REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505201222
Felícia Cadenas de Paiva Bueno¹
Carlos Eduardo Miranda²
Dayana Aparecida Miranda Farinha²
Rodrigo Martins¹
Michele Matias²
RESUMO
O estudo teve como objetivo investigar a influência do plasma não térmico de pressão atmosférica (CAP), utilizando a tecnologia plasma frio, na melhoria da hidrofilicidade da pele. A capacidade de retenção hídrica cutânea é um fator determinante para a integridade da barreira epidérmica e para a saúde estética da pele. O estudo foi conduzido com análise microscópica e termográfica em ambiente controlado, avaliando as alterações estruturais e térmicas da pele após a aplicação do plasma. Os resultados indicaram aumento da hidrofilicidade nas áreas tratadas, evidenciado por maior definição das cristas e sulcos epidérmicos, além de melhora na vitalidade e brilho da pele observados na análise microscópica. A avaliação termográfica demonstrou manutenção da estabilidade térmica durante e após a aplicação, sem elevação significativa da temperatura cutânea, com temperatura média reduzida de 27,93°C para 24,73°C (p = 0,0458). Esses achados sugerem que o plasma frio é uma tecnologia segura e eficaz para a promoção da hidratação cutânea e fortalecimento da função barreira, especialmente indicada para pacientes com fototipos elevados, sensibilidade cutânea e melasma. Conclui-se que o uso do plasma não térmico contribui de forma relevante para a restauração da hidrofilicidade da pele, com potencial aplicação em protocolos dermatológicos e estéticos voltados à melhora da hidratação e da integridade cutânea, sem risco de danos térmicos.
Palavras-chave: Plasma não térmico, hidrofilicidade cutânea, Mjolnir Pro®, estabilidade térmica, hidratação da pele, barreira epidérmica, tratamentos dermatológicos.
INTRODUÇÃO:
O plasma, conhecido como o quarto estado da matéria, tem se destacado por suas aplicações inovadoras na medicina, especialmente na dermatologia. Este estado da matéria é composto por uma coleção de partículas carregadas que, sob certas condições, podem interagir com tecidos biológicos de maneiras que promovem a cura e a regeneração. Recentemente, os avanços na tecnologia de plasma não térmico de pressão atmosférica (CAP) permitiram sua utilização em procedimentos médicos de forma segura e eficaz.
O conceito de plasma foi introduzido pela primeira vez em 1928 por Irving Langmuir, e desde então, seu uso tem sido amplamente explorado em diversos campos, incluindo a medicina. No contexto dermatológico, o plasma começou a ser estudado intensivamente a partir dos anos 2000, quando os pesquisadores descobriram seu potencial para promover a cicatrização de feridas e a regeneração celular sem causar danos térmicos aos tecidos circundantes (LEE et al., 2021).
Plasmas não térmicos operam a temperaturas abaixo de 40°C, tornando-os ideais para uso médico. Eles são gerados a partir de gases como o argônio, utilizando dispositivos especializados que criam um campo eletromagnético para ionizar o gás. Este processo resulta na formação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ROS e RNS), que são altamente eficazes na modulação de processos celulares (LEE et al., 2021).
A pele humana é um órgão complexo, composto por três camadas principais: a epiderme, a derme e a hipoderme. Cada uma dessas camadas desempenha funções específicas e interdependentes que são vitais para a saúde e a proteção do corpo.
A epiderme, a camada mais externa, é composta principalmente por queratinócitos e atua como uma barreira física contra agentes externos. A derme, localizada logo abaixo da epiderme, é rica em fibras de colágeno e elastina, que conferem resistência e elasticidade à pele. A hipoderme, ou tecido subcutâneo, é composta principalmente por tecido adiposo, que ajuda a isolar o corpo e absorver impactos (LEE et al., 2021).
O colágeno é a principal proteína estrutural da derme e desempenha um papel crucial na manutenção da integridade e da firmeza da pele. Ele é sintetizado por células chamadas fibroblastos, que produzem fibras de colágeno a partir de precursores como a pro-colágena. Estas fibras se organizam em uma matriz densa e coesa que proporciona suporte mecânico e resiliência à pele. Além disso, o colágeno também é fundamental para a cicatrização de feridas, pois facilita a migração e a proliferação celular necessárias para a regeneração tecidual (MEDI, 2021).
Com o envelhecimento, a produção de colágeno pelos fibroblastos diminui significativamente, resultando em uma pele mais fina, menos elástica e mais propensa a rugas e flacidez. Fatores extrínsecos, como a exposição excessiva ao sol (fotoenvelhecimento), poluição e hábitos de vida não saudáveis, como fumar, podem acelerar ainda mais a degradação do colágeno.
Além disso, a glicação, um processo no qual moléculas de açúcar se ligam às fibras de colágeno, pode tornar a pele rígida e menos funcional, contribuindo para a perda de elasticidade e a formação de rugas (LEE et al., 2021).
A capacidade da pele de reter água, também conhecida como hidrofilicidade, é diretamente influenciada pela integridade da matriz de colágeno. Uma matriz colagênica saudável e funcional cria um ambiente que favorece a hidratação adequada da pele, pois as fibras de colágeno são capazes de atrair e reter moléculas de água. Quando a produção de colágeno é comprometida, a pele perde sua capacidade de reter umidade, tornando-se seca e mais suscetível a danos. Assim, a promoção da síntese de colágeno é um objetivo central em muitos tratamentos dermatológicos que visam melhorar a aparência e a saúde da pele (MEDI, 2021).
A hidrofilicidade da pele, ou a sua capacidade de absorver e reter água, é um aspecto crucial para a manutenção da saúde cutânea. Uma pele hidratada não apenas possui melhor elasticidade e resistência, mas também é mais eficiente em suas funções de barreira, protegendo contra agentes externos como patógenos e poluentes. A matriz de colágeno na derme desempenha um papel fundamental na manutenção dessa propriedade, pois as fibras de colágeno possuem uma alta capacidade de atrair e reter moléculas de água. Quando a produção de colágeno é adequada, a pele mantém sua capacidade de reter umidade, resultando em uma aparência mais jovem e saudável (LEE et al., 2021). No entanto, com o envelhecimento e a exposição a fatores ambientais adversos, a síntese de colágeno diminui, comprometendo a hidrofilicidade da pele. Este declínio na capacidade de reter água leva à secura, rugas e perda de elasticidade. Além disso, a glicação das fibras de colágeno pode reduzir ainda mais a eficiência da matriz colagênica em reter água. Portanto, a promoção da produção de colágeno e a manutenção de uma matriz de colágeno funcional são objetivos centrais em tratamentos dermatológicos avançados.
Teorias que utilizam plasma fracionado frio, têm se mostrado promissoras em restaurar a hidrofilicidade da pele, melhorando significativamente a capacidade da pele de reter umidade e, consequentemente, sua saúde e aparência (MEDI, 2021).
Materiais e métodos
O estudo foi desenhado e conduzido de acordo com a Declaração de Helsinki e os princípios de Boas Práticas Clínicas (GCP). Todos os sujeitos foram completamente informados sobre o procedimento e seus efeitos colaterais, e o consentimento informado por escrito para participar do estudo foi obtido dos sujeitos na linha de base. Este é um estudo piloto no qual utilizou-se a tecnologia (Mjolnir Pro®) de plasma fracionado frio que tem indicações de tratar diversas condições dermatológicas, com um foco particular neste estudo foi analisar a melhoria da hidrofilicidade da pele. Este dispositivo é aprovado para uso comercial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (ANVISA) e pelo Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO) para segurança.
Para este estudo, foi realizada uma análise microscópica e termográfica em um ambiente controlado com temperatura mantida a 21°C ± 2°C e umidade relativa de 60 ± 5%. A aplicação foi conduzida como um estudo de caso em um único paciente, com foco no dorso da mão esquerda.
A câmera termográfica utilizada foi integrada a um smartphone Doogee modelo V31GT, com faixa de medição -15℃ a +150℃ ±2°C software App Infiray posicionada a 15 cm da área tratada em um tripé. O paciente foi posicionado na maca aguardando 15 minutos para acomodação climática da pele.
A análise microscópica foi realizada de forma digital com modelo MP-800 portátil, com resolução de 2m pixels / 1920x1080p e ampliação: 50x posicionado diretamente na pele do paciente com afastador padrão da lente de 1,5cm. o sistema operacional para armazenamento das imagens foi android versão 13 e as imagens foram diretamente disponibilizadas por google drive para que não perdesse a qualidade.
Primeiramente o tratamento com plasma frio foi realizado com os seguintes parâmetros: Nível de Energia: 3, Frequência: 5 Hz, Contador: 1000, Passada: lenta. Após a aplicação do plasma foram realizadas análises termográficas, imediatamente após aferir a temperatura foi realizada a hidratação do tecido com 1g de creme da marca Cetaphil em ambos os lados do dorso da mão, tanto na área tratada quanto na área não tratada. Após a aplicação do creme, foi aguardado um período de repouso de 40 minutos para realizar análises microscópicas para avaliar as mudanças na estrutura e hidrofilicidade da pele.
Resultados
Os resultados deste estudo de caso demonstraram uma melhoria na hidrofilicidade da pele após o tratamento com o plasma fracionado e frio. A análise microscópica e termográfica revelou mudanças importantes na estrutura e na capacidade de retenção de umidade da pele tratada em comparação com a área não tratada.
Análise Microscópica
A análise microscópica revelou um aumento na capacidade de retenção de água pelo estrato córneo, um parâmetro crucial na regulação da hidratação cutânea. Observou-se uma maior vitalidade e brilho na pele, com cristas e vales epidérmicos apresentando bordas mais definidas sendo um grande marcador de saúde da pele. As imagens abaixo ilustram essas diferenças:
Figura 1: Estrutura da pele na área não tratada com plasma.
Figura 2: Estrutura da pele na área tratada apenas com plasma.
Figura 3: Estrutura da pele na área tratada com plasma e creme pós 40 min.
Figura 4: Estrutura da pele na área não tratada com plasma e aplicado creme pós 40 min.
Análise Termográfica
A análise termográfica não demonstrou um aumento significativo na retenção de calor na área tratada, indicando que o uso do plasma frio pode ser altamente benéfico para fototipos elevados, pacientes com sensibilidade cutânea e indivíduos com melasma. A temperatura da área tratada permaneceu comparável à da área não tratada, sugerindo a segurança e eficácia do plasma frio em manter a estabilidade térmica durante o tratamento. Os gráficos a seguir apresentam esses resultados:
Gráfico 1: Comparativo térmico entre pré e pós procedimento de plasma.
Dados Quantitativos
A análise quantitativa das temperaturas cutâneas antes e depois do procedimento com plasma frio revelou resultados significativos. As medições pré-procedimento apresentaram uma média de 27,93°C com um desvio padrão de 6,82°C, enquanto as medições pós-procedimento mostraram uma média de 24,73°C com um desvio padrão de 7,13°C. A realização de um teste t para amostras pareadas indicou uma diferença estatisticamente significativa entre as duas condições, com uma estatística t de 4,51 e um valor p de 0,0458. Este valor p, sendo menor que 0,05, confirma que a diferença observada não é devido ao acaso.
Além disso, a análise termográfica demonstrou que não houve aumento significativo na retenção de calor na área tratada. A temperatura média da área tratada permaneceu em 16,5°C, enquanto a área não tratada apresentou uma média de 20,2°C. Esses resultados quantitativos reforçam a eficácia e a segurança do uso do plasma frio em tratamentos dermatológicos e estéticos conforme ilustrados abaixo:
Figura 3: Temperatura da pele antes do tratamento.
Figura 4: Temperatura da pele após o tratamento com plasma.
Discussão
Os resultados deste estudo de caso destacam o potencial do plasma fracionado frio como uma abordagem eficaz para melhorar a hidrofilicidade da pele sem causar aumentos significativos na temperatura da área tratada. A análise microscópica demonstrou um aumento notável na capacidade de retenção de água pelo estrato córneo, evidenciado por uma maior vitalidade e brilho na pele, com cristas e vales epidérmicos apresentando bordas mais definidas. Essas mudanças estruturais indicam uma melhoria na saúde e na função da barreira cutânea, o que é crucial para a manutenção da hidratação e proteção contra agentes externos.
A análise termográfica complementou esses achados ao mostrar que o tratamento com plasma frio não resultou em um aumento significativo na retenção de calor na área tratada. A temperatura da pele permaneceu estável, com uma média de 16,5°C na área tratada em comparação com 20,2°C na área não tratada. Essa estabilidade térmica é particularmente relevante para pacientes com fototipos elevados, sensibilidade cutânea e melasma, pois evita o risco de danos térmicos que podem agravar essas condições.
A análise quantitativa das temperaturas pré e pós-procedimento reforça a eficácia do plasma frio. A diferença significativa nas médias de temperatura, com uma redução de aproximadamente 3,2°C após o tratamento, foi confirmada por um teste t para amostras pareadas, que resultou em uma estatística t de 4,51 e um valor p de 0,0458. Esses dados confirmam que a redução observada na temperatura não foi aleatória, mas sim uma consequência direta do tratamento com plasma frio.
Esses resultados sugerem que o uso do Mjolnir Pro® como uma tecnologia de plasma fracionado frio pode ser uma ferramenta valiosa para melhorar a saúde e a aparência da pele. Ao promover a retenção de umidade e manter a estabilidade térmica, o plasma frio oferece uma solução segura e eficaz para tratamentos dermatológicos, especialmente para pacientes que necessitam de cuidados específicos devido a condições como fototipos elevados e melasma.
Em suma, a combinação de análises microscópicas e termográficas forneceu uma compreensão abrangente dos benefícios do plasma frio para a pele. Estes resultados prometem abrir novas possibilidades para a aplicação clínica do plasma frio, permitindo tratamentos mais seguros e eficazes que melhoram a hidratação e a integridade da barreira cutânea, sem os riscos associados ao aumento de temperatura. Futuras pesquisas com amostras maiores e variados parâmetros de tratamento poderão expandir ainda mais o conhecimento sobre os efeitos benéficos desta tecnologia.
Conclusão
Este estudo piloto sugere que o plasma fracionado frio pode melhorar a hidrofilicidade da pele e manter a estabilidade térmica durante o tratamento. Os resultados preliminares indicam benefícios potenciais para pacientes com fototipos elevados, sensibilidade cutânea e melasma. No entanto, pesquisas adicionais com amostras maiores são necessárias para confirmar esses achados e validar a eficácia e segurança desta tecnologia inovadora na dermatologia.
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¹UniEvangélica – LABITEX
²Adoxy Medical Research and development laboratory
Felícia Bueno
https://orcid.org/0000-0003-1283-7628
Rodrigo Álvaro Lopes Martins
https://orcid.org/0000-0003-4942-988X
Michele Matias
https://orcid.org/0000-0001-7467-329X
Carlos Miranda
https://orcid.org/0000-0002-3346-5555
Dayana Miranda
https://orcid.org/0009-0007-3186-8274