LESÕES ORTOPÉDICAS NO BEACH TENNIS: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

ORTHOPEDIC INJURIES IN BEACH TENNIS: INTEGRATIVE REVISION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505111408


Rafael Pinto Martins de Oliveira1
Jéssica Kelly Morais da Silva2
Denilson da Silva Veras3


Resumo

O beach tennis é uma modalidade esportiva em crescimento que tem atraído a atenção de praticantes e profissionais da saúde devido ao aumento da incidência de lesões ortopédicas, especialmente nos membros superiores e inferiores. Este estudo visa revisar a literatura atual sobre as principais lesões ortopédicas associadas ao beach tennis, identificando os mecanismos de lesão, fatores de risco, estratégias de prevenção e abordagens terapêuticas. Foram analisados estudos epidemiológicos, revisões sistemáticas e relatos de caso publicados nos últimos dez anos. Os resultados destacam a alta prevalência de lesões no ombro, cotovelo, punho, tornozelo e joelho, relacionadas a movimentos repetitivos e sobrecarga mecânica. A implementação de programas de prevenção, com foco em fortalecimento muscular, educação postural e ajustes de técnica, é essencial para reduzir a incidência de lesões. Apesar dos avanços na compreensão das lesões no beach tennis, há necessidade de estudos mais aprofundados para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento, dado o caráter emergente da modalidade esportiva e a carência de literatura científica consolidada sobre o tema.

Palavras-chave: Beach Tennis. Fraturas. Entorses. Ortopedia. Medicina Esportiva.  

1 INTRODUÇÃO

O beach tennis é um esporte relativamente novo em setor global, criado na Itália em 1987 e introduzido no Brasil em 2008 (COSTA et al., 2024). Com o intuito da ambientação e exposição do jogador à experiência do ambiente praiano, este esporte é realizado em quadras contendo um chão composto por areia, além de uma rede dividindo a quadra em duas metades. A Federação Internacional de Tênis (ITF, 2021) ressalta que o beach tennis está em expansão significativa, particularmente no Brasil, onde o aumento do número de jogadores tem sido acompanhado por uma crescente incidência de lesões relacionadas ao esporte, constando aproximadamente 300 mil adeptos ao esporte no país. Lesões ortopédicas são acontecimentos frequentemente observados durante a prática esportiva, independentemente do nível de experiência do atleta, podendo ocorrer tanto em iniciantes quanto em profissionais, estando associadas a diversos fatores, como movimentos repetitivos, excesso de carga, falta de preparo físico adequado, técnicas incorretas, ou até mesmo por acidentes imprevisíveis durante a execução de determinadas atividades. Essas lesões podem variar em gravidade, desde problemas leves, como distensões musculares ou entorses, até condições mais complexas, como rupturas de ligamentos, fraturas e luxações ósseas e acometimento de tendões (KO et al., 2023). Fatores intrínsecos, como a biomecânica individual, desvios posturais, e histórico de lesões prévias, também desempenham um papel importante na predisposição a esses incidentes. Da mesma forma, fatores extrínsecos, a exemplo, o tipo de superfície onde o esporte é praticado, a qualidade dos equipamentos utilizados (calçados inadequados, vale citar), e, até mesmo, condições climáticas, podem influenciar a ocorrência de lesões (STEIWEN, 2024). Há uma lacuna significativa na literatura científica atualizada com relação às lesões musculoesqueléticas relacionadas com a prática esportiva do BT, o que o torna uma novidade em relação ao manejo médico e quanto aos desfechos dos pacientes que praticam esta atividade de lazer (BERARDI et al., 2019).

O presente estudo possui como objetivo primordial a realização de uma revisão da literatura científica, com o escopo de condensar e apresentar concisamente os mais atuais e pertinentes achados acerca das lesões ortopédicas nos praticantes do beach tennis. O propósito inextricavelmente entrelaçado com esta empreitada reside na compilação e análise exaustiva dos mais recentes desfechos e descobertas científicas sobre os pacientes que experienciaram as lesões esportivas no esporte em pauta, a fim de fornecer uma visão panorâmica que possa subsidiar substancialmente a tomada de decisões clínicas e auxiliar a orientação da prática médica contemporânea frente a este evento cada vez mais recorrente no contexto da medicina esportiva.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

O estudo descritivo conduzido por SOUZA et al. (2024) analisou as taxas de lesões em 219 atletas de beach tennis, maiores de 18 anos, com minimamente 3 meses de início e 2 dias semanais de frequência de prática, comparadas mediante análise da frequência e percentual de lesões por região anatômica. As regiões predominantemente acometidas por lesões foram o ombro (26,5%), seguido do joelho (25%) e cotovelo (18,7%). Este resultado pode ser associado aos movimentos excessivos, acima da linha do ombro, exigidos no BT, em técnicas como smash, saque e gancho, bem como a falta de fortalecimento adequado dos músculos do manguito rotador e estabilizadores do ombro pelos praticantes da modalidade. Dessa forma, faz-se imprescindível o fortalecimento do manguito rotador, visto que tal compartimento do membro superior limita a subluxação anterior da cabeça do úmero e fornece resistência, estabilização dinâmica da articulação glenoumeral e contribui para o movimento do ombro. Com relação ao joelho, há sujeição ao estresse físico pelos jogadores de BT decorrente da natureza do esporte, que envolve corridas, saltos e mudanças rápidas de direção na areia, havendo possibilidade de utilização excessiva das articulações do joelho, resultando em fraturas, luxações e entorses. No compartimento do cotovelo, os movimentos de arremesso por cima da cabeça e batida realizados durante o jogo podem levar a lesões por esforço repetitivo, como a epicondilite lateral (cotovelo de tenista), sendo uma das principais lesões associadas ao tênis. A falta de coordenação na cadeia cinética do movimento possui potencial de gerar uma grande sobrecarga às articulações, aumentando o risco de lesões, podendo resultar em trauma contuso e fraturas por estresse ou, até mesmo, fraturas ósseas expostas. As lesões mais recorrentes encontradas pelo estudo foram tendinopatia, lesão articular e muscular.

FRANCO et al. (2024) compilou os fatores de risco e de proteção para lesões no beach tennis, a fim de gerar estratégias preventivas às injúrias musculoesqueléticas. Analisando os participantes da pesquisa, houve predominância do sexo feminino (67,3%), apesar disso, tal variável não representa diferença significativa para a ocorrência de lesões quando comparado ao sexo masculino. Observou-se que, quanto maior a faixa etária, maior o risco do paciente sofrer uma lesão, sendo que entre os jogadores com menos de 30 anos, 26,10% apresentaram lesões, entre 30 e 50 anos, 51,2% e acima de 50 anos, 61,8%. Dentre os principais tipos de lesões relatadas pelos participantes, foram notórias: tendinite do cotovelo (80,26%) como a mais prevalente, seguida da entorse e contusão do joelho (61,90%) e tendinopatia do ombro (60,52%).

DA COSTA et al. (2024) coletou dados antropométricos e ocorrência de lesões ortopédicas, utilizando um questionário preenchido por 185 praticantes de beach tennis, durante torneios e treinos, em duas cidades. O ombro foi identificado como o local mais lesado, em relação ao membro superior. No BT, a maioria dos movimentos acontecem acima da cabeça, o que provavelmente leva a um número maior de lesões no ombro.No membro inferior, ocorreram mais lesões no joelho. É oportuno comentar que os esportes na areia necessitam de mais gasto energético e trabalho muscular quando comparados aos esportes de quadra de superfícies duras, portanto, tornozelo, quadril, e joelhos podem apresentar-se mais lesionados. No artigo em tese, os pacientes que relataram ter lesão ortopédica tinham média de idade maior quando comparados aos participantes sem lesão (p < 0,001); tal dado também foi verificado com relação à localidade da lesão, permanecendo relevante estatisticamente nas lesões dos compartimentos superior e inferior do esqueleto apendicular, porém, sem relevância nas lesões da coluna. Nos demais estudos, não se encontrou este mesmo resultado. Foi encontrado maior índice de lesão naqueles que já praticaram ou praticavam outro esporte similar (66,7%). Concomitantemente, o tempo de prática do esporte também pareceu influenciar o aparecimento de lesões, assim como a categoria dos praticantes. A prática do BT por até 12 meses e o menor tempo de treino por semana resultaram em índices menores de lesões ortopédicas, assim como também houve menos lesões relatadas entre a categoria iniciante. Outros parâmetros, como sexo, lado dominante, uso da técnica de backhand com as duas mãos, participação em competições e prática de outros esportes não obtiveram relevância estatística nos praticantes com ou sem lesão ortopédica no presente estudo.

Estudos de abordagem transversal descrevem que atletas amadores, grupo relevante na análise da população praticante do BT, enfrentam uma alta prevalência de lesões, especialmente na região lombar, vale citar, devido a edema articular e travamento da coluna lombar, associados à sobrecarga da musculatura estabilizadora, além de, joelhos e cotovelos, muitas vezes relacionadas a técnicas inadequadas e recuperação insuficiente, cujo desfecho está diretamente associado à presença de dor crônica, atrelado a treinos e jogos (competições), dita como impasse à realização plena da performance ou rendimento esportivo, fator determinante para o abandono precoce do esporte (VALE et al., 2024).

ANDRADE (2022) realizou uma pesquisa com objetivo de avaliar o aumento do número de praticantes do BT no período da pandemia do Covid19 e, também, a correlação desta incidência ascendente com uma elevação no número de casos de acometimentos aos membros superiores e inferiores durante tais práticas esportivas, obtendo como resultado que essa relação é definida. Neste estudo, verificou-se como afecção predominante, em ordem crescente, a articulação do ombro, seguida pelo joelho e pelo tornozelo. Evidenciou-se, além disso, que a prática do BT leva à diminuição do peso corporal e, consequentemente, há um risco menor de lesões, chegando, assim, à proporção de que indivíduos obesos apresentam 4 vezes mais chances de adquirir uma lesão esportiva no BT em relação à população eutrófica.

DINES et al. (2015) explorou a fisiopatologia envolvida nas lesões aos membros, descrevendo a cadeia cinética envolvida nas altas cargas impostas sobre as articulações dos jogadores. As forças ligadas pela cadeia cinética iniciam-se pelo membro inferior, migrando, por meio do dorso, em uma ligação perna-quadril-tronco, ao produzirem 51% da energia cinética total envolvida nas técnicas esportivas, finalizando nas extremidades superiores, no pulso e na mão, onde está posicionada a raquete. Disfunções em determinado ponto desta cadeia cinética podem gerar lesões no ponto específico do distúrbio ou se ramificarem para momentos posteriores do processo. Correlacionou-se a relação entre a velocidade dos movimentos das jogadas com a carga exercida em cotovelo e ombro, estabelecendo uma relação diretamente proporcional entre essas medidas nos membros dos atletas. Ressaltou, além do mais, a importância da realização de exercícios de condicionamento específicos para os segmentos musculares importantes, a fim da integração benéfica do core cinético, garantindo uma competição sem a propagação de lesões estruturais, incluindo, agachamento para o fortalecimento das pernas, rotações do tronco, estabilização escapular e co-contrações de ombro e punho.

A análise de BERARDI et al. (2019) destaca uma predominância de lesões osteomioarticulares no membro superior, de modo que, entre elas, 43,7% ocorrem nos membros inferiores e 8,4% ocorrem em tronco ou pescoço. Observou-se que, tendo em vista que o Beach Tennis enquadra-se nos denominados “esportes aéreos”, em conformidade com Young, Briner e Dines, 2023, ele envolve variados movimentos onde o membro superior fica posicionado acima do nível da cabeça e, dependendo do nível de força muscular utilizado, há possibilidade de lesões ocasionadas pelo uso repetitivo, vista analogamente em esportes como beach tennis, basquete e tênis. Cita-se, nesse viés, a similaridade entre o BT e o vôlei, com relação aos saltos nas atividades do esporte, diferenciando-se, portanto, em decorrência do estresse menor decorrente da aterrissagem ao solo na areia do que na quadra, reduzindo a possibilidade de lesão patelar, porém, propiciando lesão nos dedos dos pés, principalmente, o hálux (dedão), durante a aterrissagem logo após o salto, pelo maior auxílio proporcionado à estabilidade do indivíduo por esse membro, haja vista que é um esporte praticado descalço. Dentre as principais lesões ortopédicas sinalizadas pelo estudo, há enfoque nas tendinites  de  ombro  e  cotovelo,  entorse  de tornozelo, e lesões no joelho. Além disso, afirma-se que as lesões crônicas acometem mais atletas recreacionais, e as  agudas, jogadores  profissionais.

Outro estudo, conduzido por GARRET et al. (2024) avaliou o grau de movimento do ombro em atletas competitivos de tênis, comparando os membros dominantes e não dominantes dos profissionais, com a prerrogativa originária de ensaios clínicos randomizados antecedentes de que o uso excessivo desses ligamentos ocasiona diminuição da rotação interna (RI) e aumento da rotação externa (RE) na articulação glenoumeral, analisando diferenças de faixa etária e sexo. Essa análise teve como resultado que o membro dominante, utilizado excessivamente na modalidade do tênis, possui RI menor do que o não dominante, sendo o equivalente a 53 graus, sem diferenças importantes na rotação externa. Além disso, vale ressaltar, que não houve disparidade significativa nos resultados de homens e mulheres, constando alterações relevantes entre as condições do membro superior observadas em crianças e adultos, revelando uma diminuição abundante na RI nos ombros dos atletas portadores de maior idade.

Em harmonia ao estudo de KAISER et al. (2021), lesões agudas típicas de jogadores de tênis profissional diferem daquelas responsáveis pelo acometimento musculoesquelético de atletas amadores. Sob esse parâmetro, lesões no tornozelo foram predominantes em praticantes do tênis recreacional do sexo feminino e jovens, havendo uma proporção maior de fraturas para esse gênero. Quando comparado aos achados anteriores associados à perspectiva do BT, há possibilidade de que tais achados sejam menores neste último, apesar da ocorrência de fraturas no primeiro pododáctilo. Ademais, a análise deste artigo identificou que indivíduos sustentadores de lesões musculotendíneas foram identificados pela idade avançada, sendo 70% dos rompimentos e compressões observados em homens e 30% em mulheres. Paralelamente, encontrou-se maior frequência de fraturas do rádio em pacientes com maior idade, juntamente a ruptura do tendão de Aquiles e lesão do ligamento cruzado posterior.

A revisão de escopo de GIMIGLIANO et al. (2021) investigou as heterogêneas lesões musculoesqueléticas em atletas adultos, sintetizando dados de injúria abundante do membro inferior, principalmente, na articulação do joelho, em esportes aéreos, a exemplo do tênis. Tal acometimento importante reflete a preponderância de movimentos de parada e partida, mudanças de direção, saltos e aterrissagens, com ou sem passe e/ou arremesso de bola, movimentos análogos às técnicas esportivas envolvidas no BT. Salienta-se, simultaneamente, que as aterrissagens repetitivas, abdução dinâmica e ângulos rasos de flexão do joelho são capazes de causar ruptura das estruturas da cápsula articular deste compartimento do membro inferior, como ligamento colateral medial, ligamento patelofemoral medial e ligamento cruzado anterior.

As conclusões de KNECHTLE et al. (2020) relatam possíveis fatores de risco aos diferentes efeitos da prática prolongada do tênis em atletas amadores, escolares e competidores profissionais à anatomia e às propriedades estruturais e biomecânicas deste esporte, identificando, entre os grupos supracitados, habilidade e técnica como os principais fatores determinantes à ocorrência de lesões no membro superior, especialmente, quando avaliado o acometimento do ombro durante o exercício esportivo, ao realizar-se o smash e o serve, golpes que envolvem força e precisão pelo atleta.

Destaca-se a suma necessidade de abordagens amplas, cuidadosas e concisas orientadas à investigação digna das lesões ortopédicas vinculadas ao BT, levando em consideração fatores como a especificidade dos testes utilizados, diferenças entre subpopulações em idade, peso e sexo e habilidade técnica concernente ao esporte, catalogando as características dos jogadores enquanto grupo específico. Esta análise crítica acerca do acometimento musculoesquelético voltado às práticas esportivas do beach tennis sinaliza o valor da incitação à investigação profunda sobre possíveis fatores de risco para eventuais irregularidades físicas complexas, por exemplo, a ocorrência de lesões anteriormente ao exercício recorrente de BT, dieta nutricional e realização de atividade física cotidiana, a fim de fundar dados sensíveis às circunstâncias inerentes ao BT. Vale ressaltar que há diferença sobre a conformação das quadras onde ocorrem os jogos de BT e do público-alvo desta modalidade, situações que devem ser lembradas em análises futuras em estudos aprofundados.

3 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada em janeiro de 2025, mediante estratégia de busca nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando os termos “Orthopedic Injuries”, “Beach Tennis”, “Tennis”, “Musculoskeletal Injuries”, “Upper Limb Injuries”, combinados entre si e por meio dos Operadores Booleanos “AND” e “OR”. Foram incluídos artigos publicados entre 2014 e 2025, disponíveis online em português e inglês e contendo análises sobre indivíduos de ambos os gêneros. Foram excluídos artigos duplicados e estudos que não englobassem a temática de lesões musculoesqueléticas esportivas.

Outrossim, faz-se oportuno ressaltar que esta pesquisa dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza intervenções clínicas em seres humanos e animais. Portanto, asseguram-se os preceitos de aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei (BRASIL, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A revisão integrativa em tese identificou um padrão recorrente de lesões ortopédicas entre praticantes de beach tennis (BT), reforçando a hipótese inicial de que o crescimento do esporte no Brasil está intimamente relacionado ao aumento da incidência de acometimentos musculoesqueléticos, especialmente em atletas amadores e de faixa etária mais avançada. A análise crítica da literatura revelou pontos de convergência e lacunas relevantes nos estudos revisados, permitindo construir uma visão abrangente e crítica sobre o tema. 

4.1 REGIÕES ANATÔMICAS PREDOMINANTEMENTE LESIONADAS

Região AnatômicaFrequência (%)Tipo de LesãoReferências
Ombro  26,5 – 60,5%Tendinite, lesão do manguitoSOUZA et al. (2024); DA COSTA et al. (2024)
Cotovelo18,7 – 80,2%Epicondilite lateral (cotovelo de tenista)FRANCO et al. (2024); BERARDI et al. (2019)
Joelho  25 – 61,9%Entorse, tendinopatia, dor anteriorFRANCO et al. (2024); GIMIGLIANO et al. (2021)
Tornozelo10 – 18%Entorse lateral, fraturasBERARDI et al. (2019); KAISER et al. (2021)
Coluna Lombar15%Edema articular, lombalgiaVALE et al. (2024)

A maior parte dos estudos convergiu para a identificação de ombro (26-60,5%), cotovelo (18,7–80,2%) e joelho (25–61,9%) como os segmentos mais acometidos em lesões musculoesqueléticas no esporte tratado. Souza et al. (2024), Franco et al. (2024) e Da Costa et al. (2024) apontam que mais de 60% das lesões no BT estão concentradas no membro superior, com destaque para tendinites, roturas parciais e sobrecarga articular na articulação glenoumeral e epicôndilos. Isso se deve, sobretudo, à natureza do gesto esportivo característico do BT, que exige movimentos repetitivos acima da linha do ombro, como o smash, o saque e o overhead. Esse padrão é semelhante ao observado em modalidades como o tênis e o vôlei, o que justifica a comparação biomecânica com esportes de raquete e saltos, conforme argumentam Dines et al. (2015) e Berardi et al. (2019).

Contudo, há uma característica específica do BT que deve ser considerada: a prática descalça e sobre areia, que impõe uma biomecânica singular de aterrissagem e deslocamento, sobrecarregando articulações estabilizadoras como o joelho e o tornozelo, aumentando o risco de entorses, lesões ligamentares e até mesmo lesões no hálux, como evidenciado por Berardi et al. (2019). O solo instável também influencia negativamente a propriocepção e o equilíbrio postural, favorecendo compensações biomecânicas que podem evoluir para lesões crônicas, especialmente na coluna lombar.

4.2 PERFIL DOS ATLETAS E FATORES DE RISCO

Fator de riscoAssociação com LesõesReferências
Idade avançada (> 50 anos)Aumento da incidênciaFRANCO et al. (2022); ANDRADE (2022)
ObesidadeMaior frequência de lesõesANDRADE (2022)
Tempo de prática (> 12 meses)Aumento da prevalênciaDA COSTA et al. (2024)
Prática prévia de esportes66,7% tinham histórico de prática esportiva regularDA COSTA et al. (2024)
Falta de preparo físicoSobrecarga articularDINES et al. (2015); KAISER et al. (2021)
Técnica incorretaLesões repetitivas (ombro, cotovelo)DINES et al. (2015)

Um dado expressivo observado em múltiplos estudos é a correlação positiva entre idade avançada e frequência de lesões, como apresentado por DA COSTA et al. (2024), ANDRADE (2022) e FRANCO et al. (2024). Jogadores com mais de 50 anos apresentaram maior suscetibilidade a lesões, o que pode ser explicado pela redução natural da viscoelasticidade tendínea, perda de força muscular e menor capacidade de recuperação tecidual. Essa observação reforça a importância de estratégias preventivas específicas para jogadores veteranos, algo ainda pouco discutido em protocolos de treinamento no BT.

Além disso, a obesidade foi apontada como fator independente de risco, elevando em até 4 vezes a chance de lesão, segundo ANDRADE (2022). O excesso de peso corporal sobrecarrega articulações dos membros inferiores e compromete a biomecânica do movimento, especialmente em esportes com movimentação rápida e em solo instável.

Contrariamente, o sexo dos participantes não se mostrou estatisticamente relevante para a ocorrência de lesões na maioria dos estudos. Embora tenha havido predomínio de mulheres nas amostras analisadas (FRANCO et al., 2024), os índices de lesão não diferiram significativamente entre os gêneros, sugerindo que a técnica, o tempo de prática e o condicionamento físico são determinantes mais importantes que o sexo biológico.

4.3 TÉCNICA, TEMPO DE PRÁTICA E ESFORÇO FÍSICO

Tipo de LesãoFrequência RelativaSegmentos ComunsReferências
TendinopatiasAlta (até 80%)Ombro, cotoveloFRANCO et al. (2024); BERARDI et al. (2019)
Lesões ligamentaresModerada a altaJoelho, tornozeloGIMIGLIANO et al. (2021); VALE et al. (2024)
Fraturas por estresseModeradaPé (hálux), punhoKAISER et al. (2021); BERARDI et al. (2019)
Lesões musculares agudasMédiaCadeia posterior, quadrícepsKNECHTLE et al. (2020)
Lombalgias funcionaisModeradaColuna lombarVALE et al. (2024)

A análise crítica também revelou que a experiência esportiva prévia em modalidades similares, como tênis, vôlei e futevôlei, está relacionada a maior índice de lesões, conforme BERARDI et al. (2019) e DA COSTA et al. (2024). Aparentemente paradoxal, esse achado pode ser interpretado sob a ótica de que jogadores mais experientes tendem a executar movimentos mais potentes e em maior intensidade, gerando sobrecarga mecânica cumulativa.

Outro ponto relevante refere-se à cadeia cinética comprometida, conforme detalhado por DINES et al. (2015). Falhas em pontos dessa cadeia – como fraqueza de core, insuficiência de rotação escapular ou rigidez de quadril – podem gerar lesões compensatórias em ombro e cotovelo. A ausência de preparo físico específico para o BT, com foco em estabilização central, mobilidade articular e força funcional, agrava essa vulnerabilidade.

4.4 NATUREZA DAS LESÕES E DO COMPROMETIMENTO FUNCIONAL

As lesões identificadas foram classificadas, majoritariamente, em três categorias:

– Tendinopatias (ombro e cotovelo);

– Lesões ligamentares (joelho e tornozelo);

– Lesões musculares (principalmente em cadeia posterior).

Além disso, observou-se que as lesões crônicas são mais comuns entre jogadores recreacionais, provavelmente pela ausência de orientação técnica e falhas na recuperação, enquanto lesões agudas foram mais frequentes entre atletas profissionais, possivelmente relacionadas à intensidade das competições.

4.5 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E LACUNAS NA LITERATURA ATUAL

Apesar do número crescente de estudos sobre BT, ainda há lacunas significativas na padronização das avaliações clínicas, escalas funcionais validadas e estratégias preventivas personalizadas. Não há consenso sobre protocolos de reabilitação específicos para lesões no BT, o que fragiliza o acompanhamento longitudinal dos pacientes e dificulta a elaboração de diretrizes baseadas em evidências.

Este estudo destaca, portanto, a suma necessidade de ensaios clínicos e estudos prospectivos que avaliem intervenções preventivas e terapêuticas, estratificadas por idade, nível técnico e perfil físico dos praticantes, além de considerar o impacto do solo arenoso e da prática descalça na dinâmica articular.

Esse fator reforça a urgência de abordagens multiprofissionais preventivas, com foco em condicionamento físico global, reeducação biomecânica e fortalecimento segmentar, particularmente do core, ombro e membros inferiores.

4.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Embora esta revisão integrativa tenha reunido evidências relevantes e atualizadas sobre as lesões musculoesqueléticas associadas à prática do beach tennis, algumas limitações metodológicas devem ser reconhecidas. Primeiramente, a revisão não incluiu metanálises ou revisões sistemáticas com rigor metodológico elevado, o que restringe o nível de evidência dos dados apresentados. A maioria dos estudos selecionados apresenta desenho observacional e transversal, o que impossibilita estabelecer relações de causalidade entre os fatores analisados e a ocorrência das lesões.

Concomitantemente, observou-se uma heterogeneidade entre as amostras dos estudos incluídos, com variações em relação à faixa etária, sexo, tempo de prática esportiva e nível técnico dos atletas. Tais diferenças dificultam a padronização das conclusões e podem introduzir viés de seleção. Outro ponto limitante foi a escassez de ensaios clínicos randomizados, especialmente sobre estratégias de prevenção e reabilitação específicas para o BT, o que evidencia a necessidade de estudos mais robustos sobre a temática.

Portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela, considerando que as informações aqui reunidas refletem o melhor conhecimento disponível até o momento, mas não substituem a aplicação de protocolos baseados em evidência clínica de alto nível.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora seja uma modalidade esportiva relativamente nova, o beach tennis tem demonstrado um crescimento exponencial no número de jogadores, aliado a uma alta prevalência de lesões ortopédicas. Destacou-se o predomínio de lesões atreladas ao membro superior, principalmente no compartimento do ombro e do cotovelo em tendinopatias (tendinites e roturas agudas), fraturas, luxações e subluxações ósseas e agressão articular, resultado da demanda repetitiva e biomecânica específicos da prática esportiva. Apesar disso, há relevância significativa das conexões com o membro inferior durante a execução das técnicas e a completude de movimentos realizados neste esporte, o que torna necessária a abordagem holística no que concerne aos mecanismos de injúria musculoesquelética atrelados a esse esporte.

Para tanto, é fundamental a realização de estudos maiores e com nível mais elevado de evidência sobre esse impasse crescente no esporte, os quais possuem possibilidade de se tornarem auxiliares às áreas da ortopedia e medicina esportiva no acompanhamento multiprofissional e no manejo contínuo dos pacientes, seja em contexto ambulatorial ou de trauma de alta energia.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: rafaeldeoliveira8888@gmail.com

2Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus e-mail: jessicakellybm@gmail.com

3Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Faculdade Santa Teresa Campus Manaus. Mestre em Ciências da Saúde (PPGCIS/UFAM). e-mail: denilsonveras55@gmail.com