PHYTOTHERAPY IN PERIODONTICS: USE OF NATURAL EXTRACTS AS THERAPEUTIC ADJUVANTS: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505311340
Matheus Ferreira Porto1; Rhuann Ayran Castro Borburema2; Alexsandra Alves de Brito3; Raabe Carine Ferreira de Melo4; Helon Bonfim Lisboa5; João Victor Ferreira da Silva6; Tatiana Santos Rebouças7; Valéria da Costa Martinello Rodrigues8; Daniela Cristina de Oliveira9; Matheus Vieira Gomes de Souza10
Resumo
A doença periodontal é uma condição inflamatória crônica que afeta os tecidos de suporte dos dentes, sendo desencadeada pela presença de biofilme bacteriano e modulada por fatores imunológicos e ambientais. Nas últimas décadas, a busca por terapias alternativas e complementares tem incentivado o estudo de substâncias naturais com propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e cicatrizantes. Este trabalho tem como objetivo revisar a literatura científica recente sobre o uso da fitoterapia como adjuvante no tratamento da doença periodontal. Foram analisados estudos que investigam a eficácia de extratos vegetais aplicados principalmente sob forma de enxaguantes bucais, géis e cremes dentais. Os resultados evidenciam que muitos desses compostos apresentam efeitos benéficos comparáveis à clorexidina, mas com menor incidência de efeitos adversos, como alterações no paladar e pigmentação dental. Para esta pesquisa, foram utilizadas as bases de dados eletrônica: U.S National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), ScienceDirect, Cochrane Library e Lilacs. Além disso, foram utilizados dois descritores para a composição da chave de pesquisa, sendo os seguintes (MeSH/DeCS). Após as pesquisas, conclui-se que os fitoterápicos representam uma alternativa terapêutica promissora na Periodontia, especialmente quando associados às técnicas convencionais de higiene bucal, embora mais ensaios clínicos padronizados, com maior rigor metodológico, para consolidar sua eficácia e estabelecer protocolos clínicos seguros e reprodutíveis.
Palavras-chave: Fitoterapia. Doença Periodontal. Extratos Naturais. Plantas medicinais.
Abstract
Periodontal disease is a chronic inflammatory condition that affects the supporting tissues of the teeth, being triggered by the presence of bacterial biofilm and modulated by immunological and environmental factors. In recent decades, the search for alternative and complementary therapies has encouraged the study of natural substances with antimicrobial, anti-inflammatory and healing properties. This work aims to review the recent scientific literature on the use of phytotherapy as an adjuvant in the treatment of periodontal disease. Studies investigating the effectiveness of plant extracts applied mainly in the form of mouthwashes, gels and toothpastes were analyzed. The results show that many of these compounds have beneficial effects comparable to chlorhexidine, but with a lower incidence of adverse effects, such as changes in taste and dental pigmentation. For this research, we used the electronic databases: U.S National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), ScienceDirect, Cochrane Library and Lilacs. In addition, two descriptors were used for the composition of the search key, being the following (MeSH/DeCS). After the research, it is concluded that herbal medicines represent a promising therapeutic alternative in periodontics, especially when associated with conventional oral hygiene techniques, although more standardized clinical trials, with greater methodological rigor, to consolidate its effectiveness and establish safe and reproducible clinical protocols.
Keywords: Phytotherapy. Periodontal Disease. Natural Extracts. Medicinal plants.
1 INTRODUÇÃO
A saúde bucal refere-se ao estado funcional e estético adequado dos dentes, gengivas e de toda a estrutura orofacial, permitindo a execução de atividades essenciais como mastigação, fala e expressão facial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as enfermidades bucais mais prevalentes incluem a doença periodontal, cárie dentária, infecções orais, neoplasias malignas da cavidade bucal, distúrbios genéticos e traumas decorrentes de lesões (Fahim; Zarnigar, 2024). A doença periodontal (DP) configura-se como uma condição inflamatória crônica e progressiva que compromete os tecidos de suporte dos dentes, sendo desencadeada por um desequilíbrio da microbiota oral associado a uma resposta imunológica do hospedeiro insuficiente ou desregulada. O processo inflamatório envolve a liberação de mediadores pró-inflamatórios, como a interleucina 1 beta (IL-1β), a prostaglandina E2 (PGE2), que está relacionada à reabsorção óssea, e as metaloproteinases da matriz (MMPs), notadamente MMP-8 e MMP-9, as quais promovem degradação do colágeno e contribuem para a destruição do tecido periodontal (Malcangi et al., 2025).
O fator etiológico primário da periodontite é a presença do biofilme bacteriano aderido à superfície dentária, conhecido como placa dental. A suscetibilidade individual ao desenvolvimento da periodontite está diretamente relacionada à resposta imunoinflamatória frente aos microrganismos presentes nesse biofilme, podendo ser modulada por fatores externos. Entre os principais fatores de risco destacam-se o tabagismo, o estresse, a má higiene bucal e a predisposição genética (Tamam et al., 2024). O diagnóstico clínico da periodontite é realizado por meio da análise de indicadores como o índice de placa (IP), sangramento à sondagem (ISS), profundidade das bolsas periodontais, extensão da recessão gengival e, complementarmente, pela detecção de biomarcadores inflamatórios no fluido gengival, incluindo MMP-8, MMP-9, PGE2 e IL-1β (Malcangi et al., 2025). A gengivite, por sua vez, caracteriza-se pela inflamação da gengiva marginal em resposta à presença de placa bacteriana, sendo considerada a manifestação mais comum e reversível das doenças periodontais. Quando não tratada, a gengivite pode evoluir para periodontite, com consequente destruição irreversível do osso alveolar e das fibras de suporte do dente. Dessa forma, estratégias eficazes de controle e remoção do biofilme por meio da higiene bucal são fundamentais tanto para a prevenção quanto para a reversão dos estágios iniciais da doença periodontal (Tamam et al., 2024).
Nos últimos anos, tem-se observado um crescimento significativo do interesse da comunidade científica pela aplicação de substâncias de origem natural, ricas em compostos bioativos com propriedades antimicrobianas, bacteriostáticas, imunorreguladoras e regenerativas, amplamente conhecidas desde civilizações antigas, com potencial para prevenir, conter ou retardar a progressão da doença periodontal (Malcangi et al., 2025). A fitoterapia abrange o uso de ervas medicinais, princípios ativos de origem vegetal, preparações naturais e produtos derivados de partes de plantas ou seus substitutos botânicos. As espécies vegetais medicinais são fontes de diversos metabólitos secundários essenciais, como taninos, alcaloides, saponinas, glicosídeos cardíacos, esteroides, terpenoides, flavonoides, flobataninos, antraquinonas e açúcares redutores, os quais conferem ação terapêutica aos extratos obtidos (Tamam et al., 2024). Embora se conheçam aproximadamente 35 mil espécies vegetais com uso medicinal registrado, apenas cerca de 20% delas foram submetidas à análise fitoquímica detalhada, e menos de 10% passaram por triagens biológicas rigorosas para avaliação de eficácia e segurança. Dentre os produtos derivados, destacam-se os extratos vegetais — formas concentradas de fitoquímicos frequentemente classificadas como nutracêuticos — que têm despertado especial atenção nas pesquisas mais recentes. As técnicas de extração desses compostos ativos variam amplamente, podendo incluir desde métodos tradicionais, como a decocção (fervura prolongada) e a infusão a frio, até o uso de solventes como etanol, vinagre, água quente, acetona ou clorofórmio, os quais permitem a solubilização e concentração dos princípios terapêuticos das plantas (Malcangi et al., 2025).
A aplicação de extratos botânicos, isoladamente ou em combinação com outras substâncias naturais — como triphala, sálvia, chá verde, tulsi patra, óleo de cravo, gengibre, calêndula, própolis, extrato de mangostão e sabugueiro — tem sido amplamente investigada na forma de enxaguantes bucais, géis e dentifrícios, visando o tratamento de diversas condições orais. Essas formulações têm demonstrado eficácia no manejo de quadros como gengivite, sangramento gengival, halitose, lesões ulcerativas em tecidos moles, infecções orais e na prevenção da progressão da doença periodontal (Malcangi et al., 2025). Enxaguantes à base de plantas medicinais apresentam efeitos promissores no controle da microbiota oral e na redução da inflamação gengival, contribuindo significativamente para a manutenção da higiene bucal em indivíduos com gengivite (Bezerra; Silva, 2025). Tais alternativas fitoterápicas têm ganhado destaque como substitutas da clorexidina, especialmente em tratamentos prolongados. Embora a clorexidina seja amplamente reconhecida como agente antisséptico de referência, seu uso contínuo pode provocar efeitos adversos, como alterações no paladar e escurecimento das superfícies dentárias (Senkalvarayan et al., 2023).
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
Os principais resultados apresentados por Tamam et al. (2024) destacam a relevância da fitoterapia no manejo de diversas condições orais, incluindo inflamações gengivais, doenças periodontais, peri-implantite e hipersensibilidade dentinária. Pesquisas recentes reforçam o uso recorrente de compostos herbais no tratamento de alterações peri-implantares, patologias periodontais e distúrbios gengivais. A eficácia dessas substâncias naturais está relacionada às suas múltiplas propriedades farmacológicas, como ação anti-inflamatória, antioxidante, antibacteriana, adstringente e imunomoduladora. Um dos diferenciais importantes do uso de fitoterápicos em comparação aos fármacos convencionais é a menor incidência de efeitos adversos, como reações de hipersensibilidade e o desenvolvimento de resistência bacteriana, frequentemente observados com o uso prolongado de agentes antimicrobianos sintéticos. A clorexidina (CHX), por exemplo, embora seja considerada padrão ouro em muitos protocolos terapêuticos, pode desencadear eventos adversos como dermatite de contato e, em casos mais raros, reações anafiláticas. Assim, os efeitos terapêuticos associados às plantas medicinais representam uma alternativa eficaz e segura para o controle das condições gengivais e periodontais, podendo ser considerados como desfechos clínicos secundários promissores no contexto da terapia adjuvante (Tamam et al., 2024).
Além disso, diversos estudos comparativos têm sido realizados entre enxaguantes bucais contendo CHX e aqueles formulados com extratos de ervas. Embora a eficácia antimicrobiana dos fitoterápicos possa ser inferior em alguns parâmetros, esses produtos continuam sendo opções profiláticas viáveis, sobretudo pelo perfil de segurança favorável. Enxaguantes desenvolvidos a partir de extratos naturais amplamente utilizados na medicina tradicional — como Triphala (Phyllanthus emblica, Terminalia chebula e Terminalia bellirica), óleo de gaultéria (Gaultheria procumbens), alho (Allium sativum), extrato aquoso de miswak (Salvadora persica), gengibre (Zingiber officinale), limão (Citrus limon) e água de hortelãpimenta (Mentha piperita) — demonstraram atividade antimicrobiana frente a diversos microrganismos patogênicos orais. Entre os principais alvos microbiológicos estão espécies como Actinomyces sp., Eubacterium nodatum, Prevotella intermedia, Prevotella melaninogenica, Prevotella nigrescens e Tannerella forsythia (Senkalvarayan et al., 2023).
As propriedades farmacológicas da própolis conferem a esse composto natural um grande potencial como agente terapêutico na Odontologia. Apesar das lacunas existentes quanto à elucidação completa de seus mecanismos de ação antimicrobiana, estudos sugerem que determinados constituintes da própolis, especialmente os flavonoides, desempenham papel fundamental nesse processo. Um dos mecanismos propostos envolve a interferência na atividade enzimática de Streptococcus mutans e Streptococcus sanguis, por meio da inibição das enzimas glicosiltransferases (GTFs) — essenciais na formação do biofilme dental — promovida pela apigenina, um flavonoide presente na composição da própolis. Ainda que os detalhes moleculares dessa inibição não estejam totalmente esclarecidos, os resultados sugerem um impacto direto na patogênese da cárie dental. Além de sua ação sobre microrganismos cariogênicos, a própolis também tem demonstrado resultados promissores no tratamento de afecções periodontais. Sua elevada atividade antimicrobiana, aliada à capacidade de modular a resposta inflamatória, contribui para a melhora do prognóstico clínico da periodontite. Os compostos presentes na própolis podem inibir enzimas como a lipoxigenase e a ciclooxigenase, bloqueando a conversão do ácido araquidônico em mediadores inflamatórios como prostaglandinas e leucotrienos, o que reduz significativamente a inflamação local. Estudos clínicos indicam que a irrigação subgengival com extrato hidroalcoólico de própolis a 20% (p/v) pode ser mais eficaz do que a irrigação mecânica com solução salina na redução da profundidade de sondagem periodontal, com efeitos observáveis por até 90 dias após o início da terapia. Além disso, a combinação de extrato etanólico de própolis com geleia real demonstrou eficácia significativa na remissão dos sinais clínicos da periodontite, apontando esse complexo natural como um recurso terapêutico complementar promissor no manejo da doença periodontal (Barboza et al., 2021).
O estudo conduzido por Malcangi et al. (2025) trouxe evidências relevantes quanto à eficácia de diferentes formulações fitoterápicas na promoção da saúde bucal e no tratamento de doenças periodontais. Os autores relataram que o uso de dentifrício contendo Camellia sinensis resultou em uma redução significativa da inflamação gengival, além de um aumento da atividade antioxidante no fluido gengival. Já um enxaguante bucal formulado com uma combinação de extratos vegetais (Zingiber officinale, Rosmarinus officinalis e Calendula officinalis) demonstrou eficácia clínica semelhante à da clorexidina (CHX) na redução da gengivite. No contexto da terapia periodontal, a aplicação local de gel à base de Camellia sinensis promoveu benefícios clínicos no manejo da periodontite, embora sem apresentar vantagem estatisticamente significativa a longo prazo quando comparado à raspagem e alisamento radicular (SRP) isolados. Além disso, o uso de gel de extrato de semente de uva a 2% foi associado à melhora nos índices gengival (IG) e de placa (IP), mas sem impacto relevante na profundidade de sondagem periodontal (PoD). Outras formulações naturais investigadas também demonstraram potencial terapêutico. O extrato de canela, por exemplo, utilizado como agente refrigerante ultrassônico, mostrou-se eficaz na redução da contaminação bacteriana em aerossóis odontológicos, configurando-se como uma alternativa viável e de menor custo em relação à CHX. Pastas dentais contendo extratos de Rhizoma chuanxiong e Rhizoma impratae proporcionaram melhoras significativas nos parâmetros clínicos, como índice gengival (IG), índice de sangramento (BI) e percentual de sangramento à sondagem (BOP%) após 12 semanas de uso. Da mesma forma, o creme dental com extrato de Podila demonstrou melhora sustentada nos índices clínicos de IP, GI, BI e BOP%, sem relatos de efeitos adversos. Por outro lado, o enxaguante bucal contendo extrato de sálvia não apresentou desempenho superior ao placebo na redução do índice de sangramento do sulco gengival (SBI) e do índice de placa. Em contrapartida, os enxaguantes compostos por Punica granatum e Lawsonia inermis promoveram reduções significativas nos marcadores salivares de inflamação, com destaque para o extrato de Punica granatum, que apresentou resultados superiores. Essas evidências reforçam o potencial da fitoterapia como aliada nos cuidados com a saúde bucal, principalmente na redução da inflamação gengival, no controle do biofilme dental e na diminuição da carga bacteriana, com o benefício adicional de menor toxicidade e efeitos adversos reduzidos quando comparados aos agentes convencionais.
3 METODOLOGIA
Esta revisão integrativa da literatura possui uma metodologia qualitativa, sendo baseada em Malcangi et al. (2025), Tamam et al. (2024), Bezerra e Silva (2025), e no desenvolvimento da seguinte pergunta de pesquisa: Quais são os efeitos terapêuticos relatados na literatura sobre o uso de extratos naturais como adjuvantes no tratamento da doença periodontal ? Para isto, foram utilizadas as bases de dados eletrônica: U. S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library, Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Science Direct para pesquisar e identificar estudos que respondessem à pergunta norteadora desta revisão integrativa da literatura. A base de dados foi pesquisada para estudos realizados entre 2020 e 2025. Obtemos um total de 163 artigos, onde dentro dessa quantidade foram encontradas 6 duplicatas, excluídos 157 e selecionados 6 artigos para esta pesquisa. Esta revisão integrativa baseou-se em três etapas: Na primeira etapa foi o estabelecimento dos descritores para ambas as bases de dados, sendo uma com a utilização de MeSHterms (PubMed) e DeCS/MeSH (BVS). Em seguida, na segunda etapa, foram feitas uma busca avançada nas bases e análise do quantitativo dos artigos científicos presentes na íntegra. Logo em seguida, na terceira etapa, foram selecionados os artigos que se adequaram aos critérios de elegibilidade estabelecidos pelos pesquisadores. Na quarta e quinta etapa, os pesquisadores formularam uma tabela descritiva sobre os autores, objetivo de pesquisa, resultados e conclusão e em seguida, desenvolvimento da discussão dos artigos científicos, a fim de responder à pergunta norteadora estabelecida no início desta metodologia. Foram utilizados dois descritores para a composição da chave de pesquisa, sendo os seguintes (MeSH/DeCS): [(Fitoterapia/Phytotherapy) AND (Periodontia/Periodontics) AND (Usos Terapêuticos/Therapeutic Uses)]. Em seguida, os pesquisadores selecionaram os trabalhos com análise no título e resumo, com base nos critérios de elegibilidade. Os critérios de elegibilidade foram os seguintes: artigos publicados em português e inglês; ensaios clínicos randomizados ou não randomizados; metanálise; revisões sistemáticas e artigos que se adequem à temática. Também foi utilizado o sistema de formulário avançado para busca e seleção dos artigos utilizando conector booleano “AND”. Em seguida, artigos que preencheram os critérios de elegibilidade foram identificados e incluídos na revisão.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Os trabalhos que preencheram todos os critérios de seleção foram incluídos no estudo, os que não preencheram os critérios e/ou não se mostraram relevantes foram excluídos. Os resultados por análise foram representados na Tabela 1 e estabeleceu-se a construção da Tabela 2 aos estudos selecionados, com formulação das colunas (Autor/Ano; Objetivo do estudo; Resultados e Conclusão).
Tabela 1 – Seleção dos artigos por análise empregada e estabelecimento dos critérios de inclusão.

Tabela 2 – Estudos detalhados em tabela de resultados



A análise dos estudos apresentados na Tabela 2 evidencia um crescente interesse científico no uso da fitoterapia como alternativa ou adjuvante no tratamento das doenças periodontais. Diversos trabalhos relatam a eficácia de extratos naturais e compostos vegetais no controle da inflamação gengival e na promoção da saúde bucal, com resultados muitas vezes comparáveis aos obtidos com agentes convencionais, como a clorexidina (CHX).
O estudo de Senkalvarayan et al. (2023) demonstrou que um enxaguante bucal à base de ervas (Himalaya Complete Care) apresentou eficácia semelhante à da clorexidina na manutenção da saúde gengival, sendo considerado uma alternativa viável diante dos efeitos colaterais indesejáveis associados à CHX. Resultados semelhantes foram observados por Malcangi et al. (2025), que investigaram diferentes formulações poliherbais e extratos naturais como Camellia sinensis, Punica granatum, Zingiber officinale e Rosmarinus officinalis. Esses compostos mostraram-se eficazes na redução da inflamação e melhora da saúde gengival, além de apresentarem propriedades antimicrobianas e antioxidantes, o que reforça seu potencial como coadjuvantes à terapia convencional, como a raspagem e alisamento radicular (RAR). Bezerra e Silva (2025) destacaram o uso de Punica granatum L. no tratamento da gengivite, com ensaios clínicos indicando eficácia igual ou superior à da CHX. Embora os extratos da planta tenham demonstrado atividade antibacteriana promissora, especialmente em relação a bactérias Grampositivas e Gram-negativas, a ação específica contra Porphyromonas gingivalis ainda necessita de validação clínica. O composto elagitanino punicalagina, isolado dessa planta, mostrou potencial significativo, embora ainda não testado diretamente contra esse patógeno periodontal.
Em relação à segurança e aplicabilidade em populações específicas, o estudo de Fahim e Zarnigar (2024) evidenciou a eficácia de enxaguantes bucais fitoterápicos em crianças em idade escolar. Houve reduções significativas nos índices clínicos periodontais avaliados, como IHO-S, PI, GI e BOP, sugerindo que esses produtos são seguros e eficazes como complemento à higiene bucal mecânica nessa faixa etária. No contexto da inovação e desenvolvimento tecnológico, Barboza et al. (2021) apresentaram um panorama abrangente sobre o uso do extrato de própolis na Odontologia. A análise de mais de 170 artigos e 270 patentes revelou um amplo interesse global, especialmente na China, e confirmou o potencial antimicrobiano seguro do própolis em diversas áreas da odontologia, incluindo a Periodontia. Por fim, Tamam et al. (2024) analisaram estudos que investigaram produtos fitoterápicos no tratamento de condições periodontais e peri-implantares. Os resultados indicaram que fitoquímicos de origem vegetal possuem efeitos anti-inflamatórios e contribuem significativamente para a melhora dos parâmetros clínicos, sendo considerados promissores para uso clínico futuro, embora mais estudos sejam necessários para sua regulamentação como substitutos de agentes não-herbais.
Dessa forma, os dados levantados indicam que os extratos naturais e os compostos fitoterápicos representam alternativas viáveis e seguras no manejo da gengivite e da periodontite. No entanto, os autores reforçam a necessidade de mais ensaios clínicos controlados, padronizados e com acompanhamento a longo prazo, a fim de consolidar a fitoterapia como parte integrante dos protocolos terapêuticos na Periodontia.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas evidências revisadas, é possível afirmar que a fitoterapia surge como uma alternativa terapêutica relevante e complementar no tratamento das doenças periodontais, especialmente a gengivite e a periodontite. O uso de extratos naturais como Camellia sinensis (chá verde), Punica granatum (romã), própolis, gengibre, calêndula, sálvia e compostos poli-herbais apresenta um amplo espectro de ação clínica, com propriedades farmacológicas notáveis, como efeitos antimicrobianos, anti-inflamatórios, antioxidantes, adstringentes e imunomoduladores.
Estudos recentes demonstraram que esses agentes naturais, aplicados em formas como enxaguantes bucais, dentifrícios, géis e soluções irrigadoras, contribuem significativamente para a redução dos sinais clínicos de inflamação, do índice de placa e da profundidade de sondagem periodontal. Além disso, extratos como os de própolis mostraram-se eficazes na modulação de enzimas envolvidas na resposta inflamatória, como a ciclooxigenase e lipoxigenase, além de impactarem a atividade de Streptococcus mutans por meio da inibição de enzimas glicosiltransferases. Apesar de, em alguns estudos, os fitoterápicos apresentarem eficácia ligeiramente inferior à clorexidina (CHX), seu uso contínuo revela-se mais seguro, por não estarem associados a efeitos adversos significativos como alterações de paladar, pigmentação dentária, dermatite ou desenvolvimento de resistência bacteriana. Isso os torna opções profiláticas interessantes para uso a longo prazo ou em populações mais sensíveis, como crianças e pacientes com comorbidades. É importante ressaltar que a variabilidade na composição química dos extratos vegetais, a ausência de padronização nas formulações e a escassez de ensaios clínicos randomizados de longa duração ainda representam desafios para a incorporação definitiva da fitoterapia na prática odontológica baseada em evidências. Sendo assim, recomenda-se que novos estudos sejam conduzidos com metodologias rigorosas, amostras clínicas amplas, análises comparativas com tratamentos convencionais e avaliação da eficácia microbiológica, clínica e inflamatória a longo prazo.
Dessa forma, a fitoterapia tem potencial para integrar-se ao arsenal terapêutico da Periodontia moderna como um adjuvante eficaz, seguro e acessível, promovendo não apenas o controle das doenças periodontais, mas também contribuindo para uma abordagem mais natural, individualizada e biocompatível no cuidado com a saúde bucal.
REFERÊNCIAS
ABU TAMAM, Akram Nabil et al. Herbal Medicine as an Adjunct in the Treatment of Periodontal Diseases-A Systematic Review. The Open Dentistry Journal, v. 18, n. 1, 2024.
BEZERRA, José Jailson Lima; DA SILVA, Jadson Mathyas Domingos. Dental applications of Punica granatum L. in the treatment of gingivitis: A review of ethnomedicinal uses, randomized clinical trials, and antibacterial potential against Porphyromonas gingivalis. Journal of Ethnopharmacology, p. 118701, 2024.
DA SILVA BARBOZA, Andressa et al. Are propolis extracts potential pharmacological agents in human oral health?-A scoping review and technology prospecting. Journal of Ethnopharmacology, v. 271, p. 113846, 2021.
FAHIM, M. F. M. et al. Effect of prepared herbal mouthwash in maintaining the oral health of school children: A single-blind randomised control trial. EXPLORE, v. 20, n. 4, p. 535-543, 2024.
MALCANGI, Giuseppina et al. Effectiveness of Herbal Medicines with Anti-Inflammatory, Antimicrobial, and Antioxidant Properties in Improving Oral Health and Treating Gingivitis and Periodontitis: A Systematic Review. Nutrients, v. 17, n. 5, p. 762, 2025.
SENKALVARAYAN, Vaishnavi et al. Comparative Evaluation of Efficacy of Herbal and Chlorhexidine Mouthwash on Gingival Health. Indian Journal of Dental Research, v. 34, n. 4, p. 401-404, 2023.
1Graduado do Curso Superior de Odontologia pela Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana – UNEF
2Discente do Curso Superior de Odontologia pela Faculdade Maurício de Nassau de Campina Grande
3Discente do Curso Superior de Odontologia pela Faculdade Maurício de Nassau de Salvador – Pituba
4Graduada do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário – UNIFAESF
5Discente do Curso Superior de Odontologia pela União Metropolitana de Educação e Cultura – UNIFAS
6Discente do Curso Superior de Odontologia pela Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana – UNEF
7Especialista em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos – Unifeso
8Especialista em Odontopediatria pela Associação Brasileira de Odontologia de Rondônia
9Graduada do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário Ingá, Maringá – PR
10Discente do Curso Superior de Odontologia pelo Centro Universitário de Valença – UNIFAA