SYPHILIS AND WOMEN’S HEALTH IN THE 21ST CENTURY: A REVIEW OF SCIENTIFIC LITERATURE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505191819
Divina Maria Jesus¹; Mónica Cristina Padró²; Efigênia Aparecida Maciel de Freitas³; Saulo Tarso de Sousa Muniz⁴; Carlos Rafael dos Santos⁵; Célia Fabrício de Souza Rezende⁶; Mariana Souza Castro Miranda⁷; Oldair Donizete Galeni⁸; Tatiana Carneiro de Resende⁹; Fernanda Santos Schwarz¹⁰.
Resumo
A sífilis continua sendo um importante problema de saúde pública no Brasil, especialmente nas formas adquirida, gestacional e congênita. Embora a infecção seja conhecida há mais de um século e possua tratamento eficaz, os casos continuam a crescer, refletindo falhas nas políticas de prevenção, diagnóstico e tratamento. Em 2021, foram registrados mais de 160 mil casos de sífilis adquirida, mais de 74 mil em gestantes e mais de 27 mil em recém-nascidos. Este artigo trata-se de uma revisão de literatura dissertativo-argumentativo onde forram estudados 17 artigos com objetivo de analisar o tema proposto. Os resultados nos mostram que a transmissão vertical é um dos maiores desafios, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, marcadas por vulnerabilidades sociais e desigualdades no acesso à saúde. O “Projeto Sífilis Não”, implementado em 2017, busca enfrentar essa realidade por meio de ações integradas, como testagem rápida, qualificação da rede de atenção básica, campanhas de conscientização e vigilância epidemiológica. Apesar dos avanços, a persistência dos altos índices mostra a necessidade de fortalecer a efetiva execução dessas estratégias. O acesso desigual aos serviços de saúde, a subnotificação de casos e a baixa adesão ao tratamento são obstáculos importantes. Assim conclui-se que para combater a sífilis no Brasil exige investimento contínuo em educação em saúde, infraestrutura e políticas públicas regionais mais eficazes, com foco na equidade e na proteção da saúde materno-infantil.
Palavras chaves: Sífilis. Saúde da Mulher. Políticas de Saúde. Pré-natal.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis continua sendo um desafio para a saúde pública no Brasil. Devido ao elevado número de casos, é fundamental intensificar os esforços de monitoramento, prevenção e controle da doença (Ministério da Saúde, 2021).
A sífilis é uma infecção bacteriana sistêmica crônica conhecida há séculos. A doença é causada pelo Treponema pallidum, e foi descoberta em 1905. O principal modo de transmissão é por contato sexual, mas também pode ser transmitida verticalmente para o feto durante a gravidez, se a mulher infectada não receber tratamento adequado ou não for tratada (Ministério da Saúde, 2017a).
No Brasil, na última década, houve um aumento na notificação de casos de sífilis adquirida, gestacional e congênita, fenômeno que pode ser parcialmente explicado pela melhoria do sistema de vigilância e pelo aumento do uso de testes rápidos para detectar a doença (Ministério da Saúde, 2021b).
Em 2020, 115.371 casos de sífilis adquirida, 61.441 casos de sífilis gestacional e 22.065 casos de sífilis congênita foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) em todo o Brasil, resultando em 186 mortes de recém-nascidos e uma taxa de mortalidade de 6,5 por 100.000 nascidos vivos (Ministério da Saúde, 2021a).
A prevalência da sífilis tem flutuado ao longo dos anos, com surtos periódicos observados em diferentes populações e regiões. A identificação precoce e o tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações graves, como danos neurológicos e cardiovasculares que podem ocorrer no estágio terciário da doença. A sífilis também tem implicações importantes para a saúde pública, pois contribui para a transmissão do HIV e afeta negativamente a saúde reprodutiva, especialmente em mulheres grávidas (Organização Mundial Da Saúde, 2022).
Dada a falta de conhecimento da população sobre a infecção, bem como sobre sua transmissão e sinais de alerta, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a incidência da sífilis, e as políticas públicas de saúde voltadas para o seu controle e prevenção.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Epidemiologia da Sífilis e saúde pública
A sífilis continua sendo um grande problema de saúde pública global, com profundas implicações para o bem-estar individual e coletivo. Em termos de saúde pública, a sífilis representa um desafio multifacetado devido ao seu impacto na saúde reprodutiva e às implicações para as mulheres grávidas e seus filhos.
Os programas de saúde pública enfrentam o desafio de implementar estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento. A educação sobre DSTs, a promoção do uso de métodos de proteção, como preservativos, e a realização de exames regulares são os principais componentes dessas estratégias. Além disso, o monitoramento e a análise das taxas de sífilis são essenciais para orientar a política de saúde pública e responder a surtos (Centers for Disease Control and Prevention, 2020).
As implicações da sífilis para a saúde pública são amplas. Em mulheres grávidas, a sífilis pode causar problemas graves, inclusive sífilis congênita, que pode levar a aborto espontâneo, natimorto ou problemas graves de saúde em recém-nascidos (WHO, 2022).
Em 2021, a Estratégia Rede Cegonha completou 10 anos e é a principal estratégia do país para qualificar a assistência materno-infantil. Atualmente, o país conta com 289 serviços hospitalares da Rede Cegonha em todo o território nacional. São 207 Centros de Referência em Gestação de Alto Risco; 38 Casas da Gestante, Bebê e Pós-parto; e 47 Centros de Parto Normal -CPN.
A visão geral atual da epidemiologia da sífilis no Brasil abrange um campo vasto e complexo, refletindo a diversidade e os desafios de saúde pública que o país enfrenta. A compreensão da epidemiologia no Brasil é essencial para a formulação de políticas de saúde eficazes e para a promoção de intervenções que possam mitigar a doença e melhorar a qualidade de vida da população.
O Brasil, com uma população de mais de 210 milhões de habitantes, enfrenta vários desafios de saúde pública devido à sua grande diversidade socioeconômica e geográfica. A estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para a gestão da saúde no país, proporcionando acesso universal e gratuito aos serviços de saúde. Entretanto, o sistema enfrenta problemas como desigualdades regionais, financiamento inadequado e problemas de infraestrutura (Paim, 2011).
Os principais problemas de saúde pública podem ser identificados por meio da epidemiologia, que mostra um perfil de morbidade e mortalidade no Brasil que reflete tanto as doenças transmissíveis quanto as não transmissíveis, além de problemas relacionados às condições ambientais e socioeconômicas.
Apesar dos avanços na vacinação e no controle de epidemias, o Brasil continua a ter problemas com doenças transmissíveis. A dengue, por exemplo, é uma preocupação recorrente, com surtos anuais que afetam várias regiões do país. A febre amarela, que se tornou um problema de saúde pública nos últimos anos, e a tuberculose são outros exemplos de doenças que continuam a afetar a população.
As desigualdades regionais e sociais têm um profundo impacto sobre a saúde pública no Brasil. As regiões Norte e Nordeste, em particular, enfrentam desafios significativos relacionados à infraestrutura de saúde, ao acesso aos cuidados e às condições socioeconômicas adversas. Essas desigualdades contribuem para as disparidades de morbidade e mortalidade entre os diferentes grupos populacionais (Barros et al., 2020).
O Brasil tem enfrentado várias emergências de saúde pública, como a epidemia do vírus Zika e a pandemia da COVID-19. A resposta a essas crises envolve uma combinação de estratégias, como vigilância epidemiológica, campanhas de vacinação e medidas de controle de infecções. A pandemia da COVID-19, em particular, destacou tanto a capacidade quanto as limitações do SUS e ressaltou a importância de uma coordenação eficaz nos níveis federal, estadual e municipal (Machado, 2023).
O Brasil fez progressos significativos em pesquisas epidemiológicas e intervenções de saúde pública. Programas de vacinação em larga escala, campanhas de prevenção e melhorias na infraestrutura de saúde são alguns exemplos de sucesso. No entanto, o país ainda enfrenta desafios contínuos, como a necessidade de melhorar a cobertura de saúde em áreas remotas, combater as desigualdades e garantir o financiamento adequado do SUS (Santos, et al., 2022).
Esse quadro epidemiológico mostra a complexidade e a diversidade dos desafios que o país enfrenta. É fundamental que as políticas de saúde pública sejam adaptadas às necessidades específicas de diferentes regiões e grupos populacionais para melhorar a saúde geral da população e enfrentar com eficácia os desafios emergentes. É preocupante observar o aumento no número de casos de sífilis, especialmente por se tratar de uma doença antiga para a qual existem medidas preventivas eficazes. A persistência e o crescimento dos casos indicam uma necessidade urgente de fortalecer as estratégias de prevenção e conscientização, bem como de melhorar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento.
A notificação compulsória da sífilis adquirida foi implementada em 2010. A taxa de detecção aumentou para 42,5 casos por 100.000 habitantes em 2016, em comparação com 2,0 casos por 100.000 habitantes em 2010 (Ministério da Saúde, 2017).
Em 2021, o SINAN registrou 167.523 casos de sífilis adquirida (78,5/100.000 habitantes), 74.095 casos em gestantes (27,1/1.000 nascidos vivos), 27.019 casos de sífilis congênita (9,9/1.000 nascidos vivos) e 192 óbitos por sífilis congênita (7,0/100.000 nascidos vivos). A distribuição regional foi: sudeste (47,2%), sul (20,9%), nordeste (16,3%), norte (8,1%) e centro-oeste (7,5%) (Ministério da Saúde, 2022a).
2.2 Políticas públicas para o controle da sífilis no Brasil
O aumento da incidência da sífilis, principalmente nas formas gestacional e congênita, levou à formulação e à implementação de políticas públicas específicas voltadas para a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e o controle da doença, e uma das estratégias foi o plano nacional de enfrentamento da sífilis, popularmente conhecido como “Projeto Sífilis Não”, que foi implementado em 2017. Esse plano é uma das principais estratégias nacionais para reduzir a sífilis adquirida, a sífilis em gestantes e a sífilis congênita.
Esse plano tem quatro eixos principais, que são:
– Vigilância, gestão e controle: esse eixo tem como foco o fortalecimento da vigilância epidemiológica para melhor controlar os casos de sífilis e implementar medidas rápidas e eficazes.
– Qualificação da rede de saúde: essa prioridade consiste em melhorar a capacidade dos serviços de saúde, especialmente das Unidades Básicas de Saúde (UBS), para garantir diagnóstico e tratamento rápidos e eficazes.
– Educação e comunicação: essa prioridade visa desenvolver campanhas de educação em saúde para conscientizar a população sobre a sífilis, sua prevenção e a importância do diagnóstico precoce.
– Desenvolvimento tecnológico e inovação: promoção de pesquisa e inovação para melhorar os métodos de diagnóstico e tratamento da sífilis (Ministério da Saúde, 2017).
Para aumentar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, o Ministério da Saúde (2015) enfatizou a importância da testagem rápida para sífilis como uma das principais ferramentas de combate à doença. Os testes rápidos são oferecidos gratuitamente em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), com atenção especial às gestantes, para garantir o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno, evitando a transmissão vertical da sífilis.
Além disso, o SUS garante a distribuição gratuita de penicilina benzatina, o medicamento de escolha para o tratamento da sífilis. Existem políticas para garantir a disponibilidade contínua desse medicamento em todo o país, especialmente após a escassez em anos anteriores.
De acordo com o Ministério da Saúde (2021), a vigilância epidemiológica tem a obrigatoriedade de notificar todos os casos de sífilis diagnosticados no Brasil, incluindo sífilis adquirida, em gestantes e congênita. Esse monitoramento rigoroso, realizado por meio de sistemas específicos de vigilância, é essencial para a formulação de políticas públicas eficazes e para a alocação adequada de recursos no enfrentamento da doença.
Os dados coletados são usados para avaliar a eficácia das políticas implementadas e para identificar áreas que precisam de mais intervenções. Além disso, a notificação obrigatória permite ações direcionadas às populações de risco e às regiões com maior incidência da doença (Ministério da Saúde, 2021).
Outra política de saúde pública são as campanhas de educação e conscientização que o Ministério da Saúde realiza periodicamente para aumentar a conscientização sobre a sífilis, tendo como público-alvo grupos específicos, como gestantes e adolescentes. Essas campanhas têm como objetivo aumentar o conhecimento sobre a doença, seus modos de transmissão, prevenção e a importância do diagnóstico e tratamento precoces. Essas campanhas usam várias mídias, como televisão, rádio, Internet e distribuição de material informativo em centros de saúde e escolas. O objetivo é desmistificar a doença, reduzir o estigma associado e incentivar as pessoas a procurar atendimento médico.
Apesar dos avanços significativos nas políticas de saúde pública para o controle da sífilis no Brasil, ainda há desafios a serem superados, sendo um deles a subnotificação de casos, principalmente em regiões com menos recursos, o que compromete a precisão dos dados epidemiológicos e a eficácia das ações de saúde pública.
A desigualdade no acesso à assistência médica apresenta uma disparidade significativa no acesso aos serviços de saúde entre as diferentes regiões do país, dificultando a implementação de políticas de maneira uniforme. A resistência e a não adesão ao tratamento, seja por falta de conhecimento ou por dificuldades de acesso a medicamentos, continuam sendo um obstáculo no combate à sífilis (Ministério da Saúde, 2021).
As políticas de saúde pública no Brasil para o controle da sífilis são parte integrante dos esforços nacionais para combater a doença e suas complicações. Com foco na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento eficaz, essas políticas têm o potencial de reduzir significativamente a incidência da sífilis, especialmente as formas gestacional e congênita.
De acordo com as reflexões de diversos autores, como Clemente (2018), Jannuzzi (2016), as Políticas Públicas podem ser entendidas como diretrizes ou sistemas de decisão elaborados por instituições do Estado com o objetivo de abordar problemas públicos ou promover objetivos desejados pela sociedade (Rosa, 2019).
Pactos internacionais e estratégias nacionais foram implementados para melhorar a saúde da mulher. Entre eles, destaca-se a “Declaração do Milênio”, que estabeleceu as “Metas de Desenvolvimento do Milênio” (MDGs) a serem alcançadas até 2015. Dois desses objetivos estão relacionados ao tópico em análise: Reduzir a mortalidade infantil (quarto objetivo) e melhorar a saúde materna (quinto objetivo) (Macêdo, 2017).
Apesar das várias estratégias de prevenção que foram implementadas para evitar esses problemas, estudos indicam que as oportunidades de prevenir infecções e suas consequências em crianças são frequentemente perdidas, sugerindo possíveis falhas nas estratégias de prevenção em todos os níveis de atenção à saúde, desde a atenção primária até a secundária e a terciária (Andrade, et al., 2018).
Para os serviços de saúde, a sífilis representa um grande desafio, principalmente porque os estudos indicam que ela é o principal fator responsável pela alta incidência de sífilis congênita em todo o mundo, revelando um atendimento pré-natal inadequado. Nesse sentido, garantir o acesso aos serviços de saúde, especialmente em termos da qualidade do atendimento pré-natal e no momento do parto, é fundamental para reduzir a incidência de sífilis congênita.
3 METODOLOGIA
Este trabalho tem caráter dissertativo-argumentativo e foi desenvolvido com base na revisão de literatura sobre a saúde da mulher, incidência da sífilis e as políticas públicas de saúde relacionadas ao seu controle e prevenção, no período de julho de 2024 a janeiro de 2025. Este artigo é um recorte da tese de doutorado intitulado “EL IMPACTO DE LA SÍFILIS GESTACIONAL Y LA SÍFILIS CONGÉNITA EN LAS POLÍTICAS DE SALUD PÚBLICA. Este recorte tem como objetivo principal analisar as produções científicas que abordam esse tema, utilizando como fonte bases de dados reconhecidas, como SCieLO, Periódicos Capes, Biblioteca Virtual em Saúde, Latindex, Bibliomed e PubMed. Os critérios de inclusão foram: artigos científicos publicados nos últimos 15 anos na língua portuguesa, espanhol e inglês. os critérios de exclusão foram: duplicatas, artigos publicados fora do período determinado, sem acesso integralmente de forma gratuita e em idiomas diferentes dos determinados. As buscas foram realizadas com os descritores: Sífilis, Saúde da Mulher, Políticas de Saúde, Pré-natal. A seleção dessas fontes se deu em razão de sua relevância teórica e científica para embasar a discussão proposta. Para este estudo foram identificados 115 artigos e destes apenas 17 atenderam o critério de inclusão para análise do estudo.
4 DISCUSSÃO
Os achados deste estudo evidenciaram que a sífilis permanece como um problema persistente e preocupante no cenário da saúde pública brasileira, sobretudo pelas suas formas adquirida, gestacional e congênita. Os dados alarmantes registrados nos últimos anos, mesmo diante de avanços tecnológicos e estratégias governamentais de controle, revelam não apenas a magnitude do problema, mas também as limitações das políticas públicas em curso. A infecção, embora conhecida há mais de um século e passível de prevenção e tratamento eficaz, ainda encontra terreno fértil para sua disseminação, especialmente em contextos marcados por vulnerabilidades sociais, desigualdades regionais e fragilidade nos serviços de saúde.
A alta incidência de casos notificados com números expressivos como os registrados pelo SINAN em 2021, evidencia tanto a ampliação da capacidade de detecção, através dos testes rápidos, quanto uma lacuna significativa na prevenção e no tratamento precoce. Tal cenário reforça a necessidade de intensificar ações integradas e contínuas no âmbito da atenção primária, especialmente no acompanhamento de gestantes, onde o impacto da sífilis congênita ainda é severo e evitável. O aumento dos casos, mesmo com políticas específicas como o Projeto “Sífilis Não” e campanhas de educação em saúde, sugere que o desafio não está apenas na elaboração de políticas, mas na sua efetiva execução, monitoramento e adaptação às realidades locais.
Além disso, o problema se agrava em razão das desigualdades estruturais do sistema de saúde brasileiro. As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, concentram maior vulnerabilidade social e enfrentam mais dificuldades em relação ao acesso a serviços de saúde de qualidade, o que contribui para subnotificações, falhas no acompanhamento pré-natal e atrasos no início do tratamento. A vigilância epidemiológica, apesar de ser uma ferramenta fundamental para o controle da doença, depende de registros confiáveis, profissionais capacitados e estrutura adequada, sendo estas condições nem sempre presentes em todas as regiões do país.
Dessa forma, discutir a sífilis como problema de saúde pública no Brasil exige reconhecer que, além de uma infecção transmissível, ela é também um reflexo da fragilidade das redes de atenção à saúde e da insuficiência das ações educativas e preventivas. É essencial repensar e fortalecer as políticas públicas com base em evidências epidemiológicas atualizadas, priorizando a equidade no acesso aos serviços e investindo em educação em saúde. Apenas por meio de um esforço intersetorial e contínuo será possível reduzir a incidência da sífilis e garantir uma assistência de qualidade, especialmente para mulheres e crianças em situação de maior vulnerabilidade.
Nas últimas décadas, houve um aumento expressivo nos casos de sífilis adquirida, gestacional e, especialmente, congênita que afeta diretamente recém-nascidos e pode causar complicações graves, como abortos, natimortos e sequelas neonatais. Embora parte desse aumento possa ser atribuída à melhora na detecção e notificação dos casos, os números elevados mostram que as estratégias atuais ainda são insuficientes.
Um dos principais fatores que dificultam o controle da sífilis no país é a desigualdade no acesso aos serviços de saúde, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde faltam infraestrutura e profissionais capacitados. Além disso, fatores como desinformação, estigmas sociais e barreiras no atendimento pré-natal comprometem o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno, especialmente entre as populações mais vulneráveis, como moradores de áreas rurais e periféricas.
Em resposta, o Brasil lançou iniciativas como o “Projeto Sífilis Não” (2017), que busca reduzir os casos por meio da ampliação do diagnóstico com testes rápidos, qualificação da rede de saúde e ações de educação em saúde. Apesar dos avanços, como a distribuição gratuita de testes pelo SUS, o impacto das ações ainda é limitado por obstáculos como a subnotificação, a baixa adesão ao tratamento e a dificuldade de acesso em regiões remotas.
Portanto, o enfrentamento da sífilis exige uma abordagem multidimensional, que integre saúde, educação, infraestrutura e justiça social. É necessário fortalecer os serviços de saúde, garantir o acesso equitativo à informação e ao tratamento, e adaptar as políticas públicas às realidades locais. A longo prazo, a redução da sífilis no Brasil depende não apenas de ações específicas contra a doença, mas de um compromisso contínuo com a promoção da saúde e a redução das desigualdades sociais.
5 CONCLUSÕES
Diante dos achados apresentados, conclui-se que a sífilis permanece como uma infecção de elevada relevância epidemiológica e social no Brasil, exigindo respostas mais eficazes e abrangentes por parte do sistema público de saúde. O combate à sífilis, portanto, vai além do tratamento clínico: exige o fortalecimento da atenção básica, a ampliação do acesso à informação e à testagem, além do enfrentamento das barreiras sociais e culturais que dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
A continuidade e o aprimoramento de estratégias como o “Projeto Sífilis Não” são fundamentais, mas devem estar inseridos em um contexto mais amplo de promoção da equidade em saúde, especialmente nas regiões mais vulneráveis. Reduzir a incidência da sífilis requer não apenas investimento em infraestrutura e capacitação profissional, mas também políticas públicas integradas que considerem os determinantes sociais da saúde.
Somente por meio de uma abordagem intersetorial, centrada na justiça social e no fortalecimento do SUS, será possível avançar na eliminação da sífilis congênita e na proteção da saúde de gestantes, bebês e populações em situação de vulnerabilidade.
REFERÊNCIAS
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¹Doutoranda em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES. Av. Paraguay 1401, C1061 CABA, Argentina. E-mail: divinamjesus57@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3284-1392;
²Doutora em Ciência Política pela Université de Cergy-Pontoise. Av. Paraguay 1401, C1061 CABA, Argentina. E-mail: monicapadro@yahoo.com.ar. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3987-2546;
³Pós-doutoranda na Universidade do Porto, Portugal. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia – FAMED/UFU. Av. Pará, 1720 – Umuarama – Uberlândia – MG, Brasil. E-mail: efigenia@ufu.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4434-7762;
⁴Farmacêutico. Especialista em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica. Farmacêutico no HC-UFU/EBSERH. Av. Pará, 1720 – Umuarama – Uberlândia – MG, Brasil. E-mail: saulo.smuniz@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8391030538618045;
⁵Enfermeiro. Especialista em Cardiologia e Hemodinâmica. Técnico em Enfermagem no Hospital de Clínicas – EBSERH/UFU. Av. Pará, 1720 – Umuarama – Uberlândia – MG, Brasil. E-mail: carlosdos.santos017@hotmail.com. Orcid: https://ordid.org/0009-0005-2546-4615;
⁶Doutoranda em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES. Av. Paraguay 1401, C1061 CABA, Argentina. E-mail: celia.rezende@ebserh.gov.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2422-1265;
⁷Graduada em Medicina pela IMEPAC-Itumbiara/GO. E-mail: mariana_pity@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8095839777166923;
⁸Doutorando em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES. Av. Paraguay 1401, C1061 CABA, Argentina. E-mail: oldairgaleni@yahoo.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0586-9234;
⁹Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Docente da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Rua Pará, s/n, Bloco 4K – Campus Umuarama. E-mail: tatianacarneiro@ufu.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8604-5087;
¹⁰Doutoranda em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES. Av. Paraguay 1401, C1061 CABA, Argentina. E-mail: fernandaschwarz@hotmail.com. Orcid: https://orcid.org/0009-0001-8837-1214;