FISIOTERAPIA PARA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DA MULHER NO CLIMATÉRIO – UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505161746


Andreza dos Santos de Carvalho; Cristina do Prado Martins; Hellen da Silva Santos; Ludmilla de Fátima Camilo Borges; Laura de Moura Rodrigues; Fabrício Vieira Cavalcante.


RESUMO

Introdução: A incontinência urinária (IU) é uma condição comum em mulheres no climatério, caracterizada pela perda involuntária de urina, geralmente associada à diminuição dos níveis hormonais e ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico. Os tipos mais frequentes de IU incluem: a incontinência urinária de esforço (IUE), que ocorre durante atividades que aumentam a pressão intra-abdominal, como tossir ou levantar peso; a incontinência urinária de urgência (IUU), marcada por uma vontade súbita e intensa de urinar; e a incontinência urinária mista, que combina características das duas anteriores. Objetivo: Este estudo teve como objetivo revisar a literatura científica sobre a eficácia das intervenções fisioterapêuticas no tratamento da IU em mulheres climatéricas. Metodologia: Foi conduzida uma revisão integrativa com base em ensaios clínicos randomizados publicadas entre 2020 e 2025, em português e inglês, nas plataformas BVS, Pedro e PubMed. Resultados e discussão: Quatro estudos foram selecionados, abrangendo 135 participantes, com intervenções como treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), ginástica abdominal hipopressiva (GAH), gameterapia, exercícios posturais e dança Rumba com treino respiratório. Os resultados demonstraram melhora significativa nos sintomas urinários e na qualidade de vida das participantes, com maior eficácia observada em programas supervisionados e combinados. Abordagens como gameterapia e instruções posturais mostraram potencial para aumentar a adesão e a ativação muscular. Conclusão: Conclui-se que as abordagens encontradas podem ser estratégias eficazes e seguras no manejo da IU em mulheres no climatério, com potencial para promover a qualidade de vida. 

Palavras-chave: incontinência urinária; climatério; fisioterapia; mulheres;

1. INTRODUÇÃO

O processo de micção envolve contrações musculares voluntárias e involuntárias. Quando o volume de urina na bexiga atinge aproximadamente 200 a 400 ml, há um aumento da pressão intravesical, estimulando os receptores de estiramento da parede interna da bexiga. Esses receptores transmitem impulsos nervosos até a medula espinhal, nos níveis sacrais S2 e S3, desencadeando o reflexo da micção. A decisão consciente de urinar propaga impulsos nervosos pela parede da bexiga, promovendo o relaxamento do músculo esfíncter interno da uretra e a contração do músculo detrusor, permitindo o esvaziamento da bexiga. A manutenção da continência urinária ocorre sempre que a pressão intravesical se mantém inferior à pressão de fechamento da uretra (Tortora & Derrickson, 2016). 

O assoalho pélvico desempenha um papel essencial no mecanismo de continência urinária, transmitindo pressão tanto para a bexiga quanto para a uretra, o que resulta em um gradiente pressórico que favorece a continência (Santos et al., 2020). Baracho et al. (2018) descrevem o assoalho pélvico como uma estrutura composta por uma rede de músculos, fáscias e órgãos, que incluem o útero, bexiga e ânus. Entre suas principais funções estão a sustentação dos órgãos pélvicos e a regulação da função esfincteriana anal e uretral. Os músculos que compõem o assoalho pélvico incluem tanto camadas superficiais quanto profundas, sendo eles: isquiocavernoso, transverso superficial do períneo, bulbocavernoso e esfíncter do ânus, além do pubococcígeo, puborretal, iliococcígeo, transverso profundo do períneo e esfíncter interno da uretra. Alterações na função dessas estruturas podem contribuir para o desenvolvimento da incontinência urinária (Baracho et al., 2018).

A incontinência urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina, representando um problema de saúde significativo que afeta a qualidade de vida das mulheres, especialmente na fase da menopausa (International Continence Society, 2023).

Estima-se que a incontinência urinária (IU) afete aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo 69% composto por mulheres (Oliveira et al., 2017). A prevalência da IU aumenta ainda com a idade e é particularmente elevada entre mulheres na menopausa, embora possa afetar mulheres de diferentes faixas etárias, variando de 30% a 50% dependendo da população estudada (Oliveira et al., 2007; Milsom et al., 2022). A IU constitui uma condição multifatorial que leva a incômodos e constrangimentos, impactando negativamente a qualidade de vida das mulheres (Abrams et al., 2003). Nota-se a importância de conhecer e promover o tratamento precoce com o intuito de prevenção das alterações e melhora da qualidade de vida (Baracho et al., 2018). Porém, muitas dessas mulheres que relatam sintomas de IU não buscam atendimento especializado (Oliveira et al. 2017).

Os tipos mais comuns de IU são: 1. Incontinência Urinária de Esforço (IUE), onde ocorre a perda involuntária de urina aos esforços como tosse, espirro ou atividades físicas, devido ao aumento da pressão intra-abdominal; 2. Incontinência Urinária de Urgência (IUU), caracterizada pela perda urinária precedida de uma súbita e urgente vontade de urinar; 3. Incontinência Urinária Mista (IUM), que é a perda involuntária de urina associada aos esforços e à urgência (Haylen, et al., 2019). Além desses três tipos, existe também a Síndrome da Bexiga Hiperativa (SBH), onde a urgência urinária é geralmente acompanhada pelo aumento da frequência urinária e noctúria (aumento dessa frequência à noite), com ou sem a presença da IUU e sem infecção do trato urinário ou outra patologia que justifique o quadro (Abrams, 2017). Cabe salientar que a incontinência urinária não é uma condição isolada, mas sim um indicador de aspectos mais amplos da saúde feminina, abrangendo questões culturais, psicológicas e sociais (Aoki et al., 2017). Identificar a causa subjacente da incontinência urinária (IU) é fundamental para direcionar o tratamento adequado para cada caso.

O climatério é um estágio natural do envelhecimento feminino, geralmente ocorre entre 45 e 55 anos e marca o fim da fase reprodutiva da mulher. No nascimento a mulher já possui células germinativas (ou folículos) nos ovários, que darão origem aos óvulos que serão liberados em cada ciclo menstrual. Essa reserva começa a ser utilizada a partir da primeira menstruação (menarca) e vai se esgotando progressivamente até a última menstruação (menopausa). A mulher não é capaz de produzir novos folículos para substituir os que foram perdidos. Quando os últimos folículos morrem, os ovários entram em falência, e os níveis dos hormônios femininos — estrogênio e progesterona — diminuem de forma irreversível (Brasil, 2024).

Frequentemente, o termo menopausa é utilizado de forma inadequada para se referir ao climatério, que corresponde à fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher. Embora muitas pessoas associem essa fase a problemas de saúde, o climatério, apesar de poder trazer desafios, é um processo natural e inevitável, não devendo ser encarado como uma doença (Brasil, 2024).

Para muitas mulheres, a chegada do climatério provoca irregularidades menstruais, com períodos mais escassos, hemorragias ou alterações na frequência das menstruações.

Além disso, podem surgir sintomas característicos, como ondas de calor (popularmente conhecidos como fogachos), distúrbios do sono, alterações na libido e no humor, além da atrofia dos órgãos genitais (Brasil, 2024). Também ocorrem alterações na musculatura do assoalho pélvico, uretra e bexiga, favorecendo o surgimento da IU (Robinson et al., 2021, Brasil, 2024).

Diversas técnicas estão disponíveis para o tratamento da IU e a escolha deve ser personalizada conforme as necessidades do paciente, e não apenas condicionada ao tipo de incontinência. As opções incluem abordagens conservadoras, farmacológicas ou cirúrgicas. (Roberts & Mahanjan, 2021).  

A abordagem conservadora é considerada a primeira escolha de tratamento devido à sua acessibilidade, custo efetividade, riscos e efeitos colaterais reduzidos em comparação a tratamentos mais invasivos, como as cirurgias (Curillo-Aguirre & Gea-Izquierdo, 2023).  

A fisioterapia especializada em saúde da mulher desempenha um papel fundamental na prevenção de patologias e no tratamento de disfunções, além de atuar na educação e promoção da saúde. Dentre suas ações, destaca-se a orientação e a aplicação de abordagens cinético-funcionais para mulheres com disfunções urinárias. Essas intervenções visam prevenir a piora do quadro e minimizar impactos negativos na qualidade de vida, abrangendo aspectos físicos, psicológicos e emocionais (Tavares et al., 2010; Maia et al., 2015). 

Como uma abordagem conservadora a fisioterapia tem se mostrado muito eficaz no tratamento da IU, pois auxilia na percepção corporal, na recuperação e no fortalecimento da musculatura perineal, que contribui para a normalização da tonicidade muscular. Esses benefícios permitem que a mulher restabeleça a continência urinária, promovendo uma melhora significativa (Silva & Pereira, 2024). As técnicas mais utilizadas pela fisioterapia pélvica são: treinamento resistido dos músculos do assoalho pélvico, biofeedback eletromiográfico, eletroestimulação, cones vaginais e terapia comportamental (Dumoulin et al., 2018). Oliveira et al. (2007) ainda incluem outras técnicas voltadas para reabilitação de mulheres, como: os exercícios físicos gerais, a reeducação pélvica perineal, a contração vaginal, os exercícios de alívio da tensão muscular, como alongamentos e os exercícios de Kegel. Essas abordagens fisioterapêuticas podem ser aplicadas tanto para tratamento quanto como prevenção, e visam principalmente fortalecer a musculatura do assoalho pélvico que agem como uma rede de apoio, além de melhorar o controle urinário e promover a recuperação funcional do sistema urinário (Oliveira et al., 2007; Da Roza, 2011; Dumoulin et al., 2018). 

Dessa forma, a fisioterapia se estabelece como uma abordagem essencial na prevenção e no tratamento da incontinência urinária, proporcionando maior autonomia e qualidade de vida para as mulheres, especialmente na fase do climatério.

Esta revisão integrativa teve como objetivo buscar e analisar estudos científicos que investigaram a eficácia das intervenções fisioterapêuticas no tratamento da incontinência urinária em mulheres no climatério. 

2. METODOLOGIA

2.1. Tipo de Estudo

 O estudo consistiu em uma revisão integrativa de literatura realizada através das seguintes etapas:  

  1. Identificação e delimitação do tema. 
  2. Definição dos critérios de inclusão e exclusão, bases de dados a serem utilizadas para pesquisa dos artigos e termos de busca. 
  3. Realização das buscas dos artigos nas bases de dados escolhidas. 
  4. Seleção dos artigos a serem utilizados na revisão. 
  5. Análise e interpretação dos estudos incluídos. 
  6. Elaboração dos resultados, discussão e considerações finais culminando na redação final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

2.2. Identificação e delimitação do tema

 A estratégia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Desfecho) foi utilizada para formular o objetivo da pesquisa e estruturar a revisão. A tabela 1 apresenta a descrição desses elementos:

Tabela 1. Estrutura PICO da Revisão Integrativa.

2.3. Critérios de Inclusão e Exclusão, bases de dados e termos de busca

As tabelas 2 e 3 mostram os critérios de inclusão e exclusão, respectivamente, que foram utilizados para a seleção dos artigos utilizados nesta revisão.

Tabela 2. Critérios de inclusão

Tabela 3. Critérios de exclusão

 A busca dos artigos foi realizada utilizando os termos em português: “incontinência urinária”, “mulheres”, “climatério”, “modalidades de fisioterapia” e “fisioterapia”; e em inglês: “urinary incontinence”, “woman”, “climacteric”, “physical therapy modalities”, cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (MeSH), disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para realizar a busca, foi utilizado o operador AND a fim de combinar os diferentes termos e refinar os resultados. As bases de dados utilizadas foram: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), PubMed e PEDro e as buscas aconteceram nos meses de março e abril de 2025.

2.4. Análise e organização dos dados

Os dados obtidos foram organizados e apresentados por meio de fluxograma e tabelas, a fim de facilitar a visualização, a análise e a interpretação dos resultados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta revisão de literatura analisou quatro estudos clínicos randomizados que investigaram a eficácia de diferentes abordagens fisioterapêuticas no tratamento da Incontinência Urinária em mulheres no climatério.

A estratégia de busca utilizada resultou em um total de 24 artigos, dos quais cinco eram duplicados. Após a triagem pela não gratuidade, leitura dos títulos e resumos, quatro estudos com uma população 135 indivíduos, com idade entre 41 a 75 anos, variação das amostras por grupo entre 11 a 20 participantes, foram selecionados. A Figura 1 mostra o processo de inclusão dos artigos.

Figura1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos

Fonte: Autores (2025)

Os estudos foram conduzidos em diferentes contextos clínicos e países, mas apresentaram como ponto comum o foco na incontinência urinária de esforço (IUE), com um deles (Nagib et al., 2021) incluindo também mulheres com incontinência urinária mista (IUM). 

Dentre as intervenções fisioterapêuticas encontradas nos estudos estão:

Treinamento da Musculatura do Assoalho Pélvico (TMAP) supervisionado ou não, TMAP comparado à Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH) (Bottini et al., 2024); TMAP com gameterapia versus TMAP não supervisionado (Nagib et al., 2021); exercícios abdominopélvicos com e sem instruções posturais (Fuentes-Aparicio et al., 2021); e um programa de dança Rumba com treino respiratório (Tang et al., 2023). As abordagens variaram em duração, frequência semanal e grau de supervisão (Tabela 4). 

Três dos estudos tiveram como desfecho primário principal a redução dos sintomas de IUE, enquanto um deles focou especificamente na função da MAP. No que diz respeito aos desfechos secundários, houve maior diversidade, incluindo: redução geral dos sintomas urinários, melhora da função sexual, impacto da incontinência urinária na qualidade de vida (QoL) e nível de satisfação das pacientes com o tratamento. 

Os desfechos e os principais instrumentos utilizados para avaliá-los estão apresentados na Tabela 4 e de acordo com cada estudo.

Tabela 4. Características Gerais dos estudos.

Fonte: Autores (2025)

O estudo de Bottini et al. (2024) teve como objetivo comparar a eficácia do Treinamento da Musculatura do Assoalho Pélvico (TMAP) e a Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH), uma abordagem baseada na ativação indireta da MAP por meio da sinergia com a musculatura abdominal e respiratória. Trata-se de um ensaio clínico randomizado e controlado, com 31 mulheres climatéricas, com idades entre 41 e 65 anos, que apresentavam pelo menos dois sintomas climatéricos e relataram atividade sexual nas quatro semanas anteriores. As participantes foram divididas em dois grupos: o grupo TMAP, submetido a contrações voluntárias da MAP supervisionadas duas vezes por semana durante 13 semanas; e o grupo GAH, que realizou sessões hipopressivas com técnicas de apneia e posturas específicas. Ambas as intervenções foram realizadas com supervisão profissional.

A avaliação da incontinência urinária foi realizada com o questionário ICIQ-SF, enquanto a função da MAP foi avaliada pelo esquema PERFECT, por meio de palpação vaginal bidigital. A função sexual foi medida pelo Índice de Função Sexual Feminina (FSFI), e a qualidade de vida foi investigada com o questionário Utian Quality of Life (UQOL). 

Os resultados mostraram que ambos os grupos apresentaram melhora na função da MAP (força de contração, resistência e contrações rápidas), bem como na função sexual. No entanto, o grupo TMAP apresentou uma melhora significativamente maior na redução dos sintomas de IUE em comparação ao grupo GAH (p = 0,011). Isso sugere que, embora ambas as intervenções tenham promovido benefícios funcionais, o TMAP foi mais eficaz na redução da perda urinária, possivelmente por sua especificidade no recrutamento direto das fibras do assoalho pélvico.

Vale destacar que o grupo GAH teve maior taxa de abandono e relatou dificuldades com a execução das posturas devido à baixa consciência corporal e dores articulares que as pacientes apresentaram. Além disso, os autores consideraram o impacto da pandemia de COVID-19 na adesão ao tratamento, o que limitou o tamanho final da amostra e pode ter comprometido o poder estatístico do estudo.

Os autores consideram que de modo geral, os achados reforçam que o TMAP deve continuar sendo considerado como a primeira linha de tratamento conservador para a IUE em mulheres climatéricas, conforme indicam diretrizes clínicas como as da Cochrane. No entanto, a GAH pode ser considerada uma abordagem complementar em casos específicos, desde que haja supervisão adequada e adaptação individual.

Já Nagib et al. (2021) investigaram a viabilidade do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) supervisionado por meio da Gameterapia em mulheres climatéricas com incontinência urinária de esforço (IUE) ou incontinência urinária mista (IUM). O objetivo foi comparar os efeitos desse protocolo supervisionado com um programa não supervisionado, com a hipótese de que a Gameterapia poderia aumentar a adesão e melhorar os resultados clínicos.

Participaram do estudo mulheres a partir de 45 anos e diagnosticadas com IUE. A função da musculatura do assoalho pélvico (MAP) foi avaliada por meio da Escala de Oxford Modificada. As participantes foram alocadas aleatoriamente em dois grupos. O Grupo Controle recebeu orientações sobre a prática domiciliar do TMAP por cinco semanas, com livreto explicativo, recomendações sobre anatomia, controle da MAP e uso da Manobra de Knack — contração voluntária da MAP antes de atividades com aumento da pressão intra-abdominal, como tossir, espirrar ou pegar pesos. O Grupo Gameterapia recebeu as mesmas orientações, porém complementadas com sessões supervisionadas de gameterapia duas vezes por semana, totalizando dez sessões.

Durante a gameterapia, foram utilizados o jogo Wii Fit Plus CD e a plataforma Wii Balance Board, com atividades adaptadas para estimular os movimentos pélvicos. As participantes executavam movimentos conforme os comandos do jogo e instruções do fisioterapeuta, associando contrações da MAP a cada exercício.

Os desfechos primários foram alívio dos sintomas urinários, mensurado pelo ICIQ-SF, e os secundários incluíram avaliação funcional da MAP por meio do esquema PERFECT. Também foram considerados a adesão ao protocolo e os sintomas de bexiga hiperativa (ICIQ-OAB). Ao final das intervenções, ambos os grupos apresentaram melhora nos sintomas urinários e aumento da resistência da MAP. Contudo, apenas o grupo que realizou gameterapia supervisionada demonstrou aumento significativo na potência e na repetição das contrações musculares.

Os autores destacam que a prática supervisionada, aliada ao aspecto lúdico e interativo da gameterapia, favoreceu a adesão e pode ter influenciado positivamente os resultados. Estudos prévios apontaram que o uso de realidade virtual e jogos interativos não apenas melhora o engajamento, mas também fornece feedback sensorial, facilitando a continuidade do tratamento (Elliott et al., 2013; Botelho et al., 2014; Silva et al., 2018; Martinho et al., 2020 apud Nagib et al., 2021). Além disso, a gameterapia permite ajustar parâmetros como frequência e intensidade dos exercícios, aspectos fundamentais para a manutenção dos benefícios a longo prazo, conforme demonstrado por diversos autores (Martinho et al., 2020; Silva et al., 2018 apud Nagib et al, 2021).

Entre as limitações do estudo, os autores mencionam o pequeno número de participantes e o curto período de intervenção (cinco semanas), sugerindo a necessidade de pesquisas com maior duração e amostras mais amplas. Ainda assim, os resultados indicam que a gameterapia supervisionada é uma estratégia viável e potencialmente mais eficaz do que o TMAP não supervisionado, podendo ser considerada uma ferramenta complementar no tratamento da incontinência urinária feminina.

No ensaio clínico randomizado realizado por Fuentes-Aparicio (2021) o objetivo foi investigar a eficácia da adição de instruções posturais a um programa de exercícios abdominopélvicos na melhoria dos sintomas de IU e na qualidade de vida de mulheres com IUE. Este estudo envolveu mulheres no climatério, com idades entre 46 e 75 anos, diagnosticadas com IUE ou incontinência urinária mista (IUM) com predominância de esforço. A avaliação foi feita por meio de exames clínicos e urodinâmicos, que incluíam uma história clínica detalhada e o teste do cotonete (Q-tip test).

As participantes foram divididas em dois grupos: um que seguiu um programa de exercícios abdominopélvicos (AEP) e outro que fez o mesmo programa, mas com a adição de instruções posturais (AEPPI). O programa consistiu de 12 sessões de 40 minutos, realizadas uma vez por semana. Durante as sessões, as participantes do grupo AEPPI receberam orientações sobre o alinhamento corporal, incluindo correções posturais para a cervical, escápulas e região pélvica, com base na técnica da “coluna neutra” (Fozzatti et al., 2010). Para monitorar a adesão ao tratamento, as participantes registraram os exercícios domiciliares realizados, com a meta de completar ao menos 80% das sessões recomendadas.

Após três meses de acompanhamento, os resultados mostraram uma melhora significativa nos sintomas de IU no grupo AEPPI, que também obteve maior satisfação, conforme avaliado pela Escala Visual Analógica (EVA). Ambos os grupos apresentaram uma redução nos sintomas de incontinência urinária e melhora na qualidade de vida, mas o grupo AEPPI demonstrou uma redução mais expressiva na gravidade dos sintomas de IU e um maior impacto positivo na qualidade de vida relacionada à incontinência urinária. Essas melhorias refletem a importância do feedback postural, que pode ter ajudado na adesão e eficácia do tratamento (Hung et al., 2010). O estudo também destacou que a combinação de exercícios posturais com o treinamento dos músculos do assoalho pélvico pode aumentar a eficácia do tratamento e a satisfação das pacientes, e segundo os autores corrobora outros achados de estudos como os de Tajiri et al. (2014); Alves et al. (2015), que indicam a eficácia de abordagens globais para a reabilitação da incontinência urinária.

Apesar das melhorias nos dois grupos, o estudo apontou limitações como o pequeno tamanho amostral e a heterogeneidade hormonal das participantes, sugerindo que estudos com amostras maiores e mais homogêneas seriam necessários para confirmar os achados.

O estudo realizado por Tanji et al. (2022) investigou a dança Rumba em conjunto com treino respiratório (RDBT) sobre sintomas da incontinência urinária de esforço (IUE) e a qualidade de vida de mulheres pós-menopáusicas. A pesquisa foi baseada na premissa de que o assoalho pélvico não funciona isoladamente, pois de acordo com os autores, a função do assoalho pélvico é sustentada não apenas pelos músculos que compõe o mesmo, mas por outros músculos sinérgicos, como o diafragma e o transverso do abdômen. 

O objetivo então foi determinar se o RDBT poderia reduzir a gravidade da incontinência e melhorar a qualidade de vida de mulheres pós-menopáusicas com IUE. Foi um ensaio clínico controlado randomizado com dois grupos com idade entre 45 – 65 anos, onde grupo experimental com 13 pacientes realizou o RDBT por 90 minutos, três vezes por semana, durante 16 semanas. Essa intervenção consistia em: 20 minutos de exercícios de respiração abdominal e 60 minutos de treino de dança Rumba, complementados por cinco minutos de aquecimento e cinco minutos de relaxamento. O outro grupo com 11 pacientes não recebeu nenhuma intervenção.

Os desfechos primários incluíram a função do assoalho pélvico, medida pela pressão vaginal de repouso (VRP), força e resistência dos músculos do assoalho pélvico. Já os desfechos secundários foram os sintomas e efeitos da IUE, avaliados por meio do teste do absorvente de 1 hora, do Questionário Internacional de Consulta sobre Incontinência (ICIQ–UI SF) e do I-QoL (Qualidade de Vida). A eletromiografia de superfície foi utilizada para medir a ativação dos músculos envolvidos nos movimentos básicos da dança Rumba, como o glúteo máximo, o reto abdominal e os músculos adutores, que mostraram uma ativação significativa durante a prática.

Após 16 semanas de intervenção, os resultados mostraram um aumento significativo na pressão vaginal de repouso e na força da MAP no grupo que realizou o RDBT. Notavelmente, a força dos MAP de classe I aumentou, sugerindo que o RDBT não só melhorou a força dos músculos superficiais, mas também teve um efeito positivo sobre os músculos profundos do assoalho pélvico. Isso demonstra uma variedade de benefícios, incluindo melhora na força e resistência dos MAP, redução na gravidade da incontinência e aumento da qualidade de vida (Tanji et al., 2022). 

Os autores consideraram algumas limitações no estudo como o pequeno número de participantes, que impediu a determinação do efeito isolado da dança Rumba sobre a IUE e o uso de métodos indiretos para medir os sintomas de perda urinária. Ainda assim, concluíram que o programa de RDBT pode aumentar a força e a resistência dos músculos do assoalho pélvico, reduzindo a gravidade dos sintomas de incontinência e melhorando a qualidade de vida das pacientes. Além disso, o estudo demonstrou que a RDBT é uma abordagem viável para mulheres pós-menopáusicas com IUE, destacando a possibilidade de adotar a dança como uma estratégia terapêutica eficaz e prazerosa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos apresentam limitações como o pequeno número de participantes e a curta duração das intervenções não dando robustez aos dados encontrados. Mesmo assim, é possível considerar que as diferentes estratégias terapêuticas apresentadas nesta revisão podem melhorar significativamente os sintomas de incontinência urinária de esforço (IUE) e a qualidade de vida de mulheres no climatério. 

Os resultados sugerem que abordagens combinadas e supervisionadas tendem a favorecer maior adesão, melhor ativação muscular e ganhos funcionais superiores. 

A diversificação das abordagens terapêuticas pode ampliar as possibilidades de intervenção, respeitando a individualidade e as preferências de cada paciente, bem como da sua efetividade no Tratamento da Incontinência Urinária de Esforço em mulheres menopáusicas.

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