ESPIRITUALIDADE, RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E DOENÇAS CRÔNICAS: UMA REVISÃO DE ESCOPO

SPIRITUALITY, RELIGION, RELIGIOSITY AND CHRONIC DISEASES: A SCOPING REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202506211947


Jeciele Alves Campos1
Iane Brito Leal2


RESUMO

A espiritualidade e a religiosidade têm ganhado relevância na área da saúde por sua contribuição no enfrentamento de doenças e no bem-estar emocional dos pacientes. No contexto das doenças crônicas, essas dimensões podem influenciar significativamente a percepção da enfermidade e a adesão ao tratamento. Este estudo teve como objetivo explorar as evidências científicas sobre a influência da espiritualidade, religiosidade e religião na saúde mental e na qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas. Por meio de uma revisão de escopo, foram analisados artigos disponíveis na base de dados PubMed, utilizando descritores específicos em inglês. Dos 39 artigos inicialmente identificados, 07 foram incluídos após análise completa. Os achados indicam que a espiritualidade e a religiosidade atuam como fatores de proteção emocional, favorecem a adesão terapêutica e contribuem para uma abordagem mais humanizada. O estudo ressalta ainda a importância da formação dos profissionais de saúde, especialmente da equipe de enfermagem, para integrar essas dimensões de forma ética e eficaz no cuidado clínico.

Palavras-chave: Espiritualidade. Religiosidade. Saúde mental. Doença crônica. Enfermagem.

ABSTRACT

Spirituality and religiosity have gained relevance in the health field due to their contribution to coping with illness and promoting patients’ emotional well-being. In the context of chronic diseases, these dimensions can significantly influence how patients perceive illness and adhere to treatment. This study aimed to explore scientific evidence on the influence of spirituality, religiosity, and religion on the mental health and quality of life of patients with chronic conditions. A scoping review was conducted using articles available in the PubMed database, with specific descriptors in English. Of the 39 initially identified articles, 07 were included after full analysis. The findings indicate that spirituality and religiosity act as emotional protective factors, support treatment adherence, and contribute to more humanized care. The study also highlights the importance of health professionals’ training, especially nursing staff, in ethically and effectively integrating these dimensions into clinical practice.

Keywords: Spirituality. Religiosity. Mental health. Chronic disease. Nursing.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, tem crescido o interesse científico em compreender o papel da espiritualidade, da religiosidade e da religião no processo de adoecimento e cuidado em saúde, especialmente entre pacientes com doenças crônicas. A espiritualidade é frequentemente descrita como uma busca pessoal por sentido, propósito e conexão com o transcendente, enquanto a religiosidade envolve práticas e crenças institucionalizadas religião associadas a uma fé específica. Ambas são reconhecidas como dimensões fundamentais da experiência humana, influenciando aspectos emocionais, comportamentais e relacionais, com impacto direto na saúde mental e na qualidade de vida (MOREIRA et al., 2020).

Evidências sugerem que pacientes com doenças crônicas, como os que vivem com insuficiência renal (Siqueira et al., 2018), transtorno bipolar (Stroppa et al., 2018) ou em cuidados paliativos (DONATO et al., 2016), frequentemente recorrem à espiritualidade como forma de enfrentamento do sofrimento. Essa vivência pode melhorar o bem-estar subjetivo, promover resiliência e favorecer melhores desfechos psicológicos e sociais. Por exemplo, pacientes em hemodiálise com maior religiosidade intrínseca relataram níveis mais altos de felicidade (Siqueira et al., 2018), e indivíduos com transtorno bipolar que utilizavam enfrentamento religioso positivo apresentaram melhor qualidade de vida (STROPPA et al., 2018).

Segundo um estudo realizado por Fradelos et al. (2023), pacientes com doenças crônicas podem experienciar aridez espiritual e sinais de apatia existencial, aspectos que podem estar relacionados a diversos domínios da saúde e do bem-estar. A integração praticas espirituais nos cuidados de saúde é fundamental para o bem-estar dos pacientes, especialmente em momentos de crise. Estudos, como o de Moreira et al., (2020) mostram que a espiritualidade pode facilitar o enfrentamento de doenças o que proporciona conforto e resiliência. Pacientes com crenças espirituais tendem a lidar com situações adversas, como doenças terminais, de maneira mais serena, encontrando apoio emocional em sua fé.

Nesse contexto, torna-se evidente a importância de os profissionais de saúde adotarem uma abordagem personalizada que reconheça e integre os aspectos espirituais no cuidado ao paciente. No entanto, como destaca Pinto; Almeida (2023), muitos pacientes ainda relatam que suas necessidades espirituais não são reconhecidas ou atendidas pelas equipes de saúde. Isso reforça a urgência de incluir a espiritualidade na prática clínica como dimensão fundamental do cuidado, o que promove acolhimento, conforto e apoio frente às fragilidades emocionais associadas à doença.

Os enfermeiros desempenham um papel crucial no apoio às crenças e valores dos pacientes, especialmente em situações de vulnerabilidade. Eles criam um espaço seguro para a expressão de preocupações espirituais ao utilizar a escuta ativa para fortalecer a confiança. Reconhecer e respeitar as crenças dos pacientes é essencial, uma vez que experiências espirituais e religiosas são parte integrante de sua identidade e vivência do adoecimento. Além disso, enfermeiros podem informar sobre os benefícios da espiritualidade e apoiar práticas como oração e meditação, conforme o desejo do paciente (DONATO et al., 2016).

Apesar do reconhecimento da importância da espiritualidade, estudos indicam que muitos enfermeiros enfrentam dificuldades em integrá-la na prática diária. Embora 93% identifiquem necessidades espirituais, apenas dois terços tentam atendê-las efetivamente (HARRAD et al., 2019). A formação acadêmica é fundamental para capacitar enfermeiros nesse aspecto, mas muitos se sentem despreparados devido à falta de treinamento específico. A literatura sugere que intervenções educacionais podem melhorar não apenas o conhecimento, mas também a empatia e a habilidade de avaliação espiritual.

O presente trabalho tem como objetivo explorar as evidências científicas sobre a influência da espiritualidade, religiosidade e religião na saúde mental e na qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de escopo desenvolvida a partir das diretrizes Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) extensão para revisões de escopo.

A estratégia PCC (População, Conceito e Contexto) foi aplicada, sendo “P” Pacientes com doenças crônicas; “C” Espiritualidade e religião; e o outro “C” Saúde mental e qualidade de vida. Formando a seguinte pergunta norteadora: “Qual o impacto da espiritualidade e da religião na saúde mental e na qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas?”

A identificação e seleção dos estudos ocorreram entre os meses entre março e abril de 2025, na base de dados em saúde PubMed. A estratégia de busca foi realizada com os seguintes descritores em inglês: Spirituality“, “Religion“, “Health“, “Mental Health“, “Quality of Life” e “Chronic Disease“.

Foram considerados elegíveis estudos publicados em inglês, português e espanhol, nos últimos dez anos e disponível gratuitamente em formato eletrônico.  Trabalhos duplicados na base de dados e que não tratem sobre espiritualidade, religião, religiosidade, saúde mental e qualidade de vida nas doenças crônicas foram excluídos.

O processo de revisão consistiu em dois níveis de triagem, a revisão de título e resumo e a revisão do texto na íntegra.  Para o primeiro, os títulos e resumos foram lidos e analisados para identificar artigos potencialmente elegíveis. Na segunda etapa, os artigos foram lidos na íntegra para determinar se atendem aos critérios de elegibilidade. Para extração dos dados dos artigos selecionados foi elaborada uma ficha padrão com campos para coleta dos dados como: autor, ano de publicação, título do artigo, revista, tipo de estudo, objetivo do estudo, população/doença crônica. instrumentos utilizados e conclusão dos autores.

Todas as referências foram revisadas por completo extraindo fragmentos relevantes para o trabalho em forma de citação.  Não houve necessidade de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, por não se tratar de estudo experimental em seres humanos. Esta revisão está em conformidade com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Inicialmente, foram identificados 572 estudos que ao aplicar o filtro de trabalhos publicados nos últimos 10 anos, totalizou 279 e dentre estes, que tiveram o texto disponível na íntegra restou 111 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, 72 foram removidos por não contemplarem os critérios de inclusão. Ao final, 39 artigos foram lidos na íntegra; desses,07 foram considerados elegíveis conforme o diagrama de PRISMA (figura 1).

Figura 1. Diagrama de fluxo Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para o processo de revisão de escopo.
Fonte: próprias autoras, 2025.
3 RESULTADOS

Os estudos analisados avaliaram diversas populações com doenças crônicas, abrangendo diferentes contextos clínicos. Foram incluídos pacientes com doenças cardiovasculares em reabilitação (VON FLACH et al., 2023), pessoas com transtorno por uso de álcool e outras substâncias (ALMEIDA et al., 2023), pacientes em cuidados paliativos (DONATO et al., 2016), indivíduos com transtorno bipolar (STROPPA et al., 2018), pessoas em hemodiálise devido à insuficiência renal crônica (SIQUEIRA et al., 2018), além de adultos com doenças crônicas diversas (FRADELOS, 2023). Também foram incluídos estudos com adultos em geral para avaliar os efeitos da associação entre espiritualidade, religiosidade e atividade física (Moreira et al., 2020).

Os instrumentos mais utilizados foram questionários padronizados (como a Escala de Religiosidade da Duke, Índice de Religiosidade de Duke – DUREL) e entrevistas estruturadas ou semiestruturadas. Além disso, escalas específicas de qualidade de vida, de enfrentamento religioso, e medidas de secura espiritual também foram empregadas, especialmente nos estudos de Fradelos, Stroppa e Siqueira.

Quanto às conclusões, a maioria dos autores relatou efeitos positivos da espiritualidade, religiosidade ou religião sobre a saúde mental e/ou qualidade de vida. Por exemplo, os estudos de Stroppa, Siqueira, Fradelos, Moreira, Almeida e Donato mostraram que essas dimensões promovem maior bem-estar, felicidade, adaptação à doença e sentido de vida. Apenas o estudo de Von Flach et al. (2023) não identificou associação significativa entre espiritualidade e os ganhos em reabilitação cardiovascular, indicando um efeito indiferente. Nenhum dos estudos analisados apontou efeitos negativos diretos da espiritualidade ou religiosidade, embora alguns, como Stroppa, tenham mencionado que certos estilos de enfrentamento religioso negativo podem estar associados a piores desfechos.

Os estudos incluídos nesta revisão concentram-se entre 2016 e 2023, sendo 3 (42,6%) publicados no ano de 2023, 2 (28,4%) no ano de 2018, 1 (14,5%) no ano de 2020 e 1 (14,5%) no ano de 2016. Em relação ao tipo de estudo, foram: 3 pesquisas sistemática; 1 transversal; 1 de corte; 1 longitudinal; e 1 Estatísticas descritivas (quadro 1).

Quadro 1: estudos incluídos na revisão de escopo e suas principais características.

AutorTítuloTipo de estudoObjetivo do estudoPopulação/doença crônicaInstrumentos utilizadosConclusão dos autores
Von Flach et al., 2023.Espiritualidade, Ganho Funcional e Qualidade de Vida na Reabilitação CardiovascularEstudo de corteAvaliar a associação entre espiritualidade, ganho funcional e melhoria da qualidade de vida em pacientes em um programa de reabilitação cardiovascular.Doenças Cardiovasculares/mortalidade; Reabilitação CardíacaQuestionárioNão foi detectada associação entre ganhos funcionais e de qualidade de vida e religiosidade organizacional, não organizacional ou intrínseca nesta amostra de pacientes submetidos à reabilitação cardiovascular.
          Almeida, Alexander et al., 2023.Diretrizes para integrar a espiritualidade na prevenção e tratamento de transtornos por uso de álcool e outras substânciasRevisão sistemáticaEspiritualidade pode ajudar na prevenção e tratamento de transtornos por uso de álcool e outras substâncias.Em uso de álcoolQuestionárioA religiosidade e espiritualidade desempenham um papel proeminente nos transtornos causados pelo uso abusivo de álcool.
Donato et al., 2016. Efeitos da terapia da dignidade para pacientes em fase final de vidaRevisão SistemáticaA terapia da dignidade melhorou o senso significado e propósito, a vontade de viver e a utilidadeCudiados paliativosEntrevistaEstudos com nível de evidência moderado a alto demonstraram aumento do senso de dignidade e da vontade de viver e do senso de propósito.
          Stroppa et al., 2018.Religiosidade, depressão e qualidade de vida no transtorno bipolarLongitudinalO enfrentamento religioso positivo previu melhor qualidade de vida em os quartos domíniosTranstorno bipolarQuestionário e entrevistaReligiosidade e espiritualidade pode influenciar a qualidade de vida de pacientes com transtorno bipolar ao longo do tempo, mesmo em pacientes eutímicos.
      Siqueira; Fernandes e Almeida et al., 2018.Associação entre religiosidade e felicidade em pacientes com doença renal crônica em hemodiáliseEstudo TransversalA maioria dos pacientes relatou alguma filiação religiosa.Insuficiência renal CrônicaQuestionário é índice de religiosidadePacientes em hemodiálise apresentaram altos níveis de religiosidade e espiritualidade, que se correlacionaram com maiores níveis de felicidade.
          Moreira et al., 2020.Efeitos da associação entre espiritualidade, religiosidade e atividade física sobre a saúde/saúde mentalRevisão sistemáticaA espiritualidade, religiosidade e atividade física promove efeitos na saúde física e mental.AdultosEscala de Religiosidade da DukeEspiritualidade melhora saúde mental e física
            Fradelos, E. C. 2023.Saúde mental, qualidade de vida, secura espiritual e sintomas de acedia em pacientes com doenças crônicasEstatísticas descritivasÉ examinar a saúde mental, a qualidade de vida, e os sintomas de acedia e secura espiritual em pacientes que sofrem de doenças crônicasAdultos com doenças crônicasQuestionário e escala de qualidade de vida.As intervenções que abordem a espiritualidade e ofereçam suporte psicológico podem ser benéficas para melhorar tanto a saúde mental quanto a qualidade de vida.  
4 DISCUSSÃO

É possível afirmar que há evidências consistentes de que espiritualidade, religiosidade e religião exercem impacto positivo em diversas dimensões da saúde desses pacientes, ainda que esse impacto não seja uniforme em todos os contextos e quadros clínicos.

A relação entre espiritualidade, religiosidade e saúde tem sido objeto crescente de interesse científico, especialmente no contexto de doenças crônicas, em que aspectos emocionais e existenciais são profundamente mobilizados. A espiritualidade e a religiosidade possuem interfaces distintas, mas frequentemente complementares no enfrentamento de condições clínicas complexas (DONATO et al., 2016; MOREIRA et al., 2020).

O estudo de Fradelos et al. (2023) apontou que sintomas de secura espiritual e acédia foram associados a piores indicadores de bem-estar psicológico, maior presença de sintomas depressivos e ansiosos, e pior qualidade de vida. A espiritualidade, sobretudo quando articulada a sentimentos de gratidão e sentido de vida, apresentou-se como fator protetor nesses pacientes, sendo preditora de melhor saúde mental e física.

Complementarmente, Moreira et al. (2020), em uma revisão sistemática, reforçam que há uma associação positiva entre espiritualidade/religiosidade e atividade física com melhorias na saúde física e mental. Embora a maioria dos estudos analisados tenha sido de caráter transversal e com limitações metodológicas, os autores apontam tendências promissoras que indicam benefícios terapêuticos da vivência espiritual para pacientes adultos com enfermidades crônicas.

A terapia da dignidade, por exemplo, demonstrou efeitos positivos no aumento do sentido de vida, vontade de viver, utilidade percebida e valorização da dignidade em pacientes em final de vida, embora seus efeitos sobre sintomas físicos e transtornos como depressão e ansiedade ainda não estejam totalmente consolidados (DONATO et al., 2016).

Estudos que abordam populações específicas também reforçam os achados positivos. Siqueira; Fernandes e Almeida (2018) demonstraram que a religiosidade privada e intrínseca está fortemente associada a maiores níveis de felicidade em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. Além disso, o senso de coerência, relacionado ao enfrentamento e ressignificação da experiência da doença, mediou positivamente essa relação.

A literatura também aponta que o envolvimento espiritual e religioso tem efeitos benéficos não apenas na saúde mental, mas também na saúde física e comportamental. Uma revisão sistemática revelou que altos níveis de religiosidade e espiritualidade estão associados a menores taxas de depressão, suicídio, uso de substâncias e mortalidade geral. No tratamento de dependência química, por exemplo, intervenções que valorizam a espiritualidade, como os programas de 12 passos que têm mostrado resultados comparáveis ou superiores às terapias tradicionais, promovendo abstinência e engajamento no cuidado (PINTO; ALMEIDA, 2023).

Da mesma forma, Stroppa et al. (2018), em estudo com pacientes com transtorno bipolar, evidenciou que o enfrentamento religioso positivo esteve associado a melhores desfechos de qualidade de vida em todos os domínios avaliados, enquanto o enfrentamento religioso negativo esteve relacionado a pior saúde mental e aumento dos sintomas maníacos. Isso reforça a ideia de que a forma como o paciente vivencia a espiritualidade/religiosidade é determinante para seus efeitos sobre a saúde.

A associação entre espiritualidade e comportamentos saudáveis como maior adesão a tratamentos, melhor gerenciamento do estresse, maior suporte social e engajamento em atividades significativas, reforça a relevância dessa dimensão para a promoção da qualidade de vida em pacientes com doenças crônicas (MOREIRA et al., 2020).

Por outro lado, os achados de Von Flach et al. (2023) contrastam com os demais estudos. Em sua investigação com pacientes submetidos à reabilitação cardiovascular, não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre religiosidade e ganhos em qualidade de vida ou capacidade funcional. Este resultado pode ser explicado por diversos fatores, como o pequeno tamanho da amostra, variabilidade das práticas religiosas e limitações na sensibilidade dos instrumentos utilizados.

Essas evidências revelam que a espiritualidade e religiosidade podem ser compreendidas como recursos psicossociais relevantes para o enfrentamento da doença crônica, atuando na resiliência emocional, no fortalecimento do sentido de vida e na redução de sintomas depressivos e ansiosos. Entretanto, sua efetividade está condicionada a fatores contextuais, como tipo de crença, modo de expressão espiritual, suporte social e percepção subjetiva do sagrado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maioria dos estudos analisados apontou efeitos positivos da vivência espiritual, especialmente quando associada ao enfrentamento religioso positivo, à religiosidade intrínseca e à busca de sentido e propósito na vida. Esses fatores estão relacionados à redução de sintomas depressivos e ansiosos, maior bem-estar subjetivo e melhor adaptação à condição crônica de saúde.

Entretanto, também foram encontrados elementos que indicam que a religiosidade pode ter impactos negativos, como nos casos de enfrentamento religioso negativo ou secura espiritual, associados ao agravamento da saúde mental e à piora da qualidade de vida. Assim, a forma como os indivíduos vivenciam suas crenças é tão relevante quanto a presença delas.

Conclui-se, portanto, que espiritualidade, religiosidade e religião não devem ser desconsideradas no contexto da saúde, sobretudo diante de enfermidades crônicas que desafiam continuamente o bem-estar físico, emocional e existencial dos pacientes. Novos estudos, com metodologias robustas e abordagem longitudinal, são necessários para aprofundar a compreensão dessa relação e oferecer subsídios mais sólidos para sua aplicação na prática clínica.

REFERÊNCIAS

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1Jeciele Alves Campos (Graduanda de enfermagem) – Faculdade IESB, e-mail: jecielealves@gmail.com

2Iane Brito Leal (Professora de TCC do curso de enfermagem) – Faculdade IESB, e-mail: iane.leal@iesb.br