NURSING PERFORMANCE IN MANAGING SIDE EFFECTS OF CHEMOTHERAPEUTIC DRUGS: SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506131820
Ana Luiza Rodrigues de Paiva1
Vitória Fernandes da Rocha1
Josivan da Costa Sousa2
RESUMO
Introdução: A quimioterapia é um método de tratamento sistêmico que emprega agentes antineoplásicos para eliminar as células cancerígenas do corpo, porém, são diversos os efeitos colaterais que os quimioterápicos podem manifestar nos pacientes. Compete ao enfermeiro orientar o paciente e familiares sobre possíveis intercorrências, fazer o acompanhamento do quadro clínico e atuar em propostas para melhoria da qualidade de vida. Objetivo: identificar e avaliar as intervenções de enfermagem na gestão dos efeitos colaterais dos medicamentos quimioterápicos, com foco na melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Métodos: Foram realizadas pesquisas sistemáticas no Google Acadêmico, Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), protocolos e manuais do Ministério da Saúde, e livros de referência em farmacologia e patologia, com um recorte temporal de 2020 a 2024. Conclusão: Este estudo evidenciou o papel essencial da enfermagem na gestão dos efeitos colaterais da quimioterapia, promovendo segurança e eficácia no tratamento. As intervenções incluem manejo dos sintomas, cuidados com acessos venosos e apoio emocional ao paciente. A atuação qualificada da equipe contribui significativamente para a qualidade de vida dos pacientes oncológicos.
Palavras-Chave: Assistência de enfermagem; Qualidade de vida; Quimioterápicos
ABSTRACT
Introduction: Chemotherapy is a systemic treatment method that uses antineoplastic agents to eliminate cancer cells from the body. However, there are several side effects that chemotherapy drugs can manifest in patients. It is the nurse’s responsibility to guide the patient and family members about possible complications, monitor the clinical condition, and act on proposals to improve quality of life. Objective: to identify and evaluate nursing interventions in the management of side effects of chemotherapy drugs, with a focus on improving the quality of life of cancer patients. Methods: Systematic searches were conducted in Google Scholar, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), protocols and manuals of the Ministry of Health, and reference books on pharmacology and pathology, with a time frame from 2020 to 2024. Conclusion: This study highlighted the essential role of nursing in managing the side effects of chemotherapy, promoting safety and efficacy in treatment. Interventions include symptom management, care of venous access and emotional support to the patient. The qualified performance of the team contributes significantly to the quality of life of cancer patients.
Keywords: Nursing care; Quality of life; Chemotherapeutic agents.
INTRODUÇÃO
Representando uma das principais causas de morte no mundo e um significativo encargo na saúde pública, o câncer é uma doença complexa definida pelo crescimento desregulado de células atípicas que são capazes de invadir tecidos próximos e se disseminar para outras partes do corpo (Silva; Maciel; Queiroz, 2024).
A incidência do câncer tem apresentado um aumento constante ao longo das últimas décadas. Entre os tipos de câncer mais comuns, destacam-se os cânceres de mama (feminino), pulmão, cólon, reto, próstata e pele não melanoma. Estima-se que, entre 2023 e 2025, o Brasil registre mais de 700 mil novos casos de câncer (Santos et al., 2023).
O tratamento oncológico adequado depende de fatores como a localização e progressão da doença. Dependendo das condições do paciente os métodos mais frequentes são: ressecção do tumor, radioterapia e quimioterapia. Sendo a quimioterapia um método que além de eliminar as células malignas também afeta as células saudáveis, resultando em diversos efeitos colaterais que prejudicam o físico do paciente (Silveira et al., 2021).
Essas complicações acontecem porque a quimioterapia é um método de tratamento sistêmico que emprega agentes antineoplásicos para eliminar as células cancerígenas do corpo. Pode ser aplicado com o objetivo de curar ou minimizar os sintomas e melhorar o prognóstico, de maneira isolada ou combinada, conforme a situação de cada paciente (Carvalho, 2021).
O tratamento quimioterápico necessita de uma assistência que possibilite a pactuação da eficácia esperada, pois a má administração dos medicamentos podem gerar graves consequências. O enfermeiro deve certificar-se da gestão, da qualidade e da segurança no tratamento. Sua aplicação requer cuidados especiais dos profissionais da saúde envolvidos em cada etapa da gestão do quimioterápico: prescrição, preparo, liberação e administração (Melo Filho; Viana, 2022).
São diversos os efeitos que os quimioterápicos podem manifestar nos pacientes, desta forma, compete ao enfermeiro orientar o paciente e familiares sobre possíveis intercorrências, fazer o acompanhamento do quadro clínico e atuar em propostas para melhoria da qualidade de vida. A atuação da enfermagem nos cuidados oncológicos são essenciais, fornecendo suporte integral ao paciente desde a investigação até a recuperação (Perucio et al. 2022).
A quimioterapia, frequentemente causa efeitos colaterais severos, como náuseas, fadiga e mielossupressão, que afetam negativamente a qualidade de vida dos pacientes. A avaliação contínua da qualidade de vida é essencial, pois permite uma comunicação mais eficiente entre os enfermeiros e pacientes. Levando em consideração as características de cada paciente, a fim de melhorar sua qualidade de vida e maximizar os resultados terapêuticos, tem-se o seguinte questionamento: “Quais são as principais intervenções de enfermagem na gestão dos efeitos colaterais dos medicamentos quimioterápicos e como essas intervenções impactam a qualidade de vida dos pacientes oncológicos?”.
Portanto, a presente pesquisa é de grande relevância no contexto acadêmico da área da saúde, especialmente para enfermeiros, ao evidenciar como as intervenções de enfermagem durante o processo do tratamento quimioterápico podem melhorar a assistência e minimizar os efeitos colaterais que impactam na qualidade de vida dos pacientes. A gestão dos quimioterápicos é essencial para garantir que os pacientes alcancem suporte básico para enfrentar as implicações da quimioterapia.
Além disso, este estudo capacita os enfermeiros a identificar estratégias eficazes que melhorem a experiência do paciente durante o tratamento oncológico por meio do conhecimento teórico científico, para realizar as intervenções necessárias na administração da quimioterapia.
Diante desse contexto elencamos como objetivo realizar uma revisão sistemática para identificar e avaliar as intervenções de enfermagem na gestão dos efeitos colaterais dos medicamentos quimioterápicos, com foco na melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos, além de objetivo específico de descrever os principais efeitos colaterais dos medicamentos quimioterápicos utilizados por pacientes oncológicos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica sistemática que foi desenvolvida com base na declaração PRISMA, com abordagem metodológica qualitativa. Segundo Sousa, Oliveira e Alves (2021), a revisão bibliográfica consiste na coleta ou revisão de um conjunto de obras publicadas, que englobam documentos impressos, artigos, dissertações e livros relacionados à teoria que orientará o trabalho científico. Isso requer estudo e análise por parte do pesquisador, que visa reunir e examinar textos já publicados para fundamentar a pesquisa.
A revisão sistemática demanda a elaboração de uma estratégia de busca rigorosa para uma questão específica, envolve a seleção de critérios para inclusão e exclusão dos documentos e, principalmente, uma avaliação precisa da qualidade da literatura escolhida. O estudo também inclui a síntese de cada pesquisa, além da avaliação e interpretação dos dados (Marcondes; Silva, 2022).
A recomendação PRISMA é utilizada para planejar e realizar revisões sistemáticas assegurando que a pesquisa tenha todas as informações necessárias e de forma transparente, possibilita reconhecer, selecionar, analisar e resumir estudos, para isso, engloba listas de verificação, o documento de explicação e a formulação de um diagrama de fluxo (Page et al., 2021).
A abordagem qualitativa compreende a produção de pesquisa sem a quantificação dos achados, nesta abordagem é possível compreender a explicação de algum fenômeno. O entendimento da realidade ocorre por meio da análise das complexidades das interações e suas variáveis, definidos por objeto de estudo, coleta das informações e interpretação dos resultados (Soares et al., 2022).
O estudo foi realizado ao longo de um período de 11 meses, compreendendo o intervalo de agosto de 2024 a julho de 2025. A pesquisa foi baseada em informações obtidas de diversas bases de dados relevantes, sendo elas: Google Acadêmico, Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), protocolos e manuais do Ministério da Saúde, e livros de referência em farmacologia e patologia.
Para iniciar a busca, definimos uma estratégia de pesquisa através da combinação de descritores em Ciências da Saúde (DeCs) relacionados aos temas centrais do estudo: “assistência de enfermagem”, “qualidade de vida” e “quimioterápicos”. A inter-relação desses termos foi realizada utilizando o operador booleano “AND”, o que permitiu a identificação de artigos e estudos que abordem de forma integrada esses tópicos.
Os critérios de inclusão foram definidos como textos completos de artigos na íntegra, publicações nacionais e internacionais no período de 2020 a 2024. Na exclusão de materiais foram descartados os trabalhos científicos que estavam em desacordo com os padrões de seleção, artigos repetidos e que não estavam relacionados com o foco e objetivos da pesquisa.
Na primeira etapa foi feita a formulação da pergunta-problema, que orientou todo o processo de pesquisa. Em seguida, elaboramos a justificativa e os objetivos do estudo, destacando a relevância da investigação e as metas que buscamos alcançar. Após essa definição inicial, procedemos com a busca e a seleção dos estudos relevantes nas bases de dados previamente mencionadas.
Foram colocados os descritores nas bases de dados com retorno de 6.836 artigos no total. A triagem dos dados foi realizada por etapas: título, resumos e leitura completa dos estudos. A seleção foi realizada com rigor, garantindo que apenas os trabalhos que atendiam aos critérios estabelecidos fossem incluídos. Por fim, foram incluídos na revisão sistemáticas 13 artigos. Todas as informações foram armazenadas em planilhas no Google Sheets. A figura 1 expõe o fluxograma do processo de extração de dados incluídos no estudo.
Figura 1. Resultados das buscas nas bases de dados conforme os critérios estabelecidos.

Fonte: Adaptado de PAGE et al. (2021). Produzido pelos próprios autores
REFERENCIAL TEÓRICO
O câncer é uma condição genética causada por mutações no DNA, que pode ser espontânea ou desencadeada por fatores externos. Também envolve alterações epigenéticas durante a divisão celular, resultando em modificações no desenvolvimento celular que são passadas para as células filhas e gera o crescimento desregulado da célula. Dessa forma, surgem as características do câncer: autossuficiência no crescimento, evasão da morte celular, replicação ilimitada, angiogênese, invasão tecidual, reprogramação metabólica e resistência ao sistema imunológico, que permite o crescimento celular descontrolado e a formação de tumores (Kumar; Abbas; Aster, 2023).
Neste contexto essas células são denominadas de neoplásicas, pois continuam a se replicar. O tumor é considerado maligno quando a lesão tem potencial de adentrar as estruturas adjacentes a sua localização e disseminar-se, essa invasão de tecidos é chamada de metástase. As neoplasias malignas derivadas de tecidos mesenquimais são classificadas como sarcoma e quando surgem no sangue de leucemia, já as de origem epitelial são classificadas como carcinomas (Kumar; Abbas; Aster, 2023).
Com base nas informações do Ministério da Saúde (Brasil, 2020), quando o câncer é detectado deve-se avaliar o grau de disseminação da neoplasia. O método utilizado para avaliar a extensão do tumor é o estadiamento, que normalmente segue o Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos. Nesse sistema, a primeira avaliação (T) representa a extensão e o aspecto do tumor primário, a segunda (N) avalia os aspectos dos linfonodos e a terceira (M) a existência de metástase. Essa avaliação é categorizada de 0 a 4; de 0 a 3; e de 0 a 1, respectivamente.
Ainda segundo Brasil (2020), os fatores de risco do desenvolvimento do câncer podem ser encontrados no ambiente físico, ser hereditário ou estarem relacionados aos hábitos do indivíduo. É dividido em causas externas, representando o maior índice de risco, e por causas internas. A primeira está relacionada ao uso de substâncias químicas, o cigarro por exemplo é responsável por aproximadamente 9 a cada 10 casos de câncer de pulmão, microrganismos, exposição a radiação e estilo de vida sedentário, a segunda envolve hormônios, variação genética e o quadro imunológico do paciente.
Conforme o Ministério da Saúde (Brasil, 2022), o plano de tratamento neoplásico depende das propriedades do tumor a nível molecular, do estadiamento, da resistência do tumor e da condição funcional do paciente, a modalidade terapêutica pode ser cirúrgica com a remoção do tumor, radioterápica ou quimioterápica, com o uso de medicações. Geralmente utiliza-se mais de uma modalidade terapêutica para tratar a neoplasia. Sendo os quimioterápicos uma das modalidades mais utilizadas para tratar o câncer. É um tratamento sistêmico contínuo ou regular, que ocasiona efeitos colaterais devido a toxicidade das drogas antineoplásicas.
A quimioterapia é indicada quando os benefícios do tratamento superam os possíveis efeitos colaterais. A finalidade depende do prognóstico do paciente, podendo se paliativa para amenizar os sinais e sintomas da doença na busca de melhorar a qualidade de vida do paciente quando o mesmo encontra-se em fase de recidiva ou metástase, finalidade neoadjuvante para tornar os tumores ressecáveis e melhorar o prognóstico, finalidade adjuvante que ocorre após tratamento cirúrgico para minimizar a recidiva da neoplasia e por fim a finalidade curativa para eliminar a doença (Brasil, 2022).
Tabela 1. Relação entre as classes de quimioterápicos e seus mecanismos de ação.

Fonte: Adaptado pelos próprios autores de INCA (2024)
A classificação dos quimioterápicos leva em conta sua composição química, a função que desempenham nas células e o momento do ciclo de divisão celular em que exercem sua ação (tabela 1). Mas, no geral, os efeitos colaterais mais comuns ocorrem em tecidos de rápido crescimento, como a medula óssea, o trato gastrintestinal e o sistema reprodutor. Náuseas e os vômitos podem representar um sério problema com vários desses fármacos (Katzung; Vanderah, 2022).
Os quimioterápicos podem ainda ser classificados como específicos e inespecíficos, sendo que o primeiro atua em etapas particulares do ciclo celular e são melhores no combate a tumores maiores e de crescimento acelerado , já o segundo pode agir em qualquer parte do ciclo celular e são usados para eliminar pequenos tumores (Faria; Fagundes, 2020).
Ainda segundo o mesmo autor, as vias para administração podem ser oral, subcutânea, intra arterial, intravesical, intrapleural, intratecal, intraperitoneal, intramuscular e a intravenosa que é a via mais utilizada. Neste aspecto o enfermeiro deve conhecer a viabilidade de cada via, suas vantagens e desvantagens, visto que pode ocorrer o extravasamento do quimioterápico.
O extravasamento das drogas vesicantes ocorre devido a infiltração do quimioterápico no tecido subcutâneo ou intradérmico e esse evento acidental é grave por causar irritação, edema e necrose tecidual (Rosa et al., 2024).
A administração dos quimioterápicos compreende uma ação privativa do enfermeiro, devendo o mesmo, ter conhecimento da atuação destes fármacos, que desempenham suas atividades no processo de divisão e crescimento celular. A assistência de qualidade sucede da compreensão dos efeitos colaterais e sua orientação ao paciente, da administração segura e sem falhas do quimioterápico e da humanização no cuidado, em que deve-se estabelecer vínculo e confiança do paciente, pois a condição patológica e o tratamento acarretam na fragilidade e comprometimento físico, social e emocional do paciente (Silva; Maciel; Queiroz, 2024).
Os requisitos para a via intravenosa e escolha do cateter englobam as condições dos vasos sanguíneos, do tempo de duração da administração do quimioterápico e do estado clínico do paciente. Pode ser realizada por cateter venoso periférico ou por cateter venoso central, e esses dispositivos devem passar por manutenção para evitar riscos de infecção, cabendo ao enfermeiro cuidados com o acesso na salinização ou heparinização, na lavagem e na avaliação de sua funcionalidade (Castro, 2020).
Os efeitos colaterais dos quimioterápicos correspondem a qualquer resposta prejudicial em decorrência do uso do fármaco. A farmacovigilância tem o papel de analisar diligentemente essas reações adversas com o reconhecimento precoce de sua gravidade e o aumento desse tipo de intercorrência, os fatores de risco e advertências em relação a um medicamento. Dessa forma, promove-se segurança e o uso cauteloso das medicações (Fialho, 2021).
A quimioterapia utiliza substâncias que causam efeitos citotóxicos e diversos efeitos colaterais, como dor constante, que variam conforme o tipo e a dose do medicamento (Fialho, 2021). Esses efeitos podem ser controlados com a atuação da enfermagem, que promove a recuperação, adesão e continuidade do tratamento. O enfermeiro também orienta estratégias para lidar com os desafios, buscando tornar o processo menos traumático por meio do controle dos sintomas, uso de terapias farmacêuticas e apoio emocional ao paciente e à família (Martins; Rodrigues, 2022).
A primeira fase no Processo de Enfermagem (PE) é a avaliação do paciente e engloba a coleta de dados e histórico do paciente, que são dados importantes na identificação de alergias prévias do paciente. Outro grupo de efeitos colaterais ocorrem devido às reações de hipersensibilidade, apresentando início súbito pela ação do medicamento quimioterápico. São reações sistêmicas e locais e incluem erupções irritativas na pele, prurido, rinite, edema angioneurótico e anafilaxia. As reações de hipersensibilidade são mais frequentes nas classes terapêuticas de anticorpos monoclonais e derivados de platina (Freitas; Fuly, 2020).
As precauções de enfermagem em pacientes em tratamento quimioterápico, dependem do conhecimento a respeito dos efeitos colaterais e a perspectiva desses pacientes. O enfermeiro desempenha a função de mediador, desenvolvendo táticas para gestão dos efeitos indesejados. Sendo portanto, uma assistência projetada para atender às demandas dos pacientes oncológicos, incorporando suas compreensões, sentimentos e experiências, para garantir a qualidade de vida diante das debilitações causadas por este processo (Amaral, 2020).
O melhor método para os profissionais de enfermagem lidarem com os efeitos colaterais da quimioterapia é através de ações de prevenção. A mesma deve ser realizada por meio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), com um plano de cuidados personalizado para o paciente. Dessa forma, possibilita a minimização das intercorrências indesejáveis e erros no processo do tratamento. A equipe de enfermagem também é responsável pela notificação e registro de todas as intercorrências dos efeitos colaterais durante o tratamento (Santos, 2022).
As Práticas Integrativas e Complementares (PICs) são terapias que auxiliam no alívio da dor, náusea, ansiedade e na preservação da saúde mental dos pacientes em tratamento quimioterápico. Integradas ao SUS, fazem parte do plano terapêutico e ajudam a reduzir efeitos colaterais, promovendo melhor qualidade de vida. A enfermagem utiliza terapias de florais, homeopatia, dança circular e meditação, essas práticas também fortalecem o vínculo com o paciente (Oliveira et al., 2023).
DISCUSSÃO
A atuação da enfermagem na oncologia envolve estratégias essenciais para minimizar os efeitos colaterais dos quimioterápicos e promover a qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, Rosa et al. (2024) enfatizam que o enfermeiro exerce um papel central tanto na prevenção quanto na intervenção diante dos efeitos colaterais, sendo fundamental que sua conduta se baseie em conhecimento técnico e científico sobre os fármacos e suas vias de administração.
Dentre os principais efeitos colaterais relacionados à quimioterapia, Fialho (2021) cita mielossupressão, náuseas, vômitos, fadiga, alopecia, alterações gastrointestinais e mucosite. Martins e Rodrigues (2022) complementam como sintomas como a perda de apetite, hematomas e sangramentos.
Amaral (2020) também aponta febre, trombocitopenia, alterações cutâneas, mialgia e dor. Em casos mais graves, há ainda reações de hipersensibilidade, como anafilaxia, comuns com derivados de platina (Freitas; Fuly, 2020). Esses sintomas estão relacionados às diferentes classes dos quimioterápicos (tabela 2).
Tabela 2. Relação entre as classes de quimioterápicos e seus efeitos colaterais

Fonte: Adaptado pelos próprios autores de KATZUNG; VANDERAH (2022)
Silva et al. (2021) apresentam que as principais ações de enfermagem na gestão dos efeitos colaterais são o manejo de sintomas adversos causados pela quimioterapia por meio de material educativo feito pelos próprios enfermeiros, intervenções farmacológicas dos sintomas causados pelos efeitos colaterais e monitorização dos efeitos causados pelo tratamento.
Freitas e Fuly, (2020) dizem que diante do aparecimento dos efeitos colaterais deve-se interromper a medicação imediatamente, porém o acesso venoso deve ser preservado com a solução de salina, sendo essencial colocar o paciente em decúbito dorsal, monitorar seus sinais vitais a cada 2 – 5 minutos e avaliar a via aérea e a respiração.
Nesse contexto, a atuação do enfermeiro na oncologia se destaca pela administração segura de medicamentos, especialmente quimioterápicos, antieméticos e analgésicos opióides. Essa prática deve seguir protocolos assistenciais e ser baseada em evidências, exigindo domínio sobre mecanismos de ação, interações medicamentosas e cuidados durante a infusão. Como destacam Silva et al. (2021) e Fonseca et al. (2021), cabe ao enfermeiro o manejo farmacológico dos efeitos colaterais da quimioterapia, por meio de intervenções seguras, como o uso de ondansetrona para náuseas e morfina para dor intensa.
Outro ponto essencial é a escolha adequada do acesso venoso, sendo o periférico a primeira opção por sua facilidade e menor invasividade. Contudo, como apontado por Faria e Fagundes (2020), veias ressecadas e tortuosas em pacientes oncológicos exigem avaliação criteriosa, com auxílio da percussão cutânea e palpação para evitar extravasamentos. A escolha de veias firmes e de fácil compressão é prioritária.
Quando o acesso periférico não é viável, a segunda escolha é o cateter central de inserção periférica (PICC), indicado para tratamentos de médio a longo prazo. Seu uso reduz o número de punções e proporciona maior conforto ao paciente, porém requer cuidados como salinização regular e avaliação de refluxo para evitar obstruções, a dificuldade de infusão ou ausência de refluxo podem indicar veia entupida ou ressecada (Castro, 2020).
Em casos de terapia prolongada, o Port-a-Cath torna-se a terceira opção e deve ser puncionado exclusivamente por enfermeiros capacitados. Segundo Silva et al. (2022), os cuidados incluem antissepsia rigorosa com clorexidina alcoólica, uso de técnica asséptica nos conectores e observação de sinais de infecção ou trombose. As complicações, como embolia gasosa e extravasamento, demandam intervenção imediata da equipe (Martins; Rodrigues, 2022).
O Ministério da Saúde (Brasil, 2022) reforça que a manutenção de cateteres venosos deve seguir uma rotina de lavagem adequada, troca de curativos com técnica asséptica e uso de barreiras estéreis, sendo responsabilidade da equipe de enfermagem assegurar essas práticas para prevenir complicações.
Silva et al. (2024) destacam que, após a identificação do extravasamento quimioterápico, a enfermagem deve adotar condutas imediatas para minimizar complicações, como a retirada do dispositivo, aspiração do líquido extravasado e realização do curativo. As intervenções subsequentes variam conforme a classe terapêutica do quimioterápico envolvido (Tabela 3).
Tabela 3 . Relação entre as classes de quimioterápicos e as intervenções de enfermagem diante o extravasamento

Fonte: Adaptado pelos próprios autores de Silva et al. (2024)
Neves et al. (2023) salienta ainda a importância da escolha do menor cateter, de acordo com as características de cada paciente e que a infusão dos quimioterápicos sejam feitas sempre em veias calibrosas para evitar o extravasamento.
Outro aspecto essencial é a educação do paciente. Monteiro e Fortes (2022) destacam que o enfermeiro deve orientar sobre os sinais de alerta durante a infusão, promovendo vínculo terapêutico e resposta precoce a intercorrências. Esse vínculo favorece a identificação precoce de intercorrências e permite uma resposta rápida da equipe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu identificar e avaliar as principais intervenções de enfermagem na gestão dos efeitos colaterais causados pelos medicamentos quimioterápicos, demonstrando a importância do papel do enfermeiro durante todas as etapas do tratamento oncológico. Observou-se que os efeitos colaterais mais recorrentes, como náuseas, vômitos, fadiga, mucosite, alopecia e reações de hipersensibilidade, afetam diretamente a qualidade de vida dos pacientes, exigindo ações sistematizadas e individualizadas da equipe de enfermagem.
As intervenções mais relevantes incluem o manejo adequado da dor e de sintomas adversos por meio de medicamentos específicos, cuidados com os acessos venosos (periféricos, PICC e Port-a-Cath), prevenção e conduta frente ao extravasamento, além da constante avaliação e manutenção dos dispositivos. Também se destaca a importância do apoio emocional, da escuta ativa e da educação em saúde, promovendo o vínculo terapêutico com o paciente.
Conclui-se, portanto, que a atuação da enfermagem é fundamental não apenas para a segurança do tratamento quimioterápico, mas também para a humanização do cuidado e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. O papel do enfermeiro vai muito além da administração de medicamentos, englobando a escolha do acesso venoso mais adequado, a prevenção de complicações, o monitoramento contínuo dos efeitos colaterais e a implementação de intervenções eficazes para minimizá-los. Além disso, o suporte humanizado oferecido contribui de forma significativa para o bem-estar físico e emocional do paciente ao longo de todo o processo terapêutico.
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1Alunas do Curso de Enfermagem
2Professor do Curso de Enfermagem