A HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ALCOÓLATRA

HUMANIZATION OF NURSING CARE FOR ALCOHOLIC PATIENTS

HUMANIZACIÓN DE LA ATENCIÓN DE ENFERMERÍA AL PACIENTE ALCOHÓLICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506120923


Barbara Luiza Marques Teixeira¹; Juliane Fernandes de Araújo²; Vanessa Silva Couto³; Karinne Pinto Gisto⁴; Stephanie Navarro Vieira⁵; Maria Grasiele Gonçalves Rosa⁶; Raíssa Martins de Ávila⁷; Hyorrana Priscila Pereira Pinto⁸.


RESUMO

O alcoolismo é uma doença que compromete a saúde física, mental e social do indivíduo. A enfermagem tem papel essencial na identificação precoce, cuidado humanizado e apoio à reabilitação, com estratégias que envolvem o paciente e a família, promovendo qualidade de vida e reintegração social. O objetivo do estudo é compreender o papel da enfermagem na assistência ao paciente alcoólatra. Trata-se de uma revisão de literatura. O artigo evidencia que o alcoolismo é uma condição multifatorial com impactos físicos, psíquicos e sociais, afetando não apenas o indivíduo, mas também sua família e comunidade. Ressalta a importância da atuação da enfermagem no cuidado integral e humanizado, com foco em escuta, vínculo, diagnóstico preciso e apoio à reinserção social, visando à recuperação e prevenção de recaídas. Por fim, enfatiza-se a importância do cuidado de enfermagem, políticas públicas, formação profissional e pesquisas para melhorar o tratamento, reduzir o estigma e promover reinserção social, reconhecendo o alcoolismo como um problema de saúde pública.

Palavras-chave: Enfermagem; Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool; Cuidados de Enfermagem; Família; Serviços de Saúde Mental.  

ABSTRACT

Alcoholism is a disease that compromises the physical, mental and social health of the individual. Nursing plays an essential role in early identification, humanized care and rehabilitation support, with strategies that involve the patient and the family, promoting quality of life and social reintegration. The objective of the study is to understand the role of nursing in the care of alcoholic patients. This is a literature review. The article shows that alcoholism is a multifactorial condition with physical, psychological and social impacts, affecting not only the individual, but also their family and community. It highlights the importance of nursing in comprehensive and humanized care, focusing on listening, bonding, accurate diagnosis and support for social reintegration, aiming at recovery and prevention of relapses. Finally, the importance of nursing care, public policies, professional training and research to improve treatment, reduce stigma and promote social reintegration is emphasized, recognizing alcoholism as a public health problem.

Keywords: Nursing; Alcohol Use Disorders; Nursing Care; Family; Mental Health Services.

INTRODUÇÃO

O alcoolismo é uma condição patológica resultante do consumo excessivo e prolongado de álcool, configurando-se como um grave problema de saúde pública. A dependência química impacta profundamente não apenas a vida do indivíduo, mas também suas relações familiares, sociais e o bem-estar da comunidade. O uso abusivo de álcool está entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças crônicas e agudas, além de estar fortemente associado a acidentes de trânsito, violência doméstica e transtornos psicoemocionais (Zanardo; Millani, 2024).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o alcoolismo é uma doença progressiva que afeta o sistema nervoso central, podendo levar à dependência física e psicológica. Suas consequências incluem sérias complicações para a saúde, como doenças hepáticas, cardiovasculares e psiquiátricas, além de comprometer a qualidade de vida e as relações interpessoais do indivíduo. O fígado, por ser o principal órgão responsável pela metabolização do álcool, é um dos mais afetados, e o consumo prolongado pode resultar em cirrose hepática, uma das complicações mais graves do alcoolismo, podendo evoluir para insuficiência hepática (Zanardo; Millani, 2024).

Diante desse cenário, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na identificação precoce do consumo prejudicial de álcool, no acolhimento do paciente e no estabelecimento de uma relação terapêutica. A assistência de enfermagem envolve a avaliação da saúde, o acompanhamento da abstinência, o aconselhamento e a implementação de estratégias para a mudança de comportamento, como a prevenção de recaídas e o estímulo à adesão ao tratamento. Além disso, a participação da família é considerada essencial para o sucesso da reabilitação, sendo incentivada por meio de entrevistas e grupos de apoio. Dessa forma, a abordagem integral do enfermeiro visa proporcionar uma assistência contínua e humanizada, promovendo a melhoria da qualidade de vida e a reintegração social do paciente (Pillon; Margarita, 2004).

Este estudo se justifica pela importância do cuidado de enfermagem no tratamento de pacientes com dependência alcoólica, não se limitando à abordagem terapêutica voltada ao indivíduo, mas também oferecendo suporte necessário às suas famílias, que frequentemente enfrentam desafios emocionais e psicológicos. Sendo necessário destacar as estratégias de intervenção que promovam a saúde integral do paciente, abordando aspectos como empatia, comunicação efetiva e educação em saúde, visando à melhoria da qualidade de vida e à recuperação dos envolvidos.

Assim elencou-se como objetivo: Compreender o papel da enfermagem na assistência ao paciente alcoólatra.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica, de natureza descritiva e qualitativa. A seleção do referencial teórico foi realizada nas plataformas digitais: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). 

Foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos publicados em língua portuguesa, publicados nos últimos 5 anos (entre 2020 e 2025) disponíveis na íntegra e relacionados à temática do estudo. Como critérios de exclusão, foram descartados estudos em outros idiomas, que fugiram da temáticas e estudos incompletos e/ou duplicatas. 

A estratégia de busca foi baseada na utilização de descritores controlados conforme o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), sendo eles: “Enfermagem”, “Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool”, “Cuidados de Enfermagem”, “Família” e “Serviços de Saúde Mental”. Os descritores foram combinados com o auxílio do operador booleano AND, a fim de refinar os resultados e garantir maior especificidade na seleção dos estudos. A análise dos dados foi conduzida de forma descritiva. 

RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A partir da revisão realizada foram elencados 5 artigos para discussão, sendo eles, descritos no quadro 1: 

Quadro 1: Quadro sinóptico

AutoresAno de PublicaçãoMetodologiaPrincipais contribuições
Silva et al2021Estudo exploratório, transversal O estudo mostra o quanto é importante a assistência da enfermagem perante esse tipo de paciente, para sua melhoria, tanto no serviço prestado, como na sua melhoria social e familiar. A atenção à saúde não deve ser negada em hipótese alguma, pois são cidadãos que se encontram, de certa forma excluída da sociedade e, é de responsabilidade dos órgãos competentes e profissionais da saúde, oferecer uma assistência de enfermagem digna e humanizada, visando à reintegração deste paciente à sociedade.
Barbosa, Silva, Sousa 2020Estudo exploratório descritivo O profissional de enfermagem tem seu papel reconhecido pelos usuários que se favorecem do serviço e desempenha suas atividades de maneira humanizada acarretando benefícios ao tratamento dos adictos.
Guimarães et al2019Estudo de casoA enfermagem tem especial importância na execução das ações de educação em saúde e tratamento de alcoolistas prevenindo as complicações da doença.
Mariano et al2020Relato de experiênciaEvidencia que o trabalho em equipe e multidisciplinar é de extrema importância para a assistência integral de qualidade à saúde do paciente e de sua família. Entender as necessidades básicas do indivíduo e as transformações físicas e psicológicas do paciente alcoólatra permitem identificar o problema e buscar soluções, de forma simples e dinâmica, para que este possa reestabelecer a sua qualidade de vida.
Bardaquim, Dias, Robazzi2023Relato de experiência A Sistematização da Assistência de Enfermagem é uma ferramenta laboral essencial para o acompanhamento e eficácia do tratamento ambulatorial, além de minimizar os danos decorrentes do uso de substâncias psicotrópicas, é útil para a reinserção social do indivíduo e facilita o trabalho do enfermeiro.
Fonte: Dados da pesquisa, 2025.


A Reforma Psiquiátrica no Brasil teve um marco fundamental com a promulgação da Lei Federal nº 10.216/2001, que redirecionou o modelo assistencial em saúde mental, priorizando o cuidado comunitário e em liberdade. Essa legislação consolidou os princípios de um novo paradigma de atenção, afastando-se da lógica hospitalocêntrica e segregadora que, por décadas, predominou nas instituições psiquiátricas. Nesse contexto, o Ministério da Saúde, já em 1992, por meio da Portaria nº 224, iniciou o financiamento e a normatização de novos serviços voltados à saúde mental, estabelecendo diretrizes para a implantação dos Núcleos e Centros de Atenção Psicossocial (NAPS/CAPS). Esses centros passaram a representar uma alternativa concreta de cuidado territorializado, interdisciplinar e centrado no sujeito (Bardaquim; Dias; Robazzi, 2023).

Em 2002, a Portaria GM/MS nº 336 redefiniu os CAPS no âmbito federal, incluindo modalidades específicas, como os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas – CAPS AD II. Estes foram concebidos como serviços especializados no atendimento a pessoas com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, ampliando o escopo da política de saúde mental para incluir, de forma mais efetiva, os usuários de álcool e outras drogas (Barbosa; Silva; Sousa, 2020).

Com a criação dos CAPS, regulamentou-se também a composição das equipes mínimas necessárias para o funcionamento desses serviços. De acordo com Silva et al (2021), a equipe de enfermagem, composta por enfermeiros, técnicos e auxiliares, passou a ocupar um papel essencial no cuidado a usuários de álcool e outras drogas. Essa ampliação representou um avanço na qualificação do atendimento e na cobertura dos serviços em todo o território nacional, promovendo uma atuação mais próxima, acolhedora e contínua.

No entanto, apesar dos avanços estruturais e legais, desafios persistem, a adesão aos programas de tratamento, como os ofertados pelo CAPS AD, ainda é significativamente baixa. Tal situação evidencia barreiras persistentes como o estigma social, a negação da própria condição, a desinformação e o difícil acesso aos serviços de saúde. Esses obstáculos contribuem para que muitas pessoas não procurem ajuda, perpetuando o sofrimento e a exclusão (Silva et al., 2021).

Além disso, destaca-se a importância da substituição do termo “alcoolismo” por “Síndrome de Dependência do Álcool” (SDAS), um avanço conceitual relevante. Essa mudança contribui para a superação de visões moralistas e reducionistas, reconhecendo a dependência como uma condição multifatorial, de caráter progressivo e influenciada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais (Silva et al., 2021; Barbosa; Silva; Sousa, 2020).

O alcoolismo, ao comprometer de forma progressiva e crônica a saúde física e mental do indivíduo, manifesta-se como uma síndrome complexa, associada a comorbidades graves, como doenças hepáticas, cardiovasculares, distúrbios neurológicos e transtornos mentais, incluindo depressão e ansiedade (Barbosa; Silva; Sousa, 2020). 

O padrão persistente do uso abusivo de álcool, mesmo diante de consequências negativas, evidencia o quanto o alcoolismo ultrapassa os limites do comportamento voluntário e passa a ser compreendido como uma condição de dependência, que requer cuidado contínuo, individualizado e empático (Bardaquim; Dias; Robazzi, 2023). Essa condição compromete a autonomia do sujeito, sua capacidade funcional, suas relações interpessoais e pode levá-lo a situações de vulnerabilidade social e legal, como a negligência de responsabilidades ou o envolvimento em acidentes e conflitos familiares (Silva et al., 2021). 

A discussão sobre as implicações do consumo abusivo de álcool envolve uma análise ampla que ultrapassa os efeitos imediatos da embriaguez e revela um conjunto complexo de consequências individuais, familiares e sociais. A ingestão excessiva e frequente de álcool é um fator determinante para a ocorrência de inúmeros problemas, como mortes prematuras, incapacidades físicas e mentais, baixa produtividade no trabalho, desemprego, violência doméstica, práticas criminosas, rupturas familiares, isolamento social e prejuízos financeiros (Mariano et al., 2020). 

O alcoolismo deve ser compreendido não apenas como uma condição clínica individual, mas como uma problemática que afeta diretamente o núcleo familiar. Cada membro da família interage com a realidade da dependência de forma singular, influenciado por aspectos genéticos, psíquicos e culturais herdados de gerações anteriores. Nesse sentido, o alcoolismo é também um fenômeno transgeracional, que pode perpetuar padrões disfuncionais de comportamento e sofrimento dentro do ambiente familiar (Guimarães et al., 2019). 

Conforme Barbosa; Silva; Sousa (2020) a família, enquanto instituição fundamental para o desenvolvimento do ser humano, representa o primeiro espaço de socialização, cuidado e formação de valores. É nela que o indivíduo encontra apoio emocional, segurança e identidade. Assim, quando o alcoolismo afeta um de seus membros, todo o sistema familiar é impactado. As relações podem se tornar conflituosas, a comunicação tende a se fragilizar e o sofrimento se dissemina entre os demais integrantes. 

A participação da família nas atividades promovidas pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) é apontada como uma estratégia importante para fortalecer a reabilitação e contribuir para a reinserção social do indivíduo. O texto propõe, inclusive, que o seio familiar seja resgatado como espaço de pertencimento e apoio contínuo, mesmo quando o ambiente do CAPS já é percebido pelos usuários como um novo lar (Barbosa; Silva; Sousa, 2020).

Viver em um ambiente marcado pelo uso abusivo de álcool – o chamado “ambiente alcoolista” – expõe os membros da família, especialmente os filhos, a níveis elevados de estresse, negligência emocional e até violência, o que pode influenciar negativamente seu desenvolvimento psíquico e social (Guimarães et al., 2019). O ciclo de sofrimento se perpetua: desavenças, perda da confiança, culpa e medo tornam-se sentimentos comuns em lares onde há um dependente de álcool. Como resultado, há uma maior incidência de transtornos emocionais, como ansiedade e depressão, não apenas no usuário, mas também em seus familiares (Mariano et al., 2020).

Dessa forma, ao se discutir o alcoolismo, para Bardaquim; Dias; Robazzi (2023) descrevem esse vínculo como uma relação acolhedora, marcada por confiança mútua, o que fortalece o processo de reabilitação. A construção de laços afetivos e o reconhecimento da responsabilidade do próprio usuário na sua recuperação são pontos fundamentais destacados na análise.

Um dos aspectos centrais discutidos pelos autores é o papel motivador dos profissionais de enfermagem na luta contra a dependência química. Esse incentivo, no entanto, é apresentado como ainda mais eficaz quando há o envolvimento ativo da família do usuário. A presença familiar é vista não apenas como apoio emocional, mas como parte integrante do processo terapêutico. Isso reforça uma abordagem biopsicossocial, em que o cuidado em saúde mental não se limita ao tratamento individual, mas envolve redes de apoio e a reconstrução de vínculos sociais (Bardaquim; Dias; Robazzi, 2023). 

A interdisciplinaridade é apresentada por Barbosa; Silva; Sousa (2020) como uma estratégia educativa e terapêutica essencial para promover o cuidado integral ao usuário dos serviços de saúde mental. Ao reunir uma equipe ampla e diversa — que inclui profissionais da saúde, da área social, da educação, da administração e até das atividades manuais e físicas — o CAPS amplia suas possibilidades de atuação. Essa diversidade permite a valorização das múltiplas dimensões do ser humano, indo além da clínica tradicional e atendendo às necessidades psicossociais, afetivas, cognitivas e culturais dos usuários.

Cada profissional contribui com suas competências específicas para a construção do plano terapêutico singular, respeitando a individualidade, os desejos e os limites de cada paciente. O envolvimento de profissionais como artesãs, educadores físicos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, por exemplo, é crucial para oferecer atividades terapêuticas significativas que estimulem a autonomia, o senso de pertencimento e a reinserção social (Silva et al., 2021).

Nesse sentido, o cuidado de enfermagem no CAPS não se resume ao cumprimento de normas e rotinas padronizadas, mas sim à construção cotidiana de práticas de escuta, acolhimento e diálogo. A enfermagem é apresentada como uma profissão com grande potencial de efetividade no cuidado psicossocial, justamente por sua presença constante no cotidiano dos usuários e pela possibilidade de desenvolver vínculos terapêuticos sólidos. A escuta ativa, por sua vez, é diferenciada da simples audição: exige empatia, presença e disponibilidade interna, tornando-se um ato político e ético de reconhecer o outro em sua complexidade (Bardaquim; Dias; Robazzi, 2023).

Silva et al (2021) reforçam essa concepção ao lembrar que devemos “aprender a ser”, partilhar e comunicar, reconhecendo que o paciente com transtornos mentais “é outro de nós”. Essa perspectiva humanizadora e dialógica rompe com a lógica excludente e estigmatizante historicamente atribuída às pessoas em sofrimento psíquico e promove um cuidado que respeita a dignidade humana.

Nesse cenário, a enfermagem ocupa um lugar central no enfrentamento dessa problemática. Sua atuação não se restringe ao manejo clínico dos sintomas decorrentes da dependência, mas se estende à escuta qualificada, à orientação educativa, à prevenção de recaídas e ao apoio à reintegração social do paciente. Sendo necessário que o profissional de enfermagem reconheça as especificidades do paciente com SDAS, adaptando o plano de cuidado ao grau de comprometimento do organismo e às necessidades psicossociais apresentadas (Guimarães et al., 2019).

A anamnese eficaz, construída a partir de uma comunicação empática e respeitosa, é fundamental para um diagnóstico de enfermagem preciso e, consequentemente, para um cuidado resolutivo. Isso demanda do enfermeiro competências técnicas, sensibilidade humana e habilidades de motivação, permitindo o desenvolvimento de um vínculo terapêutico que sustente o paciente no enfrentamento da dependência (Mariano et al., 2020).

Além disso, a atuação da enfermagem deve considerar os contextos familiar e comunitário do paciente, promovendo ações que envolvam sua rede de apoio, uma vez que o sucesso do tratamento está fortemente relacionado ao fortalecimento desses vínculos. Ao promover a escuta ativa, o acolhimento e o acompanhamento contínuo, o enfermeiro contribui não apenas para a melhora clínica do paciente, mas também para sua autonomia, autoestima e reinserção social (Silva et al., 2021). A criação de vínculo é fundamental para que o paciente se sinta seguro e acolhido, o que aumenta sua adesão ao tratamento. 

Durante o tratamento, a enfermagem tem um papel ativo na administração de medicamentos, na monitoração de sinais vitais e nas intervenções voltadas à prevenção de complicações clínicas, como a síndrome de abstinência alcoólica, que pode ser grave e até fatal se não for manejada adequadamente. No entanto, o cuidado não se limita ao aspecto físico, o enfermeiro deve também estar atento aos sinais de sofrimento psíquico, como ansiedade, depressão e isolamento, oferecendo suporte emocional e, quando necessário, encaminhando o paciente para atendimento psicológico ou psiquiátrico (Silva et al., 2021).

Outro aspecto relevante é o trabalho educativo realizado pela enfermagem, uma vez que o enfermeiro deve orientar o paciente e seus familiares sobre os efeitos do álcool, os riscos da recaída e a importância da continuidade do tratamento, mesmo após a estabilização clínica (Mariano et al., 2020). A enfermagem também atua na articulação com a rede de atenção psicossocial, promovendo o cuidado em saúde de forma intersetorial e contínua. Isso inclui o diálogo com os CAPS AD, serviços de saúde da família, hospitais e organizações comunitárias. Tal articulação é fundamental para garantir que o paciente seja acompanhado de maneira integral e que sua reinserção social seja possível (Guimarães et al., 2019).

Há de se discutir sobre a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) nesse cenário, onde a aplicação desta ferramenta permite uma abordagem holística, que considere as múltiplas dimensões afetadas pelo uso abusivo de álcool, como a saúde física, emocional, social e comportamental. Entre os diagnósticos mais comuns está o “padrão de uso de substâncias disfuncional”, caracterizado pelo consumo contínuo e prejudicial de álcool. Nesse caso, o enfermeiro deve realizar acolhimento sem julgamento, oferecer escuta ativa, orientar sobre os riscos do uso de substâncias e incentivar a adesão ao tratamento especializado, além de promover o encaminhamento para serviços multiprofissionais e grupos de apoio (Guimarães et al., 2019).

Outro diagnóstico relevante é o “risco de abstinência alcoólica”, considerando que a interrupção do uso pode provocar sintomas físicos e psíquicos graves, como tremores, agitação, convulsões e confusão mental. Nessa situação, é fundamental o monitoramento constante dos sinais vitais, a observação dos sintomas, a criação de um ambiente calmo e seguro, a administração de medicamentos prescritos e a garantia da hidratação adequada. Também é comum a presença de “nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais”, visto que o alcoolismo frequentemente está associado à desnutrição. O enfermeiro deve avaliar o estado nutricional, incentivar uma alimentação equilibrada e fracionada, promover a suplementação de vitaminas (especialmente a tiamina) e encaminhar o paciente ao nutricionista (Mariano et al., 2020).

Além disso, pacientes alcoolistas podem apresentar baixa autoestima crônica, reflexo da culpa, vergonha e desvalorização geradas pelo uso abusivo. O cuidado de enfermagem deve promover um ambiente acolhedor e encorajador, estimulando o paciente a reconhecer suas capacidades, reforçando positivamente suas conquistas e incentivando a participação em terapias. Outro diagnóstico importante é o “isolamento social”, já que muitos pacientes se afastam do convívio social e familiar. O enfermeiro deve atuar no fortalecimento dos vínculos, incentivar o contato com familiares e encaminhar o paciente para grupos de apoio e reinserção social (Silva et al., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Diante do exposto, conclui-se que o alcoolismo é uma condição complexa e de grande impacto biopsicossocial, que ultrapassa os limites do indivíduo e atinge profundamente o núcleo familiar e o convívio social. A compreensão da SDAS como um processo multifatorial e não moralmente condenável é essencial para promover uma abordagem mais humanizada e eficaz. Nesse contexto, a atuação da enfermagem se mostra fundamental, não apenas no manejo clínico, mas também na escuta qualificada, no acolhimento, na orientação educativa e no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 

O cuidado sistematizado e integral, aliado à articulação com a rede de atenção psicossocial, contribui significativamente para a reabilitação e reinserção social do indivíduo. Portanto, é imprescindível investir em políticas públicas que garantam o acesso ao tratamento, reduzam o estigma e ampliem o suporte às famílias, reconhecendo o alcoolismo como um problema de saúde pública que exige compromisso ético, técnico e intersetorial.

Como perspectiva futura, destaca-se a necessidade de fortalecer a formação dos profissionais de saúde, para o enfrentamento das demandas relacionadas ao uso abusivo de álcool, ampliando a capacitação em saúde mental, práticas interdisciplinares e políticas de redução de danos. Além disso, é essencial fomentar pesquisas que aprofundem o conhecimento sobre os impactos do alcoolismo no contexto brasileiro, assim como a efetividade das estratégias de prevenção e tratamento. Investimentos contínuos em políticas públicas, ações educativas e campanhas de conscientização também se mostram imprescindíveis para reduzir o estigma, promover o acesso ao cuidado e garantir a integralidade no atendimento às pessoas em situação de dependência alcoólica.

REFERÊNCIAS

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ZANARDO, F.; MILLANI, H. F. B. O enfermeiro no cuidado ao paciente alcoolista e seus familiares. Revista Ciências da Saúde FT, v. 28, n. 135, jun. 2024. Disponível em: https://revistaft.com.br/o-enfermeiro-no-cuidado-ao-paciente-alcoolista-e-seus-familiares/. Acesso em: 19 de mai. 2025. 


¹Acadêmica do 5º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: barbaramarques1515@gmail.com;
²Acadêmica do 5º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: julianef762@gmail.com;
³Acadêmica do 5º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: vanessabr161@gmail.com;
⁴Acadêmica do 5º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: karinnepintoeduardo@gmail.com;
⁵Acadêmica do 5º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: stephanievieira579@gmail.com;
⁶Acadêmica do 7º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: grasimarry28@gmail.com;
⁷Acadêmica do 7º Período de Enfermagem da Faculdade UNA. E-mail: raissamartinsavila41@gmail.com;
⁸Enfermeira e Professora da Faculdade UNA. E-mail: hyorrana.pereira@prof.una.br.