IMPACTOS NEUROCOGNITIVOS E PSICOPEDAGÓGICOS DA EXPOSIÇÃO PRECOCE ÀS TELAS DIGITAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS CONTEMPORÂNEAS E IMPLICAÇÕES PARA POLÍTICAS DE SAÚDE INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506210852


Rayza Barreto1


Resumo

A exposição precoce e prolongada às telas digitais representa um dos principais desafios contemporâneos para o desenvolvimento infantil saudável. Este artigo apresenta uma análise crítica e abrangente das evidências científicas mais recentes sobre os impactos neurocognitivos e psicopedagógicos do uso de dispositivos eletrônicos na primeira infância. Através de uma revisão sistemática da literatura publicada entre 2020 e 2025, incluindo metanálises, estudos de neuroimagem e pesquisas longitudinais de grande escala, examinamos os efeitos da exposição às telas sobre o desenvolvimento cerebral, funções cognitivas, habilidades linguísticas e competências socioemocionais. As evidências demonstram associações consistentes entre tempo de tela excessivo e alterações estruturais cerebrais, incluindo redução da espessura cortical em áreas críticas para linguagem e funções executivas, elevação de marcadores biológicos de estresse como o cortisol, e déficits em habilidades de atenção sustentada e autorregulação emocional. Estudos recentes revelam que os contextos de uso são tão importantes quanto a quantidade de exposição, com co-visualização parental e conteúdo educativo apropriado para a idade demonstrando efeitos protetivos. A análise das diretrizes atualizadas da Academia Americana de Pediatria reflete uma mudança paradigmática do foco exclusivo no tempo para a qualidade das interações digitais. As implicações psicopedagógicas incluem a necessidade de estratégias de mediação educativa, programas de formação parental e políticas públicas intersetoriais que promovam o uso consciente e desenvolvimental das tecnologias digitais na infância.

Palavras-chave: telas digitais. desenvolvimento infantil. neuroplasticidade. funções executivas. psicopedagogia. políticas de saúde infantil.

Abstract

Early and prolonged exposure to digital screens represents one of the main contemporary challenges for healthy child development. This article presents a critical and comprehensive analysis of the most recent scientific evidence on the neurocognitive and psychopedagogical impacts of electronic device use in early childhood. Through a systematic review of literature published between 2020 and 2025, including meta- analyses, neuroimaging studies, and large-scale longitudinal research, we examine the effects of screen exposure on brain development, cognitive functions, language skills, and socioemotional competencies. Evidence demonstrates consistent associations between excessive screen time and structural brain alterations, including reduced cortical thickness in critical areas for language and executive functions, elevation of biological stress markers such as cortisol, and deficits in sustained attention skills and emotional self-regulation. Recent studies reveal that contexts of use are as important as the amount of exposure, with parental co-viewing and age-appropriate educational content demonstrating protective effects. Analysis of updated American Academy of Pediatrics guidelines reflects a paradigmatic shift from exclusive focus on time to the quality of digital interactions. Psychopedagogical implications include the need for educational mediation strategies, parental training programs, and intersectoral public policies that promote conscious and developmental use of digital technologies in childhood.

Keywords: digital screens. child development. neuroplasticity. executive functions. psychopedagogy. child health policies.

1. Introdução

A revolução digital das últimas duas décadas transformou radicalmente o panorama do desenvolvimento infantil, introduzindo desafios sem precedentes para pais, educadores e profissionais de saúde. A ubiquidade dos dispositivos eletrônicos portáteis, combinada com interfaces intuitivas e conteúdo altamente envolvente, resultou em uma exposição precoce e intensiva de crianças às telas digitais, frequentemente antes mesmo da consolidação de marcos fundamentais do desenvolvimento neuropsicomotor [1]. Esta realidade contemporânea demanda uma análise científica rigorosa e atualizada dos impactos neurocognitivos e psicopedagógicos da exposição digital na primeira infância.

Dados epidemiológicos recentes revelam um cenário alarmante quanto aos padrões de consumo de mídia digital por crianças pequenas. Pesquisas conduzidas em 2024 demonstram que crianças americanas entre 8 e 12 anos apresentam tempo médio de tela de 4 a 6 horas diárias, enquanto adolescentes podem atingir até 9 horas por dia [2]. Mais preocupante ainda é a constatação de que 75% das crianças menores de 2 anos já foram expostas a dispositivos móveis, e 38% delas utilizam esses dispositivos por mais de uma hora diária, excedendo significativamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde [3]. Estes números representam um aumento exponencial em relação à década anterior e refletem uma mudança cultural profunda na forma como as famílias interagem com a tecnologia.

O contexto da pandemia de COVID-19 acelerou dramaticamente essa tendência, com estudos longitudinais documentando aumentos de 30% a 50% no tempo de tela infantil durante os períodos de confinamento [4]. Embora parte desse aumento tenha sido atribuída às necessidades educacionais remotas, uma proporção significativa permaneceu elevada mesmo após o retorno às atividades presenciais, sugerindo mudanças duradouras nos hábitos familiares de consumo digital [5]. Esta transformação comportamental ocorreu precisamente durante um período crítico do desenvolvimento cerebral, quando a neuroplasticidade está em seu auge e os estímulos ambientais exercem influência máxima sobre a organização neural.

A neurociência do desenvolvimento estabeleceu de forma inequívoca que os primeiros anos de vida constituem janelas críticas para a formação de circuitos cerebrais fundamentais [6]. Durante este período, processos como sinaptogênese, poda neural, mielinização e especialização hemisférica ocorrem em ritmo acelerado, sendo profundamente influenciados pela qualidade e natureza dos estímulos ambientais [7]. A exposição a telas digitais durante esta fase sensível pode interferir com esses processos neuromaturacionais de maneiras ainda não completamente compreendidas, mas que começam a ser elucidadas através de estudos de neuroimagem de alta resolução e análises longitudinais de grande escala.

Evidências emergentes de estudos como o Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), que acompanha mais de 11.000 crianças americanas, começam a revelar associações preocupantes entre exposição precoce às telas e alterações estruturais cerebrais [8]. Pesquisas recentes utilizando ressonância magnética estrutural demonstraram reduções na espessura cortical em áreas críticas para linguagem, atenção e funções executivas em crianças com maior tempo de tela [9]. Paralelamente, estudos que empregam marcadores biológicos de estresse, como o cortisol salivar, documentaram elevações significativas em crianças com exposição excessiva a dispositivos digitais, sugerindo ativação crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal [10].

Do ponto de vista psicopedagógico, as implicações são igualmente significativas. A teoria sociocultural de Vygotsky enfatiza a importância da mediação social e da zona de desenvolvimento proximal para a aprendizagem efetiva [11]. A exposição passiva a conteúdo digital, característica predominante do uso de telas na primeira infância, oferece limitadas oportunidades para essa mediação social essencial. Além disso, a natureza fragmentada e hiperestimulante de muitos conteúdos digitais pode interferir com o desenvolvimento da atenção sustentada e da capacidade de processamento sequencial, habilidades fundamentais para a alfabetização e o sucesso acadêmico posterior [12].

A literatura científica contemporânea também destaca a importância dos contextos de uso de telas, não apenas sua duração. Metanálises recentes demonstram que fatores como co-visualização parental, qualidade do conteúdo, adequação à idade e propósito educativo podem modular significativamente os efeitos da exposição digital [13]. Esta compreensão mais nuançada levou organizações como a Academia Americana de Pediatria a revisar suas diretrizes em 2025, adotando uma abordagem mais holística que considera a qualidade das interações digitais além dos limites temporais tradicionais [14].

Contudo, persistem lacunas significativas no conhecimento científico atual. A maioria dos estudos disponíveis é de natureza transversal ou correlacional, limitando inferências causais. Além disso, a rápida evolução tecnológica significa que muitas pesquisas podem estar examinando tecnologias já obsoletas no momento da publicação. A heterogeneidade metodológica entre estudos, incluindo diferenças na definição de “tempo de tela”, medidas de desfecho e controle de variáveis confundidoras, dificulta a síntese de evidências e a formulação de recomendações baseadas em evidências robustas [15].

Diante deste cenário complexo e em constante evolução, o presente artigo tem como objetivo principal fornecer uma análise crítica e abrangente das evidências científicas mais recentes sobre os impactos neurocognitivos e psicopedagógicos da exposição precoce às telas digitais. Especificamente, buscamos: (1) sintetizar os achados de estudos de neuroimagem e marcadores biológicos relacionados à exposição digital na primeira infância; (2) examinar as evidências sobre efeitos cognitivos, linguísticos e socioemocionais do uso de telas; (3) analisar criticamente as metodologias empregadas e limitações dos estudos atuais; (4) discutir as implicações psicopedagógicas e estratégias de intervenção baseadas em evidências; e (5) propor direções para pesquisas futuras e políticas de saúde infantil.

Esta análise é particularmente relevante no contexto brasileiro, onde a penetração de dispositivos móveis é elevada e as desigualdades socioeconômicas podem amplificar os riscos associados ao uso inadequado de tecnologias digitais na infância. A compreensão aprofundada desses fenômenos é essencial para informar práticas clínicas, políticas educacionais e intervenções de saúde pública que promovam o desenvolvimento infantil saudável na era digital.

2. Fundamentação Teórica e Evidências Científicas

2.1  Neurobiologia do Desenvolvimento Infantil e Plasticidade Cerebral

O desenvolvimento cerebral humano representa um dos processos biológicos mais complexos e fascinantes, caracterizado por uma sequência orquestrada de eventos neuromaturacionais que se estendem desde a concepção até a idade adulta jovem. Durante os primeiros anos de vida, o cérebro exibe uma plasticidade extraordinária, definida como a capacidade de modificar suas conexões sinápticas e organização estrutural em resposta a experiências ambientais [16]. Esta neuroplasticidade constitui o substrato biológico fundamental através do qual estímulos externos, incluindo a exposição a telas digitais, podem influenciar permanentemente a arquitetura neural e, consequentemente, as capacidades cognitivas e comportamentais futuras.

O processo de neurogênese, embora mais intenso durante o período pré-natal, continua em regiões específicas como o hipocampo durante toda a vida, mas com particular relevância nos primeiros anos [17]. Paralelamente, a sinaptogênese atinge seu pico entre o nascimento e os 2 anos de idade, resultando na formação de trilhões de conexões sinápticas. Este período de proliferação sináptica é seguido por uma fase crítica de poda neural, durante a qual conexões não utilizadas ou inadequadamente estimuladas são eliminadas, enquanto aquelas frequentemente ativadas são fortalecidas e preservadas [18]. Este princípio de “use ou perca” (use it or lose it) sublinha a importância crucial dos estímulos ambientais durante os períodos sensíveis do desenvolvimento.

A mielinização, processo pelo qual os axônios neurais são envolvidos por bainhas de mielina para aumentar a velocidade de condução dos impulsos nervosos, segue um padrão temporal e espacial específico. Áreas sensoriais primárias mielinizam primeiro, seguidas por regiões motoras e, finalmente, por áreas associativas responsáveis por funções executivas superiores [19]. Este processo continua até a terceira década de vida, mas os primeiros anos são particularmente críticos para a mielinização de tratos que conectam regiões cerebrais envolvidas na linguagem, atenção e autorregulação emocional. Estudos de neuroimagem por tensor de difusão demonstraram que a integridade da substância branca nessas regiões pode ser significativamente influenciada por experiências ambientais precoces, incluindo padrões de estimulação digital [20].

A especialização hemisférica, outro aspecto fundamental do desenvolvimento cerebral, também ocorre predominantemente durante os primeiros anos de vida. O hemisfério esquerdo tipicamente se especializa em processamento linguístico sequencial e analítico, enquanto o direito desenvolve expertise em processamento visuoespacial e holístico [21]. A exposição a diferentes tipos de estímulos durante períodos críticos pode influenciar este processo de lateralização, com implicações duradouras para habilidades cognitivas específicas. Evidências sugerem que a exposição excessiva a estímulos visuais rápidos e fragmentados, característicos de muitos conteúdos digitais, pode interferir com o desenvolvimento normal da especialização hemisférica [22].

Os períodos críticos ou sensíveis representam janelas temporais durante as quais sistemas neurais específicos são particularmente susceptíveis a influências ambientais. O conceito, originalmente derivado de estudos sobre desenvolvimento visual em animais, tem sido estendido para múltiplos domínios do desenvolvimento humano [23]. Para a linguagem, o período crítico se estende desde o nascimento até aproximadamente os 7 anos, com particular sensibilidade nos primeiros 3 anos. Durante este período, a exposição a linguagem rica e interativa é essencial para o desenvolvimento normal dos circuitos neurais responsáveis pela compreensão e produção linguística [24].

A neuroplasticidade dependente de experiência pode ser categorizada em dois tipos principais: expectante de experiência e dependente de experiência. A plasticidade expectante de experiência refere-se a mudanças neurais que ocorrem em resposta a estímulos ambientais universais que todos os membros da espécie normalmente encontram, como exposição à luz para o desenvolvimento visual. A plasticidade dependente de experiência, por outro lado, envolve mudanças neurais em resposta a experiências específicas e únicas do indivíduo [25]. A exposição a telas digitais pode influenciar ambos os tipos de plasticidade, potencialmente interferindo com processos expectantes de experiência (como interação social face a face) enquanto promove adaptações dependentes de experiência específicas para estímulos digitais.

Mecanismos moleculares subjacentes à neuroplasticidade incluem alterações na expressão gênica, síntese proteica, modificações epigenéticas e remodelação sináptica. Fatores neurotróficos, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), desempenham papéis cruciais na promoção da sobrevivência neuronal, crescimento dendrítico e formação sináptica [26]. Estudos recentes sugerem que padrões específicos de estimulação ambiental podem influenciar a expressão desses fatores, com implicações para a plasticidade neural. A exposição a estímulos digitais pode alterar os padrões de ativação neural de maneiras que influenciam a expressão de genes relacionados à plasticidade [27].

O desenvolvimento dos sistemas de neurotransmissores também segue cronogramas específicos durante a infância. O sistema dopaminérgico, crucial para motivação, recompensa e atenção, continua amadurecendo até a adolescência [28]. A exposição precoce a estímulos altamente recompensadores, como jogos digitais ou vídeos envolventes, pode influenciar o desenvolvimento deste sistema de maneiras que afetam a capacidade futura de encontrar recompensa em atividades menos estimulantes, como leitura ou brincadeiras tradicionais [29]. Similarmente, sistemas serotoninérgicos e GABAérgicos, importantes para regulação emocional e controle inibitório, podem ser influenciados por padrões de estimulação ambiental durante períodos críticos [30].

A compreensão desses processos neurobiológicos fundamentais fornece o contexto necessário para interpretar os achados empíricos sobre os efeitos da exposição a telas digitais no desenvolvimento infantil. A plasticidade extraordinária do cérebro em desenvolvimento representa tanto uma oportunidade quanto uma vulnerabilidade: enquanto permite adaptação e aprendizagem rápidas, também torna o sistema nervoso susceptível a influências ambientais potencialmente prejudiciais. Esta dualidade sublinha a importância de abordagens baseadas em evidências para orientar o uso de tecnologias digitais durante os períodos críticos do desenvolvimento cerebral.

2.2  Evidências Neurocientíficas dos Efeitos das Telas

A investigação neurocientífica dos efeitos da exposição a telas digitais no desenvolvimento cerebral infantil representa uma área de pesquisa relativamente recente, mas que tem produzido achados consistentes e preocupantes. Estudos utilizando técnicas avançadas de neuroimagem, incluindo ressonância magnética estrutural, ressonância magnética funcional e neuroimagem por tensor de difusão, começam a revelar as bases neurobiológicas dos impactos comportamentais e cognitivos observados em crianças com exposição excessiva a dispositivos digitais.

O estudo longitudinal mais abrangente nesta área é o Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), que acompanha mais de 11.000 crianças americanas desde os 9-10 anos de idade. Análises recentes deste conjunto de dados, publicadas por Rauschecker et al. em 2025, demonstraram associações significativas entre hábitos de visualização de televisão e alterações na morfologia cerebral [31]. Especificamente, maior tempo de visualização televisiva foi associado a reduções na área cortical em regiões temporais laterais, parietais inferiores e frontais inferiores. Estas áreas são cruciais para processamento de linguagem, atenção e funções executivas, sugerindo que a exposição passiva a conteúdo audiovisual pode interferir com o desenvolvimento normal desses sistemas neurais.

Contrastando com os efeitos da televisão, o mesmo estudo revelou que maior tempo dedicado à leitura estava associado a aumentos na área cortical nas mesmas regiões, além de áreas adicionais no córtex temporal ventral e cingulado. A magnitude dessas associações foi comparável aos efeitos conhecidos da renda e educação parentais no desenvolvimento cerebral, sublinhando a importância clínica desses achados [31]. Estes resultados sugerem que diferentes tipos de atividades cognitivas podem ter efeitos opostos na morfologia cerebral, com implicações importantes para recomendações sobre uso de mídia na infância.

Estudos focados especificamente em crianças pré-escolares têm revelado achados ainda mais preocupantes. Hutton et al. (2022) conduziram um estudo pioneiro examinando associações entre uso de mídia digital e medidas estruturais cerebrais em 52 crianças de 3-5 anos [32]. Utilizando a medida ScreenQ, que avalia múltiplas dimensões do uso de mídia (acesso, frequência, conteúdo e co-visualização), os pesquisadores encontraram correlações negativas significativas entre escores de uso de mídia e espessura cortical em áreas occipitais, parietais, temporais e fusiformes do hemisfério direito. Adicionalmente, maior uso de mídia foi associado a menor profundidade sulcal em regiões temporais inferiores e fusiformes.

As implicações desses achados estruturais são multifacetadas. Reduções na espessura cortical em áreas visuais podem refletir maturação acelerada do sistema visual em resposta à estimulação intensa, um processo que, embora possa parecer adaptativo, pode resultar em menor flexibilidade e plasticidade futuras [32]. Mais preocupantes são as alterações em áreas de processamento de ordem superior, que normalmente estão em uma fase de crescimento durante a idade pré-escolar. Reduções na espessura cortical nessas regiões podem indicar subdesenvolvimento ou poda prematura de conexões importantes para funções cognitivas complexas.

Estudos de neuroimagem funcional complementam esses achados estruturais, revelando alterações nos padrões de ativação cerebral em crianças com maior exposição a telas. Pesquisas utilizando ressonância magnética funcional em estado de repouso demonstraram conectividade reduzida entre redes neurais importantes para atenção e controle executivo em crianças com tempo de tela elevado [33].

Especificamente, a conectividade entre a rede de atenção executiva e a rede de modo padrão mostrou-se comprometida, um padrão associado a dificuldades de atenção e autorregulação.

A neuroimagem por tensor de difusão, que permite examinar a integridade da substância branca cerebral, tem revelado achados particularmente relevantes. Hutton et al. (2019) demonstraram que crianças pré-escolares com maior tempo de tela apresentavam menor integridade da substância branca em tratos que conectam áreas envolvidas no processamento de linguagem [34]. Estes achados são consistentes com observações comportamentais de atrasos na linguagem em crianças com exposição excessiva a telas, fornecendo uma base neurobiológica para essas associações.

Estudos eletroencefalográficos (EEG) oferecem insights adicionais sobre os efeitos neurais da exposição a telas. Pesquisas demonstraram alterações nos padrões de ondas cerebrais em crianças após exposição a conteúdo digital, incluindo reduções na atividade alfa (associada a estados de relaxamento e atenção focada) e aumentos na atividade beta (associada a estados de alerta e ansiedade) [35]. Estas alterações podem persistir por períodos significativos após a cessação da exposição, sugerindo efeitos duradouros na atividade neural.

Particularmente preocupantes são os achados relacionados ao desenvolvimento do sistema de recompensa cerebral. Estudos de neuroimagem funcional demonstraram que a exposição a jogos digitais e vídeos altamente estimulantes pode resultar em ativação excessiva do sistema dopaminérgico, particularmente no núcleo accumbens e córtex pré-frontal ventromedial [36]. Esta hiperativação pode levar à dessensibilização dos receptores de dopamina, resultando na necessidade de estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo nível de satisfação. Este mecanismo é similar ao observado em transtornos de dependência e pode explicar por que algumas crianças desenvolvem padrões compulsivos de uso de dispositivos digitais.

A investigação dos efeitos da exposição a telas no desenvolvimento do córtex pré-frontal é particularmente relevante, dado o papel central desta região nas funções executivas.

Estudos longitudinais demonstraram que crianças com maior tempo de tela apresentam desenvolvimento mais lento do córtex pré-frontal, uma região que normalmente não atinge maturidade completa até os 25 anos [37]. Esta maturação retardada pode ter implicações duradouras para habilidades como planejamento, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e tomada de decisões.

Evidências emergentes também sugerem que os efeitos neurais da exposição a telas podem variar dependendo do tipo de conteúdo e contexto de uso. Estudos comparando exposição a conteúdo educativo versus entretenimento demonstraram padrões diferentes de ativação cerebral, com conteúdo educativo associado a maior ativação em áreas relacionadas ao aprendizado e menor ativação em centros de recompensa [38].

Similarmente, a co-visualização com pais ou cuidadores parece modular os efeitos neurais da exposição a telas, possivelmente através da ativação de sistemas neurais relacionados ao apego e interação social.

A pesquisa sobre diferenças individuais na susceptibilidade aos efeitos neurais das telas está em seus estágios iniciais, mas já revela padrões interessantes. Fatores como temperamento, genética e ambiente familiar podem influenciar como o cérebro responde à exposição digital [39]. Crianças com predisposições genéticas para transtornos de atenção ou ansiedade podem ser particularmente vulneráveis aos efeitos negativos das telas, enquanto aquelas com ambientes familiares ricos em interação social podem ser mais resilientes.

Estudos longitudinais de longo prazo são essenciais para compreender as implicações duradouras desses achados neurobiológicos. Pesquisas preliminares sugerem que algumas alterações cerebrais associadas à exposição precoce a telas podem persistir na adolescência e idade adulta jovem, mas a extensão da reversibilidade dessas mudanças permanece uma questão em aberto [40]. Esta incerteza sublinha a importância de abordagens preventivas e intervenções precoces para mitigar potenciais efeitos negativos.

2.3  Correlatos Cognitivos e Comportamentais

A investigação dos correlatos cognitivos e comportamentais da exposição precoce a telas digitais revela um panorama complexo de efeitos que se estendem por múltiplos domínios do desenvolvimento infantil. Evidências convergentes de estudos observacionais, experimentais e longitudinais demonstram associações consistentes entre tempo de tela excessivo e déficits em funções executivas, desenvolvimento da linguagem, habilidades socioemocionais e capacidades de autorregulação.

As funções executivas, que incluem controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva, representam um dos domínios mais consistentemente afetados pela exposição excessiva a telas. Estudos recentes demonstraram que crianças com maior tempo de tela apresentam desempenho significativamente inferior em tarefas que avaliam essas habilidades [41]. O controle inibitório, a capacidade de suprimir respostas automáticas ou inadequadas, mostra-se particularmente vulnerável. Crianças expostas a mais de duas horas diárias de telas demonstram maior dificuldade em tarefas como o teste de Stroop e paradigmas go/no-go, indicando déficits na capacidade de controlar impulsos e manter foco atencional [42].

A memória de trabalho, crucial para manter e manipular informações temporariamente, também é negativamente impactada pela exposição excessiva a telas. Estudos utilizando tarefas de span de dígitos e testes de memória espacial demonstraram que crianças com maior tempo de tela apresentam capacidades reduzidas de memória de trabalho tanto verbal quanto visuoespacial [43]. Estes déficits têm implicações diretas para o desempenho acadêmico, particularmente em matemática e leitura, que dependem fortemente da memória de trabalho para processar informações complexas.

A flexibilidade cognitiva, definida como a capacidade de alternar entre diferentes conceitos ou adaptar-se a mudanças nas regras, também se mostra comprometida em crianças com exposição excessiva a telas. Estudos utilizando tarefas de mudança de conjunto (set-shifting) revelaram que essas crianças apresentam maior dificuldade em adaptar-se a novas regras ou estratégias, demonstrando perseveração em padrões de resposta inadequados [44]. Esta rigidez cognitiva pode interferir com a capacidade de resolver problemas novos e adaptar-se a situações acadêmicas e sociais variadas.

O desenvolvimento da linguagem representa outro domínio crítico afetado pela exposição a telas. Evidências robustas demonstram associações negativas entre tempo de tela e múltiplos aspectos do desenvolvimento linguístico, incluindo vocabulário receptivo e expressivo, complexidade sintática e habilidades narrativas [45]. Estudos longitudinais revelaram que cada hora adicional de tempo de tela aos 2 anos de idade está associada a reduções de 6-8 pontos em medidas padronizadas de linguagem aos 3 anos [46]. Estes efeitos são particularmente pronunciados para exposição a conteúdo não-educativo e visualização sem mediação parental.

Mecanismos subjacentes aos déficits linguísticos incluem a redução na quantidade e qualidade das interações verbais entre pais e filhos durante períodos de uso de telas. Estudos observacionais demonstraram que famílias com televisão ligada durante as refeições apresentam 20% menos conversas e 13% menos palavras dirigidas às crianças [47]. Esta redução na exposição à linguagem rica e interativa é particularmente problemática durante os períodos críticos do desenvolvimento linguístico, quando a quantidade de input linguístico está diretamente relacionada ao crescimento vocabular e desenvolvimento sintático.

A qualidade da atenção sustentada também é significativamente impactada pela exposição a telas. Crianças habituadas a conteúdo digital rápido e altamente estimulante frequentemente demonstram dificuldades em manter atenção em atividades menos envolventes, como leitura ou instrução em sala de aula [48]. Estudos experimentais revelaram que mesmo exposições breves a desenhos animados de ritmo acelerado podem resultar em déficits imediatos na atenção sustentada, com efeitos persistindo por até uma hora após a exposição [49].

O desenvolvimento socioemocional representa uma área de particular preocupação. Crianças com maior tempo de tela demonstram níveis elevados de problemas comportamentais externalizantes, incluindo agressividade, impulsividade e dificuldades de relacionamento com pares [50]. Estudos longitudinais revelaram que exposição excessiva a telas aos 2-3 anos prediz problemas comportamentais aos 5 anos, mesmo controlando para fatores familiares e socioeconômicos [51]. Estes efeitos podem ser mediados por déficits no desenvolvimento da teoria da mente e habilidades de empatia, que dependem de interações sociais face a face para seu desenvolvimento adequado.

A capacidade de autorregulação emocional também se mostra comprometida em crianças com exposição excessiva a telas. Estudos utilizando medidas fisiológicas de estresse, como cortisol salivar e variabilidade da frequência cardíaca, demonstraram que essas crianças apresentam respostas de estresse mais intensas e prolongadas a desafios emocionais [52]. Esta desregulação pode refletir alterações no desenvolvimento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e sistemas neurais de regulação emocional.

Particularmente relevante é o estudo de Hahnefeld et al. (2024), que demonstrou correlações diretas entre exposição a telas e elevação do cortisol salivar em crianças de 3-6 anos [10]. Este estudo pioneiro forneceu evidência biológica objetiva dos efeitos estressores da exposição excessiva a telas, complementando observações comportamentais com marcadores fisiológicos. Os achados revelaram que crianças com mais de uma hora diária de tempo de tela apresentavam níveis de cortisol significativamente elevados durante a segunda metade do dia, um padrão associado a estresse crônico e risco aumentado para problemas de saúde mental.

O sono representa outro domínio crítico afetado pela exposição a telas. Metanálises recentes demonstraram associações consistentes entre tempo de tela e múltiplos problemas de sono, incluindo latência aumentada para início do sono, duração reduzida do sono e qualidade do sono comprometida [53]. Estes efeitos são mediados tanto por mecanismos circadianos (exposição à luz azul suprimindo a produção de melatonina) quanto por ativação cognitiva e emocional resultante do conteúdo visualizado [54].

A investigação de diferenças individuais na susceptibilidade aos efeitos cognitivos e comportamentais das telas revela padrões importantes. Crianças com temperamento mais sensível ou reativo demonstram maior vulnerabilidade aos efeitos negativos, enquanto aquelas com maior autorregulação basal mostram-se mais resilientes [55]. Fatores familiares, incluindo práticas parentais e qualidade do ambiente doméstico, também modulam significativamente os efeitos da exposição a telas.

Evidências emergentes sugerem que os contextos de uso de telas são tão importantes quanto a quantidade de exposição. A metanálise de Mallawaarachchi et al. (2024) revelou que co-visualização parental está associada a efeitos positivos no desenvolvimento cognitivo, enquanto visualização solitária e exposição a conteúdo inadequado para a idade estão associadas a efeitos negativos [13]. Estes achados sublinham a importância de considerar não apenas quanto tempo as crianças passam em frente às telas, mas como esse tempo é estruturado e mediado.

A compreensão desses correlatos cognitivos e comportamentais é essencial para o desenvolvimento de intervenções eficazes e diretrizes baseadas em evidências. Os achados convergentes de múltiplas metodologias de pesquisa fornecem uma base sólida para recomendações sobre uso apropriado de telas na infância, enfatizando a necessidade de abordagens que considerem tanto a quantidade quanto a qualidade da exposição digital.

3. Análise Crítica das Evidências Contemporâneas

3.1  Metanálises e Revisões Sistemáticas Recentes

A síntese de evidências através de metanálises e revisões sistemáticas representa o padrão-ouro para compreender os efeitos da exposição a telas no desenvolvimento infantil. Análises recentes têm fornecido insights valiosos sobre a magnitude e consistência dos efeitos observados, bem como identificado fatores moderadores importantes que influenciam os resultados.

A metanálise mais abrangente e metodologicamente rigorosa publicada recentemente foi conduzida por Mallawaarachchi et al. (2024) e publicada no JAMA Pediatrics [13]. Este estudo analisou 100 estudos envolvendo 176.742 participantes, representando a síntese mais ampla de evidências sobre contextos de uso de telas na primeira infância. Os autores adotaram uma abordagem inovadora ao examinar não apenas a duração da exposição, mas múltiplas dimensões contextuais do uso de mídia, incluindo tipo de conteúdo, co-visualização parental, adequação à idade e propósito da atividade.

Os resultados desta metanálise revelaram padrões complexos que desafiam simplificações excessivas sobre os efeitos das telas. Para resultados cognitivos, a visualização de programas televisivos demonstrou associações negativas moderadas (r = -0,16; IC 95%: -0,24 a -0,08), enquanto a televisão de fundo apresentou efeitos negativos menores, mas ainda significativos (r = -0,10; IC 95%: -0,18 a -0,02). Estes achados sugerem que a atenção ativa direcionada ao conteúdo pode ser mais prejudicial do que a exposição passiva, contrariando algumas suposições anteriores sobre os efeitos da mídia de fundo.

Particularmente relevante foi a descoberta de que a co-visualização parental estava associada a efeitos positivos no desenvolvimento cognitivo (r = 0,14; IC 95%: 0,03 a 0,25). Este achado sublinha a importância da mediação social no uso de mídia e sugere que a presença e participação ativa dos pais pode transformar uma experiência potencialmente prejudicial em uma oportunidade de aprendizagem. A magnitude deste efeito positivo é comparável aos efeitos negativos da visualização solitária, indicando que o contexto social pode ser tão importante quanto o conteúdo em si.

Para resultados psicossociais, a metanálise revelou associações negativas consistentes, embora de menor magnitude. A visualização de programas (r = -0,04; IC 95%: -0,07 a -0,01), exposição a conteúdo inadequado para a idade (r = -0,11; IC 95%: -0,17 a -0,04) e uso de telas pelos cuidadores durante rotinas de cuidado (r = -0,11; IC 95%: -0,20 a -0,03) demonstraram efeitos negativos significativos. Estes achados destacam a importância da qualidade do conteúdo e da atenção parental durante atividades de cuidado para o desenvolvimento socioemocional.

Uma limitação importante desta metanálise, reconhecida pelos próprios autores, é a predominância de estudos transversais (64 dos 100 estudos incluídos), limitando inferências causais. Além disso, a heterogeneidade metodológica entre estudos, incluindo diferenças na definição de “tempo de tela” e medidas de desfecho, introduz incerteza nas estimativas de efeito. A variabilidade cultural e socioeconômica entre as amostras estudadas também pode influenciar a generalização dos achados.

Outras metanálises recentes têm focado em domínios específicos do desenvolvimento. Uma revisão sistemática sobre efeitos do tempo de tela no sono infantil, conduzida por Hale et al. (2021), analisou 67 estudos e encontrou associações consistentes entre exposição a telas e múltiplos problemas de sono [53]. Os tamanhos de efeito variaram de pequenos a moderados (d = 0,15 a 0,39), com efeitos mais pronunciados para exposição próxima ao horário de dormir e uso de dispositivos portáteis no quarto.

Uma metanálise focada especificamente em efeitos sobre desenvolvimento da linguagem, publicada por Madigan et al. (2020), analisou 42 estudos e encontrou associações negativas consistentes entre tempo de tela e múltiplas medidas linguísticas [56]. Os efeitos foram mais pronunciados para exposição antes dos 2 anos de idade e para conteúdo não-educativo. Interessantemente, programas educativos de alta qualidade com co-visualização parental demonstraram efeitos neutros ou ligeiramente positivos, sugerindo que o tipo de conteúdo e contexto de uso são fatores críticos.

A análise de estudos longitudinais dentro dessas metanálises revela padrões temporais importantes. Evidências sugerem que os efeitos negativos das telas são mais pronunciados quando a exposição ocorre durante períodos críticos do desenvolvimento, particularmente nos primeiros 3 anos de vida. Estudos que acompanharam crianças desde a infância até a idade escolar demonstraram que exposição excessiva antes dos 2 anos prediz problemas de atenção e linguagem aos 5-7 anos, mesmo controlando para fatores familiares e socioeconômicos [57].

3.2  Estudos Longitudinais de Grande Escala

Os estudos longitudinais de grande escala representam uma fonte inestimável de evidências sobre os efeitos de longo prazo da exposição a telas no desenvolvimento infantil. Estes estudos, que acompanham milhares de crianças por períodos extensos, oferecem insights únicos sobre trajetórias de desenvolvimento e permitem inferências causais mais robustas do que estudos transversais.

O estudo Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) representa o esforço de pesquisa mais ambicioso nesta área. Iniciado em 2016, este estudo longitudinal acompanha 11.875 crianças americanas desde os 9-10 anos de idade, coletando dados anuais sobre neuroimagem, cognição, comportamento e uso de mídia. As análises mais recentes deste conjunto de dados, publicadas por Rauschecker et al. (2025), forneceram evidências sem precedentes sobre as associações entre hábitos de mídia e desenvolvimento cerebral [31].

Os achados do estudo ABCD revelaram que as associações entre uso de mídia e morfologia cerebral são específicas ao tipo de atividade. Maior tempo dedicado à leitura foi associado a aumentos na área cortical em regiões temporais, parietais e frontais, áreas críticas para processamento de linguagem e funções executivas. Em contraste, maior tempo de visualização televisiva foi associado a reduções na área cortical nas mesmas regiões. A magnitude dessas associações foi substancial, comparável aos efeitos conhecidos da renda familiar e educação parental no desenvolvimento cerebral.

Particularmente notável foi a descoberta de que as associações entre leitura e morfologia cerebral incluíam áreas únicas no córtex temporal ventral e cingulado, regiões especializadas em processamento semântico e regulação emocional. Estas áreas não mostraram associações significativas com visualização televisiva, sugerindo que diferentes tipos de atividades cognitivas podem ter efeitos específicos e não sobrepostos na organização cerebral [31].

O Generation R Study, um estudo de coorte populacional baseado em Rotterdam que acompanha mais de 9.000 crianças desde o nascimento, forneceu evidências importantes sobre os efeitos precoces da exposição a telas. Análises deste estudo revelaram que exposição a televisão antes dos 2 anos estava associada a problemas de atenção aos 5 anos, com efeitos persistindo até os 8 anos de idade [58]. Estes achados são particularmente relevantes porque controlaram rigorosamente para fatores familiares, socioeconômicos e genéticos que poderiam confundir as associações.

O Millennium Cohort Study, que acompanha 19.000 crianças britânicas nascidas entre 2000-2002, forneceu insights sobre trajetórias de longo prazo. Análises revelaram que crianças com maior tempo de tela aos 3 anos apresentavam maior probabilidade de problemas comportamentais aos 7 anos, incluindo hiperatividade, problemas de conduta e dificuldades com pares [59]. Estes efeitos foram mediados parcialmente por déficits no desenvolvimento de habilidades sociais e autorregulação emocional.

Estudos longitudinais também têm revelado a importância dos padrões de mudança no uso de mídia ao longo do tempo. O Growing Up in Australia study demonstrou que crianças com trajetórias de aumento rápido no tempo de tela entre 2-8 anos apresentavam maior risco de problemas acadêmicos e sociais na adolescência [60]. Em contraste, crianças com padrões estáveis e moderados de uso de mídia não demonstraram efeitos negativos significativos.

A investigação de fatores moderadores em estudos longitudinais tem revelado que os efeitos das telas não são uniformes across todas as crianças. Fatores como temperamento, qualidade do ambiente familiar e práticas parentais influenciam significativamente como as crianças respondem à exposição a telas. Crianças com temperamento mais sensível ou reativo demonstram maior vulnerabilidade aos efeitos negativos, enquanto aquelas em ambientes familiares ricos em interação e estimulação cognitiva mostram-se mais resilientes [61].

3.3  Marcadores Biológicos de Estresse

A investigação de marcadores biológicos de estresse em relação à exposição a telas representa uma área emergente de pesquisa que oferece insights objetivos sobre os efeitos fisiológicos do uso de mídia digital. Estes estudos são particularmente valiosos porque fornecem medidas independentes de relatos parentais ou comportamentos observados, reduzindo potenciais vieses de informação.

O estudo pioneiro de Hahnefeld et al. (2024) representa a primeira investigação sistemática da relação entre exposição a telas e cortisol salivar em crianças pequenas [10]. Este estudo examinou 181 crianças de 3-6 anos (70 refugiadas e 111 de um grupo clínico de comparação) e encontrou correlações significativas entre tempo de tela e elevação dos níveis de cortisol durante a segunda metade do dia. Especificamente, crianças com mais de uma hora diária de exposição a telas apresentavam padrões de cortisol indicativos de ativação crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

Os achados deste estudo são particularmente relevantes porque o cortisol é um marcador bem estabelecido de estresse fisiológico e tem implicações conhecidas para o desenvolvimento cerebral e cognitivo. Elevações crônicas do cortisol durante a infância estão associadas a alterações estruturais no hipocampo e córtex pré-frontal, regiões críticas para memória e funções executivas [62]. Além disso, a desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal na infância prediz maior risco de problemas de saúde mental na adolescência e idade adulta.

O estudo de Hahnefeld et al. também revelou que os efeitos do tempo de tela no cortisol eram moderados por fatores socioeconômicos e familiares. Crianças de famílias com menor educação parental e maior estresse familiar demonstraram associações mais fortes entre exposição a telas e elevação do cortisol, sugerindo que vulnerabilidades preexistentes podem amplificar os efeitos estressores da mídia digital [10].

Outros estudos têm examinado marcadores adicionais de estresse fisiológico. Pesquisas utilizando variabilidade da frequência cardíaca, um indicador da atividade do sistema nervoso autônomo, demonstraram que crianças com maior tempo de tela apresentam menor variabilidade, indicando menor flexibilidade autonômica e maior ativação simpática [63]. Estes achados são consistentes com estados de estresse crônico e podem ter implicações para a saúde cardiovascular a longo prazo.

Estudos de neuroimagem funcional complementam esses achados fisiológicos, revelando ativação aumentada da amígdala e outras estruturas relacionadas ao estresse em crianças com maior exposição a telas [64]. Esta hiperativação pode refletir sensibilização do sistema de resposta ao estresse, resultando em reações exageradas a estressores ambientais.

A investigação dos mecanismos subjacentes aos efeitos estressores das telas tem identificado múltiplos fatores contribuintes. A exposição à luz azul emitida por dispositivos digitais pode interferir com ritmos circadianos, resultando em desregulação do cortisol e outros hormônios [65]. Além disso, o conteúdo estimulante e frequentemente violento de muitos programas infantis pode ativar diretamente sistemas de resposta ao estresse.

4. Perspectivas Psicopedagógicas e Intervenções

4.1 Teorias do Desenvolvimento e Aprendizagem

A compreensão dos efeitos das telas digitais no desenvolvimento infantil requer uma análise através das lentes das principais teorias do desenvolvimento e aprendizagem. Estas teorias fornecem frameworks conceituais para interpretar os achados empíricos e orientar o desenvolvimento de intervenções eficazes.

A teoria sociocultural de Vygotsky oferece insights particularmente relevantes sobre os efeitos da exposição a telas na aprendizagem infantil [11]. O conceito central da zona de desenvolvimento proximal (ZDP) enfatiza que a aprendizagem efetiva ocorre através da interação com parceiros mais competentes que podem fornecer scaffolding apropriado. A exposição passiva a conteúdo digital, característica predominante do uso de telas na primeira infância, oferece limitadas oportunidades para essa mediação social essencial.

Vygotsky também enfatizou a importância da linguagem como ferramenta mediadora do pensamento e desenvolvimento cognitivo. A redução nas interações verbais entre pais e filhos durante períodos de uso de telas pode interferir com este processo fundamental. Estudos observacionais demonstraram que famílias com maior tempo de tela apresentam menos conversas e menor riqueza vocabular nas interações cotidianas [47]. Esta redução na mediação linguística pode ter efeitos duradouros no desenvolvimento cognitivo e acadêmico.

A teoria do processamento de informação oferece outra perspectiva valiosa para compreender os efeitos das telas. A teoria da carga cognitiva, desenvolvida por Sweller e colaboradores, propõe que a capacidade de processamento da memória de trabalho é limitada e pode ser sobrecarregada por estímulos excessivos ou inadequadamente estruturados [66]. Muitos conteúdos digitais infantis apresentam múltiplos estímulos simultâneos (visuais, auditivos, movimento) que podem exceder a capacidade de processamento de crianças pequenas, interferindo com a consolidação da aprendizagem.

A teoria da atenção executiva, proposta por Posner e colaboradores, fornece insights sobre como a exposição a telas pode afetar o desenvolvimento atencional [67]. Esta teoria distingue três redes atencionais: alerta, orientação e controle executivo. A exposição a conteúdo digital rápido e altamente estimulante pode interferir com o desenvolvimento da rede de controle executivo, responsável pela resolução de conflitos e manutenção da atenção focada.

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget também oferece perspectivas relevantes. Durante o período pré-operacional (2-7 anos), as crianças dependem fortemente de experiências concretas e manipulação física de objetos para desenvolver conceitos abstratos [68]. A exposição excessiva a representações bidimensionais em telas pode interferir com este processo, limitando oportunidades para exploração tridimensional e manipulação física que são cruciais para o desenvolvimento de conceitos espaciais e causais.

A teoria do apego de Bowlby fornece insights sobre os efeitos socioemocionais da exposição a telas. O desenvolvimento de vínculos seguros depende de interações responsivas e sintonizadas entre cuidadores e crianças [69]. O uso de dispositivos digitais pelos pais durante interações com filhos pode interferir com essa sintonia, reduzindo a qualidade das trocas afetivas e potencialmente comprometendo o desenvolvimento do apego seguro.

4.2  Estratégias de Intervenção Baseadas em Evidências

O desenvolvimento de intervenções eficazes para mitigar os efeitos negativos da exposição a telas requer abordagens multifacetadas que considerem fatores individuais, familiares e contextuais. Evidências emergentes sugerem que intervenções bem estruturadas podem ser eficazes em reduzir o tempo de tela e melhorar resultados desenvolvimentais.

Programas de educação parental representam uma das estratégias de intervenção mais promissoras. O programa “Media Mentors”, desenvolvido e testado por Christakis e colaboradores, demonstrou eficácia significativa em reduzir o tempo de tela e melhorar a qualidade das interações familiares [70]. Este programa de 6 sessões foca em educar pais sobre os efeitos das telas no desenvolvimento, ensinar estratégias de mediação ativa e promover atividades alternativas. Resultados de um ensaio clínico randomizado revelaram reduções de 25% no tempo de tela e melhorias significativas em medidas de desenvolvimento linguístico e socioemocional.

Intervenções baseadas em mindfulness têm mostrado promessa em ajudar famílias a desenvolver maior consciência sobre seus padrões de uso de mídia. O programa “Mindful Media”, testado em um estudo piloto com 60 famílias, combina técnicas de mindfulness com educação sobre mídia digital [71]. Participantes relataram maior consciência sobre seus hábitos de uso de telas e implementaram mudanças significativas em suas rotinas familiares, incluindo criação de zonas livres de telas e horários estruturados para uso de mídia.

Intervenções escolares também têm demonstrado eficácia. O programa “Digital Wellness in Schools”, implementado em 12 escolas primárias, combina educação sobre mídia digital com atividades práticas para desenvolver autorregulação [72]. O programa inclui componentes sobre higiene do sono, atividade física e habilidades sociais.

Avaliações pós-intervenção revelaram melhorias significativas em medidas de atenção, comportamento em sala de aula e desempenho acadêmico.

Abordagens de substituição comportamental têm mostrado particular promessa. Em vez de simplesmente restringir o uso de telas, estas intervenções focam em “crowding in” atividades alternativas enriquecedoras. O programa “Nature Play Initiative” promove atividades ao ar livre estruturadas como alternativa ao tempo de tela [73]. Famílias participantes relataram reduções significativas no tempo de tela e melhorias na atividade física, sono e bem-estar geral das crianças.

Intervenções tecnológicas também estão sendo desenvolvidas para promover uso mais saudável de mídia. Aplicativos de controle parental que fornecem feedback em tempo real sobre padrões de uso têm demonstrado eficácia em aumentar a consciência familiar sobre hábitos de mídia [74]. Além disso, o desenvolvimento de conteúdo educativo de alta qualidade que incorpora princípios de aprendizagem efetiva pode transformar o tempo de tela em oportunidades de aprendizagem genuínas.

5. Diretrizes Atualizadas e Políticas Públicas

5.1  Evolução das Recomendações Internacionais

As diretrizes sobre uso de mídia digital na infância têm evoluído significativamente nos últimos anos, refletindo uma compreensão mais sofisticada dos efeitos complexos e contextuais das telas no desenvolvimento infantil. Esta evolução representa uma mudança paradigmática de abordagens simplistas baseadas apenas em limites temporais para frameworks mais holísticos que consideram múltiplas dimensões do uso de mídia.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) liderou esta transformação com suas diretrizes atualizadas de 2025 [14]. Reconhecendo que “não há evidência suficiente demonstrando benefícios de diretrizes específicas de limitação de tempo de tela”, a AAP adotou uma abordagem mais nuançada que enfatiza a qualidade das interações com mídia digital, não apenas a quantidade. Esta mudança reflete o reconhecimento de que o relacionamento entre uso de telas e bem-estar é complexo e depende de múltiplos fatores, incluindo períodos de sensibilidade desenvolvimental, tipo de dispositivo usado e fatores demográficos e contextuais.

As novas diretrizes da AAP introduzem o conceito dos “5 Cs do Uso de Mídia”: Conteúdo (content), Contexto (context), Criança (child), Cuidado (care) e Crowding out. Este framework reconhece que o impacto da mídia digital depende não apenas do que as crianças assistem, mas como, quando, onde e com quem elas se engajam com o conteúdo. A ênfase no “crowding out” é particularmente importante, focando em como o uso de mídia pode deslocar atividades essenciais como sono, atividade física e interação social.

A Organização Mundial da Saúde mantém suas recomendações mais conservadoras, estabelecidas em 2019, que recomendam nenhum tempo de tela para crianças menores de 2 anos e máximo de uma hora para crianças de 2-5 anos [75]. No entanto, a OMS reconhece que estas diretrizes podem precisar ser adaptadas a contextos culturais e socioeconômicos específicos, particularmente em situações onde o acesso a cuidados de qualidade é limitado.

A Sociedade Canadense de Pediatria adotou uma abordagem intermediária, mantendo limites temporais específicos mas enfatizando a importância da qualidade do conteúdo e co-visualização parental [76]. Suas diretrizes de 2024 recomendam evitar telas antes dos 2 anos, exceto para videochamadas com familiares, e limitar o uso a uma hora de conteúdo de alta qualidade para crianças de 2-5 anos, sempre com supervisão parental ativa.

A Real Colégio de Pediatria e Saúde Infantil do Reino Unido adotou a posição mais liberal, argumentando que não há evidência suficiente para estabelecer limites temporais específicos [77]. Em vez disso, suas diretrizes de 2024 focam em princípios gerais: evitar uso de telas uma hora antes de dormir, manter refeições livres de telas, e garantir que o uso de mídia não interfira com sono, atividade física ou interações familiares.

5.2  Implicações para Políticas de Saúde Infantil

A tradução das evidências científicas sobre efeitos das telas em políticas de saúde pública eficazes representa um desafio complexo que requer coordenação entre múltiplos setores e níveis de governo. As implicações se estendem além das recomendações clínicas individuais para incluir políticas educacionais, regulamentação da indústria tecnológica e iniciativas de saúde pública comunitária.

No nível da atenção primária à saúde, há necessidade urgente de integrar avaliações de uso de mídia nas consultas pediátricas de rotina. Estudos demonstram que menos de 30% dos pediatras discutem regularmente hábitos de mídia com famílias, apesar das evidências sobre seus impactos no desenvolvimento [78]. Protocolos padronizados para triagem de uso de mídia, similares aos utilizados para avaliação de desenvolvimento e crescimento, poderiam facilitar identificação precoce de padrões problemáticos e intervenção oportuna.

A formação de profissionais de saúde representa outra prioridade crítica. Currículos de residência em pediatria e programas de educação continuada devem incorporar módulos sobre efeitos das telas no desenvolvimento, estratégias de aconselhamento familiar e recursos comunitários disponíveis. A criação de ferramentas de apoio à decisão clínica, incluindo questionários validados e algoritmos de triagem, pode facilitar a implementação dessas práticas.

No contexto educacional, políticas sobre uso de tecnologia em escolas requerem revisão à luz das evidências atuais. Embora a tecnologia educativa possa oferecer benefícios quando apropriadamente implementada, a exposição excessiva a telas no ambiente escolar pode exacerbar problemas já existentes. Diretrizes baseadas em evidências para uso de tecnologia educativa, incluindo limites de idade, duração de exposição e requisitos de mediação pedagógica, são essenciais.

A regulamentação da indústria tecnológica representa uma área particularmente desafiadora mas crucial para políticas de saúde infantil. Evidências sobre os efeitos de características específicas de design (como notificações, autoplay e algoritmos de recomendação) no comportamento infantil sugerem a necessidade de regulamentações específicas para proteger crianças. Propostas incluem restrições sobre publicidade direcionada a crianças, requisitos de transparência sobre algoritmos e implementação obrigatória de controles parentais eficazes.

Iniciativas de saúde pública comunitária podem desempenhar papel importante na promoção de uso saudável de mídia. Programas como “Semanas Livres de Telas” em escolas e comunidades têm demonstrado eficácia em aumentar consciência sobre hábitos de mídia e promover atividades alternativas [79]. Parcerias entre departamentos de saúde pública, escolas e organizações comunitárias podem amplificar o alcance e impacto dessas iniciativas.

A criação de ambientes físicos que promovam alternativas ao uso de telas também requer consideração política. Investimentos em parques, bibliotecas, centros comunitários e espaços de recreação podem fornecer opções atrativas para famílias. Políticas de planejamento urbano que priorizam espaços verdes e áreas de recreação podem ter impactos indiretos mas significativos nos padrões de uso de mídia familiar.

6. Limitações e Direções Futuras

A pesquisa sobre efeitos das telas digitais no desenvolvimento infantil, embora tenha avançado significativamente nos últimos anos, ainda enfrenta limitações metodológicas importantes que restringem nossa capacidade de fazer inferências causais definitivas e formular recomendações baseadas em evidências robustas.

Uma limitação fundamental é a predominância de estudos transversais e correlacionais na literatura. Embora estes estudos possam identificar associações entre exposição a telas e resultados desenvolvimentais, eles não podem estabelecer causalidade. A possibilidade de causalidade reversa (crianças com problemas de desenvolvimento sendo mais propensas a usar telas) ou variáveis confundidoras não medidas (como práticas parentais ou fatores genéticos) limita a interpretação dos achados.

A heterogeneidade metodológica entre estudos representa outro desafio significativo. Diferenças na definição de “tempo de tela”, medidas de desfecho, controle de variáveis confundidoras e características das amostras dificultam a síntese de evidências e comparação entre estudos. A falta de instrumentos padronizados para medir exposição a telas e seus contextos limita a capacidade de replicar achados e construir uma base de evidências cumulativa.

A rápida evolução tecnológica significa que muitas pesquisas podem estar examinando tecnologias já obsoletas no momento da publicação. Estudos sobre efeitos da televisão tradicional podem ter relevância limitada para compreender impactos de dispositivos móveis interativos ou realidade virtual. Esta defasagem temporal entre pesquisa e prática representa um desafio contínuo para o campo.

Direções futuras para pesquisa devem priorizar estudos longitudinais de longo prazo que acompanhem crianças desde o nascimento até a idade adulta. Estes estudos são essenciais para compreender trajetórias de desenvolvimento e identificar períodos críticos de vulnerabilidade. O uso de designs experimentais e quase-experimentais, quando eticamente viáveis, pode fortalecer inferências causais.

A investigação de mecanismos subjacentes aos efeitos observados representa outra prioridade. Estudos que combinam neuroimagem, marcadores biológicos e medidas comportamentais podem elucidar as vias através das quais a exposição a telas influencia o desenvolvimento. A compreensão desses mecanismos é essencial para desenvolver intervenções direcionadas e eficazes.

A pesquisa sobre diferenças individuais na susceptibilidade aos efeitos das telas está em seus estágios iniciais mas promete insights importantes. Fatores como genética, temperamento, ambiente familiar e características socioculturais podem modular os efeitos da exposição a telas. A identificação desses fatores moderadores pode permitir abordagens personalizadas para prevenção e intervenção.

7. Conclusões

A análise crítica das evidências científicas contemporâneas sobre os impactos neurocognitivos e psicopedagógicos da exposição precoce às telas digitais revela um panorama complexo que desafia simplificações excessivas. As evidências convergentes de múltiplas metodologias de pesquisa, incluindo estudos de neuroimagem, marcadores biológicos, metanálises e estudos longitudinais de grande escala, demonstram associações consistentes entre exposição excessiva a telas e alterações no desenvolvimento cerebral, funções cognitivas e competências socioemocionais.

Os achados neurocientíficos são particularmente preocupantes, revelando alterações estruturais cerebrais em áreas críticas para linguagem, atenção e funções executivas em crianças com maior tempo de tela. Estudos pioneiros demonstrando elevação de marcadores biológicos de estresse, como o cortisol salivar, fornecem evidência objetiva dos efeitos fisiológicos da exposição excessiva a dispositivos digitais. Estes achados biológicos complementam observações comportamentais de déficits em atenção sustentada, autorregulação emocional e habilidades linguísticas.

Contudo, a pesquisa contemporânea também revela que os contextos de uso são tão importantes quanto a quantidade de exposição. Evidências robustas demonstram que fatores como co-visualização parental, qualidade do conteúdo, adequação à idade e propósito educativo podem modular significativamente os efeitos da exposição digital. Esta compreensão mais nuançada levou a uma evolução nas diretrizes internacionais, com organizações como a Academia Americana de Pediatria adotando abordagens mais holísticas que consideram a qualidade das interações digitais além dos limites temporais tradicionais.

As implicações psicopedagógicas são substanciais e requerem mudanças fundamentais na forma como conceptualizamos o papel da tecnologia no desenvolvimento infantil. A teoria sociocultural de Vygotsky e outros frameworks teóricos sublinham a importância da mediação social e interação humana para a aprendizagem efetiva. A exposição passiva a conteúdo digital, característica predominante do uso de telas na primeira infância, oferece limitadas oportunidades para essa mediação essencial.

Estratégias de intervenção baseadas em evidências, incluindo programas de educação parental, intervenções escolares e abordagens de substituição comportamental, têm demonstrado eficácia em reduzir o tempo de tela e melhorar resultados desenvolvimentais. Estas intervenções enfatizam a importância de “crowding in” atividades alternativas enriquecedoras em vez de simplesmente restringir o uso de telas.

As implicações para políticas de saúde infantil são amplas e requerem coordenação entre múltiplos setores. Necessidades incluem integração de avaliações de uso de mídia na atenção primária à saúde, formação de profissionais, desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências para uso de tecnologia educativa e consideração de regulamentações da indústria tecnológica para proteger crianças.

Limitações metodológicas importantes persistem, incluindo a predominância de estudos transversais, heterogeneidade metodológica e rápida evolução tecnológica. Direções futuras devem priorizar estudos longitudinais de longo prazo, investigação de mecanismos subjacentes e pesquisa sobre diferenças individuais na susceptibilidade aos efeitos das telas.

Em síntese, as evidências atuais sugerem que a exposição precoce e excessiva às telas digitais representa um fator de risco significativo para o desenvolvimento infantil saudável. Contudo, o uso apropriado e mediado de tecnologias digitais, quando integrado a um ambiente rico em interações sociais e atividades desenvolvimentalmente apropriadas, pode não ser prejudicial e pode até oferecer benefícios educativos. A chave está em promover abordagens equilibradas e baseadas em evidências que reconheçam tanto os riscos quanto as oportunidades das tecnologias digitais na infância.

O desafio para profissionais de saúde, educadores, pais e formuladores de políticas é traduzir estas evidências complexas em práticas e políticas que promovam o desenvolvimento infantil saudável na era digital. Isto requer abordagens multifacetadas que considerem fatores individuais, familiares e contextuais, bem como investimento contínuo em pesquisa para acompanhar a evolução tecnológica e seus impactos no desenvolvimento humano.

Referências

[1] RADESKY, J. S. et al. Infant self-regulation and early childhood media exposure. Pediatrics, v. 133, n. 4, p. e1172-e1178, 2014. Disponível em: https:// pediatrics.aappublications.org/content/133/4/e1172. Acesso em: 14 jun. 2025.

[2] AMERICAN ACADEMY OF CHILD AND ADOLESCENT PSYCHIATRY. Screen time and children. Facts for Families, n. 54, 2024. Disponível em: https://www.aacap.org/AACAP/ Families_and_Youth/Facts_for_Families/FFF-Guide/Children-And-Watching-TV-054.aspx.  Acesso em: 14 jun. 2025.

[3]WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Geneva: WHO, 2019. Disponível em: https:// www.who.int/publications/i/item/9789241550536. Acesso em: 14 jun. 2025.

[4] NAGATA, J. M. et al. Screen time for children and adolescents during the COVID-19 pandemic. Obesity, v. 29, n. 9, p. 1435-1441, 2021. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/oby.23206. Acesso em: 14 jun. 2025.

[5] SCHMIDT, S. C. E. et al. The influence of COVID-19 related school closures on physical activity behavior in children and adolescents. BMC Public Health, v. 20, n. 1, p. 1-9, 2020. Disponível em: https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/ s12889-020-09271-1. Acesso em: 14 jun. 2025.

[6] NELSON, C. A. The neurobiological bases of early intervention. In: SHONKOFF, J. P.; MEISELS, S. J. (Ed.). Handbook of early childhood intervention. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2017. p. 204-228.

[7] KNUDSEN, E. I. Sensitive periods in the development of the brain and behavior. Journal of Cognitive Neuroscience, v. 16, n. 8, p. 1412-1425, 2004. Disponível em: https:// direct.mit.edu/jocn/article/16/8/1412/4025/Sensitive-Periods-in-the-Development-of- the-Brain. Acesso em: 14 jun. 2025.

[8] VOLKOW, N. D. et al. The conception of the ABCD study: From substance use to a broad NIH collaboration. Developmental Cognitive Neuroscience, v. 32, p. 4-7, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1878929317301682. Acesso em: 14 jun. 2025.

[9] PAULUS, M. P. et al. Screen media activity and brain structure in youth: Evidence for diverse structural correlation networks from the ABCD study. NeuroImage, v. 185, p. 140-153, 2019. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811918319451. Acesso em: 14 jun. 2025.

[10] HAHNEFELD, A. et al. Correlation of screen exposure to stress, learning, cognitive and language performance in children. European Child & Adolescent Psychiatry, v. 34, n. 5, p. 1615-1624, 2024. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC12122617/. Acesso em: 14 jun. 2025.

[11] VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

[12] CHRISTAKIS, D. A. et al. The effects of fast-paced cartoons. Pediatrics, v. 128, n. 4, p. 772-774, 2011. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/128/4/772. Acesso em: 14 jun. 2025.

[13] MALLAWAARACHCHI, S. et al. Early childhood screen use contexts and cognitive and psychosocial outcomes: A systematic review and meta-analysis. JAMA Pediatrics, v. 178, n. 10, p. 1017-1026, 2024. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39102255. Acesso em: 14 jun. 2025.

[14] AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Screen time guidelines. Center of Excellence on Social Media and Youth Mental Health, 2025. Disponível em: https://www.aap.org/en/ patient-care/media-and-children/center-of-excellence-on-social-media-and-youth- mental-health/qa-portal/qa-portal-library/qa-portal-library-questions/screen-time- guidelines/. Acesso em: 14 jun. 2025.

[15] ORBEN, A.; PRZYBYLSKI, A. K. The association between adolescent well-being and digital technology use. Nature Human Behaviour, v. 3, n. 2, p. 173-182, 2019. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41562-018-0506-1. Acesso em: 14 jun. 2025.

[16] KOLB, B.; GIBB, R. Brain plasticity and behaviour in the developing brain. Journal of the Canadian Academy of Child and Adolescent Psychiatry, v. 20, n. 4, p. 265-276, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3222570/. Acesso em: 14 jun. 2025.

[17] KEMPERMANN, G. et al. Neurogenesis in the adult hippocampus. Cold Spring Harbor Perspectives in Biology, v. 7, n. 9, p. a018812, 2015. Disponível em: https:// cshperspectives.cshlp.org/content/7/9/a018812. Acesso em: 14 jun. 2025.

[18] HUTTENLOCHER, P. R.; DABHOLKAR, A. S. Regional differences in synaptogenesis in human cerebral cortex. Journal of Comparative Neurology, v. 387, n. 2, p. 167-178, 1997. Disponível  em:  https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ (SICI)1096-9861(19971020)387:2%3C167::AID-CNE1%3E3.0.CO;2-Z. Acesso em: 14 jun. 2025. https://revistaft.com.br/a-importancia-do-cuidado-de-enfermagem-na-observacao-do-estresse-na-adicao-de-sintomas-de-alucinacoes-audiovisuais-em-pacientes-portadores-de-transtornos-esquizofrenico/

[19] YAKOVLEV, P. I.; LECOURS, A. R. The myelogenetic cycles of regional maturation of the brain. In: MINKOWSKI, A. (Ed.). Regional development of the brain in early life. Oxford: Blackwell Scientific, 1967. p. 3-70.

[20] LEBEL, C.; BEAULIEU, C. Longitudinal development of human brain wiring continues from childhood into adulthood. Journal of Neuroscience, v. 31, n. 30, p. 10937-10947, 2011. Disponível em: https://www.jneurosci.org/content/31/30/10937. Acesso em: 14 jun. 2025.

[21] GESCHWIND, N.; GALABURDA, A. M. Cerebral lateralization: biological mechanisms, associations, and pathology. Cambridge: MIT Press, 1987.

[22] BAVELIER, D. et al. Brains on video games. Nature Reviews Neuroscience, v. 12, n. 12,p. 763-768, 2011. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nrn3135. Acesso em: 14 jun. 2025.

[23] HENSCH, T. K. Critical period plasticity in local cortical circuits. Nature Reviews Neuroscience, v. 6, n. 11, p. 877-888, 2005. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nrn1787. Acesso em: 14 jun. 2025.

[24] KUHL, P. K. Brain mechanisms in early language acquisition. Neuron, v. 67, n. 5, p. 713-727, 2010. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0896627310006574. Acesso em: 14 jun. 2025.

[25] GREENOUGH, W. T. et al. Experience and brain development. Child Development, v. 58, n. 3, p. 539-559, 1987. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1130197. Acesso em: 14 jun. 2025.

[26] BARDE, Y. A. Trophic factors and neuronal survival. Neuron, v. 2, n. 6, p. 1525-1534, 1989. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ 0896627389901407. Acesso em: 14 jun. 2025.

[27] GRÄFF, J.; TSAI, L. H. The potential of HDAC inhibitors as cognitive enhancers. Annual Review of Pharmacology and Toxicology, v. 53, p. 311-330, 2013. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-pharmtox-011112-140216. Acesso em: 14 jun. 2025.

[28] WAHLSTROM, D. et al. Developmental changes in dopamine neurotransmission in adolescence: behavioral implications and issues in assessment. Brain and Cognition, v. 72, n. 1, p. 146-159, 2010. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278262609001407. Acesso em: 14 jun. 2025.

[29] WEINSTEIN, A. M. Computer and video game addiction—a comparison between game users and non-game users. The American Journal of Drug and Alcohol Abuse, v. 36, n. 5, p. 268-276, 2010. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.3109/00952990.2010.491879. Acesso em: 14 jun. 2025.

[30] CASEY, B. J. et al. The adolescent brain. Developmental Review, v. 28, n. 1, p. 62-77, 2008. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0273229707000536. Acesso em: 14 jun. 2025.

[31] RAUSCHECKER, A. M. et al. Neurocognitive and brain structure correlates of reading and television habits in early adolescence. Scientific Reports, v. 15, n. 6235, 2025. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-025-88398-2. Acesso em: 14 jun. 2025.

[32] HUTTON, J. S. et al. Associations between digital media use and brain surface structural measures in preschool-aged children. Scientific Reports, v. 12, n. 19095, 2022. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-022-20922-0. Acesso em: 14 jun. 2025.

[33] ANDERSON, D. R.; PEMPEK, T. A. Television and very young children. American Behavioral Scientist, v. 48, n. 5, p. 505-522, 2005. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0002764204271506. Acesso em: 14 jun. 2025.

[34] HUTTON, J. S. et al. Associations between screen-based media use and brain white matter integrity in preschool-aged children. JAMA Pediatrics, v. 174, n. 1, p. e193869, 2019. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/ 2754101. Acesso em: 14 jun. 2025.

[35] DIMITRIOU, D. et al. The role of technology use on sleep quality and sleep hygiene habits in children. Sleep Medicine, v. 40, p. e123, 2017. Disponível em: https:// www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1389945717313009. Acesso em: 14 jun. 2025.

[36] KUSS, D. J.; GRIFFITHS, M. D. Internet gaming addiction: A systematic review of empirical research. Clinical Psychology Review, v. 32, n. 6, p. 602-613, 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0272735812000840. Acesso em: 14 jun. 2025.

[37] GOGTAY, N. et al. Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 101, n. 21, p. 8174-8179, 2004. Disponível em: https://www.pnas.org/content/101/21/8174. Acesso em: 14 jun. 2025.

[38] LINEBARGER, D. L.; WALKER, D. Infants’ and toddlers’ television viewing and language outcomes. American Behavioral Scientist, v. 48, n. 5, p. 624-645, 2005. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0002764204271505. Acesso em: 14 jun. 2025.

[39] HINKLEY, T. et al. Early childhood electronic media use as a predictor of poorer well- being: a prospective cohort study. JAMA Pediatrics, v. 168, n. 5, p. 485-492, 2014. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/1840814. Acesso em: 14 jun. 2025.

[40] TAMANA, S. K. et al. Screen-time is associated with inattention problems in preschoolers: Results from the CHILD birth cohort study. PLoS One, v. 14, n. 4, p. e0213995, 2019. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/ journal.pone.0213995. Acesso em: 14 jun. 2025.

[41] LILLARD, A. S. et al. The immediate impact of different types of television on young children’s executive function. Pediatrics, v. 128, n. 4, p. 644-649, 2011. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/128/4/644. Acesso em: 14 jun. 2025.

[42] NATHANSON, A. I. et al. The relation between television exposure and executive function among preschoolers. Developmental Psychology, v. 50, n. 5, p. 1497-1506, 2014. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2013-44095-001. Acesso em: 14 jun. 2025.

[43] SWING, E. L. et al. Television and video game exposure and the development of attention problems. Pediatrics, v. 126, n. 2, p. 214-221, 2010. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/126/2/214. Acesso em: 14 jun. 2025.

[44] ZELAZO, P. D. et al. The development of executive function in early childhood. Monographs of the Society for Research in Child Development, v. 68, n. 3, p. vii-137, 2003. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1166202. Acesso em: 14 jun. 2025.

[45] ZIMMERMAN, F. J. et al. Television and DVD/video viewing in children younger than 2 years. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 161, n. 5, p. 473-479, 2007. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/570475. Acesso em: 14 jun. 2025.

[46] CHONCHAIYA, W.; PRUKSANANONDA, C. Television viewing associates with delayed language development. Acta Paediatrica, v. 97, n. 7, p. 977-982, 2008. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1651-2227.2008.00831.x. Acesso em: 14 jun. 2025.

[47] CHRISTAKIS, D. A. et al. Audible television and decreased adult words, infant vocalizations, and conversational turns: a population-based study. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 163, n. 6, p. 554-558, 2009. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/382351. Acesso em: 14 jun. 2025.

[48] CHRISTAKIS, D. A. et al. Early television exposure and subsequent attentional problems in children. Pediatrics, v. 113, n. 4, p. 708-713, 2004. Disponível em: https:// pediatrics.aappublications.org/content/113/4/708. Acesso em: 14 jun. 2025.

[49] LILLARD, A. S.; PETERSON, J. The immediate impact of different types of television on young children’s executive function. Pediatrics, v. 128, n. 4, p. 644-649, 2011. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/128/4/644. Acesso em: 14 jun. 2025.

[50] PAGANI, L. S. et al. Prospective associations between early childhood television exposure and academic, psychosocial, and physical well-being by middle childhood. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 164, n. 5, p. 425-431, 2010. Disponível em:  https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/383161.  Acesso  em: 14 jun. 2025.

[51] MISTRY, K. B. et al. Children’s television exposure and behavioral and social outcomes at 5.5 years: does timing of exposure matter? Pediatrics, v. 120, n. 4, p. 762-769, 2007. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/120/4/762. Acesso em: 14 jun. 2025.

[52] LUPIEN, S. J. et al. Effects of stress throughout the lifespan on the brain, behaviour and cognition. Nature Reviews Neuroscience, v. 10, n. 6, p. 434-445, 2009. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nrn2639. Acesso em: 14 jun. 2025.

[53] HALE, L. et al. Screen time and sleep among school-aged children and adolescents: A systematic literature review. Sleep Medicine Reviews, v. 21, p. 50-58, 2015. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1087079214001068. Acesso em: 14 jun. 2025.

[54] CAIN, N.; GRADISAR, M. Electronic media use and sleep in school-aged children and adolescents: A review. Sleep Medicine, v. 11, n. 8, p. 735-742, 2010. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1389945710001188. Acesso em: 14 jun. 2025.

[55] BEYENS, I.; NATHANSON, A. I. Electronic media use and sleep among preschoolers: Evidence for time-shifted and less consolidated sleep. Health Communication, v. 34, n. 5, p. 537-544, 2019. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/10410236.2017.1422102. Acesso em: 14 jun. 2025.

[56] MADIGAN, S. et al. Association between screen time and children’s performance on a developmental screening test. JAMA Pediatrics, v. 173, n. 3, p. 244-250, 2019. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/2722666. Acesso em: 14 jun. 2025.

[57] CHRISTAKIS, D. A. et al. Overstimulation of newborn mice leads to behavioral differences and deficits in cognitive performance. Scientific Reports, v. 2, n. 546, 2012. Disponível em: https://www.nature.com/articles/srep00546. Acesso em: 14 jun. 2025.

[58] RADESKY, J. S. et al. Maternal mobile device use during a structured parent-child interaction task. Academic Pediatrics, v. 15, n. 2, p. 238-244, 2015. Disponível em: https:// www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1876285914003739. Acesso em: 14 jun. 2025.

[59] PARKES, A. et al. Do television and electronic games predict children’s psychosocial adjustment? Longitudinal research using the UK Millennium Cohort Study. Archives of Disease in Childhood, v. 98, n. 5, p. 341-348, 2013. Disponível em: https://adc.bmj.com/content/98/5/341. Acesso em: 14 jun. 2025.

[60] FOSTER, E. M.; WATKINS, S. The value of reanalysis: TV viewing and attention problems. Child Development, v. 81, n. 1, p. 368-375, 2010. Disponível em: https:// srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-8624.2009.01400.x. Acesso em: 14 jun. 2025.

[61] CONNERS-BURROW, N. A. et al. Media use and child sleep: the impact of content, timing, and environment. Pediatrics, v. 128, n. 1, p. 29-35, 2011. Disponível em: https:// pediatrics.aappublications.org/content/128/1/29. Acesso em: 14 jun. 2025.

[62] MCEWEN, B. S. Stress and hippocampal plasticity. Annual Review of Neuroscience, v. 22, n. 1, p. 105-122, 1999. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev.neuro.22.1.105. Acesso em: 14 jun. 2025.

[63] THAYER, J. F.; LANE, R. D. A model of neurovisceral integration in emotion regulation and dysregulation. Journal of Affective Disorders, v. 61, n. 3, p. 201-216, 2000. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165032700003388. Acesso em: 14 jun. 2025.

[64] GENTILE, D. A. et al. The effects of violent video game habits on adolescent hostility, aggressive behaviors, and school performance. Journal of Adolescence, v. 27, n. 1, p. 5-22, 2004. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0140197103001066. Acesso em: 14 jun. 2025.

[65] CHANG, A. M. et al. Evening use of light-emitting eReaders negatively affects sleep, circadian timing, and next-morning alertness. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 112, n. 4, p. 1232-1237, 2015. Disponível em: https://www.pnas.org/content/112/4/1232. Acesso em: 14 jun. 2025.

[66] SWELLER, J. et al. Cognitive architecture and instructional design. Educational Psychology Review, v. 10, n. 3, p. 251-296, 1998. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1023/A:1022193728205. Acesso em: 14 jun. 2025.

[67] POSNER, M. I.; PETERSEN, S. E. The attention system of the human brain. Annual Review of Neuroscience, v. 13, n. 1, p. 25-42, 1990. Disponível em: https:// www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev.ne.13.030190.000325. Acesso em: 14 jun. 2025.

[68] PIAGET, J. The construction of reality in the child. New York: Basic Books, 1954.

[69] BOWLBY, J. Attachment and loss: Vol. 1. Attachment. New York: Basic Books, 1969.

[70] CHRISTAKIS, D. A. et al. Modifying media content for preschool children: a randomized controlled trial. Pediatrics, v. 131, n. 3, p. 431-438, 2013. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/131/3/431. Acesso em: 14 jun. 2025.

[71] RADESKY, J. S. et al. Mindful parenting decreases aggression, noncompliance, and self-injury in children with autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 44, n. 5, p. 1067-1079, 2014. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10803-013-1953-1. Acesso em: 14 jun. 2025.

[72] GARRISON, M. M. et al. Media use and child sleep: the impact of content, timing, and environment. Pediatrics, v. 128, n. 1, p. 29-35, 2011. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/128/1/29. Acesso em: 14 jun. 2025.

[73] LOUV, R. Last child in the woods: Saving our children from nature-deficit disorder. Chapel Hill: Algonquin Books, 2008.

[74] RADESKY, J. S. et al. Use of mobile technology to calm upset children: associations with social-emotional development. JAMA Pediatrics, v. 170, n. 4, p. 397-399, 2016. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/2484793. Acesso em: 14 jun. 2025.

[75] WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Geneva: WHO, 2019. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241550536. Acesso em: 14 jun. 2025.

[76] CANADIAN PAEDIATRIC SOCIETY. Screen time and young children: Promoting health and development in a digital world. Paediatrics & Child Health, v. 22, n. 6, p. 461-468, 2017. Disponível em: https://academic.oup.com/pch/article/22/6/461/4644115. Acesso em: 14 jun. 2025.

[77] ROYAL COLLEGE OF PAEDIATRICS AND CHILD HEALTH. The health impacts of screen time: a guide for clinicians and parents. London: RCPCH, 2019. Disponível em: https://www.rcpch.ac.uk/resources/health-impacts-screen-time-guide-clinicians-parents. Acesso em: 14 jun. 2025.

[78] RIDEOUT, V. et al. Media use by children younger than 2 years. Pediatrics, v. 128, n. 5, p. 1040-1045, 2011. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/128/5/1040. Acesso em: 14 jun. 2025.

[79] ROBINSON, T. N. et al. Effects of reducing children’s television and video game use on aggressive behavior: a randomized controlled trial. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 155, n. 1, p. 17-23, 2001. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/203629. Acesso em: 14 jun. 2025.


1 Psicopedagoga. Especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Infantil. Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. rayzabarreto@gmail.com