PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NO ESTADO DO TOCANTINS NO PERÍODO DE 3 ANOS.

EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION CASES IN THE STATE OF TOCANTINS OVER A THREE-YEAR PERIOD.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506080803


Henrique Moreira Bastos1
Leonardo Rafael Prado dos Santos2
Lucas Miranda Amgarten3


Resumo

Objetivos: Determinar o perfil epidemiológico dos casos de internação por infarto agudo do miocárdio registrados no estado do Tocantins no período compreendido entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024. Analisar o número de óbitos e o coeficiente de mortalidade, seguindo as mesmas variáveis para determinar a eficácia do manejo dessa doença no estado. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, transversal e quantitativo, cujos dados foram coletados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) acerca do número de internações, número de óbitos e coeficiente de mortalidade, no período de janeiro de 2022 a dezembro de 2024. Para além da análise epidemiológica, este estudo irá analisar e comparar os resultados obtidos com os encontrados em outros nosocômios, para isso foi incluída revisão da literatura, com a seleção artigos científicos relevantes publicados entre 2020 e 2024. Resultados: Com todos os fatos expostos, tem-se que o perfil epidemiológico dos casos de internação por IAM no estado do Tocantins, no período entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024 é de maior incidência em pacientes do sexo masculino, cor/raça parda e faixa etária superior a 60 anos. Quanto ao número de óbitos, o sexo mais afetado é, também, o masculino. A cor/raça com maior incidência é, também, a parda e, quanto à faixa etária, a com mais resultados foi a de 60 anos ou mais. O coeficiente de mortalidade de todo o período estudado foi de 8,06. Após a análise dos dados disponíveis é visível a ausência de diferenciação entre IAM’s com supradesnivelamento ou sem supradesnivelamento de ST, diferenciação essa que permitiria uma melhor análise do quadro geral enfrentado pelos profissionais de saúde em serviços de urgência e emergência, permitindo o desenvolvimento de uma melhor padronização do manejo destes casos.

Palavras-chave: Infarto agudo do miocárdio; Perfil epidemiológico; Cardiologia.

Abstract

Objectives: To determine the epidemiological profile of hospitalizations for acute myocardial infarction in the state of Tocantins between January 2022 and December 2024. To analyze the number of deaths and the mortality coefficient, following the same variables to determine the effectiveness of the management of this disease in the state. Methodology: This is a descriptive, cross-sectional and quantitative epidemiological study, whose data was collected from the Hospital Information System (SIH/SUS) on the number of hospitalizations, number of deaths and mortality coefficient, from January 2022 to December 2024. In addition to the epidemiological analysis, this study will analyze and compare the results obtained with those found in other nosocomies, for which a literature review was included, with the selection of relevant scientific articles published between 2020 and 2024. Results: The epidemiological profile of AMI hospitalizations in the state of Tocantins in the period between January 2022 and December 2024 is that there is a higher incidence of male patients, brown skin color/race and age group over 60 years. In terms of the number of deaths, the sex most affected is also male. The color/race with the highest incidence is also brown, and the age group with the most results was 60 years or older. The mortality coefficient for the entire period studied was 8.06. After analyzing the available data, it is clear that there is no differentiation between ST-elevation and non-ST-elevation AMIs. This differentiation would allow for a better analysis of the general situation faced by health professionals in urgent and emergency services, allowing for the development of a better standardized management of these cases.

Keywords: Acute myocardial infarction; Epidemiologic profile; Cardiology.

Introdução

Dentre as patologias que acometem o coração e suas estruturas, tem-se as síndromes coronarianas agudas que se dividem em: Angina instável, infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento eletrocardiográfico ST e o infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento eletrocardiográfico ST. A angina instável se caracteriza por presença de dor anginosa em repouso que não responde idealmente ao uso de nitrato e é um importante fator predisponente de evento isquêmico de maior grau, o infarto em si. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

O infarto agudo do miocárdio (IAM) ocorre devido a uma falha na vascularização do tecido miocárdico. Essa falha se dá devido a algum evento isquêmico em artérias coronárias, a falta de fluxo sanguíneo arterial promove necrose das paredes cardíacas. O estudo eletrocardiográfico evidenciará distúrbio na condução do estímulo elétrico promovendo o supradesnivelamento do segmento eletrocardiográfico do intervalo ST em duas derivações subsequentes. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

Os tipos de IAM’s com supra de ST dependem intimamente da artéria coronária acometida, oclusões da artéria descendente anterior (DA) estão associadas às paredes anterior anterosseptal e parede extensa, oclusões da artéria circunflexa (CX) estão associadas às paredes lateral alta e inferior, já as oclusões de coronária direita estão associadas à infarto do ventrículo direito. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

A abordagem inicial ao paciente infartado depende, intimamente, da habilidade que o médico possui de identificar sinais e sintomas em sua anamnese que possam sugerir presença de IAM. O paciente apresentará precordialgia por isquemia, também conhecida por angina ou dor anginosa, de forte intensidade, muitas vezes descrita como a pior dor já sentida em vida, ou, em casos de paciente que possuem angina estável: A mesma dor, só que com maior intensidade. Dentre as manifestações concomitantes estão sudorese intensa, dispneia e instabilidade hemodinâmica, esta última mais característica de eventos isquêmicos de evolução mais avançada. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

Dentre os fatores de risco para desenvolvimento desta condição estão a idade avançada, ser portador de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus (DM), dislipidemia e obesidade. A identificação dessas condições em um paciente é de fundamental importância tanto para o médico da atenção primária em saúde que irá fazer esforços para mantê-las sob controle, quanto da atenção secundária e terciária para otimizações e correções de complicações. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

A intervenção terapêutica primordial, a angioplastia coronária, é crucial na reperfusão eficaz para pacientes afetados, enquanto a terapia de fibrinólise se apresentou como alternativa em situações específicas. (Oliveira, Fernandes, Pesaro, et al)

Após o infarto agudo do miocárdio (IAM), ocorrem alterações complexas na arquitetura ventricular, envolvendo tanto a região infartada como a não infartada. Nos últimos anos, estas adaptações, que podem ser identificadas na fase aguda do IAM, ou mais tardiamente, passaram a ser estudadas com o nome de remodelação ventricular (RV) pós-IAM. (Zornoff, et al., 1997)

Os idosos com SCA geralmente apresentam perfil de risco diferente dos não idosos: têm maior prevalência de hipertensão arterial, diabetes melito, IAM prévio, angina, doença vascular periférica, acidente vascular cerebral (AVC), doença multiarterial e insuficiência cardíaca. Em geral, o idoso se apresenta para o atendimento médico mais tardiamente após o início dos sintomas. (Xavier, et al., 2024)

Um melhor entendimento da epidemiologia dos casos de IAM é ferramenta de grande importância para auxílio na prevenção e melhor manejo dos casos a serem tratados. Por efeito disso, faz-se necessário estabelecer a realização de um estudo epidemiológico dos casos em uma faixa temporal mínima satisfatória, averiguando tanto o número de internações, quanto de óbitos e taxa de mortalidade.

Objetivos

Determinar o perfil epidemiológico dos casos de internação por infarto agudo do miocárdio registrados no estado do Tocantins no período compreendido entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024. Analisar o número de óbitos e o coeficiente de mortalidade, seguindo as mesmas variáveis para determinar a eficácia do manejo dessa doença no estado.

Para além disso, analisar perfis de outros nosocômios e verificar a existência de divergências em comparação com o obtido no Estado do Tocantins.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, transversal e quantitativo, cujos dados foram coletados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) acerca do número de internações, número de óbitos e coeficiente de mortalidade, no período de janeiro de 2022 a dezembro de 2024. Para fins de melhor detalhamento das informações obtidas, foram utilizadas as variáveis sexo (masculino/feminino), faixa etária (foi utilizada a mesma conformação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e cor/raça (branco, pardo, preto, amarelo e não identificado). Para além da análise epidemiológica, este estudo irá analisar e comparar os resultados obtidos com os encontrados em outros nosocômios, para isso foi incluída revisão da literatura, com a seleção artigos científicos relevantes publicados entre 2020 e 2024.

Resultados

Após a busca pelos dados, seguindo os preceitos estabelecidos pela metodologia deste estudo, temos que, no estado do Tocantins foram internados 2308 pacientes por IAM no intervalo estudado, sendo o ano de 2024 o que mais registrou ocorrências com 839 casos (36,35%), seguido do ano de 2023 com 742 casos (32,14%). Quanto ao sexo, o mais acometido foi o masculino com 1542 casos (66,81%), quanto à faixa etária, a mais acometida foi a de pessoas idosas com 1366 casos (59,18%), quanto à cor/raça a mais acometida foi a raça parda com 2134 casos (92,46%).

Em continuidade, o número total de óbitos registrados no período foi de 186, sendo o maior número obtido no ano de 2024 com 69 casos (37,1%), seguido do ano de 2022 que obteve 62 casos (33,33%). Quanto ao sexo, o mais acometido foi o masculino com 101 casos (54,3%), quanto à faixa etária, a mais acometida foi a de pacientes com 60 anos ou mais apresentando 148 casos (79,56%), quanto à cor/raça, a que registrou maior número de casos foi a parda com 175 casos (94,08%).

Ainda acerca dos dados coletados, o coeficiente de mortalidade do período estudado foi de 8,06, sendo maior no ano de 2022 (8,53), seguido por 2024 (8,22).

Discussão

De Brito, et al., é um estudo epidemiológico dos casos de internação por infarto agudo do miocárdio no estado do Sergipe (SE) no período compreendido entre 2017 e 2021. O perfil encontrado indica que a maior incidência é de pacientes do sexo masculino, na faixa etária entre 60 e 69 anos e de etnia parda. O número de óbitos e a taxa de mortalidade também diminuíram em 2020 em virtude da pandemia, mas mantiveram médias elevadas em relação a outros estados brasileiros.

O estudo Costa, et al., tem caráter mais amplo e visou estudar o perfil de internações por IAM no Brasil por regiões, no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2024. Foram registrados 1.090.527 internações no Brasil, no período estudado, sendo observado um aumento gradativo no decorrer dos anos. Nessa perspectiva, os números vêm chamando atenção devido às complicações evidenciadas pelas internações recorrentes de IAM. O ano de 2023 apresentou o maior número de internações registradas por ano, com 171.682 numa taxa de 15,74%. A região que mais se destacou em termos de casos foi a sudeste apresentando 48,98% do todo, já a região norte apresentou o menor índice de casos com 47.231 casos. Em todas as regiões houve maior predominância no sexo masculino e raça branca.

O estudo Omairi, et al., traz o perfil epidemiológico dos casos no estado do Paraná, no período compreendido entre 2016 a 2022, entre os 50 e 59 anos, além disso, há uma predominância do sexo masculino e raça branca.

O estudo Gava, et al., estudou o perfil das internações no Espírito Santo, no período compreendido entre 2017 e 2022. Foram registradas 18.819 internações. Em relação ao sexo, o maior número foi observado em homens. No que tange à faixa etária, os pacientes com mais de 60 anos foram os que mais obtiveram índices elevados de internação e evoluíram para maior taxa de óbito.

Conclusão

Com todos os fatos expostos, tem-se que o perfil epidemiológico dos casos de internação por IAM no estado do Tocantins, no período entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024 é de maior incidência em pacientes do sexo masculino, cor/raça parda e faixa etária superior a 60 anos. Quanto ao número de óbitos, o sexo mais afetado é, também, o masculino. A cor/raça com maior incidência é, também, a parda e, quanto à faixa etária, a com mais resultados foi a de 60 anos ou mais. O coeficiente de mortalidade de todo o período estudado foi de 8,06.

Outros estudos de caráter epidemiológico em um recorte de, no máximo, 10 anos, demonstram perfis de mesma característica quanto ao sexo, sendo o masculino o mais incidente em todas as pesquisas analisadas. Já quanto à cor/raça, é possível ver divergência em comparação com os demais estudos, em que esses apresentam a cor/raça branca como a mais acometida, porém o do estado do Tocantins apresenta a parda como principal. Ainda sobre internações, a faixa etária mais acometida em todos os estudos coincide com a demonstrada no TO, pessoas acima de 60 anos são as que apresentam maiores índices.

Após a análise dos dados disponíveis é visível a ausência de diferenciação entre IAM’s com supradesnivelamento ou sem supradesnivelamento de ST, diferenciação essa que permitiria uma melhor análise do quadro geral enfrentado pelos profissionais de saúde em serviços de urgência e emergência, permitindo o desenvolvimento de uma melhor padronização do manejo destes casos.

A região norte demonstrou menor número de casos em decorrência das demais, principalmente da região Norte do Brasil, porém é perceptível a falta de estudos destinados a melhor esquematização do perfil epidemiológico dos casos de IAM nessa região. Este fato afeta, diretamente, o estado do Tocantins, que se encontra na região menos estudada e poderia se beneficiar de uma melhor definição das características dos casos de internação por IAM.

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1residente de clínica médica pela Universidade Federal do Tocantins – rick.cash@gmail.com ; ORCID: 0009-0004-3509-5780

2Acadêmico do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins ORCID: 0009-0008-9139-942X

3coordenador da residência de clínica médica da Universidade Federal do Tocantins ORCID: 0000-0003-2971-0591