RESPIRATORY PHYSIOTHERAPY SERVICES FOR TRACHEOSTOMIZED CHILDREN: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW.
SERVICIOS DE FISIOTERAPIA RESPIRATORIA PARA NIÑOS TRAQUEOSTOMIZADOS: UNA REVISIÓN INTEGRATIVA DE LA LITERATURA.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506221334
Fernanda Póvoas dos Anjos2; Allan Kardec Lima Brandão2; Ana Costa de Oliveira3; Luciana Gonçalves de Oliveira4; Alexia Adriane Santiago Abdon1; Ludimila Silva Castro Marçal1; Priscila Xavier de Araújo2
RESUMO
Objetivo: Identificar na literatura quais os serviços de fisioterapia destinados ao atendimento de crianças traqueostomizadas. Métodos: Revisão integrativa da literatura sobre a temática, com análise de artigos publicados no período de 2019 a 2025. Utilizou-se, como estratégia de identificação e seleção dos artigos, o levantamento de estudos indexados nos bancos de dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): LILACS, MEDLINE, SciELO e PubMed. Resultados e Discussão: A revisão integrativa incluiu 11 estudos de diferentes bases (BVS, LILACS, MEDLINE, SciELO e PubMed), abordando a fisioterapia respiratória em crianças com ventilação mecânica, traqueostomia, doenças neurológicas e pulmonares. Os resultados destacam uma crescente preocupação com a padronização, eficácia e segurança das intervenções, especialmente em contextos críticos e crônicos. Conclusão: Os estudos reforçam a importância da fisioterapia respiratória pediátrica como parte essencial da assistência em saúde e apontam a necessidade de padronização das práticas e capacitação profissional.
Palavras-chave: Pediatria, Fisioterapia, Traqueostomia.
ABSTRACT
Objective: To identify in the literature the physiotherapy services aimed at the care of tracheostomized children. Methods: Integrative literature review on the topic, analyzing articles published between 2019 and 2025. The identification and selection of articles were carried out through a survey of studies indexed in databases available in the Virtual Health Library (VHL): LILACS, MEDLINE, SciELO, and PubMed. Results and Discussion: The integrative review included 11 studies from different databases (VHL, LILACS, MEDLINE, SciELO, and PubMed), addressing respiratory physiotherapy in children with mechanical ventilation, tracheostomy, and neurological and pulmonary diseases. The results highlight an increasing concern with the standardization, effectiveness, and safety of interventions, especially in critical and chronic care contexts. Conclusion: The studies reinforce the importance of pediatric respiratory physiotherapy as an essential part of healthcare and point to the need for standardizing practices and improving professional training.
Keywords: Pediatrics, Physiotherapy, Tracheostomy.
RESUMEN
Objetivo: Identificar en la literatura los servicios de fisioterapia destinados a la atención de niños traqueostomizados. Métodos: Revisión integrativa de la literatura sobre el tema, con análisis de artículos publicados entre 2019 y 2025. La identificación y selección de los artículos se realizó mediante un levantamiento de estudios indexados en las bases de datos disponibles en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS): LILACS, MEDLINE, SciELO y PubMed. Resultados y Discusión: La revisión integrativa incluyó 11 estudios de diferentes bases de datos (BVS, LILACS, MEDLINE, SciELO y PubMed), abordando la fisioterapia respiratoria en niños con ventilación mecánica, traqueostomía, enfermedades neurológicas y pulmonares. Los resultados destacan una creciente preocupación por la estandarización, eficacia y seguridad de las intervenciones, especialmente en contextos críticos y crónicos. Conclusión: Los estudios refuerzan la importancia de la fisioterapia respiratoria pediátrica como parte esencial de la atención en salud y señalan la necesidad de estandarizar las prácticas y capacitar a los profesionales.
Palabras clave: Pediatría, Fisioterapia, Traqueostomía.
INTRODUÇÃO
A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que se refere à criação de uma abertura semipermanente ou permanente entre a traqueia e o exterior. Esse procedimento é realizado através de uma incisão na parede anterior da traqueia, conectando-a ao meio externo com a inserção de uma cânula como uma via aérea artificial, possibilitando a passagem do ar (PAUPÉRIO A, et al., 2021).
Por muitos anos, a traqueostomia foi indicada exclusivamente para doenças infecciosas e tumorais que levavam à obstrução das vias aéreas superiores. Atualmente, a maioria das traqueostomias são realizadas em crianças menores de um ano de idade, sendo que, nessas situações a cânula costuma permanecer por períodos mais prolongados em comparação aos casos em adultos (NETO JFL, et al., 2022). Aproximadamente 4500 crianças são submetidas a traqueostomia anualmente nos Estados Unidos, com redução estimada de 6,8 casos por 100.000 crianças por ano em 2000 para 6 casos por 100.000 crianças em 2012. O declínio pode ser atribuído à ampliação vacinal e melhores estratégias de intubação (ONG T, et al., 2020).
Com os avanços na saúde, especialmente em áreas como vacinação, técnicas de intubação, manejo de ventilação mecânica, neonatologia e pediatria, houve um aumento significativo na sobrevida desses pacientes. Esses progressos têm contribuído para a modificação das indicações cirúrgicas ao longo do tempo (KOU YF, et al., 2022). Nesse sentido, este procedimento é indicado em casos de malformações congênitas, infecções e tumores que afetam as vias aéreas, disfunções faríngeas, traumas, pós-operatórios, apneia do sono, para proteção das vias aéreas superiores em casos de coma e cirurgias de vias aéreas, pescoço e cavidade oral, edema glótico e estenose subglótica, distúrbios de deglutição, higiene das vias aéreas e suporte ventilatório (EBSH, 2020).
Apesar de seus inúmeros benefícios, a traqueostomia também o expõe a complicações que podem ser classificadas em transoperatórias e pós-operatórias, sendo as pós-operatórias divididas em precoces e tardias. Entre as complicações mais comuns estão a formação de granulomas, infecções na pele, obstrução da cânula e a persistência da fístula traqueobrônquica em pacientes que são decanulados (NETO JFL, et al., 2022).
As complicações associadas à traqueostomia, os desafios na atenção continuada e o processo de aprendizagem dos cuidadores são fatores que contribuem para desfechos negativos em crianças com traqueostomia. O novo contexto de vida, que envolve o cuidado de uma criança traqueostomizada, impõe desafios significativos para a maioria dos cuidadores diante da alta complexidade que apresentam. Por isso, o processo de educação deve se estender além do período de internação, garantindo um acompanhamento contínuo para os pacientes e seus familiares (KOU YF, et al., 2022). Com isso, devido à alta complexidade desses pacientes, são necessários diversos cuidados incluindo uma equipe multiprofissional, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, serviço social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e fisioterapeuta (DA SILVA EV, et al., 2023).
Um estudo desenvolvido por Junior HSDS, et al. (2021) aborda a atuação do fisioterapeuta no gerenciamento de riscos para pacientes traqueostomizados atuando sobre o manejo e cuidados com o dispositivo voltados para situações como decanulação, fixação da cânula e orientações com relação aos cuidados domiciliares, como, por exemplo, o procedimento de aspiração visando reduzir as infecções no estoma.
Desse modo, surge a necessidade de fornecer atendimento de assistência continuada para pacientes pediátricos traqueostomizados, bem como realizar orientação e instruções para os cuidadores. Nesse contexto, objetiva-se identificar na literatura existente quais são os serviços de fisioterapia respiratória destinados ao atendimento de crianças traqueostomizadas.
MÉTODOS
Para este estudo, foi realizada uma Revisão Integrativa da literatura, com base na temática de “Serviço de fisioterapia respiratória para crianças traqueostomizadas: uma revisão integrativa de literatura”. Para a coleta de dados, foram realizadas buscas nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências de Saúde (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) Scientific Electronic Library Online (SciELO) e PUBMED.
Na formulação da pergunta de pesquisa, optou-se por utilizar o acrônimo PICO, descrito no Quadro 1, objetivando alcançar o direcionamento da busca.
Quadro 1: Estratégia PICO.
Acrômio | Definição | Descrição |
P | Participante | Crianças traqueostomizadas |
I | Intervenção | Serviço de fisioterapia ambulatorial |
Co | Contexto | Atendimento em ambiente ambulatorial |
Foram incluídos estudos primários e secundários, publicados em português ou inglês, no período de 2019 a 2025, que abordassem a temática de crianças traqueostomizadas com idade entre 0 e 12 anos, conforme definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, os pacientes deveriam:
- Estar em condições clínicas e fisioterapêuticas estáveis, conforme os parâmetros da Resolução COFFITO nº 444, de 26 de abril de 2014, que regulamenta a atuação do fisioterapeuta;
- Necessitar de acompanhamento específico de fisioterapia respiratória, com demanda por suporte terapêutico especializado;
- Estar em fase de transição para o cuidado domiciliar após a alta hospitalar, apresentando condições relacionadas ao sistema respiratório.
Foram excluídos da análise:
- Artigos duplicados;
- Estudos que envolvessem crianças fora da faixa etária estabelecida;
- Pacientes que demandassem fisioterapia em outras áreas que não a respiratória;
- Casos que não se enquadrassem no perfil de atendimento ambulatorial, conforme os critérios definidos pela Resolução CFM nº 2.156/2016 do Conselho Federal de Medicina.
A busca dos artigos foi realizada utilizando-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), devidamente adaptados às bases de dados selecionadas, conforme apresentado no Quadro 2.
Quadro 2: Equação de busca adaptada.
Estratégia 1 | BVS (Lilacs/MEDLINE)SCIELO | (Fisioterapia) OR (Phisiotherapy) OR (Fisioterapía) AND (Criança) OR (Child) AND (Traqueostomia) OR (Traqueostomy) |
Estratégia 2 | PUBMED | ((Physiotherapy) AND (respiratory)) AND (Pediatrics) AND (Child care) |
A seleção dos materiais seguiu-se de forma sequencial, garantindo a relevância do conteúdo e obedecendo a pergunta de pesquisa: “Quais são os serviços de fisioterapia respiratória destinados ao atendimento de crianças traqueostomizadas?”. Na estratégia 1, foram identificados 664 artigos da Lilacs, 160 da MEDLINE, 168 das SCIELO, dos quais apenas 594 eram textos completos. Após a filtragem e leitura dos materiais, finalizou-se a busca com 7 estudos incluídos. Já na estratégia 2, foram encontrados 91 artigos na plataforma PUBMED, dos quais 54 permaneceram após a filtragem e 4 foram selecionados após a leitura. Dessa forma, a amostra final foi composta por 11 artigos científicos.
RESULTADOS
N | Autor/ano | Principais achados |
1 | CAMASSUTI PAS, et al. (2024) | Estudo prospectivo. Evidenciou-se que o Protocolo de Fisioterapia Respiratória Estruturada (PPRE) foi mais eficaz do que a fisioterapia convencional na melhora da respiração e da expansão pulmonar em lactentes com atelectasia em ventilação mecânica invasiva. O grupo que recebeu o PPRE teve maiores reduções no esforço respiratório e melhor aeração pulmonar, com efeitos considerados grandes, demonstrando que o protocolo é seguro e eficaz. |
2 | CUNHA MAC, et al. (2022) | Revisão Integrativa de Literatura. Os resultados demonstraram a importância dos manejos necessários para cuidado e complicações que possam vir para pacientes pediátricos traqueostomizados, evidenciando os cuidados que precisam ser executados pelo profissional de saúde. |
3 | DAVID MMC, et al. (2024) | Ensaio Clínico Randomizado. Observou-se que a cânula nasal de alto fluxo é uma opção viável para o tratamento da exacerbação da asma, pois pode reduzir o período de hospitalização e a necessidade de o₂ e broncodilatadores. Além disso, é uma modalidade de tratamento segura e confortável, tão eficaz quanto a pressão positiva em dois níveis nas vias aéreas |
4 | FINATO NMW, et al. (2022) | A hiperinsulflação manual com características torácicas apresentou melhor repercussão clínica; entretanto, não houve significância estatística entre os grupos. |
5 | GENÇ A, TUR BSI. (2024) | Revisão Narrativa. O estudo mostra que embora ainda não existam protocolos padronizados consolidados, as crianças que utilizam ventilação mecânica invasiva domiciliar podem se beneficiar significativamente de programas de reabilitação. Esses programas devem ser personalizados e multidisciplinares, abordando complicações respiratórias e os efeitos da inatividade física. A reabilitação, quando bem implementada, contribui para a melhora funcional e respiratória, além de favorecer a autonomia e o bem-estar da criança. |
6 | MARPOLE R, et al. (2020) | Revisão de Literatura. O estudo mostra que o manejo de doenças respiratórias em crianças com pc é complexo e necessita de equipes multidisciplinares bem coordenadas que se comuniquem claramente com as famílias. Imunizações regulares, incluindo a vacinação anual contra influenza, devem ser incentivadas, assim como uma boa higiene bucal |
7 | SANTOS MSA, CARVALHO REFL. (2023) | Revisão Sistemática. Foram elencadas cinco recomendações para compor o protocolo de decanulação da traqueostomia em crianças. A adequação do protocolo variou entre 81,94% e 95,83%, com avaliação global de 93,75%. Todos os especialistas recomendaram o protocolo adequado para utilização em serviços de saúde. |
8 | SCHAAN CW, et al. (2021) | Relato de Caso, no qual foi realizada fisioterapia para desobstrução brônquica, reexpansão pulmonar e mobilização precoce, evidenciando-se melhora ventilatória ao longo da internação, e após 17 dias foi extubado com sucesso. Paciente evoluiu de cinesioterapia passiva para assistida e resistida na internação pediátrica, conseguindo deambular sem auxílio, e teve alta hospitalar com condição funcional prévia à internação hospitalar. |
9 | SCHULTS J, et al. (2022) | Método de Adequação da RAND Corporation e da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Neste trabalho, a maioria dos cenários foi considerada incerta. A sucção fechada foi apropriada em casos infecciosos, enquanto a solução salina rotineira foi geralmente inadequada. A sucção conforme a necessidade clínica foi preferida à sucção de rotina. |
10 | SHKURKA E, et al. (2022) | Estudo Transversal. Observa-se que uma variedade de tratamentos de fisioterapia respiratória e adjuvantes foram utilizados em crianças sob ventilação mecânica. A variação foi aparente e pode ser devida às preferências individuais dos profissionais de treinamento ou às políticas locais. |
11 | TANI B, et al. (2025) | Estudo descritivo. Evidenciou-se que a maioria dos centros oferece fisioterapia respiratória pediátrica, mas apenas parte deles é especializada. As práticas variam bastante entre os centros, com atuação dos fisioterapeutas em diversos ambientes e atividades além da desobstrução brônquica. Apesar disso, o papel dos profissionais ainda é fragmentado, revelando falta de padronização e a necessidade de uma abordagem mais estruturada e especializada no cuidado de crianças com DCP e BNC. |
A revisão integrativa analisou 11 estudos (4 BVS -3 LILACS e 1 MEDLINE-, 3 Scielo, 4 PUBMED), que abordaram diferentes aspectos da fisioterapia respiratória em pediatria, com foco em pacientes com ventilação mecânica, traqueostomia, doenças neurológicas, doenças pulmonares crônicas e em cuidados intensivos. Os principais resultados evidenciam uma crescente preocupação com a padronização, eficácia e segurança das intervenções fisioterapêuticas respiratórias em crianças, especialmente em contextos críticos e crônicos.
O estudo de Schults J, et al. (2022) introduziu o Paediatric AirWay Suction (PAWS) Appropriateness Guide, uma ferramenta de apoio à decisão clínica para aspiração endotraqueal em crianças internadas em unidades de terapia intensiva. A proposta do guia é promover a prática baseada em evidências ao estabelecer critérios clínicos para a realização da aspiração, buscando minimizar intervenções desnecessárias, reduzir riscos de lesão traqueal e infecções, além de contribuir para a segurança do paciente. Esse instrumento mostra-se relevante diante da heterogeneidade de condutas identificadas por Shkurka E, et al. (2023) em sua pesquisa nacional no Reino Unido, que apontou que, apesar da ampla utilização da fisioterapia torácica em crianças ventiladas mecanicamente, há variações consideráveis nas técnicas empregadas, critérios de indicação e frequência das sessões, o que pode impactar negativamente na efetividade do cuidado.
Nesse sentido, a padronização de protocolos se mostra fundamental para a qualidade da assistência fisioterapêutica em ambientes intensivos. Camassuti PAS, et al. (2024) propuseram um protocolo estruturado para o tratamento de atelectasias em unidades de terapia intensiva pediátrica, utilizando abordagens progressivas com base na avaliação clínica e imagem radiológica. Os resultados do estudo mostraram eficácia na resolução das atelectasias, redução do tempo de ventilação mecânica e menor tempo de internação, reforçando a importância da aplicação sistematizada de condutas com base em critérios clínicos bem definidos.
Em outra vertente, a atuação da fisioterapia respiratória frente à insuficiência respiratória aguda também foi explorada por David MMC, et al. (2024), que realizaram um ensaio clínico randomizado para comparar os efeitos da cânula nasal de alto fluxo com a Pressão Positiva Binível (BIPAP) em crianças com exacerbação de asma. Ambos os métodos mostraram eficácia clínica, mas a cânula de alto fluxo demonstrou maior conforto, melhor adesão e menor necessidade de sedação, destacando-se como uma alternativa viável em contextos pediátricos, especialmente pela facilidade de uso e menor invasividade.
O cuidado em longo prazo, especialmente no domicílio, também foi contemplado por Genç A e Tur BSI, (2024), que investigaram a reabilitação de crianças sob ventilação mecânica invasiva domiciliar. O estudo demonstrou a importância de um acompanhamento fisioterapêutico contínuo, estruturado e adaptado às necessidades específicas de cada criança e família. A reabilitação domiciliar mostrou impactos positivos na qualidade de vida, redução de infecções respiratórias e melhora funcional, destacando o papel fundamental da fisioterapia respiratória na promoção de autonomia e desospitalização segura.
Além disso, Tani B, et al. (2025) realizaram um levantamento nacional sobre a atuação fisioterapêutica em crianças com discinesia ciliar primária e bronquiectasias não relacionadas à fibrose cística, ressaltando a carência de unidades especializadas e a necessidade de protocolos direcionados a essas populações. O estudo evidenciou que, quando aplicadas de forma contínua e personalizada, as intervenções fisioterapêuticas contribuem significativamente para a melhora da função pulmonar, redução de hospitalizações e prevenção de complicações.
Crianças com condições neurológicas, como a paralisia cerebral, também exigem uma abordagem fisioterapêutica diferenciada. Marpole R, et al. (2020) destacaram a complexidade do manejo das doenças respiratórias nessas crianças, que apresentam risco elevado de complicações pulmonares devido à fraqueza muscular, alteração no padrão de tosse e dificuldade de expectoração. A intervenção fisioterapêutica, nesse contexto, deve ser contínua, multidisciplinar e orientada para a prevenção de infecções respiratórias recorrentes.
A atenção às crianças traqueostomizadas foi tema dos estudos de Cunha MAC, et al. (2022) e Santos MSA e Carvalho REFL (2023). O primeiro abordou o manejo clínico necessário para garantir a segurança, higienização e conforto respiratório desses pacientes, enquanto o segundo validou um protocolo para decanulação pediátrica, com critérios objetivos e clínicos para promover a retirada segura da traqueostomia. Ambos os estudos destacam a relevância do fisioterapeuta no processo de reabilitação respiratória, promovendo o desmame da ventilação mecânica e a reintegração da função respiratória natural.
Complementando esse panorama, Finato NMW, et al. (2022) analisaram os efeitos de diferentes modalidades fisioterapêuticas sobre os sinais vitais de crianças traqueostomizadas, reforçando a necessidade de monitoramento constante e individualização das condutas. Já Schaan CW, et al. (2021) relataram casos clínicos de crianças com COVID-19, destacando a atuação da fisioterapia na manutenção da ventilação, mobilização precoce e prevenção de complicações pulmonares, demonstrando a versatilidade e essencialidade da prática fisioterapêutica em cenários diversos.
CONCLUSÃO
De forma geral, os estudos analisados reforçam a importância da fisioterapia respiratória pediátrica como componente essencial da assistência em saúde, tanto em contextos hospitalares quanto domiciliares. No entanto, também evidenciam a necessidade de maior padronização das práticas, desenvolvimento de protocolos baseados em evidências robustas e capacitação contínua dos profissionais. A atuação do fisioterapeuta deve ser guiada por uma avaliação criteriosa, sensibilidade clínica e articulação multiprofissional, visando não apenas a resolução dos quadros agudos, mas também a promoção de qualidade de vida e funcionalidade das crianças atendidas.
REFERÊNCIAS
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1Universidade do Estado do Pará (UEPA), Marabá-PA. e-mail: ludmilla.scmarcal@aluno.uepa.br
2Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém-PA.
3Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS), Palmas-TO.
4Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém-PA.