KINESIOTHERAPY APPLIED AS A RESOURCE FOR STRENGTHENING THE PELVIC FLOOR IN ELDERLY WOMEN: PREVENTION AND REHABILITATION IN URINARY INCONTINENCE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505232241
Ivan Silveira
Nathalia Sara Gomes Maximiano
Natasha Galeno Alcântara
Regiane Barbosa Gomide
Cesar Aparecido dos Santos Sousa
Profª. Laura de Moura Rodrigues
Prof. Fabrício Vieira Cavalcante
Profª. Rúbia Hiromi Guibo Guarizi
Resumo
A incontinência urinária (IU) é uma disfunção comum em mulheres idosas, com impactos significativos na qualidade de vida e funcionalidade. A cinesioterapia, como intervenção fisioterapêutica conservadora, tem sido estudada por sua eficácia no fortalecimento do assoalho pélvico e na reabilitação de casos de IU. Este artigo apresenta uma revisão sistemática da literatura, com base em ensaios clínicos randomizados e estudos relevantes publicados nos últimos dez anos. Foram selecionados cinco artigos através das bases Google Acadêmico, PubMed, SciELO, LILACS e PEDro. Os resultados indicam que a cinesioterapia é eficaz na redução da perda urinária, melhora a percepção corporal das pacientes e contribui significativamente para a qualidade de vida. Conclui-se que a cinesioterapia é uma opção terapêutica segura, acessível e eficiente, sendo recomendada como tratamento de primeira linha para mulheres idosas com IU.
Palavras-chave: Incontinência urinária. Cinesioterapia. Assoalho pélvico. Mulheres idosas. Fisioterapia.
Abstract
Urinary incontinence (UI) is a common dysfunction in elderly women, with significant impacts on quality of life and functionality. Kinesiotherapy, as a conservative physiotherapeutic intervention, has been studied for its effectiveness in strengthening the pelvic floor and rehabilitating cases of UI. This article presents a systematic literature review based on randomized clinical trials and relevant studies published over the past ten years. Five articles were selected through Google Scholar, PubMed, SciELO, Lilacs, and PEDro databases. The results indicate that kinesiotherapy is effective in reducing urinary leakage, improving patients’ body awareness, and significantly contributing to their quality of life. It is concluded that kinesiotherapy is a safe, accessible, and effective therapeutic option and is recommended as a first-line treatment for elderly women with UI.
Keywords: Urinary incontinence. Kinesiotherapy. Pelvic floor. Elderly women. Physical therapy.
1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno crescente em escala global. No Brasil, dados do Censo de 2022 indicam que cerca de 15% da população é composta por idosos, totalizando aproximadamente 32 milhões de pessoas (GALVÃO, 2023). Esse processo demográfico tem implicações diretas sobre o sistema de saúde, evidenciando o aumento de condições crônicas e disfunções fisiológicas associadas à idade avançada, entre elas a incontinência urinária (IU).
A IU é definida como a perda involuntária de urina pela uretra e ocorre com maior frequência em mulheres idosas devido às alterações fisiológicas do envelhecimento, como a diminuição da força da musculatura do assoalho pélvico, alterações hormonais e mudanças neurológicas e musculares (ALMEIDA, 2022). Estima-se que entre 26,2% e 35% das mulheres na pós-menopausa apresentam algum grau de IU (STASKIN, 2008; DZIEKANIAK, 2019; TAMANINI, 2009).
Apesar de sua alta prevalência, a IU frequentemente não é relatada pelas pacientes, seja por constrangimento ou pela falsa crença de que se trata de uma condição natural do envelhecimento (SHENOT, 2023). No entanto, seus impactos são profundos, afetando a autoestima, a vida social e a saúde física e emocional das mulheres.
A fisioterapia, por meio da cinesioterapia, tem se mostrado eficaz na prevenção e tratamento da IU em mulheres idosas. A cinesioterapia consiste em um conjunto de exercícios terapêuticos voltados ao fortalecimento da musculatura pélvica, sendo recomendada como primeira linha de tratamento conservador pela International Continence Society (PEREIRA, 2021).
Diante da relevância do tema e da necessidade de intervenções não invasivas e acessíveis, esta pesquisa tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura para identificar e analisar as evidências científicas disponíveis acerca da eficácia da cinesioterapia na prevenção e reabilitação da incontinência urinária em mulheres idosas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
A fundamentação teórica deste estudo baseia-se em evidências científicas que abordam a fisiopatologia da incontinência urinária (IU), sua prevalência em mulheres idosas e os benefícios da cinesioterapia como intervenção terapêutica. Segundo Norton et al. (2006), a IU pode acometer pessoas de todas as idades, mas sua prevalência é significativamente maior em mulheres acima dos 60 anos. Fatores como partos múltiplos, menopausa, obesidade e doenças crônicas aumentam a probabilidade de surgimento da condição.
Estudos como os de Silva et al. (2017) indicam que muitas mulheres desconhecem os recursos terapêuticos disponíveis para a IU, o que contribui para o agravamento do problema e para o isolamento social. O desconhecimento e o constrangimento impedem que a maioria procure ajuda profissional, perpetuando os impactos negativos na saúde física e emocional.
A cinesioterapia é uma prática fisioterapêutica que utiliza exercícios corporais para promover reabilitação, fortalecimento muscular e melhora da função motora. No contexto da IU, os exercícios são voltados principalmente para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico. De acordo com a International Continence Society, o Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP) deve ser a primeira linha de tratamento para mulheres com IU (PEREIRA, 2021).
Estudos como os de Oliveira et al. (2011) e Cavenaghi et al. (2020) demonstram a eficácia da cinesioterapia na redução da frequência e intensidade dos episódios de perda urinária. Além disso, evidenciam a melhora da qualidade de vida das pacientes tratadas, tanto no aspecto físico quanto psicológico.
Freitas et al. (2016) relatam que muitas mulheres não têm consciência da localização e função da musculatura do assoalho pélvico, o que reforça a necessidade de programas educativos associados à terapia. A atuação do fisioterapeuta, portanto, deve incluir não apenas a prescrição dos exercícios, mas também a orientação e o acompanhamento contínuo.
Em resumo, a literatura destaca a cinesioterapia como uma abordagem segura, de baixo custo e com elevada taxa de sucesso na prevenção e reabilitação da IU em mulheres idosas. Essa prática deve ser incorporada com maior frequência nos serviços de atenção primária à saúde, especialmente considerando o envelhecimento progressivo da população.
3 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, com abordagem qualitativa, cujo objetivo é reunir e analisar evidências científicas sobre a eficácia da cinesioterapia no tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas. A revisão foi conduzida com base em artigos publicados nos últimos dez anos, priorizando estudos clínicos randomizados e revisões com rigor metodológico.
As bases de dados utilizadas para a busca dos estudos foram: Google Acadêmico, PubMed, SciELO, Lilacs e PEDro. A busca foi realizada no mês de abril de 2025, utilizando os seguintes descritores: “Incontinência Urinária” OR “Urinary Incontinence” AND “Saúde do Idoso” OR “Health of the Elderly” AND “Serviços de Fisioterapia” OR “Physical Therapy Services”.
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados entre 2015 e 2025, disponíveis gratuitamente em português ou inglês, com texto completo acessível, que abordassem intervenções fisioterapêuticas por meio da cinesioterapia em mulheres com 60 anos ou mais. Foram excluídos artigos com foco em outras populações (homens ou mulheres abaixo de 60 anos), tratamentos com eletroestimulação, intervenções cirúrgicas ou farmacológicas, e artigos em outros idiomas.
A triagem e seleção dos artigos seguiram os critérios estabelecidos, e o processo resultou na inclusão de cinco artigos que atenderam aos requisitos. Esses estudos formaram a base da análise apresentada nas seções de resultados e discussão.
Tabela 1 – Estratégias de busca, critérios de inclusão e exclusão dos estudos.
Base de dados | Artigos encontrados | Critérios de exclusão | Artigos incluídos | Artigos excluídos |
LILACS | 121 | Estudos relacionados à reabilitação pós-parto; neoplasia de colo de útero; mulheres com idade inferior à 60 anos; idioma que não português e/ou inglês | 1 | 120 |
PEDro | 54 | Estudos relacionados à reabilitação pós-parto; incontinência urinária no homem; neoplasia de colo de útero; mulheres com idade inferior à 60 anos; reabilitação através de eletroestimulação. | 0 | 54 |
SciELO | 7 | Estudos relacionados a mulheres com idade inferior à 60 anos; relacionado à reabilitação que não a cinesioterapia. | 1 | 6 |
PubMed | 21 | Estudos relacionados à reabilitação pós-parto; incontinência neoplasia de colo de útero; reabilitação através de eletroestimulação. | 0 | 21 |
Google Acadêmico | 1211 | Estudos relacionados à reabilitação pós-parto; incontinência urinária no homem; neoplasia de colo de útero; mulheres com idade inferior à 60 anos; reabilitação através de eletroestimulação; sem aprofundamento relevante para o projeto. | 3 | 1208 |
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os estudos incluídos na presente revisão apontam evidências consistentes sobre a eficácia da cinesioterapia no tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas. Os cinco artigos analisados demonstraram melhora significativa na força do assoalho pélvico, redução na frequência de episódios de perda urinária e impacto positivo na qualidade de vida das participantes.
Cavenaghi et al. (2020) observaram que o fortalecimento da musculatura pélvica por meio de exercícios específicos resultou em melhora da continência urinária e do bem-estar geral. De forma semelhante, Oliveira et al. (2011) relataram que a adesão aos exercícios de cinesioterapia proporcionou benefícios tanto fisiológicos quanto emocionais nas pacientes idosas acompanhadas
Freitas et al. (2020) destacam que a falta de conhecimento sobre os exercícios perineais e a anatomia do assoalho pélvico representa uma barreira à adesão ao tratamento, o que reforça a importância de programas educativos paralelos à intervenção fisioterapêutica.
Lima et al. (2023) reforçam que a educação sobre a função do assoalho pélvico e o treinamento supervisionado aumentam a adesão ao tratamento e otimizam os resultados clínicos. Esses achados são corroborados por Henkes et al. (2016), que identificaram, em seu estudo, melhora significativa dos sintomas de IU e da autonomia das pacientes após intervenção com exercícios domiciliares supervisionados.
Além disso, os artigos de Silva et al. (2017; 2021) apontam que a IU, além de comprometer a função física, também interfere na vida social, emocional e sexual das mulheres. A reabilitação com cinesioterapia promove ganhos subjetivos relevantes, como o aumento da autoestima e a redução do constrangimento relacionado à condição
Os dados analisados evidenciam ainda uma lacuna na produção científica focada exclusivamente na cinesioterapia para idosas com IU, o que indica a necessidade de mais estudos primários sobre o tema. Apesar disso, os estudos disponíveis são suficientes para indicar a cinesioterapia como abordagem eficaz, segura e de baixo custo.
A Tabela 2 resume os elementos centrais e os principais resultados dos artigos selecionados para esta revisão.
Tabela 2. Elementos e resultados dos artigos eleitos para revisão bibliográfica
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente revisão de literatura evidenciou que a cinesioterapia é uma abordagem terapêutica eficaz, segura e acessível para a prevenção e reabilitação da incontinência urinária em mulheres idosas. Os estudos analisados demonstraram melhora significativa na força da musculatura do assoalho pélvico, redução dos episódios de perda urinária e impactos positivos na qualidade de vida das pacientes.
Além dos benefícios físicos, observou-se que o tratamento contribui para a melhora da autoestima, da consciência corporal e da reinserção social das mulheres afetadas pela IU. A atuação fisioterapêutica, aliada a ações educativas, potencializa os resultados clínicos e promove o empoderamento das pacientes no manejo de sua condição.
Conclui-se, portanto, que a cinesioterapia deve ser incorporada de forma mais ampla nos serviços de atenção primária à saúde, especialmente diante do aumento da população idosa no Brasil. Recomenda-se que novos estudos sejam realizados, com delineamentos metodológicos robustos, a fim de ampliar a base de evidências e fortalecer a adoção dessa prática na saúde pública.
REFERÊNCIAS
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