REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505301634
Sarah Bastos Ribeiro1
Leydina Souza Bonfim2
Marilia Gabriela Silva Tavares3
Kiria Vaz da Silva Hamerski4
Resumo:
Este trabalho tem como objetivo analisar os padrões de uso, os fatores motivadores e os impactos dos cigarros eletrônicos entre jovens de 15 a 24 anos em Porto Nacional – TO. O uso dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) tornou-se uma prática comum entre os jovens, influenciada por fatores estéticos, sociais e comportamentais. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada com base em estudos publicados nos últimos dez anos. Os resultados evidenciam o aumento do uso de DEFs entre jovens, associado à percepção equivocada de menor risco, à influência das mídias sociais e à ausência de regulamentação eficaz. A revisão também aborda os riscos à saúde, destacando a doença EVALI e a dependência à nicotina. Conclui-se que são necessárias intervenções educativas, políticas públicas rigorosas e atuação efetiva dos profissionais de saúde, especialmente da enfermagem, na orientação e prevenção do uso desses dispositivos.
Palavras-chave: Cigarro eletrônico. Jovens. EVALI. Nicotina. Enfermagem.
Abstract:
This study aims to analyze the usage patterns, motivating factors, and health impacts of electronic cigarettes among young people aged 15 to 24 in Porto Nacional – TO, Brazil. The use of Electronic Smoking Devices (ESDs) has become common among youth, driven by aesthetic, social, and behavioral factors. This is an integrative literature review based on studies published in the last ten years. The results highlight the increasing use of ESDs among young people, associated with a misperception of reduced risk, social media influence, and weak regulatory enforcement. The review also discusses health risks such as EVALI and nicotine dependence. It is concluded that educational interventions, strict public policies, and active engagement of health professionals—especially nursing—are essential for preventing ESD use among young individuals.
Keywords: Electronic cigarette. Youth. EVALI. Nicotine. Nursing.
INTRODUÇÃO
Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), conhecidos como cigarros eletrônicos, surgiram no mercado com a promessa de serem uma alternativa menos nociva ao tabaco tradicional. No entanto, com o passar dos anos, esses dispositivos deixaram de ser apenas uma ferramenta de cessação tabágica e passaram a ser um produto atrativo, especialmente para o público jovem.
Em Porto Nacional – TO, essa tendência é visível nas instituições de ensino, onde muitos adolescentes e jovens adultos fazem uso frequente desses dispositivos. A associação com estilo de vida moderno, sabores diversos e ampla divulgação em redes sociais contribuem para a popularização do seu uso.
Diante disso, é fundamental investigar os motivos que levam os jovens a utilizarem cigarros eletrônicos, compreender seus impactos na saúde e identificar estratégias eficazes de prevenção. Este estudo busca contribuir para o entendimento desse fenômeno e para a construção de práticas educativas e políticas públicas voltadas à proteção da saúde dos jovens.
MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão integrativa da literatura, com o intuito de reunir e sistematizar conhecimentos já produzidos sobre o uso de cigarros eletrônicos entre jovens. A pesquisa foi realizada nas bases SciELO, PubMed e Google Acadêmico, utilizando os descritores: “cigarro eletrônico”, “jovens”, “nicotina”, “EVALI” e “dependência”.
Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis na íntegra, publicados entre 2013 e 2023, em português ou inglês, que tratassem do uso de DEFs por indivíduos entre 15 e 24 anos. Foram excluídos estudos que abordassem apenas adultos, repetidos ou com metodologia inadequada.
A análise dos estudos seguiu as etapas de leitura exploratória, seleção, categorização e interpretação dos dados. As informações extraídas foram organizadas em quadros e discutidas à luz da literatura científica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Dados Nacionais Recentes sobre o Uso de DEFs
Segundo dados da pesquisa Covitel (2022-2023), houve aumento na prevalência do uso de cigarros eletrônicos entre jovens brasileiros. A maior concentração está entre os jovens de 18 a 24 anos, com prevalência de 7,3% em 2022, subindo para 9,9% em 2023. Já entre adolescentes de 13 a 17 anos, a PeNSE (2019) aponta que 16,8% já haviam experimentado os DEFs, com maior uso entre os meninos (18,1%).
Figura 1 – Gráfico de barras com a prevalência de uso por faixa etária:
- 13 a 17 anos: 16,8% (PeNSE)
- 18 a 24 anos: 7,3% em 2022 / 9,9% em 2023 (Covitel)
- 25 anos ou mais: queda progressiva nas taxas de uso
As principais motivações relatadas pelos jovens são: curiosidade, sabores atrativos, percepção de menor risco e influência das redes sociais e amigos.
Figura 2 – Gráfico de pizza com os fatores motivacionais:
- Curiosidade (32%)
- Sabores agradáveis (22%)
- Influência social (18%)
- Redução de danos (13%)
- Outro (15%)
3.1 Perfil dos usuários e fatores de iniciação
A maioria dos estudos revisados aponta que o consumo de cigarros eletrônicos está altamente concentrado na faixa etária entre 15 e 24 anos. Os principais fatores motivadores incluem: curiosidade, influência de amigos e familiares fumantes, presença nas redes sociais e marketing digital apelativo. Os DEFs são vistos como modernos, com sabores atrativos e menos prejudiciais à saúde.
3.2 Riscos à saúde
Embora comercializados como menos danosos, os DEFs contêm nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal, flavorizantes e metais pesados. O uso prolongado pode causar doenças respiratórias, cardiovasculares e dependência. Um dos quadros clínicos mais preocupantes é a EVALI (E-cigarette, or Vaping, product use Associated Lung Injury), com sintomas como tosse, falta de ar, febre, dor torácica e, em casos graves, insuficiência respiratória.
3.3 Percepção equivocada de risco
Carneiro e Morais (2023) mostram que grande parte dos jovens acredita que os cigarros eletrônicos não contêm nicotina ou que não fazem mal à saúde. Essa percepção equivocada contribui para o aumento do consumo, especialmente em ambientes escolares e universitários.
3.4 Políticas públicas e regulamentações
A Anvisa, por meio da Resolução RDC nº 46/2009, proíbe a comercialização e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil. No entanto, o acesso ao produto é facilitado por sites internacionais e redes sociais. Faltam ações eficazes de fiscalização e políticas públicas educativas nas escolas.
3.5 O papel da enfermagem
A enfermagem, como profissão que atua diretamente na promoção da saúde, possui um papel essencial na orientação dos jovens quanto aos riscos do uso dos DEFs. A realização de rodas de conversa, campanhas educativas e ações de acolhimento em escolas são estratégias importantes no combate a esse problema emergente.
3.6 Síntese dos estudos evisados
| Autor(es) | Ano | Objetivo do Estudo | Principais Resultados |
| Bertoni et al. | 2021 | Analisar a prevalência de uso de DEFs no Brasil | Alta prevalência entre jovens; DEFs vistos como “seguros” |
| Santos et al | 2021 | Investigar casos de EVALI associados ao uso de DEFs | Lesões pulmonares graves; sintomas similares à pneumonia |
| Malta et al. | 2022 | Avaliar o consumo de tabaco e derivados por escolares | Jovens iniciam o uso por influência social e estética do produto |
| Carneiro & Morais | 2023 | Compreender a percepção de risco entre jovens adultos | Muitos não associam DEFs a riscos graves; desinformação comum |
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de cigarros eletrônicos por jovens é um fenômeno complexo e multifatorial, que exige atenção das autoridades de saúde, profissionais da educação e da própria sociedade. A revisão da literatura revelou um crescimento preocupante do uso entre adolescentes e jovens adultos, motivado por desinformação, influência social e facilidade de acesso.
Os danos à saúde são significativos, especialmente no que tange à dependência e às doenças respiratórias. A atuação dos profissionais de enfermagem é essencial na construção de estratégias de enfrentamento, por meio da promoção da saúde, educação e intervenção precoce.
É urgente o fortalecimento das políticas públicas, fiscalização eficaz da venda e divulgação dos DEFs, e principalmente a ampliação de estratégias educativas voltadas para o público jovem.
REFERÊNCIAS
BERTONI, N. et al. Prevalência de uso de dispositivos eletrônicos para fumar e de uso de narguilé no Brasil: para onde estamos caminhando? Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 24, n.2, 2021.
CARNEIRO, M.; MORAIS, T. Cigarros eletrônicos: uma abordagem acerca do conhecimento de jovens adultos e os riscos para o sistema respiratório. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 27, n. 7, 2023.
D’ALMEIDA, V. M. et al. Lesões pulmonares associadas ao uso do cigarro eletrônico. Anais do Congresso Médico Universitário, v. 7, 2020. Disponível em: https://eventos.unifesp.br. Acesso em: 25 abr. 2025.
INCA – Instituto Nacional de Câncer. Cigarros eletrônicos: o que sabemos? 2022. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/cigarros-eletronicoso-que-sabemos. Acesso em: 25 abr. 2025.
MALTA, D. C. et al. O uso de cigarro, narguilé, cigarro eletrônico e outros indicadores do tabaco entre escolares brasileiros. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 25, p. e220014, 2022.
SANTOS, L. A. et al. Lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico (EVALI): reflexões sobre a doença e suas implicações. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 50, n. 2, p. 311–328, 2021.
1Graduanda do curso de Enfermagem do ITPAC – Porto Nacional. bastossrh@gmail.com.
2Graduanda do curso de Enfermagem do ITPAC – Porto Nacional. leydinasouza48@gmail.com
3Graduanda do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional. tmarilia215@gmail.com
4Professor doutor do curso de Enfermagem do ITPAC – Porto Nacional. kiriaenfermeira@gmail.com