ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS (APR) APLICADA A UMA EMPRESA DE FABRICAÇÃO E MONTAGEM DE MÓVEIS DE MADEIRA 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505291427


Cristiane Fialho Costa1
Karine Rangel de Oliveira Lôbo1
Orientador: Angelo Antônio Reis


Resumo: O setor moveleiro brasileiro, apesar de sua relevância econômica e geração significativa de empregos, enfrenta desafios importantes relacionados à saúde e segurança dos trabalhadores, devido à exposição a riscos ocupacionais variados. Este estudo teve como objetivo analisar os riscos presentes na fabricação de móveis em uma marcenaria localizada em Governador Valadares/MG, por meio da aplicação da técnica de Análise Preliminar de Riscos (APR). A pesquisa, de natureza aplicada, qualitativa, descritiva e exploratória, baseou-se em um estudo de caso que permitiu identificar, avaliar e propor medidas preventivas para os riscos encontrados. Os resultados apontaram a presença de riscos físicos, químicos, ergonômicos e de acidentes, com destaque para a ausência de equipamentos de proteção coletiva, treinamentos e práticas adequadas de segurança. Como recomendação, destaca-se a necessidade da implementação de medidas de controle, uso correto de EPIs, capacitação contínua dos trabalhadores e elaboração de mapas de riscos para promover um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.

Palavras-chave: Setor moveleiro; riscos ocupacionais; análise preliminar de riscos; segurança do trabalho.

Abstract: The Brazilian furniture industry, despite its economic relevance and significant job creation, faces significant challenges related to the health and safety of workers due to exposure to various occupational risks. This study aimed to analyze the risks present in the manufacture of furniture in a carpentry shop located in Governador Valadares/MG, through the application of the Preliminary Risk Analysis (PRA) technique. The research, of an applied, qualitative, descriptive and exploratory nature, was based on a case study that allowed the identification, evaluation and proposal of preventive measures for the risks found. The results indicated the presence of physical, chemical, ergonomic and accident risks, with emphasis on the lack of collective protection equipment, training and adequate safety practices. As a recommendation, the need to implement control measures, correct use of PPE, continuous training of workers and preparation of risk maps to promote a safer and healthier work environment is highlighted.

Keywords: Furniture industry; occupational risks; preliminary risk analysis; occupational safety.

1. INTRODUÇÃO

O setor moveleiro é uma das principais indústrias do Brasil, gerando empregos e contribuindo significativamente para a economia do país. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL, 2022), tal setor gerou mais de 255 (duzentos e cinquenta e cinco) mil empregos diretos em mais de 18 (dezoito) mil empresas, no ano de 2021, obtendo um valor de produção estimado em aproximadamente R$ 78,1 bilhões. Nos oito primeiros meses de 2024, o volume do emprego cresceu 7,5% sobre 2023. Hoje, o setor moveleiro no Brasil tem cerca de 21,7 mil empresas, empregando diretamente 270,2 mil trabalhadores e gerando 1,1 milhão de empregos indiretos (GALATI, 2024).

Embora o setor moveleiro tenha grande importância econômica, muitas empresas que o compõem negligenciam a saúde e a segurança dos trabalhadores, expondo-os a riscos de acidentes envolvendo máquinas, a problemas ergonômicos e ao desenvolvimento de doenças respiratórias. Isso ocorre devido à falta de investimento em segurança, à deficiência da fiscalização e à manutenção de uma cultura de baixo valor à proteção do trabalhador (TONZAR, 2024). Para Tonzar (2024), a adoção de medidas preventivas e treinamentos adequados é essencial para garantir a saúde dos trabalhadores e a sustentabilidade das empresas.

Estima-se que a indústria moveleira registre uma taxa significativa de acidentes, especialmente em atividades que envolvem o uso de maquinário pesado e ferramentas cortantes (ABIMÓVEL, 2023). Tonzar (2024) afirma que a indústria moveleira apresenta muitos perigos em razão da natureza dos trabalhos realizados. 

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), apresentou dados atualizados sobre os acidentes de trabalho registrados no Brasil em 2024, com base nas informações de 2023. Em 2024, o Brasil registrou um total de 724.228 acidentes de trabalho. Desses, 74,3% foram acidentes típicos, 24,6% acidentes de trajeto e apenas 1% refere-se a doenças ocupacionais, o que revela a grande dificuldade em reconhecer as doenças relacionadas ao trabalho. Desses registros de acidentes do trabalho em todo o território nacional 11.305 (onze mil, trezentos e cinco) se referem à Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE) associada às atividades de fabricação de móveis, com predominância em madeira (BRASIL, 2025).

Em razão dos riscos associados às atividades desenvolvidas no setor moveleiro e dos acidentes e doenças que podem advir da exposição do trabalhador a esses riscos, considera-se importante a execução do gerenciamento dos mesmos. Segundo Silva (2020), o gerenciamento permite a identificação, a avaliação e o controle dos riscos, o que pode impactar de forma positiva na segurança, na produtividade e na sustentabilidade das operações de uma organização.

De acordo com a ABNT (2018), a aplicação eficaz da gestão de riscos contribui para a melhoria do desempenho organizacional em áreas como segurança, proteção ambiental e conformidade legal. Vockan (2024), diz que a gestão de riscos eficaz contribui para a melhoria contínua dos processos produtivos, proporcionando uma vantagem competitiva no mercado, uma vez que torna as organizações mais resilientes e preparadas para enfrentar crises e desafios imprevistos. 

Diante do exposto, este estudo tem por objetivo analisar os riscos ocupacionais envolvidos na atividade de fabricação de móveis, em uma empresa localizada no município de Governador Valadares – Minas Gerais, utilizando-se a técnica de gerenciamento de riscos denominada Análise Preliminar de Riscos (APR). Para alcançar esse objetivo, foi necessário: analisar as atividades executadas pela empresa; identificar os riscos presentes nas mesmas; apontar as causas e efeitos associados a tais riscos; e apresentar medidas preventivas e/ou corretivas que possam contribuir para o controle dos mesmos.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Gerenciamento de riscos 

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2018), por meio da Norma Brasileira (NBR) International Organization for Standardization (ISO) 31.000, determina que o gerenciamento de riscos é o processo de identificar, avaliar e priorizar riscos, seguido da aplicação de recursos para minimizar, monitorar e controlar a probabilidade ou impacto de eventos indesejados. 

2.2 Riscos Ocupacionais

Segundo a NR nº1 (Brasil, 2024), o risco ocupacional representa a combinação entre a probabilidade de ocorrer lesão ou agravo à saúde, causados por um evento perigoso, pela exposição a agente nocivo ou por exigência da atividade de trabalho, e a sua severidade. Ainda conforme tal norma, os riscos ocupacionais podem ser físicos, químicos e biológicos. A literatura apresenta, ainda, os riscos ergonômicos e os mecânicos ou de acidentes.

 Os agentes físicos representam as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores e que em função de sua natureza, intensidade e exposição, são capazes de causar lesão ou agravo à saúde do trabalhador (BRASIL, 2020). Consideram-se agentes químicos as substâncias ou misturas, em estado natural ou produzidas, utilizadas ou geradas no processo de trabalho, que possam causar lesão ou agravo à saúde do trabalhador, em razão de sua natureza, concentração e exposição (BRASIL, 2020). Já os agentes biológicos são aqueles que podem provocar lesão ou agravo à saúde do trabalhador, em virtude de sua natureza e do tipo de exposição, como os microrganismos, os parasitas ou os materiais originados de organismos (BRASIL, 2020). Riscos ergonômicos: As condições de trabalho que refletem diretamente na produtividade, gerando danos mentais e físicos nos profissionais são categorizados por esse risco. Podemos citar como aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário dos postos de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais, às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria organização do trabalho. (SANTOS ET AL,2021). 

Segundo Xavier (2017) é importante sugerir medidas que ajudem no controle da exposição dos trabalhadores a estes riscos, por isso não basta apenas conhecê-los. Para isso, visando definir os riscos que podem estar presentes na fase operacional de um novo processo ou atividade, existe a Análise Preliminar de Risco (APR). 

2.3 Riscos no setor moveleiro

O setor moveleiro expõe os trabalhadores a diversos riscos ocupacionais significativos. O ruído gerado pelas máquinas é um dos principais agentes físicos encontrados nos ambientes de marcenaria, sendo frequentemente superior aos limites de tolerância estabelecidos pela legislação brasileira (RODRIGUES; SOUZA; PEREIRA, 2023). A exposição prolongada pode levar à perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora. A poeira de madeira, gerada em processos de corte, lixamento e acabamento, é outro risco grave, podendo causar doenças respiratórias como rinite, asma ocupacional e até câncer nasossinusal (INCA, 2024). Além disso, o uso de solventes orgânicos presentes em tintas, colas e vernizes expõe os trabalhadores a riscos químicos, como irritações nos olhos, pele e mucosas, distúrbios neurológicos e doenças hepáticas (EHS SEGURANÇA DO TRABALHO, 2024). Segundo a Norma Regulamentadora nº 15, atividades com produtos químicos voláteis sem ventilação adequada são classificadas como insalubres (BRASIL, 2023). No aspecto ergonômico, muitos profissionais relatam “dores na região lombar, cervical, tornozelos e pés” devido à repetitividade e postura inadequada (Alves et al., 2021). A exposição a esses riscos, sem a adoção de medidas preventivas, pode agravar os problemas de saúde ao longo do tempo, impactando negativamente a qualidade de vida dos trabalhadores. Por fim, acidentes com máquinas são frequentes, principalmente envolvendo mãos e dedos, representando 60% dos casos, com lesões como cortes, lacerações e amputações (Ministério do Trabalho e Emprego, 2024). Para reduzir esses riscos, é essencial que as empresas do setor invistam em treinamentos adequados, equipamentos de proteção individual e manutenção constante das máquinas, garantindo ambientes de trabalho mais seguros para seus colaboradores.

2.4 Análise Preliminar de Riscos (APR)

Dentre as diversas técnicas utilizadas no gerenciamento de riscos, destaca-se APR, que é uma ferramenta de identificação de perigos e análise de riscos que busca identificar os eventos perigosos, as causas e consequências envolvidas e, a partir disso, estabelecer medidas de controle (Santos et. al, 2017). No Quadro 1, apresentado a seguir, é possível observar a classificação dos riscos conforme o grau de severidade.

Quadro 1 – Classificação de riscos segundo o grau de severidade.

GrauSeveridadeCaracterísticas
IDesprezívelNão causa degradação impeditiva de funcionamento ao sistema produtivo (processo ou instalações) ou ameaça os recursos humanos.
IIMarginal / LimítrofeDegradação moderada com danos menores, sem causar lesões. Compensável ou controlável.
IIICríticaDegradação crítica. Dano substancial, com lesões, impondo ações imediatas.
IVCatastróficaCausador de séria degradação ou perda do sistema produtivo, bem como lesões graves ou mortes.
Fonte: Barbosa Filho (2019).

Após a classificação dos riscos conforme o grau de severidade, determina-se a frequência de ocorrência de cada um deles, de acordo com as informações contidas no Quadro 2, a seguir.

Quadro 2 – Classificação de riscos segundo a frequência de ocorrência do evento.

CategoriaFrequência anualDescrição
A – Extremamente Remotaf < 10– 4Conceitualmente possível, mas de ocorrência extremamente improvável durante toda a vida útil do sistema produtivo.
B – Remota10– 4 < f < 10– 3Ocorrência não esperada durante a vida útil do sistema produtivo.
C – Pouco Provável10– 3< f < 10– 2Pouco provável de ocorrer durante toda a vida útil do sistema produtivo.
D – Provável10– 2< f < 10– 1Esperado ocorrer até uma vez durante a vida útil do sistema produtivo.
E – Frequentef > 10– 1Ocorrência esperada por várias vezes durante a vida útil do sistema produtivo.
Fonte: Barbosa Filho (2019)

De posse da severidade e da frequência de cada um dos riscos analisados, deve-se realizar a categorização dos mesmos, utilizando-se uma matriz de classificação de riscos. A partir dessa categorização, é possível priorizar as medias que devem ser adotadas a fim de controlar os riscos (Barbosa Filho, 2019). A Figura 1 apresenta uma matriz de classificação de riscos resultantes.

Fonte: Barbosa Filho (2019) 

Barbosa Filho (2019) recomenda que as informações que compõem a APR sejam organizadas, conforme ilustrado no Quadro 3.

Quadro 3 – Análise Preliminar de Riscos (APR). 

Fonte: Adaptado de Barbosa Filho (2019)

As medidas mitigadoras vão desde ações que visam reduzir, controlar e eliminar os riscos ocupacionais presentes no ambiente de trabalho, por meio da utilização de proteções individuais, coletivas ou medidas de ordem administrativas.

3. METODOLOGIA 

3.1 Caracterização da pesquisa

Quanto a natureza da pesquisa, esse estudo se classifica como pesquisa aplicada. Fleury e Werlang (2017) consideram que a pesquisa aplicada tanto serve para testar ou refutar teorias, a partir da sua relação prática; busca diagnosticar, intervir e solucionar problemas demandados pelo mundo social e produtivo. Lembrando que dessa solução surgem novos conhecimentos, portanto, é uma pesquisa que se define pelo “[…] conjunto de atividades nas quais conhecimentos previamente adquiridos são utilizados para coletar, selecionar e processar fatos e dados, a fim de se obter e confirmar resultados, e se gerar impacto” (FLEURY; WERLANG, 2017, p. 11-12). 

A caracterização da pesquisa, se baseia em análises de carácter qualitativo, a partir da identificação de suas respectivas causas, consequências, severidades, frequências de ocorrência, categorizações, além da proposição de medidas de controle para cada risco identificado. De acordo com Rodrigues et al. (2021), a pesquisa qualitativa ocorre em um ambiente natural, onde o pesquisador se envolve com as experiências do objeto de pesquisa, utilizando métodos múltiplos e interativos para coleta de dados. Quanto aos objetivos, este estudo se classifica como descritivo e exploratório. Descritivo porque relata, observa e registra o desenvolvimento de ações que ocorrem no ambiente, a fim de retratar a realidade existente. Exploratório porque através da sondagem dos problemas é possível identificar e mapear os riscos, e com base nisso, traçar medidas de prevenção dos riscos para tornar-se um ambiente mais seguro e saudável. Já com relação aos procedimentos técnicos, se configuram como pesquisa bibliográfica e como um estudo de caso. Pesquisa bibliográfica porque se utilizou-se de uma fundamentação teórica para o embasamento de assuntos, estes pesquisados em livros, anuários, trabalhos anteriores entre outros. E como estudo de caso, porque a mesma foi desenvolvida em uma marcenaria, que atua na fabricação e montagem de móveis de madeira, localizada em Governador Valadares/MG. E seus riscos analisados e estudados com base na metodologia de análise preliminar de riscos e posteriormente sugerido mudanças/adaptações para a minimização destes riscos (RODRIGUES, 2020).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

4.1 Caracterização da marcenaria

A marcenaria estudada localiza-se em Governador Valadares/MG e está há mais de cinco anos no mercado. A organização atua como microempresa, na fabricação e montagem de móveis de madeira, como painéis de TV, closets, armários de cozinha, dentre outros. A empresa conta com apenas um setor em que são alocados três funcionários, sendo dois auxiliares de marceneiro e o próprio dono, que é o marceneiro.

A organização não possui uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio (CIPA) e um mapa de riscos. Além disso, não há rotina de treinamentos e cumprimento de procedimentos de segurança.

O processo produtivo da marcenaria começa com a descarga e o armazenamento dos materiais que são utilizados na fabricação das peças. Em seguida, realiza-se o corte e o dimensionamento do material, conforme a necessidade. Caso necessário, o material é lixado. Logo após, realiza-se a modelagem e o acabamento das peças, conforme especificações de projeto. A montagem das peças é então realizada, a fim de verificar se o encaixe delas está de acordo com o projeto. O acabamento final é caracterizado pela pintura e envernização das peças que, após secagem, seguem para o armazenamento e expedição. A Figura 2 exibe o fluxograma do processo produtivo da marcenaria.

Figura 2. Fluxograma do processo produtivo.

Fonte: As autoras, (2025).

No Quadro 4, é possível observar a descrição de cada etapa do processo de fabricação e montagem de móveis de madeira, adotado na marcenaria analisada.

Quadro 4 – Descrição das etapas do processo de fabricação e montagem de móveis de madeira da empresa analisada.

EtapaDescrição
Recebimento e armazenamento de materiaisA madeira ou o painel de fibra de madeira de média densidade, conhecido como MDF, é recebida e inspecionada a fim de que sua qualidade seja verificada. O material é armazenado de forma adequada para evitar danos, sendo mantido em ambiente seco e ventilado. A madeira é organizada por tipo e uso ao qual se destina, de modo a facilitar o acesso durante a produção.  
Corte e dimensionamentoNesta etapa, as peças são cortadas e ajustadas, conforme as especificações do projeto, de forma a garantir que se encaixem corretamente na montagem final do móvel. O processo é realizado utilizando-se máquinas e equipamentos, como serra circular, serra fita, serra de esquadria e plaina de mesa fresadora.  
Modelagem e acabamentoA madeira é moldada e suavizada, utilizando-se ferramentas como: tupia, lixadeira e plaina elétrica. A tupia é usada para criar bordas e formas detalhadas, enquanto as lixadeiras removem imperfeições. Já a plaina elétrica é empregada para nivelar superfícies, deixando-as planas e uniformes. Nessa etapa, também é realizada a aplicação de produtos químicos nas peças, como vernizes, lacas óleos. Tais produtos possuem a função de proteger a madeira, melhorar a sua aparência e garantir a sua durabilidade.  
MontagemDurante a montagem dos móveis, peças são unidas com cola e parafusos, utilizando-se prensas e grampos para garantir o alinhamento e a união das partes até a secagem da cola. Algumas montagens exigem o uso de furadeiras e parafusadeiras para a fixação das peças. 
Acabamento final (pintura e envernização).Durante o processo de acabamento final de um móvel, normalmente são aplicadas camadas de tinta, verniz ou selante. Esses produtos podem ser aplicados com pistola pulverizadora, que proporciona uma cobertura mais uniforme e rápida, ou com pincel, que dá mais controle, mas pode deixar marcas dependendo da habilidade de quem aplica. Entre uma camada e outra desses produtos, é comum fazer um lixamento leve. Isso serve para remover pequenas imperfeições, como partículas de pó que se fixaram durante a secagem, e também para ajudar a próxima camada a aderir melhor, garantindo uma superfície lisa e com bom acabamento. Esse lixamento entre camadas é feito geralmente com uma folha de lixa fina, como uma lixa de grão 220 a 400, e pode ser feito manualmente ou com uma lixadeira orbital, dependendo do tamanho da peça e do nível de acabamento desejado. O lixamento deve ser suave, apenas para nivelar a superfície, sem remover a camada recém-aplicada.  
Armazenamento e expediçãoApós a secagem dos móveis, eles são embalados e organizados em áreas específicas para facilitar o transporte. Nesta etapa, não ocorre a utilização de máquinas.
Fonte: As autoras (2025)

4.2 Aplicação da Análise Preliminar de Riscos (APR)

  A APR de cada uma das etapas que compõem o processo produtivo da empresa de fabricação e montagem de móveis de madeira, objeto deste estudo, é apresentada no Quadro 5. Com base em todas as análises realizadas e nas informações obtidas, bem como no embasamento teórico adquirido por meio da pesquisa bibliográfica, foi elaborada a Análise Preliminar de Riscos (APR). A APR permitiu a identificação dos riscos presentes no ambiente de trabalho da marcenaria em estudo, além de possibilitar uma compreensão mais aprofundada sobre suas atividades operacionais e seus processos produtivos. Essa análise também contribuiu para o reconhecimento das causas dos riscos, suas possíveis consequências e a proposição de medidas mitigadoras adequadas.

Ao examinar os riscos físicos, químicos, biológicos e de acidentes presentes no local analisado, verificou-se que a severidade dos riscos varia entre os níveis I (Desprezível) e IV (Catastrófica). Considerando as atividades desenvolvidas, o uso constante de máquinas e a permanência prolongada dos colaboradores no ambiente, observou-se uma frequência de exposição aos riscos, os quais foram enquadrados nas categorias D (Provável) e E (Frequente). A partir da matriz de classificação de riscos, os resultados obtidos situaram-se entre os níveis 2 e 4.

Conforme apresentado no Quadro 5, os riscos físicos identificados incluem ruído e vibração, ambos decorrentes do funcionamento das máquinas utilizadas no processo produtivo da marcenaria. Além disso, foram observados agentes químicos, como a poeira de madeira gerada durante os procedimentos de corte, lixamento e perfuração. Há também exposição a substâncias químicas resultantes da aplicação de colas para MDF, vernizes, lacas e óleos, cuja severidade dos produtos levantados fora classificada entre os níveis III (Crítica) e IV (Catastrófica).

Foram ainda detectados riscos ergonômicos, como o levantamento e transporte manual de cargas, bem como a manutenção da postura em pé por longos períodos, expondo os trabalhadores a um nível de risco D (Provável). Em relação aos riscos de acidentes, conforme evidenciado no Quadro 5, constatou-se uma quantidade expressiva de ocorrências no ambiente da marcenaria, resultantes de diversas causas que submetem os colaboradores a distintos níveis de severidade e frequência.

Destaca-se, como ponto crítico, o manuseio de máquinas, que representa um risco elevado devido à ausência de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC – Equipamento de Proteção Individual) e ao uso de ferramentas cortantes, que podem ocasionar acidentes graves, como lesões severas e amputações. Entre os riscos de acidentes observados, citam-se: queda de objetos pesados, falhas na instalação elétrica, projeção de partículas e contato com partes móveis de máquinas e/ou equipamentos, cujas severidades variaram entre os níveis II (Marginal) e IV (Catastrófica). Ressalta-se que, conforme os dados apresentados no Quadro 5, não foram identificados riscos biológicos no ambiente analisado.

De acordo com Moraes (2022), os riscos mais preocupantes da organização estão relacionados a riscos de acidentes, riscos ergonômicos e risco de quebra a placa de MDF, principalmente porque os funcionários realizam as operações de posicionar e retirar o material das máquinas de forma manual, fazendo com que seja necessário pegar as peças com as mãos muitas vezes ao dia, levanta peso frequentemente, passar muito tempo em pé. As consequências desses riscos são: perda de matéria-prima, atrasos na produção, lesões leves ou sérias nas mãos ou em outros membros do corpo, processos trabalhistas, afastamento temporário ou permanente dos funcionários. Além disso, nos processos de colagem e de pintura e secagem, há o risco do cheiro forte, o que pode levar a problemas respiratórios. As deficiências identificadas que aumentam a probabilidade dos riscos de acidentes e ergonômicos acontecerem estão relacionadas ao uso incorreto do Equipamento de Produção Individual (EPI). Para Andrade (2024), durante toda a etapa da preparação da peça de madeira foi possível observar riscos que estão relacionados com o contato direto do trabalhador com a madeira, com a serra de corte, ruído e poeira, sendo esses dois últimos presentes em todas as etapas, com exceção do acabamento. Todas as etapas possuem um elevado nível de risco, já que há negligência na utilização dos equipamentos de proteção individual. Pode-se notar também que a etapa de preparação da peça é a que mais apresenta riscos que podem comprometer a saúde e segurança dos trabalhadores durante o desempenho das atividades. E de acordo com a classificação dos riscos, esses fatores podem gerar lesões maiores e incapacitantes, o que reforça a implementação de medidas preventivas para a mitigação desses riscos.

Quadro 5: Análise Preliminar de Riscos (APR) – Processo produtivo de uma empresa de fabricação e montagem de móveis de madeira (Continua).

Fonte: As autoras (2025)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização do levantamento e da análise do sistema produtivo da marcenaria estudada, identificaram-se diversos fatores que expõem os trabalhadores a riscos ocupacionais. Destacase, entre eles, o manuseio de máquinas cortantes, os quais podem ocasionar graves lesões, cortes e até amputações, em razão da inexistência de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs) em grande parte do processo produtivo. Nesse contexto, recomenda-se a implementação de treinamentos periódicos, a utilização obrigatória de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a adequação dos maquinários com a instalação de dispositivos de segurança coletiva.

Outro fator relevante refere-se às condições ergonômicas associadas à execução das atividades laborais. Considerando que a madeira, principal matéria-prima utilizada, possui elevado peso, seu manuseio demanda esforço físico constante dos trabalhadores. Para mitigar tais impactos, sugere-se a reorganização do arranjo físico do setor produtivo, o uso de equipamentos auxiliares, como carrinhos e paleteiras, além da adoção de pausas regulares para descanso e atividades de alongamento.

Adicionalmente, a manipulação de produtos químicos representa um fator de risco relevante. Apesar da aparência inofensiva, tais substâncias apresentam elevado potencial tóxico, podendo causar danos à saúde dos trabalhadores. Observou-se que, frequentemente, os EPIs não são utilizados de forma adequada durante o manuseio desses materiais. Como medidas de prevenção, recomenda-se a melhoria da ventilação do ambiente e a adoção correta dos EPIs indicados para essa atividade.

Durante as observações, foi constatada a ausência de EPIs adequados, como botas, luvas, óculos de proteção e máscaras específicas para cada atividade, o que aumenta a exposição dos trabalhadores a riscos que poderiam ser minimizados. Dessa forma, torna-se urgente a distribuição e o uso obrigatório desses equipamentos. Verificou-se, ainda, a inexistência de treinamentos regulares e a falta de extintores de incêndio, o que compromete significativamente a segurança do ambiente de trabalho.

Como proposta para estudos futuros, destaca-se a necessidade da elaboração de um mapa de riscos, instrumento que visa à identificação e à sinalização dos perigos presentes em cada etapa do processo produtivo, facilitando a percepção dos trabalhadores. Sugere-se, também, a realização de uma avaliação quantitativa dos riscos físicos e químicos, por meio da medição de níveis de ruído, vibração, poeiras e substâncias químicas utilizadas no ambiente de trabalho, com o objetivo de promover ações corretivas e preventivas mais eficazes. 

Enfim, para futuros trabalhos, sugere-se realizar um levantamento da realidade das pequenas marcenarias espalhadas nas cidades e estados com a finalidade de conhecer o quanto este setor econômico, parte expressiva de um CNAE, precisa formalizar medidas significativas de gerenciamento de riscos.

REFERÊNCIAS

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1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Av. Minas Gerais 5189, Ouro Verde – Governador Valadares, Minas Gerais.