REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505192012
Ananda Beatriz Carvalho de Santana;
Islanna Loize Martins de Carvalho;
Orientadora: Profa. Dra. Seânia Santos Leal
RESUMO
A ginástica rítmica é um esporte que exige muita precisão técnica e controle postural, por isso as atletas precisam de uma preparação física muito intensa. Neste estudo, buscamos analisar diferentes tipos de treinamento e como eles afetam o controle postural em ginastas rítmicas. Fizemos uma revisão sistemática seguindo as regras PRISMA e registramos nosso estudo na plataforma PROSPERO para garantir a qualidade da pesquisa. Pesquisamos artigos nas bases PubMed/MEDLINE, BVS, Cochrane e PEDro, de fevereiro a julho de 2025, usando palavras-chave relacionadas à ginástica rítmica, controle postural e treinamento. Encontramos inicialmente 77 artigos, mas só 9 deles atenderam aos nossos critérios. Usamos a escala PEDro para verificar a qualidade dos estudos. Descobrimos que o treinamento que combina exercícios de core (centro do corpo) com pliometria (saltos) foi o mais eficaz, melhorando o equilíbrio parado e em movimento, a estabilidade e a força explosiva das ginastas. Após oito semanas desse treinamento, as ginastas ficaram muito melhores em ficar equilibradas em uma perna só e em posições específicas da ginástica rítmica. O treinamento com vibração também mostrou bons resultados para melhorar a força e o equilíbrio. Um problema que encontramos foi que muitas ginastas treinam sem descansar o suficiente, o que pode prejudicar o desenvolvimento do controle postural. Concluímos que existem vários tipos de treinamento que podem ajudar as ginastas rítmicas a melhorar seu controle postural, mas o treinamento funcional de core e pliometria parece ser o melhor.
Palavras-chave: Ginástica Rítmica; Controle Postural; Treinamento Funcional; Estabilidade do Core; Desempenho Atlético.
1 INTRODUÇÃO
A ginástica rítmica é uma modalidade esportiva que combina elementos de dança, balé e movimentos acrobáticos, caracterizada pela execução de movimentos corporais sincronizados com música e manipulação de aparelhos específicos como fitas, bolas, cordas e arcos (Cabrejas et al., 2022). Este esporte exige alto nível de precisão técnica, coordenação motora e controle postural, demandando dos atletas uma preparação física intensiva desde as fases iniciais do treinamento (Battaglia et al., 2014).
O controle postural e o equilíbrio são elementos fundamentais para o desempenho na ginástica rítmica, sendo essenciais tanto para a execução de movimentos básicos quanto para manobras complexas. O equilíbrio, enquanto componente do controle postural, é regulado pela integração entre os sistemas vestibular, proprioceptivo e visual, funcionando em conjunto com a musculatura estabilizadora, especialmente o core, para manter a estabilidade durante movimentos estáticos e dinâmicos (Kibler; Press; Sciascia, 2006).
O treinamento funcional tem emergido como uma abordagem promissora para o desenvolvimento do controle postural em atletas, trabalhando com padrões de movimento integrados que fortalecem a musculatura estabilizadora e melhoram a coordenação neuromuscular. Esta metodologia é particularmente relevante para ginastas rítmicos, pois suas rotinas envolvem movimentos complexos que requerem alta demanda de controle postural e equilíbrio (Mcgill, 2010; Leetun et al., 2004).
As competições de ginástica rítmica são avaliadas com base em critérios específicos estabelecidos pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), onde a execução técnica, incluindo o controle postural e a estabilidade durante os movimentos, representa uma parte significativa da pontuação. A avaliação considera aspectos como a precisão dos movimentos, a harmonia entre os passos e a música, e a manutenção do equilíbrio durante toda a apresentação (FGI, 2017; Leandro et al., 2017).
No contexto da pesquisa científica, as revisões sistemáticas são fundamentais para sintetizar evidências sobre intervenções específicas, como o treinamento funcional no controle postural. Este tipo de estudo permite uma análise abrangente e metodologicamente rigorosa da literatura existente, fornecendo evidências de alto nível para embasar a prática clínica e esportiva (Pacheco et al., 2018).
Portanto, este estudo tem como objetivo analisar as diferentes estratégias de treinamento e seus efeitos no controle postural. Especificamente, pretende-se identificar os métodos de treinamento utilizados para desenvolvimento do controle postural em ginastas rítmicas; avaliar a eficácia de diferentes abordagens de treinamento na melhoria do equilíbrio estático e dinâmico; comparar os efeitos de treinamentos específicos na capacidade neuromuscular, força explosiva e prevenção de assimetrias funcionais; e analisar a relação entre carga de treinamento, recuperação e capacidade de controle postural em ginastas rítmicas.
Esta investigação abrangente visa proporcionar evidências científicas que possam fundamentar a prática de treinadores e fisioterapeutas que trabalham com atletas desta modalidade (Chen et al., 2019; Debien et al., 2022).
2 METODOLOGIA
2.1 Desenho do estudo
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, desenvolvida de acordo com as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) (Page et al., 2021) e registrada previamente na plataforma PROSPERO (Registro Internacional Prospectivo de Revisões Sistemáticas) sob o número de registro (CRD42025645119).
2.2 Questão norteadora
A questão norteadora foi elaborada utilizando a estratégia PICO (População, Intervenção, Comparação e Outcomes/Desfechos): Quais são os efeitos de diferentes estratégias de treinamento no controle postural, equilíbrio e desempenho neuromuscular em atletas de ginástica rítmica? Especificamente: P – Atletas de Ginástica Rítmica; I – Diferentes estratégias de treinamento (funcional, pliométrico, vibratório, entre outros); C – Treinamento convencional ou ausência de intervenção específica; O – Melhora do controle postural, equilíbrio estático e dinâmico, capacidade neuromuscular e prevenção de assimetrias funcionais.
2.3 Estratégia de busca
A busca foi conduzida entre fevereiro e julho de 2025 nas seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed/MEDLINE, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cochrane Library e Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Foram utilizados os seguintes descritores e seus correspondentes em português e espanhol, combinados por operadores booleanos (AND/OR): “Rhythmic Gymnastics”, “Postural Control”, “Balance”, “Training”, “Functional Training”, “Core Training”, “Plyometric Training”, “Neuromuscular Control”, “Athlete”, “Performance”.
A estratégia de busca foi adaptada para cada base de dados, mantendo a mesma estrutura lógica.
2.4 Critérios de elegibilidade
Foram incluídos estudos experimentais e ensaios clínicos randomizados publicados em inglês, e português, que envolvessem atletas femininas de ginástica rítmica e avaliassem estratégias de treinamento para melhorar o controle postural ou equilíbrio. Foram excluídos estudos observacionais sem intervenção, revisões, meta-análises, estudos de caso, resumos de congressos, pesquisas com metodologia incompleta ou que não avaliaram desfechos relacionados ao controle postural.
2.5 Seleção dos estudos
O processo de seleção dos estudos foi realizado em duas etapas por dois revisores independentes. Na primeira etapa, foi realizada a leitura dos títulos e resumos de todos os artigos identificados nas buscas. Na segunda etapa, os artigos pré-selecionados foram lidos na íntegra para confirmação da elegibilidade. Em casos de discordância entre os revisores, um terceiro revisor foi consultado para resolução do impasse.
2.6 Avaliação da qualidade metodológica
A qualidade metodológica dos ensaios clínicos foi avaliada utilizando a escala PEDro (Physiotherapy Evidence Database), que avalia 11 critérios relacionados à validade interna e interpretabilidade estatística dos estudos. A pontuação final varia de 0 a 10, sendo que estudos com pontuação igual ou superior a 5 são considerados de qualidade moderada a alta. Para estudos com outros desenhos metodológicos.
2.7 Extração de dados
Para a extração dos dados, foi utilizado um formulário padronizado desenvolvido pelos autores, contemplando: (1) informações gerais (título, autores, ano de publicação, periódico, idioma, país de origem e base de dados); (2) características metodológicas (desenho do estudo, 1). tamanho amostral, faixa etária, nível competitivo); (3) detalhes da intervenção (tipo de treinamento, duração, frequência, volume e intensidade); (4) variáveis avaliadas e instrumentos de medida; e (5) principais resultados relacionados ao controle postural, equilíbrio e desempenho neuromuscular.
2.8 Síntese dos dados
Devido à heterogeneidade metodológica esperada entre os estudos (diferentes tipos de intervenção, protocolos, faixas etárias e medidas de desfecho), optou-se por uma síntese qualitativa dos resultados. A análise foi estruturada de acordo com as categorias de intervenção (treinamento funcional, pliométrico, sensorial, vibratório, entre outros) e os desfechos avaliados (controle postural estático, controle postural dinâmico, força, equilíbrio, simetria funcional e desempenho específico na ginástica rítmica).
2.9 Aspectos éticos
Por se tratar de uma revisão sistemática baseada em estudos já publicados, não foi necessária a aprovação por comitê de ética em pesquisa. No entanto, este estudo foi conduzido respeitando os princípios éticos da pesquisa científica, incluindo a citação adequada de todas as fontes consultadas e a apresentação imparcial dos resultados.
2.10 Artigos selecionados
Foram identificados inicialmente 77 artigos nas três bases de dados consultadas: PubMed (n=66), BVS (n=2) e Cochrane (n=9). Após aplicarmos os critérios de elegibilidade e avaliarmos a qualidade metodológica, selecionamos 9 estudos para esta revisão sistemática, o que representa 11,7% do total de artigos encontrados inicialmente (Figura 1). Os resultados sobre a qualidade metodológica avaliada pela escala PEDro constam no Anexo I.
Figura1. Fluxograma PRISMA mostrando as etapas de análises dos estudos incluídos na presente revisão.

*excluídos utilizando a plataforma da base de dados e/ou aplicativos de identificação de textos e palavras em arquivos; ** excluídos após revisão manual (passaram por análises técnicas realizadas por humanos para verificar sua inclusão).
3 RESULTADOS
3.1 Métodos de treinamento para controle postural
Nossa análise mostrou diferentes estratégias de treinamento para melhorar o controle postural em atletas de ginástica rítmica. O treinamento funcional integrado de core e pliometria foi o método que mais se destacou, sendo utilizado nos três estudos de Cabrejas e colaboradores (2022a, 2022b, 2023). Este tipo de treinamento, que durou oito semanas, incluiu exercícios que desafiam o equilíbrio, o controle postural e a força explosiva, todos executados com elementos específicos da ginástica rítmica. O protocolo tinha três partes: circuito, exercícios pliométricos e exercícios de estabilidade do core.
O treinamento com vibração de corpo inteiro (WBV) foi estudado por Despina et al. (2014), consistindo em exercícios de agachamento realizados sobre uma plataforma vibratória. Os estudos de Chen et al. (2017) e Yeh et al. (2019) não aplicaram um treinamento específico, mas avaliaram como as ginastas rítmicas organizam as informações sensoriais e se desempenham em tarefas duplas.
Debien et al. (2020, 2022) analisaram como é feito o gerenciamento da carga de treinamento na ginástica rítmica e descobriram que a maioria dos profissionais usa métodos subjetivos de monitoramento, sem utilizar métodos objetivos para avaliar carga e recuperação. O quadro 1 apresenta um resumo das características dos estudos incluídos nesta revisão, detalhando os métodos de treinamento, amostras e principais resultados evidenciados.
Quadro 1. Principais estudos sobre treinamento para controle postural em ginastas rítmicas.


3.2 Eficácia no equilíbrio estático e dinâmico
O treinamento funcional integrado de core e pliometria mostrou resultados muito positivos na melhoria do controle postural. Cabrejas et al. (2022a) encontraram melhorias significativas após oito semanas de intervenção no apoio unipodal com olhos abertos (p < 0,01) e em equilíbrios específicos da ginástica rítmica, como o arabesque (p < 0,01) e o equilíbrio lateral com ajuda (p < 0,01).
De forma parecida, Cabrejas et al. (2022b) encontraram um efeito significativo (p < 0,05) na estabilidade do core através do teste de queda do joelho flexionado (BKFO) e testes de inclinação pélvica. A inclinação pélvica esquerda melhorou em 37,0 segundos (p < 0,001), mostrando o potencial desse treinamento para melhorar a estabilidade central, que é fundamental para o controle postural.
O treinamento com vibração de corpo inteiro (Despina et al., 2014) também se mostrou eficaz para melhorar parâmetros relacionados ao equilíbrio, com os participantes apresentando melhores resultados em diversos testes, especialmente 15 minutos após o treinamento. Chen et al. (2017) e Yeh et al. (2019) descobriram que as ginastas rítmicas têm capacidades de organização sensorial melhores em condições desafiadoras, especialmente quando a informação visual não é confiável. Yeh et al. (2019) mostraram que, em tarefas duplas cognitivas, as ginastas apresentam melhora no controle postural, enquanto pessoas não treinadas apresentam piora.
3.3 Efeitos na capacidade neuromuscular e força explosiva
O treinamento funcional integrado também mostrou impactos positivos na força explosiva e na capacidade neuromuscular. Cabrejas et al. (2023) encontraram melhorias significativas em todas as variáveis medidas pelos testes de salto com contramovimento (CMJ) e salto unipodal com contramovimento (SLCMJ) (p < 0,01) após oito semanas de intervenção. As pontuações dos juízes também indicaram melhorias significativas em saltos específicos da ginástica rítmica, como o salto corça e o salto espacate.
Despina et al. (2014) relataram que o treinamento com vibração de corpo inteiro aumentou significativamente o tempo de voo do salto com contramovimento (p < 0,01) e reduziu o tempo de contato com o solo (p < 0,01), indicando melhoria na força explosiva das pernas de 6-7%, sem efeitos colaterais negativos.
Santos et al. (2016) forneceram dados interessantes sobre a força explosiva em ginastas rítmicas de diferentes níveis competitivos. O estudo descobriu que 83,3% das ginastas não apresentaram assimetrias funcionais entre as pernas, mostrando um desenvolvimento equilibrado da força explosiva bilateral.
Goulart et al. (2014) descobriram que ginastas rítmicas apresentam maior torque passivo de flexão plantar comparadas a não atletas, mas menor torque ativo de flexão dorsal, indicando adaptações específicas à modalidade que podem influenciar o controle postural e o desempenho.
3.4 Relação entre carga de treinamento e controle postural
Os estudos de Debien et al. (2020, 2022) forneceram informações importantes sobre o gerenciamento de carga de treinamento em ginastas rítmicas. Debien et al. (2020) descobriram que a carga de treinamento interna semanal média em uma temporada pré-olímpica foi de 10.381 ± 4.894 unidades arbitrárias, com ginastas treinando em média 8,7 ± 2,9 sessões por semana (duração média de 219 ± 36 minutos). Cada período competitivo apresentou aumento de carga comparado ao período anterior, com as variáveis de carga e recuperação inversamente correlacionadas.
Um dado preocupante foi que as ginastas estavam inadequadamente recuperadas (TQR < 13) durante 50,9% da temporada, especialmente em semanas de competição, e apresentaram picos de carga em 18,1% da temporada.
Debien et al. (2022) também destacaram que a maioria dos profissionais (≥85%) acredita que um modelo específico de gerenciamento de carga de treinamento para ginástica rítmica seria muito ou extremamente eficaz, indicando uma lacuna entre a prática atual e as necessidades percebidas. Este estudo também revelou que o envolvimento da equipe médica no compartilhamento e discussão de informações sobre carga de treinamento é limitado.
4 DISCUSSÃO
4.1 Métodos de treinamento para controle postural
Os resultados encontrados sobre o treinamento funcional integrado de core e pliometria confirmam o que McGill (2010) já dizia sobre a importância do treinamento funcional para desenvolver o controle postural em atletas, trabalhando com movimentos que fortalecem os músculos estabilizadores e melhoram a coordenação. Essa abordagem é especialmente importante para ginastas rítmicas, pois suas rotinas exigem movimentos complexos que necessitam de alto nível de controle postural.
Segundo Barr (2007), o controle postural é controlado pelo sistema vestibular e pelas forças que atuam sobre o corpo. A vibração, aplicada no estudo de Despina et al. (2014), pode estimular os receptores proprioceptivos, promovendo adaptações mais rápidas do sistema neuromuscular.
Os estudos de Chen et al. (2017) e Yeh et al. (2019) sugerem que treinos que desafiam o sistema sensorial podem levar a adaptações específicas que beneficiam o controle postural em condições desafiadoras, como durante as competições.
A preocupação evidenciada nos estudos de Debien et al. (2020, 2022) sobre o monitoramento subjetivo da carga de treinamento é relevante, considerando como é importante equilibrar carga e recuperação para desenvolver adequadamente o controle postural e prevenir lesões.
A variedade de métodos de treinamento encontrados mostra como é complexo desenvolver o controle postural em ginastas rítmicas. Segundo Kibler, Press e Sciascia (2006), o equilíbrio é regulado pela integração dos sistemas vestibular, proprioceptivo e visual, junto com os músculos estabilizadores, especialmente o core. Por isso, os treinamentos que visam melhorar o controle postural devem considerar todos esses sistemas.
4.2 Eficácia no equilíbrio estático e dinâmico
A melhora observada no equilíbrio estático e dinâmico através do treinamento funcional é realmente importante porque o equilíbrio é fundamental na ginástica rítmica, um esporte que exige movimentos precisos em superfícies pequenas. A melhora em posições como o arabesque mostra que o treinamento funcional pode ser transferido para as habilidades específicas do esporte, o que é essencial para a aplicação prática desse tipo de treinamento.
A melhora na estabilidade do core encontrada por Cabrejas et al. (2022b) está de acordo com o que Leetun et al. (2004) observaram sobre o papel do core na sustentação, orientação e estabilização dos movimentos do tronco e da coluna. Os movimentos do tronco e a coordenação entre braços e pernas, essenciais na ginástica rítmica, são orientados pela estabilização de forças aplicada sobre o core. Portanto, melhorar a estabilidade central afeta diretamente o desempenho geral das atletas.
O efeito observado após 15 minutos do treinamento com vibração sugere que o sistema neuromuscular continua processando e integrando os estímulos recebidos durante o treinamento vibratório mesmo depois que a sessão acaba.
As adaptações específicas ao treinamento de longo prazo em ginástica rítmica, incluindo uma melhor integração dos sistemas sensoriais, são especialmente importantes considerando as exigências da modalidade, onde as atletas precisam manter o controle postural enquanto manipulam aparelhos e expressam artisticamente, frequentemente sob alta pressão competitiva. A capacidade de manter o equilíbrio enquanto se faz outra tarefa representa uma vantagem competitiva significativa nesse contexto.
4.3 Efeitos na capacidade neuromuscular e força explosiva
Os resultados positivos no desenvolvimento da força explosiva e capacidade neuromuscular estão de acordo com as observações de Di Cagno et al. (2010), que destacam a importância da força dos membros inferiores e do controle neuromuscular para a execução de saltos na ginástica rítmica. Os saltos exigem grande esforço, controle e equilíbrio para alcançar as formas exigidas pelo código de pontuação. Para executar bem os saltos, as atletas precisam ter controle total do momento em que saem do chão e pousam, o que exige força considerável das pernas e estabilização do tronco.
O desenvolvimento equilibrado da força explosiva bilateral observado por Santos et al. (2016) é crucial porque as assimetrias funcionais podem aumentar o risco de lesões e comprometer a qualidade técnica da execução. Segundo Santos, Lebre e Carvalho (2016), a força explosiva nos membros inferiores está diretamente ligada ao sucesso que a ginasta poderá alcançar, especialmente nos saltos, que são elementos corporais indispensáveis.
As adaptações biomecânicas específicas encontradas por Goulart et al. (2014) refletem as exigências específicas do esporte, onde posições extremas de flexão plantar são frequentemente mantidas durante as apresentações.
A integração entre força explosiva, controle neuromuscular e adaptações biomecânicas específicas mostra como o treinamento para ginástica rítmica é complexo e necessita de abordagens variadas que atendam às demandas particulares deste esporte. O treinamento funcional, ao trabalhar com padrões de movimento integrados e específicos para a modalidade, parece ser uma estratégia eficaz para desenvolver essas diferentes capacidades de maneira integrada.
4.4 Relação entre carga de treinamento e controle postural
A intensidade de treinamento identificada por Debien et al. (2020) reflete as altas exigências da ginástica rítmica de elite, conforme apontado por Battaglia et al. (2014), que destaca a necessidade de treinamentos intensivos durante a infância e adolescência para adaptação ao modo de execução das atividades, melhoria da flexibilidade e aumento da resistência física. No entanto, a correlação inversa entre carga de treinamento e recuperação levanta preocupações sobre o potencial impacto negativo de cargas excessivas no desenvolvimento do controle postural e na saúde geral das atletas.
A importância da recuperação adequada para o desenvolvimento do controle postural não pode ser subestimada. Conforme observado por Suri (2009), a fadiga muscular, especialmente no tronco, pode comprometer significativamente o controle postural. Em atletas de ginástica rítmica, cujo desempenho depende fortemente da precisão dos movimentos e do controle postural, a fadiga acumulada devido à recuperação inadequada pode ter impactos diretos na qualidade técnica das apresentações e aumentar o risco de lesões.
A lacuna identificada entre as práticas atuais e as necessidades percebidas pelos profissionais sugere a importância de desenvolver e implementar métodos específicos de gerenciamento de carga para ginastica rítmica, que considerem as particularidades da modalidade e promovam um equilíbrio adequado entre carga e recuperação, essencial para o desenvolvimento ótimo do controle postural.
5 CONCLUSÃO
Nossa revisão encontrou que o treinamento funcional integrado de core e pliometria é muito bom para melhorar o controle postural em atletas de ginástica rítmica, ajudando no equilíbrio, na estabilidade e na força explosiva. O treinamento com vibração de corpo inteiro também mostrou bons resultados, e vimos que as ginastas desenvolvem uma capacidade melhor de usar as informações sensoriais em situações difíceis.
Algo preocupante que descobrimos foi que muitas ginastas treinam sem descansar o suficiente. Para os treinadores e fisioterapeutas, recomendamos usar programas de treinamento funcional com exercícios de core e pliometria, adaptados para a ginástica rítmica, e monitorar melhor o treinamento e a recuperação. Seria bom ter mais pesquisas com mais ginastas e por períodos mais longos para confirmar o que encontramos.
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