REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505180209
Júlia Agnes Cordeiro Guerra1
Cláudia Cordeiro Guerra1
Tâmara de Souza Silva1
Isaac Prado Ramos2
Harbi Amjad Nabih Othman3
RESUMO
A pandemia do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) permanece como um desafio global de saúde pública desde a sua emergência na década de 80. Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) desempenham um papel fundamental na abordagem do HIV, oferecendo serviços de testagem, aconselhamento, tratamento e acompanhamento. Diante disso, o estudo visa analisar o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com HIV atendidos no CTA em Marabá, Pará, no período de 2020 a 2024. Utilizando uma abordagem longitudinal, retrospectiva e observacional, serão analisados dados secundários obtidos dos registros dos usuários cadastrados no sistema informatizado do CTA. A população estudada incluirá pacientes diagnosticados com HIV/Aids durante o período mencionado. Os dados serão coletados através de relatórios analíticos fornecidos pelo CTA, e serão analisados utilizando software estatístico. O estudo visa fornecer insights sobre a distribuição demográfica dos casos de HIV, acesso aos serviços de saúde e impacto das políticas de saúde relacionadas ao HIV em Marabá, além de servir de base para as práticas de promoção da saúde e prevenção da doença.
Palavras-chave: AIDS. Centro de Testagem e Aconselhamento. HIV. Epidemiologia.
ABSTRACT
The human immunodeficiency virus (HIV) and acquired immunodeficiency syndrome (AIDS) pandemic has remained a global public health challenge since its emergence in the 1980s. Testing and Counseling Centers (CTA) play a key role in addressing HIV, offering testing, counseling, treatment, and follow-up services. In view of this, the study aims to analyze the epidemiological profile of patients diagnosed with HIV treated at the CTA in Marabá, Pará, from 2020 to 2024. Using a longitudinal, retrospective, and observational approach, secondary data obtained from the records of users registered in the CTA’s computerized system will be analyzed. The study population will include patients diagnosed with HIV/AIDS during the aforementioned period. Data will be collected through analytical reports provided by the CTA, and will be analyzed using statistical software. The study aims to provide insights into the demographic distribution of HIV cases, access to health services, and the impact of HIV-related health policies in Marabá, as well as to serve as a basis for health promotion and disease prevention practices.
Keywords: AIDS. Testing and Counseling Center. HIV. Epidemiology.
1. Introdução
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) pertence à família retroviridae e gênero lentivírus, sendo categorizado como um retrovírus (vírus de RNA), possuindo duas classificações antigênicas: HIV-1 e HIV-2. O HIV tem a capacidade de atacar o sistema imune dos indivíduos debilitando-os e causando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e facilitando o aparecimento de outras doenças oportunistas, como Tuberculose, Pneumocistosee Neurocriptococose. A transmissão acontece das seguintes formas: relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de agulhas ou instrumentos sem esterilização e congênita (Relvas, 2018; Souza, 2019).
O HIV pode apresentar uma variedade de sintomas em diferentes estágios da infecção. Nos estágios iniciais, os sintomas podem ser semelhantes aos da gripe, como febre, dores de cabeça, dores musculares e fadiga. Esses sintomas podem desaparecer após alguns dias, mas a infecção continua a progredir (Rozeira et al., 2024). Desde os primeiros casos identificados em 1981, a AIDS se tornou uma pandemia global. Inicialmente, a doença era associada a grupos específicos, como homossexuais, hemofílicos, haitianos, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. No entanto, ao longo dos anos, a doença se disseminou por diferentes grupos populacionais, afetando pessoas de todas as camadas sociais, idades, gêneros e raças (Bezerra, 2019).
O HIV é reconhecido como um problema de saúde pública global devido ao seu impacto significativo na morbidade e mortalidade. Conforme o boletim epidemiológico HIV/AIDS de 2020 cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Sendo que dessas, 89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável. Em comparação com o novo Boletim Epidemiologico de 2023 foram notificados no Sinan de 2021- 2023 106.316 mil novos casos no Brasil (Brasil, 2023).
O estado do Pará ocupa o segundo lugar no Brasil em número de mortes relacionadas ao HIV/Aids, de acordo com o Ministério da Saúde. A falta de informação e os descuidos são apontados como principais causas de contaminação pelo vírus (Martinho et al., 2021). De acordo com o Boletim Epidemiológico Especial HIV/Aids, o município de Marabá ocupa a 49º colocação entre os 100 municípios com mais de 100.000 habitantes com maior taxa de incidência do país, segundo índice composto no período de 2017 a 2021. Além disso, entre os anos de 2010 e 2020 foram registrados aproximadamente 686 casos de HIV/Aids, sendo 57,55% homens e 42,45% mulheres (Brasil, 2020).
Embora o HIV/Aids não tenha cura, o tratamento é capaz de prolongar e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além de reduzir as chances de transmissão do vírus. Desde 1996, a Lei 9.313 assegura a distribuição gratuita de medicamentos para todos os portadores de HIV/Aids no Brasil. O acompanhamento por uma equipe multiprofissional é essencial, considerando as necessidades individuais de cada paciente. Por exemplo, o suporte psicológico pode auxiliar na maneira como o paciente lida com o sofrimento emocional, melhorando sua qualidade de vida e suas relações interpessoais (Do Couto et al., 2023).
No Brasil, os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) foram estabelecidos na segunda metade dos anos 1990 para substituir os antigos Centros de Orientação e Apoio Sorológico (COAS). Eles se tornaram pontos de referência para acesso universal a testes e aconselhamento relacionados ao HIV/AIDS e outras ISTs para a população em geral. Esses centros têm como objetivo principal garantir o acesso da população a medidas preventivas e diagnósticas de infecções sexualmente transmissíveis, contribuindo para a redução das vulnerabilidades. São reconhecidos pela confidencialidade e eficácia dos serviços prestados (Da Costa et al., 2020). Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) realizam testes laboratoriais para o diagnóstico sorológico do HIV, sífilis e hepatites, incluindo exames de triagem como ELISA e VDRL, seguidos por exames de confirmação para hepatites B e C. Além disso, oferecem testes rápidos anti-HIV como estratégia para ampliar o acesso aos serviços e resolver possíveis problemas relacionados a falhas laboratoriais (De Paula; Zambenedetti, 2022).
Com isso, entender o atual perfil epidemiológico do HIV na região em comparação com o Brasil é de extrema relevância para o melhoramento de estratégias de prevenção. Desse modo, o objetivo deste estudo consiste em descrever o perfil epidemiológico das pessoas que vivem com HIV acompanhadas no CTA no município de Marabá-PA no período de 2019 a 2024 e o desenvolvimento de práticas socioeducativas e preventivas para a comunidade do município.
2. Fundamentação Teórica
2.1 HIV
Na década de 80, o surgimento do HIV desencadeou a pandemia global da AIDS, inicialmente identificada entre homens homossexuais nos EUA e registrada no Brasil em 1982. Desde então, a AIDS tornou-se uma das pandemias mais prolongadas da história, com cerca de 36,9 milhões de casos em 2017 (Silva, 2022). O HIV, um retrovírus que requer a enzima transcriptase reversa para replicação, infecta linfócitos T CD4 e é transmitido principalmente por relações sexuais desprotegidas e contato com sangue contaminado. O processo de infecção passa por várias fases, incluindo infecção aguda, fase assintomática e AIDS. Durante a infecção aguda, o diagnóstico precoce é desafiador devido à baixa suspeição, com uma janela imunológica de 5 a 30 dias. A infecção ocorre quando a glicoproteína do envelope viral se liga ao CD4 e a um co-receptor de quimiocinas, permitindo a entrada das partículas virais no organismo (Melo et al., 2018; Brasil, 2013; Neto et al., 2021).
Os sintomas geralmente surgem durante o pico da viremia e da atividade imunológica, variando de um quadro gripal a uma síndrome mononucleoselike. Além dos sintomas típicos de infecção, os pacientes podem apresentar manifestações inespecíficas do HIV, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, exantema eritematoso, ulcerações mucocutâneas, hiporexia, cefaleia, fotofobia, hepatosplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos (Tabosa, 2020).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 14 mil pessoas são infectadas pelo HIV diariamente desde o início da pandemia, e estima-se que 20 milhões de pessoas venham a falecer devido às complicações da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Até 2013, o HIV deixou aproximadamente 25 milhões de crianças órfãs globalmente, com previsão da OMS de que 70 milhões de pessoas estarão infectadas se políticas públicas e ações de saúde adequadas não forem implementadas (Brasil, 2017).
A pandemia do HIV continua sendo a mais mortal da atualidade, com aproximadamente 79 milhões de pessoas infectadas e sem vacina ou cura disponível. Cerca de 36 milhões de pessoas morrem de doenças relacionadas à AIDS, enquanto 38 milhões vivem com HIV em 2020, com 28 milhões em tratamento antirretroviral, que não só mantém a saúde e a qualidade de vida, mas também bloqueia a transmissão do vírus (UNAIDS, 2019).
Em 2020, houve uma redução de 52% no índice de novas infecções em comparação ao pico em 1997, com um número significativo de novas infecções entre mulheres e meninas, além de uma redução de 53% nas infecções entre crianças. O risco de adquirir o HIV é particularmente elevado entre grupos vulneráveis, como a comunidade LGBTQIAP+, usuários de drogas e profissionais do sexo, com até 65% dos diagnósticos ocorrendo nesses grupos. Especificamente, homens homossexuais, outros homens que fazem sexo com homens e mulheres trans enfrentam um risco até 25 e 34 vezes maior, respectivamente, de adquirir o HIV (UNAIDS, 2021).
Em 2017, o município de Marabá registrou um aumento significativo no número de pessoas infectadas pelo vírus HIV, totalizando 215 novos casos que começaram o acompanhamento no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) local. Esse aumento reflete uma tendência preocupante, coincidindo com um aumento mais amplo no número de casos no Brasil, que passou de 700 mil em 2010 para 830 mil em 2015, conforme relatado pelo governo brasileiro em 2017. Esses dados destacam a importância contínua da prevenção, testagem e tratamento do HIV tanto em nível local quanto nacional (Vinhote, 2022).
Na abordagem inicial de adolescentes e adultos portadores do HIV, é crucial estabelecer uma relação de confiança e consideração pelo indivíduo, levando em conta seu estado biopsicossocial e promovendo empatia e acolhimento. Durante a consulta, a anamnese deve se concentrar nos fatores de risco, como antecedentes de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), doenças crônicas e histórico de imunização. Após uma conversa detalhada, o exame físico completo deve ser realizado com precisão, incluindo uma avaliação minuciosa da cavidade oral, medição da pressão arterial, cálculo do índice de massa corporal e medição da circunferência abdominal para monitorar ganhos e perdas de peso (Tibes, 2024).
O profissional de saúde que realiza o atendimento deve seguir os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, como o “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos”. Durante a consulta inicial, testes rápidos para HIV, sífilis, hepatite B e C devem ser realizados como diagnóstico prévio (Domingues, 2021).
Para uma avaliação inicial é importante uma dosagem de linfócitos T CD4 e genotipagem do HIV pré-tratamento, em pacientes específicos sem que isso atrase o início do tratamento.
O tratamento do HIV, atualmente, envolve o uso de terapia antirretroviral (TARV), que consiste na combinação de diferentes medicamentos antirretrovirais para suprimir a replicação do vírus, reduzir a carga viral no organismo e preservar a função imunológica. Essa terapia é altamente eficaz e permite que pessoas que vivem com HIV tenham uma vida longa e saudável. Os medicamentos antirretrovirais atuam em diferentes etapas do ciclo de replicação do HIV, como a entrada do vírus nas células, a transcrição do RNA viral em DNA, a integração do DNA viral ao genoma humano e a produção de novas partículas virais (Saad, 2023).
É importante iniciar o tratamento o mais cedo possível após o diagnóstico de HIV, idealmente logo após o diagnóstico, mesmo em estágios iniciais da infecção. O tratamento precoce ajuda a preservar a função imunológica, reduzir o risco de complicações relacionadas ao HIV e prevenir a transmissão do vírus para outras pessoas. Além da TARV, o tratamento do HIV também pode envolver o manejo de complicações relacionadas à infecção, o tratamento de infecções oportunistas e o acompanhamento regular com profissionais de saúde especializados em HIV/AIDS (Saad, 2023).
2.2 Centro de Testagem e Aconselhamento
A política de testagem e aconselhamento em HIV e AIDS teve início globalmente em 1985, quando a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos licenciou e disponibilizou o primeiro teste para detecção de anticorpos contra o HIV, conhecido como Enzyme-Linked Immunonsorbent Assay (ELISA). No mesmo ano, serviços específicos para testagem foram estabelecidos nos Estados Unidos, financiados pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (Dubiela, 2022).
No Brasil, os testes anti-HIV começaram a ser utilizados no mesmo período, inicialmente disponíveis em serviços de saúde voltados para o tratamento de pessoas vivendo com HIV e na rede privada de saúde. Em 1986, com base em pesquisas realizadas nos EUA e Europa e a pressão da sociedade civil, tornou-se obrigatória a testagem de todo o sangue a ser transfundido no Estado de São Paulo. Após a promulgação da nova Constituição Federal em 1988, a triagem sanguínea em bancos de sangue tornou-se obrigatória em todo o país (Galvão, 2000).
Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) foram estabelecidos para oferecer acesso ao diagnóstico do HIV de forma anônima para populações consideradas de alto risco, como homossexuais, profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis. Esses centros, organizados com equipes multidisciplinares, dedicam-se exclusivamente ao diagnóstico e aconselhamento do HIV, sífilis e hepatites virais, permitindo uma abordagem mais detalhada e uma avaliação de risco mais completa. Além disso, oferecem testes sorológicos anti-HIV acompanhados de aconselhamento pré e pós-exame, garantindo gratuidade, voluntariedade e confidencialidade aos usuários, que podem realizar os exames anonimamente, sem a necessidade de apresentar documentos ou revelar seus nomes (Da Costa, 2020).
O conhecimento precoce da infecção pelo HIV, obtido através desses centros, possibilita uma melhor qualidade de vida através do monitoramento adequado da saúde e do controle da carga viral. Além disso, o papel dos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) na redução da incidência do HIV estão diretamente ligados à capacidade do aconselhamento de fornecer suporte e facilitar mudanças comportamentais em situações de risco, tanto para portadores quanto para não portadores do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (Augusto et al., 2024).
Os serviços de testagem e aconselhamento desempenham um papel crucial na promoção da saúde, oferecendo diagnóstico precoce e contato com grupos vulneráveis. Os CTA visam promover o acesso ao diagnóstico do HIV, sífilis e hepatites virais de forma confidencial e gratuita, além de capacitar profissionais e integrar-se com outros programas de saúde pública. Além dos testes, os Centros de Testagem e Aconselhamento oferecem aconselhamento pré e pós-teste, centrado no usuário, incluindo apoio emocional, educação sobre IST/HIV/AIDS e avaliação de riscos. Compete aos CTA realizar encaminhamentos para tratamento, retestagem e ações de prevenção na comunidade.
3. Metodologia
Este estudo é do tipo longitudinal, retrospectivo e observacional, baseado em dados secundários obtidos por meio da análise dos registros dos usuários cadastrados no sistema informatizado do Centro de Testagem e Aconselhamento/Serviço de Assistência Especializada (CTA/SAE) em Marabá, Pará, durante o período de 2020 a 2024. O CTA/SAE é uma unidade que oferece acompanhamento e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), incluindo HIV/Aids, além de realizar ações de prevenção.
A população estudada consiste nos usuários cadastrados no CTA/SAE que receberam diagnóstico positivo para HIV/Aids durante o período de estudo. Serão excluídos os casos com dados incompletos.
O projeto passará pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), seguindo a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Para a coleta de dados, será utilizado um formulário em planilha do Excel não validado, elaborado com base nas fichas de admissão do CTA/SAE. As variáveis coletadas incluirão informações demográficas, como gênero, orientação sexual, gestantes e distribuição em meses. Os dados serão coletados pelos pesquisadores, treinados para essa finalidade, e serão digitados e consolidados no programa Microsoft® Office Excel 2003, com dupla digitação e checagem de consistência.
A análise dos dados será realizada utilizando o software GraphPad Prism v.8 (GraphPad Software, San Diego, CA, EUA). Para as variáveis categóricas, serão utilizados gráficos e tabelas, apresentando frequência absoluta e relativa. As variáveis quantitativas serão descritas pela média e desvio-padrão. Os testes qui-quadrado ou exato de Fisher foram utilizados para avaliar associações entre variáveis categóricas, enquanto o teste de Pearson será empregado para analisar correlações entre resultados laboratoriais.
4. Resultados e Discussão
A pesquisa sobre o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com HIV atendidos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em Marabá, PA, durante o período de 2020 a 2024, visa proporcionar uma compreensão abrangente da dinâmica da epidemia de HIV nesta região. Por meio dessa investigação, espera-se obter insights cruciais sobre a distribuição demográfica dos casos de HIV, incluindo características como idade, gênero, orientação sexual e localização geográfica. Esses dados são fundamentais para identificar grupos de maior vulnerabilidade e adaptar as estratégias de prevenção e tratamento de acordo com as necessidades específicas da população local.
Além disso, a pesquisa busca avaliar o acesso aos serviços de saúde e ao tratamento para o HIV em Marabá. Ao examinar o perfil socioeconômico dos pacientes atendidos no CTA, pretende-se identificar barreiras específicas que podem dificultar o acesso aos cuidados de saúde, como falta de transporte, estigma social ou falta de informações sobre os serviços disponíveis. Essas informações são essenciais para o desenvolvimento de estratégias que garantam o acesso equitativo aos serviços de saúde para todas as pessoas que vivem com HIV na região.
Outro objetivo importante da pesquisa é avaliar o impacto das políticas de saúde relacionadas ao HIV em Marabá. Ao analisar os dados longitudinais ao longo do período de estudo, foi possível avaliar se houve melhorias na detecção precoce, no acesso ao tratamento e na qualidade de vida dos pacientes com HIV. Essas informações são cruciais para orientar futuras intervenções e garantir que os recursos sejam alocados de maneira eficaz para enfrentar a epidemia de HIV/AIDS na região.
Em 2020, a faixa etária dos pacientes atendidos variava entre 22 e 74 anos. No período estudado, um total de 176 indivíduos realizavam tratamento no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Marabá. Observou-se que a maioria desses indivíduos era do sexo masculino, representando aproximadamente 58% do total (57,95%). Esse dado está em concordância com estudos realizados em outros municípios, como Aracaju – SE (73,03%) e Maracanaú – CE (61,6%), onde também há prevalência de sexo masculino entre os pacientes atendidos. A literatura aponta que esse fenômeno pode estar relacionado à preferência sexual de muitos homens por parceiros do mesmo sexo ou pela prática de bissexualidade. Além disso, diversos estudos indicam que muitos homens relatam não utilizar preservativo durante a prática sexual, aumentando o risco de transmissão de infecções (Menezes, et al., 2018; Nascimento, et al., 2018).
No gráfico 1, é apresentado o perfil epidemiológico dos pacientes de 2020, destacando as características demográficas e comportamentais dessa população.
Gráfico 1 – Perfil epidemiológico do ano de 2020

No ano de 2021, a análise incluiu 222 pacientes, entre os quais 63,06% eram do sexo masculino e 36,94% do sexo feminino. Essa distribuição revela uma predominância significativa de homens na amostra, o que pode sugerir que fatores de saúde, comportamentais ou epidemiológicos influenciam mais intensamente esse grupo. Essa disparidade pode estar relacionada a diversos elementos, como a maior exposição a fatores de risco, hábitos de vida ou até mesmo diferenças no acesso aos serviços de saúde, que vale a pena investigar mais a fundo.
O Gráfico 2, que ilustra esses dados, apresenta de maneira visual e clara as proporções entre os gêneros, facilitando a compreensão do perfil da amostra. Essa representação gráfica é fundamental para que profissionais de saúde e pesquisadores possam visualizar rapidamente a dinâmica do público afetado, permitindo uma análise mais eficiente das intervenções necessárias. A visualização dos dados auxilia não apenas na comunicação dos achados, mas também no planejamento de estratégias de saúde pública mais direcionadas.
Gráfico 2 – Perfil epidemiológico do ano de 2021

No total de 233 pacientes diagnosticados com HIV durante o período analisado (2023), observou-se uma predominância do sexo masculino, com 140 indivíduos (60,13%) enquanto 93 (39,87%) pertenciam ao sexo feminino. Tal diferença na distribuição de gênero é um aspecto que pode acender discussões sobre a vulnerabilidade e os fatores sociais que contribuem para a maior incidência entre homens. As características sociodemográficas dos participantes são visualizadas detalhadamente no Gráfico 3, que ilustra não apenas a faixa etária, mas também outras variáveis que podem influenciar as dinâmicas de transmissão e tratamento da doença.
A média de idade dos pacientes diagnosticados foi de 43 anos, evidenciando que a maioria dos indivíduos diagnosticados se encontra em uma faixa etária adulta. É relevante notar que a média de idade entre os pacientes do sexo feminino é significativamente menor do que entre os do sexo masculino. Essa diferença pode indicar diversos fatores, como acesso a informações sobre saúde, comportamentos de risco distintos entre os gêneros e até mesmo a natureza das redes sociais em que cada grupo se insere.
Gráfico 3 – Perfil epidemiológico do ano de 2022

No total de 238 pacientes diagnosticados com HIV durante o período analisado em 2023, observe-se uma predominância do sexo masculino, com 156 indivíduos (65,55%), enquanto 82 (34,45%) pertenciam ao sexo feminino. Esta distribuição de gênero novamente destaca uma tendência observada em anos anteriores, onde o sexo masculino continua a ser o mais afetado pelo HIV, levantando questões sobre os fatores sociais e comportamentais que podem estar contribuindo para essa disparidade.
A idade mediana no diagnóstico da população foi de 35 anos, com uma variação que se estendeu entre 0 e 75 anos. Essa ampla faixa etária evidencia que o HIV não afeta apenas um grupo específico, mas que a infecção pode ocorrer em diferentes fases da vida, desde a infância até a maturidade.
As relações dessas variáveis, separadas por sexo, são apresentadas no Gráfico 4, que oferece uma visualização clara e direta dos dados. Essa representação gráfica permite que profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas entendam melhor o perfil dos pacientes diagnosticados, ajudando na identificação de tendências e na criação de intervenções mais eficientes.
Gráfico 4 – Perfil epidemiológico do ano de 2023

Dos 196 pacientes estudados em 2024, 131 (66,84%) eram do gênero masculino, enquanto 65 (33,16%) eram do gênero feminino, resultando em uma proporção de aproximadamente 2,02 homens para cada mulher. Essa prevalência masculina é uma tendência observada em diferentes análises ao longo dos anos, refletindo não apenas questões biológicas, mas também fatores sociais e culturais que podem influenciar o comportamento em relação à saúde e ao acesso a serviços médicos.
A média de idade dos pacientes foi de 40 anos, com um desvio padrão de 10 anos, indicando uma variabilidade considerável na faixa etária dos indivíduos diagnosticados. Os dados mostram que a idade mínima foi de 21 anos, enquanto a máxima chegou a 69 anos. Essa ampla distribuição etária sugere que o HIV afeta pessoas em diferentes estágios da vida, o que é fundamental para planejar estratégias de prevenção, tratamento e suporte. Jovens adultos, assim como seniores, enfrentam desafios distintos em relação ao HIV, que vão desde a educação em saúde até o manejo do tratamento.
Gráfico 5 – Perfil epidemiológico do ano de 2024

A análise de dados de pacientes diagnosticados com infecção pelo HIV entre 2020 e 2024 revelou tendências importantes relacionadas às características demográficas e epidemiológicas da doença. Ao longo dos anos, houve predomínio de pacientes do sexo masculino, o que sugere a necessidade de atenção especial às políticas de saúde que levem em conta as especificidades desse grupo, bem como estratégias direcionadas para incentivar a busca pelo diagnóstico e tratamento.
A faixa etária dos pacientes variou de 21 a 69 anos, sugerindo que o HIV não é um problema exclusivo de uma faixa etária. Isso requer ações para reconhecer e adaptar abordagens de prevenção e cuidado às diferentes necessidades de saúde em todas as fases da vida. Em particular, a educação em saúde deve ser uma prioridade, garantindo que tanto jovens quanto idosos tenham informações adequadas sobre a importância da prevenção, do tratamento e do diagnóstico precoce. Além disso, eliminar o estigma relacionado ao HIV é uma questão fundamental que precisa ser abordada em campanhas de conscientização e práticas de saúde pública.
5. Considerações Finais
Em suma, a pesquisa sobre o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com HIV atendidos no CTA em Marabá é uma ferramenta fundamental para compreender e enfrentar os desafios locais relacionados a essa doença. Ao fornecer insights valiosos sobre a distribuição demográfica dos casos de HIV, os padrões de transmissão do vírus, o acesso aos serviços de saúde e o impacto das políticas de saúde existentes, essa pesquisa pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção, detecção e tratamento do HIV em Marabá.
As características sociodemográficas e epidemiológicas dos pacientes são essenciais para entender o perfil da população estudada. Elas ajudam a identificar possíveis fatores de risco, padrões de ocorrência de doenças, assim como diferenças no acesso aos serviços de saúde entre os grupos. Esses dados podem orientar estratégias de prevenção, tratamento e políticas de saúde mais adequadas às necessidades de cada grupo.
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1Graduanda Faculdade de Ciência Médicas do Pará (FACIMPA)
2Coorientador Faculdade de Ciência Médicas do Pará (FACIMPA)
3Orientador Faculdade de Ciência Médicas do Pará (FACIMPA)