REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506132234
Itamar Santos; Lara Elis Valério de Almeida; Maria Olívia Silva Vilaça; Marianna Hipólito; Natália Gonçalves
RESUMO
O bronzeamento artificial tem despontado como uma ferramenta rápida para algumas pessoas que buscam estar inseridas em um padrão estético de beleza, nesse viés é importante ressaltar que esse procedimento tem contribuído significativamente para o aumento das neoplasias de pele devido à exposição dos pacientes à radiação UVA, promovendo danos cumulativos à pele, além de alterações celulares. Diante desse alerta, esta revisão propõe discutir a relação entre bronzeamento e o câncer de pele, fatores de riscos, fisiopatologia e medidas preventivas.
PALAVRAS-CHAVE: Câncer de pele; Exposição solar; Bronzeamento artificial; Radiação UV
INTRODUÇÃO
O câncer de pele é a neoplasia maligna mais comum no mundo, destacando-se os subtipos carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma (REZENDE FILHO et al., 2020). A principal causa é a exposição à radiação ultravioleta (UV), tanto natural quanto artificial, especialmente a UVA e UVB, que promovem danos ao DNA e mutações em genes reguladores como o p53 (GRUPO BRASILEIRO DE MELANOMA, 2024). O uso frequente e precoce de cabines de bronzeamento, que emitem radiação UVA, potencializa esses riscos, aumentando a incidência de carcinomas cutâneos (LAURA; NAVAS, 2017).
No Brasil, país tropical, a alta exposição solar e o padrão estético de bronzeamento, consolidado no final do século XX, têm contribuído para o crescimento dos casos, principalmente em indivíduos de pele clara e regiões fotoexpostas (MEIRELLES; PRADO; VASCONCELOS, 20; MELO, 2022). Compreender os mecanismos envolvidos na carcinogênese cutânea é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e diagnóstico precoce.
ASPECTOS CLÍNICOS
O câncer de pele é uma das neoplasias malignas mais comuns na população mundial, compreendendo diferentes tipos com características clínicas, histopatológicas e prognósticos distintos. Entre essas neoplasias, destacam-se o carcinoma basocelular (CBC), o carcinoma espinocelular da pele (CEC) e o melanoma, cuja compreensão integral é fundamental para a prática clínica e o manejo terapêutico adequado.
Inicialmente, o carcinoma basocelular configura-se como a neoplasia cutânea maligna mais prevalente, afetando principalmente indivíduos de pele clara, com histórico de exposição solar cumulativa e intermitente. Clinicamente, manifesta-se em diversas formas, sendo o subtipo nodular o mais frequente, caracterizado por pápulas ou nódulos eritematosos com superfície perlácea, bordas elevadas e, por vezes, área central ulcerada. Tais lesões prediletamente acometem regiões fotoexpostas, como face, pescoço e couro cabeludo.
Ademais, o CBC apresenta variações clínicas, como o subtipo superficial, que se manifesta predominantemente no tronco, exibindo placas eritematosas de crescimento lento e bordas discretamente elevadas, e o infiltrativo ou esclerodermiforme, caracterizado por placas endurecidas, mal delimitadas, com aspecto cicatricial e maior risco de invasão profunda e recorrência. Embora menos comum, destaca-se o fibroepitelioma de Pinkus, cuja apresentação se dá por pápulas pedunculadas ou placas amolecidas, geralmente localizadas no tronco inferior.
O diagnóstico do CBC é facilitado por suas características morfológicas típicas, reforçadas pelo exame dermatoscópico, que evidencia vasos arboriformes e áreas amorfas brancas, embora a confirmação definitiva exija análise histopatológica. A abordagem terapêutica do CBC é predominantemente cirúrgica, apresentando elevada taxa de cura quando diagnosticado precocemente, o que evidencia a importância da vigilância clínica para minimizar a morbidade e o risco de recidiva.
Por outro lado, o carcinoma espinocelular da pele destaca-se como a segunda neoplasia cutânea mais comum, originada dos queratinócitos da camada espinhosa da epiderme. Este câncer é responsável por uma proporção significativa dos casos de câncer de pele não melanoma, acometendo principalmente indivíduos idosos, do sexo masculino, e com fototipo claro. A etiologia do CEC está intimamente ligada à exposição crônica à radiação ultravioleta (UVA e UVB), que promove mutações genéticas nos queratinócitos.
Outros fatores de risco relevantes incluem imunossupressão, síndromes genéticas relacionadas à fotossensibilidade, exposição a agentes carcinogênicos químicos, infecção por HPV e presença de cicatrizes ou traumas cutâneos.
Clinicamente, o CEC manifesta-se por lesões eritematosas, descamativas, crostosas ou ulceradas, com crescimento lento e potencial para invasão local significativa. A doença pode evoluir a partir de queratoses actínicas, lesões precursoras que se transformam em CEC em aproximadamente 20% dos casos ao longo de anos. Importante destacar que a forma in situ, denominada Doença de Bowen, pode progredir para o CEC invasivo em média dentro de dois anos.
Para além da avaliação clínica, o diagnóstico é complementado pela dermatoscopia e microscopia confocal de reflectância, que aumentam a acurácia diagnóstica. A confirmação histopatológica, por meio de biópsia, é imprescindível para a classificação do subtipo tumoral e definição da estratégia terapêutica. Em estágios iniciais, o tratamento por excisão cirúrgica ambulatorial apresenta alta eficácia e baixo custo.
Contudo, nos casos avançados, faz-se necessária a associação de radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo e imunoterapia. Ademais, a prevenção do CEC baseia-se fundamentalmente na fotoproteção e na vigilância constante de lesões cutâneas crônicas, visando a detecção precoce e redução da morbimortalidade.
Finalmente, o melanoma, neoplasia maligna originada dos melanócitos, embora represente cerca de apenas 5% dos cânceres de pele, é responsável pela maior mortalidade entre as neoplasias cutâneas. Nos últimos anos, observou-se um aumento na incidência do melanoma, especialmente em indivíduos jovens, contudo, a mortalidade manteve-se estável devido à implementação do diagnóstico precoce e tratamentos adequados. O sucesso terapêutico do melanoma está intrinsecamente ligado ao reconhecimento clínico oportuno, que se baseia na regra do ABCDE (Assimetria, Bordas, Cor, Diâmetro e Evolução), critérios essenciais para a suspeita da lesão.
A dermatoscopia desempenha papel crucial no diagnóstico precoce do melanoma, permitindo a visualização ampliada das estruturas da pele, incluindo a junção dermoepidérmica e a derme papilar. A técnica de imersão em óleo, por sua vez, facilita a translucidez epidérmica, possibilitando uma avaliação mais precisa dos padrões arquiteturais da lesão. Dessa forma, a dermatoscopia não apenas auxilia na diferenciação do melanoma em relação a outras lesões pigmentadas benignas ou malignas, como também contribui para a melhor definição do manejo clínico.
Em síntese, o manejo clínico dos principais cânceres de pele CBC, CEC e melanoma exige conhecimento detalhado das suas manifestações clínicas, fatores etiológicos e estratégias diagnósticas, especialmente o uso de dermatoscopia e confirmação histopatológica. Além disso, destaca-se a importância do diagnóstico precoce e da abordagem multidisciplinar para otimizar os resultados terapêuticos, minimizar a morbidade e reduzir a mortalidade associada a essas doenças cutâneas malignas
ALTERAÇÕES HISTOPATOLÓGICAS
A exposição à radiação ultravioleta UV, promove alterações celulares que contribuem para a carcinogênese cutânea. O UVB causa danos direto ao DNA, formação de fotodímeros de pirimidina e o UVA induz danos indiretos por espécies reativas de oxigênio. Ambos levam a mutações em genes críticos como P53 que é responsável pelo reparo do DNA e apoptose, quando há a mutação desse gene ou em N-ras e CDKN2A desenvolvem tumores cutâneos. (BOTELHO, 2024). Com relação a melanina, ela pode agravar danos oxidativos e baixa capacidade de reparo do DNA aumentando o risco de melanoma, apresentando alterações histopatológicas de mutações específicas com diversas anomalias de proteínas reguladoras, de forma descontrolada relacionadas em casos de bronzeamento causando câncer de pele (BUENO FILHO, R, 2020). Além disso, o câncer de pele causa alterações no colágeno presente na pele, tal composto é responsável por dar firmeza, elasticidade e resistência à derme. Logo, é observado que as células cancerígenas produzem enzimas chamadas metaloproteinases de matriz (MMP˜s) que degradam os principais colágenos da pele que são o tipo um e três, o que favorece a invasão dos tecidos vizinhos e promove o envelhecimento da pele, pois além dessa destruição direta vai ter inflamação crônica e produção de radicais livres gerando rugas mais profundas, flacidez no local e uma perda da elasticidade dando aspecto visível de pele envelhecida (CONEJO-MIR, 2021).
DIAGNÓSTICO E IMPORTÂNCIA DA FISIOPATOLOGIA
O diagnóstico do câncer de pele fundamenta-se na associação entre achados clínicos, dermatoscopia e histopatologia. A histopatologia, método baseado na análise microscópica de uma amostra da lesão suspeita, é padrão-ouro para confirmação do diagnóstico, permitindo uma avaliação e distinção precisa entre os subtipos tumorais. A detecção precoce é essencial para o tratamento assertivo e sem intercorrências, proporcionando um bom prognóstico.
DISCUSSÃO
O conceito de pele bronzeada associada à beleza é um padrão estético que ignora um risco real e crescente: o câncer de pele. A prática do bronzeamento está acarretando inúmeros malefícios à saúde dos pacientes que se utilizam dessa técnica para estar inseridos nesse ideal cultural (PEREZ et al., 2024).
Nesse sentido, é pertinente ressaltar que a radiação ultravioleta (RUV) é considerada um carcinógeno completo, já que provoca mutações no DNA, favorecendo o desenvolvimento do câncer cutâneo através de processos inflamatórios decorrentes da exposição solar cumulativa, assim estando relacionado tanto ao surgimento do melanoma quanto do câncer de pele não melanoma (MEIRELLES; PRADO; VASCONCELOS, 2024).
Logo, é nítido a necessidade de políticas públicas que visem difundir conhecimento sobre os riscos da exposição solar desprotegida, além do uso de fotoprotetores e alertar a população ao fato de que bronzear-se pode parecer um símbolo de beleza momentânea, mas uma pele saudável é o real reflexo da beleza desse órgão (BOTELHO et al., 2024).
CONCLUSÃO
Esse estudo demonstra que o padrão estético do bronzeamento está aumentando a incidência de câncer de pele. Dessa forma, é preciso destacar a necessidade de campanhas de alerta sobre neoplasias de pele, além do uso correto de fotoprotetores visando a prevenção dessa doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MEIRELLES, L. M.; PRADO, A. C. R. de A.; VASCONCELOS, R. C. F. de. Análise dos danos decorrentes do bronzeamento artificial: uma revisão de literatura. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 10, n. 6, p. 3824-3831, 2024.
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