TECHNOLOGY AND INNOVATION IN WORKPLACE SAFETY: THE ROLE OF NEW TECHNOLOGIES AND DIGITAL TOOLS IN PROMOTING SAFETY ON CONSTRUCTION SITE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506051020
Gabrielle Lopes da Silva
Samara Ferreira da Silva
Carolyne Amélia Assis Ávila
RESUMO
O desenvolvimento tecnológico tem transformado diversas áreas produtivas, incluindo a construção civil, especialmente em relação à segurança no trabalho, um campo marcado por elevados índices de acidentes e riscos ocupacionais. Este estudo teve como objetivo identificar os obstáculos e potencialidades na utilização de tecnologias para aprimorar a segurança em obras. A metodologia adotada foi uma revisão narrativa da literatura, abrangendo livros, artigos científicos, teses, dissertações e documentos oficiais, com critérios de inclusão relacionados à pertinência temática e à confiabilidade das fontes. Os resultados apontaram que tecnologias como realidade virtual (VR), modelagem de informações da construção (BIM) e rastreamento ocular têm potencial significativo para mitigar riscos. Estudos destacam que a aplicação de VR em treinamentos aumenta a conscientização sobre perigos, enquanto o uso do BIM na fase de projeto facilita a identificação precoce de riscos e o planejamento de medidas preventivas, como a organização do canteiro de obras. Apesar disso, desafios como altos custos, resistência à adoção e a necessidade de qualificação técnica limitam a implementação ampla dessas soluções. Concluiu-se que a viabilidade do uso da tecnologia para melhorar a segurança em obras depende de investimentos em infraestrutura e capacitação, além de políticas públicas que incentivem a modernização do setor. Ao superar esses obstáculos, as empresas podem reduzir acidentes, promover ambientes mais seguros e, simultaneamente, aumentar a produtividade e a competitividade no mercado.
Palavras-chave: Inovação. Construção Civil. Segurança do Trabalho.
ABSTRACT
Technological development has transformed several productive areas, including civil construction, especially in relation to workplace safety, a field marked by high accident rates and occupational risks. This study aimed to identify the obstacles and potential in the use of technologies to improve safety in construction sites. The methodology adopted was a narrative review of the literature, covering books, scientific articles, theses, dissertations and official documents, with inclusion criteria related to thematic relevance and reliability of sources. The results indicated that technologies such as virtual reality (VR), building information modeling (BIM) and eye tracking have significant potential to mitigate risks. Studies highlight that the application of VR in training increases awareness of hazards, while the use of BIM in the design phase facilitates the early identification of risks and the planning of preventive measures, such as the organization of the construction site. Despite this, challenges such as high costs, resistance to adoption and the need for technical qualification limit the widespread implementation of these solutions. It was concluded that the viability of using technology to improve safety in construction sites depends on investments in infrastructure and training, in addition to public policies that encourage the modernization of the sector. By overcoming these obstacles, companies can reduce accidents, promote safer environments and, simultaneously, increase productivity and competitiveness in the market.
Keywords: Innovation. Civil Construction. Occupational Safety.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da tecnologia apresenta subsídios relevantes para o aprimoramento de diversas áreas produtivas, sendo notável a celeridade como se processa a evolução e a forma como ela se insere no dia a dia das pessoas e das organizações. Um exemplo nesse sentido trata-se da tecnologia e da inovação no campo da construção civil, observando que tais aprimoramentos ocorrem em todas as etapas e processos.
Ressalta-se, nesse contexto, o aporte de qualidade ao trabalho no âmbito da segurança em obras, diante dos elevados riscos e da grande quantidade de acidentes de trabalho na construção civil, indicando a imprescindibilidade de medidas voltadas à proteção ao trabalhador.
A atenção aos preceitos que se relacionam à segurança no trabalho pode ser decisiva para a produtividade e competitividade na construção civil, a partir da redução dos índices de acidentes de trabalho e adoecimentos profissionais. Para tanto, evidencia-se as possíveis contribuições tecnológicas ora empregadas em diversos países, inclusive no Brasil.
Atualmente, a tecnologia é empregada para evitar acidentes e lesões entre trabalhadores, além de aprimorar a segurança no ambiente laboral. As empresas estão reconhecendo que, ao utilizar recursos tecnológicos para fortalecer a saúde e segurança no trabalho, conseguem atender às normas e legislações, oferecendo melhores condições para seus colaboradores (Alago, 2023).
Destaca-se, no entanto, que os dados que se relacionam aos acidentes do trabalho em obras permanecem elevados, o que suscita o desenvolvimento de iniciativas, inclusive com uso da tecnologia, no sentido de melhorar a efetividade das ações intrínsecas à segurança do trabalho. Pergunta-se quais são os requisitos para a viabilidade de utilização da tecnologia para aportar maior qualidade à segurança em obras.
O objetivo do trabalho foi identificar os obstáculos e as potencialidades para a utilização dos recursos provenientes das novas tecnologias e ferramentas digitais para a segurança nas obras.
A metodologia utilizada foi a revisão narrativa de literatura, com fundamento em livros, artigos científicos, teses, dissertações e textos oficiais a respeito do tema. Os critérios de inclusão corresponderam à pertinência à proposta do trabalho e fidedignidade das fontes, bem como o idioma português ou inglês. Não foram incluídos trabalhos de graduação, estudos bibliométricos e textos publicados parcialmente.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 OS RISCOS INERENTES AO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Em 2022, foram contabilizados aproximadamente 612,9 mil acidentes de trabalho no Brasil, dos quais 2,5 mil resultaram em fatalidades notificadas ao MPT e ao INSS. Cerca de 40% desses incidentes estão associados a quedas durante atividades realizadas em altura. Esse tipo de acidente é comum e muitas vezes fatal, já que operações em altura fazem parte de diversos setores produtivos (Saraiva, 2023).
Um dos campos mais perigosos para se trabalhar é a indústria da construção. Todos os trabalhadores, especialmente aqueles desse setor, estão expostos e vulneráveis a acidentes que podem levar à incapacidade não permanente, incapacidade permanente ou morte. A ignorância dos procedimentos de segurança e proteção, como usar EPI e compreender as regras de segurança escritas, podem resultar em danos significativos aos trabalhadores. Além disso, a singularidade da indústria e das condições do canteiro de obras também desempenham um grande papel na causa de acidente ou morte (Saudi et al., 2020).
No entanto, não se trata de uma realidade exclusivamente apresentada no Brasil. Conforme Zaidi et al. (2024), mundialmente, a indústria da construção sofre um número excessivo de acidentes fatais e não fatais. Com base em um relatório da Organização Internacional do Trabalho, os trabalhadores da construção em países desenvolvidos enfrentam uma probabilidade quase quatro vezes maior de sofrer acidentes fatais em comparação com os trabalhadores de outras indústrias. Da mesma forma, seus equivalentes em países menos desenvolvidos correm um risco quase seis vezes maior em comparação com os trabalhadores de vários outros setores. Mortes e casos de incapacidade permanente ocorrem com frequência alarmante na indústria da construção.
Nesse contexto, a saúde e segurança ocupacional (SSO) é essencial para a gestão organizacional, embora ainda careça de consenso sobre definições, indicadores e métodos de avaliação, o que impacta a saúde dos trabalhadores e dificulta a gestão eficiente. Indicadores de desempenho são ferramentas estratégicas que ajudam a implementar ações de gestão de riscos e monitoramento eficazes, reduzindo custos com acidentes e melhorando reputação, satisfação e produtividade. A integração da ergonomia e a crescente adoção de sistemas de gestão de SSO destacam a importância de proporcionar ambientes seguros e saudáveis, beneficiando tanto os trabalhadores quanto as organizações, que se tornam mais competitivas ao investir em programas de promoção da saúde (Ledic Neto; Moro; Ensllin, 2024).
Destaca-se que o envolvimento dos trabalhadores na segurança pode contribuir de forma sistemática para diminuir a probabilidade de erros humanos, promovendo maior conscientização e comprometimento com suas tarefas, ambientes e os riscos envolvidos, além de possíveis armadilhas de erro existentes. Dessa forma, um maior engajamento dos trabalhadores em ações voltadas para a segurança pode estar potencialmente associado à melhoria no desempenho em segurança, conforme indicado por resultados padrão nessa área (Wachter; Yorio, 2014).
2.2 TECNOLOGIA E SEGURANÇA DO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Avanços na indústria de construção moderna contribuíram para o desenvolvimento de uma gama de intervenções baseadas em tecnologia, para melhorar o comportamento de segurança dos trabalhadores da linha de frente da construção. Apesar da extensa pesquisa sobre comportamento de segurança, ainda há uma escassez de pesquisas sobre avaliação de intervenções tecnológicas de comportamento de segurança para fornecer uma visão geral de seus pontos fortes e limitações (Newas et al., 2024).
Para preencher essa lacuna de conhecimento, é importante a investigação a respeito dos diferentes tipos de instruções de segurança, como reforço positivo mostrando demonstrações corretas e reforço negativo, mostrando consequências fatais. Assim, verifica-se a relevância da abordagem sobre o modo como as características do trabalho afetam os comportamentos de segurança em uma situação perigosa (Shi et al., 2019).
A tecnologia tem desempenhado um papel muito importante na segurança dos trabalhadores, proporcionando treinamentos e relatórios que aumentam a conscientização sobre os riscos no ambiente de trabalho. Com sistemas de comunicação avançados, a tecnologia permite prevenir acidentes e responder rapidamente a incidentes. A transformação digital na segurança do trabalho também facilita a integração de ferramentas, otimizando operações e economizando tempo e recursos, enquanto promove um ambiente mais seguro e reduz a ocorrência de acidentes (Alago, 2023).
As abordagens dos pesquisadores na introdução de tecnologias para lidar com o risco de comportamento inseguro são diferentes, mas são complementares entre si de uma perspectiva mais ampla. A revisão dos estudos recentes revelou que três abordagens genéricas foram adotadas para esse propósito. A primeira e mais importante abordagem inclui tomar medidas antes de iniciar as atividades de construção por meio da detecção precoce do grupo vulnerável de trabalhadores que são propensos à não conformidade com a segurança e comportamento inseguro (Patel; Jha, 2014, Li et al., 2019)
Entre esses estudos, a detecção de rastreamento ocular e algoritmos de previsão podem ser mencionados. Esses estudos incorporam tecnologias emergentes para lidar com o risco de comportamento inseguro no estágio inicial da integração de recursos humanos (Li et al., 2019). O uso de rastreamento ocular e realidade virtual ajuda a reconhecer o grupo de trabalhadores que são vulneráveis a riscos de segurança.
Segundo Shi et al. (2019), devido à dificuldade de simular situações perigosas no mundo real, um sistema de realidade virtual multiusuário com um recurso de rastreamento de corpo inteiro foi desenvolvido. Vários estudos de realidade virtual indicam que o ambiente virtual realista pode fornecer uma forte sensação de presença e fazer com que as pessoas respondam realisticamente. No modelo de realidade virtual desenvolvido, um cenário de caminhada entre dois prédios altos foi selecionado como a situação perigosa. Os resultados deste estudo indicam que os dois métodos de aprendizagem social mudam sistematicamente os comportamentos de segurança no nível individual.
Outro estudo envolvendo a utilização de realidade virtual na segurança do trabalho na construção civil foi realizado por Shringi et al. (2022), a partir dos guindastes de torre que são frequentemente usados para instalação de módulos pré-fabricados e são recursos sob demanda em construção fora do local. Guindastes de torre, no entanto, estão associados a muitos acidentes no local e ferimentos graves.
Shringi et al. (2022) elaboraram uma estrutura de treinamento de segurança baseada na percepção de risco dos operadores de guindastes de torre, visando melhorar o desempenho em segurança e reduzir acidentes. Utilizando modelos de informações de construção (BIM) e realidade virtual, essa estrutura permite criar cenários de treinamento contextualizados para operações de elevação, o que melhora a conscientização situacional dos operadores, capacitando-os a antecipar riscos em ambientes de construção dinâmicos. Como resultado, há uma redução no número de incidentes e lesões com perda de tempo. A estrutura também facilita a adoção de métodos de construção mais modernos, como a pré-fabricação fora do local, ajudando empreiteiros menos experientes a mitigar riscos de segurança.
Trazendo como exemplo a utilização da Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modeling – BIM), verifica-se que o uso de sistemas voltados ao controle e planejamento dentro da Engenharia é um dos principais indicadores da modernização de diferentes setores da produção, com destaque especial para as abordagens propostas pelo BIM. Essa metodologia tem como objetivo modelar os processos associados à produção, comunicação e análise do projeto de uma construção. Os benefícios proporcionados pela aplicação dessa metodologia variam de acordo com a fase do ciclo de vida do projeto, que inclui a concepção, a execução e a operação. (Eastman et al., 2011, Ruschel; Andrade; Morais, 2013).
Segundo Fernández-Mora, Navarro e Yepes (2022), embora os recursos do BIM sejam amplamente utilizados, não há um consenso claro sobre sua definição, pois depende da percepção dos profissionais, que o veem como uma metodologia, produto ou método. BIM é entendido como uma tecnologia da Engenharia, voltada para a criação de modelos tridimensionais de projetos, que vão além da simples modelagem digital. Esses modelos devem permitir comunicação, modificação e análise em tempo real, utilizando parâmetros interligados para compartilhar propriedades, possibilitando a criação de modelos n-dimensionais atualizados e interconectados.
O uso de métodos tradicionais, como desenhos 2D, diagramas e checklists de normas de segurança em papel, torna a observação por parte do supervisor de segurança detalhada, dificultando a identificação de todos os riscos potenciais em uma área de trabalho no momento em que eles ocorrem. Assim, embora técnicas de análise tenham sido propostas para apoiar a gestão de segurança, ainda são desenvolvidas manualmente e de forma estatística. Por outro lado, o uso do Building Information Modeling (BIM) tem sido cada vez mais incorporado em diferentes setores da construção civil, ganhando destaque na programação, controle de custos, gestão de qualidade, entre outros (Taype; Dezen-Kempter, 2020).
O uso do BIM permite uma identificação mais rápida e fácil dos riscos em uma obra, sendo, no entanto, mais eficaz quando feita ainda na fase de projeto. Isso possibilita que os projetistas planejem com maior qualidade o layout do canteiro de obras, determinando os locais ideais para a instalação de itens de segurança e a definição dos fluxos de circulação. Essa abordagem resulta em um custo inferior se comparado às modificações necessárias quando os riscos são detectados durante a execução da obra (Zhuang et al., 2016).
Nos últimos anos, o BIM passou a ser introduzido na segurança do trabalho, com o desenvolvimento de aplicativos específicos para esse fim. A integração da segurança no trabalho tradicional com as novas tecnologias de gestão é praticamente inexistente. No entanto, uma das formas de integração possíveis no BIM está na simulação 4D, que visa mitigar riscos na fase de projeto. Além disso, a implementação de novas tecnologias na gestão da segurança oferece uma oportunidade para incluir também a gestão de produção (Taype; Dezen-Kempter, 2020).
A implementação eficaz da tecnologia em segurança de construção complementa a cultura de segurança existente, seus procedimentos e processos. Um método semiautomatizado foi apresentado por Wang, Zhang e Teizer (2015) para identificar os riscos de segurança e saúde associados a quedas em fossos escavados. Ele segue abordagens existentes em modelagem de informações geotécnicas, aquisição de dados 3D paramétricos e rápidos automatizados e abordagens baseadas em modelagem em pesquisa de construção.
O risco relacionado a quedas de altura é identificado utilizando tecnologia de varredura a laser que mede os parâmetros geométricos, por exemplo, valor de profundidade e razão de declive, de um fosso escavado. O registro e a limpeza da nuvem de pontos são feitos manualmente, embora técnicas automatizadas existam hoje. Uma vez que as condições 3D construídas do fosso são analisadas, pontos de características são extraídos que auxiliam na criação de um modelo de informação 3D simplificado do fosso. O guarda-corpo de segurança de proteção é então adicionado ao modelo automaticamente usando a verificação de regras de segurança na modelagem de informações de construção (BIM) (Wang; Zhang; Teizer, 2015).
O projeto assistido por computador (CAD) é uma tecnologia utilizada por engenheiros, arquitetos e outros profissionais para criar projetos precisos, como ferramentas, máquinas e edifícios. O CAD inclui programas para desenho bidimensional, modelagem de superfícies e modelagem tridimensional. Ele permite criar desenhos executivos limpos, claros e com dimensões exatas. O CAD oferece vantagens significativas, como redução de custos, maior velocidade de processamento e ciclos de projeto mais curtos, além de liberar os profissionais para focarem no design em vez de perderem tempo com documentos antigos (Leake; Borgerson, 2023; Kubba, 2014).
Benjaoran e Bhokha (2010) descrevem um sistema integrado para segurança e gerenciamento de construção usando o modelo CAD 4D. A segurança é integrada ao processo de gerenciamento de construção durante as fases de projeto, planejamento e controle. As informações de projeto sobre componentes de construção e informações de planejamento sobre atividades foram coletadas para formular o modelo CAD 4D. O sistema baseado em regras analisa essas informações combinadas para detectar automaticamente quaisquer riscos de trabalho em altura e também indica as medidas de segurança necessárias em termos de atividades e requisitos.
Essas medidas de segurança são inseridas no cronograma de construção e visualizadas no CAD 4D junto com as outras sequências de construção. Um protótipo é desenvolvido e verificado com um estudo de caso do projeto. Os resultados mostram que o sistema desenvolvido pode ser uma ferramenta de colaboração para designers, engenheiros de projeto, oficiais de segurança e outros participantes do projeto. Ele pode aumentar a conscientização sobre segurança da equipe e leva a revisões do projeto e do plano para serem consistentes com a segurança. As medidas de segurança estão aparentemente no cronograma; portanto, os recursos certos são alocados, as restrições de segurança são consideradas e aliviadas com antecedência, e o controle de segurança também pode ser explicitamente mencionado. Isso contribui para o sucesso do gerenciamento de segurança na indústria da construção (Benjaoran; Bhokha, 2010).
Outros recursos importantes passíveis de serem empregados no âmbito da segurança no trabalho são representados pela utilização da inteligência artificial. Segundo Shah e Mishra (2024), a inteligência artificial desempenha um papel importante em vários aspectos do processo de trabalho, revolucionando a forma como as tarefas são executadas e gerenciadas. Por meio de métodos computacionais que analisam e processam dados, a IA permite ações específicas que impactam a dinâmica do trabalho. As tecnologias de IA passaram a ser utilizadas na saúde ocupacional, facilitando o exame de dados estruturados e não estruturados.
Essa tecnologia encontra aplicação em diversas áreas, como coordenação de máquinas e processos industriais, gestão da força de trabalho (especialmente de uma perspectiva de recursos humanos, avaliação de risco do cliente, análise de benefícios e avaliação de segurança da equipe. Para proteger sua força de trabalho, os empregadores podem adotar várias estratégias, sendo que estas medidas incluem fornecer informações e treinamento sobre riscos no trabalho, implementar programas de segurança abrangentes e fornecer EPI (Shah; Mishra, 2024).
Apesar desses esforços, o erro humano continua sendo uma causa significativa de acidentes no local de trabalho. Nesse conteto, a IA pode desempenhar um papel vital. Devido à sua capacidade de processar e analisar dados rapidamente, a IA pode identificar efetivamente riscos e perigos potenciais que podem passar despercebidos pelos humanos. A IA introduziu novas abordagens ao trabalho, exemplificadas pela avaliação do desempenho dos funcionários usando processos tecnológicos (Shah; Mishra, 2024).
Zhang, Shi e Yang (2020) exploraram a viabilidade potencial de integrar smartphones e redes neurais artificiais (RNA) para detectar e medir quedas quase fatais para aprimorar o monitoramento da segurança na construção. A detecção de queda foi realizada com base em dados adquiridos por acelerômetros triaxiais incorporados em um smartphone carregado pelo trabalhador, medindo a variação na energia liberada pelo trabalhador devido ao ajuste da postura durante a perda de equilíbrio e recuperação. Tecnologias emergentes de segurança na construção, como sensores vestíveis, robótica de construção (por exemplo, exoesqueletos), realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV) e Internet das Coisas (IoT), também foram implementadas em conjunto para aumentar a capacidade de fornecer uma solução duradoura para vários problemas relacionados à segurança no canteiro de obras.
Abordando a utilização da IoT, Raman e Mitra (2023) consideram que uma rede de sensores pode reunir dados em tempo real de vários locais de trabalho para monitorar as condições ambientais, o funcionamento do equipamento e as ações do pessoal. O sistema desenvolve uma infraestrutura de IoT abrangente para segurança ocupacional, incluindo sensores ambientais para temperatura, umidade, qualidade do ar e ruído.
Sensores vestíveis também são investigados para sinais vitais e mobilidade do trabalhador. Os dados devem ser enviados para uma plataforma central onde análises poderosas e IoT descobrem perigos, anormalidades e tendências perigosas. A integração de técnicas de detecção de perigo com avisos e notificações em tempo real é vital para a análise. Circunstâncias perigosas acionam alertas rápidos para trabalhadores e supervisores. Essa estratégia proativa permite rápida mitigação de riscos e prevenção de acidentes. O sistema também aborda a privacidade e a segurança de dados na estrutura de IoT, sugerindo métodos para proteger dados confidenciais ao mesmo tempo em que permite a troca de dados (Raman; Mitra, 2023).
Outras tecnologias, como Inteligência Artificial, veículos aéreos não tripulados ou drones e modelagem 3D, por exemplo, Building Information Modeling – BIM, foram implementadas na indústria da construção para melhorar a saúde e a segurança dos trabalhadores. Essas tecnologias têm sido usadas em vários domínios de segurança da construção para fornecer uma solução duradoura para vários problemas relacionados a ferimentos e fatalidades de trabalhadores da construção. Devido à sua capacidade de fornecer respostas em tempo real e monitoramento da segurança, tecnologias avançadas têm sido cada vez mais usadas para melhorar o gerenciamento da segurança da construção (Maali; Ko; Nguyen, 2024).
A utilização da realidade aumentada pode contribuir sobremaneira para a adoção de sistemas de segurança eficazes nos canteiros de obras. Segundo Lucena, Fazinga e Saffaro (2023), a utilização de elementos virtuais no contexto construção civil vai além da representação simbólica, possibilitando a antecipação ágil de problemas e a previsão de interferências, o que resulta em uma melhor compreensão da obra em execução e tomada de decisões mais precisas.
Souza (2019) apresenta diversos exemplos de sistemas de tecnologia aumentada aplicados à segurança do trabalho nas obras. Estes recursos empregam tecnologias de realidade virtual, BIM, óculos de realidade aumentada, visualização de modelos em escala correta, aplicativos de medição, elementos virtuais que interagem com o que é real, entre outras opções.
Além disso, o emprego da tecnologia aumentada contribui para a capacitação dos gestores, tornando o treinamento mais ativo e eficiente. Contudo, o uso dessas tecnologias enfrenta desafios, como o alto custo e o esforço computacional necessários para dispositivos imersivos, o que dificulta sua disseminação, embora alternativas mais simples e baratas, apesar de limitadas em interação e imersão, representem uma solução promissora (Lucena; Fazinga; Saffaro, 2023).
A utilização de drones na segurança em canteiros de obras foi abordada por Katar (2023), considerando que estes equipamentos podem capturar vídeos em tempo real de situações em andamento em canteiros de obras. As descobertas destacam a praticidade do uso de drones no gerenciamento de segurança, demonstrando que as condições de visão simples produzem precisão satisfatória na detecção. A indústria da construção continua engajada na exploração das diversas aplicações dos drones, sendo que as empresas de construção e pesquisadores de engenharia reconhecem ativamente a importância dos drones em seu trabalho.
Gheisari, Irizarry e Walker (2014) investigaram as aplicações dos drones em inspeções de segurança em canteiros de obras. Em seu estudo, os pesquisadores projetaram um experimento para simular um canteiro de obras e avaliar a tarefa de detectar se os trabalhadores estavam usando capacetes. Os autores utilizaram um drone de pequena escala foi usado como uma ferramenta para explorar potenciais benefícios para gerentes de segurança dentro da inspeção de segurança do local de trabalho da construção.
Os responsáveis pela segurança em obras devem realizar vistorias no local de trabalho e verificar a situação atual de segurança dos trabalhadores, materiais e equipamentos, enquanto têm interação direta com os trabalhadores. Os autores acreditam que fornecer aos profissionais que são responsáveis pela segurança um drone assistente de inspeção de segurança seria extremamente benéfico e pode permitir que eles atinjam os objetivos em relação à proteção contra acidentes de trabalho (Gheisari; Irizarry; Walker, 2014)
Trazendo como exemplo o uso do BIM, Seixas et al. (2022) afirmam que essa utilização facilita a identificação dos riscos de uma obra de maneira mais ágil e simples, mas essa detecção se torna ainda mais eficiente se for feita na fase de planejamento, possibilitando aos projetistas um planejamento mais qualificado do layout do canteiro. Isso permite definir os locais ideais para a instalação de itens de segurança e os fluxos de passagem, tudo a um custo inferior ao que seria necessário caso os riscos fossem detectados durante a execução da obra.
Seixas et al. (2022) utilizaram os recursos da modelagem BIM para a verificação das condições físicas da obra, com qualidade e precisão, possibilitando fundamentos para a tomada de decisão. Por exemplo, os autores identificaram a falta de equipamentos de proteção coletiva essenciais.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se relevância da integração entre tecnologia e segurança do trabalho no setor da construção civil. A pesquisa evidenciou que os avanços tecnológicos, como o uso de BIM, realidade virtual e ferramentas de rastreamento, têm potencial para transformar práticas de segurança, desde a etapa de planejamento até a execução das obras. Contudo, a aplicação dessas tecnologias exige um alinhamento estratégico com os preceitos de segurança, treinamento adequado e conscientização de gestores e trabalhadores.
Apesar do progresso observado em iniciativas tecnológicas, ainda há lacunas na implementação generalizada e eficaz desses recursos, sobretudo em países em desenvolvimento. Os altos índices de acidentes de trabalho revelam a necessidade de maior engajamento de todos os atores envolvidos, empresas, órgãos reguladores e trabalhadores, para fomentar uma cultura de segurança integrada e sustentável. O desafio consiste em alinhar essas tecnologias às normas existentes e ao contexto local de cada projeto, garantindo maior adesão e impacto positivo.
Além disso, o estudo aponta a necessidade de abordagens mais amplas que considerem tanto o aprimoramento das tecnologias quanto a educação e capacitação dos trabalhadores para utilizá-las. Programas de treinamento que incorporem metodologias inovadoras, como a realidade virtual, podem contribuir significativamente para a redução de riscos, fortalecendo a conscientização e a habilidade de antecipação dos perigos no ambiente laboral. Assim, a combinação entre tecnologia e capacitação humana é essencial para resultados mais efetivos.
Ressalta-se que o trabalho reafirma que o avanço da tecnologia não substitui a importância de políticas e práticas robustas de segurança do trabalho. Ao contrário, ela serve como um recurso complementar para potencializar a proteção dos trabalhadores. Portanto, a promoção de iniciativas integradas, que unam inovação tecnológica, gestão eficiente e educação contínua, é indispensável para transformar a construção civil em um setor mais seguro, competitivo e sustentável.
Destaca-se a escassez de estudos sobre o tema, considerando sua relevância no campo da segurança do trabalho, o que sugere uma sub-exploração que remete à possível falta de divulgação a respeito da importância da tecnologia como subsídio à segurança nos canteiros de obras. Diante dessa realidade, espera-se que o presente trabalho possa contribuir para o conhecimento a respeito do assunto, bem como para subsidiar pesquisas futuras.
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