ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA E FUNCIONALIDADE EM PACIENTES COM AMPUTAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202506180520


Mauricio Comin Amboni
Ricardo Henrique Esquivel Azuma


RESUMO

Este estudo busca avaliar a qualidade de vida e a funcionalidade de pacientes com amputação de membro inferior, considerando fatores como reabilitação, adaptação ao uso de próteses e presença de comorbidades. A pesquisa baseia-se na análise de dois estudos de caso, envolvendo um total de 85 indivíduos, majoritariamente do sexo masculino e com idades variadas. Os resultados indicam que a qualidade de vida percebida pelos pacientes está diretamente relacionada ao nível de amputação, ao suporte reabilitativo e às condições de saúde associadas. A maioria dos pacientes enfrentou desafios na adaptação à nova realidade, com um percentual significativo apresentando hipertensão arterial e diabetes mellitus. O acesso à reabilitação, embora presente, mostrou-se limitado, com uma parcela reduzida de pacientes com envio psicológico e fisioterapêutico adequado. Além disso, apenas uma parte dos indivíduos teve acesso a próteses, e nem todos conseguem se adaptar ao seu uso. Os dados revelam que, embora a amputação afete diretamente a mobilidade e a independência, o bem-estar subjetivo dos pacientes não está exclusivamente ligado à sua condição física, mas também ao suporte emocional e social que recebe. Concluir que ampliar o acesso a programas de reabilitação e fortalecer o apoio multidisciplinar são medidas essenciais para melhorar a qualidade de vida e a reintegração social.

Palavra-Chave: Reintegração Social; Qualidade de Vida; Reabilitação. 

ABSTRACT 

This study seeks to evaluate the quality of life and functionality of patients with lower limb amputation, considering factors such as rehabilitation, adaptation to the use of prostheses and the presence of comorbidities. The research is based on the analysis of two case studies, involving a total of 85 individuals, mostly male and of varying ages. The results indicate that the quality of life perceived by patients is directly related to the level of amputation, rehabilitative support and associated health conditions. Most patients faced challenges in adapting to the new reality, with a significant percentage having high blood pressure and diabetes mellitus. Access to rehabilitation, although present, proved to be limited, with a small proportion of patients receiving adequate psychological and physiotherapeutic care. Furthermore, only a portion of individuals had access to prosthetics, and not everyone is able to adapt to their use. The data reveal that, although amputation directly affects mobility and independence, patients’ subjective well-being is not exclusively linked to their physical condition, but also to the emotional and social support they receive. Conclude that expanding access to rehabilitation programs and strengthening multidisciplinary support are essential measures to improve quality of life and social reintegration. 

Keywords: Social Reintegration; Quality of Life; Rehabilitation.

1 – INTRODUÇÃO 

A amputação é a remoção parcial ou total de um membro por meio de procedimento cirúrgico. As causas podem ser diversas, incluindo condições congênitas ou adquiridas, como traumáticas (acidentes de trabalho, automobilísticos, entre outros), infecções, doenças vasculares, diabetes ou câncer (METEYER, 2020). 

Existem várias formas de amputações para membros inferiores (MMII), cada uma delas com diferentes níveis de intervenção. Algumas das amputações incluem as desarticulações interfalangianas, de Chopart, de Syme, de joelho e de quadril, além das amputações transtibiais e transfemorais. Cada tipo de amputação é selecionado com base na condição clínica específica do paciente e na extensão da amputação necessária (SANGIROLAMO et al., 2021). 

Nesse contexto, a fisioterapia desempenha um papel crucial na reabilitação de amputados, atuando no pós-operatório imediato. Na fase pré-protetização, o objetivo é preparar o paciente para o uso futuro de prótese, incluindo o posicionamento correto no leito, redução do edema, controle da dor e inflamação, dessensibilização da região afetada, cicatrização adequada e fortalecimento do coto por meio de diversos exercícios (DE MELO; AGUIAR, 2020). 

Na fase pós-protetização, há um foco significativo no treinamento do uso da prótese e na adaptação a ela, o que pode apresentar desafios. A modificação no padrão de locomoção após a amputação requer um treinamento extenso de marcha, visando uma deambulação ativa, independente e o mais próximo possível do padrão fisiológico. O objetivo final é proporcionar ao paciente amputado um bom nível de satisfação e qualidade de vida (DE MELO; AGUIAR, 2020). 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida é definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Isso inclui diversos aspectos, como saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e acesso a recursos e oportunidades. A qualidade de vida é uma medida abrangente, que vai além da mera ausência de doença, buscando garantir o bem-estar completo das pessoas em todos os aspectos de suas vidas (OMS). 

De acordo com dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram realizadas mais de 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores no Brasil, de janeiro de 2012 a maio de 2023. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde implementou, no ano de 2012, o Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), por meio da Portaria nº 793. Com isso, esta pesquisa fez uso de dados de casos reais, buscando resultados mais precisos para alcançar os objetivos aqui propostos. 

2 – PROBLEMA 

Após a amputação de um membro o paciente passa por várias mudanças. Estas incluem dificuldades com habilidades básicas e atividades diárias, perda de independência, sentimentos de inferioridade, problemas de bem-estar, mudanças negativas na vida profissional, mudanças de identidade e mudanças na vida afetiva ou sexual. Após a amputação, o paciente comumente passa por uma série de reações emocionais e pode enfrentar desafios ao lidar com a dependência forçada e a perda da autoestima (BERGO, 2018). 

A amputação de um membro vai além da perda física e estética, afetando diversos aspectos da vida do indivíduo, como mobilidade, autonomia, autoestima e imagem corporal, levando a um estado inicial de dependência e desamparo. A resposta à amputação e ao uso de próteses é complexa e individual, podendo impactar aspectos pessoais, clínicos, sociais, físicos e ambientais (MATOS, 2019) 

Estudos recentes destacam a importância de considerar os fatores psicossociais ao longo dos cuidados pós-amputação para apoiar uma adaptação positiva e melhorar os resultados. A perda de um membro é uma das manifestações mais evidentes de deficiência física, e compreender como cada pessoa se adapta e lida com essas mudanças é fundamental para oferecer um suporte adequado e eficaz (MATOS, 2019). 

Diante disso, o presente projeto tem como questionamento principal descrever qual o impacto da fisioterapia na qualidade de vida em pacientes com amputação de membro inferior pré e pós protetização? 

3 – HIPÓTESES

As principais hipóteses decorrentes deste tema envolve 4 ambientes e resultados possíveis, dentre eles: 

Hipótese 01: Pacientes com amputação de membro inferior apresentam uma qualidade de vida significativamente menor em domínios físicos e emocionais em comparação com a população geral; 

Hipótese 02: Pacientes amputados com idade inferior a 40 anos terão uma melhor funcionalidade, devido a maiores capacidades de adaptação física; 

Hipótese 03: A qualidade de vida dos pacientes amputados tende a melhorar com o tempo, especialmente após o primeiro ano de adaptação; 

Hipótese 04: Os homens têm uma maior probabilidade de sofrer amputações de membros inferiores, com estimativas variando de 60-70%; 

4 – OBJETIVO 

4.1 – OBJETIVO GERAL 

Analisar a qualidade de vida e a funcionalidade em pacientes com amputação de membro inferior. 

4.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

  • Descrever o perfil clínico dos pacientes com amputação de membro inferior.
  • Analisar a qualidade de vida do paciente com amputação de membros inferiores.
  • Analisar a capacidade funcional com base em estudos de caso, considerando mobilidade, autocuidado e desempenho em atividades da vida diária.

5 – JUSTIFICATIVA 

O papel do fisioterapeuta na reabilitação de amputados de membros inferiores é crucial, pois a implementação do tratamento adequado pode influenciar significativamente os resultados. O fisioterapeuta realiza uma avaliação detalhada da função cinética do paciente amputado, considerando seu estado geral e as condições do coto. Com base nessa avaliação, são estabelecidos objetivos para o tratamento, que na fase pré-protetização incluem aumentar a independência do paciente, facilitar atividades de vida diária com ou sem o uso de prótese, preparar o coto para a protetização e reintegrar o paciente à sociedade, entre outros. Para estabelecer resultados concretos acerca do tema, foram coletadas evidências secundárias organizadas em estudos de caso (SILVA, 2023). 

A qualidade de vida de amputados é influenciada por diversos fatores, sendo a qualidade da prótese e o tratamento pós-amputação de grande importância. Quando a prótese e o tratamento não são adequados, isso pode contribuir para a prevalência da dor fantasma e dificultar a prática de atividades físicas prolongadas. Por outro lado, quando a fisioterapia é associada à prática de atividade física, os resultados são extremamente benéficos. Essa associação, seja durante o período de adaptação à prótese ou após o término deste, proporciona resultados mais eficazes na melhoria da qualidade de vida, tanto em aspectos físicos quanto psicológicos (REGIS, 2019). 

Neste contexto, é relevante analisar a qualidade de vida de pessoas com amputações, tanto aquelas que praticam atividades físicas quanto as que não praticam. Além disso, fatores específicos como o tempo desde a amputação, o nível da amputação, o uso de próteses e o nível socioeconômico também serão considerados em relação à qualidade de vida. Entender a qualidade de vida de pessoas com amputações vai além da condição física do indivíduo e inclui aspectos sociais, emocionais e econômicos. Ao compreender esses fatores, podemos contribuir para a reintegração desses indivíduos na sociedade, promovendo uma maior participação e reduzindo o isolamento social (REGIS, 2019).

6 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

6.1 – QUALIDADE DE VIDA E FUNCIONALIDADE 

A qualidade de vida é influenciada por diversos fatores, que nem sempre podem ser facilmente mensurados de maneira científica. Estudos demonstram que o bem-estar físico objetivo está diretamente ligado à ausência de doenças ou limitações, mesmo que leves, na funcionalidade e no conforto do indivíduo. Dessa forma, a manutenção de uma boa saúde física pode ser um forte indicativo de equilíbrio psicológico. No entanto, os indicadores objetivos nem sempre refletem com precisão a percepção individual sobre a própria vida. Já os indicadores subjetivos, como felicidade e satisfação pessoal, oferecem uma compreensão mais detalhada da experiência vívida em relação às condições de vida do indivíduo (SANGIROLANO et al, 2021). 

Buscando padronizar o conceito de qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define como a percepção que cada pessoa tem sobre sua posição no mundo, levando em conta sua cultura, sistema de valores, metas, expectativas e interesses. No início da década de 1990, a OMS reconheceu a relevância das medidas de qualidade de vida para a avaliação da saúde, tanto sob uma perspectiva individual quanto social (BERGO, 2018). 

6.2 – INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 

Com o intuito de medir a qualidade de vida em adultos a partir de uma abordagem transcultural, o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL), no contexto da assistência ambulatorial, especialmente entre pacientes que passaram por amputações, surgem diversas discussões sobre o impacto desse processo em suas vidas, incluindo sua satisfação pessoal e social (REGIS, 2019). 

Alguns estudos destacam a relevância de um processo de reabilitação adequado para que os pacientes amputados retomem suas atividades diárias o mais rapidamente possível. Entre idosos que sofreram amputação de membros inferiores, as habilidades funcionais mais essenciais incluem o autocuidado e as tarefas domésticas (ARAÚJO et al, 2012).

6.3 – FATORES PSICOSSOCIAIS E ECONÔMICOS 

Diversos estudos enfatizam o papel fundamental do suporte social, tanto da família quanto dos amigos, no processo de recuperação desses pacientes. Nesse contexto, ressalta-se a importância do acesso à protetização, além dos cuidados adequados com o coto, tanto no período intraoperatório quanto no pós-operatório, ocorrendo uma adaptação bem realizada à prótese (BERGO, 2018). 

Nem todos os pacientes amputados são elegíveis para o uso de próteses. Por isso, durante a reabilitação, é fundamental focar no aprendizado do treinamento da cadeira de rodas e nas técnicas de transferência, pois essas adaptações podem proporcionar benefícios e resultados positivos (ARAÚJO et al, 2012). 

Este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida de pacientes que passaram por amputação de membros inferiores, além de analisar seu nível de satisfação em relação aos aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais, utilizando a escala desenvolvida pelo Grupo WHOQOL (REGIS, 2019). 

Para a realização das pesquisas de estudo de caso, utilizam-se informações fornecidas por pacientes de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, que passaram por amputação em qualquer nível dos membros inferiores por causa vascular, apresentando o outro membro íntegro ou igualmente amputado, e que concordaram em participar os estudos desta esfera (SANGIROLANO et al, 2021). 

6.4 – CONCEITO E IMPACTO DA AMPUTAÇÃO 

A amputação é um procedimento cirúrgico complexo, com remoção parcial ou total de um membro, com várias causas possíveis, incluindo doenças crônicas (como diabetes), tumores (malignos e benignos, como osteossarcoma) e traumas (acidentes de trabalho e automobilísticos). Também podem ser causadas por deformidades congênitas que afetam a funcionalidade dos membros ou infecções que não podem ser controladas, levando a complicações graves (ARAÚJO et al, 2012).

Quando as amputações são realizadas de forma eletiva, o objetivo é criar um coto — o membro residual da amputação — que seja funcional, sem dor, livre de neuromas sintomáticos e estáveis, possibilitando o uso futuro de uma prótese. Este coto precisa ser adequado para a protetização, de forma a permitir o controle da prótese durante atividades como o ortostatismo (SANGIROLANO et al, 2021). 

Existem diversos tipos de amputações nos membros inferiores (MMII), como as desarticulações interfalângicas, de Chopart, de Syme, de joelho e de quadril, além das amputações transtibiais (abaixo do joelho) e transfemurais (acima do joelho). Cada uma delas possui características específicas e impacta de forma diferente a reabilitação e a utilização de próteses. Em alguns casos, a reabilitação e a protetização tornam-se mais difíceis devido a fatores como o nível da amputação e a ausência de um bom coto (ARAÚJO et al, 2012). 

O nível de amputação também tem um impacto significativo nas capacidades do paciente, por exemplo, nas amputações transfemurais, o paciente perde a função de flexão e extensão do joelho, que é crucial para a realização de atividades cotidianas como caminhar (SANGIROLANO et al, 2021). 

Esse entendimento sobre o impacto da amputação nos movimentos do corpo é crucial para a reabilitação, para que sejam adaptadas às abordagens terapêuticas e protéticas adequadas, buscando promover a melhor qualidade de vida possível (ARAÚJO et al, 2012). 

Em relação aos membros inferiores (MMII), observa-se que os idosos estão na faixa etária mais afetada por procedimentos de amputação, com 85% das amputações de MMII sendo realizadas devido a complicações associadas a doenças crônicas-degenerativas, como diabetes e problemas circulatórios (SANGIROLANO et al, 2021). 

A incidência de amputações varia ao redor do mundo, mas estima-se que ocorram mais de um milhão de amputações anualmente, refletindo a gravidade dos problemas que levam a esse tipo de procedimento e a necessidade urgente de estratégias de prevenção, tratamento e reabilitação (ARAÚJO et al, 2012). 

A incidência de amputações no Brasil é de 13,9 a cada 100.000 habitantes, sendo que a grande maioria (85%) das amputações envolve membros inferiores (MMII). A fisioterapia desempenha um papel crucial em diversos aspectos relacionados às amputações, abrangendo a prevenção, reabilitação e o tratamento das consequências decorrentes da amputação. O fisioterapeuta tem a responsabilidade de promover ações que melhorem a qualidade de vida (QV) dos pacientes, ajudando-os a desenvolver suas capacidades para que possam realizar suas atividades diárias e laborativas de maneira eficiente. Isso inclui, entre outras coisas, a adaptação ao uso de próteses e a promoção da mobilidade (SANGIROLANO et al, 2021). 

Estudos sobre mobilidade mostram que um resultado positivo de aumento da mobilidade gera uma maior satisfação geral com relação à qualidade de vida. Em outras palavras, amputados que conseguiram recuperar ou manter altos níveis de mobilidade sentiram-se mais satisfeitos com sua vida em geral, o que reforçam a importância de programas de reabilitação física e de apoio social na recuperação e na melhoria da qualidade de vida de pacientes amputados (ARAÚJO et al, 2012). 

Esse tipo de estudo é fundamental, pois permite identificar as principais dificuldades e necessidades dos amputados em termos de qualidade de vida e reabilitação, além de auxiliar no desenvolvimento de estratégias e práticas fisioterapêuticas que visem melhorar o bem-estar e a funcionalidade dos indivíduos amputados (REGIS, 2019). 

A aplicação de questionários antes e/ou depois das sessões de fisioterapia permite avaliar possíveis variações nas respostas e perceber os efeitos da reabilitação sobre a percepção da qualidade de vida e da amputação. Os questionários aplicados incluem várias informações incluídas sobre o perfil dos amputados, o nível e a causa da amputação, além de aspectos importantes sobre o impacto da amputação na vida diária do paciente (SANGIROLANO et al, 2021). 

Segundo Sangirolamo et al (2021) um questionário comum para dar início a avaliação dos dados é o questionário responsável por identificar e categorizar o paciente coletando dados pessoais como idade, sexo, escolaridade e fonte de renda, que são importantes para contextualizar os resultados da pesquisa em relação a diferentes características demográficas. Posteriormente o estudo continua a partir da coleta de dados sobre a amputação, buscando entender melhor a situação dos participantes em relação ao nível da amputação, a causa (etiologia) e se há patologias associadas, como doenças vasculares, diabetes, ou complicações infecciosas, por exemplo. Essas informações ajudam a aprofundar a compreensão do impacto da amputação e as variáveis que podem influenciar a qualidade de vida dos pacientes. 

A coleta de informações sobre o número de amputações, se o paciente já possui prótese, e a realização de fisioterapia pré e pós-protetização são fundamentais para compreender o processo de reabilitação e a adaptação do paciente ao uso da prótese. As questões sobre as atividades da vida diária, transferências e aspectos do coto ajudam a medir a funcionalidade e os desafios enfrentados pelos amputados no seu dia a dia, além de fornecer uma visão mais ampla sobre adaptação (ARAÚJO et al, 2012). 

O uso do WHOQOL-BREF como instrumento para avaliar a qualidade de vida (QV) é crucial, pois ele é um questionário amplamente utilizado e validado, que abrange áreas essenciais da vida do amputado, como o bem-estar físico, psicológico, social e ambiental. Ao avaliar esses quatro domínios, o estudo é capaz de capturar uma visão mais completa da qualidade de vida do paciente, considerando diferentes aspectos do seu cotidiano e não apenas os impactos físicos da amputação (SANGIROLANO et al, 2021). 

Por fim, é imprescindível avaliar e descrever como o amputado se vê em relação à perda do membro e como isso impacta sua autoestima, sua sensação de dependência e sua interação social. Isso pode fornecer informações importantes sobre os aspectos emocionais e psicológicos que afetam a percepção do amputado (BERGO, 2018). 

7 – METODOLOGIA 

7.1 – PESQUISA E CARACTERIZAÇÃO DO TEMA ABORDADO 

O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa com análise de dados secundários provenientes de estudos de caso publicados na literatura científica. Com a finalidade de ser uma pesquisa observacional, resultado de uma série de pesquisas bibliográficas e estudos de casos voltados a descrever e avaliar a qualidade de vida e funcionalidade em pacientes com amputação de membro inferior. 

Quanto ao desenvolvimento do estudo, primeiramente foi realizado um aprofundamento sobre o tema em questão, através de artigos científicos com a temática abordada, posteriormente foram analisados estudos de caso que se enquadram nesta temática a fim de concretizar as observações realizadas durante o período de pesquisa. 

Os critérios aplicados para a utilização desses dados como base de pesquisa foram: faixa etária maior de 18 anos, ter amputação de membro inferior protetizado ou não e estar em um tratamento fisioterapêutico. Para a pesquisa foram estabelecidos critérios de exclusão de pacientes que são possuintes de coto que não esteja em processo de cicatrização finalizado e não seja um paciente assíduo das sessões de fisioterapia. 

7.2 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRESENTE PESQUISA 

Esta pesquisa pode gerar alguns benefícios aos seus participantes, dentre eles a motivação aos amputados a adotar mudanças positivas em suas vidas, como buscar tratamento adicional, aderir a programas de reabilitação ou procurar suporte emocional. Com isso, os participantes têm a oportunidade de contribuir para a ampliação do conhecimento científico sobre os desafios enfrentados por amputados e as estratégias para melhorar sua qualidade de vida. 

Além de benefícios gerados aos participantes, esta pesquisa pode ofertar benefícios aos seus pesquisadores como a oportunidade de terem um conhecimento que ao investigar a qualidade de vida em amputados, podem gerar novos conhecimentos que ajudam a compreender os desafios enfrentados por esse grupo específico de pacientes, bem como identificar fatores que influenciam positivamente ou negativamente sua qualidade de vida. Diante disso, o estudo sobre a qualidade de vida em amputados, muitas vezes requer um atendimento multidisciplinar, envolvendo não apenas a fisioterapia, mas sim também psicologia, terapia ocupacional, assistente social, entre outros. 

Com isso, essa pesquisa poderá contribuir agregando informação e conhecimento embasados em artigos científicos atuais para a compreensão dos impactos da fisioterapia na qualidade de vida em amputados, visando o desenvolvimento de uma abordagem mais eficaz para assistir esses pacientes na melhora da qualidade de vida. Esta pesquisa traz consigo o estímulo para o desenvolvimento de mais pesquisas em torno desta temática sob outras perspectivas de diferentes cursos e áreas de graduação. 

Contudo, como todo estudo realizado, existem também as desvantagens de realização da pesquisa, dentre elas, para os pesquisadores há o risco de ter que lidar com temas sensíveis relacionados à amputação, como dor crônica, incapacidade e/ou trauma.

7.3 – MATERIAIS E MÉTODOS 

Os instrumentos utilizados na referida pesquisa serão:  

  • Dispositivo eletrônico para o desenvolvimento da pesquisa e; 
  • Internet para se fazer a busca de artigos científicos com a temática abordada; 

7.3.1 – Tratamento dos dados 

A Coleta de Dados será realizada através de pesquisa científica abordando os aspectos da qualidade de vida e funcionalidade após a amputação. 

Análise Estatística: Aplicação de métodos estatísticos apropriados para avaliar a qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes, utilizando ferramentas do Microsoft Excel e, se necessário, softwares estatísticos adicionais. 

Interpretação dos Resultados: Os resultados serão interpretados à luz dos objetivos do estudo, destacando tendências, correlações e possíveis implicações para a prática clínica. 

8 – RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Esta pesquisa foi proveniente de estudos previamente publicados e descritos a seguir, são apresentados os achados de dois estudos de caso analisados nesta pesquisa, com foco na funcionalidade, qualidade de vida e suporte recebido por pacientes amputados de membro inferior. 

Os resultados desta pesquisa esperam aferir o nível de qualidade de vida dos pacientes com amputação de membro inferior e fornecer uma visão abrangente de como a amputação de membro inferior afeta a funcionalidade dos pacientes.  

A discrepância entre o número total de pacientes amputados e aqueles envolvidos em estudos sugere a influência de fatores sociais que podem ter dificultado o acesso a programas de reabilitação adequados.

Neste estudo foram avaliados diversos estudos de caso mais especificamente dois, dentre eles o primeiro estudo consistiu na implementação de questionários e avaliações em 65 pacientes variantes de 29 a 92 anos, todos do sexo masculino. Em relação ao nível de amputação, 41% dos pacientes passaram por amputação transfemoral, dos quais 29,6% apresentaram esse tipo de amputação em ambos os membros, enquanto os demais mantinham o membro oposto íntegro. 

Os pacientes incluídos no estudo foram encaminhados para um programa de reabilitação após a cirurgia de amputação, que consiste em consultas e acompanhamento com profissionais especializados. 

Dentre os participantes, 18% receberam envios psicológicos, 11% foram atendidos por um terapeuta ocupacional e 42% receberam envios fisioterapêuticos. Além disso, 15% dos pacientes tiveram acesso a próteses e apenas 70% adaptaram-se a ela. 

Em relação às comorbidades observadas, constatou-se que 63% dos pacientes apresentavam hipertensão arterial sistêmica, enquanto 60% apresentavam diabetes mellitus. Quando analisados de forma geral, 44,6% dos participantes avaliaram sua qualidade de vida como boa ou muito boa, de acordo com o WHOQOL-BREF. No entanto, ao estratificar os dados por nível de amputação, observou-se que 35,7% dos pacientes com grande amputação classificaram sua qualidade de vida de forma positiva, em comparação a 59,1% dos pacientes com pequena amputação. 

A avaliação da qualidade de vida é essencialmente subjetiva, pois as emoções variam ao longo da vida, influenciadas por eventos, pelo estado psicológico em um determinado momento e por fatores relacionados à personalidade. Assim, embora experiências emocionais intensas possam ter um impacto, com o passar do tempo, elas são relatadas de forma significativa a avaliação subjetiva do bem-estar das pessoas. Essa perspectiva pode ajudar a entender os níveis de satisfação encontrados neste estudo, em que 44,6% dos entrevistados avaliaram sua qualidade de vida como boa. 

Algumas pesquisas sugerem que o bem-estar subjetivo não se baseia apenas no impacto direto da saúde física das pessoas, mas também não que sua saúde permita que elas se realizem. No domínio relacionado à saúde, 41,8% dos pacientes se declararam satisfeitos ou muito satisfeitos com seu estado de saúde. No aspecto físico, apenas 33,8% classificaram sua qualidade de vida como ruim. Esses dados corroboram a ideia de que o bem-estar subjetivo não se limita à ausência de experiências negativas; de fato, altos níveis de bem-estar subjetivo também indicam presença de sentimentos e satisfação com aspectos variados da vida. 

A literatura indica que há uma observação baixa entre as estatísticas objetivas e o bem-estar subjetivo, talvez porque as pessoas se adaptam rapidamente aos seus recursos e experiências. Além disso, como as pessoas percebem suas próprias possibilidades em comparação com os outros podem influenciar como elas se sentem em relação à sua vida e condições. 

O segundo estudo analisado como base para esta pesquisa, utilizou os dados obtidos a partir de uma amostra foi composta por 20 indivíduos, com idade média de 60,25 anos, sendo 65% do sexo masculino e 35% do sexo feminino. Os dados revelaram que 75% da população não trabalhava. A fonte de renda dos desempregados variava, com 50% de aposentadoria, 10% de benefício, 5% de seguro-desemprego e 10% sem renda própria, sendo sustentados pela família. 

Ao analisar as informações sobre a amputação, obtivemos que os níveis Transfemural médio e Transtibial médio foram empatados, representando 30% cada, somando 60% dos casos. O nível transfemural distal foi observado em 15% dos amputados. Além disso, 10% dos indivíduos apresentaram amputação no nível Transfemural proximal, e os outros 15% foram distribuídos igualmente entre os níveis de Desarticulação de joelho, Transtibial proximal e Transtibial distal, com 5% cada. 

A prevalência de amputação do lado direito foi de 70%, enquanto a do lado esquerdo foi de 30%. Um dado relevante da pesquisa foi que todos os amputados acima de 70 anos tinham amputação de origem vascular, o que não foi observado em nenhum outro estudo. 

No questionário sobre as condições dos amputados, 80% dos participantes apresentavam alguma patologia associada, principalmente hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. Além disso, 95% dos entrevistados tinham apenas uma amputação, com o tempo desde a última amputação variando entre 4 a 204 meses. Apenas 55% dos amputados possuíam prótese até o dado da entrevista, e, destes, 45,5% faziam uso da prótese. A maioria dos que possuíam prótese (95%) fez fisioterapia antes de recebê-la, com apenas dois casos em que os pacientes não realizaram fisioterapia após a aquisição. Dentre os pacientes que ainda não possuíam prótese, 90% estavam em tratamento de fisioterapia, sendo a maioria atendida em clínicas públicas. 

Os pacientes que utilizaram a prótese fizeram, em média, 3 horas por dia, 4,5 dias por semana. A figura a seguir apresenta a relação entre atividades de vida diária e a independência dos pacientes em realizá-las. Observe-se que 95% dos participantes eram independentes na alimentação, higiene oral e na transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário, com 5% parcialmente dependentes, necessitando de ajuda em alguma etapa. 90% eram independentes na transferência da cama para a cadeira de rodas. No entanto, apenas 45% eram independentes para o banho e 55% no vestuário. A maior dependência foi observada nas atividades de subida e descida, em que 40% eram dependentes e 30% parcialmente dependentes. 

Figura 01 – Atividades Diárias e Independência dos Pacientes 

Fonte: Adaptado de Sangirolamo et al (2021).

De maneira geral, a capacidade funcional de pacientes com grandes amputações e mais idade tende a ser inferior quando comparada com aqueles mais jovens, com amputações menores. Dessa forma, seria importante realizar um estudo prospectivo para avaliar a recuperação física e psicológica a longo prazo. 

Os resultados obtidos revelam a relevância de investir em pesquisas sobre o bem-estar subjetivo da população amputada, o que pode fornecer subsídios valiosos para os profissionais de saúde, especialmente no aprimoramento de suas práticas assistenciais. 

É fundamental que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros membros da equipe de saúde tenham uma visão ampliada sobre os sentimentos dos pacientes diante da amputação, suas sequelas e os resultados do processo de reabilitação. O desenvolvimento de um plano de atenção individualizado, baseado no respeito aos valores e necessidades da pessoa amputada, é essencial. Isso ajudará na tomada de decisões para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, com foco não apenas na sobrevida.

Concluindo, os pacientes amputados de membros inferiores que realizam fisioterapia não acreditam que sua amputação cause desconforto em outras pessoas, mas consideram um empecilho para a realização de alguma atividade. 

9 – CONCLUSÃO 

Os resultados desta pesquisa evidenciam que a amputação de membro inferior impacta diretamente a qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes, sendo influenciada por diversos fatores, como nível de amputação, acesso a programas de reabilitação e presença de comorbidades. Observa-se que, apesar das dificuldades enfrentadas, muitos pacientes conseguem se adaptar à nova realidade e avaliar positivamente sua qualidade de vida, demonstrando a importância do suporte psicológico, fisioterapêutico e ocupacional na reabilitação. 

O papel do fisioterapeuta vai além da reabilitação física, sendo de extrema relevância o impacto nos aspectos emocionais e sociais vividos pelo amputado, com isso a reabilitação precoce, contínua e humanizada é essencial para uma recuperação funcional completa. 

Uma análise dos estudos de caso revelou que a reabilitação desempenha um papel essencial na independência dos pacientes, especialmente no uso de próteses e no desempenho de atividades diárias. No entanto, ainda há desafios importantes, como a dificuldade de acesso a tratamentos especializados e a necessidade de maior suporte social e econômico para os amputados, especialmente aqueles em idade avançada ou sem fonte de renda. 

Desta forma, reforça-se a importância de políticas públicas que ampliem o acesso à reabilitação e promovam a inclusão de pacientes amputados na sociedade. O bem-estar subjetivo desses indivíduos não depende apenas da saúde física, mas também de fatores emocionais e sociais que influenciam sua percepção de qualidade de vida. Investir em estratégias que favoreçam a adaptação e independência desses pacientes pode contribuir significativamente para sua reintegração e bem-estar.

10 – BIBLIOGRAFIA 

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