ÁLCOOL E O SISTEMA NERVOSO: REVISÃO DA LITERATURA

ALCOHOL AND THE NERVOUS SYSTEM: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505311730


Letícia Graeter Farelli Ferreira1
Monique Goulart Domingues2
Thamires Arruda Pereira da Silva3
Mario Henrique Almeida da Fonseca4
Mauricio Cupello Peixoto5


RESUMO

O álcool etílico é uma das substâncias psicoativas mais consumidas mundialmente e possui reconhecido potencial neurotóxico. Seu uso crônico está associado a uma ampla gama de alterações no sistema nervoso central e periférico, incluindo comprometimento cognitivo, encefalopatias, neuropatias e alterações estruturais cerebrais. Esta revisão teve como objetivo sintetizar as principais manifestações neurológicas associadas ao consumo excessivo de álcool, com base em artigos publicados entre 2013 e 2023. Foram selecionados 17 estudos que abordam desde os efeitos neurotóxicos diretos do etanol até suas implicações clínicas, como a Síndrome Alcoólica Fetal, encefalopatia de Wernicke, abstinência alcoólica e risco de demência. Conclui-se que a identificação precoce dos sinais de comprometimento neurológico, associada à intervenção clínica adequada, é fundamental para reduzir os danos e prevenir sequelas permanentes em pacientes com transtorno por uso de álcool.

Palavras-chave: Álcool; Sistema Nervoso; Neurotoxicidade; Transtorno por uso de álcool; Neuropatia alcoólica.

ABSTRACT

Ethyl alcohol is one of the most widely consumed psychoactive substances worldwide and has a recognized neurotoxic potential. Its chronic use is associated with a wide range of changes in the central and peripheral nervous system, including cognitive impairment, encephalopathies, neuropathies, and structural brain alterations. This review aimed to summarize the main neurological manifestations associated with excessive alcohol consumption, based on articles published between 2013 and 2023. Seventeen studies were selected that address everything from the direct neurotoxic effects of ethanol to its clinical implications, such as Fetal Alcohol Syndrome, Wernicke’s encephalopathy, alcohol withdrawal, and risk of dementia. It is concluded that early identification of signs of neurological impairment, associated with appropriate clinical intervention, is essential to reduce damage and prevent permanent sequelae in patients with alcohol use disorder. Keywords: Alcohol; Nervous System; Neurotoxicity; Alcohol use disorder; Alcoholic neuropathy.

Conflito de interesses: Os autores declaram a inexistência de conflito de interesses pessoal, comercial, acadêmico, político ou financeiro neste manuscrito.

Financiamento: não houve.

INTRODUÇÃO

O uso excessivo do álcool etílico continua sendo uma das principais causas de mortalidade e morbidade em todo o mundo. Surpreendentemente, o dano do álcool excede até mesmo o de drogas ilícitas, como heroína ou cocaína (devido à prevalência muito maior do uso) (1). Indivíduos com transtornos por uso do álcool, têm controle prejudicado sobre seu consumo e exibem cronicamente um padrão frequentemente crescente do uso do mesmo, apesar dos sérios custos prejudiciais à sua saúde geral, à vida de seus familiares e amigos e à sociedade em geral (2). Apesar de suas importantes consequências para a saúde pública, os transtornos por uso de álcool etílico continuam sendo alguns dos transtornos menos tratados (1,2,3).

A quantidade de álcool que o fígado humano pode metabolizar é de cerca de 1 grama/kg de peso corporal por dia. Tem sido sugerido que a quantidade de álcool permitida por dia para uma pessoa de 60 kg deve ser limitada a 60 gramas. Para pessoas com peso corporal inferior a 60 kg, a ingestão diária de álcool deve ser reduzida de acordo, preferencialmente inferior a 45 gramas. (2)

O consumo ou abuso excessivo do álcool etílico pode induzir uma variedade de doenças, como doença hepática alcoólica, encefalopatia alcoólica crônica, distúrbios neurocognitivos e o uso materno de álcool durante a gestação resulta na Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que causa problemas de desenvolvimento e aprendizagem (4,5).

Estudos de adultos jovens com exposição pré-natal ao álcool mostram que o volume total do cérebro, bem como o volume do hipocampo é significativamente menor nesses indivíduos do que nos controles (6). As mudanças na estrutura cerebral observadas nesses indivíduos com exposição pré-natal ao álcool estão associadas ao seu baixo desempenho no aprendizado e na memória, sugerindo que a exposição ao álcool causa danos graves ao cérebro em desenvolvimento (7).

Em comparação com indivíduos não alcoólatras, os pacientes alcoólatras têm funções executivas prejudicadas e desempenho abaixo do normal tanto na recordação livre quanto na tardia. Cerca de 50-70% dos adultos dependentes de álcool apresentam comprometimento cognitivo permanente devido a danos no sistema nervoso central causados pelo consumo excessivo do álcool (8). 

O mecanismo neurotóxico do álcool pode estar relacionado com a indução da excitotoxicidade do glutamato, promoção do estresse oxidativo intracelular e inibição dos sinais de sobrevivência celular (9). 

Este artigo revisa os efeitos do consumo do álcool etílico mais importantes sobre o sistema nervoso central (SNC). A pesquisa foi baseada em uma revisão abrangente da literatura científica atual e estudos relevantes.

MÉTODOS

Estudo de revisão da literatura, mediada a partir da seguinte pergunta de pesquisa: “Quais são as alterações neurológicas encontradas em pacientes com uso excessivo de álcool?”.

Como critérios de elegibilidade foram considerados artigos nacionais e internacionais, com período limitado dos 10 últimos anos (2013 – 2023), idioma inglês e português. Como critérios de exclusão, foram descartados artigos que avaliaram outras doenças neurológicas ou que não apresentavam nos resultados o desfecho de interesse da presente revisão. Descartaram-se também resumos de eventos científicos e estudos sem acesso ao texto completo.

A pesquisa foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na PubMed, no Scielo, e no Google Acadêmico. Para definir os descritores a serem utilizados, foi realizada uma pesquisa no sistema DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). Assim, foram utilizados descritores relacionados à Transtornos por uso de álcool (Alcohol use disorder) que foram cruzados por meio do operador booleano “AND” aos descritores relacionados ao Álcool (Alcohol), “OR” Neurotoxicidade (Neurotoxicity), Sistema Nervoso Central (Central Nervous System). Com a finalidade de complementar a busca e identificar um maior número de estudos potencialmente pertinentes, as referências dos artigos selecionados também foram analisadas.

RESULTADOS

A busca identificou 638 referências, sendo que a maior parte dos estudos foi encontrada na base de dados do PubMed. Após a exclusão automática de artigos repetidos, 504 artigos foram para uma nova fase de busca por possíveis repetições, contabilizando, então, 420 títulos para análise seguinte.

Considerando os critérios de exclusão propostos, 212 artigos foram excluídos pelo título. Desta forma, 208 foram selecionados para leitura dos resumos. Por inacessibilidade ao resumo, 1 artigos foram excluídos, restando, assim, 196 resumos para serem lidos. Seguindo os critérios de inclusão propostos, 26 estudos passaram para a etapa de leitura completa dos textos. Entretanto, destes 26 estudos, nove estavam sem acesso ao texto completo. Desta forma, 17 artigos foram lidos e incluídos para análise no presente estudo (Figura 1).

A tabela 1 apresenta os estudos selecionados, e na sequência, serão discutidas as principais conclusões observadas.

TítuloAutor Principal eAno dePublicaçãoPrincipais resultados
1Álcool e gravidez: síndrome alcoólica fetal: tabaco e outrasdrogasLIMA, J.M. (2008)O livro destaca a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) como uma condição grave, mas prevenível, que pode causar deficiências físicas, cognitivas e comportamentais no bebê. Além disso, o autor enfatiza a necessidade de ações políticas e educacionais para conscientizar sobre os riscos do consumo de álcool e drogas na gravidez.
2Álcool: Folha informativaOrganização Pan-Americana da Saúde. (2020)O documento aponta que o uso nocivo do álcool é um fator causal para mais de 200 doenças e lesões, incluindo transtornos mentais, doenças cardiovasculares, cirrose hepática e alguns tipos de câncer. A OPAS também enfatiza que 3 milhões de mortes anuais são atribuídas ao consumo nocivo de álcool, representando 5,3% de todas as mortes no mundo. O documento reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para reduzir os danos causados pelo álcool, como regulação da publicidade, aumento de impostos e restrição de acesso.
3Alcohol use disorders and the brainRAO, R. et al.(2020)O artigo destaca que o uso crônico de álcool está associado a um risco aumentado de demência, embora a relação entre a quantidade consumida e o comprometimento cognitivo ainda não esteja completamente esclarecida e os efeitos do álcool no sistema nervoso central, incluindo  a encefalopatia de Wernicke (WE), lesões traumáticas, apagões, convulsões, AVC e encefalopatia hepática.Também discute possíveis tratamentos, como o uso de tiamina intravenosa em altas doses, para prevenir sintomas neuropsiquiátricos da encefalopatia de Wernicke e estratégias farmacológicas para a encefalopatia hepática.
4Fetal alcohol spectrum disordersPOPOVA, S. et al. (2023)O artigo destaca que o álcool atravessa facilmente a placenta, podendo causar deficiências neurodesenvolvimentais, anomalias congênitas e comprometimento do crescimento. Além disso, aponta que a prevalência de transtornos do espectro alcoólico fetal (FASD) em 76 países é superior a 1%, sendo particularmente alta entre indivíduos em sistemas de acolhimento ou envolvidos com a justiça e saúde mental. O artigo também discute a necessidade de reduzir o estigma, melhorar o acesso a serviços especializados e desenvolver estratégias de prevenção para futuras gerações.
5Ethanol neurotoxicityTIZABI, Y. et al.(2023)O capítulo explora os efeitos neurotóxicos do etanol no sistema nervoso central. Ele destaca que o uso crônico de álcool pode levar a neuroinflamação, degeneração neuronal e comprometimento cognitivo. O estudo aborda os mecanismos celulares e moleculares envolvidos na neurotoxicidade do etanol, incluindo alterações em neurotransmissores, neurotrofinas e marcadores inflamatórios.
6MechanismsUnderlying Cognitive Impairment Induced by Prenatal Alcohol ExposureALHOWAIL, A.(2022)O artigo destaca que o álcool é uma das substâncias mais consumidas por gestantes e que sua exposição pode causar alterações persistentes na função cognitiva dos filhos. O estudo analisa os mecanismos envolvidos nesses déficits, incluindo disfunções mitocondriais, alterações na plasticidade sináptica e ativação de proteínas quinases. Além disso, enfatiza que a exposição ao álcool durante a gravidez pode comprometer processos essenciais para o aprendizado e a memória, resultando em déficits neurocomportamentais duradouros.
7Fetal alcohol syndromeKODITUWAKKU,P. et al. (2022)O capítulo descreve os principais sinais da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), incluindo alterações faciais características, deficiência no crescimento pré e pós-natal e disfunção do sistema nervoso central. Ademais, aponta que crianças expostas ao álcool durante a gestação podem apresentar deficiências cognitivas e comportamentais, mesmo sem sinais físicos evidentes.
8Alcohol use disorder, neurodegeneration, Alzheimer’s and Parkinson’s disease: Interplay between oxidative stress, neuroimmune response and excitotoxicityKAMAL, H. et al (2020)O artigo explora a relação entre o transtorno por uso de álcool e doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson. Ele destaca que o consumo excessivo e prolongado de álcool contribui para a produção de espécies reativas de oxigênio, desencadeando respostas neuroimunes e excitotoxicidade, o que pode levar à morte celular e danos cerebrais. O estudo descreve os mecanismos principais envolvidos na neurodegeneração induzida pelo álcool: estresse oxidativo, resposta neuroimune exacerbada e excitotoxicidade do glutamato.
9Trends in prescribed central nervous system depressant medications among adults who regularly consume alcoholBORODOVSKY,J.T. et al. (2019)O artigo examina as tendências no uso de medicamentos depressores do sistema nervoso central (CNS-D) entre adultos que consomem álcool regularmente nos Estados Unidos entre os anos de 1999 e 2014. O estudo revela que, apesar dos riscos bem documentados da combinação de álcool com medicamentos depressores, houve um aumento significativo no uso de sedativos-hipnóticos entre consumidores regulares de álcool. O uso de medicamentos ansiolíticos e para sono também aumentou, respectivamente 3,7% e 11,2% ao ano.
10Effects of drinking on late-life brain and cognitionTOPIWALA, A. et al. (2018)O artigo explora os impactos do consumo de álcool na saúde cerebral em idosos, com estudos sugerindo que indivíduos com histórico de transtorno por uso de álcool têm o dobro de chances de desenvolver comprometimento severo da memória. Evidências indicam que mesmo o consumo moderado pode estar associado a danos cerebrais. O artigo recomenda que profissionais de saúde fiquem atentos a sinais de comprometimento cognitivo em consumidores frequentes de álcool, pois a abstinência pode induzir alguma melhora clínica.
11The Neurotoxicity ofEthanol and The Underlining MechanismsDU, S. et al. (2019)O estudo destaca que o etanol, por ser solúvel em água e gordura, atravessa facilmente a barreira hematoencefálica, afetando a função neuronal. Ele é metabolizado principalmente no fígado, gerando acetaldeído, um composto tóxico que pode induzir estresse oxidativo e neuroinflamação. O artigo também aborda os mecanismos celulares envolvidos na neurotoxicidade do etanol, como a excitotoxicidade do glutamato, que pode levar à morte neuronal.
12Alcohol-induced neuropathy in chronic alcoholism: causes, pathophysiology, diagnosis, and treatment optionsDUDEK, I. et al. (2020)O artigo explora os mecanismos e impactos da neuropatia alcoólica crônica. Ele destaca que o consumo excessivo e prolongado de álcool pode levar a danos nos nervos periféricos, resultando em dor, fraqueza muscular, perda de sensibilidade e dificuldades motoras. Além disso, discute estratégias de tratamento, como abstinência alcoólica, suplementação nutricional e uso de medicamentos como antioxidantes e neuroprotetores.
13Alcohol use disorders in ICD-11: Past, present, and futureSAUNDERS, J.B.et al. (2019)O artigo examina as mudanças na classificação dos transtornos por uso de álcool na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (ICD-11). Ele destaca que o ICD-11 introduziu diagnósticos mais específicos, como Dependência de Álcool, Padrão Nocivo de Uso de Álcool e Intoxicação Alcoólica, além de transtornos mentais induzidos pelo álcool. O estudo compara essas novas definições com as versões anteriores do ICD-10 e com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), discutindo como essas mudanças podem impactar a pesquisa, diagnóstico e tratamento.
14Glutamate receptormediated neurotoxicity in a model of ethanol dependence and withdrawal in rat organotypic hippocampal slice culturesGERACE, E. et al. (2019)O estudo expôs fatias organotípicas do hipocampo de ratos ao etanol por sete dias, seguido de um período de retirada de 24 horas, para avaliar os efeitos da dependência e abstinência alcoólica. Os pesquisadores observaram que a retirada do etanol levou a lesões nas células piramidais da região CA1 do hipocampo, sugerindo um mecanismo de excitotoxicidade mediado pelos receptores de glutamato. Além disso, análises por microscopia eletrônica revelaram sinais de morte celular apoptótica, tanto durante a exposição prolongada ao etanol quanto após sua retirada. O estudo também identificou alterações na expressão de proteínas sinápticas incluindo receptores AMPA e NMDA, que podem estar envolvidas na neurodegeneração induzida pelo álcool.
15Chronic neurologic effects of alcoholHAMMOUD, N. et al. (2019)O artigo destaca os principais mecanismos de lesão neuronal incluindo os efeitos tóxicos diretos do álcool sobre os neurônios, os impactos indiretos, como disfunção hepática, deficiências nutricionais e neuroinflamação e as manifestações clínicas, incluindo, ataxia cerebelar, neuropatia alcoólica e encefalopatia de Wernicke-Korsakoff. O estudo também enfatiza que a suplementação nutricional e a cessação do consumo de álcool são essenciais para prevenir danos neurológicos adicionais.
16Alcohol use disorder and alcoholassociated liver diseaseRAMKISSON, R. et al. (2022)O artigo explora a relação entre o transtorno por uso de álcool (AUD) e doenças hepáticas associadas ao álcool (ALD). Ele destaca que o consumo prolongado e excessivo de álcool pode levar a esteatose hepática, fibrose, cirrose e hepatite alcoólica. Ademais, enfatiza que a progressão da ALD está diretamente ligada à quantidade e duração do consumo de álcool, sendo um dos principais fatores de risco para insuficiência hepática e mortalidade.
17Alcohol consumption: medical implications, the liver and beyondMEZA, V. et al. (2022)O artigo descreve que o álcool é um dos cinco principais fatores de morbimortalidade no mundo, sendo responsável por 5,1% da carga global de doenças e 7,6% das mortes em homens e 4,0% em mulheres. O estudo examina os efeitos do álcool em diversos sistemas do corpo, incluindo: doenças hepáticas, transtornos neurológicos, doenças cardiovasculares e metabólicas, com aumento do risco de Hipertensão e Diabetes tipo 2 e a vários tipos de câncer, devido a seus efeitos genotóxicos e inflamatórios.

Fonte: elaborado pelos autores 

DISCUSSÃO

Consumo de álcool durante a gravidez

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é um distúrbio grave que afeta os indivíduos expostos ao álcool no útero materno. Ela se manifesta por meio de uma ampla gama de déficits físicos, cognitivos e comportamentais, causando impacto significativo na qualidade de vida dos afetados. Embora seja amplamente reconhecida como um problema de saúde pública, a SAF continua sendo uma condição pouco compreendida e subdiagnosticada (1,4,6).

Está bem estabelecido que o álcool é um teratógeno e inúmeras diretrizes existentes aconselham as mulheres a se absterem de álcool durante a gravidez e durante a amamentação. No entanto, muitas mulheres consomem álcool durante a gravidez, mesmo depois de saber que estão grávidas. Em todo o mundo, aproximadamente 10% das mulheres da população em geral consomem álcool durante a gravidez (7).

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), não existe um padrão de consumo de álcool que seja absolutamente seguro. Define como dose padrão 10g de etanol puro, e recomenda que homens e mulheres não excedam duas doses por dia e que se abstenham de beber pelo menos dois dias por semana e qualquer quantidade de bebida para mulheres grávidas ou em risco de gravidez (2).

Vários fatores de risco foram identificados para o uso materno de álcool na gravidez, incluindo quantidade de gestações e paridade, atraso no reconhecimento da gravidez, pré-natal inadequado ou relutância dos profissionais de saúde em abordar o uso de álcool, transtornos de saúde mental (como depressão), história de abuso físico ou sexual, violência por parceiro íntimo, uso de álcool e/ou drogas e pobreza (4,7).

Entre as consequências relacionadas ao uso de álcool durante a gravidez estão maiores índices de internações e atendimentos hospitalares de emergência, trabalho de parto prematuro, óbito fetal e mortalidade neonatal. Além disso, sabe-se que um terço dos filhos de mães dependentes de álcool, que fizeram uso abusivo de bebidas alcoólicas durante o período gestacional, poderá apresentar comprometimento neuropsiquiátrico durante o seu desenvolvimento, sendo a mais grave consequência a SAF (1,6).

O álcool se equilibra rapidamente entre os compartimentos materno e fetal e é eliminado principalmente pelo metabolismo materno. Não existe nenhum nível seguro de exposição ao álcool na gestação estabelecido. O álcool que atravessa a barreira placentária para atingir o feto não é metabolizado de forma eficaz porque o fígado não amadurece até o estágio tardio de desenvolvimento; isso resulta em aumento da concentração de álcool na circulação fetal. No que diz respeito ao seu mecanismo de ação, o álcool se liga ao receptor do ácido gama-aminobutírico (GABA), que é um importante neurotransmissor inibitório no cérebro. Através desta interação, o álcool atua como um agonista do receptor GABA nos tecidos do sistema nervoso central (SNC), como a amígdala, hipocampo, cerebelo e córtex, afetando assim o desenvolvimento do cérebro no feto. Os outros mecanismos relatados pelos quais a exposição pré-natal ao álcool causa comprometimento cognitivo incluem a interrupção da plasticidade sináptica e potenciação de longo prazo (LTP) e a interrupção da neurogênese, mediada pelos efeitos do álcool nas proteínas quinases e disfunção mitocondrial. Assim, a exposição repetida a baixos níveis de álcool ou uma única exposição em períodos críticos da gestação pode afetar o desenvolvimento do feto (4,7).

Intoxicação Alcoólica

As concentrações de álcool no sangue refletem a taxa de ingestão, o grau de tolerância e os efeitos simultâneos de outras drogas. A intoxicação extrema (0,300 mg/100 ml) leva ao aumento da sonolência e depois ao coma, com reflexos tendinosos deprimidos, hipotensão, hipotermia e respiração lenta (2,8). Indivíduos gravemente intoxicados podem requerer internação hospitalar e tratamento em unidades especializadas com monitoramento rigoroso e suporte respiratório. Em pessoas com concentração de álcool no sangue de, 400 mg/100 ml, uma causa alternativa de coma deve ser considerada, como traumatismo craniano, uso de outras drogas, hipoglicemia ou meningite (9).

Neurotoxicidade Alcoólica

Nossa pesquisa recuperou uma grande base de evidências consistentes para sugerir neurotoxicidade levando a um risco aumentado de demência e comprometimento cognitivo e atrofia cerebral no contexto do consumo crônico de álcool.

Após a ingestão, o etanol entra no sangue em 2 a 5 minutos e a concentração sanguínea de etanol atinge o pico 30 a 90 minutos após a ingestão. Devido às suas características solúveis em água e gordura, o etanol atravessa facilmente a barreira hematoencefálica e afeta a função do sistema nervoso (7). A neurotoxicidade induzida pelo etanol pode estar associada à excitotoxicidade do glutamato induzida pelo álcool e aos sinais de apoptose promotores do estresse oxidativo, prejudicando as sinapses neuronais e induzindo a apoptose, causando disfunção do sistema nervoso e desencadeando várias doenças (10).

No sistema nervoso, o glutamato, o aspartato e seus análogos estruturais ligam-se a receptores que regulam os canais iônicos ou ativam a hidrólise do fosfoinositídeo. Dentre eles, o glutamato é o principal transmissor excitatório do sistema nervoso central, essencial para os processos de aprendizado e memória. O glutamato é liberado por exocitose da membrana pré-sináptica ou diretamente do citosol. Liga-se a receptores específicos de glutamato na membrana pós-sináptica, causando despolarização da membrana posterior e excitação neuronal. O receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) é um receptor de glutamato acoplado ao canal iônico de cálcio encontrado nas células nervosas, que desempenha um papel importante na plasticidade sináptica e na formação de sinapses. A inibição dos receptores NMDA pelo etanol pode levar ao comprometimento neurológico e cognitivo associado ao alcoolismo (11,12).

A geração excessiva de espécies reativas de oxigênio (ERO) e o estresse oxidativo têm sido associados a muitos distúrbios neurodegenerativos. O estresse oxidativo também é um fator importante nos danos cerebrais causados pelo etanol e várias vias podem estar envolvidas na produção de ERO induzida pelo etanol. A atrofia cerebral no alcoolismo crônico é bem descrita. Acredita-se que os lobos frontais sejam particularmente vulneráveis. O volume do hipocampo é significativamente menor em pacientes alcoólatras e a perda de volume cerebral pelo consumo excessivo de álcool pode causar aumento da apoptose neuronal (13,14).

Abstinência Alcoólica

Quando os pacientes bebem diariamente ou usam álcool em um nível muito alto, eles podem ficar fisicamente dependente de álcool. É difícil prever quais pacientes precisarão de desintoxicação, mas níveis de mais de 15 unidades/dia para homens e 10 unidades/dia para mulheres são frequentemente citados na literatura (15,16).

Quando o álcool é interrompido, esses receptores NMDA em excesso se combinam para causar um grande fluxo de cálcio nas células, hiperexcitabilidade e morte celular. Há também a remoção das ações inibitórias mediadas pelo álcool via, ácido gama aminobutírico (GABA) e a parte inibitória controlada pelo magnésio do receptor NMDA. O aumento no glutamato excitatório e a queda repentina nos sistemas inibitórios do cérebro se combina para dar um “overdrive” noradrenérgico, levando a um aumento na atividade simpática (3,5,17).

Os pacientes que param de beber apresentam um espectro de sintomas diferentes como: hiperatividade, ansiedade, delirium tremens, pirexia leve, taquicardia, hipertensão, diaforese, náusea e vômito, convulsões e alucinações auditivas e visuais. A gravidade destes está relacionada a vários fatores, mas o mais importante é a abstinência abrupta, o nível de ingestão de álcool e a contribuição dos efeitos residuais do consumo anterior. Os primeiros sinais normalmente atingem o pico 6 a 24 horas após parar de beber (3,5,11).

Neuropatia Alcoólica

A neuropatia é a principal manifestação do sistema nervoso periférico do abuso crônico de álcool, e sua ocorrência está bem documentada. É possivelmente a primeira complicação neurológica associada ao alcoolismo e afeta quase 90% dos usuários crônicos de álcool. A neuropatia pode afetar tanto pequenas como grandes fibras nervosas periféricas, levando a diferentes manifestações clínicas (8,9,13,15).

A neuropatia de fibras pequenas afeta as fibras nociceptivas pequenas e se apresenta como uma neuropatia sensorial dolorosa acompanhada de parestesias, com déficits de temperatura e sensação de picada de alfinete ao exame (10). Essa neuropatia puramente relacionada ao álcool é causada pelos efeitos tóxicos diretos do álcool, que supostamente inibe o efeito retrógrado dos sistemas de transporte axonal de células nervosas periféricas. A neuropatia relacionada à deficiência de tiamina afeta tipos de fibras maiores, o que resulta em déficits motores e ataxia sensorial (14,16,17).

O envolvimento de grandes fibras manifesta-se por fraqueza muscular distal dos membros e perda da propriocepção e sensação vibratória. Juntos, eles podem contribuir para a instabilidade da marcha observada em alcoólatras crônicos, criando uma marcha escalonada sobreposta e uma entrada proprioceptiva reduzida nas alças de controle do movimento no SNC (9,13,15). Em alcoólatras crônicos, neuropatias de fibras pequenas e grandes podem ser observadas e muitas vezes se apresentam juntas como uma neuropatia sensório-motora mista (16).

Na forma aguda os pacientes podem relatar parestesias e dor, que geralmente têm um início lento e progressivo. À medida que o dano aumenta, os reflexos tendinosos profundos podem ser perdidos e as perdas proprioceptivas podem se desenvolver, o que pode prejudicar a marcha. Os sintomas tardios incluem perda de fibras motoras e se apresentam como fraqueza e atrofia. É importante ressaltar que a disfunção autonômica pode ocorrer devido à perda desses tipos de fibras, apresentando-se como ortostase, incontinência, impotência e disfunção vasomotora (17).

Encefalopatia de Wernicke e Síndrome Korsakoff

O álcool pode ter um efeito neurotóxico direto nos neurônios corticais, mas muitos dos danos podem ser secundários à patologia diencefálica causada pela deficiência de tiamina. A Encefalopatia de Wernicke (WE) e a Síndrome de Korsakoff (SK) são amplamente associadas ao abuso crônico de álcool (11,15,17).

A encefalopatia de Wernicke é caracterizada como uma ”tríade” clássica de ataxia, confusão e oftalmoplegia (13). É importante ir além dessa percepção. A maioria dos diagnósticos é feita após a morte, e muitos pacientes não apresentaram a tríade clássica, mas sim traumatismo craniano comórbido, marcha anormal, distúrbios de memória, nistagmo, hipotermia, hipotensão, estado de confusão aguda, coma e, é claro, abstinência alcoólica. A Síndrome de Korsakoff ou psicose de Korsakoff é descrita como uma síndrome amnésica com memória recente prejudicada e função intelectual relativamente intacta. Os pacientes raramente têm um déficit discreto na formação de novas memórias, muitas vezes apresentando déficits mais globais, ao longo de um espectro de gravidade (14).

Especificamente na SK, foi proposto um componente genético que predispõe os indivíduos à amnésia grave. É possível que esses indivíduos careçam de enzimas, seja por deficiência ou disfunção, que são importantes no metabolismo da tiamina ou da vitamina B1. As áreas do SNC mais comumente afetadas na WE incluem o tálamo, corpos mamilares, substância cinzenta e regiões oculomotoras do mesencéfalo e a ponte. Algumas dessas mesmas áreas estão implicadas no SK; no entanto, danos corticais e outros subcorticais desempenham papeis adicionais pouco compreendidos no desenvolvimento do SK (16,17).

WE se desenvolve de forma aguda, geralmente ao longo de dias a semanas, e apresenta uma tríade de estado mental alterado, ataxia de marcha e oftalmoplegia. Apenas 10% dos pacientes apresentam todas as 3 características, sendo o achado clínico mais comum estado mental alterado e, em casos extremos, coma. Mais especificamente, as alterações cognitivas que podem acompanhar o WE incluem atenção diminuída, comprometimento da memória, desorientação e abulia (diminuição da fala espontânea)(10).

Oitenta por cento dos pacientes com WE progridem para desenvolver KS. Não está claro se WE deve preceder KS para que este se desenvolva. A associação entre esses dois processos foi identificada pela primeira vez por autópsia, na qual as mesmas lesões neuropatológicas foram descritas nas mesmas áreas do cérebro em ambas as doenças diagnosticadas (13,14,15).

Miopatia Alcoólica

A miopatia alcoólica crônica afeta cerca de 2% a 5% dos adultos no hemisfério ocidental, tornando essa entidade uma das causas mais comuns de doença muscular (3,5). A prevalência é maior em mulheres. Até 60% dos alcoólatras desenvolvem doenças musculares após uma média de 3 anos de uso crônico de álcool, e o dano é aditivo. A miopatia alcoólica é mais comum em pacientes com outras sequelas de doenças crônicas relacionadas ao álcool; 50% dos cirróticos têm miopatia. Existem formas agudas, apresentando-se após episódios de bebedeira com fraqueza, dor, sensibilidade e inchaço dos músculos afetados. Rabdomiólise pode estar presente. Os sintomas podem resolver com a abstinência de álcool (14,17).

Risco de demência

O abuso crônico de álcool está fortemente ligado à neurodegeneração e acredita-se que contribua para 10% de todos os casos de demência. No entanto, alguns estudos sugerem que cerca de 25% de todas as causas de demência estão ligadas ao uso pesado de álcool. Vários grandes estudos epidemiológicos relataram um risco reduzido de demência (de etiologia vascular e não vascular) em bebedores leves a moderados em comparação com abstêmios (8,9,11).

A atrofia do SNC que tem sido associada à neurodegeneração alcoólica é causada pela destruição da mielina e perda de conexões dendríticas, bem como perda neuronal (9). Essa perda ocorre mais proeminentemente nas regiões pré-frontais e no corpo caloso e ocorre independentemente da deficiência de tiamina. O padrão de declínio em alcoólatras é progressivo em vários domínios cognitivos, o que diferencia a demência alcoólica primária da WE e KS, que se apresenta principalmente como um fenômeno amnéstico. A avaliação da demência alcoólica inclui a exclusão de causas reversíveis para auxiliar no diagnóstico definitivo, se possível (12,13).

Síndrome de Marchiafava-Bignami

Da doença degenerativa associada ao uso crônico de álcool, Marchiafava- Bignami é uma síndrome que envolve a mielina. Apresenta-se de forma aguda e crônica, podendo a primeira ser letal. A síndrome envolve estado mental alterado, ataxia, transtorno do humor (depressão e mania) e características de psicose (paranóia) (13). Com o tempo, desenvolve-se uma síndrome de desconexão inter-hemisférica que se apresenta com demência, agrafia tátil e unilateral, apraxia de membros e hemialexia (14,15).

A causa primária é a desmielinização do corpo caloso, especificamente do esplênio. A desmielinização também pode se estender para a substância cinzenta cortical, tratos ópticos, áreas subcorticais e pedúnculos cerebelares. A ressonância magnética com imagem ponderada em difusão mostra envolvimento generalizado do corpo caloso. Não está claro se a deficiência de tiamina também desempenha um papel nessa síndrome (17).

Sequelas Psiquiátricas

A doença depressiva é comum em usuários de álcool. Estudos relataram que até 80% dos alcoólatras se queixam de sintomas depressivos, incluindo 30% que preenchem os critérios para um transtorno depressivo maior. A intoxicação alcoólica pode ser acompanhada por sintomas depressivos temporários, mais graves (5,10).

É reconhecido que o uso prolongado de álcool pode induzir um transtorno depressivo indistinguível de uma doença depressiva primária. Os transtornos induzidos por substâncias remitem de 2 a 4 semanas após o término do consumo de álcool, sem a necessidade de antidepressivos (8,15). Os pacientes frequentemente relatam o uso de álcool para tentar aliviar os sintomas de humor deprimido. Quando uma doença depressiva primária está presente, o álcool pode causar ainda mais rebaixamento do humor, e seu efeito de remover as inibições deixa os pacientes vulneráveis a ações impulsivas, incluindo automutilação. Os transtornos de ansiedade e a dependência de álcool têm uma relação causal recíproca ao longo do tempo. O álcool é reconhecido por suas propriedades ansiolíticas e estimulantes sociais e seu uso como suporte em situações sociais pode levar à dependência (16,17).

CONCLUSÃO

O consumo crônico e excessivo de álcool está amplamente associado a efeitos deletérios sobre o sistema nervoso central e periférico, envolvendo mecanismos como estresse oxidativo, excitotoxicidade glutamatérgica, disfunção mitocondrial e deficiências nutricionais. As evidências reunidas nesta revisão indicam que o etanol é uma substância neurotóxica capaz de comprometer funções cognitivas, motoras e autonômicas, além de contribuir para quadros clínicos graves como encefalopatia de Wernicke, síndrome de Korsakoff e neuropatia alcoólica. A compreensão dos efeitos neurológicos do álcool é fundamental para o reconhecimento precoce das manifestações clínicas, prevenção de sequelas permanentes e promoção de políticas públicas voltadas à redução de danos e ao tratamento dos transtornos por uso de álcool.

REFERÊNCIAS

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1Graduanda em Medicina
Instituição: Universidade do Grande Rio Afya
Endereço: Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil E-mail: leticiagraeter@hotmail.com
2Graduanda em Medicina
Instituição: Universidade do Grande Rio Afya
Endereço: Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil E-mail: nick.goulart@icloud.com
3Graduanda em Medicina
Instituição: Universidade do Grande Rio Afya
Endereço: Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: thamires.arruda@unigranrio.br
4Especialista em Pediatria e Medicina do Trabalho
Instituição: Universidade Gama Filho
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil E-mail: mariohfonseca@yahoo.com.br
5Doutor em Biologia
Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: mauricio.peixoto@unigranrio.edu.br