INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA PARA O CONTROLE DA DOR NO CUIDADO PALIATIVO EM PACIENTES COM CÂNCER DE PRÓSTATA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505230948


Érica de Sousa Barbosa
Fabiana Costa de Araújo
Geissy Lima de Melo
Juliana Pereira de Araújo Sousa
Sheila Cristina Silva Matos
Coautores:
Fabrício Vieira Cavalcante
Laura de Moura Rodrigues


RESUMO

Este estudo buscou analisar a produção científica recente sobre a atuação da fisioterapia nos cuidados paliativos de pacientes com câncer de próstata, a fim de identificar lacunas e possibilidades de ampliação dessa prática na perspectiva da integralidade do cuidado. Considerando o envelhecimento populacional e o aumento da incidência do câncer de próstata, especialmente em estágios avançados, torna-se essencial compreender o papel da fisioterapia no alívio da dor, na manutenção da funcionalidade e no suporte à qualidade de vida. O objetivo principal foi mapear e discutir evidências qualitativas e quantitativas disponíveis sobre o tema, com foco na inserção do fisioterapeuta em equipes de cuidados paliativos oncológicos. A metodologia utilizada foi a análise integrativa de seis estudos localizados em bases como PubMed e CAPES, publicados entre 2010 e 2024, incluindo artigos qualitativos, quantitativos e relatórios técnicos. Foram examinados estudos que abordam espiritualidade em idosos com câncer, percepção de profissionais e familiares sobre o cuidado em câncer de próstata, sentido do trabalho na oncologia, intervenções fisioterapêuticas em idosos com demência, uso de medicamentos no câncer de próstata e organização dos cuidados paliativos na atenção básica. Os resultados demonstraram a escassez de pesquisas específicas que integrem fisioterapia, câncer de próstata e cuidados paliativos, reforçando a invisibilidade do fisioterapeuta nesse campo. Conclui-se que é urgente ampliar a pesquisa e formação profissional voltadas à atuação fisioterapêutica nesse contexto.

Palavras-chave: Cuidados paliativos; Câncer de próstata; Intervenção Fisioterapêutica.

ABSTRACT

This study aimed to analyze recent scientific literature on the role of physiotherapy in palliative care for patients with prostate cancer, in order to identify gaps and opportunities to expand this practice within a comprehensive care perspective. Considering population aging and the increasing incidence of prostate cancer, especially in advanced stages, it is essential to understand the role of physiotherapy in pain relief, functionality maintenance, and quality-of-life support. The main objective was to map and discuss available qualitative and quantitative evidence on the topic, focusing on the inclusion of physiotherapists in oncology palliative care teams. The methodology used was an integrative analysis of six studies found in databases such as PubMed, CAPES, and Scielo, published between 2010 and 2024, including qualitative, quantitative, and technical report studies. The reviewed studies addressed themes such as spirituality in elderly cancer patients, the perception of professionals and families regarding prostate cancer care, the meaning of work in oncology, physiotherapy interventions in elderly people with dementia, use of medication in prostate cancer, and the organization of palliative care in primary healthcare. Results revealed a scarcity of specific research integrating physiotherapy, prostate cancer, and palliative care, highlighting the invisibility of physiotherapists in this field. It is concluded that research and professional training in this area must be strengthened to ensure comprehensive and humanized care.

Keywords: Palliative care; Prostate cancer; Physiotherapeutic intervention.

1.  INTRODUÇÃO  

O papel da fisioterapia em cuidados paliativos revela-se essencial para a promoção da qualidade de vida de pacientes acometidos por doenças avançadas ou em progressão, especialmente no contexto oncológico. Por meio de intervenções que visam à reabilitação funcional e ao suporte aos cuidadores, a fisioterapia contribui significativamente para a redução do sofrimento, diante do agravamento clínico frequente desses pacientes (Pessini, 2004). Em especial, no tratamento de pacientes com câncer de próstata, destaca-se o papel preventivo do fisioterapeuta, que deve ser capacitado para identificar e intervir precocemente em complicações potenciais, a fim de mitigar impactos negativos e otimizar a qualidade de vida (Marcucci, 2005).

Conforme elucidado pelo autor, a fisioterapia integra os cuidados paliativos por meio do alívio de sintomas e da melhora na funcionalidade do paciente.  Entre as principais indicações estão: terapias de manejo da dor, intervenções em sintomas psicofísicos, tratamento de complicações osteomioarticulares, reabilitação de linfedemas, combate à fadiga, melhoria da função pulmonar, reabilitação de déficits neurológicos e tratamento de úlceras de pressão. Tais ações visam não somente a dimensão física, mas também os aspectos psicossociais e espirituais do paciente.  A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os Cuidados Paliativos como abordagens voltadas à melhoria da qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam doenças terminais, mediante a prevenção e o alívio do sofrimento. Essas medidas incluem a identificação precoce e a intervenção eficaz em dor e problemas físicos, psicossociais e espirituais. Esse suporte é particularmente essencial para pacientes oncológicos, nos quais a dor e outros sintomas severos demandam intervenções complexas e multifacetadas.

Para pacientes com câncer de próstata, os Cuidados Paliativos devem considerar não apenas o controle da dor física, mas também os impactos psicológicos, sociais, culturais e espirituais, dimensões igualmente afetadas pela doença avançada. Nesse contexto, é crucial que o fisioterapeuta, junto ao paciente, discuta e reflita sobre as definições de vida e morte, reconhecendo a possibilidade (ou não) de cura (McCoughlan, 2003). Essa relação de confiança pode estreitar laços e beneficiar ambos os lados, possibilitando um atendimento fisioterapêutico que abranja todas as fases da doença (Costa et al., 2007). No processo de intervenções cirúrgicas e longos períodos de internação, deve-se reforçar o tratamento das complicações respiratórias, motoras e circulatórias (Cipolat; Pereira; Ferreira, 2011).

De acordo com um relatório recente da The Lancet Commission (CNN, 2024), o número de novos casos de câncer de próstata deverá dobrar até o ano de 2040, saltando de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões. Esse crescimento será mais expressivo em países de baixa e média renda, onde os recursos para diagnóstico e tratamento são mais limitados. Entre os fatores que justificam esse aumento estão o envelhecimento populacional e mudanças nos hábitos de vida, como má alimentação, sedentarismo e tabagismo.

 Nesse contexto, a atuação fisioterapêutica em cuidados paliativos adquire papel central, uma vez que se concentra em oferecer alívio da dor, redução do sofrimento físico e emocional e melhora da mobilidade e do bem-estar geral do paciente. O trabalho do fisioterapeuta ultrapassa os limites da reabilitação convencional, sendo parte integrante de uma equipe multiprofissional que visa à excelência no controle dos sintomas e na prevenção do sofrimento humano. A prática dos cuidados paliativos pressupõe planejamento interdisciplinar, com participação ativa da família e utilização de recursos comunitários (Ferreira, 1936).

Considerando esse panorama, é essencial que os profissionais e futuros profissionais de fisioterapia se aprofundem no conhecimento sobre Cuidados Paliativos, especialmente no que diz respeito ao atendimento a idosos em tratamento para câncer de próstata. Essa formação contínua visa aprimorar a qualificação dos profissionais, permitindo que os pacientes experimentem uma melhora significativa na qualidade de vida por meio da mitigação de complicações e do alívio da dor.

 A escolha do tema “Intervenção fisioterapêutica para o controle da dor no cuidado paliativo em pacientes com câncer de próstata” justifica-se diante da previsão alarmante de aumento da incidência da doença, conforme relatado pela The Lancet Commission (CNN, 2024), demandando a elaboração de estratégias de acolhimento e tratamento, especialmente em contextos de vulnerabilidade social. 

 O câncer é amplamente reconhecido como um problema de saúde pública global (World Health Organization, 2002), e a maioria dos diagnósticos ocorre em estágio avançado, potencializando o sofrimento físico, espiritual e psicossocial do paciente e de seus familiares (Hortale; Silva, 2006).

 Nesse sentido, esse estudo buscou analisar a produção científica recente sobre a atuação da fisioterapia nos cuidados paliativos de pacientes com câncer de próstata, a fim de identificar lacunas e possibilidades de ampliação dessa prática na perspectiva da integralidade do cuidado. O objetivo principal foi mapear e discutir evidências qualiquantitativas sobre o tema, com foco na inserção do fisioterapeuta em equipes de cuidados paliativos oncológicos, visando melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

2.  METODOLOGIA

2.1  Abordagem e Procedimentos Metodológicos

 A presente pesquisa adotou uma abordagem quantiqualitativa, fundamentada em revisão bibliográfica e literária, visando analisar intervenções fisioterapêuticas no controle da dor em cuidados paliativos voltados a pacientes com câncer de próstata. Para garantir uma compreensão abrangente do tema, a coleta de dados abrangeu tanto evidências quantitativas quanto qualitativas, permitindo uma análise integrada e interpretativa sobre os impactos das práticas fisioterapêuticas na redução da dor nesse grupo específico de pacientes.

 A busca por estudos foi realizada nas bases de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e PubMed -MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), reconhecidas por sua relevância e abrangência na disseminação de produções científicas nas áreas da saúde e ciências biomédicas. Inicialmente, o recorte temporal foi estabelecido entre os anos de 2020 a 2024, com o intuito de priorizar pesquisas mais recentes e alinhadas com as práticas clínicas e diretrizes atuais. Contudo, a escassez de resultados diretamente relacionados ao objeto deste estudo levou à ampliação do período de busca de 2014 a 2024, com vistas a contemplar uma gama mais ampla de evidências científicas acumuladas ao longo da última década.

 Foram considerados estudos publicados nos idiomas português e inglês, com o propósito de assegurar maior diversidade de abordagens teóricas e metodológicas, além de contemplar diferentes contextos e experiências internacionais. Como estratégia de busca, foram utilizados descritos e termos combinados como: “intervenção fisioterapêutica”, “cuidados paliativos” e “câncer de próstata”. Ainda que essa combinação tenha gerado um número significativo de ocorrências, observou-se que alguns estudos não abordam de forma direta ou aprofundada a interface entre os três eixos temáticos centrais da pesquisa, exigindo, assim, a leitura criteriosa de resumos e, quando necessário, de textos completos para fins de triagem e seleção.

 O processo de filtragem utilizou critérios de inclusão, como artigos originais, dissertações e teses acadêmicas, revisões sistemáticas e estudos clínicos relacionados às práticas fisioterapêuticas, cuidados paliativos e alívio da dor de pacientes oncológicos, especialmente idoso com câncer de próstata

 Esse rigor metodológico na etapa de busca foi essencial para garantir a relevância, a atualidade e a confiabilidade dos dados analisados, permitindo à pesquisa alcançar um panorama consistente das contribuições da fisioterapia no alívio da dor em cuidados paliativos oncológicos.

Tabela 1 – Resultados encontrados no Portal de Periódicos da CAPES  

Fonte: Autoria Própria (2025)

Na busca por palavras-chave combinadas: a) intervenção fisioterapêutica, b) cuidados paliativos e, c) câncer de próstata, foco desse estudo, surgiram duzentos e dezessete (346) resultados. Todavia, foram consideradas apenas duas (2) ocorrências relacionadas ao tema pesquisado, sendo duas (2) dissertações de mestrado. Uma do ano de 2021, intitulada “Espiritualidade nos cuidados paliativos de pacientes oncológicos”, que analisou como a espiritualidade pode influenciar positivamente no tratamento oncológico e em cuidados paliativos. O outro, de 2022, “Percepção de Médicos, Famílias e comunidade sobre a linha de cuidado de homens com suspeita de câncer de próstata”, seguindo a linha da análise subjetiva. Embora não diretamente relacionado ao objeto dessa pesquisa, esses estudos trazem uma perspectiva multidisciplinar do paciente oncológico e dos cuidados paliativos, importante para avaliação, principalmente qualitativa desta pesquisa.

Tabela 2 – Resultados encontrados no Portal MedlLine/PubMed

Fonte: Autoria Própria (2025)

Na plataforma PubMED, buscando as mesmas combinações de palavras, encontramos vinte e seis (26) ocorrências. Contudo, somente quatro (4) relacionados aos termos da pesquisa. 

Na busca por “cuidados paliativos”, identificamos (7) ocorrências, mas consideramos apenas (2) por tratar de pacientes oncológicos. Em “intervenção fisioterapêutica”, foram achados duas (2), mas somente uma (1) foi considerada, por tratar de pacientes idosos. Na busca por “câncer de próstata” aparecem dezessete (17) resultados, no entanto, somente um tratava de pacientes oncológicos, conforme apresentado nas tabelas 2:

Ao analisar ambos principais resultados sobre cuidados paliativos: “Meaning of life as perceived by nurses at work in oncology palliative care: a phenomenological study”, constatamos que o artigo trata de uma importante discussão acerca do sentido da vida, como reflexão de enfermeiros que atuam em cuidados paliativos em pacientes oncológicos. Na publicação “Cuidados paliativos: percurso na atenção básica no Brasil”, identificamos não haver relação com intervenção fisioterapêutica, mas traz uma reflexão importante sobre cuidados paliativos e alívio da dor na atenção básica, sendo considerado nesta pesquisa.

Para a busca do termo Intervenção fisioterapêutica: filtramos as publicações dos últimos cinco (5) anos, não apareceu nenhum resultado, então aumentamos para os últimos dez (10). Desse modo, apareceram dois (2) resultados na pesquisa. Desses resultados, excluímos um (1) artigo que tratava das intervenções fisioterapêuticas, mas era em paciente com pênfigo. O outro foi considerado, por tratar de intervenção fisioterapêutica em pacientes idosos, intitulado “Efetividade de uma intervenção fisioterapêutica cognitivo-motora em idosos institucionalizados com comprometimento cognitivo leve e demência leve”.

Na pesquisa por câncer de próstata: encontramos dezessete (17) resultados, excluímos dezesseis (16), por não ter relação à temática pesquisada e consideramos apenas um: “Indication: For the treatment of adult patients with advanced prostate cancer”, por tratar de cuidados para pacientes de câncer de próstata.

Em suma, não foi encontrado nenhum estudo relacionado diretamente ao objeto desta pesquisa. Todavia, consideramos seis importantes eixos-chaves: 1-cuidados paliativos, 2- paciente idosos, 3-fisioterapia, 4-câncer e 5-câncer de próstata e 6-alívio da dor. Portanto, dos estudos selecionados para essa pesquisa, consideramos aqueles com combinação de pelo menos dois desses seis eixos temáticos.

3.  RESULTADOS E DISCUSSÃO

 Dos seis estudos analisados, constatamos que, direta ou indiretamente, eles dialogam com o campo da fisioterapia nos cuidados paliativos, especialmente em contextos oncológicos, geriátricos e de alívio da dor. Do total de artigos, quatro utilizaram abordagem qualitativa (Marques e Pucci, 2021; Rocha et al., 2021; Soares et al., 2022; Rodrigues, et al., 2022). Nesses estudos, os autores apontam a compreensão subjetiva dos participantes sobre sofrimento, alívio da dor, sentido da vida e espiritualidade.

Dos estudos qualitativos, Marques e Pucci (2021), apontam a espiritualidade como papel fundamental no cuidado de pacientes com câncer, especialmente em cuidados paliativos, auxiliando no enfrentamento da doença e na ressignificação da vida diante da finitude. Esse cuidado é particularmente relevante para idosos com câncer de próstata, que vivenciam intensas dores físicas e emocionais. A espiritualidade contribui para o alívio da dor e para a qualidade de vida, promovendo bem-estar e sentido existencial nos últimos dias. A atuação da equipe multidisciplinar, incluindo a fisioterapia, é essencial nesse processo, pois ela contribui para a funcionalidade, conforto e acolhimento integral do paciente. 

Rocha et al. (2021), investigou como os enfermeiros atribuem significado à vida no contexto dos cuidados paliativos oncológicos. Realizado com 34 enfermeiros, o estudo utilizou uma abordagem vivencial. Os resultados revelaram que, ao cuidar de pacientes com câncer em fase terminal, os enfermeiros vivenciam um processo de autotranscedência, no qual o trabalho deixa de ser somente uma tarefa técnica e se transforma em uma experiência existencial significativa. Esse cuidado é percebido como solidário, relacional e dinâmico, permitindo que os profissionais construam sua identidade e encontrem sentido na assistência prestada. A pesquisa destaca a importância de uma abordagem integral que considera não apenas os aspectos físicos da doença, mas também os emocionais, sociais e espirituais, promovendo o alívio do sofrimento e a qualidade de vida dos pacientes. Fisioterapeutas e demais especialistas são fundamentais para atender às necessidades complexas dos pacientes, especialmente os idosos com câncer de próstata, que frequentemente enfrentam desafios específicos relacionados à dor e à mobilidade e à finitude.

Soares et al. (2022), examinaram a percepção de médicos, familiares e comunidade sobre a linha de cuidado ao homem com suspeita de câncer de próstata, evidenciando desafios na adesão ao cuidado integral e cuidados paliativos e à articulação entre atenção primária e especializada. Tais resultados apontam para a efetividade da fisioterapia mesmo em contextos de fragilidade clínica, sugerindo que pacientes com câncer de próstata em fase avançada também podem se beneficiar de estratégias similares, adaptadas à realidade paliativa.

Rodrigues et al. (2022) analisaram dados secundários, relatórios oficiais e literaturas sobre a atenção básica em cuidados paliativos no Brasil, sem avaliação direta de pacientes ou profissionais. A pesquisa focou na identificação de barreiras estruturais, formação profissional insuficiente e a integração limitada do cuidado paliativo na rede de saúde. Utilizou revisão bibliográfica e documental para mapear o cenário atual. Os resultados destacaram a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e capacitação para melhorar a qualidade do atendimento paliativo na atenção básica. Evidenciou a inexistência de protocolos bem definidos e a baixa inserção de fisioterapeutas nas equipes da Estratégia Saúde da Família. O cuidado paliativo, quando presente, é realizado de forma fragmentada e desarticulada da Rede de Atenção à Saúde, comprometendo a integralidade do cuidado. Concluem apontando que os cuidados paliativos, constituem a primeira linha de resposta para estes problemas. Todavia, eles trazem o desafio de implementar a política de cuidados paliativos em nosso país.

Dos estudos quantitativos: Menezes et al. (2016) avaliaram a efetividade de uma intervenção fisioterapêutica cognitivo-motora em 15 idosos com comprometimento cognitivo leve e demência leve, institucionalizados, distribuídos entre grupo experimental e grupo de controle. Eles apresentaram melhora em aspectos funcionais e cognitivos. Embora não trate diretamente de câncer de próstata, o estudo contribui para o debate sobre estratégias de intervenção em idosos com limitações clínicas.  Esses achados sugerem que, embora a intervenção tenha sido eficaz para aprimorar a mobilidade, o curto período de aplicação e a baixa frequência das sessões podem ter limitado os efeitos sobre a cognição e a funcionalidade geral dos idosos.

O outro resultado quantitativo, trata-se de uma revisão sistemática, publicada por Toohey et al. (2023), cujo objeto foi avaliar os efeitos de programas de exercícios físicos implementados durante a fase de cuidados paliativos em pacientes com câncer avançado, incluindo o câncer de próstata. O estudo analisou 22 ensaios clínicos randomizados abrangendo um total de 1.421 participantes com câncer avançado. Os resultados indicaram que essas intervenções são seguras, viáveis e eficazes no contexto paliativo, promovendo alívio da dor, melhora da qualidade de vida, redução da fadiga e aumento da força muscular, sem aumento significativo de eventos adversos. Tais achados reforçam a contribuição positiva das intervenções fisioterapêuticas no manejo da dor e bem-estar de pacientes oncológicos em cuidados paliativos, especialmente nos casos de câncer de próstata. 

A triangulação entre os dados qualitativos e quantitativos permite inferir que, embora exista evidência de que a fisioterapia pode contribuir significativamente com o bem-estar funcional e emocional de pacientes em cuidados paliativos, especialmente idosos e oncológicos, a prática profissional ainda se encontra à margem dessa modalidade assistencial, sobretudo no cuidado de pacientes com câncer de próstata.  

Além disso, mesmo nos estudos que apontam para ganhos funcionais e melhoria na qualidade de vida com a fisioterapia e cuidados paliativos, algumas evidências não são direcionadas especificamente ao câncer, e muito menos ao câncer de próstata, reiterando a invisibilidade do tema. Essa constatação exige ações concretas no campo da pesquisa, da formação e da prática profissional, para a fisioterapia ser reconhecida como parte essencial da equipe multiprofissional de cuidados paliativos.

 A partir dos achados da busca, tanto na base de dados do CAPES, quanto do PubMed, três temáticas surgiram, destacando três principais resultados: (1) Percepção dos profissionais de saúde: evidencia como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas compreendem o cuidado paliativo e o câncer de próstata em sua atuação profissional; (2) Ausência de evidências sobre a prática fisioterapêutica: destaca a escassez de estudos que detalham intervenções fisioterapêuticas no contexto de cuidados paliativos voltados ao câncer de próstata; e (3) Lacunas na literatura sobre cuidados paliativos específicos para câncer de próstata: reflete a necessidade de mais investigações científicas que articulem a fisioterapia ao cuidado paliativo direcionado a essa população. 

Tabela 3 – Artigos selecionados para análise dos resultados e discussão.

Fonte: Autoria própria (2025)

Esta análise identificou um consenso entre os estudos sobre a importância de adotar práticas integradas e mais humanas, que vão além do modelo médico tradicional focado somente na doença. A espiritualidade, o acolhimento emocional, a escuta ativa e o fortalecimento das redes de cuidado são apontados como elementos essenciais. Ao mesmo tempo, a ciência aplicada demonstra que mesmo intervenções simples, como exercícios físicos adaptados, podem gerar impactos significativos em termos de bem-estar e funcionalidade, reforçando a importância da atuação interdisciplinar nos cuidados paliativos. 

Embora evidências quantitativas apontem para a eficácia de intervenções fisioterapêuticas em populações frágeis e qualitativas revelam a importância do cuidado humanizado e interdisciplinar, os dados disponíveis ainda são escassos, fragmentados e pouco específicos.

Com base nos resultados e na discussão apresentada, é possível concluir que a atuação da fisioterapia nos cuidados paliativos, especialmente em pacientes com câncer de próstata, ainda é pouco explorada na literatura científica. Embora os estudos analisados, apontem para a importância de uma abordagem integral que envolva aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais, a presença efetiva da fisioterapia nesse campo permanece limitada, tanto, na prática, profissional, quanto nas políticas públicas e protocolos clínicos.

A análise qualitativa dos artigos revelou a importância da espiritualidade, do sentido da vida e da humanização do cuidado no contexto dos cuidados paliativos, sobretudo no enfrentamento da dor e da finitude, vivenciada intensamente por idosos com câncer de próstata. Nesses contextos, a equipe multidisciplinar, com destaque para a enfermagem e os profissionais de saúde da atenção primária, tem papel central. No entanto, a fisioterapia ainda é pouco mencionada, mesmo podendo contribuir significativamente para o alívio da dor, a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes.

Por outro lado, os estudos quantitativos evidenciam que as intervenções fisioterapêuticas, especialmente os programas de exercícios físicos e abordagens cognitivo-motoras, são seguras, viáveis e eficazes, inclusive em estágios avançados da doença. Tais evidências, no entanto, não são específicas para o câncer de próstata, reforçando a invisibilidade dessa temática e a necessidade urgente de estudos focados nessa população.

4.  CONCLUSÃO

A análise dos estudos qualitativos e quantitativos, revisados neste trabalho, evidencia a complexidade do cuidado em saúde no contexto dos cuidados paliativos, sobretudo quando se trata de pacientes oncológicos e idosos. Enquanto os estudos qualitativos sublinham a importância de um cuidado holístico, que considera não somente a dor física, mas também os aspectos emocionais, espirituais e sociais, os estudos quantitativos trazem evidências concretas da eficácia de intervenções fisioterapêuticas e exercícios físicos na melhora da qualidade de vida desses pacientes.

A triangulação dos dados revela uma lacuna importante na integração entre fisioterapia, cuidados paliativos e câncer de próstata. Essa ausência evidencia a necessidade de fortalecimento da formação profissional, de políticas públicas inclusivas e de protocolos clínicos que reconheçam a fisioterapia como parte essencial da equipe multiprofissional. O reconhecimento e a valorização dessa prática, especialmente em contextos de vulnerabilidade clínica e emocional, como o dos cuidados paliativos oncológicos, são fundamentais para garantir a integralidade e a dignidade no cuidado aos pacientes.

Apesar da relevância dos estudos analisados, grande parte das pesquisas contou com amostras pequenas, limitando a generalização dos resultados. Por isso, é fundamental a realização de novos estudos na área, com populações mais amplas e critérios mais específicos. Além disso, investigações com acompanhamento a longo prazo podem oferecer uma compreensão mais profunda e consistente sobre os efeitos das intervenções e práticas adotadas.

Dessa forma, é imprescindível fomentar pesquisas aplicadas, ampliar o debate sobre a inserção da fisioterapia nos cuidados paliativos e promover estratégias formativas e institucionais que assegurem a atuação efetiva desses profissionais, em especial junto à população idosa e oncológica. Trata-se de um caminho necessário para consolidar práticas mais humanizadas, integradas e resolutivas no enfrentamento dos desafios impostos pelo câncer de próstata em fase terminal.

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