CONGENITAL SYPHILIS: RISK FACTORS, EARLY DIAGNOSIS, AND PREVENTION IN PREGNANT WOMEN AND CHILDREN
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505261544
Danuza Vilas Boas de Jesus¹
Francine Rusciolelli Nogueira¹
Mercia Alves da Silva Margotto²
RESUMO
Introdução. A sífilis congênita permanece como um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, representando uma das principais causas evitáveis de morbimortalidade perinatal. Trata-se de uma infecção transmitida verticalmente da gestante para o feto, causada pelo Treponema pallidum, cuja transmissão ocorre principalmente durante a gestação ou no momento do parto. A ausência de diagnóstico e tratamento oportuno na gestante pode resultar em consequências graves para o recém-nascido, como prematuridade, baixo peso ao nascer, malformações, surdez, cegueira e até óbito fetal. Objetivo. Analisar os principais fatores de risco para a sífilis congênita, bem como as estratégias de diagnóstico precoce e prevenção durante o pré-natal, com foco na proteção da saúde materno-infantil. Justificativa. Este estudo é relevante por contribuir com a atualização do conhecimento sobre os determinantes sociais e clínicos envolvidos na transmissão vertical da sífilis, além de reforçar a importância de ações preventivas eficazes no âmbito do pré-natal. Metodologia. Trata-se de uma revisão sistemática baseada no protocolo PRISMA, utilizando a estratégia PICO para seleção de artigos publicados entre 2020 e 2025 nas bases de dados LILACS e PubMed. Foram incluídos estudos que abordaram fatores de risco maternos, estratégias de rastreamento sorológico, intervenções preventivas e desfechos neonatais relacionados à sífilis congênita. Resultados e discussão. Os principais fatores associados à sífilis congênita foram a ausência ou início tardio do pré-natal, falhas na testagem e tratamento adequado da gestante e do parceiro sexual, baixa escolaridade e vulnerabilidade social. A realização do teste rápido de sífilis nas primeiras consultas do pré-natal, com repetição nos trimestres subsequentes, mostrou-se fundamental para o diagnóstico precoce. O tratamento com penicilina benzatina ainda é o mais eficaz e seguro. Conclusão. A prevenção da sífilis congênita exige a identificação precoce dos casos maternos, rastreamento adequado durante o pré-natal, tratamento eficaz da gestante e do parceiro, além de ações educativas e políticas públicas voltadas à promoção da saúde materno-infantil.
Palavras-chave: Sífilis. Gestação. Saúde.
ABSTRACT
Introduction. Congenital syphilis remains a major public health concern in Brazil and worldwide, representing one of the leading preventable causes of perinatal morbidity and mortality. It is a vertically transmitted infection from the pregnant woman to the fetus, caused by Treponema pallidum, with transmission occurring mainly during pregnancy or at the time of delivery. The absence of timely diagnosis and treatment in the pregnant woman can lead to serious consequences for the newborn, such as prematurity, low birth weight, congenital malformations, deafness, blindness, and even fetal death. Objective. To analyze the main risk factors for congenital syphilis, as well as early diagnostic and prevention strategies during prenatal care, focusing on the protection of maternal and child health.Justification. This study is relevant as it contributes to updating knowledge on the social and clinical determinants involved in the vertical transmission of syphilis, while also emphasizing the importance of effective preventive actions within prenatal care. Methodology. This is a systematic review based on the PRISMA protocol, using the PICO strategy to select articles published between 2020 and 2025 in the LILACS and PubMed databases. Studies addressing maternal risk factors, serological screening strategies, preventive interventions, and neonatal outcomes related to congenital syphilis were included. Results and Discussion. The main factors associated with congenital syphilis were the absence or late initiation of prenatal care, failures in testing and appropriate treatment of the pregnant woman and her sexual partner, low educational level, and social vulnerability. The use of rapid syphilis testing during the initial prenatal consultations, with repetition in subsequent trimesters, proved essential for early diagnosis. Treatment with benzathine penicillin remains the most effective and safest option. Conclusion. The prevention of congenital syphilis requires early identification of maternal cases, appropriate screening during prenatal care, effective treatment of both the pregnant woman and her partner, as well as educational initiatives and public policies aimed at promoting maternal and child health.
Keywords: Syphilis. Pregnancy. Health.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis congênita permanece como uma das mais relevantes e desafiadoras condições de saúde pública no Brasil e em diversas regiões do mundo, devido ao seu alto potencial de morbimortalidade perinatal e à possibilidade de prevenção efetiva. Trata-se de uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida verticalmente da gestante para o feto durante a gestação ou no momento do parto, o que pode ocasionar complicações graves como prematuridade, baixo peso ao nascer, malformações, surdez, cegueira e óbito fetal (Silva et al., 2025).
Nas últimas décadas, tem-se observado um aumento preocupante no número de casos de sífilis congênita, o que tem impulsionado a intensificação de estratégias de rastreamento e prevenção durante o pré-natal. A identificação precoce de fatores de risco maternos, como ausência ou início tardio do pré-natal, falhas na testagem sorológica e na adesão ao tratamento com penicilina, tem sido essencial para a contenção da transmissão vertical (Rigo et al., 2021).
Os métodos tradicionais de diagnóstico, como os testes treponêmicos e não treponêmicos, continuam sendo ferramentas indispensáveis na triagem e confirmação da sífilis materna e congênita. No entanto, avanços como a ampliação da testagem rápida nos serviços de atenção básica e o fortalecimento da vigilância epidemiológica têm contribuído para o aprimoramento da detecção precoce, especialmente em populações vulneráveis (Rocha et al., 2021).
No contexto da prevenção, ações educativas, estratégias de testagem ampliada e o envolvimento dos parceiros sexuais no tratamento têm demonstrado impacto significativo na redução da incidência de novos casos. Além disso, políticas públicas voltadas à qualificação do pré-natal e ao fortalecimento da rede de atenção materno-infantil desempenham papel crucial no enfrentamento da sífilis congênita (Bomfim et al., 2021).
Diante desse cenário, torna-se fundamental a sistematização das evidências científicas sobre os fatores de risco, estratégias diagnósticas e intervenções preventivas relacionadas à sífilis congênita. Assim, o presente estudo tem como objetivo revisar os principais determinantes clínicos e sociais envolvidos na transmissão vertical da sífilis.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho consiste em uma revisão sistemática da literatura acerca dos fatores de risco, métodos de diagnóstico precoce e medidas preventivas voltadas à sífilis congênita, explorando desde práticas convencionais até inovações recentes aplicadas à identificação e ao controle da infecção. A condução da pesquisa seguiu as recomendações estabelecidas pelo protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). A metodologia foi estruturada com base no modelo PICO (População, Intervenção, Comparação e Desfecho), em que a população foi composta por gestantes expostas à sífilis e recém-nascidos afetados pela infecção; a intervenção englobou ações de triagem sorológica, diagnóstico em diferentes fases da gestação e o tratamento com penicilina benzatina.
Para a seleção dos estudos, foram utilizadas as palavras-chave “sífilis congênita”, “rastreamento pré-natal”, “transmissão materno-fetal”, “tratamento com penicilina” e “atenção à saúde da gestante”. A busca foi realizada em bases científicas amplamente reconhecidas, como LILACS e PubMed, aplicando-se operadores booleanos para refinar os resultados. Foram incluídos artigos publicados entre os anos de 2020 e 2025, redigidos em português ou inglês. Estudos indisponíveis na íntegra ou que não abordassem diretamente o tema central foram excluídos da análise.
Figura 1. Fluxograma de estudos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final da pesquisa foi composta por 09 artigos, selecionados após leitura integral e análise criteriosa quanto à relevância e qualidade metodológica. Esses estudos estão descritos na Tabela 1, com suas principais contribuições. A investigação abordou os determinantes clínicos e sociais relacionados à sífilis congênita.
Tabela 1. Estudos escolhidos para a escrita.

A sífilis congênita, embora evitável, continua sendo um grave problema de saúde pública no Brasil e em diversos países em desenvolvimento (Costa et al., 2023). Os dados analisados nesta revisão sistemática evidenciam que a persistência da transmissão vertical está fortemente associada a determinantes sociais e falhas estruturais na atenção à saúde da gestante e do recém-nascido.
Almeida et al. (2021) ressaltam que a sífilis congênita está diretamente relacionada à ausência de tratamento adequado durante a gestação, o que geralmente é consequência de fatores como baixa escolaridade, pobreza, acesso precário aos serviços de saúde e desconhecimento sobre a importância do acompanhamento pré-natal. Esses elementos caracterizam um contexto de vulnerabilidade social que perpetua a cadeia de transmissão da infecção. Tais dados também foram corroborados por Rigo et al. (2021), que identificaram falhas na assistência pré-natal em maternidades de referência, principalmente entre gestantes com menor nível educacional.
Do ponto de vista epidemiológico, Trento e Moreira (2022) reforçam que a sífilis congênita apresenta maior incidência em regiões marcadas pela desigualdade socioeconômica, refletindo o impacto dos determinantes sociais da saúde no perfil clínico e na distribuição da doença. A análise desses achados permite compreender que o enfrentamento da sífilis congênita não deve se limitar às medidas clínicas, pois deve considerar políticas públicas que garantam equidade no acesso ao cuidado e inclusão social.
Em relação aos aspectos clínicos e neonatais, Araújo et al. (2021) demonstraram que a infecção materna por sífilis está associada a um maior risco de prematuridade e complicações neonatais, evidenciando os efeitos adversos diretos sobre a saúde do recém-nascido. Esses desfechos comprometem a sobrevida imediata da criança, como também seu desenvolvimento a longo prazo, tornando essencial o rastreamento e tratamento oportuno da gestante infectada. A atuação precoce no pré-natal mostrou-se um fator decisivo para a prevenção da transmissão vertical. Bomfim et al. (2021) destacam que o pré-natal adequado, com testagem sorológica realizada nas primeiras consultas e repetida nos trimestres subsequentes, reduz significativamente os casos de sífilis congênita. No mesmo sentido, Domingues et al. (2021) reforçam a importância da adesão aos protocolos nacionais de testagem e tratamento com penicilina benzatina, ao ressaltar que a aplicação correta das diretrizes clínicas está diretamente associada à melhora dos desfechos neonatais.
Outro aspecto de grande relevância apontado por Comarella et al. (2023) é a repercussão da sífilis congênita na rotina neonatal. Segundo os autores, mesmo com o diagnóstico adequado na gestação, o manejo clínico do recém-nascido exposto demanda equipes capacitadas e infraestrutura adequada para garantir o tratamento correto, monitoramento e seguimento da criança. Isso reforça a necessidade de articulação entre os níveis de atenção à saúde, desde o pré-natal até o cuidado neonatal e pediátrico.
Além disso, Rocha et al. (2021) abordam a importância da educação em saúde como ferramenta preventiva. A informação clara e acessível sobre os riscos da sífilis na gestação, as formas de prevenção e a necessidade do tratamento do parceiro sexual são estratégias fundamentais para romper o ciclo de reinfecção e garantir a efetividade das ações preventivas. Complementando essa visão, Oliveira et al. (2024) destacam o papel central do enfermeiro e do médico como agentes multiplicadores dessas informações, sendo responsáveis por promover espaços de escuta, orientação e adesão ao tratamento durante o pré-natal.
De forma geral, os estudos analisados demonstram a complexidade da sífilis congênita como problema de saúde pública, exigindo uma abordagem integrada que envolva tanto medidas biomédicas quanto ações intersetoriais. O combate à transmissão vertical exige a articulação entre profissionais de saúde, gestores públicos, educadores e a própria comunidade, com foco na ampliação do acesso aos serviços, capacitação das equipes de atenção básica, melhoria da cobertura pré-natal e fortalecimento das políticas sociais (Santos et al., 2024).
Em síntese, o estudo revela que, embora existam protocolos bem estabelecidos e terapias eficazes para o tratamento da sífilis, a elevada incidência da forma congênita decorre, sobretudo, de falhas no sistema de saúde e das desigualdades sociais que dificultam o acesso ao cuidado integral. A prevenção efetiva depende do diagnóstico precoce, da garantia do tratamento adequado para gestante e parceiro, da capacitação dos profissionais de saúde e do fortalecimento das ações educativas voltadas à população, especialmente em contextos de maior vulnerabilidade (Silva et al., 2025).
CONCLUSÃO
A sífilis congênita permanece como um importante desafio de saúde pública no Brasil, especialmente por sua associação com determinantes sociais, falhas na assistência pré-natal e limitações no acesso aos serviços de saúde. A partir da análise dos estudos incluídos nesta revisão, foi possível observar que fatores como baixa escolaridade materna, pobreza, ausência de testagem precoce e inadequação no tratamento da gestante são os principais contribuintes para a persistência da transmissão vertical da infecção. Além disso, os desfechos neonatais adversos, como prematuridade e complicações clínicas, refletem diretamente essas falhas ao longo da linha de cuidado materno-infantil.
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de ações integradas que envolvam educação em saúde, fortalecimento das políticas públicas e qualificação das equipes de atenção primária, com foco no rastreamento precoce, tratamento oportuno e seguimento adequado tanto da gestante quanto do recém-nascido. Assim, os resultados deste trabalho contribuem para ampliar a compreensão sobre a complexidade do problema e reforçam a urgência de estratégias preventivas que considerem, simultaneamente, os aspectos clínicos, sociais e estruturais envolvidos na sua prevenção.
REFERÊNCIAS
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