TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR À LUZ DA LOGOTERAPIA

MAJOR DEPRESSIVE DISORDER IN THE LIGHT OF LOGOTHERAPY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506131536


Adriana Paula Rodrigues Silva1
Ana Ligia Ferreira Rodrigues1
Arislanda Benjamin Resende Almeida1
Bianca Pereira de Sousa1
Francisco Alex da Silva Gomes1
Francisco Juanderson dos Santos Oliveira1
Renata Ferreira Oliveira1
Tayane Roberta de Oliveira da Costa Silva1
Saul de Melo Ibiapina Neres2
Savanna de Brito Ximenes Aragão3


Resumo

O presente artigo discorre acerca do TDM sob o olhar da Logoterapia, analisando como essa abordagem teórica, desenvolvida por Viktor Frankl, compreende o sofrimento psíquico e sua relação com a busca por um sentido de vida. Para mais, busca-se discutir como os princípios fundamentais da Logoterapia, como a liberdade de escolha, a responsabilidade e a ressignificação do sofrimento, podem contribuir para o tratamento terapêutico da referida condição mental. Este trabalho é de natureza qualitativa e possui um caráter teórico-reflexivo, apresentando uma análise baseada em referências bibliográficas já existentes, utilizadas como base para a construção e fundamentação das reflexões apresentadas ao longo do texto. A partir da consulta bibliográfica, constatou-se que o TDM tem sua origem antes na dimensão noética, visto que não é observada a manifestação de valores internalizados que impulsionem o indivíduo a buscar a realização de um propósito de vida, levando-o a experienciar uma existência vazia de sentido. Assim, a frustração existencial é tida como núcleo do sofrimento. Para reverter tal quadro psíquico, verificou-se que a Logoterapia tem a pretensão de facilitar a conscientização do homem acerca dos sintomas e da dimensão noética, como também auxiliar no planejamento de condutas favoráveis diante das circunstâncias resultantes da condição mental. Portanto, é necessário salientar que os resultados aqui apresentados não são conclusivos. Dessa maneira, sugere-se a realização de estudos futuros que explorem com maior profundidade os achados apresentados na pesquisa em questão.  

Palavras-chave: Logoterapia; Saúde mental; Depressão; Vazio existencial.

1. INTRODUÇÃO 

Os transtornos depressivos são caracterizados por ocasionar impactos severos na capacidade de funcionamento do indivíduo, comprometendo significativamente a qualidade de vida e o bem-estar. Conforme descrito pelo relatório “Depressão e outros transtornos mentais”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 5,8% da população adulta do Brasil é acometida pela condição psíquica em questão, o que equivale a cerca de 12 milhões de pessoas, sendo considerado o país com a taxa mais elevada de depressão na América Latina (OMS, 2022).

Dentre os diversificados subtipos abarcados pelo transtorno depressivo, esta pesquisa será concentrada no transtorno depressivo maior (TDM), uma forma clássica que compromete aproximadamente 300 milhões de indivíduos em todo o planeta e uma média de 11,5 milhões de habitantes brasileiros. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), em sua 5ª edição de revisão textual (2022), determinada condição mental manifesta-se de maneira intensa, compreendendo sintomas que devem estar presentes no decurso mínimo de duas semanas (Santos; Petrick, 2023).

O critério diagnóstico para o TDM envolve a presença dos seguintes sintomas: humor deprimido, desesperançoso ou triste na maioria dos dias, compreendendo grande porção do dia; diminuição considerável do interesse ou prazer em todas ou maioria das atividades cotidianas; mudança no apetite, incluindo perda ou ganho de peso; insônia ou hipersonia; aceleração ou lentidão psicomotora; fadiga e perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa, envolvendo autoavaliação negativa irrealista; prejuízo dos processos cognitivos, como concentração, memória e tomada de decisão; pensamentos costumeiros de morte, ideação suicida ou tentativa de suicídio (DSM-5-TR, 2022).

O episódio depressivo maior é representado pela exposição de ao menos cinco dos sintomas listados anteriormente, em que um destes obrigatoriamente deve ser correspondente ao humor deprimido ou a diminuição de interesse ou prazer, não sendo decorrentes da ingestão de medicamentos ou outro adoecimento. A aparição do TDM ocasiona agravamento não somente na esfera pessoal, mas também na funcionalidade social e ocupacional do indivíduo (DSM-5-TR, 2022).

O desenvolvimento do transtorno em questão pode apresentar como fatores desencadeantes os infortúnios experienciados durante o estágio infantil, o quadro socioeconômico fragilizado, bem como a herdabilidade. Tal condição psíquica é exibida com maior frequência no gênero feminino, tendo sua aparição de forma intensa e acentuada, geralmente, no período da puberdade, momento onde ocorrem diversas mudanças hormonais, físicas e comportamentais na mulher (DSM-5-TR, 2022).

Diante da complexidade e multifatorialidade que incorpora o TDM, faz-se fundamental realizar o mapeamento não somente da sintomatologia e causas que contornam o adoecimento, mas também das maneiras de tratamento que promovam a redução do deterioramento mental. Dessa maneira, é evidente a necessidade de identificar abordagens da ciência psicológica que demonstrem eficiência diante do transtorno depressivo mencionado neste estudo (Santos; Petrick, 2023).

À vista disso, destaca-se a abordagem Logoterapia, uma escola psicológica de cunho fenomenológico-existencial, sendo também conhecida como “Terapia do Sentido da Vida”. Trata-se de uma teoria desenvolvida a partir dos estudos de Viktor Emil Frankl, tendo uma visão de homem que percorre um caminho inverso às abordagens referência da sua época, como a Psicanálise e a Psicologia Individual, ao propor uma compreensão da existência mediante fenômenos especificamente humanos e a identificação de sua dimensão noética ou espiritual. Tal dimensão abarca a consciência, liberdade e responsabilidade, aspectos essenciais para fundamentar as escolhas e conduzi-las ao encontro do sentido da vida (Frankl, 2022).

Viktor E. Frankl (1905-1997) nasceu em Viena, na Áustria, onde estudou e se formou como médico psiquiatra e neurologista, atuando como professor na Universidade de Viena. Além de terapeuta, Frankl escreveu alguns livros, sendo o mais famoso “Em busca de Sentido”, promovendo a Logoterapia como a terceira escola de psicoterapia de Viena. No livro, o autor relata as suas experiência e observações das outras pessoas, em situações extremas vivenciadas em um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ao passar por essa experiência, Frankl toca na essência do que é ser humano, nas suas potencialidades de transgressão diante de situações extremas, da manutenção da capacidade de liberdade interior, e diante da realidade vivenciada não renunciar ao sentido de vida (Machado, 2015).

A teoria desenvolvida por Frankl (2022), tem como principal ponto a busca pelo sentido da vida, a liberdade de vontade e a vontade de sentido. Para Frankl, o sentido da vida trata-se de uma conquista que pode ser alcançada, independentemente da situação vivenciada, ou seja, refere-se a forma como o indivíduo se posiciona diante das circunstâncias. Na compreensão do autor, a vida possui um sentido em sua totalidade, onde até mesmo a dor possui o seu papel no pleno sentido da vida, promovendo sabedoria e força.

A liberdade de vontade, segundo Frankl (2022), consiste na capacidade que o ser humano possui para ser liberto e independente da determinação e força das influências, sejam elas de natureza biológica, sociológica ou psicológica, por meio da transcendência. Segundo o autor, a liberdade pode ser entendida em três visões diferentes: liberdade das pulsões, em que o indivíduo possui o poder de negá-las ao ponto de dominá-las e não permitir que elas sejam predominantes em sua vida; liberdade perante a herança, onde a liberdade não é algo que se recebe das gerações passadas, mas sim a evidência de uma subjetividade e busca pessoal; liberdade perante o mundo circundante, na qual o autor defende que resulta na capacidade do indivíduo de assumir as suas responsabilidades perante as suas decisões frente ao futuro.

Tratando-se da vontade de sentido, Frankl a vincula com uma característica antropológica denominada de autotranscendência. Tal característica consiste na tendência inata do indivíduo de transcender o próprio “eu”, dedicando-se de forma completa para uma determinada tarefa, ao ponto que essa atividade lhe proporciona uma sensação de completude ao terminá-la. A vontade de sentido é a força que impulsiona o ser humano. Somente quando essa vontade se torna consciente e é buscada ativamente, torna-se possível atribuir um significado verdadeiro à própria existência e encontrar o propósito da vida (Frankl, 2022).  

Durante os seus trabalhos, Viktor Frankl observou diversas questões envolvendo a existência que deram frutos a muitos estudos atualmente. Dentre estas, tem-se a depressão, a qual Frankl classificou oriunda de três origens distintas: Endógena, Psicogênica e Noogênica. A origem endógena se relaciona a fatores orgânicos, a psicogênica está relacionada às causas psicológicas e a noogênica se torna visível através do vazio existencial (Frankl, 2022). 

Isso posto, o presente artigo discorre acerca do TDM sob o olhar da Logoterapia, uma vez que determinada condição psíquica se caracteriza pela ausência de propósito existencial. À vista disso, a Logoterapia mostra-se como uma teoria válida, visando auxiliar o ser humano a estabelecer conexão com o sentido para a própria vida. Logo, esta pesquisa pode contribuir para o fortalecimento do campo científico associado a temática em questão, tendo a funcionalidade de fundamentar estudos futuros, bem como o planejamento de intervenções voltadas para a alteração mental aqui tratada.

Dessa forma, este artigo tem como objetivo geral investigar a perspectiva da Logoterapia sobre o TDM, analisando como essa abordagem teórica, desenvolvida por Viktor Frankl, compreende o sofrimento psíquico e sua relação com a busca por um sentido de vida. De maneira específica, pretende-se explorar a conexão entre o TDM e a ausência de significado existencial, entendendo de que forma a falta de propósito pode influenciar no agravamento do sofrimento emocional. Além disso, busca-se discutir como os princípios fundamentais da Logoterapia, como a liberdade de escolha, a responsabilidade e a ressignificação do sofrimento, podem contribuir para a abordagem terapêutica da referida condição mental, oferecendo novos caminhos para a compreensão e o enfrentamento desse transtorno.

2. METODOLOGIA

Este trabalho é de natureza qualitativa e possui um caráter teórico-reflexivo. A pesquisa foi elaborada com o objetivo de compreender, a partir da Logoterapia, como a ausência de sentido da vida pode contribuir para o agravamento da depressão profunda. Dessa forma, não se trata de uma investigação empírica com aplicação de instrumentos ou coleta de dados em campo, mas sim de uma análise baseada em referências bibliográficas já existentes, que serviram como base para a construção e fundamentação das reflexões apresentadas ao longo do texto.

A coleta das fontes teóricas foi realizada durante os meses de março e abril, no recorte temporal de 2013 a 2025, sendo considerada a relevância dos autores para o campo da psicologia, especialmente no que se refere aos temas centrais da pesquisa: Logoterapia, saúde mental, depressão e vazio existencial. Foram selecionados para análise estudos disponíveis gratuitamente nas bases de dados Google Acadêmico, Portal de Periódicos CAPES, Scielo, Scribd e Portal da Organização Mundial da Saúde. O critério de escolha se pautou na coerência com os objetivos da presente pesquisa e na atualidade das publicações, além do alinhamento com a proposta de investigar a relação entre sofrimento psíquico e a busca por sentido.

O desenvolvimento da análise ocorreu por meio da leitura, interpretação e articulação crítica do conteúdo encontrado nas obras estudadas. A construção do texto foi feita com base na tentativa de relacionar os conceitos da Logoterapia com os desafios enfrentados por pessoas em sofrimento depressivo, buscando compreender de que maneira a perda de sentido pode impactar a experiência subjetiva desses indivíduos. Assim, a metodologia adotada permitiu uma reflexão aprofundada, sem pretensões de generalização, mas com o intuito de ampliar o olhar sobre a temática abordada.

3. RESULTADOS 

Para verificar o impacto da hipnose no alívio da dor, faz-se necessário o conhecimento dos mesmos, para que então se possam alcançar os objetivos esperados. Portanto, foram encontrados 86 artigos dos quais 6 artigos foram selecionados com um total de 755 pessoas envolvidas nos achados. Os dados obtidos podem ser analisados nos quadros 1 e 2.

Quadro 01 – Distribuição dos estudos quanto à base de dados, tipo de estudo e ano

Base de dadosTipo de estudoAno
PubMedTeste controlado e aleatório2022
PubMedEnsaio clínico randomizado2021
PubMedEnsaio clínico randomizado2020
PubMedEnsaio clínico randomizado2023
PubMedEnsaio clínico randomizado2020
BVSEnsaio clínico randomizado2022

Fonte: próprios autores, 2024

Quadro 03 – Distribuição dos estudos quanto à autoria, título, objetivo, principais achados

Autor(es)/ AnoTítuloObjetivoPrincipais achados





Terzulli et al., 2022
Efeito da hipnose de realidade virtual no limiar de dor e biomarcadores neurofisiológicos e autonômicos em voluntários saudáveis: estudo prospectivo cruzado randomizadoCaracterizar os efeitos do VRH no limiar de dor ao calor entre voluntários adultos saudáveis ​​​​enquanto monitoramos diversas funções fisiológicas e autonômicas.Similar aos tratamentos tradicionais de hipnose, o método hipnose de realidade virtual (VRH) empregado neste estudo inclui um “período de indução” (geralmente um convite para concentrar a atenção) e um período de “dissociação” (separação entre o mental e o ambiente), seguido por sugestões para a redução da dor, como a analgesia.







Geoffroy et al., 2021


Eficácia de uma combinação de hipnose e estimulação elétrica nervosa transcutânea para dor crônica não oncológica: um ensaio clínico randomizado


Avaliar o alívio da dor em três meses, comparando uma combinação simultânea de hipnose e TENS (intervenção) com TENS isoladamente (controle).
A hipnose pode ser realizada por um profissional de saúde e os pacientes também podem praticar auto-hipnose em casa para ajudar a controlar a dor. Diversos estudos indicaram que a hipnose, por si só, pode reduzir a dor em pacientes com dor crônica não oncológica. Além disso, meta-análises sugerem que a hipnose pode ser mais eficaz do que os tratamentos convencionais para esses pacientes, quando avaliada após algumas semanas até seis meses de sessões de hipnose.




Nowak et al., 2020
Efeito das sugestões terapêuticas durante a anestesia geral na dor pós-operatória e no uso de opioides: ensaio multicêntrico randomizado e controladoInvestigar o efeito das sugestões terapêuticas transmitidas aos pacientes por meio de fones de ouvido durante a cirurgia na dor pós-operatória e no uso de opioides.Elaboraram e registraram o texto, fundamentado em princípios de hipnoterapia, abordando tópicos como a competência e o cuidado da equipe cirúrgica e de anestesia, a regulação da dor, a dissociação para um local seguro, afirmações positivas, o controle da ansiedade e a promoção da confiança.







Gullo et al., 2023 




Virtually Augmented Self-Hypnosis in Peripheral VascularIntervention: A Randomized Controlled Trial

Investigou a eficácia da auto-hipnose virtualmente aumentada como um método não farmacológico adjuvante para dor processual e alívio da ansiedade durante intervenções endovasculares (EVI).
No modelo operacional da função interruptiva da dor, a dor é vista como um tipo de informação. Em certos casos, pode ser necessário selecionar e focar essas informações sobre a dor. Visto que a atenção é um recurso limitado que precisa ser dividido entre diferentes tarefas, exceder essa capacidade pode levar a um pensamento mais lento e a comportamentos ineficazes ou interrompidos. Para indivíduos que têm dificuldade com imaginação e absorção, a utilização da realidade virtual (VR) 3D pode ser benéfica.





Garcia et al., 2020


Hipnose versus placebo durante a ablação de vibração atrial: o estudo PAINLESS: um ensaio clínico randomizado


Avaliar a superioridade da hipnose versus placebo na percepção da dor e no consumo de morfina durante a ablação do flutter atrial típico (FLA).
A hipnosedação combina hipnose com anestesia locorregional e pequenas quantidades de analgésicos intravenosos. Relatos de casos, séries de casos e estudos prospectivos não randomizados recentemente indicaram que essa técnica é mais eficaz do que a analgesia convencional durante procedimentos eletrofisiológicos.



Oliveira et al., 2022
Efeito de sugestões hipnóticas específicas sobre a nocicepção mecânicae térmica em voluntários saudáveis: estudo randomizado e duplo-cegoAvaliar a resposta mecânica e térmica após sugestões hipnóticas específicasem voluntários saudáveis.Embora existam muitas evidências sobre a eficácia da hipnose na terapia da dor, tanto crônica quanto aguda, pouco se sabe sobre seu impacto direto na modulação da nocicepção. A resposta à intervenção hipnótica varia entre os indivíduos, com a suscetibilidade hipnótica sendo um fator crucial que determina a eficácia analgésica e, consequentemente, o sucesso do tratamento.

Fonte: próprios autores, 2024

4. DISCUSSÕES

O avanço de ferramentas digitais, como sistemas portáteis de realidade virtual (VR), oferece uma oportunidade singular para o tratamento da dor. Estas ferramentas podem integrar diversos métodos não farmacológicos em soluções de eHealth fáceis de usar. Os headsets de VR totalmente imersivos isolam os usuários do “mundo real” e os transportam para um ambiente virtual 3D alternativo e agradável. Quando bem implementados, esses ambientes de VR podem efetivamente reduzir a sensação de dor (Terzulli et al., 2022). No ensaio clínico realizado por Gullo et al. (2023), a média de ansiedade (pré e pós) foi significativamente reduzida tanto dentro dos grupos quanto entre os grupos. A taxa de resposta na redução da ansiedade foi de 76% para o grupo de realidade virtual e 46% para o grupo de tratamento usual. Os dois grupos não apresentaram diferenças significativas na intensidade média da dor sensorial e na dor emocional afetiva (pré e pós) medida pela Escala Visual Analógica, nas memórias negativas relacionadas à dor lembrada após 3 meses, no tempo médio do procedimento ou na necessidade de medicamentos analgésicos ou sedativos.

O estudo realizado por Terzulli et al. (2022) examinou o efeito da Hipnose de Realidade Virtual (VRH) nos limiares de dor e nos Potenciais Evocados por Calor de Contato em resposta a estímulos de calor em adultos saudáveis (tanto homens quanto mulheres). Durante o protocolo de estimulação, foram monitoradas mudanças em diversos parâmetros fisiológicos. Os resultados mostraram que o VRH aumentou o limiar de dor ao calor, reduziu a frequência respiratória média durante a sessão de VRH e aumentou a relação entre os tons parassimpático e simpático, conforme evidenciado pela estabilidade das respostas de condutância da pele e pelo aumento do escore índice de analgesia e nocicepção.

Os participantes foram divididos em três grupos: a) um grupo que não recebeu hipnose (grupo sham), b) um grupo que teve dor induzida por hipnose e c) um grupo que recebeu hipnose para induzir analgesia. Para os últimos dois grupos, foram dadas sugestões hipnóticas para aumentar ou diminuir a sensação de dor, visando controlar suas experiências dolorosas. Houve diferenças significativas nos limiares de dor por calor e por frio em ambos os grupos que experimentaram dor e aqueles que foram submetidos à analgesia por hipnose. O grupo que experimentou dor mostrou uma redução nos limiares de dor após a hipnose, significando que começaram a sentir dor em temperaturas mais baixas do que antes da hipnose. O mesmo ocorreu para o estímulo por frio. Por outro lado, o grupo sham não teve mudanças significativas em suas sensações de temperatura. Já o grupo de analgesia, após a sugestão hipnótica específica, apresentou um aumento nos limiares de dor tanto para calor quanto para frio, o que indica uma resposta mais tardia aos estímulos dolorosos e um aumento na tolerância às mudanças de temperatura (Oliveira et al., 2022).

No ensaio de Garcia et al. (2020), um hipnoterapeuta realizou uma sessão Ericksoniana em três etapas: primeiro, usando fixação e visualização para induzir a hipnose; depois, ancorando o estado hipnótico por meio de afirmações repetidas; finalmente, conduzindo o despertar gradualmente. O objetivo era alcançar um estado semelhante ao transe, caracterizado por relaxamento muscular, respiração lenta e pálpebras tremendo. Se necessário, o terapeuta recorria à hipnose conversacional.

O ensaio clínico feito por Oliveira et al. (2022), mediu a sensibilidade à dor periférica transmitida por fibras sensoriais finas (C) ou grossas do sistema nervoso periférico, permitindo a determinação de limiares basais e de dor por meio de estímulos mecânicos e térmicos. Também possibilita a detecção de condições como hiperalgesia ou hiperpatia. Os dados apresentados indicaram que sugestões hipnóticas específicas modificaram a sensibilidade exteroceptiva, tanto mecânica quanto térmica, em relação à dor e analgesia em indivíduos saudáveis.

Os resultados do estudo de Terzulli et al. (2022), indicaram que o gerenciamento de VRH é efetivo para aumentar a tolerância à dor térmica e influenciar as funções autonômicas em indivíduos saudáveis. Como uma abordagem não medicamentosa, a VRH demonstra benefícios na redução da dor aguda experimental causada pelo calor. A eficácia dessa abordagem deve ser examinada para o tratamento de outras formas de dor, como a dor crônica.

No que diz respeito à nocicepção mecânica, os resultados mostraram que a hipnose foi capaz de provocar hiperalgesia e alodinia no grupo exposto à dor, intensificando a sensação dolorosa. Em contraste, o grupo analgésico apresentou uma menor sensibilidade a estímulos dolorosos repetidos após a hipnose (Oliveira et al., 2022). 

No estudo de Nowak et al. (2020), pacientes ouviram uma fita de áudio com música e sugestões positivas durante a cirurgia para avaliar o efeito na dor pós-operatória e no uso de opioides. Comparado ao grupo controle, que ouviu uma fita em branco, o grupo de intervenção precisou de menos opioides nas primeiras 24 horas e apresentou escores de dor 25% mais baixos. 

O ensaio clínico randomizado e controlado de Garcia et al. (2020), comparou a hipnose com o placebo durante a ablação de AFL. O grupo de hipnose apresentou um escore médio de dor de 4,0 ± 2,2, enquanto o grupo placebo teve um escore de 5,5 ± 1,8. A percepção da dor, medida a cada 5 minutos ao longo do procedimento, foi consistentemente menor no grupo de hipnose. Os escores de sedação também foram melhores no grupo de hipnose em comparação com o grupo placebo (8,3 ± 2,2 vs. 5,4 ± 2,5; p < 0,001). Além disso, a necessidade de morfina foi significativamente menor no grupo de hipnose (1,3 ± 1,3 mg) em relação ao grupo placebo (3,6 ± 1,8 mg).

De acordo com Geoffroy et al. (2021), o seu estudo é o primeiro randomizado e controlado a demonstrar uma redução na intensidade da dor e um alto nível de adesão ao uso da estimulação elétrica nervosa transcutânea, tanto isoladamente quanto combinada com a hipnose. No entanto, os resultados mostraram que a combinação dessas duas estratégias não farmacológicas não foi mais eficaz do que o uso de cada uma separadamente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hipnose tem se mostrado uma aliada promissora no alívio da dor, oferecendo uma abordagem complementar e não invasiva para o tratamento da dor crônica e aguda. Evidências de estudos indicam que a hipnose pode reduzir significativamente a percepção da dor e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Além disso, a hipnose apresenta uma série de vantagens: não envolve o uso de medicamentos, o que reduz o risco de efeitos colaterais e dependência, e pode ser personalizada de acordo com as necessidades específicas de cada paciente. A flexibilidade do tratamento, que pode ser adaptado para diferentes contextos e situações, permite que pacientes mantenham um maior controle sobre a gestão de sua dor.

Outra vantagem é o potencial da hipnose para ser integrada a outras modalidades de tratamento. Ela pode complementar terapias físicas, psicológicas e farmacológicas, oferecendo uma abordagem holística e multifacetada para o manejo da dor. 

Entretanto é pertinente considerar algumas limitações do estudo, pelas escolhas dos booleanos e/ou o marco temporal elencado, o que pode inferir em possíveis exclusões de outros estudos nessa área o que pode servir de incentivo para mais pesquisas sobre essa ferramenta valiosa.

Em conclusão, a hipnose representa uma opção valiosa e eficaz para o manejo da dor. Ao ser incorporada aos tratamentos convencionais, ela tem o potencial de amplificar os resultados terapêuticos, proporcionar alívio significativo e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. À medida que mais pesquisas são conduzidas e a prática da hipnose se torna mais difundida, espera-se que seu papel no tratamento da dor continue a crescer, beneficiando um número crescente de indivíduos que sofrem de dores crônicas e agudas.

REFERÊNCIAS

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Lima, A. da S.; Evangelista, N. N. L. Vazio Existencial e o Sentido da Vida: Um Ensaio Teórico acerca da Aplicação Clínica da Logoterapia. ID on line. Revista de psicologia, v. 19, n. 75, p. 62-72, 2025.

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1Discentes do Curso Superior de Bacharelado em Farmácia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri e-mail: Franciscoalex3@hotmail.com, robertathayane445@gmail.com, biancaa5436@gmail.com, arislandaresende18@gmail.com, Juanderssonlopezzz@gmail.com, renataferreiraoliveira20.info@gmail.com, analigiaferreirarodrigues@gmail.com, adrianapaulars1972@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Psicologia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Políticas Públicas (UNISANTOS). e-mail: saulneres@gmail.com
3Docente do Curso Superior de Psicologia da Christus Faculdade do Piauí Campus Piripiri. e-mail: savannaximenes@hotmail.com