AS PRINCIPAIS INDICAÇÕES PARA USO DE PALMILHAS ORTOPÉDICAS: UM OLHAR PARA A REABILITAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506110724


Paulo Cesar Antunes Szcypula
Orientadora: Profª. MSc. Lara Alves Moreira


RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo investigar as principais indicações para o uso de palmilhas ortopédicas sob uma perspectiva reabilitadora, analisando o perfil clínico e postural de pacientes atendidos em uma empresa especializada. Trata-se de uma pesquisa observacional, exploratória e de abordagem quanti-qualitativa, realizada com base na análise de fichas de avaliação postural e laudos clínicos de pacientes adultos que fizeram uso de palmilhas confeccionadas mediante prescrição ou avaliação fisioterapêutica. Os dados analisados incluíram variáveis como idade, sexo, peso, altura, tipo de pisada, queixas de dor e diagnósticos biomecânicos, como pé plano, pé cavo, dismetria pélvica, valgo de calcâneo e anteversão pélvica. A partir do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e da associação entre os diagnósticos e as queixas relatadas, observou-se uma prevalência significativa de pé plano grau 1, seguido de anteversão pélvica e insuficiência do tibial posterior. As principais queixas incluíram dores nos pés, tornozelos, joelhos e região lombar, frequentemente relacionadas a alterações posturais e sobrecarga biomecânica. Os resultados confirmam a importância das palmilhas ortopédicas como recurso terapêutico eficaz no alívio da dor, na correção de desalinhamentos posturais e na melhora da funcionalidade. A literatura científica sustenta esses achados, reforçando o papel das palmilhas no contexto da reabilitação física. Conclui-se que a indicação adequada, baseada em avaliação criteriosa, é fundamental para o sucesso do tratamento com palmilhas ortopédicas, sobretudo em populações com sobrepeso, alterações estruturais e disfunções biomecânicas.

Palavra-Chave: Palmilhas Ortopédicas; Reabilitação; Avaliação Postural; Dor Musculoesquelética.

ABSTRACT

This study aimed to investigate the main indications for the use of orthopedic insoles from a rehabilitative perspective, analyzing the clinical and postural profiles of patients treated at a specialized company. This is an observational, exploratory study with a quantitative and qualitative approach, based on the analysis of postural evaluation forms and clinical reports of adult patients who used insoles prescribed or recommended by physiotherapy professionals. The analyzed data included variables such as age, sex, weight, height, foot type, reported pain, and biomechanical diagnoses such as flatfoot, high-arched foot, pelvic asymmetry, calcaneal valgus, and pelvic anteversion. Based on the Body Mass Index (BMI) and the association between diagnoses and reported complaints, a significant prevalence of grade 1 flatfoot was observed, followed by pelvic anteversion and posterior tibial insufficiency. The main complaints involved pain in the feet, ankles, knees, and lower back, often related to postural alterations and biomechanical overload. The results confirm the importance of orthopedic insoles as an effective therapeutic resource for pain relief, correction of postural misalignments, and improvement of functionality. The scientific literature supports these findings, highlighting the role of insoles in physical rehabilitation. It is concluded that the proper indication, based on thorough evaluation, is essential for the success of orthopedic insole treatment, especially in populations with overweight, structural changes, and biomechanical dysfunctions.

Keywordse: Orthopedic insoles. Postural assessment. Rehabilitation. Biomechanics. Musculoskeletal pain.

1  INTRODUÇÃO

O uso de palmilhas proprioceptivas tem ganhado destaque na correção de alterações biomecânicas dos pés e na melhoria da postura global do indivíduo. O conceito de propriocepção está relacionado à capacidade do corpo de reconhecer sua posição no espaço e ajustar automaticamente sua postura e movimentos. As palmilhas proprioceptivas, ao estimular pontos específicos nos pés, têm como objetivo otimizar essa percepção corporal, corrigindo desvios posturais e melhorando a eficiência da marcha. Contudo, para uma prescrição adequada, é fundamental compreender os principais critérios de avaliação para a utilização dessas palmilhas, o que envolve o estudo das alterações da pisada, suas repercussões posturais e as patologias associadas (CALVO, 2015).

As alterações da pisada são frequentemente os primeiros sinais de desequilíbrios biomecânicos que podem desencadear problemas mais complexos no corpo. Entre os tipos de pisada, destacam-se a pisada pronada, a supinada e a neutra. A pisada pronada, caracterizada pela rotação excessiva do pé para dentro durante a marcha, é comum em indivíduos com arcos plantares baixos e pode gerar sobrecarga em estruturas como tornozelos e joelhos. Já a pisada supinada, com rotação excessiva para fora, afeta o alinhamento corporal, aumentando o risco de lesões nos membros inferiores (CALVO, 2015).

O diagnóstico de alterações na pisada requer uma análise minuciosa, frequentemente realizada por meio de exames como a baropodometria, que mapeia a distribuição da pressão plantar durante a caminhada. A partir dessa análise, as palmilhas proprioceptivas são indicadas para ajustar essas variações, promovendo uma pisada mais equilibrada e alinhada com as necessidades biomecânicas do indivíduo. Alterações posturais frequentemente têm origem em uma marcha inadequada, que, por sua vez, pode ser resultado de problemas na pisada. A relação entre pés, postura e marcha é evidente, uma vez que os pés são a base do suporte do corpo. Uma pisada incorreta pode gerar compensações em toda a cadeia cinética, afetando não apenas o sistema musculoesquelético, mas também o equilíbrio e a propriocepção geral do indivíduo (FERREIRA et al., 2015).

Indivíduos com pisada pronada, por exemplo, tendem a apresentar desalinhamentos no quadril e na coluna, o que pode ocasionar dores lombares e cervicais. Essas compensações posturais muitas vezes levam à necessidade de reequilíbrio, o que pode ser alcançado com o uso de palmilhas proprioceptivas, uma vez que elas promovem um ajuste mais natural da postura corporal. Estudos indicam que a utilização dessas palmilhas melhora significativamente a estabilidade postural e reduz o risco de quedas em idosos e indivíduos com distúrbios posturais (FERREIRA et al., 2015).

Entre as patologias que frequentemente demandam o uso de palmilhas proprioceptivas, destacamse o pé plano, o pé cavo, a fascite plantar, a metatarsalgia e o esporão de calcâneo. Essas condições, além de provocarem desconforto, alteram a mecânica da marcha, comprometendo o desempenho funcional do indivíduo (FERREIRA et al., 2015). O pé plano, por exemplo, está associado a uma distribuição inadequada do peso corporal, o que aumenta a tensão em determinadas estruturas, como joelhos e coluna. Por outro lado, o pé cavo resulta em uma sobrecarga na parte anterior e posterior do pé, o que também afeta a postura global. As palmilhas proprioceptivas são indicadas nesses casos por sua capacidade de modular as respostas neuromusculares, promovendo uma adaptação mais eficiente do corpo e melhorando a redistribuição das pressões plantares durante a marcha. Dessa forma, além de aliviarem os sintomas, as palmilhas contribuem para a prevenção de lesões decorrentes de uma marcha disfuncional (FERREIRA et al., 2015).

Portanto, o problema central deste estudo reside na identificação e compreensão das principais condições que justificam o uso de palmilhas ortopédicas, a análise das repercussões posturais associadas às alterações biomecânicas dos pés e a necessidade de uma abordagem mais criteriosa na escolha desse recurso terapêutico. A falta de uma avaliação sistemática e individualizada pode impactar negativamente a eficácia do tratamento, gerando resultados insatisfatórios na correção de distúrbios posturais e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

Diante deste cenário, o objetivo deste estudo é compreender as principais indicações para a utilização de palmilhas ortopédicas, visando traçar o perfil dos pacientes que fazem uso desse recurso, identificando suas principais queixas e necessidades. O uso de palmilhas proprioceptivas oferece benefícios que vão além da simples correção da pisada, sendo eficaz na melhoria global da postura e do equilíbrio. Esses dispositivos contribuem para o reequilíbrio do corpo, promovendo o alinhamento postural e a eficiência na marcha, fatores essenciais para a saúde musculoesquelética (CALVO, 2015). No entanto, compreender apenas os benefícios dessas intervenções não é suficiente. É imprescindível entender os fatores que determinam a necessidade de sua utilização, como as condições patológicas e os aspectos individuais de cada paciente. Dessa forma, a pesquisa se propõe a aprimorar a qualidade dos cuidados prestados, garantindo uma abordagem mais eficiente na reabilitação postural e no tratamento de diversas condições musculoesqueléticas, como o pé plano, a fascite plantar e o pé cavo.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A IMPORTÂNCIA DAS PALMILHAS ORTOPÉDICAS NAS ALTERAÇÕES POSTURAIS

A postura corporal adequada é essencial para o equilíbrio musculoesquelético, a prevenção de lesões e a manutenção das funções motoras. Alterações posturais podem provocar compensações biomecânicas e sobrecargas que resultam em dor crônica e disfunções articulares, especialmente em indivíduos com desvios acentuados da coluna vertebral, quadril ou membros inferiores.

As palmilhas ortopédicas atuam na base de sustentação do corpo, contribuindo para o alinhamento adequado dos segmentos corporais. Segundo Carvalho et al. (2001), palmilhas proprioceptivas foram capazes de proporcionar redistribuição da pressão plantar e corrigir desalinhamentos posturais de forma imediata, promovendo alívio da dor. Isso ocorre porque esses dispositivos ativam receptores sensoriais na planta dos pés, melhorando o tônus muscular e a percepção corporal.

Outros estudos corroboram essa eficácia. Segundo Silva e Pazzianotto (2018), o uso contínuo de palmilhas confeccionadas sob medida tem impacto positivo sobre a estabilização do tronco e a diminuição de sobrecargas em articulações como tornozelo, joelho e quadril. Essa intervenção é especialmente relevante em pacientes com escoliose, hiperlordose ou retificação da curvatura lombar.

Além do ajuste postural, as palmilhas auxiliam na redistribuição da força de reação do solo, promovendo um padrão de marcha mais eficiente. Em reabilitação, isso representa um recurso complementar valioso, particularmente quando combinado com exercícios de fortalecimento e alongamento direcionados.

2.2 O USO DAS PALMILHAS EM PACIENTES COM ALTERAÇÕES PATELARES

As disfunções patelofemorais, incluindo a síndrome da dor anterior do joelho e a condromalácia patelar, são amplamente estudadas na literatura e caracterizam-se por dor anterior exacerbada durante atividades como subir escadas, agachar ou permanecer sentado por longos períodos. Essas alterações geralmente resultam de desequilíbrios musculares e alterações na mecânica da marcha.

Ferreira et al. (2015) identificaram que palmilhas proprioceptivas reduzem a dor patelofemoral por redistribuírem as cargas aplicadas na articulação do joelho, favorecendo o alinhamento do membro inferior e aumentando a estabilidade dinâmica. O uso regular das palmilhas promove ainda estímulo sensorial contínuo que melhora o controle neuromuscular da articulação.

Segundo Powers et al. (2010), um fator importante na biomecânica do joelho é o posicionamento do pé e do tornozelo. A pronação excessiva, por exemplo, leva à rotação interna da tíbia, o que contribui para o deslocamento lateral da patela. Palmilhas com suporte para o arco medial têm a função de corrigir esse padrão e reduzir a dor.

Autores como Esculier et al. (2017) reforçam que, ao serem utilizadas juntamente com exercícios de reabilitação, as palmilhas proporcionam um efeito sinérgico, facilitando a recuperação da função e reduzindo o tempo de retorno às atividades diárias e esportivas.

2.3  A RELAÇÃO ENTRE O TIPO DE PISADA E AS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS

A análise do tipo de pisada é fundamental na avaliação biomecânica de pacientes com queixas musculoesqueléticas. Os tipos mais comuns de pisada são: pronada, neutra e supinada. Cada padrão influência de maneira distinta a distribuição das cargas no corpo e a propensão a lesões.

Guimarães et al. (2019) identificaram que indivíduos com pisada pronada apresentam maior incidência de lesões no trato ílio-tibial e tendinites, uma vez que a pronação acentuada provoca rotação interna da perna, sobrecarregando estruturas como joelho e quadril. A pisada supinada, por sua vez, é associada a maior rigidez na marcha, resultando em maior predisposição a entorses de tornozelo e fraturas por estresse.

Já o padrão neutro é considerado o mais biomecanicamente eficiente, pois promove distribuição equilibrada das forças. No entanto, mesmo indivíduos com pisada neutra podem se beneficiar de palmilhas, principalmente se apresentarem assimetrias ou realizarem atividades com alta demanda funcional, como corridas de longa distância.

Nigg et al. (2015) ressaltam que a individualização das palmilhas, com base na análise da marcha, permite a prevenção de microtraumas, melhora da eficiência de movimento e aumento da estabilidade durante a prática esportiva ou nas atividades da vida diária.

2.4  O USO DAS PALMILHAS NO EQUILÍBRIO CORPORAL E REDUÇÃO DO RISCO DE QUEDAS

O equilíbrio corporal é regulado pelo sistema sensorial (visão, propriocepção e sistema vestibular) e pelo controle motor. Com o envelhecimento ou em condições neurológicas, a perda de propriocepção plantar torna-se um fator de risco importante para quedas. As palmilhas ortopédicas, especialmente as proprioceptivas, têm papel crucial na restauração parcial desse controle sensorial.

Souza et al. (2020) evidenciam que palmilhas confeccionadas com variações de textura e densidade estimulam receptores plantares, melhorando a percepção postural e a segurança durante a marcha. Esse efeito é particularmente relevante em idosos, em pacientes com neuropatias periféricas e em casos de sequelas de AVC.

Um estudo conduzido por Menz et al. (2005) demonstrou que o uso combinado de palmilhas e treinamento de equilíbrio reduziu em 36% a taxa de quedas em idosos institucionalizados. Essa evidência reforça o uso desse recurso como parte de estratégias de prevenção multifatoriais.

Além disso, a aplicação de palmilhas em conjunto com calçados adequados e programas de fisioterapia promove melhor controle da base de apoio, amplia a estabilidade e reduz os episódios de desequilíbrio em terrenos irregulares, rampas e escadas.

2.5  A UTILIZAÇÃO DAS PALMILHAS EM ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO

No esporte de alto rendimento, o desempenho depende de pequenos ajustes biomecânicos que podem representar a diferença entre a vitória e a lesão. O uso de palmilhas ortopédicas tem ganhado espaço entre atletas que buscam otimizar sua performance e prevenir lesões por sobrecarga.

Calvo (2015) aponta que as palmilhas, ao corrigirem desalinhamentos no apoio plantar, reduzem a incidência de fasciíte plantar, fraturas por estresse, tendinopatias e dores na região lombar. A personalização é fundamental para respeitar as características da pisada, do tipo de esporte e das demandas funcionais específicas.

De acordo com Bonacci et al. (2014), o uso de palmilhas também melhora a eficiência energética durante a corrida, promovendo uma distribuição mais homogênea do impacto e reduzindo o gasto calórico em longas distâncias.

Neumann et al. (2019) reforçam que, além da prevenção de lesões, as palmilhas ortopédicas aumentam a consciência corporal e facilitam a manutenção do desempenho ao longo da temporada esportiva. A integração desse recurso à rotina de avaliação e reabilitação é recomendada por fisioterapeutas e treinadores de diversas modalidades.

3 METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa observacional, exploratória e de abordagem quanti-qualitativa, realizada em uma empresa especializada na confecção de palmilhas ortopédicas, localizada na cidade de Foz do Iguaçu – PR. As palmilhas são produzidas mediante prescrição profissional ou por avaliação clínica realizada por fisioterapeuta e posturólogo devidamente habilitados.

A coleta de dados foi realizada por meio da análise de fichas de avaliação de pacientes previamente atendidos na empresa, bem como dos laudos elaborados após a avaliação postural. Além disso, foi realizado um levantamento bibliográfico acerca do uso de palmilhas ortopédicas, suas principais indicações e benefícios, com o objetivo de embasar teoricamente o estudo.

Com base nesse referencial, buscou-se compreender os critérios adotados para prescrição e uso das palmilhas, além de traçar o perfil dos usuários, considerando aspectos pessoais e clínicos. Para isso, os dados foram organizados em planilhas contendo informações como: queixas principais, idade, sexo, patologias associadas e motivos para o uso da palmilha ortopédica.

Ressalta-se que, além das informações constantes nas fichas de avaliação, foram utilizados dados complementares presentes em laudos médicos disponibilizados pelos próprios pacientes. Todos os dados foram fornecidos com autorização pelo responsável técnico da empresa.

3.2 AMOSTRA

A amostra deste estudo foi composta por pacientes com idade igual ou superior a 18 anos, que realizaram avaliação profissional e iniciaram o uso de palmilhas proprioceptivas no estabelecimento participante da pesquisa, localizado em Foz do Iguaçu – PR.

3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os critérios abaixo foram utilizados para descrever a amostra incluída neste estudo:

– Pacientes com idade igual ou superior a 18 anos;

Ter realizado avaliação postural com profissional qualificado;

– Ter utilizado palmilha proprioceptiva confeccionada no local da pesquisa.

Os critérios abaixo foram utilizados para descrever a amostra excluída deste estudo:

– Pacientes que não utilizaram a palmilha após a confecção;

Aqueles que confeccionaram a palmilha em outro local;

Fichas de avaliação ou laudos com informações insuficientes para análise.

3.4 MATERIAIS E INSTRUMENTOS

Os materiais e instrumentos utilizados na pesquisa foram:

– Computador ou dispositivo eletrônico para desenvolvimento da análise;

Acesso à internet para busca de artigos científicos pertinentes ao tema;

Fichas de avaliação postural e laudos clínicos fornecidos pela empresa;

– Software Microsoft Excel, utilizado para a tabulação e análise dos dados coletados.

3.4.1 Tratamento dos dados

A coleta de dados foi realizada por meio de pesquisa científica, com o objetivo de investigar as principais indicações para o uso de palmilhas ortopédicas no contexto da reabilitação. O foco foi compreender a influência desses dispositivos na funcionalidade e na qualidade de vida dos pacientes a partir de evidências clínicas e relatos documentados.

Para a análise estatística, foram aplicados métodos quantitativos apropriados a fim de assegurar a consistência e a validade dos resultados obtidos. Os dados coletados foram organizados e processados com o auxílio do software Microsoft Excel, podendo ser utilizados, se necessário, outros programas estatísticos que possibilitem análises mais detalhadas.

A interpretação dos resultados foi guiada pelos objetivos do estudo, buscando identificar padrões, associações e possíveis implicações terapêuticas do uso de palmilhas ortopédicas na prática clínica. Essa abordagem visa fornecer subsídios relevantes para a atuação profissional na área da reabilitação.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 DISTRIBUIÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS

A tabela abaixo mostra os diagnósticos mais frequentes encontrados nos pacientes atendidos com queixas posturais e dor, conforme análise das fichas de avaliação realizadas entre janeiro e maio de 2025.

Tabela 1 – Diagnósticos Coletados

Fonte: Autor(2025).

Estudos prévios indicam que o pé plano (ou pé chato) é uma das deformidades mais comuns, principalmente em populações adultas e idosas (MARCHESINI et al., 2018). Contudo, nesta amostra, a frequência de pacientes com pé cavo moderado se equiparou à do pé plano grau I, o que pode indicar um perfil específico da população atendida na empresa pesquisada. Segundo NEUMANN (2019), o pé cavo, caracterizado pela elevação do arco plantar, pode estar associado a maior rigidez e sobrecarga em pontos específicos do pé, o que aumenta o risco de lesões, especialmente em corredores e atletas. Já a anteversão pélvica e a insuficiência tibial posterior refletem desajustes musculoesqueléticos que impactam diretamente na biomecânica da marcha, sendo fatores importantes na indicação do uso de palmilhas (SILVA; PAZZIANOTTO, 2018).

O diagnóstico mais frequente foi o pé plano grau 1, encontrado em 14 pacientes, seguido do pé cavo moderado (10 casos). Essa prevalência está de acordo com Marchesini et al. (2018), que destacam o pé plano como uma das alterações estruturais mais comuns, principalmente entre adultos jovens e idosos. O pé cavo, por sua vez, embora menos prevalente, tende a ser mais associado a dores por sobrecarga e instabilidade, conforme Neumann (2019).

4.2  PRINCIPAIS QUEIXAS APRESENTADAS

A Tabela 2 apresenta os dados referidos as queixas de dores dos pacientes dessa amostra:

Tabela 2 – Queixas de Dores

Fonte: Autor(2025).

As queixas mais comuns entre os pacientes foram dor nos pés e dores nos membros inferiores, o que reforça a importância da palmilha ortopédica como recurso terapêutico. Segundo Ferreira et al. (2015), a palmilha personalizada pode reduzir significativamente a sobrecarga articular, melhorando a distribuição da pressão plantar.

A dor nos pés foi uma das queixas predominantes, o que é esperado em pacientes que procuram intervenções como palmilhas ortopédicas. Isso reforça os achados de Ferreira et al. (2015) sobre a eficácia do uso de palmilhas no alívio das dores plantares. O cansaço nas pernas e dor lombar também refletem compensações biomecânicas causadas por desalinhamentos posturais.

4.3  CÁLCULO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) E RELAÇÃO COM DIAGNÓSTICOS

O IMC foi calculado para os pacientes, utilizando a fórmula:

Observou-se que pacientes com IMC elevado tendem a apresentar com maior frequência alterações como pé plano grau II e insuficiência tibial posterior, corroborando a literatura que relaciona o sobrepeso à maior sobrecarga em estruturas do pé e membros inferiores (GUIMARÃES et al., 2019).

IMC mínimo: ~19,82 (baixo peso limítrofe)

IMC máximo: ~43,86 (obesidade grau III)

IMC médio estimado: Entre 28 e 30 → sobrepeso a obesidade grau I

A Tabela a seguir descreve o valor do cálculo dos IMC’s dos pacientes observados:

Tabela 3 – Queixas de Dores

Fonte: Autor(2025).

Grande parte dos pacientes encontra-se em situação de sobrepeso ou obesidade, o que pode estar diretamente associado a maior predisposição a alterações posturais e dores articulares (SILVA & PAZZIANOTTO, 2018). Estudos de Powers (2010) destacam que o aumento de massa corporal eleva o estresse sobre as articulações dos membros inferiores, influenciando diretamente nos padrões de marcha e postura.

4.4  ANÁLISE CRUZADA ENTRE QUEIXAS E DIAGNÓSTICO

Ao cruzar os dados de queixas com diagnósticos, foi possível observar:

– Pacientes com pé plano grau 1 relataram mais frequentemente dor nos pés e instabilidade.

– Indivíduos com anteversão pélvica relataram dor lombar com frequência.

– Pisada pronada teve forte relação com queixas de cansaço nas pernas e dor nos joelhos.

Essa análise demonstra a importância de uma abordagem individualizada no uso de palmilhas ortopédicas. Como indicado por Guimarães et al. (2019), cada tipo de pisada ou alteração biomecânica pode gerar sobrecarga em diferentes estruturas do sistema musculoesquelético, exigindo uma intervenção personalizada, como é o caso do uso das palmilhas proprioceptivas.

A relação entre diagnósticos e queixas reforça a importância de um tratamento postural personalizado. Por exemplo, pacientes com insuficiência tibial posterior apresentam dores difusas nas pernas, evidenciando o impacto da musculatura intrínseca do pé no suporte corporal. Já o pé plano tende a gerar sobrecarga lombar, confirmando os achados de Guimarães et al. (2019).

5 CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar as principais indicações para o uso de palmilhas ortopédicas, com ênfase nos aspectos reabilitadores a partir da avaliação podopostural de pacientes com queixas de dor. Os resultados obtidos evidenciaram a diversidade de diagnósticos, como o pé plano grau 1, pé cavo moderado e anteversão pélvica, bem como a variedade de queixas clínicas, com destaque para dores nos pés, membros inferiores e lombar.

A análise estatística revelou que o pé plano grau 1 foi o diagnóstico mais prevalente, sendo associado principalmente a queixas como dor nos pés e instabilidade na marcha. Essa informação está em consonância com a literatura atual, que aponta o pé plano como uma das alterações estruturais mais frequentes na população adulta. A presença de sobrepeso e obesidade em grande parte da amostra também se mostrou relevante, reforçando a influência do IMC na biomecânica corporal e na predisposição a disfunções posturais.

A relação entre diagnóstico e queixa reforça a importância de uma avaliação clínica precisa e individualizada, de modo a garantir que a confecção da palmilha seja realmente eficaz no alívio da dor, na melhoria da marcha e na prevenção de lesões. Estudos como os de Ferreira et al. (2015) e Silva & Pazzianotto (2018) corroboram a efetividade das palmilhas ortopédicas no reposicionamento estrutural e no realinhamento postural.

Dessa forma, conclui-se que as palmilhas ortopédicas, quando indicadas com base em avaliação clínica especializada, apresentam grande potencial terapêutico e preventivo. Elas contribuem não apenas para a melhora da dor e da funcionalidade, mas também para a qualidade de vida dos pacientes. Recomenda-se, portanto, a continuidade de estudos que envolvam maior amostragem e acompanhamento longitudinal dos efeitos das palmilhas no processo de reabilitação.

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ANEXO – TABELA GERAL DE DADOS COLETADOS