CUIDAR ALÉM DO DIAGNÓSTICO: A ENFERMAGEM FRENTE À SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ

CARING BEYOND THE DIAGNOSIS: NURSING IN THE FACE OF GUILLAIN-BARRÉ SYNDROME

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505172140


Débora Nogueira; Ana Luisa Maia Bernardes; Maria Laura Oliveira Diniz; Cristina Fernanda Silva Pinheiro; Fernanda Cristina Lemes Lourenço; Isadora Gomes Carvalho Santana; Jhulievelly Laisla Luzia Marques; Raphaella Francianne da Costa Gonçalves; Raquel Nogueira de Oliveira1; Orientadora: Hyorrana Priscila Pereira Pinto2


Resumo

A intervenção da enfermagem em pacientes acometidos pela Síndrome de Guillain-Barré apresenta-se de forma abrangente, estendendo-se desde o cuidado direto em unidades de terapia intensiva até o acompanhamento nas fases de reabilitação. A atuação do enfermeiro se baseia na monitorização contínua dos sinais vitais, com especial atenção à função respiratória e cardiovascular, garantindo intervenções rápidas diante de possíveis complicações. Além disso, inclui medidas preventivas fundamentais para evitar agravos como úlceras por pressão e trombose venosa profunda, contribuindo para a manutenção da integridade física do paciente durante o processo de internação. A orientação para o enfrentamento da dor e o cuidado com o conforto físico também compõem a assistência prestada, promovendo o alívio de sintomas e a melhora da qualidade de vida. O suporte emocional e psicológico é igualmente relevante, considerando que os pacientes acometidos pela síndrome enfrentam desafios significativos relacionados à perda repentina da mobilidade e à necessidade de adaptação às limitações impostas pela condição. Dessa forma, a enfermagem exerce um papel essencial na escuta, acolhimento e estímulo à resiliência, favorecendo uma recuperação mais humanizada e eficiente. A complexidade do quadro clínico exige, portanto, um cuidado qualificado e contínuo, que considere tanto as necessidades físicas quanto os aspectos emocionais do paciente, reafirmando a importância da presença ativa da enfermagem em todas as fases do tratamento.

Sendo assim, esse artigo é uma revisão integrativa da literatura, realizado por meio da análise de artigos encontrados nas bases de dados BVS, MEDLINE e SciELO, utilizando os descritores: Síndrome de Guillain-Barré, Neuropatias Autoimunes Agudas e Cuidados de Enfermagem. Sendo que, foram analisados 10 artigos publicados entre os anos de 2008 e 2025, com critérios de inclusão baseados em publicações em português e inglês, e tendo como objetivo analisar os principais cuidados de enfermagem voltados para pacientes diagnosticados com a Síndrome de Guillain-Barré, destacando a importância do processo de enfermagem e da abordagem multidisciplinar no contexto hospitalar. Sendo assim, os resultados apontam que o enfermeiro atua de forma decisiva na prevenção de complicações e na promoção de uma recuperação funcional e emocional mais rápida, reforçando a importância da sistematização da assistência e do envolvimento familiar no cuidado.

Palavras-chave: Síndrome de Guillain- Barré, Neuropatias Autoimunes Agudas, Cuidados da Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma enfermidade neurológica rara, porém potencialmente séria, que foi descoberta em 1916 pelos neurologistas franceses Georges Guillain, Jean Alexandre Barré e André Strohl, que descreveram a Síndrome de Guillain-Barré-André como uma doença autoimune (ocorre quando o sistema imunológico ataca o próprio organismo),  marcada por uma inflamação aguda dos nervos periféricos  resultando em fraqueza muscular progressiva e, em situações mais severas, paralisia temporária ou definitiva. A SGB geralmente é desencadeada após uma infecção viral ou bacteriana, tais como infecções respiratórias ou gastrointestinais, respectivamente. Os primeiros sintomas envolvem formigamento, dormência e fraqueza muscular, que se intensificam ao longo dos dias. Em situações severas, a fraqueza pode se estender aos músculos da respiração, resultando em problemas respiratórios e necessitando de assistência ventilatória. (AZEVEDO, 2023).

Existem duas modalidades de tratamento na SGB: (1) Prevenção e o controle de comorbidades relacionadas; (2) Tratamento da evolução dos sintomas e sinais com o objetivo de recuperar e minimizar as deficiências motoras (Brasil, 2016).

O cuidado ao paciente com SGB representa um desafio para a equipe de saúde multidisciplinar, especialmente para a enfermagem, devido ao plano de cuidados traçado individualmente. O mesmo garante uma recuperação eficaz e reduz as chances de sequelas. O trabalho conta com o objetivo de analisar os cuidados de enfermagem que auxiliam na recuperação dos pacientes acometidos pela síndrome de Guillain-Barré. (João, 2018).

2 METODOLOGIA

Os artigos selecionados para este trabalho foram analisados na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde, na base de dados MEDLINE e na Biblioteca Virtual SciELO. De 829  artigos encontrados, foram analisados 10 artigos no intervalo entre 2008 a 2025, utilizando os seguintes descritores: Síndrome de Guillain- Barré; Neuropatias Autoimunes Agudas; Cuidados da Enfermagem. Um dos critérios de inclusão foi a presença de artigos publicados com idioma em Português e em inglês, não sendo incluídos artigos em espanhol.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma neuropatia periférica aguda, de origem autoimune, sendo caracterizada por fraqueza muscular progressiva e simétrica, geralmente acompanhada de alterações sensitivas e disfunção autonômica. A causa da SGB envolve uma resposta imunológica que ataca a mielina dos nervos periféricos, resultando em condução nervosa deficiente e sintomas neurológicos variados. Geralmente, a SGB é precedida por infecções bacterianas ou virais, como as causadas por Campylobacter jejuni (bactéria que pode causar dor abdominal, diarreia, febre, entre outros sintomas) , citomegalovírus ou vírus Epstein-Barr (mononucleose infecciosa), que desencadeiam a resposta autoimune. Também existem variantes clínicas da SGB, sendo a forma desmielinizante inflamatória aguda (AIDP) a mais comum nos países ocidentais, enquanto as formas axonais são mais prevalentes na Ásia e América Latina. (Azevedo, 2015; Brasil, 2016)

Sob esse viés, a taxa de incidência anual da SGB no ocidente pode variar de 0,8 a 1,9 casos por 100.000 habitantes, aumentando com a idade e apresentando discreta predominância no sexo masculino. Estudos realizados no Brasil, como no estado do Rio Grande do Norte, reportaram uma taxa de 0,3 casos por 100.000 habitantes por ano, enquanto no estado de São Paulo a incidência foi de 0,6 casos por 100.000 habitantes por ano. A mortalidade associada à SGB é de aproximadamente 5%, e cerca de 20% dos pacientes podem sofrer incapacidades significativas permanentes. (RIGO, 2019; SEJVAR, 2011)

Diante dos dados supracitados, o diagnóstico da SGB é baseado na avaliação clínica e em exames complementares, como a eletroneuromiografia e a análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), que pode apresentar dissociação albumino-citológica. Sendo que, o encaminhamento rápido para uma unidade de referência neurológica é essencial para iniciar a terapia específica e evitar complicações. (VAN DOORN, 2008)

Nesse contexto, o tratamento inclui a imunoglobulina intravenosa (IVIg) ou a plasmaférese, que auxiliam na redução da resposta autoimune e aceleram a recuperação. Já nos casos mais graves, o suporte ventilatório pode ser necessário devido ao comprometimento dos músculos respiratórios e iniciar a fisioterapia precocemente é fundamental para minimizar déficits motores e melhorar a reabilitação funcional.Sendo assim, o  acompanhamento multidisciplinar deve ser efetuado para um tratamento eficaz e humanizado. (VAN DOORN, 2008)

No que se refere ao nível assistencial, o enfermeiro desempenha um papel crucial na monitorização clínica do paciente com SGB, prevenindo complicações como úlceras por pressão, trombose venosa profunda e infecções respiratórias, sendo que a administração adequada de imunoglobulina e outros medicamentos, além do manejo do suporte ventilatório adequado, requer um acompanhamento rigoroso. Nesse contexto, o enfermeiro também deve atuar na educação do paciente e da família, fornecendo orientações sobre o prognóstico e a importância da reabilitação. Já no nível gerencial, o enfermeiro tem a responsabilidade de organizar a equipe multiprofissional, garantindo a implementação de protocolos assistenciais baseados em evidências. Além disso, ele deve assegurar a disponibilidade de insumos necessários para a assistência, promover capacitações para a equipe de saúde e contribuir para a formulação de políticas institucionais que aprimorem o atendimento ao paciente com SGB. O planejamento da alta hospitalar e o direcionamento para reabilitação também são funções estratégicas dentro da assistência gerencial de enfermagem. (LIMA, 2015; SMELTZER, 2016). 

A partir disso, destaca-se a Política Nacional de Humanização (PNH), que foi criada para colocar em prática os princípios do SUS nas práticas diárias de atendimento e administração, aprimorando a saúde pública no Brasil e promovendo interações solidárias entre administradores, funcionários e usuários. A mesma fomenta a interação entre gestores, funcionários e usuários para estabelecer processos coletivos de enfrentamento de relações de poder, trabalho e afeto que frequentemente resultam em comportamentos e práticas desumanizadoras que restringem a autonomia e a responsabilidade dos profissionais de saúde em suas funções e dos usuários em seu autocuidado. É crucial envolver os funcionários na administração para que, no cotidiano, eles possam reformular seus processos de trabalho e atuar como catalisadores das transformações no serviço de saúde. Incorporar usuários e suas redes sócio familiares nos processos de cuidado é uma ferramenta eficaz para expandir a responsabilidade pessoal no cuidado consigo mesmo. (Brasil, 2010)

Portanto, a abordagem integral e coordenada da SGB é essencial para garantir o melhor tratamento possível aos pacientes, sendo o enfermeiro um profissional muito importante em todas as etapas do cuidado, desde o diagnóstico até a reabilitação e reinserção social. (SMELTZER, 2016)

4 ANÁLISE DOS DADOS 

No período de 2008 a 2017, foram registradas 15.512 internações por SGB no Brasil. De maneira geral, houve aumento nas internações a partir de 2015.

No período de 2008 a 2014, observou-se uma estabilidade e média de 1.344 internações por ano. No ano seguinte (2015), foram registradas 1.953 internações por SGB, representando um incremento de 45%. Destaca-se o ano de 2016, com o maior número de internações: 2.216.(MALTA, 2020)

Tabela 1   – Distribuição das internações por síndrome de Guillain-Barré (N=15.512) segundo dados demográficos e relativos à doença, Brasil, 2008-2017

Os cuidados que envolvem a SGB devem ser seguidos de forma sistematizada, todavia,  exigem que os profissionais tenham conhecimento apropriado da patogenia. Para os enfermeiros, a compreensão clínica da doença está ligada à sua evolução através das ações de enfermagem que são colocadas em processo de enfermagem (PE) (Neves, 2021). O PE é apenas um instrumento metodológico da SAE, que deve ser realizada em cinco etapas interligadas, interdependentes e recorrentes, sendo: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação de enfermagem e a avaliação de enfermagem (Conselho Nacional de Enfermagem, 2009).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, a Síndrome de Guillain-Barré é a principal causa de fraqueza a nível global, ela se manifesta a partir de dor muscular sub aguda não infecciosa. Alguns distúrbios, incluem formigamento nas extremidades e diminuição de reflexos musculares. Em casos mais severos, observa-se insuficiência respiratória que necessita de assistência médica. Este estudo teve como objetivo analisar a relevância dos cuidados de enfermagem oferecidos ao paciente com a síndrome, dando ênfase à importância de realizar o plano de cuidados de maneira organizada, seguindo as fases do processo de enfermagem. Sendo assim, a assistência de enfermagem ao paciente com SGB só é eficaz quando o mesmo é acompanhado por uma equipe de saúde multidisciplinar.

6 REFERÊNCIAS

ALBERTO, C. Recuperação neurológica na síndrome de Guillain-Barré: Fatores prognósticos e Desafios clínicos. Journal of Medical and Biosciences Research., v. 2, n. 1, p. 826–838, 13 fev. 2025.

AZEVEDO, J. R. DE. Síndrome de Guillain-Barré: uma abordagem diagnóstica, evolução clínica e revisão. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 5, p. 21676–21684, 18 set. 2023.

LIMA, M. A. D. S.; CASTILHO, V. Gerenciamento de Enfermagem: teoria e prática em saúde. São Paulo: Atheneu, 2015.

MALTA, J. M. A. S.; RAMALHO, W. M.. Aumento das internações por síndrome de Guillain-Barré no Brasil: estudo ecológico. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 29, n. 4, p. e2020056, 2020.

PEREIRA, G. H. Cuidados de enfermagem ao paciente portador da Síndrome de Guillain-Barré: uma revisão sistemática da literatura. Research, Society and Development, v. 12, n. 2, p. e25712240306–e25712240306, 10 fev. 2023.

RIGO, D. DE F. H. Síndrome de Guillain Barré: perfil clínico epidemiológico e assistência de enfermagem. Enfermería Global, v. 19, n. 1, p. 346–389, 21 dez. 2019.

SCHETALSKY, P. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas–Síndrome de Guillain-Barré. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à saúde, 2016.

SEJVAR, J. J.; BAWOL, R. D.; GURY, A. L. Population incidence of Guillain-Barré syndrome: a systematic review and meta-analysis. Neuroepidemiology, v. 36, n. 2, p. 123-133, 2011.

SMELTZER, S. C.; BARE, B. G.; HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

VAN DOORN, P. A.; RUTJES, S. A.; JACOBS, B. C. Clinical features, pathogenesis, and treatment of Guillain–Barré syndrome. The Lancet Neurology, v. 7, n. 10, p. 939-950, 2008.


1Discentes do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNA Campus Barreiro e-mail: debora.nogueira.saude@gmail.com

2Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto UNA Campus Barreiro. Mestre em Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso  (PPGMAD/UNIR). e-mail: hyorrana.pereira@prof.una.br