FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA NA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA

PROPRIOCEPTIVE NEUROMUSCULAR FACILITATION IN PERIPHERAL FACIAL PARALYSIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025091902


Vitória Verônika Kornarker
Thainara Karina Andrade Guilherme
 Pâmela Camila Pereira
Orientadora: Gislene Guimarães Garcia Tomazini


RESUMO

Introdução: A Paralisia Facial Periférica (PFP) é uma condição neurológica caracterizada pela perda parcial ou total da função motora de um ou mais músculos inervados pelo nervo facial. Nesse sentido, faz-se necessária a intervenção por meio da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), uma técnica de reabilitação destinada a recuperar a função motora dos músculos faciais afetados, promovendo a reinervação e a melhora do controle muscular. Objetivo: Investigar os efeitos da técnica FNP na PFP. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, analítico e sistematizado, realizado por meio da revisão de literatura. Para tanto, serão utilizados estudos entre os anos de 2021 e 2025, totalizando 23 artigos incluídos, sendo distribuídos em:12 de revisões de literatura, 3 revisões sistemáticas e 8 ensaios clínicos. Os estudos têm como base de dados os sites  PubMed, SciELO, Elsevier, Cochrane Library e Scopus Preview. Os Descritores em Saúde (DEC´s) utilizados foram Paralisia Facial, Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, Reabilitação Neurológica, Plasticidade Neuronal e Paralisia de Bell. Considerações Finais: A eficácia da FNP, têm demonstrado melhora significativa na reorganização neuromuscular, no controle motor e na simetria facial.

Palavras-chaves: Paralisia Facial. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva. Paralisia de Bell.

ABSTRACT

Introduction: Peripheral Facial Paralysis (PFP) is a neurological condition characterized by partial or complete loss of motor function in one or more muscles innervated by the facial nerve. In this context, intervention through Proprioceptive Neuromuscular Facilitation (PNF) becomes necessary. This rehabilitation technique aims to restore motor function in the affected facial muscles by promoting reinnervation and improving muscle control. Objective: To investigate the effects of the PNF technique on PFP. Methodology: This is a descriptive, analytical, and systematized study conducted through a literature review. Studies published between 2021 and 2025 were included, totaling 24 articles: 13 literature reviews, 3 systematic reviews, and 8 clinical trials. The databases used were PubMed, SciELO, Elsevier, Cochrane Library, and Scopus Preview. The Health Descriptors (DeCS) used were: Facial Paralysis, Proprioceptive Neuromuscular Facilitation, Neurological Rehabilitation, Neuronal Plasticity, and Bell’s Palsy. Final Considerations: The effectiveness of PNF has shown significant improvement in neuromuscular reorganization, motor control, and facial symmetry.

Keywords: Facial Paralysis. Proprioceptive Neuromuscular Facilitation. Bell’s Palsy.

1. INTRODUÇÃO

A Paralisia Facial Periférica (PFP) é uma condição neurológica caracterizada pela disfunção do nervo craniano VII, que resulta em fraqueza ou paralisia que pode ser unilateral ou bilateral. No Brasil, a incidência dessa patologia é de aproximadamente 20 a 25 casos a cada 100.000 habitantes ao ano. Além disso, a condição pode ser categorizada conforme sua etiologia e o grau de disfunção neuromuscular (Gaber et al., 2022; Camarim et al., 2024; Rocha et al., 2024).

Os músculos presentes na face são essenciais para funções como mastigação, deglutição e expressão não verbal, especialmente na mímica facial e nas emoções. Desse modo, a diminuição da tonicidade dos músculos orbicular dos lábios e bucinador pode comprometer a contenção alimentar, além de gerar alterações na fala, hiperacusia, lagoftalmo, redução do paladar, distúrbios da salivação e do lacrimejamento, bem como dormência periauricular. Ainda, deve-se ressaltar que essas disfunções, além de comprometerem a estética, afetam o estado emocional e a qualidade de vida do indivíduo (Miele et al., 2024; Silva et al., 2024).

Nesse contexto, a fisioterapia desempenha um papel fundamental na reabilitação da PFP, oferecendo benefícios significativos para a recuperação funcional dos movimentos.  Logo, entre as técnicas fisioterapêuticas utilizadas na PFP, destaca-se a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), também conhecida como Kabat. Esta é um recurso voltado para a melhora da força muscular, coordenação e flexibilidade (Silva et al., 2022; Ayesha et al., 2024).

A FNP utiliza movimentos diagonais com alongamento e resistência para ativar músculos enfraquecidos e estimular a neuroplasticidade. Sendo assim, a PFP, favorece a regeneração axonal, a remielinização e a reorganização das conexões neurais, promovendo a recuperação funcional, a coordenação da mímica facial e otimização das sinapses (Boahene, 2022; Hamed et al., 2023).

À vista disso, a FNP colaborai para a restauração do controle motor voluntário e da precisão dos movimentos faciais, minimizando sequelas e impactando positivamente a qualidade de vida dos indivíduos com PFP. No entanto, existe uma escassez de estudos que investiguem a efetividade da FNP na reabilitação fisioterapêutica da PFP. Portanto, isso justifica a realização de pesquisas que forneçam respaldo científico para sua inclusão nos protocolos de tratamento (Ayesha et al., 2024; Patel; Bachkaniwala, 2024).

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Paralisia Facial Periférica

A PFP é uma disfunção neurológica que afeta a condução de informações do nervo facial para os músculos da face, afetando a fala, a deglutição e a mastigação. Em virtude dos dados apresentados, deve-se citar que tal condição tem como característica a fraqueza ou paralisia unilateral, frequentemente causadas pela inflamação do nervo facial, que compromete a simetria e a funcionalidade muscular, além de gerar dor neuropática. Ademais, a recuperação depende da extensão da lesão, início do tratamento e capacidade de regeneração nervosa. Tais fatores podem resultar em recuperação completa ou complicações como as sincinesias (Boahene, 2022; Farias et al., 2023).

Em relação ao nervo facial (VII par craniano) é imprescindível destacar que ele possui cinco ramos e é crucial para a inervação dos músculos da expressão facial, percepção do paladar, para a sensibilidade auricular e para a inervação das glândulas salivares e lacrimais. Sua fisiopatologia envolve uma resposta inflamatória aguda, compressão do nervo no canal de Falópio, isquemia, desmielinização e possível degeneração Walleriana. Assim, a reabilitação busca a neuroplasticidade e regeneração nervosa, minimizando sequelas (Boahene, 2022; Silva et al., 2022; Ottaiano; Gomez; Freddi, 2023; Souza et al., 2023).

Já no que tange à etiologia da PFP inclui a paralisia de Bell (idiopática), a traumática, a congênita, a infecciosa (herpes zoster), a tumoral e a tóxica/metabólica (Diabetes Mellitus). Nesse cenário, a incidência da doença varia de 20 a 30 casos por 100 mil pessoas, afetando principalmente adultos. Por fim, o diagnóstico é clínico, complementado por Eletromiografia e Eletroneurografia (ENMG), que utilizam  a escala de House-Brackman (HBGS) para avaliar a gravidade dos sintomas (Gaber et al., 2022; Souza; Hoegen, 2022; Santos Neto et al., 2024).

2.1.1 Manifestações Clínicas

As manifestações clínicas da PFP incluem fraqueza ou paralisia facial, desvio dos lábios, redução na produção de saliva e de lágrimas, perda parcial do paladar e dificuldade em fechar os olhos. Na maioria dos casos, o prognóstico é positivo, com recuperação quase total em até três meses. Entretanto, alguns pacientes podem apresentar sequelas (Santana; Santos, 2022; Souza et al., 2023; Santos Neto et al., 2024).

2.2 A Técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva

A FNP, originalmente desenvolvida por Kabat para tratar a poliomielite, é uma técnica fisioterapêutica que utiliza movimentos para fortalecer e relaxar músculos, facilitando a execução de movimentos e ativando receptores sensoriais (Alves et al., 2023). Na PFP, a FNP desempenha um papel crucial na remielinização e regeneração nervosa. Isso se dá, pois a técnica estimula os músculos faciais afetados, ativando vias proprioceptivas e facilita a comunicação entre músculos e o sistema nervoso central. Como resultado, tem-se a na liberação de neurotrofinas essenciais para a sobrevivência neuronal e o crescimento axonal. Logo, a FNP induz uma resposta adaptativa nas células de Schwann, promovendo a formação de novas camadas de mielina ao redor dos axônios regenerados, restaurando a condução nervosa normal (Anggiat; Manurung; Manik, 2022).

Outrossim, a FNP facilita a regeneração nervosa, favorecendo o alongamento e a reconexão dos axônios lesionados aos seus alvos musculares. Assim, a atividade muscular repetitiva e o estímulo proprioceptivo auxiliam na direção dos axônios em crescimento, aumentando a precisão da reinervação e minimizando a ocorrência de reinervação aberrante. Desse modo, a técnica reduz a inflamação local e o edema, melhorando o fluxo sanguíneo e criando um ambiente propício à regeneração nervosa (Heera; Shahid; Bashir, 2023).

Adicionalmente, a FNP estimula a neuroplasticidade, reorganizando conexões sinápticas por meio de exercícios direcionados e ativação de vias neurais remanescentes. Esse processo, mediado pela liberação de fatores neurotróficos, permite que outras áreas do cérebro assumam funções motoras de neurônios danificados, compensando deficiências causadas por lesões no nervo facial e restaurando o controle motor voluntário. Ainda, em nível anatômico, a FNP contribui para a reorganização das vias motoras e sensoriais envolvidas na expressão facial, reativando as vias corticoespinhais e corticonucleares (Anggiat; Manurung; Manik, 2022).

Com relação às técnicas, a FNP utiliza a iniciação rítmica, o alongamento repetido, a resistência, o reforço e a combinação de isotônicos para estimular a contração muscular fásica e a padronização diagonal dos movimentos, que favorece a modulação do tônus e o fortalecimento da musculatura facial (Heera; Shahid; Bashir, 2023; Saleh et al., 2024). Nesse sentido, o alongamento rápido e contínuo contra a gravidade induz reflexos de estiramento por meio de pressões rápidas em grupos musculares distais, gerando contrações sustentadas de 3 a 10 segundos.

Dessa forma, a FNP contribui para a reestruturação muscular e nervosa, promovendo a regeneração de fibras nervosas, a prevenção da atrofia muscular, a reorganização neural e a formação de mielina, auxiliando na recuperação do nervo facial (Saleh et al., 2024).

Figura 1 – FNP nos músculos faciais.

Legenda: (A) FNP no músculo frontal, (B) FNP no músculo orbicular do olho, (C) FNP no músculo zigomático maior, (D) FNP no músculo orbicular da boca.
Fonte: Arquivo Pessoal.

3. OBJETIVO

Investigar os efeitos da técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva no tratamento da Paralisia Facial Periférica.

4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, analítico e sistematizado, foi realizado uma revisão de literatura, com levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados científicas: SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMED (National Library of Medicine) e Cochrane Library, Elsevier e Scopus Preview. A busca foi orientada por descritores padronizados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Paralisia Facial (Facial Paralysis), Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (Muscle Stretching Exercises), Reabilitação Neurológica (Neurological Rehabilitation), Plasticidade Neuronal (Neuronal Plasticity) e Paralisia de Bell (Bell Palsy).

Foram selecionados estudos recentes, publicados entre os anos de 2022 e 2025, totalizando 23 artigos incluídos, dos quais 12 de revisões de literatura, 3 revisões sistemáticas e 8 ensaios clínicos.

Os critérios de inclusão contemplaram estudos de caso, pesquisas bibliográficas e revisões sistemáticas, publicados na íntegra no idioma português ou inglês, que abordassem as disfunções decorrentes da PFP, além de ensaios clínicos que empregassem a FNP como abordagem terapêutica para a PFP.

Foram excluídos artigos de opinião, estudos de caso isolados e editoriais, por não apresentarem nível de evidência suficiente para fundamentação científica robusta.

Considerando a natureza metodológica do estudo, de caráter exclusivamente bibliográfico, não se fez necessária a submissão à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme as diretrizes da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde.

5. RESULTADOS

Durante a investigação, foram utilizados 6 artigos de ensaio clínico, que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão definidos. Os estudos selecionados abordaram intervenções aplicadas a diferentes faixas etárias, desde crianças até adultos. Além disso, os artigos tinham como foco as técnicas de FNP, a mímica facial, a mobilização neural e a terapia do espelho, visando melhorias na função neuromuscular.

Ademais, a maioria dos estudos analisados comparou a eficácia da técnica de FNP associada a outras abordagens terapêuticas. Nesse contexto, observou-se uma melhora estatisticamente significativa nos parâmetros funcionais e motores nos grupos que utilizaram a combinação de intervenções, em comparação aos grupos controle ou aqueles submetidos

apenas à fisioterapia convencional. Assim, a Tabela 1 apresenta as principais características metodológicas dos estudos incluídos.

Tabela 1 – Resultados dos autores sobre a eficácia da técnica FNP.  

Autor/anoMetodologiaIntervençãoResultados
Hamed et al. (2023).Estudo: ensaio clínico; Amostra: 30 pacientes; Sexo: feminino (n=16), masculino (n=14); Idade: 12 a 16 anos.G1: Kabat + FC (n=15); GC: FC (n=15). 6 semanas, 3x/sem, 60 minutos.G1 apresentou melhora significativa em comparação ao G2: Latência distal: ↓ significativa (p < 0,05). Amplitude: ↑ significativo (p < 0,05). Degeneração: ↓ significativa (p < 0,05). SFGS: Melhora significativa na pontuação (p < 0,05).
Heera; Shahid; Bashir (2023).Estudo: ensaio clínico; Amostra: 36 pacientes; Sexo: feminino (n=17, masculino (n=19); Idade: 25 a 45 anos.G1: FNP (n=18); G2: mobilização Neural (n=18); 3 meses, 3x/sem, 10-15 minutos.G1 demonstrou superioridade ao G2: Escala House-Brackman (p < 0,001) e FDI domínios físico e social (p < 0,001). FNP foi mais eficaz na recuperação da função facial.
Heera et al. (2023).Estudo: ensaio clínico; Amostra: 32 pacientes; Sexo: feminino (n=18), masculino (n=14); Idade: 25 a 50 anos.G1: kabat + terapia de espelho (n=16); G2: Kabat (n=16); 1 mês, 3x/sem, 10-15 minutos.G1 apresentou melhores desfechos, com diferenças significativas em relação ao G2: Função Física (IDE): p = 0,000. Função Social (IDE): p < 0,05. Escala HBGS: p = 0,013 e p = 0,001.
Ramya et al. (2023).Estudo: ensaio clínico Amostra: 78 pacientes; Sexo: feminino (n=46), masculino (n=32); Idade: 15 a 60 anos.G1:Mímica facial + estimulação elétrica (n=39); G2: FNP + estimulação elétrica (n=39); 6 semanas, 6x/sem, 30 minutos.Os grupos apresentaram melhora significativa nos escores. G1 obteve resultados superiores: SBFGS: p < 0,001. Função Física (FDI): p < 0,001. Função Social (FDI): p < 0,001.  
Amjad et al. (2024).Estudo: ensaio clínico; Amostra: 72 pacientes; Sexo: feminino (n=41), masculino (n=31); Idade: 25 a 50 anos.G1: Kabat + FC (n=36); G2: Terapia mímica + FC (n=.36). 6 semanas,3x/sem, 30 minutos.G1 obteve resultados superiores: Sinquinesia (6ª semana): p < 0,001. FDI: p < 0,001. Esses dados reforçam a maior eficácia do G1 na melhora funcional.  
Patel; Bachkaniwa (2024).Estudo: ensaio clínico; Amostra: 31 pacientes; Sexo: feminino (n=18), masculino (n=13); Idade: 40 a 60 anos.G1: Kabat + FC (n=16); G2: terapia do Livro Espelho + FC (n=15).G2 apresentou melhora significante maior na amplitude do músculo frontal (p = 0,000) e na latência distal do músculo nasal (p = 0,021) em relação ao G1.

Legenda: G1: grupo 1; G2: grupo 2, SFGS: Sistema de Classificação Facial de Sunnybrook; FDI: Índice de Incapacidade Facial; Fisioterapia convencional: FC.   
Fonte: Autoria Própria  

6. DISCUSSÃO

A reabilitação fisioterapêutica da PFP tem avançado significativamente nos últimos anos, especialmente com a associação da FNP como intervenção terapêutica. Segundo Patel e Bachkaniwa (2024), a FNP atua na reorganização motora por meio da estimulação dos receptores musculares e articulares, facilitando o restabelecimento de padrões de movimentos voluntários e simétricos. Sob a mesma perspectiva, Amjad e colaboradores (2024), ao investigarem a Reabilitação de Kabat, fundamentada nos princípios da FNP, observaram resultados estatisticamente superiores aos da terapia de mímica facial isolada, com melhora significativa nas escalas: Facial Disability Index (FDI) e HBGS (p<0,001). Complementando esses achados, Hamed et al. (2023) demonstraram, por meio da ENMG que a FNP promoveu aumentos eletrofisiológicos expressivos, com ganho de 88,3% vs 107,8% na amplitude dos músculos frontais e orbiculares, além da redução do percentual de degeneração neural, reforçando a eficácia da técnica não só clinicamente, como também em nível neuromuscular.

Paralelamente, a análise da composição amostral dos estudos, evidência que ocorre influência da idade média dos participantes na resposta terapêutica. Amjad et al. (2024) trabalharam com indivíduos mais jovens, com média de 32,6 anos, enquanto Hamed et al. (2023) avaliaram pacientes ainda mais jovens com média de 22 anos, refletindo possivelmente na maior neuroplasticidade. Em contraste, Heera et al. (2023) exploraram casos de adultos com média de 45 anos, mesmo assim, encontraram ganhos funcionais significativos, especialmente na força muscular facial, com incremento de 35% na Escala de Avaliação de Força e Mobilidade Facial. Esses dados reforçam que, apesar da idade influenciar a resposta neurofuncional, a FNP mostra-se efetiva também em indivíduos mais velhos, desde que aplicada com parâmetros adequados de resistência e repetição motora.

Nessa perspectiva, as abordagens integradas, que combinam FNP a outras modalidades terapêuticas, têm demonstrado resultados superiores aos das intervenções isoladas. Heera et al. (2023), ao associarem os exercícios de Kabat à Terapia de Espelho, observaram uma redução média na escala HBGS de 3,00 vs 1,34 no grupo combinado, frente a 3,00 vs 1,41 no GC, com significância estatística (p<0,05). Já no estudo de Heera, Shahid e Bashir (2023), houve a comparação de FNP com a mobilização neural e relataram escore médio pós-tratamento de 90,28 para o grupo FNP, em contraste com 73,61 no GC. Por sua vez, Ramya et al. (2023) mostraram que a associação entre terapia de mímica e estimulação elétrica teve um desempenho superior às intervenções isoladas sugerindo que estratégias multimodais com ativação neuromuscular coordenada são mais eficazes na recuperação facial.

Além disso, a análise funcional objetiva também mostra benefícios expressivos com a aplicação da FNP, especialmente em força e amplitude de movimento. Heera et al. (2023) relataram melhora de 37% na amplitude facial, mensurada por medidas angulares e expressão voluntária. Em concordância, Amjad et al. (2024) demonstraram aumento de 29% nos mesmos parâmetros ao combinarem FNP e fisioterapia convencional, com destaque para as regiões orbiculares e zigomáticas. Comparativamente, Hamed et al. (2023), utilizando estimulação elétrica funcional, obtiveram um aumento de 40% na amplitude de movimento, resultado que pode ser atribuído à menor idade média dos participantes (22 anos), o que potencializa a resposta eletrofisiológica.

Ainda nesse contexto, a redução de sincinesias, foi outro achado relevante. Heera et al. (2023) evidenciaram uma diminuição de 40% na frequência desses eventos após intervenção com FNP. Do mesmo modo, deve-se citar Amjad et al. (2024) reforçaram esses dados, observando redução de 35%, enquanto Ramya et al. (2023), com foco na terapia de mímica, relataram diminuição de aproximadamente 30%. Ambos resultados destacam que a FNP, por promover padrões motores inibitórios e treinos direcionados, possui grande potencial na modulação do controle motor e na prevenção da ativação muscular descoordenada.

Em síntese, os instrumentos de avaliação utilizados foram fundamentais para garantir a confiabilidade dos resultados. A FDI foi amplamente utilizada por Amjad et al. (2024), Heera et al. (2023) e Hamed et al. (2023), sendo eficaz na mensuração dos domínios físico e psicossocial da função facial. Bem como, a HBGS foi utilizada em todos os estudos como critério de graduação motora, e o Sunnybrook Facial Grading System (SFGS), presente nos trabalhos de Hamed et al. (2023) e Ramya et al. (2023), permitiu uma avaliação detalhada da simetria e sincinesia. Por outro lado, a ENMG, empregada por Hamed et al. (2023), se destacou como método Padrão Ouro, por sua objetividade, revelando alterações de latência de 18,12% vs 13,6% no grupo intervenção, frente a 10,8% vs 7,7% no grupo controle.

Dessa forma, observa-se que a FNP tem se consolidado como uma intervenção terapêutica relevante no contexto da reabilitação da PFP, especialmente quando integrada a outras técnicas. Assim sendo, os dados discutidos reforçam seu potencial em promover ganhos funcionais significativos, evidenciando a importância de se considerar fatores como idade, tipo de associação terapêutica e instrumentos de avaliação na escolha dos protocolos. Por fim, conclui-se que a continuidade de estudos com metodologias robustas e amostras diversificadas poderá ampliar ainda mais a compreensão sobre os mecanismos envolvidos e otimizar as aplicações clínicas da técnica.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A eficácia da FNP tem demonstrado melhora significativa na reorganização neuromuscular, no controle motor e na simetria facial de pacientes. Com base nisso, a FNP se evidência como uma abordagem promissora para a reabilitação desses indivíduos, contribuindo para a restauração da expressividade facial, para a redução de sincinesia e para a melhora da qualidade de vida. Portanto, a associação da FNP com outras técnicas, pode potencializar os resultados. Diante disso, a técnica representa uma estratégia eficaz e funcional para a otimização dos protocolos terapêuticos na PFP.

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