O RISCO DE QUEDA ENTRE IDOSOS E OS FATORES AMBIENTAIS QUE CONTRIBUEM COM A VICISSITUDE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505201440


Yasmim Cristina Santos Pereira1;  Natália Ferreira Souza; Maria Clara Damasceno Coelho; Maria Letícia Cabral Martins dos Santos; Geovanna Lima Biase; Rayane Soares do Nascimento; Felipe Alves de Almeida


RESUMO

Introdução: O envelhecimento é um processo natural que envolve mudanças fisiológicas e cognitivas, tornando os idosos mais suscetíveis a acidentes. A queda é uma das principais causas de morte por lesões não intencionais nessa população, sendo intensificada por condições ambientais inadequadas, como superfícies escorregadias e desníveis. Objetivo: relatar a experiência de acadêmicas de Medicina em desenvolver intervenções eficazes para a promoção da segurança e melhoria da qualidade de vida da população idosa em uma instituição cuidadora de idosos. Metodologia: Este estudo é de abordagem qualitativa e trata-se de um relato de experiência, realizada pelas acadêmicas do curso de medicina. O projeto foi desenvolvido, entre os meses de outubro e novembro do ano de 2024, e utilizou a proposta do arco de Maguerez para desenvolvimento das ações. Resultados e Discussões: Como resultado, observou-se um grande interesse dos cuidadores em compreender a relação entre as ferramentas implantadas e a prevenção de quedas, demonstrando engajamento no aprendizado e aplicação das medidas propostas. A troca de conhecimentos foi significativa, evidenciando que a implementação de adaptações ambientais simples pode gerar impacto positivo na segurança dos idosos. Conclusão: Conclui-se que as intervenções realizadas e os ensinamentos repassados colaboraram para atingir o objetivo do estudo, proporcionando uma experiência enriquecedora tanto para as acadêmicas quanto para os colaboradores do instituto, reforçando a importância de práticas preventivas no cuidado à população idosa.

Palavras-Chave: Segurança do paciente, Saúde do Idoso, Prevenção de Acidente.

Área Temática: Atenção Primária à Saúde

1.  INTRODUÇÃO

Segundo Stefanacci (2019), o idoso é definido pela legislação como todo indivíduo com 60 anos ou mais, e o envelhecimento pode ser compreendido como um processo contínuo e gradual de alterações naturais no corpo humano. Durante a transição entre a fase final da vida adulta e o início da velhice, diversas funções corporais começam a declinar progressivamente. As mudanças consideradas normais nesse processo são chamadas de “envelhecimento puro”. Diante dessa realidade, é fundamental que os idosos e seus familiares estejam conscientes de que, nessa fase da vida, há uma redução do vigor e da força física. Assim, a exposição a atividades extenuantes e ambientes potencialmente nocivos pode representar riscos à saúde e aumentar a vulnerabilidade dessa população (PAPALÉO NETTO, 2006).

Além disso, a ocorrência de quedas pode resultar em consequências psicológicas significativas, como o medo de novos acidentes, o que pode levar à redução das atividades diárias e ao isolamento social. Esses fatores contribuem para um declínio na saúde física e mental do idoso. Segundo Pereira et al. (2019), diversos fatores de risco devem ser observados, incluindo as condições dos ambientes frequentados pelos idosos. As quedas são eventos comuns e potencialmente devastadores na terceira idade e, embora não sejam uma consequência inevitável do envelhecimento, podem indicar o início de um quadro de fragilidade ou estar associadas a doenças agudas (REBELATTO; MORELLI, 2007).

Diante desse cenário, este estudo justifica-se pela necessidade de compreender tais empecilhos que contribuem para quedas em idosos. Por isso, é proposto como objetivo deste trabalho, relatar a experiência de acadêmicas de Medicina em desenvolver intervenções eficazes para a promoção da segurança e melhoria da qualidade de vida da população idosa em uma instituição cuidadora de idosos.

2.  MÉTODO OU METODOLOGIA

Trata-se do relato de experiência baseado no projeto de intervenção, vivenciado por alunos de um Projeto de Extensão Universitária com o título “Prevenção de queda entre idosos”, referente a disciplina de Projetos Integrados de Pesquisa e Extensão na Comunidade, pertencente ao curso de medicina de uma Instituição de Ensino Superior, a qual está localizada em Manaus (AM).

O projeto foi conduzido a partir do Arco de Maguerez, uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem. Essa abordagem possibilita a identificação de problemas reais, incentivando a busca por soluções. A reflexão crítica e a ação são elementos centrais no processo, com o objetivo de promover um aprendizado mais prático e significativo. Segundo

Berbel (2012), o processo de ensino-aprendizagem promove a interação entre estudantes e docentes, oferecendo a chance de interação. A (re)elaboração de conceitos e a troca de experiências. Neste cenário, os alunos sâo estimulados a pensar e agir de forma crítica e construtiva. composto pelas seguintes etapas principais na estruturação do projeto.

As práticas na instituição de acolhimento aos idosos, onde foram realizadas as atividades, iniciaram-se em outubro com a primeira visita técnica. Em seguida, mais três visitas ocorreram entre outubro e novembro, representando a fase de observação da realidade. A primeira visita técnica ao abrigo teve como objetivo identificar falhas na infraestrutura que poderiam afetar a segurança dos idosos, foram identificados problemas relacionados à segurança ambiental, como pisos escorregadios, desníveis e a falta de sinalização adequada. A análise do espaço físico e das condições de segurança dos idosos foi uma forma de compreender as necessidades específicas da instituição e os riscos de queda no ambiente.

A segunda semana focou na sensibilização sobre a importância da prevenção de quedas e nas medidas eficazes que poderiam ser tomadas para reduzir os riscos, envolvendo os profissionais da instituição e os cuidadores. A partir disso, o grupo de discentes começou a refletir sobre como poderiam intervir para minimizar esses riscos. A problematização também incluiu a análise do comportamento dos cuidadores e a importância da conscientização para a prevenção de quedas.

A terceira semana foi voltada para o levantamento de possíveis soluções, como a criação de materiais informativos (panfletos) e a instalação de placas e fitas de segurança no ambiente para alertar sobre os riscos. Durante a análise dos problemas identificados, o grupo de discentes elaborou hipóteses sobre como poderiam melhorar a segurança do ambiente. Entre essas hipóteses estavam a instalação de placas de sinalização, fitas antiderrapantes e tapetes antiderrapantes em locais estratégicos da instituição. Essa etapa envolveu o planejamento de ações que poderiam reduzir o risco de quedas.

O trabalho envolveu a construção do referencial teórico por meio da elaboração de panfletos informativos sobre os cuidados necessários para prevenir quedas. Essa etapa foi essencial para fornecer uma base de conhecimento sólida sobre o tema para os cuidadores e profissionais de saúde da instituição. A fim, de compartilhar as orientações sobre como prevenir quedas e sensibilizar os cuidadores sobre a importância de medidas preventivas.

No final de novembro, última semana e visita, as discentes implantaram as placas amarelas e vermelhas para sinalização dos locais prováveis de queda. Ademais, colocaram também, tapetes e fitas antiderrapantes, com objetivo de prevenir futuros acidentes em locais escorregadios, como os banheiros da residência. Somado a isso, foram postas fitas de coloração vermelha, assim como as placas azuis ao longo da casa. A implementação das soluções no abrigo, juntamente com os panfletos entregues aos profissionais, marcou a aplicação das intervenções planejadas. Além disso, ao final da dinâmica de conscientização, os cuidadores e enfermeiros refletiram sobre as estratégias apresentadas e se comprometeram a aplicar as orientações na rotina do abrigo.

3.  RESULTADOS E DISCUSSÕES 

O projeto “Prevenção de quedas entre idosos” foi uma iniciativa de extensão que busca proporcionar uma redução significativa nos riscos de quedas para os moradores do instituto de longa permanência. Isso foi feito por meio da implementação de ferramentas adequadas no ambiente e da promoção da saúde, por meio da capacitação dos cuidadores sobre práticas preventivas. As atividades planejadas incluíram a disseminação de conhecimento e a troca de experiências entre discentes e profissionais responsáveis pelo cuidado dos idosos, promovendo um espaço de aprendizado e reflexão. 

As atividades desenvolvidas, que incluíram a instalação de fitas e tapetes antiderrapantes, além da sinalização de degraus e áreas de risco, foram bem recebidas pelos profissionais e idosos, despertando reflexões sobre a importância da adaptação do ambiente para a segurança dessa população.

Durante o planejamento das atividades, esperava-se que as capacitações oferecidas aos cuidadores resultassem em um compartilhamento ativo de conhecimentos, gerando discussões e troca de experiências. No entanto, observou-se que a sobrecarga de trabalho dos profissionais limitou a participação plena nesses momentos educativos. Esse achado reforça desafios já descritos na literatura, que apontam a dificuldade de engajamento de cuidadores em treinamentos devido à rotina intensa em instituições de longa permanência (SILVA,2015).

Apesar dessa limitação, a instalação dos materiais preventivos despertou grande interesse entre os cuidadores, que demonstraram curiosidade em compreender a importância dos recursos implementados. O uso de sinalizações visuais, como placas azuis para alertar sobre degraus e fitas vermelhas para indicar desníveis, mostrou-se uma estratégia de fácil adesão e impacto imediato. De acordo com Urbanetto (2019), adaptações ambientais desempenham um papel essencial na prevenção de quedas, especialmente em locais frequentados por idosos com mobilidade reduzida, o que está alinhado com os resultados obtidos no projeto.

Além das melhorias estruturais, a entrega de panfletos informativos aos cuidadores e a realização de uma dinâmica de conscientização estimularam a reflexão sobre a necessidade de integrar ações preventivas à rotina do abrigo. Ao final das atividades, os profissionais manifestaram o compromisso de aplicar as orientações recebidas, reforçando a importância de estratégias contínuas de capacitação para a eficácia a longo prazo das intervenções.

Os achados do projeto também corroboram estudos que indicam a elevada incidência de quedas em instituições de longa permanência, muitas vezes associada à falta de adaptações no ambiente e à necessidade de maior conscientização dos cuidadores, conforme apontado por Siqueira et al. (2012). Além disso, pesquisas da Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade (FUNATI) destacam que programas de treinamento contínuo e a integração de equipes multiprofissionais podem contribuir significativamente para a redução de acidentes e a melhoria da qualidade de vida dos idosos.

Assim, embora desafios tenham sido identificados, como a dificuldade de envolvimento dos cuidadores devido à sobrecarga de trabalho, os resultados do projeto reforçam que adaptações de baixo custo, aliadas a estratégias educativas, são fundamentais para a criação de um ambiente mais seguro para os idosos. 

4. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseando-se na experiência e nos resultados expostos, conclui-se que a importância do conhecimento tanto do uso das ferramentas de prevenção a queda, quanto o ensino correto e adequado de como previnir, são imprescíndiveis nos abrigos que acolhem e cuidam dos idosos. Tais materais e ensinamentos colaboraram para que o objetivo do relato fosse atingido, proporcionando uma experiência única e marcante, para as acadêmicas responsáveis e aos idosos e cuidadores do instituto. O projeto permitiu inferir que a construção da saúde junto a população é um conceito amplo e abrange não somente competências técnicas, mas também ambientais e sociais.

REFERÊNCIAS

BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, 2012. BERBEL, Neusi Aparecida Navas. Estratégias de ensino-aprendizagem. 32. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012.

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADE (FUNATI). Programa de prevenção de quedas para idosos institucionalizados. Manaus: FUNATI, 2018.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estatuto da Pessoa Idosa. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.

PAPALÉO NETTO, M. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 2006.

PEREIRA, S. R. M.; BATISTA, C.; DUARTE, Y. A. O impacto das quedas na funcionalidade de idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. e190235, 2019.

REBELATTO, J. R.; MORELLI, J. G. Fisioterapia Geriátrica: a prática da assistência ao idoso. Barueri: Manole, 2007.

SIQUEIRA, F. V. et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 41, n. 5, p. 749-756. 2012 

SILVA, Irma Lúcia da Silveira. Formação profissional do cuidador de idosos em instituições de longa permanência. 2015. 118 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.

STEFANACCI, R. G. Considerações gerais sobre o envelhecimento. 2019 VIEGAS, Laura Maria Monteiro et al. Prevenção de quedas nos idosos. 2020. Tese de Doutorado

URBANETTO, J. de S. et al. Fatores associados à ocorrência de quedas em idosos institucionalizados: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, e190029, 2019. 


¹Medicina, Faculdade Santa Teresa, Manaus-Amazonas, yyasmimcristina@gmail.com