do programa. Segundo Simões (2019), “a constante evolução das técnicas de utilização dessas aeronaves abre-se novas possibilidades de usos futuros, contribuindo para a prevenção de acidentes, para a diminuição do tempo de resposta a um desastre e a minimização dos efeitos sobre os atingidos.”

Conforme destacado no estudo, “o mapeamento de áreas de risco se torna mais ágil, preciso, abrangente e colaborativo, resultando em uma maior eficiência na identificação, avaliação e monitoramento dos riscos, aprimorando a eficácia da gestão de desastres” (Souza; Mendes, 2025). Os dados analisados graficamente confirmam essa avaliação, demonstrando a relevância da tecnologia de drones para a modernização das ações de proteção e defesa civil na região Norte de Minas Gerais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa objetivou analisar o emprego de drones pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais em ações de gestão de risco de desastres no Norte de Minas Gerais, com foco no apoio às Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa Civil. A partir da análise de 359 operações realizadas entre 2020 e 2025 nos municípios de Montes Claros, Januária, Janaúba e Salinas, foi possível identificar padrões significativos que permitem compreender como essa tecnologia tem sido implementada e quais seus impactos na prevenção e resposta a desastres na região.

Em relação aos objetivos propostos, constatou-se que a corporação tem investido na aquisição de equipamentos com diferentes capacidades operacionais, adequados aos diversos tipos de missões realizadas. A análise evidenciou um crescimento expressivo no número de operações com drones em 2023 (68,2% do total), indicando o momento de consolidação desta tecnologia como ferramenta estratégica para a gestão de risco. Esse avanço tecnológico representa uma resposta institucional às demandas regionais específicas, particularmente no que se refere ao monitoramento de incêndios florestais durante o período de estiagem.

Ademais, observou-se que os processos de formação e qualificação de operadores têm recebido atenção significativa, representando 8,6% do total de operações registradas. Esse investimento em capacitação reflete a compreensão institucional de que a eficácia da tecnologia depende fundamentalmente da qualificação técnica dos profissionais que a operam. Os treinamentos concentram-se principalmente nos municípios de Janaúba (48,0% das ocorrências locais) e Januária (17,3%), o que sugere um esforço de descentralização operacional e de formação de núcleos capacitados em diferentes pontos estratégicos da região.

A análise dos casos práticos revelou que o emprego dos drones tem se concentrado principalmente em atividades de levantamento e monitoramento de focos de incêndio (40,4% do total), seguido por ações de coordenação (14,5%) e monitoramento de enchentes e inundações (3,9%). Essa distribuição reflete a sazonalidade característica da região, com predominância de operações no período de estiagem (julho a novembro). 

A distribuição geográfica demonstrou ainda uma adaptação às particularidades de cada município: enquanto em Montes Claros concentra 50,9% das operações de monitoramento de focos, Janaúba destaca-se pelo monitoramento de enchentes (24,0%) e Januária apresenta um perfil mais diversificado de operações.

Os resultados obtidos confirmam a hipótese inicialmente proposta de que o emprego de drones pelo CBMMG tem proporcionado avanços significativos nas ações de gestão de risco de desastres nos municípios norte-mineiros. 

A coleta de dados mais precisos, atualizados e abrangentes tem permitido às COMPDEC superar limitações das abordagens tradicionais de mapeamento e monitoramento, especialmente em áreas de difícil acesso e durante eventos sazonais críticos. Essa constatação está alinhada com as diretrizes do Marco de Sendai para Redução do Risco de Desastres, que enfatiza a importância da inovação tecnológica para a prevenção e mitigação de desastres.

O estudo revelou, contudo, alguns desafios a serem enfrentados para a ampliação e aprimoramento do programa. A concentração de 77,2% das operações em Montes Claros indica uma distribuição ainda desigual dos recursos tecnológicos, que pode comprometer a capacidade de resposta em municípios menores. A baixa frequência de operações em Salinas (1,4%), por exemplo, sugere a necessidade de maior descentralização e capacitação local. Adicionalmente, embora o monitoramento de focos de incêndio seja predominante, a diversificação de aplicações observada em 2023 aponta para um potencial ainda a ser explorado em outras áreas da gestão de risco.

Como contribuição, esta pesquisa evidencia a importância da integração tecnológica nas ações de proteção e defesa civil, particularmente em regiões com características geográficas e socioeconômicas desafiadoras como o Norte de Minas Gerais. 

Os dados apresentados podem subsidiar o planejamento institucional do CBMMG e das COMPDEC, orientando a alocação de recursos e a definição de estratégias operacionais. Para as políticas públicas de gestão de risco, o estudo oferece evidências empíricas sobre a efetividade do emprego de drones, justificando investimentos nesta tecnologia.

Para pesquisas futuras, sugere-se a investigação aprofundada do impacto do uso de drones na redução de danos e perdas em desastres específicos, a análise comparativa com outras regiões e estados, bem como estudos sobre a integração de tecnologias complementares, como sensores remotos, inteligência artificial e sistemas de alerta precoce, que podem potencializar os benefícios já identificados.

Por fim, conclui-se que os drones representam não apenas um avanço tecnológico, mas uma transformação paradigmática na forma como a gestão de risco de desastres é conduzida na região, promovendo uma abordagem mais preventiva, precisa e eficiente, em benefício das comunidades vulneráveis do Norte de Minas Gerais.


1 Em relação ao ano de 2025 foram mapeadas ocorrências até o mês de fevereiro.
2 É importante destacar que os dados do ano do de 2025 correspondem a um período parcial de coleta, o que constitui uma limitação metodológica a ser considerada na análise temporal completa das ocorrências registradas.


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