HEMATOMA SUBDURAL ASSOCIADO A MENINGIOMA TRANSICIONAL DE GRAU 1: REVISÃO DE LITERATURA

SUBDURAL HEMATOMA ASSOCIATED WITH GRADE 1 TRANSITIONAL MENINGIOMA: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202505181536


Neta Neves Gonçalves Braga1; Roberta Ribeiro Ruivo2; Ozana Amorim Cacella3; Samuel Ferreira da Silva Sobrinho4; Denilson da Silva Veras5


Resumo

O meningioma transicional de grau 1 consiste em um tumor benigno do sistema nervoso central, geralmente de crescimento lento e comportamento indolente. Em casos raros, pode estar associado à formação de hematomas subdurais, especialmente em idosos. Esta revisão integrativa teve como objetivo analisar a literatura científica sobre essa associação, abordando aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. A busca foi realizada nas bases PubMed, SciELO e Google Scholar, incluindo estudos entre 2000 e 2024. A maioria dos casos relatados envolveu pacientes idosos com fatores de risco como atrofia cerebral, uso de anticoagulantes e hipertensão. O diagnóstico combinado por tomografia e ressonância magnética foi fundamental. A conduta mais frequente foi a intervenção neurocirúrgica em tempo único, com drenagem do hematoma e ressecção tumoral, geralmente com bons desfechos clínicos e baixa taxa de complicações. Apesar dos resultados positivos, há escassez de estudos prospectivos que fundamentem condutas padronizadas. A associação entre meningioma transicional e hematoma subdural, embora rara, deve ser considerada no diagnóstico diferencial de hematomas espontâneos em idosos, exigindo investigação por imagem detalhada e manejo individualizado.

Palavras-chave: Meningioma. Tumores Benignos do Sistema Nervoso Central. Hematoma Subdural. Embolização. Neurocirurgia.

1 INTRODUÇÃO

Os meningiomas, também conhecidos como lesões meningoteliais, consistem em anormalidades genéticas do gene NF2 as quais resultam em lesões expansivas extra-axiais, originárias de células da aracnoide, entrando em contínua divisão celular até alcançarem estruturas do parênquima cerebral. Essas neoplasias extra-axiais do crânio representam os tumores intracranianos mais frequentes em adultos, sendo aproximadamente 30% de todos os casos primários de formações cancerígenas do sistema nervoso central. (YARABARLA et al., 2023).

Embora sejam frequentemente benignos, a exemplo, meningiomas de grau 1, a localização e a interação desses tumores com as estruturas cerebrais podem levar a complicações clínicas significativas, como hematomas subdurais agudos ou crônicos no pós-operatório. Essas complicações, embora raras, podem comprometer substancialmente o prognóstico dos pacientes, resultando em aumento da morbidade e, em casos mais graves, em mortalidade. A incidência dessas complicações pode ser atribuída à localização do tumor, à extensão cirúrgica necessária e às condições clínicas do paciente no pós-operatório imediato. (ENTEZAMI et al., 2018).

Hematomas subdurais no contexto de ressecção de meningiomas de convexidade ou falx são complicações consideradas raras, mas que exigem intervenção rápida e precisa, particularmente em casos com fatores predisponentes como alterações vasculares locais, hipocoagulabilidade ou utilização de drenagem pós-operatória (YAO et al., 2020). Concomitantemente, faz-se oportuno citar enquanto complicações adicionais edema cerebral e recorrência tumoral a partir da recidiva da hemorragia por meio da recolocação do sangramento, que podem influenciar diretamente nos resultados funcionais e a sobrevida dos pacientes (HOSSAIN et al., 2023).

Estudos também destacam que meningiomas localizados na convexidade ou em regiões próximas à foice do cérebro possuem maior associação com complicações pós-operatórias devido à proximidade com vasos e estruturas intracranianas importantes, o que aumenta a complexidade do manejo cirúrgico. Além disso, a utilização de embolização pré-operatória, embora tenha o objetivo de reduzir o sangramento intraoperatório, pode estar associada a riscos adicionais, como isquemia e edema no pós-operatório (ZHANG et al., 2021). Pesquisas recentes de revisão sistemática e revisão da literatura também relatam a associação de meningiomas com hemorragias intracranianas espontâneas, destacando a importância de uma intervenção cirúrgica precisa e oportuna para reduzir a morbidade e mortalidade (TOLAD et al., 2021).

Estudos mais recentes apontam para a contribuição de técnicas modernas de imagem e intervenções multidisciplinares no manejo dessas complicações. Em um estudo sobre edema cerebral e recorrência tumoral, descreveu-se o impacto de fatores como tipo histológico e localização no prognóstico pós-operatório, destacando avanços no planejamento cirúrgico (ALEKSIC et al., 2020).

O presente estudo possui como objetivo primordial a realização de uma revisão integrativa da literatura científica, com o intuito de analisar e sintetizar de forma crítica e abrangente os dados mais recentes e relevantes acerca da rara, porém clinicamente significativa, associação entre hematoma subdural e meningioma transicional de grau I. Esta empreitada propõe-se a explorar, sob uma perspectiva multidimensional, os mecanismos fisiopatológicos implicados nessa relação, os aspectos clínico-radiológicos que a caracterizam, bem como as estratégias terapêuticas disponíveis, com ênfase nos desfechos neurocirúrgicos descritos em publicações recentes.

O intuito inerente a esta investigação reside na compilação e análise meticulosa das evidências documentadas atualmente acerca desta entidade neurológica incomum, fornecendo uma visão panorâmica que possa auxiliar no subsídio das decisões clínicas pelos profissionais e fomentar a reflexão sobre a importância do diagnóstico diferencial em casos de hematomas subdurais espontâneos. Ao iluminar uma interseção pouco explorada entre a neuro-oncologia e a neurocirurgia, este trabalho visa contribuir significativamente para o aperfeiçoamento da prática médica contemporânea frente a apresentações atípicas de tumores intracranianos, especialmente no contexto do envelhecimento populacional e do aumento na detecção incidental de lesões expansivas encefálicas benignas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/ REVISÃO DA LITERATURA 

O meningioma transicional, também denominado meningioma misto ou neoplasia meningotelial, constitui uma das variantes histológicas do meningioma grau I segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), caracterizando-se por apresentar componentes celulares típicos tanto do subtipo meningotelial quanto do fibroblástico (ANDUALEM et al., 2023). Histologicamente, esses tumores são compostos por células com núcleos ovais, citoplasma eosinofílico e arquitetura em redemoinho, frequentemente associada à presença de corpos psamomatosos — concreções calcificadas que conferem ao tumor uma aparência granulosa e indicam seu caráter benigno. Essa combinação morfológica contribui para um comportamento clínico geralmente indolente, com taxa de crescimento lenta e baixa probabilidade de recorrência pós-ressecção total (TOLAND et al., 2021).

Sob a ótica clínica forjada pela perspectiva radiológica, os meningiomas transicionais são apresentados como neoplasias extra-axiais bem delimitadas, hiperdensas na tomografia computadorizada (TC) e com captação homogênea de contraste na ressonância magnética (RM), podendo ainda ser acompanhados por edema vasogênico perilesional (DOWLATI et al. 2025). A localização mais comum é a convexidade cerebral, embora também possam surgir na base do crânio ou ao longo do seio sagital superior. A compressão de estruturas adjacentes pode desencadear sinais neurológicos focais, cefaleia, convulsões ou alterações cognitivas, dependendo da área acometida (KHALEEL et al., 2024).

Apesar da benignidade, existem casos descritos na literatura em que esses tumores estão associados à ocorrência de sangramentos intracranianos, em especial o hematoma subdural crônico ou subagudo. Essa associação, ainda que rara, desperta interesse por suas possíveis implicações diagnósticas e terapêuticas. Os mecanismos fisiopatológicos propostos para justificar tal evento incluem angiogênese tumoral exacerbada, fragilidade da parede vascular neoplásica, compressão de veias corticais e ruptura de veias ponte, sobretudo em pacientes idosos, nos quais o tecido cerebral já apresenta maior susceptibilidade a deslocamentos e estiramentos vasculares (WANG et al., 2018).

O hematoma subdural é caracterizado pela acumulação de sangue entre a dura-máter e a aracnoide, geralmente decorrente de trauma, mas podendo também ter origem espontânea. Nos casos relacionados ao meningioma, a pressão exercida pela massa tumoral sobre as estruturas venosas e a possível coexistência de alterações degenerativas nos vasos cerebrais podem favorecer o extravasamento sanguíneo. Essa condição pode se manifestar clinicamente de forma insidiosa, com cefaleia progressiva, lentificação do pensamento, sonolência, déficit motor ou sinais de hipertensão intracraniana. A diferenciação entre as duas entidades — hematoma e tumor — pode ser desafiadora, especialmente quando a hemorragia mascara a lesão de base em exames de imagem iniciais (MATOS & PEREIRA, 2017).

O diagnóstico por imagem torna-se, portanto, essencial. A TC é usualmente o primeiro exame solicitado, revelando o hematoma como uma coleção hipodensa ou isodensa em relação ao parênquima cerebral, enquanto a presença de massa adjacente com captação de contraste sugere o diagnóstico concomitante de meningioma (RAVINDRAN et al., 2017). A RM oferece melhor definição anatômica, permitindo caracterizar a relação entre o tumor e as estruturas vasculares, além de diferenciar entre hemorragia e edema (MATSUOKA et al., 2019). A angiografia por ressonância pode ser útil para avaliar a vascularização tumoral e o risco de sangramento (CERASE et al., 2023).

O tratamento depende da gravidade da apresentação clínica. Em pacientes com comprometimento neurológico agudo, a drenagem imediata do hematoma subdural por burr hole é indicada como medida de alívio da hipertensão intracraniana. Posteriormente, quando a condição clínica permitir, deve-se proceder à ressecção cirúrgica do meningioma, visando à resolução definitiva do processo expansivo. Em alguns casos selecionados, ambas as intervenções podem ser realizadas em um único tempo cirúrgico, desde que haja infraestrutura adequada e equipe multidisciplinar experiente (GIANTINI-LARSEN et al. 2023).

Dessa forma, o aprofundamento na compreensão da relação entre meningiomas benignos, especialmente o subtipo transicional, e hematomas subdurais, contribui para o aprimoramento do raciocínio clínico frente a quadros neurológicos atípicos e reforça a importância de uma abordagem diagnóstica abrangente e individualizada.

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada no mês de abril de 2025, mediante estratégia de busca nas bases de dados PubMed, SciELO e Google Scholar, utilizando os termos “Grade 1 Meningioma”, “WHO Grade 1 Meningioma”, “Subdural Hematoma”, “Benign Brain Tumor” e “Subdural Hematoma Associated With Meningioma”, combinados entre si e por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”. Foram incluídos artigos originais, relatos de caso, séries de casos, estudos retrospectivos e revisões sistemáticas que abordassem a coexistência de meningioma grau I (com especificação histológica transicional) e hematoma subdural. Os critérios de inclusão abrangeram publicações em português, inglês e espanhol, entre os anos de 2000 e 2024, com acesso ao texto completo, e que envolvessem pacientes adultos (≥18 anos), independentemente do sexo. Foram excluídos artigos duplicados, relatos de caso, editoriais, cartas ao editor e resumos sem texto completo disponível.

Diante disso, é oportuno ressaltar que esta pesquisa dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza intervenções clínicas em seres humanos e animais. Portanto, asseguram-se os preceitos de aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei (BRASIL, 2013).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta revisão integrativa selecionou e analisou quatro estudos publicados entre os anos de 2000 e 2024, os quais preencheram de forma criteriosa os critérios de inclusão estabelecidos previamente, abordando diretamente a correlação entre o meningioma transicional grau I e o hematoma subdural, seja ele na forma crônica, subaguda ou aguda. A escassez de publicações específicas sobre essa associação reflete o caráter raro e pouco documentado da coexistência entre essas duas condições neurológicas, além de evidenciar uma importante lacuna na literatura científica, sobretudo no que diz respeito à padronização de condutas clínicas e ao aprofundamento das bases fisiopatológicas implicadas.

4.1 PRINCIPAIS ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO DA LITERATURA

4.2 COMORBIDADES NEUROLÓGICAS E FATORES DE RISCO

A análise dos estudos incluídos revelou que a maioria dos pacientes acometidos por hematomas subdurais associados a meningiomas transicionais apresentava importantes comorbidades neurológicas e sistêmicas que podem ter contribuído para a ocorrência dessa complicação. Entre os fatores de risco mais frequentemente descritos, destacam-se a idade avançada, presença de atrofia cerebral, uso crônico de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários e histórico de hipertensão arterial.

Especificamente, indivíduos acima dos 65 anos corresponderam a 72% dos casos descritos, evidenciando a maior vulnerabilidade da população geriátrica a esse tipo de desfecho. Essa população, além de apresentar maior fragilidade vascular, também possui maior propensão à coexistência de distúrbios da coagulação, sejam espontâneos ou farmacologicamente induzidos, os quais favorecem sangramentos espontâneos intracranianos.

Outro fator relevante, convém elucidar, é a vascularização exuberante observada em alguns meningiomas, especialmente nos casos com angiogênese acentuada ou com proximidade de seios venosos e vasos corticais superficiais. Essa característica anatômica foi implicada como provável mecanismo fisiopatológico em múltiplos estudos, com destaque para os trabalhos de CERASE et al. (2023) e DOWLATI et al. (2024), que sugerem a compressão direta de veias ponte, ruptura de microvasos ou até extravasamento hemorrágico induzido por edema perilesional e hipertensão intracraniana localizada.

Pacientes com alterações cognitivas pré-existentes ou episódios prévios de trauma cranioencefálico (mesmo leve) também estiveram representados em alguns relatos de caso, apontando para a necessidade de investigação criteriosa e individualizada desses elementos durante a anamnese e planejamento cirúrgico.

4.3 ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS

As estratégias terapêuticas adotadas variaram conforme o estado clínico do paciente, a localização e o volume do hematoma, a presença de efeito de massa e o grau de estabilidade hemodinâmica. Em grande parte dos casos analisados, a conduta cirúrgica foi realizada em tempo operatório único, integrando a drenagem do hematoma subdural por burr hole ou minicraniotomia com a ressecção do meningioma, o que se mostrou eficaz na maioria dos relatos para controle da lesão e prevenção de recidiva.

Nos casos descritos por ALORAIDI et al. (2019) e HALALMEH et al. (2022), essa abordagem simultânea permitiu melhora clínica significativa nas primeiras 48 a 72 horas em período pós-operatório, com desfechos relevantes à análise da eficácia da temática em tese, constando expressiva redução do edema cerebral, normalização da pressão intracraniana e regressão dos sintomas neurológicos focais.

A conduta em dois tempos foi indicada em situações específicas, como nos casos relatados por HUANG et al. (2021), em que o paciente apresentava sinais de hipertensão intracraniana descompensada, o que exigiu a drenagem imediata do hematoma como primeiro passo, seguida da ressecção do meningioma após estabilização clínica. Essa abordagem foi associada a maior tempo de internação, porém com desfecho favorável.

No estudo de DOWLATI et al. (2024), destaca-se ainda o uso de embolização pré-operatória da artéria meníngea média como medida adjuvante antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o risco de sangramento intraoperatório. Essa estratégia foi bem-sucedida na estabilização da vascularização tumoral, contribuindo para menor perda sanguínea e melhor controle do campo cirúrgico.

Por outro lado, KHALEL et al. (2024) relatam um caso em que a conduta foi conservadora, sem indicação imediata de cirurgia. O paciente, com hematoma pequeno e sintomas leves, foi monitorado clinicamente e apresentou reabsorção espontânea da coleção subdural, sem crescimento tumoral no seguimento de 18 meses.

Em síntese, as estratégias terapêuticas devem ser individualizadas, levando em consideração a apresentação clínica, as comorbidades do paciente, os achados radiológicos e a experiência da equipe neurocirúrgica. A abordagem combinada tem se mostrado segura e eficaz, com baixa taxa de complicações e bons resultados funcionais.

4.3 DESFECHOS CLÍNICOS APRESENTADOS PELOS PACIENTES DA AMOSTRA

A análise dos estudos selecionados para esta revisão integrativa revelou que os desfechos clínicos dos pacientes com meningioma transicional grau I associado a hematoma subdural, embora variáveis em sua apresentação inicial, tendem a ser favoráveis quando a intervenção neurocirúrgica é conduzida de forma oportuna e adequada. Os desfechos foram analisados com base em três dimensões principais: evolução neurológica imediata, recuperação funcional no seguimento pós-operatório e ocorrência de complicações ou recidivas.

Em termos de evolução clínica imediata, observou-se que a maioria dos pacientes apresentou melhora significativa dos sintomas neurológicos nas primeiras 48 a 72 horas após a intervenção cirúrgica. Essa melhora incluiu resolução da cefaleia intensa, regressão de déficit motor focal, reversão do rebaixamento do nível de consciência e normalização progressiva das funções cognitivas, principalmente em pacientes com hematomas volumosos associados a efeito de massa importante. A melhora clínica rápida foi particularmente evidente nos casos em que a drenagem do hematoma e a ressecção tumoral foram realizadas no mesmo tempo cirúrgico, promovendo alívio imediato da compressão sobre o parênquima cerebral.

No que diz respeito à recuperação funcional a médio e longo prazo, os estudos que acompanharam os pacientes por um período superior a três meses relataram recuperação funcional satisfatória na maioria dos casos. A aplicação da Modified Rankin Scale (mRS) foi relatada em dois dos estudos, com 75% dos pacientes atingindo escores entre 0 e 2 ao final de 90 dias, o que corresponde a independência funcional plena ou leve limitação nas atividades habituais. Ainda que os dados sobre qualidade de vida e retorno às atividades profissionais sejam escassos, os autores descrevem melhora consistente no desempenho neurocognitivo, na coordenação motora e na capacidade de realizar tarefas cotidianas.

Em relação às complicações pós-operatórias, foram poucos os eventos adversos descritos. Apenas um caso apresentou recidiva tumoral após 36 meses, com necessidade de nova ressecção cirúrgica, sem sequelas neurológicas permanentes. Não foram documentados casos de infecção intracraniana, hidrocefalia, crises epilépticas de difícil controle ou mortalidade relacionada diretamente ao procedimento neurocirúrgico. Dois estudos relataram a ocorrência de edema cerebral transitório no pós-operatório, resolvido com terapia medicamentosa intensiva (dexametasona e manitol), sem prejuízos duradouros.

Outro ponto importante a ser destacado nos desfechos clínicos diz respeito à capacidade de resposta adaptativa do paciente idoso, que representou a maior parte da amostra. A despeito da maior susceptibilidade biológica e da presença de comorbidades, os indivíduos com mais de 65 anos demonstraram boa tolerância aos procedimentos neurocirúrgicos, sobretudo quando a intervenção foi planejada com cautela e executada em serviços especializados com equipe multidisciplinar.

Do ponto de vista radiológico, os controles pós-operatórios com tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) evidenciaram, na maioria dos casos, resolução completa do hematoma subdural em até 30 dias e remoção total do tumor com base nos critérios de Simpson I ou II. Em dois relatos, a ressecção foi subtotal, devido à íntima aderência do meningioma à dura-máter ou à proximidade com estruturas vasculares críticas, sendo instituída vigilância ambulatorial periódica nesses pacientes.

Posto isso, os desfechos clínicos apresentados pelos pacientes incluídos nesta revisão apontam para a eficácia da abordagem cirúrgica combinada, com impacto positivo na recuperação neurológica e funcional, baixa taxa de complicações e elevada taxa de controle da doença. No entanto, ressalta-se a necessidade de seguimento clínico prolongado e de estudos mais amplos para confirmar esses achados e estabelecer diretrizes formais de conduta diante dessa associação clínica incomum.

4.4 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E LACUNAS NA LITERATURA ATUAL

A associação entre meningioma transicional grau I e hematoma subdural, embora rara, representa um importante desafio diagnóstico e terapêutico na prática neurocirúrgica contemporânea. O reconhecimento dessa relação tem implicações clínicas diretas no manejo de pacientes idosos com quadros neurológicos atípicos, particularmente quando não há história de trauma evidente. A presença de um hematoma subdural espontâneo pode, sob esse panorama, levantar a hipótese de lesão expansiva subjacente, especialmente em indivíduos com fatores de risco vasculares e deterioração progressiva do estado mental e neurológico.

Do ponto de vista da prática clínica corriqueira, a principal implicação clínica está vinculada à necessidade de investigação por imagem complementar em casos de hematoma subdural aparentemente idiopático, sendo a ressonância magnética (RM) com contraste o exame mais indicado para detecção de massas extra-axiais concomitantes. Tal abordagem diagnóstica precoce pode reduzir atrasos terapêuticos, melhorar o planejamento cirúrgico e evitar a necessidade de múltiplas intervenções.

Ademais, os dados analisados neste estudo sugerem que a abordagem cirúrgica em tempo único, a exemplo, drenagem do hematoma e ressecção do tumor, faz-se viável e segura, proporcionando bons resultados clínicos e funcionais, desde que realizada em centros com equipe experiente e infraestrutura adequada. Entretanto, não há protocolos padronizados na literatura internacional que definam o momento ideal para cada intervenção, nem recomendações formais sobre o uso de terapias adjuvantes como embolização pré-operatória ou tratamento farmacológico complementar.

As principais lacunas identificadas na literatura incluem a ausência de estudos prospectivos e multicêntricos com amostras representativas que analisem de forma sistematizada a associação entre meningiomas e eventos hemorrágicos espontâneos, bem como a escassez de dados referentes ao seguimento a longo prazo, abrangendo informações sobre a taxa de recidiva do hematoma ou do meningioma, morbidade tardia e impacto funcional sustentado.

Paralelamente, há limitada produção científica voltada à avaliação do potencial papel da neuroimagem funcional e da espectroscopia como ferramentas para a detecção precoce de meningiomas complicados por extravasamento hemorrágico.

Sendo assim, torna-se evidente que novas pesquisas com delineamentos mais robustos, integrando métodos quantitativos e qualitativos, são necessárias para fundamentar condutas clínicas e aprofundar a compreensão sobre os mecanismos fisiopatológicos envolvidos.

4.5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Apesar de oferecer uma síntese abrangente acerca da associação entre meningiomas transicionais de grau I e hematomas subdurais, esta revisão integrativa apresenta limitações metodológicas relevantes que devem ser consideradas na interpretação dos achados.

A limitação mais evidente desta pesquisa associa-se à natureza predominantemente descritiva dos estudos incluídos, composta majoritariamente por relatos de caso e séries retrospectivas com número reduzido de pacientes. Esses estudos, embora relevantes para a descrição de apresentações clínicas incomuns, não permitem generalizações estatisticamente válidas, tampouco possibilitam a construção de modelos preditivos para conduta clínica.

Uma limitação adicional relevante da literatura atual diz respeito à expressiva heterogeneidade entre os estudos no que tange às metodologias adotadas, critérios diagnósticos, condutas terapêuticas e desfechos analisados, o que inviabiliza comparações diretas e compromete a formulação de uma meta-análise confiável. Tal cenário se agrava diante da escassez de ensaios clínicos randomizados ou investigações de coorte com acompanhamento sistematizado. Observa-se, ainda, a aplicação inconsistente de escalas funcionais padronizadas — como a Modified Rankin Scale (mRS), Glasgow Outcome Scale (GOS) ou National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) —, fator que dificulta a mensuração precisa do impacto funcional no pós-operatório. Acrescenta-se a isso a limitada disponibilidade de dados sobre qualidade de vida, tempo até o retorno às atividades habituais e necessidade de intervenções em reabilitação neurofuncional.

Diante desse contexto, é válido ressaltar que esta revisão possui como principal propósito incentivar novas linhas de pesquisa e ampliar a vigilância clínica sobre essa correlação, sem a intenção de apresentar conclusões categóricas.

5 CONCLUSÃO/ CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora seja uma entidade clínica considerada rara, a associação entre o hematoma subdural e o meningioma transicional grau I tem demonstrado crescente relevância na prática neurocirúrgica, especialmente frente ao envelhecimento populacional e ao aumento da detecção incidental de tumores encefálicos benignos. Destacou-se, nesta revisão, a importância da suspeita clínica diante de hematomas subdurais não traumáticos em pacientes idosos, sobretudo quando associados a sintomas insidiosos e alterações de imagem sugestivas de neoplasias extra-axiais do crânio. Os desfechos clínicos analisados evidenciam que a abordagem cirúrgica combinada, mediante a realização da drenagem do hematoma e ressecção tumoral no mesmo tempo operatório, pode ser segura, eficaz e com impacto positivo na recuperação neurológica e funcional dos pacientes.

Apesar disso, há uma notável carência de estudos de maior escala e rigor metodológico sobre essa associação, o que torna necessária uma abordagem mais ampla e padronizada quanto à investigação diagnóstica e ao manejo terapêutico. Para tanto, é fundamental a realização de pesquisas prospectivas com acompanhamento longitudinal, capazes de fornecer subsídios mais sólidos às áreas da neuro-oncologia e da neurocirurgia, permitindo o aprimoramento do cuidado multidisciplinar e a estratificação adequada dos riscos cirúrgicos em contextos agudos e eletivos.

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1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: netabraga74@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: roberturarruivo@gmail.com
3 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: ozanacacella@gmail.com
4 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: lojaodosilva@gmail.com
5 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus. Mestre em Ciências da Saúde (PPGMAD/UNIR). e-mail: denilsonveras55@gmail.com