IMUNOTERAPIA POR RECEPTORES DE ANTÍGENOS QUIMÉRICOS NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 

IMMUNOTHERAPY BY CHIMERICS ANTIGENS RECEPTORS IN ONCOLOGICAL TREATMENT: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505142128


Leandro Maia Leão1; Josemir de Almeida Lima2; Karina Brandão Menezes Lima3; Jackelyne Oliveira Costa Tenório4; Aline de Araújo Marques Mousinho5; Melissa Moura Saraiva6; Aldrya Ketly Pedrosa7; Geórgia Maria Ricardo Félix dos Santos8


RESUMO 

INTRODUÇÃO: A Imunoterapia Celular Adotiva (ICA) através dos Receptores de Antígenos  Quiméricos (CARs) tem demonstrado grande eficácia na área oncológica, principalmente em  malignidades do sistema hematopoiético, entretanto, ainda existem algumas limitações a serem  resolvidas, como um melhor entendimento sobre efeitos adversos da terapia, a eficácia desse tratamento  para tumores sólidos e eficácia para cânceres heterogêneos. OBJETIVO: Evidenciar as contribuições  atuais e perspectivas futuras da imunoterapia por receptores de antígenos quiméricos na área oncológica.  METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com análise qualitativa, as bases de  dados utilizadas para busca dos artigos foram: Nature, The Lancet e PubMed; tendo sido encontrado um  total de 1803 artigos através dos descritores: ‘’CAR-T Cell Therapy OR CAR-NK Cell Therapy AND  Remission Induction’’; ‘Adoptive Cell Therapy OR Immunotherapy AND CAR-T Cell AND Future  Directions’’ sendo utilizados alguns critérios do fluxograma PRISMA2020 e, sendo utilizada a Análise  Textual Discursiva (ATD) para formação das unidades de significado na análise dos dados.  RESULTADOS: Após aplicabilidade dos critérios de inclusão e exclusão, 14 artigos foram selecionados  através do recorte temporal de 5 anos. DISCUSSÃO: Evidenciou-se que as células CAR-T promovem  remissões parciais e/ou totais de malignidades hematológicas e são mais eficazes em cânceres  homogêneos, quanto que as células CAR-NK por sua vez, além dessas propriedades terapêuticas atuam  melhor na infiltração do microambiente de tumores sólidos. CONCLUSÃO: A imunoterapia CAR demonstra grande potencial para atingir a remissão de inúmeros tipos de cânceres, como já tem  demonstrado em suas aplicações ao redor do planeta, entretanto, ainda precisam ser transpassadas  algumas limitações como: um melhor entendimento geral sobre os efeitos adversos (síndromes  neurotóxicas) que ela pode apresentar e, o desenvolvimento de CARs de multisinalização, para ampliar a  eficácia do tratamento em cânceres heterogêneos. 

Palavras-chave: Imunoterapia Adotiva; Receptores de Antígenos Quiméricos; Oncologia Clínica

ABSTRACT 

INTRODUCTION: Adoptive Cellular Immunotherapy (ICA) through Chimeric Antigen Receptors  (CARs) has shown great efficacy in the oncological area, especially in malignancies of the hematopoietic  system. However, there are still some limitations to be resolved, such as a better understanding of the  adverse effects of therapy, the efficacy of this treatment for solid tumors and efficacy for heterogeneous  cancers. OBJECTIVE: To highlight the current contributions and future prospects of chimeric antigen receptor immunotherapy in the oncology field. METHODOLOGY: This is an integrative literature  review with a qualitative analysis. The databases used to search for the articles were: Nature, The Lancet  and PubMed; a total of 6273 articles were found using the descriptors: ”CAR-T Cell Therapy OR CAR NK Cell Therapy AND Remission Induction”; ”Adoptive Cell Therapy OR Immunotherapy AND CAR-T  Cell AND Future Directions” with some criteria from the PRISMA2020 flowchart being used, and  Textual Discourse Analysis (TDA) being used to form the units of meaning in the data analysis.  RESULTS: After applying the inclusion and exclusion criteria, 14 articles were selected over a 5-year  period. DISCUSSION: It was found that CAR-T cells promote partial and/or total remissions of  hematological malignancies and are more effective in homogeneous cancers, while CAR-NK cells, in  addition to these therapeutic properties, are better at infiltrating the microenvironment of solid tumors.  CONCLUSION: CAR immunotherapy shows great potential for achieving remission in numerous types  of cancer, as it has already demonstrated in its applications around the world. However, some limitations  still need to be overcome, such as: a better general understanding of the adverse effects (neurotoxic  syndromes) that it can present, and the development of multisignaling CARs, in order to increase the  effectiveness of treatment in heterogeneous cancers. 

Keywords: Adoptive Immunotherapy; Chimeric Antigen Receptors; Clinical Oncology

INTRODUÇÃO 

Essa pesquisa teve como objeto de estudo a Imunoterapia Celular Adotiva (ICA)  na utilização de Receptores de Antígenos Quiméricos (CARs), das contribuições atuais  até as perspectivas futuras dessa terapia na área oncológica. A escolha desse objeto de  estudo deu-se através de evidências científicas recentes acerca dessa nova abordagem  terapêutica emergente, sendo uma opção inovadora para o tratamento de diversos tipos  de cânceres através dos CARs, utilizados principalmente em neoplasias do sistema  hematopoiético. 

O câncer é caracterizado como uma nomenclatura associada a uma gama extensa  de grupos e subgrupos de doenças que podem surgir em quaisquer órgãos ou tecidos do  corpo, onde células anômalas adquirem a capacidade de desenvolver-se de forma  desordenada e incontrolável, o que lhes confere habilidades de ultrapassar os limites  fisiológicos de uma célula saudável, invadir órgãos ou sistemas adjacentes do corpo e  espalharem-se através dos mesmos, sendo esse último processo chamado de metástase  e, é o principal causador de morte por câncer no mundo (OMS, 2020). 

Partindo desta introdução sobre o câncer, é notório que essa doença vem  assolando a humanidade, onde nos tempos de outrora não haviam perspectivas de  tratamento, nem o conhecimento científico para tentar realizá-lo, entretanto, nos dias hodiernos as pesquisas apontam-nos uma terapia inovadora e eficaz para alguns tipos de  câncer, a imunoterapia celular adotiva que utiliza receptores de antígenos quiméricos. As células T modificadas por receptor de antígeno quimérico surgiram  recentemente, sendo uma opção terapêutica viável para o tratamento de tipos de câncer  hematológicos, onde dentre eles são incluídos tipos de leucemias linfoblástica, linfomas  de células do tipo B, linfoma folicular, linfoma de células do manto e mieloma múltiplo (RUELLA et al, 2023). 

As células modificadas pelo CAR são identificadas como uma terapia  personalizada para cada paciente de maneira individual, onde é realizada a coleta das  células T do mesmo, reprojetando-as em laboratório para capacitá-las a produzir uma proteína de membrana específica, reconhecendo e ligando-se nas proteínas de  membrana das células mutantes, os chamados antígenos de superfície (NATIONAL  CANCER INSTITUTE, 2025). 

Apesar do sucesso clínico na utilização da terapia com células CAR-T em  malignidades hematológicas, essa terapia possui a capacidade de resultar em toxicidades  significativas, sendo essas diretamente associadas à indução de respostas inflamatórias  sistêmicas (MORRIS et al, 2022).

Entretanto, existem alternativas ao tratamento CAR em células T que minimizam  a possibilidade dessas toxicidades, que é o tratamento CAR através das células NK. As células CAR-NK, quando comparadas as células CAR-T, apresentam vantagens  significativas, onde nessas vantagens estão inclusas: maior segurança como a ausência  da síndrome de liberação de citocinas (CRS) e síndrome de neurotoxicidade associada a  células efetoras imunes (ICANS) em ambiente autólogo, e também menor risco de  doença do enxerto contra o hospedeiro em ambiente halogênico; outra vantagem é a  capacidade de infiltração no microambiente tumoral em tumores sólidos (XIE et al,  2020). 

Mesmo havendo a possibilidade desse efeito adverso, o tratamento com células  CAR-T não foi descontinuado, onde essa abordagem terapêutica tem a capacidade de ser melhor desenvolvida e sua tecnologia estender-se para outros tipos de cânceres também. 

Face ao exposto, é relevante responder a seguinte questão norteadora: ‘’quais as  contribuições atuais e perspectivas futuras da imunoterapia celular adotiva através dos  receptores de antígenos quiméricos no tratamento oncológico?’’. 

Diante deste cenário e dos fatos abordados, a investigação das contribuições atuais e perspectivas futuras da Imunoterapia Celular Adotiva através dos Receptores de Antígenos Quiméricos é de suma relevância, pois a constante evolução das técnicas de  engenharia genética, unida a melhor compreensão dos mecanismos dos efeitos adversos, resistência tumoral e as novas estratégias para ampliar sua tecnologia, segurança e eficácia, apontam para a necessidade de estudos que explorem tanto os sucessos e possibilidades futuras quanto as limitações e desafios dessa abordagem. Portanto, Compreender os nuances dessa terapia é crucial para fornecer um  cuidado de alta qualidade e individualizado, além de preparar os profissionais da saúde  para os avanços científicos e tecnológicos emergentes, sendo assim, esse estudo teve como objetivo geral analisar as contribuições atuais e perspectivas futuras da  imunoterapia celular adotiva através dos receptores de antígeno quimérico no  tratamento oncológico. 

METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Esse modelo de produção de  conhecimento reúne e avalia criticamente diversos estudos primários e secundários  sobre uma determinada temática, oferecendo uma síntese compreensiva das evidências  existentes, identificando áreas de consenso e controvérsia, além de proporcionar  diretrizes para futuras investigações (KUTCHER & LEBARON, 2022).

Segundo Kutcher e LeBaron (2022), as etapas preconizadas pelo método para  elaboração de revisões integrativas são: 1. Elaboração da pergunta norteadora; 2.  Determinar os objetivos claros do estudo; 3. Busca ou amostragem na literatura, base de  dados e periódicos; 4. Coleta de dados e avaliação dos mesmos; 5. Análise crítica dos  estudos incluídos e sua síntese; 6. Discussão dos resultados obtidos e, 7. Apresentação  da revisão integrativa, divulgação dos resultados. 

Para guiar o desenvolvimento desta revisão, foi utilizada a estratégia PICO para  a elaboração do problema de pesquisa da seguinte maneira: População/Pacientes (P):  Pacientes diagnosticados com câncer do sistema hematopoiético, outros tipos de câncer e tumores sólidos; Intervenção (I): Utilização da imunoterapia celular adotiva por  Receptores de Antígenos Quiméricos (CAR); Comparação/Controle (C): Comparações dos CARs utilizados em células T e NK; Outcome/Desfecho (O): Identificar a eficácia  dessas terapias, seus avanços sobre o que já está estabelecido, limitações das mesmas e as perspectivas futuras (HOSSEINI et al, 2024).

A busca foi realizada nas bases de dados: Nature; The Lancet; PubMed; também  do portal da Organização Mundial da Saúde, identificando os artigos que entravam em  acordo com o objetivo geral do presente estudo. As publicações foram buscadas através  da Medical Subject Headings (MeSH) a saber: ‘’CAR-T Cell Therapy OR CAR-NK Cell  Therapy AND Remission Induction’’; ‘Adoptive Cell Therapy OR Immunotherapy AND  CAR-T Cell AND Future Directions’’; ‘’CAR-T Cell Therapy OR CAR-NK Cell Therapy  AND Cancer’’, “Adoptive Cell Therapy AND Immunotherapy OR CAR T-Cell  Therapy”, o escopo da busca foi melhorado através da pesquisa avançada para buscar os  descritores em title, abstract e keywords. A estratégia de busca eletrônica completa está ilustrada no Quadro 1.

Quadro 1. Estratégias de busca, Maceió, AL, Brasil, 2024.

Fonte: Autores (2025). 

A busca foi realizada entre os meses de fevereiro e maio de 2025. Os critérios de  inclusão e exclusão foram elaborados em tabela para melhor visualização e separação  dos mesmos, estão completos e ilustrados no Quadro 2.

Quadro 2. Critérios de Inclusão e Exclusão.

Fonte: Autores (2025).

Para seleção dos estudos, os pesquisadores, de forma independente, examinaram  as pesquisas com base no título, resumo e descritores; quando estes deixaram claro que se enquadravam nos critérios de elegibilidade adotados, o artigo completo era lido, a  partir disso os estudos relevantes foram alinhados, lidos em texto completo e  selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade empregados. 

A seleção da amostra de artigos da presente revisão deu-se seguindo algumas recomendações do Preferred Reporting Items For Systematic Reviews and  MetaAnalyses (PAGE et al, 2021). 

O processo completo pode ser visualizado no fluxograma da Figura 1. 

Figura 1. Fluxograma de seleção da amostra dos artigos.

Fonte: Autores (2025).

Sobre a extração dos dados, os pesquisadores, de forma independente, extraíram  as informações dos artigos publicados utilizando de protocolo pré-estabelecido. Durante  a extração dos dados qualitativos, foram checadas as seguintes informações: Autor,  revista, ano de publicação, desenho do estudo, população, critérios de inclusão e  exclusão, qual o instrumento de coleta de dados utilizado, variáveis estudadas e  principais desfechos. 

Os estudos foram analisados qualitativamente, seguindo alguns passos da  Análise Textual Discursiva (ATD) de Moraes e Galiazzi (2016) para melhor  organização, tendo assim sido abordado a autoria, ano de publicação, local de estudo,  intervalo de idade, objetivos, nível de evidência científica e os principais resultados.

Quadro 3. Formação das unidades de significado através da ATD.

Fonte: Autores (2025).

Para analisar o nível de evidência, foi utilizada a seguinte classificação: 1.  Revisões sistemáticas e/ou metanálises; 2. Revisões sistemáticas de estudos qualitativos  e/ou descritivos sem metanálise através do protocolo SWiM (Synthesis Without Meta Analysis); 3. Estudos clínicos originais; 4. Estudos qualitativos e descritivos. Tendo seu  conteúdo analisado e discutido sob a óptica da literatura científica. 

RESULTADOS

A partir da busca realizada e empregados os critérios de inclusão e exclusão,  foram selecionados 14 artigos para compor a discussão do presente estudo, onde foram  explorados e sintetizados os seguintes dados: autor principal, título do artigo, base de  dados em que o artigo está inserido, periódico que o estudo foi publicado, fator de  impacto do periódico que o estudo foi publicado, ano da publicação, objetivo do estudo  ter sido selecionado e a metodologia utilizada pelo mesmo (Quadro 3). Em seguida, foi  realizada uma análise textual discursiva que resultou na categoria analítica:  contribuições atuais da imunoterapia CAR em células T e NK, perspectivas futuras da  imunoterapia em novas gerações de CARs na área oncológica.

Quadro 4. Descrição dos artigos selecionados para o presente estudo.

Fonte: Autores (2025).

DISCUSSÕES 

A imunoterapia CAR-T para cânceres do sistema hematopoiético já demonstrou se eficaz em diversos casos ao redor do mundo, sinalizando para instituições e governos  que é uma terapia viável e uma alternativa a tratamentos mais convencionais, a FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador dos Estados Unidos da América, já  aprovou a imunoterapia CAR, tanto para uso em humanos (Em casos de Mieloma  Múltiplo, Leucemia de células B (Ou Leucemia Linfoblástica Aguda) e Linfoma não Hodgkin (LNH), quanto em testes clínicos in vitro e in vivo para uma variedade de  outros tipos de cânceres (BUI et al, 2024). 

Em 2012 nos Estados Unidos da América, a primeira paciente pediátrica do  mundo recebeu o tratamento com células CAR-T anti-CD19 para Leucemia  Linfoblástica Aguda do tipo B (LLA-B), após 5 meses da infusão da terapia, já não era  detectado nenhum traço de células cancerígenas em seu organismo, continuou sendo  acompanhada ao longo dos anos e a paciente ainda encontra-se em remissão total nos  dias atuais; levantando uma questão sob a óptica da nomenclatura associada ao câncer  que os pesquisadores utilizam, essa paciente está em remissão total? Ou está curada? Já  tendo perpassado 12 anos da terapia recebida pela mesma (BOUZIANAS & BOUZIANA, 2024). 

Resultados esperançosos vêm permeando a imunoterapia CAR, tanto em  cânceres específicos do sistema hematopoiético, quanto cânceres metastáticos que  originalmente eram do mesmo sistema, desde 2011 um paciente vinha recebendo  tratamentos convencionais de quimioterapia, radioterapia e cirurgia, estava em  constante remissão completa e recidiva, uma em 2016, onde passou por quimioterapia e  cirurgia de ressecção do lobo frontal direito e outra em 2017, sendo a última um  Linfoma Primário do Sistema Nervoso Central (PCNSL) sendo um tipo extranodal raro  de câncer, advindo de um Linfoma não-Hodgkin com característica altamente maligna,  esse tipo de tumor representa 3% dos tumores de SNC, sendo apresentado também em estatística que cerca de um terço dos pacientes que apresentam esse tumor, parecem ser  resistentes ao tratamento de convencional e, cerca de metade dos pacientes que  alcançaram alguma remissão, tem recaídas. O caso desse paciente foi estudado e ele  entrou no ensaio clínico de células CAR-T, sendo identificada a expressão de CD19 e  CD70 através de um lentivírus carregando essas codificações expressivas e sendo  inseridos nas células T, codificando-as em um CAR de quarta geração contendo anti CD19 e anti-CD70 munido de múltiplos domínios de sinalização intracelular (CD28- CD27-CD3z-2A-iCasp9), sendo feito exame de ressonância magnética antes da infusão,  um mês após infusão e dezessete meses após infusão, demonstrando êxito na remissão  total da massa tumoral que estava presente no lobo frontal (TU et al, 2020). 

Pacientes com linfoma primário do sistema nervoso central (CPNPC) possuem  uma condição rara, malignidade que afeta células B (LDGCB), que tem prognóstico  desfavorável por conta de sua alta taxa de recidivas e, com uma taxa de sobrevivência  global média de 6,8 meses de vida após diagnóstico, adicionando a equação a baixa capacidade de tratamento dessa condição, tendo em vista sua complexidade, custo e  ausência de resposta ao tratamento de resgate e, quando pacientes alcançavam alguma  remissão, era de curta duração, quase sem cura definitiva. Através do maior estudo de coorte realizado na França, foi obtido uma quantidade favorável de pacientes em  remissão dessa malignidade tratada com células CAR-T, apresentando 46% do total de  pacientes com remissão prolongada e sem utilização de terapias adicionais (CHOQUET  et al, 2024). 

A imunoterapia CAR em células T já demonstrou sua eficácia ao ser utilizada  para tratar diversos pacientes ao redor do mundo, conseguindo remissões parciais e  totais de longa duração, sendo exitosas na maior parte dos casos, e sua utilização sendo sozinha ou em conjunto a outros tipos de terapias, entretanto, ainda existem barreiras a  serem transpassadas, uma delas é a presença dos efeitos adversos que a imunoterapia  CAR pode apresentar, as chamadas síndromes neurotóxicas (MORRIS et al, 2022). 

A imunoterapia CAR-T tem a capacidade de resultar em toxicidades  significativas, associadas a indução sistêmica de respostas efetoras imunes, duas  grandes toxicidades foram identificadas nos primeiros estudos com células CAR-T  feitos em camundongos, sendo eventualmente analisadas através de ensaios clínicos: a  chamada Síndrome de Liberação de Citocinas (CRS) sendo a primeira, e uma segunda  síndrome neurotóxica que possui uma associação em decorrência da primeira, chamada  de Síndrome de Neurotoxicidade Associada a Células Efetoras Imunes (ICANS)  (MORRIS et al, 2022; BOULCH et al, 2023). 

A CRS tem início com sintomas como febre, rigor muscular, mal-estar e perda  de peso, a febre pode ser de alto grau e pode vir a persistir por vários dias, quando em  casos graves, ela possui características de uma resposta inflamatória a nível sistêmico,  onde o paciente pode manifestar sintomas como: hipóxia, hipotensão, disfunção  orgânica, podendo também ocorrer disfunção e falência múltipla de órgãos, incluindo  sistemas cardíaco, hepático, pulmonar, gastrointestinal e renal, mesmo sendo observada  a gravidade dessa condição, ela é evitável e reversível na maior parte dos casos, tendo o  manejo dos sintomas em sua fase aguda como crucial para o tratamento do paciente,  evitando assim maiores complicações, vale salientar que essa condição não inviabiliza a  utilização do tratamento pelas células CAR-T (MORRIS et al, 2022; REJESKI et al,  2024). 

A segunda condição chamada ICANS, tem sua manifestação como uma  encefalopatia tóxica, sendo observados os seguintes sintomas manifestados: dislalia, desorientação, disfagia, afasia, habilidades motoras finas prejudicadas e obnubilação;  em casos agravados também foram observados os sintomas: miastenia, convulsões,  edema cerebral e coma, essas condições ocorrem por conta do aumento na sensibilidade  da barreira hematoencefálica, perpassando para a área neurológica as citocinas liberadas  pelas células efetoras imunes; a maior parte dos pacientes que apresentem os sintomas  de ICANS tiveram anteriormente a CRS, sendo as duas associadas chamadas de síndromes neurotóxicas por imunoterapia de células CAR-T; podem ocorrer com menor  frequência alguns casos em que o paciente apresente as duas síndromes  concomitantemente e, semelhante ao quadro da CRS, a ICANS também é reversível na  maior parte dos casos, sem déficits neurológicos permanentes quando manejada  corretamente (MORRIS et al, 2022; REJESKI et al, 2024). 

Os dados clínicos concerne às síndromes neurotóxicas sugerem uma correlação  na presença das síndromes com a carga tumoral do paciente no momento da infusão  com células CAR-T, sugerindo que, quanto maior a carga tumoral no paciente, maiores  as chances de desenvolver as síndromes neurotóxicas por células CAR-T, entretanto,  mesmo com o risco desses efeitos adversos, a terapia ainda é viável para utilização em  humanos (BOULCH et al, 2023). 

Não é só a célula T que tem a capacidade de receber os CARs, as células NK (Natural Killers) também podem recebê-los e existem diferenças substanciais nos  mecanismos de interação celular e modus operandi quando se trata das células NK,  sendo uma opção promissora no tratamento de doenças oncológicas (XIE et al, 2020). 

As células NK modificadas para tornarem-se CAR-NK possuem uma maior  segurança que foi demonstrada em ambiente clínico, o risco de neurotoxicidade no alvo  e fora do tumor para tecidos saudáveis é relativamente baixo devido a vida útil da célula  que é limitada no percurso da circulação sanguínea; as infusões alogênicas de células  CAR-NK reduziram o risco de doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH), as CAR NK secretam diferentes tipos de citocinas, geralmente IFN-y e GM-CSF, enquanto as  células CAR-T produzem predominantemente interleucinas inflamatórias como  citocinas utilizadas no seu modus operandi (XIE et al, 2020; WANG et al, 2022). 

As células CAR-NK tem maior capacidade também para lidar com tumores  heterogêneos que necessitem de mais receptores de antígeno do que o CAR que lhe foi  conferida, tendo a capacidade de reconhecer outras células tumorais que independem do reconhecimento de um CAR; outra vantagem que as células CAR-NK possuem é a  capacidade de serem geradas de diversas fontes, incluindo linhagens celulares de células NK comuns autólogas ou alogênicas, células mononucleares do sangue periférico  (PBMCs), células retiradas do cordão umbilical (UCB) e células-tronco pluripotentes  induzidas (iPSCs), com a capacidade de produção em massa e o produto tornar-se  ‘’pronto para uso’’ em aplicações clínicas (WANG et al, 2022). 

As células CAR-NK tem maior capacidade de infiltração, tendo em vista que as  células cancerígenas conseguem criar microambientes propícios para sua sobrevivência, principalmente quando em estado de tumor sólido, diminuindo a capacidade das células  imunes alcançarem as células tumorais que estiverem permeadas por esse  microambiente, quando as CAR-NK adquirem a habilidade chamada de ‘’maior  capacidade de infiltração no microambiente tumoral’’, por conta da melhora no mecanismo de lise através de Perforinas e Granzimas que induzem a apoptose, piroptose  ou necroptose (MONTAGNER et al, 2020; ZHONG & LIU, 2024). 

As células NK possuem naturalmente a capacidade de reconhecer e atacar  tumores cancerígenos, entretanto, quando elas estão modificadas por CAR específico, a  habilidade de causar a morte celular de células cancerígenas é amplificada, fazendo da  célula NK uma promessa para tratamento de tumores sólidos de difícil infiltração no  microambiente tumoral (MONTAGNER et al, 2020; PENG et al, 2024). 

A imunoterapia CAR está cada vez mais ganhando espaço na comunidade  científica, sendo visualizada como a possível ferramenta na remissão de doenças onde antes essa possibilidade não era viável; dentro dessa linha de pesquisas as gerações e  fabricações dos CARs são de grande relevância para amplificar ainda mais a inovação  terapêutica que já foi alcançada pela mesma; onde estão sendo visualizadas as  possibilidades do uso de CARs em outras células do sistema imunológico como  Macrófagos e Células Dendríticas e, também no desenvolvimento de melhorias nas suas gerações, possibilitando a criação de CARs com múltiplos receptores de alvos  (melhorando a eficácia das células CAR perante múltiplos tipos de cânceres, os  chamados cânceres heterogêneos) e também na busca de reduzir os possíveis efeitos  adversos dessa terapia quando utilizada em células T (VERMA et al, 2023). 

CONCLUSÃO 

Infere-se que os resultados desta revisão integrativa revelam que a imunoterapia CAR tem alcançado grande capacidade terapêutica principalmente para malignidades hematológicas, entretanto, a tecnologia que a circunda possibilita uma gama imensa de  projeções e hipóteses e são nelas que a terapia CAR precisa estar inserida, a capacidade de modificar células do sistema imunológico, conferindo-as habilidades de  reconhecimento, de migração e infiltração melhoradas. 

Face aos resultados e discussão, evidenciou-se que as células CAR-T possuem a  capacidade de promover remissões parciais em cânceres heterogêneos ou totais em  cânceres homogêneos, principalmente quando usadas em malignidades hematológicas; mesmo quando apresentam os efeitos adversos chamados de síndromes neurotóxicas; quanto as células CAR-NK por sua vez, além das propriedades terapêuticas, conseguem atuar melhor na infiltração do microambiente tumoral de tumores sólidos; possui  também menor risco de apresentar efeitos adversos de síndromes neurotóxicas quando  comparadas às células CAR-T por conta de sua sobrevida celular. 

Perpassando as perspectivas futuras, a imunoterapia CAR já mostra-se uma  grande ferramenta coadjuvante no tratamento oncológico para os próximos anos; e vem  sendo melhor desenvolvida a projeção de novas gerações de CARs que tenham  múltiplos domínios de sinalização e reconhecimento, melhorando assim a terapêutica  perante cânceres heterogêneos que são atualmente um desafio para essa terapia, sendo  esses os motivos para que sejam realizados mais estudos nessa área, visando aumentar  as capacidades terapêuticas e seu entendimento geral, seja no quesito eficácia ou efeitos  adversos oriundos da mesma. 

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1Centro Universitário CESMAC, ORCID: 0000-0002-8393-687X

2Centro Universitário CESMAC, ORCID: 0000-0003-3295-1006

3Centro Universitário de Maceió (UNIMA), ORCID: 0000-0001-5915- 5689

4Centro Universitário de Maceió (UNIMA), ORCID: 0000-0002-0788-0552

5Centro Universitário de Maceió (UNIMA), ORCID: 0009-0007-4702-5159

6Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), ORCID: 0009-0003-8096-8897

7Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), ORCID: 0000-0002-2422-2738

8Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas  (UNCISAL), ORCID: 0000-0003-0154-597X