ANALYSIS OF THE ROLE OF NURSES IN MANAGING PRESSURE INJURY CARE IN AN INTENSIVE CARE UNIT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505141734
Ana Scheila Poremski1
Gabriela Saplinski1
Matheus Jose Meyer1
Rafaela Saplinski1
Simone Sell1
Orientadora: Patrícia Farias2
Resumo
Objetivo: identificar o papel do enfermeiro no manejo da lesão por pressão com foco em pacientes em Unidade de Terapia Intensiva. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados Lilacs, BDENf e Medline por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e SCIELO. Os descritores utilizados na pesquisa foram ‘lesão por pressão’, ‘assistência de enfermagem’ e ‘unidade de terapia intensiva’. A amostra final foi constituída por 19 artigos científicos, publicados entre 2020 e 2025 em língua portuguesa. Resultados: O papel do enfermeiro no manejo das Lesões por Pressão envolve domínio sobre a classificação dos estágios, avaliação criteriosa dos fatores de risco, identificação das áreas corporais mais acometidas, utilização de escalas específicas para prevenção, análise da atuação da equipe multiprofissional na UTI e aplicação de cuidados direcionados à prevenção dessas lesões. Conclusão: O paciente crítico em Unidade de Terapia Intensiva apresenta risco elevado para o desenvolvimento de Lesões por Pressão devido às suas condições clínicas, o que ressalta a importância do enfermeiro na prevenção. Torna-se essencial, portanto, que o enfermeiro com a equipe de enfermagem detenha conhecimento técnico aprofundado sobre as classificações e os fatores de risco, a fim de prescrever os cuidados mais adequados.
Palavras-chave: lesão por pressão; enfermagem; unidade de terapia intensiva.
1. INTRODUÇÃO
A Lesão por Pressão (LP) é uma lesão tecidual resultante da redução do fluxo sanguíneo em uma determinada região corporal ocasionada por um longo período de contato das protuberâncias ósseas contra superfícies rígidas, causando desnutrição da região comprimida e necrose do tecido. (GONÇALVES et al, 2020).
O desenvolvimento das LPs causa danos significativos aos pacientes, pois dificulta o processo de recuperação funcional, pode causar dor e levar ao desenvolvimento de complicações e ao agravamento de seu estado de saúde. Esse tipo de lesão está associado a internações prolongadas, sepse, mortalidade, e, ainda, ao aumento da carga de trabalho por parte da equipe de saúde. (SANTOS et al, 2021).
As LPs estão entre as principais complicações preveníveis que ocorrem em ambiente intra-hospitalar e são um importante indicador de qualidade da assistência de enfermagem e de segurança do paciente. Além de gerar gastos para as instituições de saúde, pelo alto custo do tratamento. (SOUZA TMP et al., 2024)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) descreve a LP como o terceiro tipo de evento adverso mais frequentemente notificado pelos Núcleo de segurança do paciente (NSP) nos serviços de saúde do país. De acordo com o relatório nacional de incidentes relacionados à assistência à saúde, notificados ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), no período de 2014 a julho de 2022, dos 1.100.352 incidentes notificados, 223.378 (20,3%) corresponderam às notificações de lesões por pressão (ANVISA, 2023).
A prevalência de LP em ambientes de saúde é considerada um indicador de qualidade da assistência de enfermagem, isso porque os enfermeiros são os principais responsáveis pela avaliação do risco do paciente e pelo gerenciamento da integridade da pele. A má prática de prevenção de LP aumenta a incidência e prevalência de complicações associadas à lesão na maioria dos serviços de saúde. Portanto, a prevenção da lesão se tornou o foco principal de muitas instalações de saúde no mundo e é uma parte vital dos cuidados de enfermagem (SANTOS et al, 2021).
Nos cuidados diários, no universo da UTI, os pacientes têm outras prioridades terapêuticas, que muitas vezes dificultam o uso de métodos preventivos para LP, gerando uma condição propícia para o desenvolvimento e ocorrência dessas lesões. Elas são eventos adversos, de rápida evolução, frequentes durante a internação e que podem causar outras complicações, como mais chances de mortalidade, e prolongar o tempo de tratamento e de reabilitação. (SANTOS et al, 2021)
Neste caso, o profissional enfermeiro deve ser capaz de conhecer a LP, incluindo a frequência com que ocorre, características e fatores relacionados. O enfermeiro precisa desenvolver e aprimorar habilidades de gerenciamento e supervisão de serviços a fim de obter, manter e / ou melhorar os recursos físico, técnico, humano e de informação para melhorar a segurança pacientes, familiares e todos os envolvidos no processo de cuidado, inclusive para prevenir a LPP (FURTADO; KUNZ, 2022).
Diante da relevância do enfermeiro como integrante fundamental da equipe multidisciplinar na prevenção das lesões por pressão, e considerando os impactos negativos que tais lesões causam à saúde e à recuperação dos pacientes críticos, este estudo tem como objetivo analisar o papel do enfermeiro no gerenciamento de cuidados com lesão por pressão, identificando estratégias utilizadas na prevenção e tratamento, descrevendo os desafios enfrentados no cuidado com os pacientes de alto risco e avaliar a eficácia das ações do enfermeiro no controle e redução das LPs.
Ademais, a questão norteadora da pesquisa é: qual é o papel do enfermeiro no gerenciamento dos cuidados relacionados à lesão por pressão em pacientes internados em unidades de terapia intensiva?
2. METODOLOGIA
A revisão foi elaborada a partir de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa e natureza descritiva, caracterizando-se como uma revisão integrativa da literatura. A busca por dados bibliográficos foi realizada em abril de 2025 nas bases de dados da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), incluindo Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Bedenf (Base de Dados de Enfermagem) e Medline (Medical Literature Analysis and Retrievel System Online), além da base de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online).
Os descritores utilizados na pesquisa foram: ‘lesão por pressão’, ‘assistência de enfermagem’ e ‘unidade de terapia intensiva’. Foram filtrados artigos publicados entre 2020 e 2025, em língua portuguesa, e com texto completo disponível.
A seguir, realizou-se a leitura do título e resumo de todos os estudos identificados. Quando as informações no resumo não permitiram uma decisão clara sobre a inclusão do estudo, procedeu-se à leitura completa do artigo. Foram considerados os estudos que abordaram os objetivos, métodos e resultados relacionados à lesão por pressão em pacientes adultos em unidades de terapia intensiva.
Os artigos excluídos da revisão foram selecionados com base em critérios rigorosos que garantem a relevância da pesquisa. Foram desconsiderados aqueles que não tratavam especificamente da lesão por pressão em pacientes adultos em unidades de terapia intensiva, incluindo estudos específicos para outras situações ou contextos. Artigos que não atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos foram descartados. Por fim, estudos com metodologias específicas ou que não apresentaram resultados significativos foram considerados irrelevantes. Esses critérios garantiram que a revisão se concentrasse em literatura de qualidade e pertinente ao tema em questão.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante o percurso de busca e seleção dos artigos, foram identificadas 59 publicações, sendo 2 da base de dados SCIELO, 26 da LILACS, 30 da BEDEnf e 1 da MEDLINE. Após a leitura do título, foram excluídos 28 artigos, sendo que 14 estavam duplicados nas bases de dados de escolha e 14 artigos não se relacionavam com a proposta desse estudo. Dos 31 artigos restantes, 12 ainda foram excluídos após a leitura do resumo por não estarem de acordo com o contexto paciente adulto em unidade de terapia intensiva.
Fluxograma 1. Trajetória da busca realizada nas bases de dados para este estudo.

Fonte: autoria própria, 2025.
No Quadro 1, apresentado abaixo, estão os estudos selecionados.
Quadro 1. Quadro sinóptico dos estudos selecionados com identificação dos estudos (E). Título em ordem alfabética, Autores, Ano de publicação, objetivo e resultados.
ARTIGO | TÍTULO | AUTOR/ANO | TIPO DE ESTUDO | RESULTADOS |
A1 | A mudança de decúbito na prevenção de lesão por pressão em pacientes na terapia intensiva | Gonçalves A.D.C.; et al., 2020. | Revisão integrativa | De acordo com os estudos analisados, o Enfermeiro é o profissional responsável não apenas pelos cuidados assistenciais, mas pela avaliação dos fatores de risco de LP na admissão, da integridade da pele e dos resultados obtidos com as ações adotadas. A mudança de decúbito do paciente foi a medida mais adotada. |
A2 | Análise do conhecimento de profissionais de enfermagem sobre prevenção de lesão por pressão: estudo transversal | Nóbrega IS, et al, 2023. | Estudo transversal de caráter descritivo exploratório-rio e de abordagem quantitativa. | Os resultados encontrados neste estudo permitiram identificar um nível insuficiente de conhecimento e uma percepção de aptidão equivocada, relacionados à prevenção de lesão por pressão, entre os participantes do estudo, com ênfase para os técnicos e para os graduandos em enfermagem. Logo, esta pesquisa aponta para a necessidade de ações educativas que visem a capacitação do público supramencionado. |
A3 | Assistência de enfermagem na prevenção e tratamento de lesões por pressão na Unidade de Terapia Intensiva: novas tecnologias na prática assistencial. | Montenegr o FMB, et al, 2025. | Revisão integrativa | Estudos demonstraram que essa população é particularmente vulnerável a desenvolver LP devido às suas condições clínicas e situações de fragilidade. Sobre a importância da assistência de enfermagem na prevenção de LP na UTI. Foram discutidas medidas como a mudança de decúbito a cada duas horas, o uso de dispositivos de alívio de pressão e a manutenção de uma boa higiene e nutrição nos pacientes. Enfatizou-se a necessidade de ações de enfermagem efetivas no tratamento de LP. Usando a classificação de intervenções de enfermagem (NIC), destacou-se a importância de ações como limpeza e curativo da LP, administração de medicamentos adequados, manejo da dor e apoio emocional aos pacientes. |
A4 | Atuação do enfermeiro na prevenção e cuidado ao paciente com úlcera por pressão na unidade de terapia intensiva | Felisberto MP, Takashi MH, 2022. | Revisão integrativa | Os cuidados de enfermagem às úlceras por pressão abrangem intervenções relacionadas ao acompanhamento integral do paciente em risco de adquirir a lesão, por meio da utilização de escalas de predição de risco, conhecimento dos fatores de risco e da realidade das unidades de saúde pelo enfermeiro. finais: a importância do enfermeiro por meio da prescrição dos cuidados e as intervenções relacionadas ao acompanhamento integral do paciente, é de suma importância à prevenção e ao tratamento das úlceras por pressão como forma de reduzir o tempo de permanência do paciente na Unidade de Terapia Intensiva e, consequentemente, os custos hospitalares, melhorias no prognóstico do paciente e prevenção de infecções. |
A5 | Avaliação do conhecimento dos profissionais de Enfermagem na prevenção da lesão por pressão na terapia intensiva | Araujo CAF, et al. 2022. | Estudo comparativo, transversal , com delineamento prospectivo | Os participantes avaliados demonstraram níveis de conhecimento eficaz e baixa divergência entre as categorias, evidenciando que os profissionais estão capacitados e preparados, possuindo domínio nos fatores relacionados à avaliação, prevenção e classificação das lesões por pressão na terapia intensiva após a realização de um treinamento. |
A6 | Bundle para prevenção de lesão por pressão associada a dispositivos médicos em pacientes obesos. | Andrade VS do N e Sebold LF, 2023 | Estudo metodológico, com revisão de escopo e validação do Bundle. | Nove enfermeiros, experts em estomaterapia, validaram o Bundle, cujos itens foram: avaliação da pele da pessoa com obesidade; cuidadode higiene da pessoa com obesidade e em uso de dispositivo médico; cuidados de enfermagem com o dispositivo médico na pessoa com obesidade; educação em saúde sobre hábitos saudáveis; educação continuada sobre os cuidados de enfermagem com a pessoa com obesidade. Os itens obtiveram o índice de validade de Conteúdo ≥0,80% e concordância de 89,8%. O Bundle pode padronizar o cuidado de enfermagem, direcionando e instrumentalizando o enfermeiro para as melhores práticas de intervenções de cuidado. |
A7 | Conhecimento dos enfermeiros sobre o protocolo de lesão por pressão em hospital privado e acreditado. | Moura VL de L et al. 2021 | Pesquisa com abordagem quantitati- va e transversal | Houve prevalência de participação dos enfermeiros atuantes em unidade de terapia intensiva (n=8;29,63%), e nas unidades de internação (n=5; 18,52%). Quanto a utilização do protocolo de prevenção e classificação de lesão por pressão instituído pelo hospital da pesquisa, 16 enfermeiros o utilizam (59,26%) e 21 (77,78%) conseguem aplicar a escala de Braden diariamente. Em relação aos curativos padronizados na instituição através do protocolo, 14 (51,85%) dos enfermeiros se sentem seguros para a indicação e utilização dos mesmos e 13 (48,15%) não se sentem seguros. Nove enfermeiros referiram participar na comissão de curativos (33,33%). Os dados revelaram utilização da escala de Braden diariamente pelos enfermeiros, baixa participação dos profissionais na comissão de curativos e incipiência quanto ao conhecimento dos enfermeiros em relação ao protocolo. |
A8 | Desenvolvi- mento e implementa- ção de um planejamento estratégico situacional na UTI: prevenção de lesão por pressão | Santos ES, et al, 2025. | Estudo descritivo | Foi possível fortalecer a importância da mudança de decúbito, como também, ressaltar o direito e dever quanto à segurança do paciente, lançando mão de estratégias de conscientização, educação e implementação de uma nova prática que antes não era realizada. |
A9 | Educação em serviço para a prevenção de lesão por pressão através do planejamento estratégico situacional | Santos, CC et al, 2020 | Projeto de intervenção. | As ações realizadas seguiram quatro momentos: o “explicativo”, o “normativo”, o “estratégico” e o “tático–operacional”. A atuação planejada sobre o recorte da realidade implicou num esforço de entendimento entre os diversos atores sociais, de modo a permitir uma explicação abrangente sobre a temática e as formas de intervir sobre os problemas, de modo a resolvê-los ou controlá-los. Estratégias para diminuir a incidência e prevalência das LPP ainda caminham a passos lentos e é notável a necessidade de uma equipe multiprofissional capacitada e interligada no cuidar. |
A10 | Eventos adversos em pacientes de terapia intensiva: estudo transversal | Assis SF et al, 2022 | Estudo transversal | A prevalência dos eventos adversos na unidade é alta e o déficit de pessoal de enfermagem na unidade revelou a necessidade de dimensionamento adequado de pessoal para reduzir os danos ocasionados pelos cuidados prestados aos pacientes críticos. |
A11 | Incidência de lesão por pressão e tempo de assistência de enfermagem em terapia intensiva | Ali, YCMM et al, 2020 | Estudo epidemiológico, observacional, retrospectivo, realizado em uma UTI de um hospital universitár io. | A média de incidência de LP entre 2010 e 2014 foi de 10,83% (DP = 2,87) e o tempo médio de assistência de enfermagem despendido aos pacientes internados em UTI foi de 15 horas (DP = 0,94). Não houve correlação estatisticamente significante entre incidência de LP e o tempo de assistência de enfermagem (r = -0,17; p = 0,199), porém os resultados sugeriram sobrecarga da equipe. Este estudo confirma a importância da implementação e reavaliação da eficácia de protocolos de cuidados preventivos para LP, além de alertar sobre a sobrecarga de trabalho de enfermagem na assistência aos pacientes críticos. |
A12 | Incidência de lesão por pressão em pacientes na unidade de terapia intensiva de um hospital filantrópico | Santos, J.B.S. et al, 2020. | Estudo transversal documen- tal e ana- lítico de natureza quantitativa. | Percebe-se a importância de um trabalho em equipe, com planejamento estratégico, buscando sempre solucionar as falhas não de forma isolada, mas em conjunto, seja na área médica, da enfermagem, nutricional, fisioterapia, e dos outros profissionais envolvidos no cuidado do paciente internado nesta unidade. |
A13 | Lesão por pressão em pacientes críticos: prevalência e fatores associados | Souza TMP et al, 2024 | Estudo transversal | A prevalência pontual de LP foi de 46,34% (51/123 pacientes) e a de lesão por pressão relacionada a dispositivos médicos (LPRDM) de 8,94% (11/123 pacientes). A localização anatômica mais frequente das LPs foi a região sacral (38,02%), classificada como estágio 2 (18,30%). As orelhas (7,03%) e o estágio 2 (78,57%) foram os mais frequentes nas LPRDMs. Pela análise multivariada, pacientes em uso de cremes hidratantes, com escore de Braden <17,5 e pressão arterial sistólica <134 mmHg mostraram-se como fatores associados ao desenvolvimento de LP. O estudo contribuiu para o conhecimento do perfil epidemiológico do paciente com LP internado em UTI cardiológica, auxiliando a equipe de enfermagem no planejamento e na implementação de cuidados preventivos. |
A14 | Melhoria da qualidade da prevenção de lesão por pressão em uma unidade de terapia intensiva. | Martins SLL de A et al, 2024 | Estudo de intervençã o | A avaliação inicial da qualidade mostrou que o nível de conformidade de prevenção de lesão por pressão era baixo, com praticamente todos os critérios apresentando taxas inferiores a 50%. Após as intervenções, houve aumento na conformidade de quase todos os critérios. A utilização de um projeto de melhoria de qualidade possibilitou a melhora do processo de prevenção de lesão por pressão e contribuiu com a comunidade científica, ao corroborar a eficácia destes projetos na implementação de programas de prevenção lesão por pressão, bem como incitou a reflexão acerca da multifatorialidade envolvida neste processo preventivo. |
A15 | Ocorrência de lesão por pressão em pacientes internados em unidade de terapia intensiva | Santos SJ et al, 2021 | Estudo transversal, | O presente estudo contribuiu para avaliar os fatores associados à lesão por pressão em pacientes adultos em unidade de terapia. E embora a natureza do estudo não consiga explicar as relações causais, apresenta um recorte epidemiológico que confirma importantes desfechos clínicos e de gravidade. Assim, tais achados podem e devem ser incorporados a diretrizes clínicas, políticas públicas, protocolos e também capacitações profissionais, para que se possa prevenir as lesões e orientar toda a equipe que assiste o paciente crítico tendo como objetivo a redução das taxas de incidência de LP em unidades de terapia intensiva. |
A16 | Percepção de profissionais de enfermagem sobre lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos | Galetto SG da S et al, 2021 | Pesquisa qualitativa e descritiva. | Emergiram cinco Ideias Centrais: tipos de dispositivos e ocorrência das lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos; (in)visibilidade e (des)valorização destas lesões no cuidado ao paciente crítico; lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos podem ser inevitáveis; perfil do paciente crítico e risco para desenvolver a lesão; e (des)conhecimento profissional sobre o impacto da lesão na vida das pessoas após alta da terapia intensiva. A percepção da enfermagem acerca das lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos está vinculada aos tipos de dispositivos, a ocorrência das lesões na terapia intensiva, ao cuidado ofertado e ao impacto das lesões na vida das pessoas. |
A17 | Prevenção de lesão por pressão em unidade de terapia intensiva: implementação de melhores práticas | Sichieri K et al, 2024 | Estudo quase experimental. | Avaliaram-se 2.677 dias de registros de auditorias de base e de seguimento, relativos a 340 pacientes. A conformidade das auditorias de base e seguimento foram diferentes para a maioria dos critérios (p-valor <0,001). As principais barreiras foram ausência de registros de informações essenciais sobre lesão por pressão nos prontuários e cujas estratégias para superação incluíram revisão do protocolo de prevenção de lesão por pressão e capacitação da equipe de enfermagem. A intervenção adotada contribuiu para melhoria das práticas acerca da prevenção de lesão por pressão, expressa pelo aumento da taxa de conformidade dos critérios e proposição de estratégias de melhoria para superação de barreiras. |
A18 | Qualidade da assistência em uma unidade de terapia intensiva para prevenção de lesão por pressão. | Estudo transversal | Verificou-se uma assistência sofrível, segundo o IP, nos três domínios: medidas preventivas e detecção precoce de LP (IP: 66,6%+24,5); medidas de alívio de pressão (IP: 41,9%+21,6) e avaliação e notificação (IP: 65,1%+14,5), com IP médio geral igual a 57,8% (Desvio Padrão: +13,8), e ações de prevenção realizadas de forma inadequada. Foi possível identificar boas práticas escassas, o que implica em uma assistência sofrível e insegura. É urgente o planejamento e a implementação de estratégias de melhorias com vistas à segurança do paciente e qualidade da assistência. | |
A19 | Risco para lesão por pressão em pacientes de unidade de terapia intensiva. | Campos MMY et al, 2021 | Estudo transversal | Dos 324 pacientes, 46 (14,2%) desenvolveram lesão por pressão, sendo mais frequente nas regiões sacral e calcânea. Fatores de risco para lesão por pressão foram idade, tempo de internação e permanência na enfermaria antes da Unidade de Terapia Intensiva. A incidência elevada, a localização corpórea e o estágio da lesão por pressão observados mostram a vulnerabilidade do paciente de Unidade de Terapia Intensiva a este tipo de lesão. Os riscos para lesão por pressão abrangem fatores relacionados ao paciente, à hospitalização e à gravidade da doença, sendo que a combinação entre eles deve ser valorizada na avaliação diária do paciente crítico. |
Fonte: autoria própria, 2025.
No Quadro 2 foram expostos os resultados de cada artigo selecionado sobre o papel do enfermeiro no manejo das lesões por pressão em UTI.
ARTIGOS | RESULTADO |
A2, A9, A10, A11, A14, A17, A18. | Déficit de profissionais e falta de conhecimento na prevenção e tratamento de LP. |
A3, A8, A19. | Métodos adotados para prevenção do surgimento de LP. |
A1, A4, A5, A6, A7, A8, A12, A13, A15, A16. | Profissional utilizou a conduta adequada, porém havia fatores sociais que ajudaram a desenvolver a LP. |
Fonte: autoria própria, 2025.
DISCUSSÃO
Nesse ambiente crítico, onde os pacientes frequentemente enfrentam condições de saúde comprometidas e mobilidade severamente limitada, o enfermeiro se torna a principal linha de defesa na identificação, prevenção e tratamento dessas lesões. Sua atuação transcende a mera aplicação de proteção, exigindo uma abordagem holística que leva em consideração não apenas as necessidades físicas, mas também as dimensões emocionais e sociais do paciente. Essa visão integral é fundamental para garantir um cuidado que respeite a dignidade do indivíduo e promova seu bem-estar, especialmente em um contexto em que a vulnerabilidade é particular. ¹
Para uma análise mais aprofundada, os resultados deste estudo foram organizados em três categorias que refletem as complexidades enfrentadas pelos profissionais de saúde. A primeira categoria aborda o déficit de profissionais e a falta de conhecimento na prevenção e tratamento das lesões por pressão, evidenciando como a deficiência de formação adequada pode comprometer a qualidade do cuidado prestado. A segunda categoria examina a situação em que, apesar do profissional ter utilizado condutas adequadas, fatores sociais e contextuais desenvolvidos para o desenvolvimento das lesões. Essa divisão permite uma discussão mais rica e estruturada, ressaltando a necessidade de uma abordagem colaborativa e multidisciplinar que não apenas capacita os enfermeiros, mas também considera as condições sociais que impactam a saúde dos pacientes, promovendo assim um cuidado mais eficaz e humanizado. ¹
Categoria 1: Déficit de profissionais e falta de conhecimento na prevenção e tratamento de LP
O enfermeiro que está diretamente ligado ao cuidado também é responsável pela segurança do paciente e cuidados com a pele do paciente, promovendo saúde e prevenindo complicações, erros e eventos adversos ao realizar as ações de boas práticas. Considerando as LP como um indicador de qualidade de assistência de enfermagem, reduzir seu número é papel primordial da equipe de enfermagem por meio de estratégias e ações contínuas de prevenção. (REBOLÇAS et al, 2020)
Ademais, a enfermagem é incumbida de assistir os pacientes 24 horas por dia dentro da UTIs, pautando sua atuação em um processo sistemático e deliberativo, dividido em 5 etapas, nas quais as necessidades do cliente devem ser investigadas, avaliadas e, assim, assistidas satisfatoriamente, tanto por questões éticas quanto por questões legais. No entanto, o conhecimento limitado, por vezes, interfere na prática clínica desses profissionais, resultando em condutas baseadas na intuição, experiência ou hábito. Essas ações, contudo, contribuem significativamente para a ocorrência e/ou o agravamento da LP. (NOBREGA et al, 2023)
Também não se deve ignorar a presença de obstáculos à execução das medidas preventivas, tais como: a sobrecarga de trabalho pelo número deficiente de profissionais; carência de materiais auxiliares; baixa adesão da equipe; e, obviamente, o déficit de conhecimento e de programas de prevenção padronizado e sistemático, ou a sua existência pouco divulgada entre os profissionais de Enfermagem para a uniformização dos saberes e sua execução na prática, facilitando a organização do trabalho e distribuição das ações de acordo com uma ordem de prioridade considerando o número de pessoal existente em cada plantão. (GONÇALVES, et al, 2020)
Um estudo multicêntrico, realizado com 474 enfermeiros e auxiliares de enfermagem, evidenciou um importante déficit de conhecimento desses trabalhadores acerca da prevenção de LP. De modo semelhante, uma revisão sistemática que buscou avaliar o conhecimento geral da enfermagem sobre a prevenção de LP, concluiu que a maior parte dos enfermeiros ainda não possui um nível de conhecimento suficiente acerca dessa temática. (NOBREGA et al, 2023)
Entretanto, estudos brasileiros avaliaram o tempo de assistência de enfermagem a partir do nursing activities score (NAS); um deles, desenvolvido no ano de 2012 com 766 pacientes em nove UTIs de dois hospitais universitários, encontrou que a razão de possibilidades (RP) do desenvolvimento de LP aumentou 1,5% para cada ponto registrado no NAS. Dessa forma, a carga de trabalho de enfermagem foi identificada como um preditor de LP. Já o outro estudo realizado em 3 UTIs de um hospital universitário de grande porte localizado no município de São Paulo, no período de novembro de 2007 a abril de 2008, identificou que o NAS atuou como um fator de proteção, porque sua razão de possibilidades foi < 1 (RP = 0,916; IC95% = 0,855–0,98). Assim, pacientes com alta carga de trabalho de enfermagem tinham menos chance de desenvolver LP. (ALI et al, 2020)
Não houve significância estatística na correlação entre incidência de LP e o tempo de assistência de enfermagem. No entanto, os resultados sugeriram sobrecarga da equipe de enfermagem, pois as horas médias de assistência de enfermagem despendidas aos pacientes críticos em todos os meses, do período de 2010 a 2014, foram inferiores às indicadas pelo Cofen (18 horas). Por fim, o estudo confirma a importância da implementação de protocolos de cuidados preventivos para LP e reavaliação da eficácia desses protocolos. Além disso, alerta sobre a sobrecarga de trabalho de enfermagem, visando uma assistência segura e qualificada ao paciente crítico. (ALI et al, 2020)
Para NOBREGA et al. (2023), evidencia-se uma carência significativa de conhecimento técnico e prático por parte dos profissionais de enfermagem no que se refere à prevenção e ao manejo de lesões por pressão. Em unidades de terapia intensiva, onde a atuação do enfermeiro é essencial para a evolução clínica dos pacientes, ainda se observa que diversas condutas assistenciais permanecem fundamentadas em experiências subjetivas ou em rotinas consolidadas ao longo da trajetória profissional. Essa falta de conhecimento não apenas compromete a efetividade do cuidado prestado, como também expõe o paciente a um risco elevado de desenvolvimento de LPs. ¹
Já o estudo de ALI et al. (2020), sugere que jornadas de trabalho extensas e exaustivas representam um fator relevante para a incidência dessas lesões, uma vez que impactam negativamente na adesão dos profissionais às práticas básicas de prevenção. Embora existam divergências quanto à relação direta entre carga horária de trabalho e ocorrência de LPs, é possível observar um consenso entre os autores quanto à escassez de profissionais qualificados nas UTIs, o que agrava ainda mais a qualidade da assistência prestada e dificulta a implementação de condutas preventivas eficazes. ¹
Neste contexto, torna-se evidente a necessidade de investimentos na formação continuada da equipe, bem como na revisão das jornadas de trabalho e o dimensionamento profissional. A implementação efetiva de protocolos de cuidado e a valorização do papel do enfermeiro como coordenador das ações de prevenção podem ser determinantes para a melhoria dos indicadores de qualidade. ¹
Categoria 2: Métodos adotados para prevenção do surgimento de LP.
Uma das principais estratégias de prevenção é a avaliação regular da pele do paciente. Os enfermeiros devem realizar uma avaliação detalhada da integridade da pele, procurando por sinais de vermelhidão, friabilidade, bolhas, abrasões ou feridas abertas. A avaliação deve ser realizada em todas as áreas do corpo que estão sujeitas à pressão constante, como costas, calcanhares, cotovelos e áreas sob próteses. Deve-se adotar medidas para minimizar o tempo de imobilidade do paciente, seja por meio da realização de exercícios de mobilização passiva, rotação de posição a cada duas horas ou uso de dispositivos de alívio de pressão, como o colchão de ar alternante. (MONTENEGRO et al, 2025)
A LP é um fator notável como problema na assistência à saúde, além de trazer prejuízos ao paciente também pode se configurar como um problema econômico às instituições de saúde. A prevenção é menos dispendiosa e sustentável e a enfermagem destaca-se nesse papel, pois possui participação importante em diversas medidas de prevenção como: hidratação da pele, mudança de decúbito de duas em duas horas ou conforme a necessidade definida pela enfermeira e que deve ser aplicada tão precoce quanto possível a menos que contraindicado, suporte nutricional adequado, inspeção diária da pele, uso do colchão viscoelástico ou pneumático, manutenção da roupa de cama sem dobras, troca de fraldas e absorventes sempre que úmidas, utilização de coxins de conforto, dentre outros. Cuidados preventivos individualizados conforme a condição da pele do paciente, também, poderá ser definida com o grupo de enfermeiros especialistas em feridas. (CAMPOS et al, 2021)
Para complementar, é importante que haja a avaliação do gerenciamento de risco e ações de prevenção, que incluem, a utilização da Escala de Braden como estratégia de avaliação contínua do risco; o reposicionamento regular dos pacientes, para aliviar a pressão sobre áreas vulneráveis da pele; o uso de superfícies de suporte adequadas; os cuidados com a pele, que incluem a hidratação e manutenção da pele limpa e seca, uma dieta nutricionalmente adequada, o monitoramento planejado da integridade da pele e a utilização de dispositivos especializados para alívio de pressão em áreas e pacientes de risco. Todas essas intervenções são extremamente importantes no plano de cuidado, mas nenhuma dessas estratégias sem a mudança de decúbito planejada e regular, haverá sucesso na prevenção de LP. (SANTOS et al, 2024)
Ademais, a educação dos pacientes e cuidadores também é fundamental na prevenção das LPP. Os enfermeiros devem fornecer informações sobre os fatores de risco, a importância da avaliação e cuidados com a pele, bem como técnicas de mobilização e uso adequado de dispositivos de alívio de pressão. Além disso, é importante incentivar a participação ativa dos pacientes no cuidado com sua própria pele, incentivando a autovigilância e a adoção de medidas preventivas. (MONTENEGRO et al, 2025)
Algumas ferramentas podem auxiliar o trabalho da equipe de enfermagem para garantir assistência de qualidade na prevenção de lesão por pressão relacionadas a dispositivo médico, como um Bundle. O Bundle é considerado uma estratégia estruturada e conceituada entre os cuidados, e visa a prevenção. Trata-se de um instrumento prático e eficaz, constituído por condutas comprovadas e seguras. As medidas propostas para estruturação deste instrumento atuam diretamente nos fatores mais prejudiciais do agravo de saúde. Além disso, o Bundle pode ser um poderoso estímulo para o trabalho em equipe, trazendo padronização para o serviço e oferecendo a melhor assistência para a pessoa. (ANDRADE & SEBOLD, 2023)
Autores como Montenegro et al. (2025) e Campos et al. (2021) destacam que uma avaliação detalhada da integridade da pele é fundamental para identificar precocemente sinais de comprometimento, como lesões e abrasões. Além disso, a mobilização do paciente e o uso de dispositivos de interrupção de pressão são estratégias essenciais para minimizar o risco de LP. A abordagem proativa, que inclui a mudança de decúbito e a hidratação da pele, é reforçada por Santos et al. (2024), que argumentam que a implementação de um plano de cuidados individualizado, aliada a uma avaliação contínua do risco, é crucial para o sucesso na prevenção dessas lesões. Assim, a integração de práticas de cuidado e a utilização de escalas de avaliação, como a Escala de Braden, são fundamentais para garantir a segurança do paciente. ¹
Além das intervenções diretas, a educação dos pacientes e cuidadores é um aspecto vital na prevenção da LP, conforme enfatizado por Montenegro et al. (2025). A capacitação dos pacientes para consideração de fatores de risco e a importância dos cuidados com a pele promove uma maior autovigilância e adesão às medidas preventivas. Nesse contexto, a introdução de ferramentas como o Bundle, conforme planejado por Andrade e Sebold (2023), oferece uma estrutura prática e eficaz para a equipe de enfermagem, padronizando as condutas e promovendo um trabalho colaborativo. O Pacote não aborda apenas os fatores de risco associados ao LP, mas também serve como um estímulo para a melhoria contínua da qualidade do atendimento. Portanto, a combinação de avaliação rigorosa, intervenções preventivas e educação do paciente forma um tripé essencial para a redução das lesões por pressão no ambiente hospitalar. ¹
Categoria 3: Profissional utilizou a conduta adequada, porém havia fatores sociais que ajudaram a desenvolver a LP
A assistência de enfermagem no contexto da terapia intensiva tem evoluído significativamente ao longo dos anos. Esse fato culmina com surgimento de procedimentos cada vez mais complexos e uso de muitos dispositivos médicos, que embora essenciais no cuidado aos pacientes críticos, podem causar eventos adversos, a exemplo das lesões por pressão relacionadas a dispositivos médicos. (GALETTO et al. 2021)
Resultado do uso de dispositivos criados e aplicados para fins diagnósticos e terapêuticos, as LP RDM geralmente apresentam o padrão ou forma do dispositivo e devem ser categorizadas de acordo com o sistema de classificação de lesões por pressão. Essas lesões podem se desenvolver em qualquer parte do corpo em que os dispositivos médicos estejam inseridos. Os locais comumente relatados incluem cabeça, face, pescoço e extremidades, associados principalmente a dispositivos de imobilização como talas, colares cervicais e dispositivos respiratórios como tubos endotraqueais, traqueostomia e máscaras de ventilação não invasiva. (GALETTO et al. 2021)
Nos cuidados diários, no universo da UTI, os pacientes têm outras prioridades terapêuticas, que muitas vezes dificultam o uso de métodos preventivos para LP, gerando uma condição propícia para o desenvolvimento e ocorrência dessas lesões. Elas são eventos adversos, de rápida evolução, frequentes durante a internação e que podem causar outras complicações, como mais chances de mortalidade, e prolongar o tempo de tratamento e de reabilitação. (SANTOS et al. 2021)
Percebe-se que a maioria dos pacientes internados na UTI e que desenvolveram LP tinha mais anos de idade assim como identificado em outros estudos, visto que a idade avançada reflete mais comprometimento sistêmico devido ao processo natural de envelhecimento, o que torna mais propício o desenvolvimento de LP. O envelhecimento da pele é relacionado ao aumento da idade, assim, a pele sofre alterações, ficando mais seca, fina e, consequentemente, mais frágil, sendo menos capaz de atuar como barreira à umidade e mais propícia a sofrer lesões. Na internação na UTI, a limitação no leito predispõe à mobilidade física, o que é somado ao fato de que a maioria dos pacientes acamados é incapaz de deambular. Além disso, deve-se considerar a baixa nutrição, pois geralmente pacientes internados possuem nutrição inadequada, o que influencia no arranjo dos nutrientes no organismo, na oxigenação e no fluxo sanguíneo. (SANTOS et al, 2021)
Os fatores de riscos principais foram lesão renal aguda (LRA) e o tempo de internação em unidade de terapia intensiva. Pacientes que apresentam LRA têm mais de 3,5 vezes a chance de desenvolver LP, o que converge com pesquisa que aborda a incidência e as características clínicas e epidemiológicas de pacientes com LP em UTIs, realizada em 10 unidades de terapia intensiva do Paraná, onde a LRA foi a única comorbidade que apresentou correlação com o aumento da incidência de LP. (SANTOS et al, 2021)
Outro fator, é a execução da mudança de decúbito pode ser influenciada por fatores do próprio paciente (atelectasias, pós-operatório de cirurgias plásticas, uso de aminas vasoativas, delírio entre outros), da estrutura (tipos de colchões disponíveis, carga de trabalho, qualificação profissional, protocolos assistenciais entre outros) e do processo (aplicabilidade das escalas de avaliação de risco, adaptações feitas para a implementação das medidas de prevenção). Entende-se que esses fatores refletem os indicadores de resultado, especialmente na incidência de LPs na região sacra, causada pela necessidade ou não do paciente permanecer na maior parte do tempo em decúbito dorsal. (GONÇALVES et al, 2020)
O surgimento dessas lesões é complexo e multifatorial, e está relacionado a fatores intrínsecos, extrínsecos ou ambos. Os fatores intrínsecos são, edema, estado mental e nutricional, senescência, incontinência urinária ou esfincteriana, percepção sensorial prejudicada, hidratação, hipotensão, comorbidades ou patologias associadas, redução da perfusão tecidual e rebaixamento do nível de consciência. Os fatores extrínsecos ao paciente podem ser a pressão (do corpo sobre uma superfície), fricção, cisalhamento, imobilização e umidade da pele. (SANTOS et al, 2024)
No contexto da UTI, os pacientes internados tendem a ter características de maior risco devido a gravidade clínica e instabilidade hemodinâmica que apresentam. Desta forma, podem vir a necessitar de intervenções como ventilação mecânica, sedação contínua, drogas vasoativas, monitorização de sinais vitais, além do uso de dispositivos como cateteres, sondas e drenos. Por tal motivo, estão mais vulneráveis à perda da integridade da pele. (SANTOS et al, 2024)
Embora os profissionais de saúde adotem condutas corretas, como a avaliação regular da pele e a mudança de débito, fatores sociais e contextuais podem interferir na eficácia dessas intervenções. Galetto et al. (2021) ressalta que a complexidade dos cuidados intensivos, aliada ao uso de dispositivos médicos, aumenta a vulnerabilidade dos pacientes a eventos adversos. Assim, mesmo com a implementação de práticas preventivas, a realidade social dos pacientes, como a falta de suporte familiar ou condições socioeconômicas desfavoráveis, pode limitar a adesão a cuidados essenciais, contribuindo para o desenvolvimento de LP. ¹
Além disso, a condição clínica dos pacientes internados em UTI, frequentemente associada a fatores como idade avançada e comorbidades, também desempenha um papel crucial na incidência de LP. Santos et al. (2021) destacam que a fragilidade da pele em pacientes mais velhos, combinada com a imobilidade e a nutrição prejudicial, é um cenário propício para o surgimento dessas lesões. No entanto, é importante considerar que, mesmo em situações em que uma equipe de enfermagem realiza as intervenções corretas, a presença de fatores sociais, como a falta de recursos para uma nutrição adequada ou a ausência de apoio familiar, pode agravar a condição do paciente e dificultar a recuperação. Portanto, a abordagem deve ser holística, levando em conta não apenas os aspectos clínicos, mas também as condições sociais que podem impactar a saúde do paciente. ¹
Por fim, a execução de medidas preventivas, como a mudança de decúbito, pode estar comprometida com fatores externos à equipe de enfermagem, como a carga de trabalho e a disponibilidade de recursos. Gonçalves et al. (2020) enfatizam que uma estrutura do ambiente de cuidados, incluindo a qualidade dos colchões e a implementação de protocolos assistenciais, é fundamental para a prevenção de LP. Assim, mesmo que uma equipe de enfermagem esteja bem treinada e comprometida, a falta de infraestrutura adequada e o estresse associado à alta demanda de trabalho podem limitar a capacidade de realização de intervenções preventivas de forma eficaz. ¹
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da presente pesquisa bibliográfica, foi possível compreender que o enfermeiro desempenha um papel fundamental no gerenciamento dos cuidados relacionados à prevenção e tratamento das lesões por pressão em pacientes internados na UTI, já que esses pacientes apresentam um risco elevado para o desenvolvimento de LP devido às suas condições clínicas.
Atuando como líder da equipe de enfermagem, esse profissional é responsável por planejar, implementar e avaliar cada paciente. Além disso, o enfermeiro assume uma posição estratégica na educação continuada da equipe de enfermagem e multiprofissional.
De forma complementar, a adoção de tecnologias assistenciais, o uso de escalas de avaliação de risco (como a de Braden), a vigilância constante e a comunicação eficaz entre os membros da equipe de saúde são ações que dependem diretamente da atuação do enfermeiro como gestor do cuidado.
Portanto, o estudo evidencia que o gerenciamento eficaz das lesões por pressão na UTI requer não apenas conhecimento técnico e científico, mas também competências em liderança, tomada de decisão e trabalho em equipe. Conclui-se que o enfermeiro é peça-chave para garantir a qualidade da assistência, a segurança do paciente e a redução de complicações associadas à internação prolongada.
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1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Unisociesc Campus Jaraguá do Sul. E-mail: rafasaplinski@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Unisociesc Campus Jaraguá do Sul. Mestre em Tecnologia e Inovação na Saúde (UFPR). e-mail: farias.patricia@ulife.com.br