ANALGESIA PARA O PARTO VAGINAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506081413


Gabrielle Zacconi Augusto
Matheus Pereira Máximo
Diego Da Silva
Orientador: Alexandre Trajano


RESUMO:

Este estudo tem como objetivo analisar as principais estratégias de analgesia utilizadas durante o parto vaginal, com foco na avaliação da eficácia, segurança e impacto na experiência materna. A partir de uma revisão integrativa da literatura, foram selecionados estudos publicados entre 2015 e 2025 que abordam métodos farmacológicos, como analgesia peridural, raquidiana e combinada, bem como técnicas não farmacológicas, incluindo suporte contínuo, métodos de relaxamento, hidroterapia e estimulação elétrica transcutânea. Os resultados indicam que a analgesia peridural continua sendo o método mais utilizado e eficaz para o alívio da dor no parto vaginal, embora abordagens integradas que consideram as preferências da gestante e o contexto clínico possam proporcionar melhores resultados em termos de satisfação e segurança. Conclui-se que a personalização das estratégias analgésicas e o fortalecimento de protocolos baseados em evidências são fundamentais para promover partos mais humanizados e seguros.

Palavras-chave : Parto Vaginal, analgesia no parto, Parto humanizado.

ABSTRACT:

This study aims to analyze the main analgesia strategies used during vaginal delivery, focusing on evaluating their efficacy, safety, and impact on maternal experience. Based on an integrative literature review, studies published between 2015 and 2025 that address pharmacological methods, such as epidural, spinal, and combined analgesia, as well as non- pharmacological techniques, including continuous support, relaxation methods, hydrotherapy, and transcutaneous electrical stimulation, were selected. The results indicate that epidural analgesia remains the most widely used and effective method for pain relief during vaginal delivery, although integrated approaches that consider the pregnant woman’s preferences and the clinical context may provide better results in terms of satisfaction and safety. It is concluded that personalizing analgesic strategies and strengthening evidence-based protocols are essential to promote more humanized and safe deliveries.

Keywords: vaginal birth, analgesia during childbirth, humanized birth

1 INTRODUÇÃO

A dor durante o trabalho de parto é um dos principais fatores de preocupação para as gestantes e pode impactar negativamente a vivência do parto quando não manejada de forma adequada. A utilização de métodos de alívio da dor, especialmente a analgesia peridural, tem se mostrado uma estratégia eficaz para proporcionar conforto físico e emocional à parturiente, sem comprometer sua consciência ou mobilidade (Veiga et al., 2021; Klein & Gouveia, 2022). Reconhecida como padrão no manejo da dor obstétrica, a analgesia regional, incluindo as técnicas peridural, raquiana e combinada, é indicada em diversas fases do trabalho de parto, embora esteja associada a possíveis efeitos adversos, como náuseas, hipotensão, retenção urinária e prolongamento do segundo estágio do parto (Sumie; Yamaura; Aoyama, 2023; Borba; Amarante; Lisboa, 2021).

Apesar dos riscos, o uso adequado da analgesia com base na autonomia da gestante e na atuação de profissionais qualificados favorece a vivência positiva do parto, reduz o estresse materno e contribui para melhores desfechos obstétricos (Jiang et al., 2023; Ribeiro; Nourizadeh; Mehrabi, 2023). No entanto, a realidade brasileira ainda apresenta desafios: políticas públicas como a Rede Cegonha garantem o direito ao alívio da dor, mas a adesão efetiva a essas práticas permanece limitada (Felisbino-Mendes et al., 2017).

A valorização do parto vaginal, enquanto processo fisiológico, tem ganhado destaque dentro do movimento de humanização da assistência obstétrica, que surgiu como resposta à medicalização excessiva e à violência obstétrica (Barros, 2011; Nascimento et al., 2010). Tal abordagem preconiza o respeito à autonomia da mulher, o uso racional das tecnologias e o incentivo à amamentação precoce e ao vínculo afetivo entre mãe e bebê (Oliveira et al., 2019; Gazineu et al., 2018).

Dessa forma, compreender os efeitos, benefícios e limitações da analgesia no parto vaginal, bem como sua relação com a humanização da assistência, é essencial para fortalecer políticas públicas, qualificar os profissionais de saúde e promover um cuidado centrado na mulher.

2 METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, com o objetivo de analisar a utilização da analgesia no parto vaginal, seus efeitos fisiológicos e implicações no contexto da humanização da assistência obstétrica. A escolha dessa abordagem justifica-se pela necessidade de compreender as práticas clínicas e suas repercussões a partir de referenciais teóricos e evidências científicas já consolidadas na literatura.

A coleta de dados foi realizada por meio da seleção e análise de artigos científicos, livros e documentos institucionais publicados entre os anos de 1998 e 2023. As fontes foram obtidas em bases de dados eletrônicas reconhecidas, como SciELO, LILACS, PubMed, BIREME e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores em português e inglês: “analgesia no parto”, “parto humanizado”, “alívio da dor no parto”, “anestesia peridural”, “parto vaginal”, “humanização do parto” e “epidural analgesia in labor”.

Os critérios de inclusão envolveram publicações com acesso completo, disponíveis em português, inglês ou espanhol, que abordassem aspectos clínicos, fisiológicos, sociais e/ou legais relacionados à analgesia no parto vaginal e à humanização do nascimento. Foram excluídos estudos duplicados, trabalhos com foco exclusivo em cesariana ou que não apresentassem relação direta com o tema proposto.

A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e interpretativa, buscando identificar pontos de convergência entre os estudos, evidenciar os benefícios e riscos associados ao uso da analgesia, além de discutir seu papel no contexto da humanização da assistência obstétrica. Os dados foram organizados em eixos temáticos, como: efeitos fisiológicos da analgesia, desfechos maternos e neonatais, implicações na amamentação, e políticas públicas relacionadas à humanização do parto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise integrativa permitiu a seleção dos estudos mais relevantes para a investigação das estratégias de alívio da dor e promoção da humanização no parto vaginal. Esses estudos abordaram diferentes métodos de analgesia, como a peridural, raquiana e combinada, além de discutirem os impactos físicos, emocionais e fisiológicos dessas práticas para a parturiente e o recém-nascido. Também foram analisadas as implicações da analgesia no tempo de trabalho de parto, nas taxas de parto instrumental e nos efeitos sobre a amamentação e o vínculo mãe e bebê. O Quadro 1 apresenta as principais informações extraídas desses estudos.

Quadro 1 – Principais informações extraídas dos estudos sobre analgesia e humanização no parto vaginal

Autor (Ano)Temática AbordadaPrincipais AchadosConsiderações Relevantes
Veiga et al. (2021)Analgesia periduralAlívio eficaz da dor sem comprometer a mobilidade ou consciênciaUso adequado mantém função motora
Aragão et al. (2019)Autonomia da gestanteO pedido da mulher é o principal indicativo para uso de analgesiaO limiar de dor é individual
Sumie; Yamaura; Aoyama (2023)Efeitos colaterais da analgesiaNáuseas, retenção urinária, cefaleia e hipotensãoBenefícios superam riscos com profissional capacitado
Borba; Amarante; Lisboa (2021)Analgesia e trabalho de partoPode aumentar o tempo do segundo estágio, uso de ocitocina e partos instrumentaisAvaliação individualizada é essencial
Klein e Gouveia (2022)Bem-estar da parturienteAnalgesia contribui para um parto mais tranquiloReforça importância do cuidado emocional
Jiang et al. (2023)Dor e empoderamentoRedução da dor aumenta confiança e controleContribui para protagonismo feminino
Ribeiro; Nourizadeh; Mehrabi (2023)Consentimento informadoGestantes devem receber informações clarasRespeito à autonomia da decisão
Fonte: do autor.

Os achados desta revisão bibliográfica reforçam a importância da analgesia no parto vaginal como estratégia fundamental para promover conforto, segurança e bem-estar à parturiente, especialmente no contexto de um modelo de assistência humanizado. A literatura mostra consenso quanto à eficácia da analgesia peridural, que proporciona alívio significativo da dor sem interferir na consciência da mulher ( Veiga te al.,2021). A autonomia da gestante no processo decisório, respeitando seu limiar de dor, foi destacada como elemento central em uma assistência baseada em direitos (aragão et al., 2019, Ribeiro, Nourizadeh, Mehrabu, 2023).

Por outro lado, os estudos analisados também apontam efeitos adversos potenciais, como prolongamento do segundo estágio do parto, maior uso de ocitocina, e aumento de partos vaginais assistidos, especialmente com fórceps ou vácuo (Borba, Amarante, Lisboa, 202, Felisbino-Mendes et al., 2017). Tais consequências, embora relevantes, não anulam os benefícios da analgesia quando esta é administrada por profissionais capacitados e em um modelo de cuidado que prioriza a individualização das condutas.

Além disso, observou-se uma associação entre o uso da analgesia epidural e atraso na amamentação, o que pode ser explicado pela interferência nos níveis de ocitocina endógena e na ejeção do leite ( Lind et al., 2014). Essa relação demanda atenção especial das equipes multiprofissionais, que devem intensificar o apoio à amamentação no pós-parto imediato.

Apesar das diretrizes nacionais e políticas públicas como a Rede Cegonha, a baixa adesão aos métodos de alívio da dor no parto no Brasil ainda é preocupante. Isso evidencia um descompasso entre a normatização e a prática clínica, o que pode ser atribuído à escassez de recursos, falhas na capacitação profissional e à persistência de modelos médicos intervencionistas ( Felisbino-Mendes et al., 2017, Barros, 2011).

O estudo também evidencia a relevância do parto vaginal humanizado, com menor tempo de recuperação, redução do risco de infecções e estímulo à amamentação precoce e ao vínculo materno-infantil ( Oliveira et al., 2019, Rocha et al., 2020). Nesse sentido, o uso criterioso da analgesia, aliado ao respeito à autonomia da mulher, se alinha aos princípios da humanização do nascimento, representando um avanço em relação ao modelo tecnocrático historicamente dominante.

Cabe destacar, ainda, a persistente supermedicalização do parto, especialmente no setor privado, com taxas excessivas de cesárea e intervenções muitas vezes desnecessárias (Dias et al., 2008., Haddad & cecatti, 2011). Tais práticas contrariam recomendações da OMS e representam um desafio à construção de um sistema obstétrico mais equitativo, seguro e respeitoso.

Portanto, promover o acesso à analgesia de forma segura e informada, dentro de um modelo de assistência humanizado, é essencial para garantir direitos reprodutivos, qualidade do cuidado e segurança materno-infantil. O fortalecimento das políticas públicas, o investimento em formação profissional e a escuta ativa das necessidades da mulher são medidas fundamentais para consolidar essa transformação.

A análise da literatura revelou que a analgesia peridural é amplamente utilizada como método eficaz de alívio da dor durante o parto vaginal, promovendo conforto e segurança à parturiente sem comprometer a consciência ou a mobilidade ( Veiga et al.,2021). Estudos demonstram que o principal critério para sua aplicação deve ser a solicitação da gestante, respeitando seu limiar individual de dor (Aragão et al., 2019, Ribeiro, Nourizadeh, Mehrabi, 2023).

Entre as técnicas mais empregadas destacam-se a anestesia peridural, raquiana e combinada, indicadas para todas as fases do trabalho de parto. Tais métodos bloqueiam seletivamente as vias da dor, preservando a consciência e, em muitos casos, a função motora (Sumie, Yamaura, Aoyama, 2023). No entanto, os estudos também evidenciam possíveis efeitos colaterais, como náuseas, retenção urinária, hipotensão, cefaleia e prolongamento do segundo estágio do parto, além de maior necessidade de uso de ocitocina e aumento do risco de parto instrumentalizado (Borba, Amarante, Lisboa, 2021,Ceccatti et al., 1998) .

Foi observada uma associação entre o uso de analgesia e atraso na amamentação. (Lind et al.2014), mulheres que utilizaram analgesia epidural apresentaram até três vezes mais chances de atraso na lactação, fato atribuído à redução dos níveis de ocitocina e possível interferência na ejeção do leite. Além disso, o uso de bupivacaína isolada foi relacionado a alterações no bem-estar fetal, como bradicardia e acidose (Amaral et al., 2015, Hung et al., 2015). No entanto, (Piedrahíta-Gutiérrez et al 2016) relatam que a analgesia obstétrica não está associada a desfechos neonatais negativos significativos, como Apgar menor que 7 no quinto minuto ou necessidade de reanimação intensiva.

Outro achado relevante foi a baixa adesão aos métodos de alívio da dor no parto no Brasil, mesmo após a implementação de políticas públicas como a Rede Cegonha. Dados de 2006 mostraram que menos da metade das gestantes teve acesso a métodos farmacológicos ou não farmacológicos de manejo da dor (Felisbino- Mendes et al.,2017).

Paralelamente, os resultados evidenciam que o parto vaginal, quando conduzido de forma humanizada, oferece benefícios significativos tanto para a mãe quanto para o recém- nascido, como recuperação mais rápida, menor risco de infecção, vínculo fortalecido e amamentação precoce (Oliveira et al., 2019, Rocha et al., 2020). A humanização da assistência obstétrica, surgida como resposta à medicalização excessiva, defende o respeito à fisiologia do parto, a autonomia da mulher e o uso racional das tecnologias ( Barros, 2011, Nascimento et al., 2010).

Por fim, verificou-se que a episiotomia de rotina, uso abusivo de ocitocina e cesarianas desnecessárias ainda são práticas presentes, especialmente no setor privado, que apresenta taxas de cesárea superiores a 80% (Dias et al., 2008, Haddad & Cecatti, 2011). O fortalecimento de políticas públicas e práticas baseadas em evidências mostra-se essencial para garantir o direito das mulheres ao parto humanizado e ao alívio eficaz da dor.

4 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos evidenciam que a utilização de métodos de analgesia durante o parto vaginal representa um avanço significativo na promoção de conforto, segurança e respeito à autonomia da mulher. A analgesia peridural, entre outras técnicas farmacológicas, mostrou-se eficaz na redução da dor e no fortalecimento do bem-estar físico e emocional da parturiente, apesar de estar associada a alguns riscos, como o aumento do tempo do segundo estágio do parto e a maior incidência de partos instrumentais. A literatura também aponta possíveis impactos na amamentação e no estado neonatal imediato, o que reforça a importância de uma abordagem individualizada e criteriosa.

A humanização do parto, integrada à analgesia, constitui uma prática fundamental na assistência obstétrica contemporânea, promovendo não apenas alívio da dor, mas também respeito aos direitos da gestante, valorização do parto normal e fortalecimento do vínculo mãe e bebê. Políticas públicas e ações educativas que incentivem o acesso à informação, a autonomia da mulher e a atuação de profissionais qualificados são essenciais para garantir um cuidado obstétrico mais ético, seguro e humanizado.

REFERÊNCIAS

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